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CAP III - NOÇÕES DE MACROECONOMIA

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1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 3 
NOÇÕES DE MACROECONOMIA 
2 
 
ÍNDICE 
 
 
Generalidades   ….................................................................................  04 
Conceitos básicos   ……………………………………………………………………….…… 05 
Estoques e Fluxos   ……………………….………………………………………………….. 07 
Produto e renda: abordagem preliminar   …………………………………..…...  08 
PIB e deflator   ………………………………………………..…………..……………… 09 
PIB e PNB   ………………………………………………………….………………………11     
Produto potencial e hiato de produto   ………………………….………..  11 
PIB e PNB a preços de mercado e a custo de fatores    ………..…...  12 
Produtos interno e nacional brutos e líquidos   ……………………..…  13 
Identidades macroeconômicas básicas   …………………………………………  13 
Equilíbrio macroeconômico   ……………………………………………………  13 
Origem dos recursos para investimento   ………………………………….  15 
Origem dos recursos para financiamento do déficit público   …..  15 
Decomposição da renda nacional   ……………………………………………  16 
Determinação da renda   ……………………………………………………………….  17 
Síntese do modelo clássico   …………………………………………………….  17 
Síntese do modelo keynesiano   ……………………………………………….  19 
Síntese do modelo ISxLM   ……………………………………………………….  23 
Outros modelos   ………………………………………………………………………  25 
Determinantes do investimento   ………………………………………………….  25 
Inflação   ………………………………………………………………………………….…….…. 27 
Tipos de inflação e comentários sobre fatores determinantes  …  28 
Notas sobre a teoria quantitativa da moeda   …….……………….…….  30 
Efeitos do processo inflacionário   ………………………………………….….  32 
 
 
 
Breve referência à curva de Phillips   …………………………….…….…….  33 
Metas de inflação   …………………………………………….………………….……  34 
Desemprego e emprego   …………………………………………….………….….……  35 
Câmbio   ………………………………………………………………………..…………….…… 36 
Taxa nominal e taxa real de câmbio   …………………….…………….……  37 
Regimes cambiais   ………………………………………………………………..…  38 
Atuação dos governos no mercado exterior   ……………………………..  40 
Tópicos especiais   …………………………..………………………………………….…  40 
Dívida pública   …………………………………………………………………….……  40 
Algumas notas sobre o crescimento econômico   ……………….………  42 
Medida do custo de vida   ……………………………………………….……….  43 
Elementos do arcabouço institucional e componentes   ………………..   44 
Contabilidade nacional   …………………………………………..…….………..  44 
Moeda e bancos ………………………………………………………………………..  44 
Breves notas sobre a história da moeda   …………………........……….  45 
Funções da moeda   ……………………………………………….…............…….. 47 
Demanda por moeda   ………………………………………………..........………. 48 
Características da moeda   ……………………………………………..........…..  48 
Papel dos bancos   ........................................................................  49 
Oferta monetária   ……………………………………………………............……..  49 
O processo de criação da moeda   ……………………………………………..  50 
Encaixe técnico   ……………………………………………………………………….  51 
Base monetária. Política monetária   …………………………............……  51 
Mercados financeiros   ………………………………………………............……. 52 
Alguns comentários à economia brasileira recente   ……………….…….  53 
3 
 
Sobre a taxa de juro   ………………………………………………………...........  53 
O Risco‐país   ………………………………………………………………….…………  54 
Superávit primário   …………………………………………….................…..  56 
Déficit Público   ……………………………………………………...……........……… 57 
Política tributária e desigualdade: consumo das famílias  …….……  58 
Política tributária: o peso das obrigações sobre 
setores produtivos   ……….………………….……………………................…..  59 
Comentários finais   ………………………………………………………..................  62 
4 
 
noções de macroeconomia_________________________________ 
capítulo 3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
01. Generalidades 
Define‐se macroeconomia como o estudo das atividades econômicas por meio da 
avaliação  do  comportamento  dos  agentes  econômicos  tomados  em  agregado, 
isto  é,  analisando‐se  o  comportamento  dos  conjuntos  formados  por  estes 
agentes.  As  economias  são  compostas  de  três  agregados  que  são  os 
consumidores,  os  produtores  e  o  governo.  Desse  modo,  distintamente  dos 
estudos microeconômicos,  no  presente  capítulo  estudar‐se‐ão  os mecanismos 
que  explicam  o  comportamento  de  cada  um  desses  três  conjuntos  sem 
necessariamente analisar em detalhe o comportamento de cada unidade que os 
integra. 
As unidades que compõem os agregados são o indivíduo ou a família formando o 
agregado dos  consumidores;  a  firma ou outra  forma de organização produtiva 
formando  o  agregado  dos  produtores;  e  os  órgãos  e  entidades  públicas, 
formando o agregado governo. 
Questões como a determinação do conjunto de todas as riquezas produzidas por 
uma  sociedade,  a  determinação do  nível  geral  de  preços  e  o que  interfere na 
estabilidade  destes,  a  formação  da  renda  da  sociedade,  o  número  total  de 
desempregados, o  salário, a  taxa de  juro, a  taxa de  câmbio  fazem parte, entre 
outros, do rol dos problemas enfrentados na análise macroeconômica. Cada um 
desses  problemas  é  representado  por  uma  ou  mais  variáveis,  ditas  variáveis 
macroeconômicas. 
Em macroeconomia,  a  agregação não  é um processo  simples pois depende da 
variável  considerada. A  renda  total de uma  sociedade, por exemplo,  resulta da 
somatória  das  rendas  de  todas  as  famílias,  enquanto  que  a  taxa  de  inflação 
corresponde  a  uma  média  de  taxas  inflacionárias  de  uma  quantidade 
razoavelmente grande de setores em cada regiâo. De outro lado, o produto bruto 
resulta da adição dos incrementos de valor adicionado a cada etapa da cadeia de 
relações  interssetoriais,  e,  assim,  o  tratamento  a  cada  variável  depende  das 
características desta. 
As  causas  e  consequências  das  expansões,  recessões  e  crises  econômicas  são, 
também,  objeto  dos  estudos  macroeconômicos,  sendo  os  governos,  no 
cumprimento  de  sua  missão  de  promover  o  bem  estar  social,  os  principais 
interessados nesses estudos atuando,  inclusive, como autor de vários deles. Por 
isso mesmo, diz‐se que o conteúdo teórico macroeconômico é produzido em dois 
distintos níveis de abordagem. O primeiro se dá no terreno da explicação, e é útil 
para  esclarecer  o  comportamento  observado  no  desempenho  das  variáveis 
macroeconômicas.  A  segunda  abordagem,  da  previsão,  objetiva  antever  o 
comportamento das mesmas variáveis macroeconômicas bem como a reação dos 
agentes econômicos a esse comportamento. Para tanto, utiliza‐se não somente a 
5 
 
análise histórica  como  também a  racionalidade das expectativas e  formulações 
econométricas  que  ensejam  a  simulação  do  comportamento  futuro  dos 
agregados econômicos. 
Os  governos  são  os  principais  beneficiários  da  construção  do  conhecimento 
macroeconômico. Eles são, também, os produtores de uma vasta quantidade de 
informações  por meio  de  fatos  político‐econômicos,  números‐índice  e  de  uma 
variada gama de estatísticas que conformam uma expressiva parte da matéria‐
prima utilizada pelos economistas e pelas  instituições de pesquisa e ensino que 
consagram  o  seu  esforço  à  produção  do  conhecimento macroeconômico.  Na 
primeira  das  duas  condições,  isto  é,  como  beneficiários,  os  governos  utilizam 
tanto os elementos explicativos quanto os de cunho previsional1 para formular e 
executar as políticas públicas. 
02. Conceitos básicos 
O estudo da macroeconomia implica, como ponto de partida, a definição de uma 
série  de  variáveis  e  indicadores  cujos  conceitos  são  sucintamente  explorados 
nesta  seção.  O  comportamento  de  cada  uma  das  variáveis macroeconômicas 
afeta a todos os agentes econômicos, direta ou indiretamente. 
Inicia‐se  pelo  conceitode  renda  que  é  a  remuneração  dos  proprietários  de 
fatores produtivos. Há quatro tipos de renda: salários, lucros, juros e alugueis. O 
salário é o pagamento feito aos proprietários do fator trabalho. O termo deriva 
da palavra sal que, historicamente, foi uma mercadoria‐moeda com que se fazia 
o  pagamento  pelo  trabalho  das  pessoas2.  Os  lucros  são  a  remuneração  do 
empresário que, para obtê‐la,  faz  investimentos e paga salários, além de pagar 
para obter outros  insumos produtivos  inerentes à  sua atividade empresarial. O 
empresário tanto aufere lucros como os distribui por meio de dividendos. 
 
1 1 Termo consagrado pelo uso no linguajar dos economistas. 
2 Procede de salariu, palavra latina que significa ração de sal. 
O juro ou preço do dinheiro é a remuneração do capital, resultando da aplicação 
deste. O capitalista pode ser pessoa física ou jurídica. O empresário, quando opta 
por  fazer  aplicação  financeira  de  seu  capital  ―  e  não  aplicação  produtiva  em 
troca  de  lucro  ―  recebe,  como  ganho,  o  juro.  E  o  aluguel  é  a  remuneração 
revebida pelo proprietário de bens  imóveis, um tipo de riqueza de capital sob a 
forma de imobilizado. 
Ao  conceito  de  salário  estão  relacionadas  duas  importantes  variáveis 
macroeconômicas: emprego e desemprego. Emprego é a utilização do  fator de 
produção mão de obra ou  trabalho; e o desemprego,  contrariamente, é  a não 
utilização desse mesmo fator de produção, ou seja corresponde à quantidade de 
pessoas  que  não  encontra  ocupação  remunerada.  Ambos,  emprego  e 
desemprego, podem  ser medidos em números absolutos ou por meio de  taxas 
percentuais. A  soma desses dois  contingentes em uma economia em um dado 
momento  é  igual  à  força  de  trabalho  desta  economia.  Portanto,  a  força  de 
trabalho é a parcela da população que está apta e em idade de a trabalhar e que, 
se estiver totalmente ocupada, caracteriza o pleno emprego. 
A poupança é parcela da renda de um indivíduo ou família que não é dirigida para 
o  consumo,  ou  seja,  é  indicativa  de  adiamento  do  consumo.  A  poupança  é  a 
economia feita por um agente econômico, reservando recursos financeiros para 
necessidades futuras. 
O  consumo  é  a parte da  renda de um  indivíduo ou  família que  se destina  aos 
gastos  com  a  compra  de  mercadorias  e  serviços  para  a  satisfação  de  suas 
necessidades.  São  os  gastos  com  alimentação,  saúde,  transportes,  vestuários, 
educação, recreação, entre outros. 
O  investimento é a aplicação de recursos financeiros poupados para aumentar a 
capacidade produtiva, isto é, objetivando ganhos nos médio e longo prazos. Tem, 
portanto,  a  finalidade  da  formação  de  novas  riquezas,  que  são  riquezas  de 
capital. Freqüentemente são feitas referências, em economia, a investimento por 
6 
 
meio  de  aplicação  de  dinheiro  em  títulos,  ações,  imóveis  e  em  caderneta  de 
poupança, com o objetivo de se obterem ganhos. O conceito de investimento é, 
entretanto, mais abrangente, correspondendo, também e em grande medida, a 
aplicação de capital em empreendimentos produtivos, direta ou  indiretamente, 
como fábricas, infra‐estrutura, obras diversas e outros mais. 
O Produto  Interno Bruto – PIB é a medida de toda a produção realizada em um 
país ou região durante um dado intervalo de tempo, normalmente de um ano, e 
corresponde  à  renda  total  de  todos  os  bens  e  serviços  que  se  produziram 
internamente  na  economia  deste  país  ou  região.  O  PIB  inclui,  portanto,  a 
contribuição  dos  estrangeiros  que  residem  e  produzem  no  país, mas  deixa  de 
computar  a  contribuição  dos  emigrantes  que  estão  produzindo  em  outros 
ambientes econômicos que não o do país. 
O Produto Nacional Bruto – PNB é um outro  conceito de grande  relevância no 
contexto da Análise Macroeconômica. Define‐se o PNB como a medida de toda a 
produção  realizada  em  um  país  ou  região  durante  determinado  intervalo  de 
tempo,  normalmente  de  um  ano,  adicionada  do  saldo  líquido  dos  fatores 
externos que  resulta das  receitas  recebidas do exterior, deduzidas das  receitas 
enviadas  para  outros  países  de  acordo  com  os  registros  do  balanço  de 
pagamentos, adiante comentado.  
Ambos,  PIB  e  PNB,  são  fundamentalmente  medidas  básicas  da  atividade 
econômica, porque refletem o tamanho de uma economia, sendo os parâmetros 
que  costumam  ser observados desde as primeiras abordagems que  se  fazem a 
respeito  da  economia  de  um  país,  estado  ou  região.  Seus  respectivos  cálculos 
podem ser feitos pelos preços de mercado dos bens e serviços finais uma vez que 
estes  incorporam os custos  sucessivos das etapas anteriores de cada cadeia de 
relações  interssetoriais. Podem,  também,  ser procedidos  seguindo‐se  as  trilhas 
dessas cadeias de relações  interssetoriais porém com o cuidado de somarem‐se 
apenas os valores adicionados entre cada etapa e a imediatamente seguinte para 
evitar‐se a dupla contagem. 
O  Nível  Geral  de  Preços  constitui  um  indicador  econômico  cujo  movimento 
identifica a  inflação ou deflação. No Brasil, o  índice de preços mais comum é o 
Índice de Preços ao Consumidor –  IPC, que  corresponde à medida do  custo de 
vida3. Dois  relevantes conceitos associados ao Nível Geral de Preços são os dos 
Preços Rígidos e Preços Flexíveis. Os Preços Rígidos são associados à análise de 
curto prazo, enquanto que os Preços Flexíveis  são  inerentes à análise de  longo 
prazo. A  flexibilidade nos níveis de preços que  se observa na  análise de  longo 
prazo  resulta de novas  condições de procura e oferta que vão  surgindo  com o 
passar do tempo e que vão modificando as condições de cada mercado parcial4. 
Inflação  é  o  aumento  persistente  no Nível Geral  de  Preços  de  uma  expressiva 
quanƟdade ― senão de todos ― os bens e serviços. De outro lado, o movimento 
oposto  que  os  preços  podem  experimentar,  isto  é,  a  queda  persistente, 
corresponde  ao  fenômeno  da  deflação.  À  elevação  de  preços  em  um  ritmo 
menor do que o que se observava em período  imediatamente anterior dá‐se o 
nome  de  desinflação,  ou  seja,  quando  se  passa  a  ter  uma  desaceleração  da 
inflação. Portanto, enquanto a deflação corresponde a uma queda absoluta do 
nível  de  preços,  a  desinflação  corresponde  a  uma  redução  no  ritmo  de 
crescimento destes. 
Câmbio é a conversão de um valor em uma dada moeda para outra moeda por 
meio de um multiplicador de troca de moeda. Esse multiplicador é denominado 
taxa de câmbio. A taxa de câmbio constitui o elemento chave para as atividades 
de importação e exportação. A importação é a aquisição de bens e/ou serviços de 
outro país por meio de agentes econômicos do país importador, enquanto que a 
exportação é a venda de bens e/ou serviços para outro país pela ação de agentes 
econômicos do país exportador. Em macroeconomia,  tanto  importação quanto 
exportação são referidas por uma cifra monetária. No caso das importações, essa 
 
3 Tema abordado na parte final deste capítulo. 
4 A expressão mercado parcial é indicativa do mercado individualizado de cada bem ou serviço conforme estudado 
no Capítulo 2 (Noções de Microeconomia). 
7 
 
cifra resulta da soma monetária de todos os bens e serviços adquiridos a agentes 
econômicos de outros países. No caso das exportações, essa cifra resulta da soma 
monetária  de  todos  os  bens  e  serviços  vendidos,  por  agentes  econômicos, 
públicos ou privados, a compradores de outros países. 
A  balança  comercial  e  o  balanço  de  pagamentos  são  conceitos  associados  ao 
câmbio.  A  balança  comercial  é  o  registro  dasexportações  e  importações 
realizadas  em  determinado  período  de  tempo,  normalmente  anualizado.  Os 
preços adotados nesse registro não  incluem o frete e o seguro das mercadorias 
(preços  FOB5). O  balanço  de  pagamentos  corresponde  ao  registro  contábil  de 
todas as transações econômicas de um país com todos os outros países, incluindo 
as  transações correntes e a conta de capital  financeira. As  transações correntes 
contêm  a  balança  comercial,  a  balança  de  serviços,  a  balança  de  rendas  e  as 
transferências unilaterais  correntes. É na balança de  serviços que  se procedem 
aos  registros  de  seguros  e  fretes,  serviços  governamentais,  alugueis  de 
equipamentos, entre outros. 
Recessão é a redução significativa porém passageira da atividade econômica. Há 
várias definições  técnicas para  recessão,  sendo a mais usual a de considerar‐se 
que uma economia entra em  recessão quando vê o seu PIB  reduzir‐se por dois 
trimestres  consecutivos.  Por  outro  lado,  depressão  reflete  uma  grave  crise 
econômica com drástica e duradoura redução da produção e do consumo. 
As  variáveis  macroeconômicas  podem  ser  classificadas  como  exógenas  e 
endógenas. As primeiras são variáveis de origem externa a determinado processo 
 
5 Os preços FOB (Free on Board) não  incluem os custos de embarque, transporte e desembarque entre dois países 
que mantêm  relações  comerciais,  tampouco  os  seguros  associados  às  operações  de  importação  e  exportação. 
Distinguem‐se dos preços CIF (Cost, Insurance and Freight) que resultam da soma do preço FOB com os custos com 
seguros e fretes. Esses conceitos de preços são, também, habitualmente utilizados no mercado de bens domésticos 
mediante adaptação. Por essa adaptação, por exemplo, se um fabricante produz e vende um equipamento ou bem 
outro qualquer a um comerciante, entregando‐o na loja do fabricante e, portanto, cobrando o seguro e o frete além 
do preço do equipamento, o preço é dito CIF ou preço posto‐loja  (produto posto na  loja do comprador). Mas se, 
nessa transação, diferentemente, o comprador se responsabilizar pelo transporte e seguro, pagando ao fabricante 
apenas pelo equipamento, então o preço é FOB ou preço posto‐fábrica (produto posto na fábrica do vendedor). 
que se esteja analisando e que afetem este processo, enquanto que as variáveis 
endógenas são variáveis  inerentes ao processo ou fenômeno estudado, ou seja, 
são  internas  a  este.  A  crise  de  2008,  nascida  nos  Estados  Unidos  produziu 
variáveis que afetaram, em maior ou menor grau, a economia de outros países. 
Tais variáveis foram exógenas às economias dos países afetados. 
Conforme já mencionado, todos os conceitos acima relacionados dizem respeito 
a um ou mais agregados da economia, caracterizando o caráter macroeconômico 
da análise. Há, evidentemente, uma  série de outros conceitos de  interesse dos 
estudos macroeconômicos afora os citados. Uma significativa parte desses outros 
conceitos  é  derivada  dos  acima  enumerados.  Por  exemplo,  a  propensão  a 
consumir deriva do  conceito de  consumo,  tanto quanto  a  propensão a  poupar 
deriva  do  conceito  de  poupança.  Entretanto,  é  aos  conceitos  que  integram  a 
relação da presente seção que mais se recorre, o que fez com que a ênfase deste 
texto recaísse sobre eles. Outros conceitos e variáveis serão objeto de referência 
na continuação deste capítulo. 
03. Estoques e Fluxos 
Algumas  variáveis  econômicas  podem  ser  analisadas  ou  entrar  no  cálculo  de 
algum  tipo de  avaliação  simplesmente por  sua magnitude  em dado momento. 
Essas  são  chamadas  de  variáveis  de  estoque.  Por  exemplo,  a  quantidade  de 
papel‐moeda em um país,  tanto quanto a população desse país, é um estoque 
em  dado momento  que  pode  se  estender  por  um  lapso  de  tempo menor  ou 
maior. Com a moderna dinâmica econômica, o estoque de moeda em circulação 
pode  manter‐se  por  várias  semanas  e  mesmo  por  alguns  meses,  sem  sofrer 
variação  apreciável,  dependendo  do  grau  de  estabilidade  e  do  ritmo  de 
crescimento da economia. Analogamente, em demografia,  tema de  recorrência 
no  contexto  dos  estudos  macroeconômicos,  pode  suceder  o  mesmo  com  o 
estoque da população de uma  região em que  se observe um balanço  zero  (na 
prática,  um  número muito  pequeno)  entre  nascimentos, mortes,  imigração  e 
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emigração. De modo igual, a quantidade de pessoas empregadas é uma variável 
de estoque. 
Mas  há  variáveis  que  implicam  a  noção  de  tempo  em  sua  definição.  É  o  que 
sucede, por exemplo, com o PIB de um país, o qual costuma ser avaliado por ano. 
Do mesmo modo ocorre  com os  gastos  governamentais desse país, ou,  ainda, 
com o salário do trabalhador uma vez que, neste último caso, há um fluxo mensal 
ou semanal. A essas variáveis dá‐se a classificação de variáveis de fluxo. 
A  distinção  entre  estoques  e  fluxos  é  importante  no  trato  das  variáveis 
econômicas,  não  somente  no  que  diz  respeito  ao  entendimento  destas  como 
também no que  se  refere à  formulação de  soluções para a Política Econômica. 
Por exemplo, se o fluxo de gastos governamentais aumentar, certamente o fluxo 
de  alguma  outra  variável  econômica  também  precisará  ser  aumentado,  ao 
mesmo tempo em que, possivelmente, o fluxo de terceira(s) outra(s) variável(eis) 
terá  que  reduzir‐se.  Por  exemplo,  o  aumento  do  salário  mínimo  pode  ser 
acompanhado da redução do ritmo com que vinha crescendo a inadimplência na 
praça. Em um outro  exemplo,  agora  relativamente  a uma  variável de  estoque, 
pode‐se  considerar  a  análise  de  como  o  estoque de  capital  de  uma  economia 
afeta  o  nível  de  emprego  e  renda.  No  processo  de  análise  econômica,  é 
importante ter‐se em mente a natureza da variável, se de estoque ou se de fluxo, 
pois cada um dos tipos atua com suas características próprias. 
04. Produto e renda: abordagem preliminar 
O  agente  motor  de  uma  economia  é  o  ser  humano  que,  desde  os  tempos 
primitivos,  precisou  consumir  e,  para  ter  o  que  consumir,  também  precisou 
produzir.  Caça,  pesca  e  busca  de  abrigo  foram  as  atividades  produtivas  dos 
primórdios  do  ser  humano  na  Terra.  Uma  parte  do  produto  da  caça  e/ou  da 
pesca  era  consumida  imediatamente  (função  consumo)  e  outra  era  guardada 
para consumo nos dias seguintes (função poupança). Desde o primeiro dia do ser 
humano no planeta, poupar já significava, como até hoje significa e já foi referido 
neste texto, adiar uma parte do consumo. 
Ao mesmo tempo, o ser humano fez, quando necessário, trocas de algo de que 
dispunha por bens outros de que precisava. A moeda de troca que ele usava para 
pagar, que era a própria mercadoria de que dispunha, um dia mais tarde veio a 
dar lugar ao aparecimento da moeda tal como esta se apresenta hodiernamente. 
Conforme se percebe, essa moeda de troca era fruto do trabalho do ser humano 
já que se tratava de algo que ele produziu. Nesse caso, a referida moeda de troca 
usada  na  transação  era  parte  de  sua  renda,  isto  é,  parte  da  renda  de  sua 
atividade produtiva. Daí infere‐se que produto é igual a renda! Essa é a primeira 
identidade macroeconômica, que será indicada do modo seguinte: 
Y=P, 
Onde: 
Y  é a renda; e 
P  é o produto, ou produto bruto, podendo ser interno ou nacional. 
No trato teórico, a unidade de medida, tanto de Y quanto de P, será a moeda, ou 
dinheiro ou, ainda, também referido como numerário. Na prática, P é o conjunto 
total da riqueza produzida sob a forma de produtos e serviços heterogêneos, e Y 
é a remuneração recebida pelas famílias porquanto estas, além de atuarem como 
agentesdo  consumo,  também  atuam  como  agentes  que  realizam  a  produção 
para as firmas e outras formas de organizações produtivas. A firma é o principal 
agente moderno da produção fazendo uso dos fatores produtivos, entre os quais 
a mão  de  obra  (família). O  conceito  a  fixar,  portanto,  é  o  da  igualdade  entre 
produto e  renda, o que explica o  fato de, em  inúmeras ocasiões,  tomar‐se um 
pelo outro6. 
 
6 Seguidamente, autores utilizam a notação Y para indicar o produto de uma economia. 
9 
 
Há  outras  identidades  macroeconômicas  básicas.  Para  melhor  entendimento 
dessas  identidades  adicionais,  no  entanto,  expendem‐se,  nas  sub‐seções 
imediatamente  seguintes,  alguns  conceitos  macroeconômicos  da  palavra 
produto. Surgirão, nesse contexto, alguns sub‐conceitos como inflação e deflator, 
produto interno e produto nacional, produto potencial e hiato de produto, todos 
de grande relevância na análise macroeconômica. 
04.01. PIB e deflator 
O Produto Interno Bruto é a somatória do valor monetário de todos os bens finais 
produzidos em um dado país ou região durante um ano, como  já referido neste 
texto.  Há  uma  diferença  entre  o  PIB  e  o  Produto  Nacional  Bruto  –  PNB, 
explicitada mais adiante. 
Para melhor  compreensão da medida do Produto  Interno Bruto,  suponha‐se  a 
existência de uma hipotética economia na qual somente três bens e/ou serviços 
finais sejam produzidos, os bens ou serviços A, B e C. Proceder‐se‐á à análise do 
comportamento  dessa  economia  em  dois  anos  consecutivos,  1  e  2.  As 
quantidades  e  os  preços  unitários  dos  bens  e/ou  serviços  dessa  economia, 
admitidos  constantes  durante  todo  o  ano  1,  são  apresentados  no  quadro  da 
Figura  01.  Considere‐se  que  esta  seja  a  produção  de  um  ano,  tomado  como 
exercício  financeiro e que corresponda ao ano‐base para determinação do PIB‐
real em anos subsequentes. 
Fig. 01 – Produto Interno Bruto de uma economia fictícia no ano 1 
Bem ou 
serviço 
Unid de 
Medida 
Quantidade Prç Unitário 
(u.m.*) 
Prod. Econ. 
(u.m.) 
A ton 180 12,00 2.160,00 
B m3 70 60,00 4.200,00 
C gl** 82 45,00 3.690,00 
Total - - - 10.050,00 
* unidade monetária. 
** galão 
O  Produto  Interno  Bruto  dessa  economia  é  igual  a  10.050,00  unidades 
monetárias e está calculado em valores nominais, ou seja em valores correntes 
do exercício financeiro correspondente ao ano 1. Como já referido, esse exercício 
financeiro,  isto é, o ano de 1, é o ano‐base para  fins de análise da evolução do 
PIB‐real, ao longo deste e do ano imediatamente subsequente. Como o ano‐base 
é o ponto de partida, então o PIB observado nesse ano, igual a 10.050,00 u.m., é, 
ao mesmo tempo, o PIB‐real e o PIB‐nominal. O ano‐base de uma série para fins 
de acompanhamento do crescimento de uma economia pode ser qualquer um. É 
comum  que  sejam  escolhidos  anos  iniciais  de  uma  série  do  calendário.  Por 
exemplo, o ano 2000 para a série 2000‐2009; ou o ano 2001, para a década 2001‐
2010.  Entretanto,  repete‐se,  a  escolha  de  um  ano  para  ser  tomado  como 
referência pode recair sobre qualquer um. O que norteia a escolha de um ano‐
base são o objeto e o critério da análise que se pretenda elaborar. 
Como já referido na seção 02, ao definir‐se o Produto Interno Bruto, arrolaram‐se 
somente  os  bens  e  produtos  finais  para  entrar  nessa  contagem.  Por  exemplo, 
peças  de  vestuário  que  não  para  fardamento  de  pessoal  em  organizações  são 
bens finais, e, portanto, entram no cômputo. Camisas, calças,  lenços e um sem‐
número  de  outras mercadorias  de  consumo  final  estão  também  enquadradas 
nessa condição. Entretanto, os produtos intermediários que servem à fabricação 
de  peças  de  vestuário  como,  por  exemplo,  os  tecidos,  a  linha  de  costura,  os 
botões e outros complementos, não devem ser computados no cálculo, porque já 
estão  embutidos  no  custo  da mercadoria  ou  bem  final.  O  fato  de  incluir  no 
cálculo  os  produtos  intermediários  levaria  a  uma  múltipla  contagem  para  a 
formação  do  Produto  Interno  Bruto,  aumentando  o  valor  deste  de  maneira 
equivocada. Para que não haja, portanto, a múltipla contagem, somente os bens 
e  serviços  finais devem  compor o quadro de  cálculo do Produto  Interno Bruto. 
Alternativamente, no entanto, pode‐se fazer o cálculo do Produto  Interno Bruto 
incluindo‐se  as  diversas  etapas  de  cada  processo,  desde  que  computando‐se 
apenas o valor adicionado entre uma etapa e a que se lhe segue imediatamente 
na trama de relações intersetoriais, evitando‐se, assim, a repetição de valores já 
computados. 
10 
 
Suponha‐se, agora, que, no exercício financeiro 2, o Produto Interno Bruto dessa 
mesma economia seja dado pela tabela da Figura 02, à qual não se acrescentou 
nenhum produto novo, mas suas  respectivas produções  (quantidades) e preços 
se alteraram. 
Fig. 02 – Produto Interno Bruto da economia fictícia considerada no ano 2 
Bem ou 
serviço 
Unid de 
Medida 
Quantidade Prç Unitário 
(u.m.*) 
Prod. Econ. 
(u.m.) 
A ton 200 16,00 3.200,00 
B m3 80 65,00 5.200,00 
C gl** 100 50,00 5.000,00 
Total - - - 13.400,00 
* unidade monetária. 
** galão 
Comparando‐se as  tabelas das referidas Figuras 01 e 02, percebe‐se que houve 
um  incremento  de  33%  entre  os  exercícios  financeiros  de  1  e  2,  conforme  o 
cálculo seguinte: 
Variação (Ano 2/Ano 1) a preços correntes de cada 
exercício=[(13.400,00/10.050,00)‐1,00].100=33% 
Sucede  que,  tendo  havido  incremento  de  preços  e  também  de  quantidades 
produzidas, o  incremento de 33% no Produto  Interno Bruto dessa  sociedade é 
explicado em parte pelo aumento de preços, e em outra parte pelo aumento das 
quantidades  produzidas.  A  parte  do  aumento  do  PIB  devida  ao  aumento  de 
preços corresponde à inflação, enquanto que a parte do aumento do PIB devido 
ao  aumento de quantidades de bens produzidas  reflete o  crescimento  real da 
economia. Para se determinar que parcela desse percentual cabe a cada uma das 
alterações mencionadas, pode‐se fazer o cálculo do Produto Bruto Total do ano 2 
a preços do ano 1, do que resultarão os valores constantes da tabela da Figura 
03. 
Mediante esse artifício, o  incremento do Produto  Interno Bruto calculado entre 
as  tabelas  das  Figuras  01  e  03  terá  sido  resultante  apenas  do  aumento  das 
quantidades produzidas, e será igual a: 
Fig. 03 – Produto Interno Bruto da economia fictícia considerada no ano de 2 a 
preços do ano 1 
Bem ou 
serviço 
Unid de 
Medida 
Quantidade Prç Unitário 
(u.m.*) 
Prod. Econ. 
(u.m.) 
A ton 200 12,00 2.400,00 
B m3 80 60,00 4.800,00 
C gl** 100 45,00 4.500,00 
Total - - - 11.700,00 
* unidade monetária. 
** galão 
Variação (Ano 2/Ano 1) a preços correntes de 1=[(11.700,00/10.050,00)‐
1,00].100=11,43%, 
que  é  o  aumento  real  da  atividade  econômica.  Daí,  o  aumento  devido  ao 
aumento de preços (inflação) será igual à diferença entre o aumento nominal e o 
aumento real da economia, ou seja: 
Variação real (Ano 2‐Ano 1)=33,00%‐11,43%= 21,57% 
À  relação  (PIB‐nominal/PIB‐real)  de  um  mesmo  exercício  financeiro  dá‐se  o 
nome de Deflator do PIB. No caso presente do ano 2, tendo‐se como ano‐base o 
ano 1, o Deflator é igual a (13.400,00/11.700,00)=1,145. 
Por fim, o PIB pode também ser referido a cada indivíduo que integra a sociedade 
(PIB per  capita), bastando, para  tanto, que  se o divida pela população. Caso  a 
população da hipotética economia acima  ilustrada fosse de 1.000 habitantes no 
ano 1, então o PIB per capita a preços do ano 1 seria: 
PIB per capita a preços do ano 1=11.700,00/1.000=11,70 u.m./habitanteE, caso a população fosse de 1020 habitantes no ano 2, então o PIB per capita do 
ano 2, será: 
PIB per capita do ano 2=13.400/1.020=13,14 u.m./habitante. 
 
 
11 
 
04.02. PIB e PNB 
Conforme já referido, o Produto Interno Bruto – PIB é o valor agregado de todos 
os bens e serviços finais produzidos no território de um país, independentemente 
da  nacionalidade  dos  proprietários  dos  fatores  de  produção.  Como  já 
mencionado,  excluem‐se,  neste  caso,  as  transações  intermediárias,  cuidado 
essencial para que seja evitada a multiplicidade na contagem das parcelas do PIB. 
De outro lado, conceitua‐se como Produto Nacional Bruto – PNB, ao valor do PIB 
somado  algebricamente  com  a  receita  líquida dos  fatores  externos. Os  fatores 
externos são medidos pelo saldo de remessas de rendas do país para  fora e de 
fora para o país. 
PIB+RLFE=PNB 
onde: 
RLFE é a renda líquida de fatores externos. 
A RLFE, por seu turno, é igual a: 
RLFE=RR‐RE, 
onde: 
RR é a renda recebida do exterior; e 
RE é a renda enviada ao exterior. 
Se  RE>RR,  resultará  que  RLFE<0  e,  conseqüentemente,  PNB>PIB.  Conforme  se 
percebe, o Produto Nacional Bruto pode ser maior ou menor do que o Produto 
Interno  Bruto,  tudo  dependendo  do  saldo  entre  a  renda  enviada  e  a  renda 
recebida do exterior. 
 
 
04.03. Produto potencial e hiato de produto 
O Produto Potencial é o nível de PIB correspondente a um estado da economia 
no qual todos os fatores de produção estão sendo plenamente empregados. Dito 
de outro modo, é o nível de PIB que  corresponde ao  limite de  crescimento de 
uma economia  sem que  surjam desequilíbrios. O PIB potencial é normalmente 
comparado  com  o  PIB  medido  (PIB  observado),  também  referido  como  PIB 
efetivo, e a diferença entre um e outro é denominada hiato do produto. 
Trata‐se de um  indicador útil na formulação das políticas monetária e fiscal. No 
primeiro  caso, o PIB potencial ― ou mesmo o hiato do produto ―  serve para 
avaliar  possíveis  pressões  de  demanda  que  podem  produzir  flutuações 
econômicas,  ensejando  a  antecipação  de  medidas  para  contê‐las.  Entre  as 
possíveis flutuações econômicas, prioridade é dada à inflação. No caso da política 
fiscal, o produto potencial é extremamente útil para avaliar‐se o resultado fiscal 
estrutural  do  governo.  O  gráfico  da  Figura  04  apresenta  resultados  do  PIB 
potencial brasileiro no período 1992‐2005, a valores de 2004. 
Uma rápida leitura do mencionado gráfico permite verificar, por exemplo, que o 
período que se estende entre o segundo semestre de 1994 e o segundo semestre 
de 1995 foi de expansão econômica uma vez que o hiato do produto apresentou‐
se positivo (linha rosa por cima da linha azul); e, que, contrariamente, o período 
que  vai  do  terceiro  trimestre  de  1997  até  o  quarto  trimestre  de  2001  foi  de 
contração econômica porquanto o hiato do produto esteve negativo; e, que entre 
o final do primeiro período indicado nesse exemplo e o início do segundo período 
utilizado  também nesse exemplo, o PIB potencial esteve muito próximo do PIB 
observado. Essa aderência do PIB observado ao potencial é  indicativa de que a 
economia  esteve,  no  referido  período,  em  um  estado  próximo  ao  estado  de 
equilíbrio. 
12 
 
O  PIB  potencial  é  uma  variável  de  difícil  determinação  pois  refere‐se  ao  que 
poderia  ter  sido  produzido  se  restrições  tecnológicas  e/ou  econômicas  fossem 
removidas ou inexistissem. 
Uma  das  hipóteses  mais  presentes  na  análise  do  produto  potencial  é  a  de 
restrições  impostas pela  inflação uma vez que este  fenômeno macroeconômico 
impede o emprego de todos os fatores de produção em sua plenitude. 
Fig. 04 – PIB potencial e PIB efetivo da economia brasileira no período 1992‐2005 em 
termos de números‐índice (ano de 2004=100) 
 
Fonte: Souza  Jr,  J.R. Produto Potencial: conceitos, métodos de estimação e aplicação à economia brasileira.  IPEA. 
Texto para discussão no 1.130. Rio de Janeiro. 2005. 
 
Reforça‐se, aqui, o fato de que o produto potencial não é o máximo que se pode 
conseguir  a  qualquer  custo,  isto  é,  em  marcha  forçada.  Trata‐se,  antes,  do 
produto  alcançado  quando  todos  os mercados  se  encontram  em  equilíbrio  de 
longo prazo. 
O conceito de PIB potencial ainda experimenta  limitações que, por certo, serão 
superadas com o avanço da pesquisa. Destacam‐se, aqui, duas dessas limitações. 
A primeira reside no fato de a determinação do produto potencial cingir‐se a uma 
análise  somente  do  lado  da  oferta,  deixando  de  considerar  a  demanda  como 
fator  indutor do aumento do  investimento, o que retroalimentaria a oferta. E, a 
segunda, é o fato de a análise não revisitar ou mesmo não aprofundar o conceito 
de Produtividade Total dos Fatores de Produção, referida como PTF. 
04.04. PIB e PNB a preços de mercado e a custos de fatores 
O  produto  bruto,  interno  ou  nacional,  normalmente  é  referido  a  preços  de 
mercado. Os preços de mercado  incluem os tributos que são pagos pelas firmas 
ao  produzirem  e  ao  comercializarem  seus  bens  e  serviços.  No  Brasil,  esses 
tributos  são,  respectivamente,  o  Imposto  sobre  Produtos  Industrializados  –  IPI 
que é um  tributo  federal, e o  Imposto  sobre a Circulação de Bens e Serviços – 
ICMS,  que  é  um  tributo  estadual.O  fato  de  esses  tributos  já  se  encontrarem 
embutidos nos preços do bens e  serviços adquiridos pelo  consmidor,  são ditos 
tributos indiretos, representados por II, notação que significa Impostos Indiretos, 
dado que a maior parte dos tributos é constituída de impostos. 
Os  preços  de mercado  incluem,  também,  os  subsídios  que  são  uma  forma  de 
apoio a determinado  setor o qual o governo pretende estimular. O estudo dos 
subsídios e seus efeitos foi realizado no Capítulo 2, deste Curso. 
Os preços de mercado são resultado da soma dos preços a custos de fatores com 
os tributos pagos pelas firmas e deduzidos os subsídios, estes últimos se houver. 
A expressão do PIB a preços de mercado é: 
PIBpm=PIBcf+II‐Sbsd 
De  igual modo,  conceitua‐se o PNB a preços de mercado e o PNB a  custos de 
fatores, com a seguinte expressão análoga: 
PNBpm=PNBcf+II‐Sbsd 
13 
 
A  análise  macroeconômica  requererá  que  se  considere,  em  alguns  casos,  o 
produto a preços de mercados. Noutros, porém, poderá mostrar‐se necessária a 
avaliação do produto destacando seus custos de produção daqueles referentes a 
interferências governamentais como tributos e subsídios. 
04.05. Produtos interno e nacional brutos e líquidos 
Na seção seguinte, serão estudadas as identidades macroeconômicas básicas. Na 
decomposição  do  produto,  ver‐se‐á  que  uma  das  parcelas  é  o  investimento. 
Quando  se  faz  referência  ao  investimento  sem qualquer  restrição, diz‐se  estar 
tratando  do  investimento  bruto.  O  investimento  bruto  é  composto  de  duas 
parcelas: o investimento líquido e a depreciação de ativos já existentes. 
A  depreciação  de  um  ativo  reflete  o  custo  da  manutenção  da  capacidade 
funcional desse ativo. Por exemplo, a manutenção de equipamentos e do prédio 
de  uma  fábrica,  tanto  quanto  o  recapeamento  da  camada  de  asfalto  de  uma 
rodovia  implicam custos de depreciação. De outro  lado, a ampliação do número 
de equipamentos e/ou do prédio da  fábrica bem como a duplicação da rodovia 
implicam  investimento  que  fazem  aumentar  esses  ativos,  correspondendo, 
portanto, a investimento líquido. 
No cálculo do PIB, e também do PNB, a parcela de investimento corresponde ao 
investimento  bruto.  Se  se  deduzir  a  depreciação  da  parcela  do  investimento 
bruto, passa‐se a  ter apenas o  investimento  líquidona  formação do produto, e 
estes  deixam  de  ser  os  produtos  brutos  para  se  tornarem  produtos  líquidos, 
respectivamente Produto Interno Líquido (PIL) e Produto Nacional Líquido (PNL). 
As representações algébricas, para um outro, são: 
PIL=PIB‐D; e 
PNL=PNB‐D, 
onde D é a parcela da depreciação. 
Por  extensão,  haverá  Produto  Interno  Líquido  a  preços  de mercado  (PILpm),  o 
Produto Interno Líquido a custos de fatores (PILcf), o Produto Nacional Líquido a 
preços  de mercado  (PNLpm)  e  o  Produto Nacional  Líquido  a  custos  de  fatores 
(PNLcf). 
05. Identidades macroeconômicas básicas 
O estudo das  identidades macroeconômicas básicas  implica analisar o equilíbrio 
macroeconômico, a identidade entre poupança e investimento, o financiamento 
do déficit público e a decomposição da renda nacional. 
05.01. Equilíbrio macroeconômico 
O equilíbrio macroeconômico é alcançado quando oferta e demanda agregadas 
de bens e serviços se igualam. A oferta agregada de bens e serviços depende da 
disponibilidade  de  fatores  de  produção  existente  na  economia  em  um  dado 
momento.  Em  uma  perspectiva  de  curto  prazo,  admite‐se  que  as  quantidades 
disponíveis desses fatores sejam constantes oferecendo um determinado nível de 
produto  potencial.  O  equilíbrio  macroeconômico  será  estudado,  nesta  seção, 
para três hipóteses de economia, partindo da mais simples para a mais complexa, 
esta última a mais aderente à realidade das economias dos países. 
Essa  divisão  em  três  hipóteses  de  economia,  uma  primeira,  fechada  e  sem 
governo, uma segunda, também  fechada e com governo, e, a terceira, aberta e 
necessariamente com governo, não passa de um artifício didático de que se lança 
mão para que se compreenda melhor o papel do agregado governo (na passagem 
da primeira para  a  segunda hipótese) e, em  seguida, do  comércio exterior  (na 
passagem da segunda para a terceira hipótese). 
(i) Economia fechada e sem governo 
Em uma economia fechada e sem governo a oferta se compõe da soma do que é 
produzido  para  atender  ao  consumo  (C)  com  o  que  é  produzido  a  título  de 
investimento  para  permitir  a  continuidade  e  o  crescimento  do  processo 
14 
 
produtivo (I). Nessa mesma economia, a demanda agregada é composta dos bens 
e serviços que são consumidos  (C), acrescidos de uma parcela que corresponde 
ao que é poupado (S). 
Daí, a  igualdade entre oferta e demanda conduz a C+I=C+S, donde  I=S, ou seja, 
tudo quanto é poupado em uma economia é drenado para investimento. 
(ii) Economia fechada e com governo 
Na sub‐seção anterior, considerou‐se uma economia fechada e sem governo. Na 
presente,  analisa‐se  uma  economia  ainda  fechada,  porém  com  governo.  Não 
havendo trocas com o exterior, o equilíbrio é alcançado mediante a igualdade da 
oferta  (produto Y) e demanda, agora constituída de três parcelas: consumo  (C), 
investimento (I) e gastos de governo (G), como se segue: 
Y=C+I+G 
O  governo  realiza  gastos  com  a  manutenção  de  suas  respectivas  estruturas 
orgânicas, com investimentos de interesse coletivo e com as transferências. Para 
a  manutenção  das  estruturas,  o  governo  paga  salários  e  outras  formas  de 
remuneração  a  servidores,  realiza  compras, muitas  das  quais  correspondem  a 
investimento.  Por  exemplo,  quando  o  governo  contrata  a  construção  de  uma 
ferrovia,  está  realizando  um  investimento,  no  caso,  um  investimento  público. 
Mas  quando  o  governo  adquire  papel  para  a  produção  de  documentos,  está 
realizando um gasto de consumo. 
As  transferências  representam  gastos  do  governo  em  favor  do  bem  estar  das 
famílias, com fundos de previdência social e de auxílios de tipos diversos como os 
valores pagos por meio da Bolsa‐Família e outros programas assistenciais. O total 
G dos gastos governamentais é sustentado por duas fontes principais que são os 
tributos  (T)  e  a  venda  de  títulos  de  sua  emissão  no  mercado  financeiro.  O 
governo  recorre  à  emissão  de  títulos  quando  há  déficit  orçamentário,  isto  é 
quando  T<G.  Idealmente,  um  governo  deveria  não  contrair  dívidas  e  gastar 
exatamente o montante arrecadado, isto é T=G. Comumente ocorre, no entanto, 
que desequilíbrios de  fases anteriores obrigam governos a contraírem dívida: a 
dívida  pública.  Nesse  caso,  ele  precisa  ajustar  seus  custos  totais  de  modo  a 
produzir um superávit, denominado superávit primário que é igual a (T‐G). São os 
casos em que aparece a desigualdade T>G.  
O tratamento da questão relativa à magnitude de G e de T diz respeito à política 
fiscal e não são considerados no modelo de equilíbrio que se analisa nesta seção. 
Dito de outro modo, G e T são variáveis de controle, controle este que é exercido 
pelo governo, portanto são variáveis exógenas ao modelo. 
(iii) Economia aberta e com governo 
Introduzindo, agora, o conceito de economias abertas, que corresponde ao caso 
mais  geral,  sobretudo  em  um  mundo  de  economia  globalizada,  surgem  as 
importações  e  as  exportações  que  precisam  ser  integradas  à  expressão  do 
equilíbrio. As  importações, cuja notação será M,  integram‐se à oferta agregada, 
isto é, ao membro à esquerda da expressão. E as exportações, cuja notação será 
X,  integram‐se  à  demanda  agregada,  ou  seja,  ao membro  à  direita  da mesma 
expressão, do que resulta: 
Y+M=C+I+G+X 
A  expressão  acima  reflete  o  lado  da  economia  real,  e  não  a  monetária.  As 
importações M  (em bens e  serviços)  se acrescentam ao produto Y  (em bens e 
serviços)  compondo  a  oferta  agregada.  Analogamente,  as  exportações  X 
correspondem a demandas exercidas, e atendidas, por agentes econômicos de 
outros  países,  também  em  termos  de  bens  e  serviços.  Juntamente  com  o 
consumo,  os  investimentos  e  os  gastos  de  governo,  X  comporá  a  demanda 
agregada. A referida expressão do equilíbrio entre oferta e demanda agregadas 
considerando uma economia aberta pode ser reescrita do modo seguinte: 
Y=C+I+G+X‐M 
15 
 
A parcela binomial (X‐M) representa as exportações líquidas ou saldo da balança 
comercial. Essa parcela é simétrica da poupança externa (M‐X), porque, como já 
mencionado,  M  é  a  parte  da  produção  de  agentes  de  outros  países  que  é 
ofertada na economia do país sob estudo e X é a parte da produção deste país 
sob  estudo  que  é  exportada,  isto  é,  que  é  comprada  por  agentes  de  outros 
países. A partir dessa expressão, é possível determinar‐se como o investimento é 
financiado  pela  poupança  e  como  o  excesso  de  poupança  em  relação  ao 
investimento  pode  financiar  o  déficit  público.  As  duas  subseções  seguintes 
mostrarão, respectivamente, como a poupança atua como fonte de recursos do 
investimento,  e  como  o  déficit  público  pode  ser  socorrido  pelo  excesso  de 
poupança  privada  em  relação  ao  investimento  e/ou  pela  poupança  externa 
positiva. 
05.02. Origem dos recursos para investimento 
Recursos para  investimento podem advir de  fontes diversas podendo,  inclusive, 
ser  providos  por  empréstimos  de  curto  e  longo  prazos.  A  fonte  natural  de 
recursos para  investimento é, no  entanto  e  como  já  referido  anteriormente,  a 
poupança. A seguir, demonstra‐se o porquê dessa afirmação. 
Subtraindo‐se C+T de ambos os membros de Y=C+I+G+X‐M, obtém‐se: 
Y‐C‐T=C+I+G+X‐M‐C‐T, 
Simplificando‐se, em seguida, o membro da direita e rearranjando‐se os termos 
de ambos os membros de modo a explicitar I em relação à demais variáveis, tem‐
se: 
I=(Y‐C‐T)+(T‐G)+(M‐X) 
Onde: 
Y‐C‐T  corresponde  à  poupança  privada  que  é  a  parcela  que  sobra  da  renda 
depois de deduzidos o consumo e os tributos;T‐G  corresponde  à  poupança  pública  porque  é  a  diferença  entre  a 
arrecadação e o gasto total do governo; e 
M‐X  é  a  poupança  externa,  porque  é  a  diferença  positiva  entre  o  que 
produziu‐se em outros países e que veio por compra  internacional para 
consumo ou utilização no país sob estudo e o que se produziu neste país 
sob  estudo  e  que  foi  levado,  mediante  venda  internacional,  para 
consumo ou utilização em outros países. 
A expressão portanto é o mesmo que  I=Sprivada+Spública+Sexterna, ou, ainda, 
I=S, 
A poupança privada corresponde ao saldo remanescente em mãos das famílias e 
firmas  depois  de  deduzidos  as  despesas  com  o  consumo  e  o  pagamento  dos 
tributos  (obrigações  fiscais).  A  poupança  pública  corresponde  ao  saldo  do 
governo em conta corrente e sua formação depende de o governo gastar menos 
do  que  arrecada.  E  a  poupança  externa  equivale  ao  déficit  em  transações 
correntes do balanço de pagamentos. 
05.03. Origem dos recursos para financiar o déficit público 
O déficit público pode ser financiado por meio de recursos de natureza variada. 
Entre  esses,  alinham‐se o  aumento de  tributos,  a  emissão de  títulos da dívida 
pública, empréstimos, reescalonamento de compromissos já assumidos, vencidos 
e/ou vincendos por prazos mais elastecidos e, mesmo tratando‐se de um recurso 
condenável à economia, emissão de moeda. O exame dessas possibilidades  faz 
parte do estudo da economia do setor público, não integrante do promada deste 
Curso.  Idealmente, não deveria haver déficit público uma  vez que os governos 
deveriam gastar exatamente o que arrecadam. Na prática, entretanto, não é o 
que  ocorre,  não  somente  pela  imprevisibilidade  que  assalta  alguns  gastos 
governamentais como, por exemplo, uma inesperada epidemia que surge depois 
que  o  orçamento  público  já  se  encontra  em  aplicação  sem  a  correspondente 
16 
 
provisão  para  enfrentá‐la.  Em  outra  ordem  de  exemplo,  um  eventual 
desaquecimento da economia que implique significativa redução da arrecadação 
de  tributos.  Déficits  públicos  ocorrem  com  freqüência,  e  são  os  geradores  ou 
fatores de  ampliação de dívida pública, normalmente  administradas e, quando 
não quitadas,  transferidas de uma gestão de governo para a  seguinte. A  fonte 
natural de eliminação do déficit público reside nas poupanças, privada e externa, 
como se demonstra a seguir. 
Partindo‐se  da  expressão  Y‐C‐T=C+I+G+X‐M‐C‐T,  e  explicitando‐se  (G‐T)  em 
relação às demais variáveis, encontrar‐se‐á: 
G‐T=(Y‐C‐T)‐I+(M‐X) 
Donde: 
Déficit público=(Spriv‐I)+Sexterna 
O membro à direita da igualdade acima mostra que é necessário que a poupança 
privada  supere o  investimento e/ou a poupança externa  seja positiva para que 
sejam gerados  recursos objetivando a eliminação do déficit público. Em outras 
palavras, em uma economia aberta, o déficit público deve ser financiado por uma 
composição entre as poupanças privada e externa. Nos  tópicos especiais deste 
Capítulo  (seção 11), voltar‐se‐á ao  tema da dívida pública, como ela surge e os 
critérios de seu manejo. 
05.04. Decomposição da renda nacional 
Partindo‐se  do  Produto  Interno  Bruto  a  preços  de  mercado,  a  expressão  do 
equilíbrio maacroeconômico geral é: 
Y=PIBpm=C+I+G+X‐M 
Donde,  decompondo  a  parcela  do  investimento  em  investimento  líquido  e 
depreciação, tem‐se: 
PIBpm=C+Ilíq+D+G+X‐M 
Deduzindo‐se a parcela da depreciação, passa‐se do Produto Bruto ao Produto 
Líquido: 
PILpm=PIBpm‐D=C+Ilíq+G+X‐M, 
Considerando‐se,  em  seguida,  que  PILpm=PILcf+II‐Sbsd,  pode‐se  explicitar  o 
Produto Interno Líquido a custo de fatores: 
PILcf=C+Ilíq+G+X‐M‐II+Sbsd, 
Transformando‐se  o  Produto  Interno  Líquido  em  Produto  Nacional  Líquido 
acrescentando‐se ao PILcf a receita recebida do exterior e deduzindo‐se a receita 
enviada ao exterior: 
PNLcf=C+Ilíq+G+X‐M+Rre‐Ree‐II+Sbsd. 
A expressão acima corresponde, por definição, à renda nacional RN. Daí: 
RN= C+Ilíq+G+X‐M+Rre‐Ree‐II+Sbsd 
A renda nacional é formada a partir dos salários, juros, lucro e alugueis recebidos 
pelas famílias. 
Em  continuação,  se  se  deduzirem  da  renda  nacional  os  lucros  retidos  pelas 
firmas, os  impostos diretos pagos pelas  firmas, as contribuições previdenciárias 
recolhidas  pelas  firmas  e,  ao  mesmo  tempo,  se  se  acrescentarem  as 
transferências  feitas  pelo  governo  e  os  juros  pagos  pelo  governo,  obtém‐se  a 
renda pessoal, ou seja: 
Rpess= RN= C+Ilíq+G+X‐M+Rre‐Ree‐II+Sbsd‐Lretfirm‐IDfirm‐Cprev+Tr+Jgov 
Por fim, se se deduzir, da renda pessoal, o imposto de renda pessoa física, chega‐
se à renda pessoal disponível, isto é: 
Rpessdisp=Rpess‐IRPF. 
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A  renda  pessoal  duisponível  se  reparte  em  consumo,  poupança,  juros  e 
prestações. 
06. Determinação da renda 
A  determinação  da  renda  constitui  uma  das  questões  centrais  da  análise 
macroeconômica, pois a renda de uma economia depende do concurso de vários 
fatores  (variáveis  macroeconômicas),  alguns  dos  quais  são  utilizados 
(administrados)  na  formulação  da  política  macroeconômica  de  um  país.  A 
evolução dos estudos  sobre  a determinação da  renda  fez  com que os  avanços 
fossem dando conformação a diferentes tipos de abordagem ao problema. Essas 
diferentes abordagens constituem os modelos de análise que serão sintetizados 
na presente  seção. Na  sequência,  são apresentadas as características principais 
do  modelo  clássico,  do  modelo  keynesiano  e  do  modelo  ISxLM  para  uma 
economia  fechada.  O  estudo  do  modelo  IS  e  para  uma  economia  aberta  é 
remetida  para  leitura  posterior  de  parte  de  alunos(as)  que  pretenderem  se 
aprofundar  nos  estudos macroeconômicos. No  espaço  deste  Curso,  a  base  do 
conhecimento se limita até o modelo ISxLM em economias fechadas porquanto, 
com  esta  base  assimilada,  o(a)  estudante  tem  condições  de  desenvolver  o 
modelo  ISxLM para economias abertas. Esse mesmo comentário é válido para o 
estudo dos  casos especiais dos modelos  ISxLM, excluídos deste  texto e para o 
modelo  de  determinação  conjunta  de  produto  e  inflação.  Inobstante  tais 
exclusões, este capítulo consagra algumas seções ao estudo da taxa de câmbio, 
da  inflação, do desemprego, entre outras que conceituam  importantes variáveis 
macroeconômicas. 
06.01. Síntese do modelo clássico 
O  primeiro  exercício  desenvolvido  para  explicar  o  nível  de  renda  de  uma 
economia  foi  o modelo  clássico,  que  elegeu  a  quantidade  de  trabalho  como 
variável  determinante  do  produto.  Para  tanto,  foram  alinhadas  no modelo  as 
seguintes considerações: 
(i) os mercados da economia são de concorrência perfeita e  tendem a se auto‐
regular; 
(ii) a oferta gera sua própria demanda (lei de Say7); 
(iii) o estoque de capital e o nível de tecnologia são constantes; 
(iv) inexistência de desemprego involuntário; e  
(v)  papel  neutro  da moeda  que  atua  apenas  para  refletir  os  níveis  de  preços 
determinado pela demanda agregada. 
Incorpora‐se às condições ora apresentadas, as quais refletem as simplificações 
do modelo, a função de produção, da forma: 
Y=f(K,L,Tg) 
Onde: 
Y é o produto ou renda; 
K é o estoque de capital que, como referido, é cpnstante; 
L é o estoque utilizado de trabalho, que é a variável do modelo; e 
Tg é o nível de tecnologia, também considerado invariável. 
Como todo e qualquer mercado, o de trabalho é comandado por uma função de 
demanda e por uma  função de oferta que  são  representadas em diagrama de 
quantidade de trabalho e preço do salário. 
Analisa‐se, preliminarmente, a demanda. As firmas contratarão mão de obra até 
determinada quantidade cujo valordo incremento da produtividade seja igual ao 
salário pago. Essa  condicionante pode  ser melhor  compreendida por meio dos 
dados  do  quadro  da  Figura  05.  Nessa  tabela,  a  quantidade  de  trabalho  é 
representada  pelo  número  de  trabalhadores  e  o  produto  é  dado  por  uma 
quantidade  física  que  corresponde  à  de  um  produto  equivalente  de  toda  a 
economia,  ou  seja,  a  quantidade  caso  a  economia  só  produzisse  um  único 
produto. Além disso, o preço unitário do produto é  fixo dado o pressuposto do 
modelo  segundo  o  qual  o  ambiente  é  de  concorrência  perfeita,  e  o  valor  do 
produto marginal é dado em unidades monetárias. 
 
7 Say, Jean‐Baptiste (1767‐1832), economista francês. 
18 
 
O  incremento de produto  a  cada novo  trabalhador  adicionado  corresponde  ao 
produto  marginal  do  trabalho.  Por  exemplo,  ao  deixar  de  operar  com  dois 
trabalhadores e admitir o terceiro, o produto evolui de um produto físico de 190 
unidades  para  outro  nível  de  produto  físico  igual  a  270  unidades.  O  produto 
marginal dessa mudança de dois para três trabalhadores é de 80 unidades físicas 
do produto, e o valor desse produto marginal é igual a (80 u.f. x 10 u.m./u.f.)=800 
u.m. 
Fig. 05 – Demanda das firmas por trabalho 
No de 
trabalhadores 
Produto total Y 
(u.f). 
Prod. marg. do 
trabalho (u.f.*) 
Preço unit do 
produto (u.m.**) 
Valor do prod 
marginal (u.m) 
1  100 100  10 1.000
2  190 90  10 900
3  270 80  10 800
4  340 70  10 700
5  400 60  10 600
*Unidade física. 
** Unidade monetária. 
Para demandar o  trabalho de  três  trabalhadores, as  firmas estarão dispostas a 
remunerar  cada  um  dos  três  por  800  u.m.  porque  este  é  o  valor monetário 
acrescentado  pelo  terceiro  trabalhador.  A  condição  de  equilíbrio  corresponde, 
portanto, à  igualdade entre o  salário nominal que é pago eo  valor do produto 
marginal. Em termos algébricos, essa condição é representada por: 
VPMGL=W 
Dadas as condições ora apresentadas, o nível de produto, e consequentemente 
da renda da economia, é definido com base na lei dos rendimentos decrescentes 
(vide Capítulo 2 deste Curso),  considerando‐se a quantidade de  trabalho  como 
insumo  variável. A quantidade de  trabalho é determinada, por  seu  turno, pelo 
equilíbrio do mercado de trabalho, resultante da interação de oferta  e demanda 
de  mão  de  obra.  Os  diagramas  da  Figura  06  apresentam  esse  resultado  do 
modelo. O nível de utilização do fator trabalho é transferido do diagrama inferior 
da referida Figura 06 para o diagrama superior, definindo o produto da economia 
e, consequentemente, a renda Y.  
A  quantidade  de  trabalho  corresponde  à  variável  independente  em  ambos  os 
diagramas, enquanto que a variável dependente é a renda no diagrama superior 
e o salário real no diagrama inferior. 
Fig. 06 – Produto de equilíbrio no Modelo Clássico 
 
 
 
 
19 
 
Exemplo de aplicação no 01 
Determinar o produto bruto de uma economia cuja função de produção agregada 
é  Y=12L2‐0,3L3,  e  que  as  funções  de  demanda  e  oferta  de  trabalho  sejam 
respectivamente Wr=80‐L e Wr=20+5L, sendo L expresso em 106 trabalhadores. 
Solução 
De Ws=WD, tem‐se 80‐L=20+5L, donde L*=10x10
6. Entrando‐se com o número de 
trabalhadores encontrado na equação do produto (PIB), tem‐se: YE=900x10
6 u.m.  
06.02. Síntese do modelo keynesiano 
Concebido por Keynes8, este modelo  surge no  ambiente econômico da  grande 
depressão de 1929 com o objetivo de combater o desemprego que se alastrava 
nos Estados Unidos e algumas nações europeias. Ao mesmo tempo, é uma crítica 
ao modelo  clássico.  Para melhor  compreensão,  o modelo  é  estudado  em  três 
etapas  que  consideram:  (i)  uma  economia  fechada  e  sem  governo;  (ii)  uma 
economia fechada e com governo; e (iii) uma economia aberta, necessariamente 
com governo. 
O ponto de partida é a observação de Keynes segundo a qual níveis reduzidos de 
consumo privado  e de  investimentos produtivos motivaram o desemprego  em 
1929.  Em  1936,  publica  sua  obra  principal  A  Teoria  do  Emprego  do  Juro  e  da 
Moeda, na qual demonstra que as decisões de gasto é que determinam o nível de 
renda. Seguem‐se as etapas da formulação de sua teoria. 
(i) Economia fechada e sem governo 
A simulação de uma economia fechada, isto é, sem relações com outros países, e 
sem governo, dois artifícios que serão removidos na sequência desta seção,  faz 
com  que  a  renda  nacional  se  origine  apenas  da  necessidade  das  famílias  para 
satisfazerem  o  seu  consumo  e,  em  havendo  sobras,  guardarem‐nas  para 
necessidades  futuras.  Essas  sobras  são  a  poupança.  Genericamente,  pode‐se 
então  afirmar  que  a  renda  das  famílias  se  distribui  em  consumo,  ou  gasto,  e 
poupança, isto é: 
 
8 John Maynard Keynes, economista britânico (1883-1946). 
Y=C+S, 
Onde: 
Y é a renda nacional; 
C é o consumo; e 
S é a poupança. 
Analisa‐se,  a  seguir,  a  maneira  como  a  renda  das  famílias  correntemente  se 
distribui  entre  consumo  e  poupança.  Admita‐se,  para  tanto,  que  a  tabela  da 
Figura 07 seja  indicativa do comportamento da  família  típica de uma economia 
fictícia em termos de distribuição da renda auferida, entre consumo e poupança. 
Fig. 07 – Distribuição da renda de uma família 
Renda 
disp. 
Y 
Consumo 
C 
Poupança 
S 
Prop. Mg. a 
cons. 
ΔC/ΔY 
Prop. Mg. a 
poup. 
ΔS/ΔY 
Prop. Méd. 
cons 
C/Y 
Prop. Méd. 
a poup. 
S/Y 
1000 1200 -200 1,1 -0,1 1,2 -0,2 
2000 2300 -300 0,7 0,3 1,15 -0,15 
3000 3000 0 0,8 0,2 1 0 
4000 3800 200 0,3 0,7 0,95 0,05 
5000 4100 900 0,4 0,6 0,82 0,18 
6000 4500 1500 0,5 0,5 0,75 0,25 
7000 5000 2000 --- --- 0,71 0,29 
 
As  necessidades  de  consumo  costumam  indicar,  quando  confrontadas  com  o 
nível  de  renda,  a  parcela  que  resta  à  família  para  a  finalidade  de  poupar.  O 
consumo de uma família depende do número de seus integrantes, suas faixas de 
idade, seus hábitos e, evidentemente, de seu nível de renda. 
Quando  a  renda  de  uma  família  aumenta,  o  consumo  também  aumenta, mas 
quase  sempre  as  alterações  observadas  nos  padrões  desse  consumo  não 
obedecem a um comportamento estritamente proporcional, ou seja, não há uma 
linearidade  na  variação  dos  gastos.  Isso  sucede  porque  a  relação  entre  a 
propensão média  a  consumir  e  a  propensão média  a  poupar  sofre  alteração 
quando  se  altera o nível de  renda. O que  se mantém  constante é  a  soma das 
20 
 
participações relativas dessas duas propensões, que é sempre igual à unidade, ou 
seja, uma parte da renda de cada  família é canalizada para o consumo, e o seu 
complemento, se houver, é poupado. As variações do que se consome e do que 
se  poupa  quando  a  renda  varia,  que,  para  variações  elementares  da  renda, 
correspondem, respectivamente, a propensão marginal e consumir e propensão 
marginal a poupar são, também, variáveis macroeconômicas de relevo na análise 
do equilíbrio da economia. A renda da família aqui considerada é a renda líquida, 
isto é, o que sobra da renda bruta depois de deduzidos os tributos que a família 
recolhe  ao  erário.  Analisam‐se,  neste  modelo  de  economia  fechada  e  sem 
governo,  as  funções  Consumo,  Poupança  e  Investimento  para,  ao  final, 
determinar‐se a expressão do multiplicador keynesiano dos gastos autônomos. 
‐ Consumo 
O consumo da sociedade depende principalmente de quanto lhe resta em termos 
da renda Y depois de deduzidos os tributos, isto é, 
C=f(Y‐T), 
onde  T  representa  os  tributos  cobrados.  Parte  dessasobra  de  renda  após  o 
pagamento dos tributos é aplicada em consumo e o restante é poupado. A parte 
que  é  destinada  ao  consumo  depende  da  propensão marginal  a  consumir  das 
famílias,  que  corresponde  a  [dC/d(Y‐T)].  Essa  derivada  reflete  a  inclinação  em 
cada  ponto  da  curva  de  consumo  em  função  da  renda  disponível,  também 
chamada de Curva da Função Consumo, conforme ilustrado pela Figura 08. 
A forma corrente da representação da função consumo é C=C.+PmgcY, onde C0 é o 
consumo autônomo, Pmgc é a propensão marginal a consumir e Y é a renda. Além 
disso,  por  mera  simplificação  de  raciocínio,  considera‐se  que  a  função  de 
consumo seja linear. 
 
 
Fig. 08 – Curva da função Consumo 
 
No  gráfico  da  mencionada  Figura  08,  a  propensão  marginal  a  consumir  das 
famílias corresponde à inclinação da curva de consumo. Por fim, observa‐se que a 
parte não  consumida da  renda disponível é  levada à poupança que, em última 
análise, nada mais é, conforme já referido, do que o adiamento do consumo. No 
Brasil,  a  proporção  do  consumo  em  relação  ao  PIB  vem  se  reduzindo,  tendo 
passado  de  um  patamar  superior  a  75%  no  final  dos  anos  1940  para 
aproximadamente 60% nos dias atuais. 
‐ Poupança 
Poupança  significa  o  adiamento  do  consumo.  Como  já  referido,  poupança  e 
consumo se complementam na formação da renda. Para a renda líquida nula, isto 
é, para Y‐T=0, a poupança é negativa e igual em módulo ao consumo autônomo, 
posto  que, mesmo  sem  renda,  o  indivíduo  realiza  o  consumo  autônomo.  Daí 
resulta que o gráfico cartesiano do consumo tem o formato mostrado na Figura 
09. 
 
 
21 
 
Fig. 09 – Curva da função Poupança 
 
 
A expressão da curva da função poupança é S=Ca+Pmgs, onde: 
Pmgs é a propensão marginal a poupar e Pmgs=1‐Pmgc.+ 
‐ Investimento 
Em  seu modelo, Keynes não explica esta  função, admitindo‐a como autônoma, 
ou seja: I=Ia. 
‐ Multiplicador dos gastos autônomos 
Substituindo as expressões C=Ca+PmgcY e I=Ia em Y=C+I, tem‐se: 
Y= Ca+PmgcY+Ia. 
Explicitando‐se a renda em relação às demais variáveis, chega‐se à expressão: 
Y=[1/(1‐Pmgc)](Ca+Ia), 
Onde a expressão entre  colchetes é o multiplicador dos gastos autônomos em 
uma economia fechada e sem governo. Chamando esse multiplicador de ᾳ, e os 
gastos autônomos de A, tem‐se, finalmente: 
Y=ᾳGA,  e  ΔY=ᾳ(ΔA),  o  que  significa  que  uma  variação  dos  gastos  autônomos 
produz uma variação na  renda em uma proporção maior do que a variação de 
tais  gastos,  posto  que,  como  Pmgc  é  sempre  menor  do  que  a  unidade,  o 
multiplicador  ᾳ  será  sempre  maior  do  que  a  unidade.  Daí  resulta  uma 
consequência importante para a formulação da política macroeconômica que é o 
fato de que um aumento nos gastos autônomos (C e/ou Ia) faz o produto bruto da 
economia crescer em uma proporção superior a este aumento. 
Exemplo de aplicação no 02 
Dada a propensão marginal a consumir Pmgc=0,60 de uma economia, determine o 
gasto autônomo capaz de produzir uma variação na renda igual a 2.500 unidades 
monetárias  (u.m.), Se o gasto autônomo com o  investimento não variar, qual a 
variação do gasto autônomo com o consumo? 
Solução 
O multiplicador  é  igual  a  ᾳ=1/(1‐0,60)=2,5. De  ΔY=ᾳ(ΔA),  tem‐se  ΔA=2500/2,5, 
donde ΔA=1000. Considerando que ΔA=ΔCa+ΔIa, se ΔIa=0, donde ΔCa=1000. 
(ii) Economia fechada e com governo 
A equação do equilíbrio macroeconômico assume a forma seguinte: 
Y=C+I+G,  
onde a variável nova em  relação ao modelo anterior  (economia  fechada e sem 
governo)  são os gastos de governo  (G). O governo atua  realizando gastos para 
adquirir bens e serviços de  interesse público, e com a transferência de recursos 
monetários  para  o  setor  privado.  Tais  transferências  correspondem  a 
aposentadorias,  pensões,  bolsas‐auxílio,  entre  outros.  Para  fazer  face  a  esses 
custos,  o  governo  arrecada  tributos  de  espécies  diversas  como,  por  exemplo, 
impostos, taxas, contribuições de melhoria e preços públicos. 
O modelo keynesiano adota o critério segundo o qual tanto os gastos quanto as 
transferências  governamentais  sejam  autônomos,  ou  seja.  G=Ga  e  Tr=Tra.  Ao 
mesmo  tempo,  considera  que  o  governo  tribute  consoante  sua  propensão 
marginal  relativa  a  esta  finalidade,  isto  é,  sua  propensão marginal  a  tributar 
(Pmgt). Em outras palavras, que o montante de tributos seja igual a uma fração da 
renda dada por: T=Pmgt.Y 
A renda disponível, Yd, será: 
Yd=Y‐T+Tr. 
Considerando  a  expressão  do  consumo  já  estudada  no modelo  de  economia 
fechada e sem governo, esta passar a ser escrita do modo seguinte: 
22 
 
C=Ca+Pmgc.Yd, 
donde:  
C=Ca+Pmgc (Y‐T+Tr), 
donde: 
C=Ca+Pmgc.Tr+Pmgc[Y‐Pmgt.Y] 
donde finalmente: 
C=Ca+Pmgc.Tr+Pmgc[1‐Pmgt.]Y. 
A expressão acima corresponde à versão da função consumo em uma economia 
fechada e com governo. Essa expressão indica que quanto maior for a propensão 
marginal  a  consumir  e menor  for  a propensão marginal  a  tributar,tanto maior 
será o consumo da economia. 
Para  determinar‐se  o  multiplicador  dos  gastos  autônomos,  entra‐se  com  a 
expressão  de  C,  acima  encontrada,  na  equação  do  equilíbrio macroeconômico 
Y=C+I+G,  considerando,  como  já  indicado,  que  as  variáveis  I  e  G  sejam 
autônomas. Daí: 
Y=Ca+Pmgc.Tr+Pmgc[1‐Pmgt.]Y+Ia+Ga, 
Isolando os gastos que dependam de decisões autônomas na equação da renda 
acima: 
Y‐Pmgc.Tr+Pmgc[Y‐Pmgt.Y]=Ca+ Ia+Pmgc.Tra, 
donde:] 
Y={1/[1‐Pmgc(1—Pmgt)]}(Ca+Ia+Ga+Pmgc.Tr). 
O multiplicador keynesiano será a parte da última expressão que está entre entre 
chaves, ou seja: 
β=1/[1‐Pmgc(1—Pmgt)]. 
A variação da renda será, portanto, igual a: 
ΔY=β.[Δ(Ca+Ia+Ga+Pmgc.Tra). 
Exemplo de aplicação no 02 
Dadas  as propensões marginais  a  consumir e  a  tributar, Pmgc=0,55 e Pmgt=0,35, 
além  dos  seguintes  gastos  autônomos:  Ia=0,18Y;  Ga=1000;  Tr=100  e  Ca=400. 
Determine a renda da economia. 
Solução 
Cálculo do multiplicador: 
β=1/[1‐0,55(1‐0,35)]=1,56 
A renda ou produto será: 
Y=1,56[400+0,18Y+1000+(0,55x100] 
Donde: 
Y=3.113,00 u.m. 
(iii) Economia aberta 
No estudo da economia aberta e com governo, o modelo keynesiano considera 
que  as  exportações  sejam  autônomas  (X=Xa)  e  que  as  importações  sejam 
compostas de uma parcela autônoma e de uma segunda parcela que depende da 
propensão marginal  a  importar,  isto  é, M=Ma+Pmgm.  Dadas  essas  condições,  a 
renda será: 
Y=Ca+Pmgc.Tr+Pmgc[1‐Pmgt.]Y+Ia+Ga+Xa‐Ma‐Pmgm. 
Explicitando‐se a expressão acima em relação a Y, tem‐se: 
Y={1/[1‐Pmgc(1‐Pmgt)]+Pmgm}.[Ca+(Pmgc.Tr)+Ia+Ga+Xa‐Ma, 
O multiplicador keynesiano será a parte da última expressão que está entre entre 
chaves, ou seja: 
γ=1/[1‐Pmgc(1—Pmgt)+Pmgm]. 
E variação da renda será: 
ΔY= γ.[Δ(Ca+Ia+Ga+Pmgc.Tr+Xa‐Ma). 
Exemplo de aplicação no 03 
Dados  C=120+0,60Y,  Tr=2,  Ia=180,  Ga=30,  Xa=200,  M=120+0,10Y,  e  Pmgt=0,30 
determinar a renda de equilíbrio da economia e o multiplicador de gastos. 
Solução 
Cálculo do multiplicador: 
γ=1/[1‐0,60(1—0,30)+0,10] 
Donde: 
γ=2,08. 
A renda será: 
23 
 
Y=2,08[120+(0,60x2)+180+30+200‐120‐0,10Y], 
Donde: Y=706,30 u.m. 
06.03. Síntese do modelo ISxLM 
Este modelo, conhecido pelos nomes de duas curvas  (IS e LM),  teve sua versão 
original apresentada por Hicks9 e resulta da evolução da Teoria Geral de Keynes, 
trazendo como ingrediente novo o mercado monetário. 
O  sistema  é  organizado,  portanto,  em  dois  mercados,  o  de  bens  e  serviços, 
representado  pela  curva  IS  (investment  savings),  e  o monetário,  representado 
pela curva LM (liquidity preference money)10. 
O  modelo  ISxLM  é  aplicado  a  economias  fechadas  ecom  governo.  Para  as 
economias  abertas  (necessariamente  com  governos),  o modelo  que  deriva  do 
ISxLM é  ISxLMxBP, onde BP é o Balanço de Pagamentos,  indicativo das relações 
da economia de um país com outras economias. 
Portanto, a equação do equilíbrio geral macroeconômico é: 
Y=C+I+G, 
E os seguintes pressupostos são adotados: 
‐ O consumo C segue o mesmo padrão do modelo keynesiano; 
‐ O gasto de governo é autônomo (G=Ga); e 
‐ O investimento depende da taxa de juro “i”, variando numa proporção inversa à 
da variação deste conforme se demonstra na seção 07, do presente texto. 
Daí: 
C=Ca+Pmgc.Tra+Pmgc(1‐Pmgt)Y; 
G=Ga; e 
I=Ia‐θi. 
Na  terceira  das  condições  acima,  “θ”  é  a  sensibilidade‐juro  da  demanda  por 
investimento.  Estabelecem‐se,  a  seguir,  as  equações  e  representações  gráficas 
das curvas IS e LM: 
 
9 John Hicks, economista britânico (XXXX‐XXXX).????????????????????? 
10 Keynes trabalhou somente com o mercado de bens e serviços (economia real), admitindo que o equilíbrio deste 
independia do mercado monetário. 
‐ Curva IS: 
Parte‐se do produto (ou renda) de equilíbrio: 
Y=Ca+Pmgc.Tr+Pmgc(1‐Pmgt)Y+Ia‐θi+Ga 
Separando‐se, no membro à direita da expressão acima, os gastos que dependem 
de decisões autônomas, tem‐se: 
Y[1‐Pmgc(1‐Pmgt)]=Ca+Pmgc.Tra+(Ia‐θi)+Ga 
Em seguida, chamando‐se os gastos autônomos de A, isto é: Ca+Pmgc.Tra+Ia+Ga, a 
expressão da renda de equilíbrio se transforma em: 
Y={1/[1‐Pmgc(1‐Pmgt)]}.(A‐ θi), 
Onde 1/[1‐Pmgc(1‐Pmgt)]=β, isto é, é o muliplicador keynesiano para uma economia 
fechada e com governo. 
Daí: 
Y=β(A‐θi), 
que é a equação da curva IS, de primeiro grau em “i” e negativamente inclinada, 
como mostra a Figura 10. 
Fig. 10 – Curva IS 
 
Colocando a expressão da curva IS na forma da equação reduzida da reta  i=f(Y), 
tem‐se: 
i=(A/θ)‐(1/βθ).Y 
24 
 
donde: 
i=(1/θ)[A‐(1/β)].Y, 
que  permite  observar  que,  quanto menor  o  valor  de  θ  (sensibilidade‐juro  da 
demanda  por  investimento),  tanto  maior  será  a  inclinação  da  reta  IS  e, 
consequentemente, menor será o  impacto da alteração da taxa de  juro sobre o 
nível de renda. 
‐ Curva LM 
Na determinação da curva LM, o pressuposto básico é a existência de apenas dois 
tipos de ativos  financeiros:  títulos  (que  rendem  juros) e moeda sonante. Sejam 
OT a oferta de  títulos, M a oferta de moeda, P o nível geral de preços, e W a 
oferta monetária total (de títulos e moedas). A valores reais, a oferta monetária 
total é: 
W/P=(OT/P)+(M/P). 
Adicionalmente,  sejam  DT  a  demanda  por  títulos  e  L  a  demanda  por moeda. 
Analogamente, a demanda monetária total é: 
W/P=(DT/P)+(L/P). 
O equilíbrio do mercado financeiro implica: 
(OT/P)+(M/P)=(DT/P)+(L/P) 
Donde: 
[(OT/P)‐(DT/P)]+[(M/P)‐(L/P)]=0 
Um  rápido  exame  da  expressão  acima  permite  concluir  que  se  o mercado  de 
títulos estiver em equilíbrio, o de moeda também estará e vice‐versa, porque se 
(OT/P)‐(DT/P)=0,  obrigatoriamente  (M/P)‐(L/P)=0.  Dessa  implicação,  basta 
analisar‐se um dos dois mercados. Opte‐se, no caso, pelo mercado de moeda. 
A oferta de moeda é controlada pelo Banco Central que é a autoridade monetária 
de cada país. Essa oferta é, em termos reais, M/P. de outro lado, a demanda por 
moeda,  isto é, quanto os agentes desejam manter de sua  riqueza em dinheiro, 
corresponde, em termos reais,a: 
L/P=λY‐ρi 
Onde: 
λ é a sensibilidade‐renda da demanda por moeda; e 
ρ é a sensibilidade‐juro da demanda por moeda. 
O equilíbrio do mercado de moeda é dado por: 
L/P=M/P, 
donde: 
λY‐ρi=M/P, 
donde:  
i=(1/ρ)[λY‐(M/P)], 
que é  a equação da  curva  LM. Ela  revela que, quanto maior  for  a  variação da 
renda mantida constante o oferta de moeda M, maior será a taxa de  juro “i”. O 
gráfico da Figura 11 apresenta a curva LM. 
Fig. 11 – Curva LM 
 
A taxa de  juro e a renda de equilíbrio resultará da  intersecção das duas curvas. 
Superpondo os diagramas das  Figuras 10 e 11,  tem‐se o  resultado do modelo, 
ilustrado pela Figura 12. 
 
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Fig. 12 – Taxa de juro e renda de equilíbrio 
 
Exemplo de aplicação no 04 
Uma economia tem a seguinte função de consumo: C=0,70(1‐Pmgt)Y. A função de 
investimento dessa economia é dada por I=2000‐47,5i. Determinar a taxa de juro 
e  o  nível  de  renda  dessa  economia  sabendo‐se  que  Pmgt=0,25,  os  gastos  do 
governo são  iguais a 755, a função de demanda por moeda é L/P=0,30Y‐50i e a 
oferta de moeda em termos reais (M/P) é igual a 500. 
Solução 
Determinação da curva IS: 
De Y=C+I+G, tem‐se: 
Y=0,70(1‐0,25)Y+2000‐47,5i+755, donde Y=5800‐100i; 
Determinação da curva LM: 
De L/P=M/P, tem‐se 0,30Y‐50i=500, donde i=0,006Y‐10; 
Cálculo do equilíbrio ISxLM: 
De  Y=5800‐100i,  tem‐se  i=58‐0,01Y.  Equiparando‐se  a  taxa  de  juro  dessa 
expressão  (curva  IS)  com  a  taxa  de  juro  da  expressão  da  curva  LM,  isto  é: 
i=0,006Y‐10, encontra‐se i=8% e Y=3000. 
06.04. Outros modelos 
Há, ainda, o modelo  ISxLMxBP que é voltado para economias abertas, o qual é 
construído  acrescentando‐se o Balanço de  Pagamentos  (BP)  ao modelo  ISxLM. 
Este modelo  não  é  previsto  de  ser  estudado  no  presente  Curso  por  falta  de 
espaço. Fica, entretanto, a sugestão ao(à) aluno(a) de, a título de exercício, tentar 
estruturá‐lo utilizando o mesmo critério adotado no desenvolvimento do modelo 
ISxLM, mediante a  incorporação da  relação do país com outras economias. Por 
fim,  e  igualmente  por  falta de  espaço, não  é  previsto  estudar‐se, no presente 
Curso, a determinação do produto em ambiente de variação de preços, isto é, o 
cálculo conjunto do produto e da inflação.  
07. Determinantes do investimento 
O  investimento corresponde à aplicação de capital para gerar nova  riqueza. Os 
empresários investem em novos negócios ou expandem seus negócios correntes 
em busca de uma maior  lucratividade.  Investimentos  resultam de decisões que 
dependem  basicamente  da  taxa  de  juro. Dependem  da  expectativa  do  agente 
investidor em relação ao futuro (expectativa otimista ou pessimista). Dependem, 
ainda,  de  confiança  no  sistema  econômico.  A  confiança  está  relacionada  com 
alternâncias  políticas  que  possam  interferir  no  sistema  econômico  pondo  em 
risco, por exemplo, a garantia do direito de propriedade.  
Como  a  taxa  de  juro  é  a  mesma  que  remunera  o  capital  que  é  tomado 
emprestado pelas entidades financeiras, então, ceteris paribus, se a taxa estiver 
alta, o empresário deixa de canalizar seu dinheiro para o investimento produtivo 
e o  leva para aplicações no mercado  financeiro pois auferirá uma remuneração 
mais alta ensejada por essa elevada taxa de juro. No entanto, se a taxa de juro for 
baixa, o  investimento produtivo se torna atraente desde que o seu retorno,  isto 
é, sua lucratividade seja superior à propiciada pela aplicação financeira.  
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Para melhor  compreensão,  suponha‐se  que  em  uma  economia  existam  cinco 
tipos  de  projetos  passíveis  de  ser  realizados  pelos  agentes  econômicos. 
Denominem‐se  esses projetos por Projeto  I, Projeto  II, Projeto  III, Projeto  IV  e 
Projeto  V.  Cada  tipo  de  projeto  poderá  ser  alvo  do  interesse  de  uma  grande 
quantidade  de  agentes  (empresários)  que,  dispondo  de  recursos  ou  podendo 
aportar  recursos  via  empréstimos,  terão  interesse  em  investir  em um ou mais 
desses tipos de projeto. Admita‐se que os retornos anuais dos projetos sejam os 
que se apresentam no quadro da Figura 13. 
Fig. 13 – Tipos de projeto (fictícios) para interesse em investir 
PROJETO I  II III IV V
RETORNO ANUAL (%)  15  10 5 3 2
 
Caso  a  taxa de  juro  real da  economia  seja, por  exemplo, 14%

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