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Dos Crimes Contra o Patrimônio - arts. 155 a 183 do CP

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� Direito Penal III – Prof. Chrystiano Martins – 4º Período – 2011
Crimes contra o Patrimônio
CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO
1.	FURTOS SIMPLES
	Furto
	Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
	§ 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno.
	§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.
	§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico.
	Furto Qualificado 
	§ 4º - A pena é de reclusão de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa, se o crime é cometido:
	I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
	II - com Abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
	III - com emprego de chave falsa;
	IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.
	§ 5º - A pena é de reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior. 
	O art. 155 inaugura o Título II, do Código Penal. Vamos ver a topografia do art. 155. Isso pode parecer bobagem, mas muitas das questões que estão sendo discutidas no Supremo hoje estão mencionando a topografia. Como está a topografia do furto no CP?
Caput – Traz o furto simples.
§ 1º - Traz o furto majorado pelo repouso noturno
§ 2º - Traz o furto privilegiado
§ 3º - Traz uma cláusula de equiparação
§§ 4º e 5º - Qualificadoras.
	Essa é a topografia do furto no Código Penal.
	
	Qual é o bem jurídico tutelado aqui? “Ah, é o patrimônio” Jura? Brilhante! Se você responder que é o patrimônio, o examinador vai perguntar: “de quem?” E você: da vítima! Brilhante! É o patrimônio de quem? Do proprietário? Na posse de alguém? Ou também o patrimônio na mera detenção de alguém? 
	Na verdade, o art. 155 protege a propriedade? A propriedade e a posse? Ou a propriedade, posse e a mera detenção? Há três correntes:
	1ª Corrente:	Protege-se o patrimônio, porém somente o indicativo de propriedade (Hungria)
	2ª Corrente:	Para a segunda corrente, a proteção recai sobre a propriedade e a posse (Noronha)
	
	3ª Corrente:	A proteção abrange propriedade, posse e detenção (Fragoso com a maioria)
	Observação:	“É imprescindível que a propriedade, posse ou detenção sejam legítimas.”
	Então, o direito penal só agasalha posse, propriedade ou detenção legítimas? Sim. E o que acontece com o ladrão que furta ladrão? Tem perdão? Isso caiu em um concurso para Delegado Federal! Qual é o crime do ladrão que furta ladrão? Caiu em concurso exatamente isso: A é o proprietário, B furtou A. B, logo em seguida, foi furtado por C. Vejam, A é vítima do furto de B. E quem é vítima do furto de C? Não é B, porque B tem posse ilegítima. Então, a vítima do furto de C continua sendo A. Ou seja, C vai responder por furto, não há dúvida! Não tem essa história do perdão, mas a vítima não é B, que tinha uma posse ilegítima. A vítima continua sendo A. Voltando ao caput:
	Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
	Vejam que o crime admite, inclusive, suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei 9.099/95), pois a pena mínima é igual a 1 ano. Trata-se de crime de médio potencial ofensivo. 
Quem é o sujeito ativo? Quem pode ser o furtador? O tipo exige alguma qualidade especial? Cuidado porque se você responde na prova apenas “crime comum e ponto”, perdeu a oportunidade de se diferenciar. Você vai responder assim: trata-se de crime comum, pode ser praticado por qualquer pessoa, salvo o proprietário, pois a coisa deve ser alheia. Aí o examinador vai perguntar: “existe furto de coisa própria?” Aí você vai dizer que não. 
	“Qual crime pratica o proprietário que subtrai coisa sua que está na legítima posse de alguém?” Podem ser dois crimes: o art. 345 (exercício arbitrário das próprias razões), do Código Penal ou o art. 346, do Código Penal, dependendo da natureza da posse, se é por determinação judicial ou convenção ou não. 
	Exercício Arbitrário das Próprias Razões
	Art. 345 - Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite: Pena - detenção, de 15 (quinze) dias a 1 (um) mês, ou multa, além da pena correspondente à violência.
 
	Art. 346 - Tirar, suprimir, destruir ou danificar coisa própria, que se acha em poder de terceiro por determinação judicial ou convenção: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
	Se a coisa está em poder de terceiro por determinação judicial ou convenção, art. 346.
	“Funcionário público subtrai coisa em poder da Administração.” Que crime pratica? O candidato responde logo: pratica peculato-furto, art. 312, §1º. Não é bem assim. Olha o que diz o § 1º, do art. 312:
	§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário.
	Então, a gente tem que enfrentar o problema considerando se o funcionário teve ou não facilidade em razão do cargo. Tendo facilidade, é o art. 312, § 1º. Não tendo, é o furto comum. Se eu estiver diante de uma subtração facilitada, aí vai ser o art. 312. § 1º, do CP. Agora, se eu estiver diante de uma subtração não facilitada pela qualidade funcional, aí é o art. 155, do CP. A diferença é importante porque o furto comum admite suspensão do processo. O crime funcional, não. Você vai ter que saber extrair do seu problema se você está diante de uma subtração facilitada ou não. Se for facilitada, peculato-furto. Caso contrário, furto comum. Um admite suspensão e o outro, não.
	Subtrair coisa comum de condômino ou co-herdeiro ou sócio, o crime é o do art. 156, do CP (furto de coisa comum).
	Furto de Coisa Comum
	Art. 156 - Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a quem legitimamente a detém, a coisa comum: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, ou multa.
	§ 1º - Somente se procede mediante representação.
	§ 2º - Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo valor não excede a quota a que tem direito o agente.
	Aqui você tem um crime praticado entre condôminos, co-herdeiros ou sócio e a coisa subtraída é comum. Detalhe, este furto de coisa comum é de menor potencial ofensivo. E mais, depende de representação da vítima. É de ação pública condicionada (§ 1º).
	Quem é a vítima? Proprietário, possuidor ou detentor. O que pune o art. 155? Ele pune “apoderar-se para si ou para outrem de coisa alheia móvel” Esse apoderamento pode ser:
Apoderamento direto, que nada mais é do que uma apreensão manual ou pode ser 
Apoderamento indireto, valendo-se de terceiros ou animais. 
	No MP/RO caiu uma questão exatamente enfocando o apoderamento indireto, o agente valendo-se de animais. 
	E a coisa alheia móvel é o objeto material. É a coisa sobre a qual recai a conduta criminosa. O que é coisa alheia móvel?
	Coisa alheia móvel – “Entende-se como objeto material do crime a coisa alheia móvel economicamente apreciável.”
	É importantíssimo que a coisa alheia móvel da qual o agente se apodera tenha interesse econômico. Se não há interesse econômico, mas há interesse sentimental ou moral? Quem me dá um exemplo? Fotografia é o exemplo típico. Agenda de adolescente que vira diário ou qualquer outro objeto de alta estima. Qual o valor econômico disso? Nenhum. E o valor sentimental? Todo. Ela prefere que subtraiam-lhe o carro, mas a agenda, não. Não está escrito que o objeto material do delito é a coisa economicamente apreciável? Então, onde ficam as coisas de interesse sentimental?Por isso vocês vão fazer essa observação:
	“Nélson Hungria defende que o crime de furto, quando se refere a coisa alheia móvel, abrange também as coisas de relevante interesse moral ou sentimental.”
	O objeto material tem que ser, antes de mais nada, coisa. Pergunto: a pessoa viva pode ser objeto material de furto? Não. Se você subtrair uma pessoa, estará, na verdade, praticando crime de sequestro ou cárcere privado. A subtração de criança e adolescente está prevista como crime no ECA no art. 237. A pessoa viva não é coisa e não pode ser objeto material de furto. 
	E o cadáver? Pode ser objeto material de furto? Você subtraiu um cadáver, praticou furto? Essa é a pergunta que cai. E a resposta é: em regra, não, pois há de maneira específica a previsão do crime de subtração de cadáver no art. 211 do Código Penal. 
	“Em regra cadáver não pode ser objeto material de furto, salvo se destacado para uma finalidade específica, por exemplo, servir em uma faculdade de medicina em aulas de anatomia.”
	Agora, prestem atenção: essa coisa, objeto material do furto, tem que ser alheia. Não basta ser coisa. Tem que ser alheia. Pergunto: 
	Coisa de ninguém é alheia? Pode ser objeto material de furto? Não. Coisa de ninguém não é alheia, não configurando furto. 
	E a coisa abandonada? Não é alheia. Já foi alheia. Coisa abandonada não configura furto. Vai cair coisa de ninguém, vai cair coisa abandonada? Não. 
	Vai cair coisa perdida. Coisa perdida pode ser objeto material de furto? Pergunto: é alheia? Coisa perdida é alheia, mas não conclua que por ser alheia é furto. Na coisa perdida, apesar de ser alheia, não há subtração, mas sim, apropriação. Logo, sendo a coisa perdida, você que dela se apropria e não entrega ao real proprietário, praticou o art. 169, § único, II, do CP, apropriação de coisa achada. O fato de ser alheia, não significa que a coisa perdida será objeto material de furto. Isso porque o fato de ser alheia não combinou porque não há subtração e sim apropriação. Apropriar-se de coisa alheia perdida é apropriação de coisa achada.
	Apropriação de Coisa Achada 
	II - quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente, deixando de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor ou de entregá-la à autoridade competente, dentro no prazo de 15 (quinze) dias.
	E se for coisa pública de uso comum? Pode ser objeto material de furto? Coisa pública de uso comum é alheia? Não. A todos pertence. Não é alheia, então, não pode ser objeto material de furto, salvo (e é esse salvo que cai) se destacada do local de origem, ganhando significado econômico. Exemplo: você está na praia, pega um balde de areia e leva para casa. Areia da praia é bem público que a todos pertence, você não praticou furto. Você pode, com balde! Cuidado, senão dá crime ambiental. Eu sou artista, e peguei a areia no balde e levo pra casa para fazer desenhos com essa areia dentro de garrafinhas para vender essas garrafinhas como artesanato. Essa areia passou a atender ao meu interesse econômico. Se alguém se apropria dessa minha areia, pratica furto. Eu não estou dizendo que o artista furtou a areia da praia. Se alguém subtrai essas garrafinhas com areia, praticou furto porque a coisa de uso comum foi destacada para atender a interesse econômico. Passa a ser objeto material de furto. 
	Preste atenção agora: e a pessoa que subtraiu o óculos do Drummond em Copacabana? A pessoa que levou embora o óculos praticou qual crime? A pessoa que levou o braço da estátua do Ayrton Senna, que crime pratica? Isso configura dano qualificado ao patrimônio público conforme art. 163, III do CP. Não é furto!
	Por fim, a coisa alheia deve ser também móvel. O que vem a ser coisa móvel? O conceito de coisa móvel no direito penal coincide como conceito do direito civil? O direito penal entende que a coisa é móvel quando pode ser transportada de um local para o outro sem perder a sua identidade. Aí é móvel. O direito penal não trabalha com os conceitos de direito civil. Para o direito penal, móvel é a coisa que pode ser transportada de um local para o outro sem perder a sua real identidade. Olha o exemplo: você está reformando sua casa, derrubou a parede, mas vai reempregar os tijolos na reforma. Para o direito civil (art. 81, II do Código Civil), os tijolos configuram coisa imóvel. E para o direito penal, móvel. Então, sob a ótica do direito civil, esses tijolos não poderiam ser objeto material de furto. É o exemplo que cai em concurso: tijolos que vão ser reempregados na construção.
	O crime de furto é punido a título de dolo. Então, preste atenção nos detalhes. Ele é punido a título de dolo + finalidade especial, caracterizada no enriquecimento próprio ou de terceiro (“subtrair para si ou para outrem”). Essa é a finalidade especial. Agora, a observação que eu vou fazer é a mais importante de todas: 
	“E imprescindível animus de apoderamento definitivo, isto é, intenção de não mais devolver a coisa ao proprietário.”
	1.1	FURTO DE USO 
	Se ele tiver o animus de uso, eu não tenho crime. Aí vou ter o furto de uso. Cuidado com o furto de uso, lembrando que o furto de uso é atípico! O examinador pergunta por que o furto de uso é atípico e você não sabe responder. O furto de uso é atípico por ausência de dolo característico do crime. E quais são os três requisitos do furto de uso?
1º Requisito – “Intenção, desde o início, de uso momentâneo da coisa subtraída.” Ou seja, você subtraiu já com essa intenção.
2º Requisito – Coisa não consumível. Somente na coisa não consumível é que você consegue obedecer também ao requisito seguinte.
3º Requisito – Restituição imediata após o uso e integral à vítima.
	São requisitos cumulativos. Há doutrina que fala em coisa fungível, infungível. Discordo. A expressão que melhor se amolda é “coisa não consumível.” Faltando um desses requisitos, esqueça o furto de uso.
	É possível furto de uso de automóvel? Se o tanque estava cheio? O automóvel está perfeito, só com o tanque vazio. O tanque vazio caracteriza o furto de uso, pois eu não devolvi a coisa no status quo ante? Tem doutrina que está se apegando a essas questões periféricas: combustível, desgaste do freio, do óleo. Se você se apegar a isso, você nunca vai reconhecer o furto de uso. Você não pode esquecer que a coisa furtada foi o veículo. Se você devolveu o veículo nas condições iniciais, é furto de uso. Pouco importa o desgaste natural para o seu uso. Então, a jurisprudência moderna não impede o furto de uso de automóvel por desgaste do óleo ou da pastilha de freio. A coisa que você queria subtrair era o carro. O objeto que deve ser restituído imediata e integralmente à vítima é o carro e não os periféricos que servem para o seu uso regular. Se você fica se apegando a isso, você não reconhece furto de uso jamais. A jurisprudência moderna não se apega a essas questões acessórias.
	1.2.	FURTO FAMÉLICO 
	É crime? Não. Exclui o quê do crime? Tipicidade, ilicitude ou culpabilidade? Furto famélico é caso de estado de necessidade. Vocês estão lembrados dos quatro requisitos do furto famélico? Furto famélico é caso típico de estado de necessidade (art. 24, do CP) que tem como requisitos:
	1º Requisito – “Que o fato seja praticado para mitigar a fome.”
	2º Requisito – “Inevitabilidade do comportamento lesivo.”
	3º Requisito – “Subtração de coisa capaz de diretamente contornar a emergência.”
	4º Requisito – “Insuficiência dos recursos adquiridos ou impossibilidade de trabalhar.”
	Furto famélico é tese somente de desempregado ou pode ser aplicada para quem tem emprego? Você tem coragem de pedir para o juiz furto famélico para quem é assalariado? Furto famélico não é tese somente de desempregados. É o 4º requisito. Não é para ter dificuldade na pergunta que vou fazer agora. A subtração é de comida porque é o que vai diretamente mitigar a fome (1º requisito). Você não pode furtar um ventilador porque não come um ventilador. Então, não dá.A pessoa subtraiu caviar para matar a fome. É possível furto famélico? Para matar a fome pode ser qualquer coisa! Não se pode exigir dela que subtraia para matar a fome batata chips. Se aquele era o produto que ela tinha à sua disposição para matar a fome, é válido. Então, cuidado! Não se impressione pelo caviar! Ele estava passando fome. Ele pode pegar qualquer coisa que possa contornar a sua fome.
	1.3.	FURTO: CONSUMAÇÃO
	Quando que o crime de furto se consuma? São quatro correntes discutindo o momento consumativo, inclusive caiu em concurso recente pedindo para discorrer sobre as teorias da consumação do furto: 
	1ª Corrente:	Teoria da Concrectatio: “a consumação se dá pelo simples contato entre o agente e a coisa 	alheia, dispensando o seu deslocamento.”
	2ª Corrente:	Teoria da Amotio: “dá-se a consumação quando a coisa subtraída passa para o poder do 	agente, mesmo que num curto espaço de tempo, independentemente de posse mansa e pacífica.” (STF e STJ)
	3ª Corrente:	Teoria da Ablatio: “a consumação ocorre quando o agente, depois de apoderar-se da coisa, 	consegue deslocá-la de um lugar para o outro.”
	4ª Corrente:	Teoria da Ilatio: “para ocorrer a consumação, a coisa deve ser levada ao local desejado 	pelo agente e mantida a salvo (posse mansa e pacífica).”
Dessas quatro correntes, qual prevalece? Tomara que caia isso porque STF e STJ estão falando a mesma língua: Amotio. Essa é a corrente que prevalece nos tribunais superiores. Então, para o STF e para o STJ o crime se consuma quando a coisa subtraída passa para o poder do agente. Mesmo que num curto espaço de tempo, independentemente de deslocamento ou posse pacífica. Vejamos alguns julgados dos tribunais superiores sobre esta questão:
HC 95174 / RJ - RIO DE JANEIRO 
�� HTMLCONTROL Forms.HTML:Hidden.1 HABEAS CORPUS
Relator(a):  Min. EROS GRAU
Julgamento:  09/12/2008           Órgão Julgador:  Segunda Turma
Ementa 
EMENTA: HABEAS CORPUS. PENAL. DESCLASSIFICAÇÃO DE ROUBO PARA FURTO: IMPOSSIBILIDADE. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA: DISTINÇÃO. INAPLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NO CRIME DE ROUBO. REGIME INICIAL DE CUMPRIMENTO DA PENA: OBSERVÂNCIA DO ART. 33 DO CÓDIGO PENAL. 1. O crime de roubo abrange a subtração da coisa e a violência ou ameaça à vítima. Daí a impossibilidade de desclassificação para o crime de furto. 2. Tem-se por consumado o crime de roubo quando, cessada a clandestinidade ou a violência, o agente tenha tido a posse da coisa subtraída, ainda que retomada logo em seguida. Situação distinta é a veiculada no HC n. 88.259, em que o paciente subtraiu um passe de ônibus, utilizando-se de arma de brinquedo. Considerou-se a particularidade consubstanciada na circunstância de ter sido ele o tempo todo monitorado por policiais que se encontravam no local do crime. Inaplicabilidade desse precedente ao caso ora examinado, em que o paciente teve a posse dos bens subtraídos, ainda que por pouco tempo. 3. A Segunda Turma desta Corte afirmou entendimento no sentido de ser "inaplicável o princípio da insignificância ao delito de roubo (art. 157, CP), por se tratar de crime complexo, no qual o tipo penal tem como elemento constitutivo o fato de que a subtração de coisa móvel alheia ocorra 'mediante grave ameaça ou violência à pessoa', a demonstrar que visa proteger não só o patrimônio, mas também a integridade pessoal" [AI n. 557.972-AgR, Relatora a Ministra Ellen Gracie, DJ de 31.3.06]. 4. O regime inicial semi-aberto é adequado ao disposto no artigo 33, § 2°, II, do CP. Ordem denegada.
HC 89958 / SP - SÃO PAULO 
�� HTMLCONTROL Forms.HTML:Hidden.1 HABEAS CORPUS
Relator(a):  Min. SEPÚLVEDA PERTENCE
Julgamento:  03/04/2007           Órgão Julgador:  Primeira Turma
Ementa 
EMENTA: I. Habeas corpus: cabimento: decisão do STJ em recurso especial. Admite-se o habeas corpus contra decisão do STJ, para rever questões jurídicas decididas contra o réu no julgamento do Recurso Especial, ainda que fundado em dissídio jurisprudencial - (v.g. HC 83.468, 1ª T., 30.3.04, Pertence, DJ 23.4.04; HC 83.804, 1ª T., 29.03.05, Peluso, DJ 1.7.05; HC 85.410, 1ª T., 18.10.05, Pertence, DJ 11.11.05). II. Recurso especial: admissibilidade. 1. Decisão impugnada que atende aos limites que se tem reconhecido aos recursos de natureza extraordinária, restringindo-se à análise dos fatos da causa "na versão do acórdão recorrido" (cf. AI 130.893-AgR, Velloso, RTJ 146/291; RE 140.265, M.Aurélio, RTJ 148/550). 2. É da jurisprudência do Tribunal que a ementa do acórdão paradigma pode servir de demonstração da divergência, quando nela se expresse inequivocamente a dissonância acerca da questão federal objeto do recurso especial fundado no art. 105, III, c, da Constituição (v.g., Inq 1070, Pleno, 24.11.04, Pertence, DJ 1º.7.05). III. Roubo: consumação. A jurisprudência do STF (cf. RE 102.490, 17.9.87, Moreira; HC 74.376, 1ª T., Moreira, DJ 7.3.97; HC 89.653, 1ª T., 6.3.07, Levandowski, DJ 23.03.07), dispensa, para a consumação do furto ou do roubo, o critério da saída da coisa da chamada "esfera de vigilância da vítima" e se contenta com a verificação de que, cessada a clandestinidade ou a violência, o agente tenha tido a posse da "res furtiva", ainda que retomada, em seguida, pela perseguição imediata.
REsp 939837 / RS
RECURSO ESPECIAL
2007/0075836-8
5ª Turma
Ementa: RECURSO ESPECIAL. PENAL. FURTO. MOMENTO DA CONSUMAÇÃO DO DELITO. DESNECESSIDADE DE POSSE MANSA E PACÍFICA. 1. Considera-se consumado o crime de furto com a simples posse, ainda que breve, do bem subtraído, não sendo necessário que a mesma se dê de forma mansa e pacífica, bastando que cessem a clandestinidade. FURTO QUALIFICADO PELO CONCURSO DE AGENTES. APLICAÇÃO ANALÓGICA DA MAJORANTE DO ROUBO, PREVISTA NO ART. 157, § 2º, II, DO CÓDIGO PENAL. IMPOSSIBILIDADE. 1. Não deve ser aplicada, analogicamente, a majorante do crime de roubo prevista no art. 157, § 2º, inciso II, do Código Penal, ao furto qualificado pelo concurso de pessoas, já que inexiste lacuna na lei ou ofensa aos princípios da isonomia e da proporcionalidade. 2. Recurso especial provido para, reformando o aresto objurgado, excluir a causa de diminuição prevista no art. 14, inciso II, do Código Penal, bem como afastar a incidência da majorante do roubo (concurso de pessoas) no crime de furto, restando a reprimenda do recorrido estabelecida em 2 (dois) anos de reclusão, pelo cometimento do crime previsto no art. 155, § 4º, inciso IV, do Código Penal, a qual deve ser substituída por duas penas restritivas de direitos, conforme disposto no art. 44, § 2º, do Código Penal, nos termos fixados pela sentença de Primeiro Grau.
Adotar essa teoria é importante por quê? Principalmente para efeitos de no caso em concreto se apurar se o agente deve responder por crime consumado ou se na forma tentada, pois nesta incide a diminuição da pena. O que importa não é o agente se enriquecer ou ter posse mansa e pacífica. O que importa é a vítima perder a disponibilidade da coisa. Pronto. O que importa é a vítima perder o poder sobre a coisa. Então, diante dessa teoria, estão consumados os seguintes exemplos:
Empregada que subtrai jóias da patroa e deixa embaixo do sofá, mesmo que ainda na casa da patroa. O crime está consumado. Se a patroa quiser usar as jóias não vai poder. É o exemplo de Nélson Hungria. A empregada sabe onde está a jóia e a patroa perdeu a disponibilidade, independentemente do deslocamento ou posse pacífica. Então, a teoria da amotio permite consumar esse exemplo.
Você subtrai uma carteira num navio. O dono viu e você a lança ao mar. O crime está consumado. Você não se locupletou, mas a vítima perdeu a disponibilidade sobre a coisa. 
	OBS. O crime considera-se consumado mesmo no caso em que a coisa permaneça no âmbito pessoal ou profissional da vítima, perdendo esta a disponibilidade do bem.
	Admite tentativa? Sim, o crime de furto admite tentativa, pois é delito plurissubsistente.
	Agora eu quero saber: o agente colocou a mão no bolso da vítima, mas naquelebolso não tinha nada. Ele cometeu algum crime? É tentativa de furtou ou é crime impossível? Pode até gerar uma importunação ofensiva. Nelson Hungria diz: tentativa, pronto e acabou. Para ele, houve uma relativa impossibilidade, não configura crime impossível, gera tentativa. Bittencourt discorda: você tem que perquirir se ele trazia valores em algum outro compartimento da vestimenta. Se ele não trazia dinheiro ou valores naquele bolso ou em nenhum outro, é crime impossível. Para Bittencourt, se ele não trazia dinheiro naquele bolso, mas trazia em outro, tentativa. Se o examinador adotar a tese de Bittencourt, vocês vão ter que diferenciar o quê no problema? Se a vítima não trazia qualquer valor, configurando crime impossível ou se a vítima trazia qualquer valor em outro compartimento da vestimenta, configurando tentativa.
	A última questão sobre consumação e tentativa diz respeito ao seguinte: vigilância eletrônica em estabelecimentos comerciais. Gera crime impossível? Por si só não gera. Aquele dispositivo eletrônico não serve para impedir o furto. Serve para dificultar a ação do agente e facilitar a repressão. Tem que ser analisado o caso em concreto. Tem que ver qual é a ação do dispositivo de vigilância que, por si só, não gera crime impossível. É preciso analisar o caso concreto: de que modo o dispositivo atua. Só filmar a pessoa não impede o furto. Você estará flagrando o furto e tentará impedi-lo. Então, tem que ser analisado o caso concreto. Isso caiu na segunda fase do MP/SP. Essa questão sobre estabelecimento vigiado caiu no MP/SP e teve candidato que, na peça prática, arquivou, quando na verdade deve ser analisado o caso em concreto.
	Apenas para demonstrar a importância prática do tema em estudo vejam um interessante caso que foi veiculado no informativo n. 404 do STJ em que a polícia antecipadamente advertida sobre a possibilidade da ocorrência de um roubo passou a monitorar os criminosos efetuando a prisão em flagrante instante antes de perpetrado o assalto, onde foi discutido se havia ou não, no caso, ingressado na fase de execução da conduta:
Informativo, STJ, nº: 404
Período: 24 a 28 de agosto de 2009.
As notas aqui divulgadas foram colhidas nas sessões de julgamento e elaboradas pela Assessoria das Comissões Permanentes de Ministros, não consistindo em repositórios oficiais da jurisprudência deste Tribunal.
SEXTA TURMA
ROUBO. TENTATIVA. PREPARAÇÃO. 
A polícia, informada de que a quadrilha preparava-se para roubar um banco, passou a monitorar seus integrantes mediante escuta telefônica, o que revelou todos os detalhes do planejamento do crime. No dia avençado para o cometimento do delito, após seguir os membros do grupo até a porta da agência bancária, ali efetuou as prisões. Denunciado por tentativa de roubo circunstanciado e formação de quadrilha, o ora paciente, um dos autores do crime, alega, entre outros, a atipicidade da conduta, visto que não se ultrapassou a fase dos atos preparatórios. Contudo, essa pretensão esbarra na impossibilidade de revolvimento das provas em sede de habeas corpus, considerado o fato de que o Tribunal de origem, de forma fundamentada, concluiu pelo início dos atos executórios do crime, que só não se consumou em razão da pronta intervenção policial. Anote-se que, embora se reconheça o prestígio da teoria objetivo-formal no Direito Penal, segundo a doutrina, qualquer teoria pode revelar contornos diferenciados quando confrontada com o caso concreto. Com esses fundamentos, a Turma concedeu parcialmente a ordem, apenas para, conforme precedentes, redimensionar a pena aplicada ao paciente. HC 112.639-RS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 25/8/2009.
 
	1.4.	REPOUSO NOTURNO 
	Agora vamos ao § 1º, do art. 155, que traz uma causa de aumento de pena:
	§ 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno.
	Essa majorante é importante porque já não cabe mais a suspensão condicional do processo (cabível no caput) porque a pena mínima fatalmente suplantará um ano. É uma causa de aumento que vai impedir no caput, a suspensão condicional do processo. Olha a importância dela. Não é qualificadora, é causa de aumento e para você entendê-la, a gente tem que discutir o que seja repouso noturno.
	Repouso noturno – “É o período em que, à noite, pessoas se recolhem para o descanso diário.”
	Quando começa esse período e quando termina? Vocês acham que esse período é o mesmo numa grande cidade e numa cidade do interior em que as pessoas sabem o que os vizinhos comeram. Em uma cidade com 17 mil habitantes. Que horas começa o repouso noturno nessa cidade? Tem cidades que às 20h, o pessoal já está dormindo. Quando perguntarem sobre esse período, você vai ter que dizer: depende dos costumes da localidade. Se existem doutrinadores que não enxergam uma utilização válida do costume no direito penal, aqui está. Vamos nos valer do costume interpretativo. O costume do local dirá qual é o repouso noturno daquela coletividade.
	Agora, vejam: entendem a maioria que essa majorante só incide se o furto atenta contra o imóvel em que a pessoa rotineiramente repousa. Entendem a maioria que não abrange estabelecimentos comerciais. Há jurisprudência recente que entendeu que abrange até estabelecimentos comerciais:
CRIMINAL. HC. FURTO. CAUSA ESPECIAL DE AUMENTO. REPOUSO NOTURNO. ESTABELECIMENTO COMERCIAL. LOCAL DESABITADO. IRRELEVÂNCIA. ORDEM DENEGADA. Para a incidência da causa especial de aumento prevista no § 1º do art. 155 do Código Penal, é suficiente que a infração ocorra durante o repouso noturno, período de maior vulnerabilidade para as residências, lojas e veículos. É irrelevante o fato de se tratar de estabelecimento comercial ou de residência, habitada ou desabitada, bem como o fato de a vítima estar, ou não, efetivamente repousando. Ordem denegada – STJ, HC 29153/MS, rel. Min. Gilson Dipp, de 02/10/2003. No mesmo sentido: STJ, REsp 704828/RS, rel. Min. Felix Fischer, DJ 26.09.2005, p. 448). 
Mas para a maioria não abrange. O que significa isso? Você está dentro do imóvel e o seu carro na rua. Para a maioria não incide a majorante porque o carro estava na rua. Você não atentou contra o imóvel em que a pessoa repousa. E se o veículo estava na garagem? Incide a majorante porque o veículo estava protegido pelo imóvel que você repousa. Isso para a maioria. Mas tem uma jurisprudência recente do STJ, que abrangeu estabelecimentos comerciais. Mas isso não espelha, necessariamente, a maioria da jurisprudência.
	Este imóvel, para incidir a majorante deve estar habitado ou pode estar desabitado ocasionalmente? Se vocês entendem que deve estar habitado, os moradores devem estar repousando ou podem estar acordados. Para vocês responderem a essa pergunta, vocês têm que ter em mente o motivo da majorante. E qual é ele? É que no período noturno, você diminui a vigilância sobre a coisa e ainda coloca em risco pessoas indefesas. Cezar Roberto Bittencourt diz, então, que só pode ser em face de imóvel, o imóvel deve estar habitado e os moradores repousando. Nelson Hungria também concorda. Se estão comemorando o aniversário de alguém no imóvel, já não incide a majorante. 
	STF e STJ entendem que o imóvel pode estar, inclusive, ocasionalmente desabitado. É pacífico isso? Não! Já deu para perceber. Mas o STJ e o STF entendem que incide a majorante, mesmo no caso de imóvel ocasionalmente desabitado.
	A majorante só incide no caput (furto simples) ou também é possível aplicá-la ao furto qualificado? Prevalece que a majorante só se aplica ao furto simples. Se o furto está qualificado, não cabe a majorante, mas não impede o juiz de considerar na fixação da pena-base. Mas qual o fundamento disso? Interpretação topográfica. O §1º só se aplica ao caput. Se se quisesse que se aplicasse aos demais, estaria colocado como último parágrafo do dispositivo. Embora seja uma péssima interpretação é o que tem prevalecido. 
	1.5.	FURTO PRIVILEGIADO OU FURTO MÍNIMO (§ 2º)
	Isso caiu na defensoria/BAe o candidato achou que estivesse falando do furto insignificante. Errou. Furto mínimo é sinônimo de furto privilegiado.
	§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.
	
	Quantos requisitos nós temos para o furto privilegiado? Dois. Um subjetivo e outro objetivo.
Requisito subjetivo – primariedade do agente
Requisito objetivo – pequeno valor da coisa
	Lembrando que são requisitos cumulativos. Primário é o não reincidente, mesmo que tenha condenações pretéritas. Se as condenações não geram reincidência, você é primário. E quando a coisa é de pequeno valor? Quando não ultrapassa um salário-mínimo. 
	É possível a aplicação do princípio da insignificância? Se é insignificante diminui pena? Vocês não podem confundir pequeno valor com valor insignificante:
	“O pequeno valor do prejuízo não se confunde com prejuízo insignificante, este, causa de exclusão da tipicidade. Na insignificância existe mínima ofensividade na conduta, nenhuma periculosidade na ação, reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e inexpressividade da lesão jurídica.”
	Quando se tratar da aplicação do princípio da insignificância o caso não é de diminuição de pena e sim de absolvição por falta de tipicidade material. O caso concreto dirá. 
	A pergunta mais importante e que vai cair nos próximos concursos: 
	“posso aplicar o privilégio ao furto qualificado? Existe furto qualificado e privilegiado ao mesmo tempo? O privilégio é compatível com a qualificadora?” 
	Duas correntes! Cuidado que vai cair em concurso porque o STJ e o STF, finalmente, estão falando a mesma língua, isso porque a posição tradicional era a de que a gravidade da qualificadora era incompatível com o privilégio. Porém mais recentemente o STF (HC 96843/MS) e o STJ (HC 96140/MS) estão admitindo o furto privilegiado e qualificado simultaneamente:
	1ª Corrente:	“A gravidade da qualificadora é incompatível com o privilégio. Não bastasse, a posição topográfica do privilégio não alcança as qualificadoras (era a posição do STF).”
	2ª Corrente:	“Assim como admitimos homicídio qualificado e privilegiado ao mesmo tempo, também é possível furto qualificado e privilegiado. (atual posição do STF e do STJ).”
INFORMATIVO Nº 540
TÍTULO
Art. 155, § 2º, do CP: Furto Qualificado e Privilégio
PROCESSO
HC - 96843
ARTIGO
A Turma, superando a restrição do Enunciado 691 da Súmula do STF, deferiu habeas corpus para aplicar a minorante prevista no § 2º do art. 155 do CP (“Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.”) à pena de condenado por furto qualificado mediante concurso de pessoas (CP, art. 157, § 4º, IV). Assentou-se, de início, que se deveria considerar como critério norteador a verificação da compatibilidade entre as qualificadoras (CP, art. 155, § 4º) e o privilégio (CP, art. 155, § 2º) e, a esse respeito, entendeu-se que, no segmento do crime de furto, não haveria incompatibilidade entre as regras constantes dos dois parágrafos referidos. Reputou-se, então, possível, na espécie, a incidência do privilégio estabelecido no § 2º do art. 155 do CP, visto que, apesar de o crime ter sido cometido em concurso de pessoas, o paciente seria primário e a coisa furtada de pequeno valor (R$ 125,00). Tendo isso em conta, reduziu-se, em 2/3, a pena-base fixada em 2 anos e 4 meses de reclusão, o que conduziria à pena corporal de 9 meses e 10 dias de reclusão. Enfatizou-se, por fim, que o cumprimento da pena restritiva de direito, consistente na prestação de serviço à comunidade, será feito na forma a ser determinada pelo magistrado sentenciante, observado, como período, o cumprimento da pena ora fixada. HC 96843/MS, rel. Min. Ellen Gracie, 24.3.2009. (HC-96843)
HC 96140 / MS
HABEAS CORPUS
2007/0290324-0
T5 - QUINTA TURMA
02/12/2008
Ementa
HABEAS CORPUS. FURTO QUALIFICADO PELO CONCURSO DE PESSOAS. ABSOLVIÇÃO. NEGATIVA DE AUTORIA. AUSÊNCIA DE DOLO. VALOR ÍNFIMO DA RES FURTIVA. EXIGÊNCIA DE EXAME APROFUNDADO DE PROVAS. INVIABILIDADENA VIA ESTREITA DO WRIT. NÃO-CONHECIMENTO NESSE PONTO.
 1. A alegada inocência do paciente, a negativa de autoria, a ausência de dolo e o valor ínfimo da res furtiva, a ensejar a pretendida absolvição, é questão que demanda aprofundado exame de provas, que é vedado na via estreita do remédio constitucional.
PENA-BASE. FIXAÇÃO ACIMA DO MÍNIMO LEGAL. CULPABILIDADE E CIRCUNSTÂNCIAS DA PRÁTICA DELITIVA CONSIDERADAS NEGATIVAS. MOTIVAÇÃO INIDÔNEA À EXACERBAÇÃO DA REPRIMENDA. FATORES INSERTOS NO ART. 59 DO CP QUE NÃO SE MOSTRAM TOTALMENTE DESFAVORÁVEIS AO PACIENTE. COAÇÃO ILEGAL EVIDENCIADA. MITIGAÇÃO DA SANÇÃO QUE SE IMPÕE. CO-RÉU NÃO-PACIENTE. SITUAÇÃO FÁTICO-PROCESSUAL IDÊNTICA. EXTENSÃO DA DECISÃO (ART. 580 DO CPP).
 1. O fato de o delito contra o patrimônio ter sido praticado na ausência do vigia do estabelecimento-vítima não é fundamentação idônea para considerar como negativas a culpabilidade e as circunstâncias da prática criminosa e justificar a aplicação da sanção acima do legalmente previsto.
 2. Se os fatores insertos no art. 59 do CP não se mostram totalmente desfavoráveis, é inadmissível a fixação da pena-base muito acima do mínimo legal, sob pena de incidir-se em evidente constrangimento ilegal, sanável pela via eleita.
 3. Verificada a identidade fático-processual entre o paciente e o co-réu, aplica-se o disposto no art. 580 do CPP para estender a este os efeitos da mitigação da pena. PRIVILÉGIO. CRIME CONTRA O PATRIMÔNIO PRATICADO MEDIANTE O CONCURSO DE DUAS PESSOAS. APLICAÇÃO DO PRIVILEGIUM DESCRITO NO § 2º DO ART. 155 DO CP. COMPATIBILIDADE COM A MODALIDADE QUALIFICADA. PRIMARIEDADE E RES FURTIVA DE PEQUENO VALOR. REQUISITOS LEGAIS DEVIDAMENTE PREENCHIDOS. RECONHECIMENTO DA BENESSE QUE SE IMPÕE.
 1. para possibilitar que a prestação jurisdicional se aproxime o quanto mais for viável de uma apenação justa, com relação à aplicação do privilegium ao furto qualificado, há de ser atenuado o rigor da lei, mesmo porque esta não proíbe expressamente o reconhecimento da benesse.
 2. Em hipóteses excepcionais, considerando-se o valor da res furtiva e a primariedade, faz-se inafastável a concessão do benefício inserto no art. 155, § 2º, do CP. ARREPENDIMENTO POSTERIOR. CRIME COMETIDO SEM VIOLÊNCIA. RESTITUIÇÃO DO BEM ANTES DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. AUSÊNCIA DE VOLUNTARIEDADE NO ATO.
 1. Para o reconhecimento da figura do arrependimento posterior disposta no art. 16 do CP é indispensável que o crime seja cometido sem violência e que o bem seja devolvido à vítima antes do recebimento da denúncia, sendo certo que a sua aplicação só tem lugar nos casos em que a restituição procede-se voluntariamente.
 2. Tendo a decisão impetrada consignado que a res furtiva foi apreendida por policial no momento da prisão do paciente, ante a ausência de um dos requisitos necessários à incidência da benesse - espontaneidade na devolução -, é inadmissível minorar-se a reprimenda ao fundamento de que houve posterior arrependimento por parte do agente.
 3. Writ parcialmente conhecido e concedido tão-somente para mitigar a pena imposta ao paciente e reconhecer a figura do furto privilegiado, decretando-se extinta a sua punibilidade, pela ocorrência da prescrição; estendendo-se os efeitos da decisão ao co-réu não-paciente.
	A última observação que faço: O privilégio é um direito subjetivo do réu e não mera faculdade do juiz. Presentes os requisitos, o privilégio deve ser reconhecido ao réu e este ter sua reprimenda minorada.
	
	1.6.	ART. 155, § 3º - CLÁUSULA DE EQUIPARAÇÃO
	Toda doutrina está comentando que de 2008 para 2009, principalmente em 2009, o STF e o STJ estão tentando falar a mesma língua em muitas questões em que antesas duas cortes divergiam. Então, muitos posicionamentos estão sendo revistos.
	§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico.
	O § 3º traz uma cláusula de equiparação, equiparando à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico.
	Exemplo de qualquer outra energia que tenha valor econômico e que não seja elétrica: mecânica, térmica, radioatividade e genética. São as outras formas de energia: Térmica, Mecânica, Radioativa e Genética.
	Energia genética – Sêmen de animal. Tem animais que valem uma verdadeira fortuna, não somente por conta das suas propriedades físicas, mas também por sua capacidade de transferência genética. O fruto que pode eventualmente advir desse animal. Eu assisti a um leilão e vi um empresário pagar dois milhões de reais por meio touro, pela parte reprodutora do touro. Mas é imprescindível valor econômico.
	
	Pergunta que caiu no MP/RO (2ª fase) e eu nunca peguei um caso como esse: dois vizinhos proprietários de dois animais da mesma raça, com pedigree, premiadíssimos. Um era dono do cachorro e o outro, da cadela. O dono da cadela sugeriu a cruza entre os animais, que foi recusada pelo vizinho. O dono do cachorro achava, inclusive, que ele tinha um brilho no pelo por causa da virgindade. O dono da cadela, à noite, pegou a sua cadela e orientou o animal a romper o tapume que dividia as duas propriedades e colher o sêmen do cachorro. No dia seguinte, o cachorro estava desmaiado. O examinador queria que você oferecesse a denúncia. Qual o crime? Teve gente pensando em crime ambiental (maus-tratos de animais). Sabe qual foi a resposta? Furto mediante apoderamento indireto (que se dá por meio de animais, por exemplo), qualificado pelo rompimento de obstáculo (porque rompeu o tapume) de coisa equiparada a móvel: energia genética. Aí teve gente que colocou a majorante do repouso noturno, mas eu falei para vocês: não pode, porque o repouso noturno só se aplica ao caput. Questão interessante.
	É possível equiparar à coisa móvel sinal de TV à cabo? Vamos imaginar que você fez um contrato com a Sky. Você contratou um ponto. Mas, de repente, na sua casa tem Sky no quarto, na cozinha, no banheiro. Você contratou um ponto, mas tem Sky na residência inteira. É furto? Sinal de TV a cabo é coisa passível de furto?
	“Sinal de TV a cabo equipara-se a coisa móvel?”
	1ª Corrente: “Não se equipara para fins de furto, pois a energia se consome, se esgota, diminui, ao passo que o sinal de televisão, não se esgota.” Cezar Roberto Bitencourt.
	2ª Corrente: “Sinal de televisão é uma forma de energia.” Nucci e STJ. Sempre que essa questão 	chegou no STJ, o STJ decidiu de acordo com a segunda corrente. 
	É claro que você vai ser esperto. Se for prestar prova para Defensoria, vai ficar com a 1ª corrente.
	A mesma discussão ocorre quando se discute pulsos telefônicos. 	
Quando se trata de energia elétrica, não dá para confundir furto de energia elétrica com estelionato em face da concessionária. São dois comportamentos que não se confundem e vou dar uma dica para vocês não confundirem: 
O furto de energia é praticado mediante ligação clandestina (o famoso gato). O agente, no furto de energia, não está autorizado a consumir a energia.
No estelionato, o agente altera o medidor de energia. No estelionato, o agente está autorizado por contrato a consumir a energia, fraudando, ludibriando o valor da dívida
	
	Você, no seu problema, tem que saber se ele realizou ligação clandestina ou não, se somente alterou o medidor de energia. Se isso não ajuda, tenta perceber se ele está ou não autorizado a consumir a energia. Se não está, é furto mediante fraude. Se está, é estelionato. Isso repercute na pena. Em um, está cumulada com multa, no outro não.
HC 67829 / SP HABEAS CORPUS 2006/0220362-1 T5 - QUINTA TURMA HABEAS CORPUS. APELAÇÃO. MATÉRIA NÃO SUSCITADA NO TRIBUNAL A QUO. DEVOLUÇÃO INTEGRAL DO TEMA. INÉPCIA DA DENÚNCIA. ADULTERAÇÃO NO QUADRO DE ENERGIA ELÉTRICA. CRIME DE ESTELIONATO. ORDEM PARCIALMENTE CONHECIDA E, NESSA EXTENSÃO, CONCEDIDA. 1. Não há falar em supressão de instância quando o habeas corpus impugna decisão proferida em recurso de apelação, cuja devolutividade do tema é integral. Precedentes do STJ. 2. Não há falar em inépcia da denúncia por haver capitulação legal diversa, já que o réu defende-se dos fatos a ele imputados e da norma legal. 3. Também não é inepta a denúncia que, narrando a conduta delituosa de modo a permitir o exercício da ampla defesa, deixa de descrever de modo pormenorizado a conduta de cada sócio. 4. Configura o delito de estelionato a adulteração no medidor de energia elétrica, de modo a registrar menos consumo do que o real, fraudando a empresa fornecedora. 5. O rito célere do habeas corpus não possibilita aprofundado exame do contexto-fático probatório, competindo ao Tribunal de origem analisar se houve o pagamento dos danos causados à vítima, de modo a possibilitar a aplicação do art. 16 do Código Penal. 6. Ordem parcialmente conhecida e, nessa extensão, concedida para determinar ao Tribunal de origem que redimensione a pena cominada ao paciente, como entender de direito, e analise a possibilidade de ter ocorrido arrependimento posterior, de acordo com o art. 16 do Código Penal.
	Antes de começar as qualificadoras, deixa eu fazer uma observação que você não vai usar na prova, a não ser que esteja prestando defensoria. No mais, não utilize o que eu vou falar. Em caso de furto de energia e você tem que analisar o caso concreto, senão você acaba aplicando um direito penal elitista. O exemplo é de Rogério Sanches quando de sua atuação como Promotor de Justiça em São Paulo. Trata-se de um caso em que um casal realizou ligação clandestina e conseguiu trazer, com o gato, a energia do poste para a sua casa. A CIA Paulista de Força e Luz, apurou um gato exagerado, foi lá e percebeu a ligação clandestina. A Cia Paulista noticiou o fato à autoridade policial que instaurou o Inquérito Policial. Qual crime? Furto de energia. Art. 155. Esse casal foi indiciado por furto de energia elétrica e o delegado ainda jogou um furto qualificado pelo concurso de pessoas (casal). Chegando a notícia ao MP: o casal, quando foi indiciado, fez um acordo com a CPFL para pagar em tantas vezes. Juntaram o acordo. Qual é o benefício quando há o arrependimento e uma dívida é quitada? Qual é o benefício? Arrependimento posterior. Mera diminuição de pena. Teria que fazer o quê com o casal? Denunciar! E o juiz ia ter que fazer o quê? Condenar e depois diminuir um pouco a pena. Aí eu fiquei pensando... Vamos imaginar que não fosse um casal subtraindo energia elétrica, mas vamos supor que fossem sonegadores de 1 milhão de reais. Se eles tivessem parcelado a dívida haveria mera diminuição de pena? Não! Estaria extinta a punibilidade. Quem pratica dano ao erário público em milhões tem direito ao parcelamento extintivo da punibilidade (Lei n. 9.964/2000, art. 15, §3º). Eles não! Eles estavam sendo processados porque subtraíram 500 reais de energia elétrica! O que Rogério Fez? Aplicou o instituto dos crimes contra a ordem tributária no furto. Se o sonegador milionário que parcela extingue a punibilidade, o pobre que furta energia e parcela também extingue. Pronto! Analogia in bonam partem. O RS já tem julgado nesse sentido. Extremamente minoritário, mas para quem vai prestar defensoria, olha que raciocínio interessante: do direito penal elitista. O rico tem REFIS I, REFIS II, REFIS III “o calote continua” e tal. O pobre, toma tunga, arrependimento posterior só diminui a pena. Como promotor isso pode ser feito sempre que o crime é sem violência e sem grave ameaça. Se o crime for sem violência você diz pro delegado: “chama ele, se ele reparar o dano, eu vou arquivar.” 90% dessas pessoas ou tentam reparar ou reparam.
	1.7.	ART. 155, § 4º - FURTO QUALIFICADO
	O § 4º é o que mais cai em concurso. O § 1º traz majorante! O § 4º, o furto qualificado. A pena dofurto, caput, que era de 1 a 4, dobra, passa a ser de 2 e 8 e multa. Aqui o crime deixa de ser de médio potencial ofensivo, pois não mais admite a suspensão condicional do processo.
	Furto Qualificado 
	§ 4º - A pena é de reclusão de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa, se o crime é cometido:
	I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
	II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
	III - com emprego de chave falsa;
	IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.
	Inciso I – Traz um furto praticado com violência. Mas não é uma violência contra à pessoa. É o furto praticado com violência à coisa. Acreditem, no passado, isso era roubo. Antes o roubo era subtração violenta contra a pessoa ou coisa. Aí perceberam que não dava para equiparar a violência contra a pessoa à coisa. Já deu para perceber que há um obstáculo que se coloca entre o agente e a coisa. Deu para perceber claramente o seguinte: o que qualifica o crime é a violência empregada contra o obstáculo. Violência empregada contra a própria coisa não gera a qualificadora. O que gera é a violência praticada contra o obstáculo! A violência empregada contra a própria coisa visada não gera a qualificadora. Então, cuidado com isso! Para gerar a qualificadora a violência tem que romper o obstáculo que se coloca entre o agente e a coisa.
RECURSO ESPECIAL Nº 457.648 - DF (2002/0102795-4) RELATOR : MINISTRO HAMILTON CARVALHIDO 
EMENTA: RECURSO ESPECIAL. ROMPIMENTO DE OBSTÁCULO. FURTO DO VEÍCULO. QUALIFICADORA. ARTIGO 155, PARÁGRAFO 4º, INCISO I, DO CÓDIGO PENAL. NÃO INCIDÊNCIA. 1. Não há falar em incidência da qualificadora prevista no artigo 155, parágrafo 4º, inciso I, do Código Penal quando a violência empregada no rompimento do obstáculo é contra a própria coisa furtada. 2. Recurso improvido.
	Eu quero ver duas situações com vocês que vão dizer qual gera ou não qualificadora.
Eu quero furtar um carro. Eu destruo o vidro e vou embora com esse carro. Furto simples ou qualificado? Você responde: furto simples, porque a violência foi exercida sobre a própria coisa visada.
Eu quero subtrair um notebook dentro do carro. Eu quebro o vidro do carro e furto o notebook. Furto simples ou qualificado? Sua resposta: qualificado.
	O que vocês acharam da resposta de vocês? A resposta é legal. Mas vamos pensar sob o prisma da equidade. Está certo? Melhor você dizer pro agente: furta o carro que o notebook vai de brinde. Porque sua pena é melhor se você levar tudo. 
O STJ mantinha decisão conservadora e legalista decidindo pela qualificadora. Foi legalista, sem ter nada de equidade. Incide a qualificadora e pronto. O veículo é o obstáculo e o laptop é a coisa visada. Rompeu o obstáculo, subtraiu a coisa visada, conclusão do STJ: furto qualificado pelo rompimento de obstáculo.
	Porém o mesmo tribunal vem recentemente mantendo uma nova jurisprudência importante dizendo o seguinte: quando o obstáculo rompido vale muito mais do que a coisa furtada, não incide a qualificadora. Quando o obstáculo rompido vale consideravelmente mais do que a coisa furtada, não incide a qualificadora (STJ no HC 152833, julgado em abril de 2010):
Notícia do STJ 19/04/2010
Para Sexta Turma, vidro quebrado para furtar som em veículo não qualifica o crime. 
A destruição do vidro de automóvel para a subtração de objeto que se encontra no seu interior não caracteriza qualificadora para o crime de furto. A decisão da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) é o primeiro precedente neste sentido e pode alterar a jurisprudência da Corte. Os ministros levaram em conta o princípio da proporcionalidade da pena, porque, quando o vidro é rompido para se furtar o próprio veículo, o crime é considerado simples.
A qualificação do furto pode dobrar a pena se comparada àquela prevista para o furto simples. Enquanto o crime simples é punido com reclusão de um a quatro anos, o crime qualificado pode resultar em uma condenação de dois a oito anos de prisão. A qualificadora de rompimento de obstáculo é prevista no parágrafo 4º do artigo 155 do Código Penal.
O caso analisado aconteceu na cidade de São Paulo. O ladrão quebrou o vidro do carro e subtraiu a frente removível do aparelho de som. O furto foi percebido por “populares”, que perseguiram o ladrão. O relator do habeas corpus julgado é o ministro Nilson Naves e a decisão foi por maioria – quatro votos a um.
Para o ministro relator, não se pode destinar pena mais grave àquele que, ao quebrar o vidro, furta somente o aparelho de som. O relator afirmou que o princípio da proporcionalidade veda toda sanção injustificável quando comparada com a consequência prevista para a hipótese mais grave em abstrato.
Até então, os ministros dos dois órgãos julgadores de Direito Penal no STJ – Quinta e Sexta Turma – vinham entendendo que o furto de som em veículo era qualificado, pelo rompimento do obstáculo (o vidro do carro em si).
A Sexta Turma reavaliou a questão. Para a maioria dos ministros, não há como considerar o vidro do veículo um obstáculo apto a configurar a qualificadora constante do Código Penal. “Trata-se [o vidro] de coisa quebradiça, frágil, que, no mundo dos fatos, não impede crime algum nem é empregada com essa finalidade pelo proprietário”, ponderou o ministro Naves. Apenas o desembargador convocado Haroldo Rodrigues votou no sentido contrário, que mantinha a qualificadora. 
	Porém este julgado recente do STJ acabou de ser contrariada pelo STF no informativo n. 585:
Furto Qualificado e Rompimento de Obstáculo
A Turma indeferiu habeas corpus em que a Defensoria Pública da União pleiteava, sob alegação de ofensa ao princípio da proporcionalidade, o afastamento da qualificadora do rompimento de obstáculo à subtração da coisa (CP, art. 155, § 4º, I). Sustentava que o furto dos objetos do interior do veículo seria mais severamente punido do que o furto do próprio veículo, impondo-se sanção mais elevada para o furto do acessório. Entendeu-se que, na situação dos autos, praticada a violência contra a coisa, restaria configurada a forma qualificada do mencionado delito.
HC 98606/RS, rel. Min. Marco Aurélio, 4.5.2010. (HC-98606)
Eu removi as telhas e entrei na casa. Furto simples ou qualificado? A entrada na casa mediante remoção de telhas é simples ou qualificado. Olha a expressão! Ela diz tudo! Eu “removi” as telhas. O furto é simples. Eu não destruí as telhas. Elas continuam servindo para cobrir a casa. Mera remoção de telhas, mera desativação de alarme é furto simples porque você não rompe obstáculo. Romper obstáculo é tornar a coisa inservível, como dizem os tribunais. Romper obstáculo é você destruir as telhas, destruir o alarme. A mera remoção de telhas, a mera desativação de alarme, você venceu o obstáculo sem precisar destruí-lo. Se você venceu o obstáculo sem exercer violência sobre ele, não existe a qualificadora. Questão boa! Cuidado!
	A violência contra coisa deve ser exercida antes, durante ou logo após o apoderamento. Se for exercida muito depois do apoderamento, aí você tem um crime autônomo de dano. Se o crime já está consumado e aí você exerce a violência contra a coisa, gera o crime autônomo de dano.
	Tem jurisprudência minoritária entendendo que ligação direta em automóvel é rompimento de obstáculo. Mas é entendimento minoritário.
	Inciso II – O inciso II tem quatro qualificadoras, quando o crime é praticado com: abuso de confiança, mediante fraude, mediante escalada ou mediante destreza.
Abuso de confiança – quando incide essa qualificadora? Quando o agente se vale de uma confiança incomum nele depositada. Essa confiança pode advir de amizade, pode advir de parentesco, pode advir de uma relação laboral.
	Observação importante – “O criminoso pode captar propositadamente a confiança ou valer-se de confiança já existente.” 
	Ele pode trabalhar para conquistar a confiança e praticar o crime ou então, já tendo a confiança, decidir pela práticacriminosa. A mera relação de amizade, de parentesco ou laboral não induz essa qualificadora. A confiança tem que ser incomum. Você tem que dar a ele a confiança que os seus outros amigos não tem, que os seus outros parentes não tem, que os seus outros empregados não têm. É lógico que em qualquer relação de amizade, parentesco ou laboral há uma confiança. Mas a confiança aqui tem que ser incomum. Você, na relação de parentesco, amizade e labor, tem que ser detentor da maior confiança.
	Observação importante – “Os tribunais para a configuração da qualificadora exige facilidade na execução em razão da confiança.”
	Para os tribunais, só vai haver a qualificadora se aquela confiança te trouxe facilidade na execução. Se você tinha a confiança, mas não encontrou qualquer facilidade na execução em razão dela, não incide a qualificadora. Isso é exigência dos tribunais. Na lei você não consegue concluir por isso.
	Pergunta do MP/MG: qual é a diferença entre o furto qualificado mediante abuso da confiança e o delito de apropriação indébita? Eu vou dar duas dicas que vocês vão ter que extrair do caso concreto. Na apropriação indébita, o agente exerce a posse em nome de outrem. Ou seja, ele tem uma posse desvigiada. Já no furto, ele não exerce posse em nome de outro. No furto, o agente tem mero contato com a coisa. Ainda que ele tenha a posse, é uma posse vigiada. É a primeira dica: natureza da posse que ele exerce. A segunda diferença está em que na apropriação indébita, a vontade de praticar o crime é posterior, superveniente à posse. Eu estou diante de um dolo superveniente. No furto, a vontade de praticar o crime é anterior à posse. Estou de diante de um dolo antecedente agora. Aí não tem erro.
Furto mediante fraude – É quando o agente se utiliza de meio enganoso capaz de iludir a vigilância da vítima permitindo maior facilidade de subtração. É a qualificadora que mais cai em concurso. E vou direto para o que despenca: qual é a diferença entre o furto mediante fraude e o estelionato? Duas dicas também!
Furto mediante fraude – No furto, a fraude visa diminuir a vigilância da vítima sobre a coisa e possibilitar a subtração. Aqui, a vontade de alterar a posse é unilateral, ou seja, a coisa sai da vítima e vai para o agente de forma unilateral.
Estelionato – No estelionato, a fraude visa com que a vítima entregue a coisa espontaneamente. Ela emprega uma posse desvigiada. Aqui, a vontade de alterar a posse é bilateral. 
	Numa prova objetiva, você consegue matar as questões só com o que eu coloquei aqui.
	MP/SP (caiu nos últimos 2 concursos), MP/MG, magistratura/SP e PR, delegado/DF (tudo nos últimos três anos) e MP/BA em 2005: duas pessoas se passam por funcionários da telefônica. Chegam até uma residência, anunciam para a senhora da casa que há um problema e pedem que um deles seja conduzido até a antena. Pedem que a senhora permaneça junto à antena para ajudar na verificação do problema. Ele desceu, limparam a casa da mulher. Que crime praticaram? Se vocês disserem que foi estelionato, vejam que o fato de ter sido praticado por duas pessoas não gera a qualificadora porque o estelionato não tem essa qualificadora. Se vocês disserem que foi furto mediante fraude, além da qualificadora, o juiz ainda pode considerar o concurso de agentes como circunstância judicial. E aí? É só você pensar: ela entregou as coisas espontaneamente? Não! A mudança da posse foi bilateral? Também não! É fácil essa resposta, trata-se de furto mediante fraude.
	Exemplo clássico: a senhora está com dificuldade no caixa eletrônico. O agente usa um mecanismo e faz prender o cartão na máquina e depois oferece ajuda. Ela aceita a ajuda. Ele tira o cartão dela, troca por outro. A pessoa digita a senha, ele fica com o cartão, sabendo a senha. Que crime ele praticou? Troca de cartões. Furto mediante fraude ou estelionato? Ela entregou o cartão espontaneamente a ele? Não! Ele subtraiu o cartão. Ele usou de um artifício que fez com que ela perdesse a vigilância sobre o cartão. 
	É só não esquecer o esquema acima que vocês não têm como errar. A única hipótese que podem, eventualmente errar é hipótese de jurisprudência divergente. Até agora, tudo o que estou falando é relativamente pacífico.
	MP/SP (2ª fase) – Troca de embalagens de produtos em supermercado. Exemplo do MP/SP: Você pegou uma garrafa de água, esvaziou a garrafa de água no supermercado e nela introduziu um vinho caríssimo. Você colocou um vinho, passou pelo caixa e pagou o preço da água. Você pagou água, mas levou vinho. Que crime pratica uma pessoa que abre a caixa do ventilador e coloca lá dentro uma televisão? Que crime você pratica? Estelionato ou furto mediante fraude? Muitos alunos, nessa prova do MP colocaram estelionato porque a vítima representada pela caixa entregou a coisa espontaneamente numa posse desvigiada. A garrafa saiu de forma bilateral. Não! Aí você está trabalhando com a garrafa e não é isso que ele quer. Ele quer o que está dentro da garrafa. O vinho não saiu da garrafa dele espontaneamente. Em nenhum momento ela quis entregar o vinho para ele. O vinho entrou na garrafa de forma unilateral. Furto mediante fraude.
	Exemplo de estelionato que pode, eventualmente confundir (também caiu em concurso) – Essa é para as mulheres! Você sai da boate e você tem o número 06 do guarda volumes, que foi onde você deixou sua bolsa, mas você percebe que a bolsa que está no compartimento 09 é uma Prada. Você leva a bolsa Prada. Aí você praticou estelionato. A bolsa saiu da mulher do guarda volumes e foi para você de forma espontânea. Ela te deu uma posse desvigiada. 
	Questão que já caiu na magistratura/SP com uma resposta e no MP/SP com outra. Falso test-drive é furto mediante fraude ou estelionato? Você vai numa concessionária e pede para testar a pick-up sozinho. Ele dá a chave do carro e o cara não volta. Ele foi vítima do quê? Estelionato ou furto mediante fraude? A magistratura colocou estelionato, mas está errado. A magistratura pensou: a vítima entregou a coisa espontaneamente, deu a chave. O carro saiu da vítima e foi para o agente de forma bilateral. Mas eu pergunto: deu a posse desvigiada? Não! Então, não é estelionato, mas furto mediante fraude. Para ser estelionato, a posse tem que ser desvigiada. De 2008 para cá temos mais de 15 julgados dizendo que é furto mediante fraude e não estelionato exatamente pela ausência da posse desvigiada. Então, falso test-drive é furto mediante fraude. A saída do carro para o agente de forma desvigiada ocorreu unilateralmente.
Agente que a pretexto de auxiliar a vítima a operar caixa eletrônico apossa-se de seu cartão magnético, trocando-o por outro. Pergunta-se: trata-se de estelionato ou furto mediante fraude? Furto mediante fraude;
Agente que, em loja comercial, substitui mercadoria por outra de maior valor, usando embalagem da coisa mais barata? Furto mediante fraude já que a entrega do produto se deu de maneira unilateral já que a caixa não sabia;
A mesma questão caiu para delegado/DF, mas lá foi um falso test-drive de roupas. A pessoa entrou numa loja, pediu para experimentar a roupa, foi no provador, tirou o sobretudo, vestiu algumas roupas, colocou o sobretudo e foi embora com as roupas por baixo. É a mesma hipótese do falso test-drive de veículos. A resposta para a polícia civil do DF foi: furto mediante fraude.
Transferências de valores em conta por Rackers pela internet o STJ tem decidido que se trata de furto mediante fraude.
	Vejam a diferença de pena: estelionato é de 1 a 5 (crime de médio potencial ofensivo – cabe sursis processual), furto mediante fraude é de 2 a 8. Acabou a suspensão do processo. 
Escalada – É a terceira qualificadora. Significa o uso de via anormal para ingressar no local em que se encontra a coisa desejada. Isso é escalada. 
	Quando o candidato vê escalada, já imagina subida. Você não admite descida. Esqueça! É o uso de qualquer via anormal, seja subida, seja inclusive, ingressando por meio de túneis artificiais,de penetração subterrânea (exemplo do Assalto ao Banco Central em Fortaleza). Essa é uma via anormal. Toda e qualquer via anormal, seja subida, seja descida, seja cavando túneis, haverá a escalada, haverá a qualificadora.
Observação 01 – Não necessariamente subida.
Observação 02 – A jurisprudência exige a presença de um esforço incomum do agente.
	Para configurar a qualificadora da escalada, a jurisprudência exige um esforço incomum do agente. Se não houver prova de que ele despendeu um esforço incomum, não existe essa qualificadora.
	Exemplo: eu tenho um muro de 1 metro. A via normal é você abrir o portão e entrar. Se você pular o muro, isso é escalada, mas só configurará qualificadora se você, para pular o muro de um metro despendeu um esforço incomum. Se vocês entenderam isso, olha como uma pergunta tem a ver com a outra: para configurar essa qualificadora é prescindível ou imprescindível perícia? 
	1ª Corrente:	A perícia é prescindível, pois escalada não deixa vestígios. Um absurdo isso! Quem julga 	dessa maneira acha que escalada é só subir muro e ver se a sola está suja.
	2ª Corrente:	A perícia é indispensável somente quando deixa vestígio (caso do túnel).
	3ª Corrente:	A perícia é sempre imprescindível, pois deve atestar o desforço incomum. Pelo menos uma 	fotografia do muro é preciso porque o juiz tem que aquilatar se o agente, diante daquele obstáculo, 	empreendeu desforço incomum.
	Olha a pergunta que caiu: é comum, no interior, furto de cobre dos fios de energia elétrica. A pessoa sobe num poste e leva os fios de cobre embora. Incide a qualificadora? Vocês escreveram que escalada é uso de via anormal. Ele subiu num poste e levou os fios. É escalada? Isso é via anormal? Como é que você sobe num poste? Por helicóptero? Ele usou a via normal!!! A não ser que façam trocas de fios por helicóptero. Então, ele usou a via normal para atingir o alto do poste, que é escalando o poste. Não tem outro modo. Furto simples. Cuidado!
Destreza – Qualifica-se o crime de furto quando praticado mediante destreza. O que é destreza?
	“Destreza é peculiar habilidade física ou manual praticando o crime sem que a vítima perceba que está sendo despojada.”
	É o famoso caso dos batedores de carteira, também chamados de punguistas. 
	Observação:	Para a configuração desta qualificadora, a jurisprudência exige que a coisa visada seja transportada junto ao corpo da vítima.
	Vocês acham que a destreza é analisada sob o ângulo da vítima ou de terceiros? A vítima não percebeu, mas terceiros perceberam. Incide a qualificadora? Cuidado! A destreza é analisada única e exclusivamente sob a perspectiva da vítima. Mesmo que terceiros percebam, o que importa é ela não perceber. A qualificadora persiste. É o que prevalece. Eu não falei que é unânime, pois há entendimento em contrário.
	Inciso III – O inciso III qualifica o crime quando há o emprego de chave falsa. O que é chave falsa?
	“Chave falsa é todo o instrumento, com ou sem forma de chave (é o conceito para os tribunais superiores), capaz de abrir fechadura.”
	Chave verdadeira obtida fraudulentamente é chave falsa? Você abriu com a chave verdadeira, mas obteve fraudulentamente. Noronha diz que incide e o TRF da 4ª Região já decidiu que incide, mas não é o que prevalece porque chave verdadeira, ainda que obtida fraudulentamente, é chave verdadeira. Não é falsa! Noronha abrange na expressão “chave falsa” a “chave verdadeira obtida fraudulentamente”. Não é o que prevalece.
	Exemplo de chave falsa: chave-lixa ou gazua, vareta, grampos, arame do cabide, canivete e por aí vai. 
	Para a ligação direta prevalece o entendimento de que não é chave falsa. Certeza que vai cair na sua prova: ele usou a chave falsa, não para abrir a fechadura do carro, mas para ligar o motor. Incide a qualificadora? O STJ, até 2008, entendia que não configurava essa qualificadora a utilização da chave só para movimentar o veículo. A partir de 2008 a coisa mudou. O STJ vem decidindo que qualifica o crime, sim. Anote o julgado: REsp 906685/RS:
CRIMINAL. RESP. FURTO. USO DE "MIXA". QUALIFICADORA DO USO DE CHAVE FALSA. CONFIGURAÇÃO. CONCURSO DE PESSOAS. MAJORANTE DO CRIME DE ROUBO. APLICAÇÃO AO FURTO QUALIFICADO PELA MESMA CIRCUNSTÂNCIA. IMPOSSIBILIDADE. REINCIDÊNCIA EXCLUÍDA. IMPROPRIEDADE. ATENUANTE. INAPLICABILIDADE. SÚMULA 231/STJ. RECURSO PROVIDO.
I. O conceito de chave falsa abrange todo o instrumento, com ou sem forma de chave, utilizado como dispositivo para abrir fechadura, incluindo gazuas, mixas, arames, etc.
II. O uso de "mixa", na tentativa de acionar o motor de automóvel, caracteriza a qualificadora do inciso III do § 4º do art. 155 do Código Penal.
III. Tendo o Tribunal a quo, apesar de reconhecer a presença da circunstância qualificadora do crime de furto, recorrido aos princípios da proporcionalidade e da isonomia para aplicar dispositivo legal estranho ao fato, assume papel reservado pela Constituição Federal ao parlamento.
IV. Como não existe paralelismo entre os incisos I, II e III do § 4º do art. 155 do Código Penal com os demais incisos do § 2º do art. 157 do Estatuto Repressivo, a fórmula aplicada resultaria numa reprimenda diferenciada para indivíduos que cometem furto qualificado naquelas circunstâncias, o que é inconcebível.
V. O agravamento da pena pela reincidência reflete a necessidade de maior reprovabilidade do réu voltado à prática criminosa. Impropriedade de sua exclusão sob fundamento da perda de sua função teleológica.
VI. Não se admite a redução da pena abaixo do mínimo legal, ainda que havendo incidência de atenuante relativa à menoridade. Incidência da Súmula 231/STJ.
VII. Recurso provido
	Inciso IV – Incide a qualificadora quando o crime é praticado mediante concurso de duas ou mais pessoas (a pena dobra: 2 a 8 anos).
	Aqui há uma discussão doutrinária, mas é só na doutrina, porque a jurisprudência já pacificou tudo. Nélson Hungria diz o seguinte: a qualificadora do § 4º, IV, exige pluralidade de executores. Nélson Hungria não abrange partícipe. Se A subtrai, e B somente auxilia A a subtrair, para Nélson Hungria, como você tem só um executor do crime e ele não computa o partícipe, para ele, este furto não é qualificado. Para ele, ambos respondem por furto simples.
	Já para a maioria, o § 4º, IV fala “concurso de duas ou mais pessoas” e a expressão concurso abrange coautores como também os partícipes. Para a maioria, basta a pluralidade de agentes, abrangendo partícipes. 
	É dispensável a qualificação de todos. Basta a prova de que houve concurso de agentes, de que duas ou mais pessoas concorreram para o crime. 
	Incide a qualificadora mesmo que um dos concorrentes seja menor inimputável.
	Atenção a um detalhe importante: o que o concurso de pessoas fez com a pena do furto? Dobrou. A pena, de 1 a 4, passou a ser de 2 a 8. O roubo também tem uma circunstância parecida. Porém, não qualificadora, mas majorante. No roubo, a pena é de 4 a 10 e no caso de concurso de agentes, essa pena de 4 a 10 é aumentada de 1/3 até a metade. O roubo, que é um crime bem mais grave, no caso de concurso de agentes, a pena pode, no máximo, ser aumentada de metade. No máximo, ser aumentada de metade. O que vocês acham? Tem gente dizendo o seguinte: isso é inconstitucional porque fere o princípio da proporcionalidade. Você pune menos com mais e mais com menos. Como é que pode um concurso dobrar a pena do menos e só aumentar de metade a do mais? Tese para a defensoria pública. Não é o que prevalece. Prevalece que é constitucional.
	1ª Corrente:	Não vai dobrar a pena de 1 a 4, passando a ser de 2 a 8 porque é inconstitucional. 	Aplica o aumento do roubo no furto simples.
	2ª Corrente:	Mas prevalece que a aplicação da majorante do roubo no furto fere o princípio da 	legalidade porque o juiz estaria desconsiderando a lei em vigor legislando formando outra norma. Juiz não pode legislar. Essa é a posição do STJ, inclusive com a edição recente da súmula442:
SÚMULA N. 442 - STJ (30/04/2010): “É inadmissível aplicar, no furto qualificado, pelo concurso de agentes, a majorante do roubo”. 
	Uma ultima observação, caso haja também a caracterização do crime de formação de quadrilha ou bando (art. 288 CP) não incide a qualificadora sob pena de bis in idem.
Parágrafo 5º – A última qualificadora do furto está no § 5º, que aumenta em 1 ano a pena mínima, mantendo a máxima.
	
	§ 5º - A pena é de reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior. 
	É imprescindível para a incidência da qualificadora que o veículo ultrapasse os limites do Estado ou a fronteira do País. Está falando do DF? Quando fala em Estado, é óbvio que está abrangendo o DF. Nem a Constituição lembra de diferenciar Estado de DF em todos os seus dispositivos. Então, a palavra Estado é unidade da federação, abrangendo o DF.
	A partir do momento que eu digo que para incidir essa qualificadora é imprescindível ultrapassar os limites de um Estado ou fronteira do País, pergunto: admite tentativa? Vamos imaginar o seguinte: SP e PR. Você furtou o veículo em SP, estava chegando no Paraná e foi preso com o veículo. Incide a qualificadora? Não incide a qualificadora. Pergunto: Mas não seria essa a hipótese da qualificadora tentada? Não, porque se o crime estava consumado, ele não passa a ser tentado só porque você não conseguiu ultrapassar os limites do Estado. Então, não incide a qualificadora e o crime continua consumado.
	Agora, vejam a segunda situação: Você subtraiu o veículo em SP e foi perseguido incessantemente pela polícia de SP, entrando no PR e no PR você foi preso. Incide a qualificadora? Se você ultrapassou os limites do Estado, incide a qualificadora. Eu não falei que é imprescindível ultrapassar os limites do Estado? Pergunto: crime consumado ou tentado? Para a teoria da amotio, o crime está consumado. Mas para a teoria da ilatio, o crime é tentado. Aliás, seria a única hipótese em que essa qualificadora admitiria a tentativa e mesmo assim para a teoria da ilatio.
	Olha o que vai cair na sua prova: A furtou um veículo. A contratou B para transportar o veículo para outro Estado. B consegue transportar o veículo até o seu destino. Que crime pratica A? Que crime pratica B? É exatamente esse o problema da sua prova.
	1ª Hipótese:	B, de qualquer modo, participou do furto? Se B fez isso, seja induzindo ou instigando A, por exemplo, A responde pelo art. 155, § 5º e B responde pelo art. 155, § 5º, na condição de partícipe, combinado com o art. 29, do CP. A e B respondem pelo furto qualificado pelo § 5º. É claro que não incide o § 4º, IV (concurso de agentes). Se são duas qualificadoras, vai incidir a mais grave. Vocês já viram isso comigo em lesão corporal e homicídio. O § 4º, IV, não incide, porque o § 5º é mais grave e deve ser considerado como circunstancia judicial.
	2ª Hipótese: B, de qualquer modo, não participou do furto. Foi contratado para transportar o veículo sabendo que o veículo era produto de crime. Que crime praticou A, lembrando que ele conseguiu transportar o veículo para o outro estado? Art. 155, § 5º. E B, praticou qual crime? Receptação art. 180 do CP. Um detalhe, já muda o crime para B.
O que eu coloquei nesse problema que te impede de criar situação de favorecimento real para B? Eu falei que B foi contratado. No favorecimento real, B não buscaria qualquer vantagem pessoal. B só buscaria auxiliar A. Então, jamais haverá favorecimento real aqui. Nós vamos ter uma aula para falar de favorecimento real. Aliás, na próxima aula, de receptação, a gente vai ver a diferença. No favorecimento real, B não poderia extrair qualquer vantagem. B tinha que trabalhar só para favorecer A. E é o que ele está fazendo. No favorecimento real, você favorece o furtador e aqui ele está buscando vantagem, contratado, está recebendo. Na aula de receptação, vocês vão entender melhor a diferença entre os dois tipos.
	3ª Hipótese: B não participou do furto e transportou o veículo a pedido de A, sabendo ser produto de crime. A responde por furto qualificado pelo § 5º e B, responde por favorecimento real art. 349 do CP. 
	Uma ultima informação importante: No concurso entre duas qualificadores deve ser aplicada sempre a mais grave.
2.	ROUBO – Art. 157, CP
	Roubo
	Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência: Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, e multa.
	§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro.
	§ 2º - A pena aumenta-se de um terço até metade:
	I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma;
	II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
	III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância.
	IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior; 
	V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade. 
	
	§ 3º - Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de 7 (sete) a 15 (quinze) anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, sem prejuízo da multa. 
	Como sempre faço, vou colocar como o roubo está topograficamente colocado no CP:
Caput – Traz o roubo simples ou propriamente dito.
§ 1º - Traz o roubo simples impróprio ou impropriamente dito
§ 2º - Traz majorante de pena
§ 3º - Traz qualificadoras
	O crime de roubo é um crime complexo (furto + constrangimento ilegal), protegendo dois bens jurídicos, quais sejam, patrimônio e liberdade da vítima. Sabe o que caiu em concurso? Quem me dá sinônimo de roubo simples impróprio? Caiu isso em concurso. Roubo por aproximação. “Doutor, fale um pouco sobre o roubo por aproximação.” O candidato ficou falando de furto com violência à coisa, pois isso no passado já foi tratado como roubo, mas agora é furto.
	Qual é o bem jurídico tutelado? Lendo o caput, vê-se que há dois bens jurídicos. É um crime complexo: patrimônio e liberdade individual da vítima. O roubo, nada mais é do que um furto + constrangimento ilegal. No furto, patrimônio, no constrangimento ilegal, liberdade individual da vítima. Pronto! É um crime complexo. Protege dois bens jurídicos. 
	O crime é comum e pode ser praticado por qualquer pessoa, salvo o proprietário. Proprietário que subtrai violentamente coisa sua em favor de alguém, é exercício arbitrário das próprias razões (art. 345 do CP). 
	Quem é a vítima do roubo? Não é somente a pessoa ferida no patrimônio proprietário, possuidor e detentor), que teve o patrimônio diminuído, mas também aquela contra a qual o agente empregou a violência ou a grave ameaça, ou seja, a pessoa que sofreu constrangimento. 
	Agora, vejam, nós temos dois comportamentos punidos da leitura do art. 157, caput: Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência.”
	Nós vamos falar do roubo próprio. No roubo próprio, o agente emprega a violência física ou então, emprega grave ameaça ou então, emprega qualquer outro meio para a subtração. Vejam que no roubo próprio ou propriamente dito, o ato antecedente é a violência física, ameaça ou qualquer outro meio para a pessoa subtrair. A subtração, no roubo próprio, é ato subsequente. 
	Quem me dá exemplo de qualquer outro meio que não seja violência física ou moral? Exemplo emblemático de qualquer outro meio: ministração de psicotrópicos. O famoso boa-noite-cinderela. A doutrina dá o exemplo também da hipnose. Esse “qualquer outro meio” que configura

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