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UNICE – ENSINO SUPERIOR IESF – INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR DE FORTALEZA GRADUAÇÃO EM FARMÁCIA O USO IRRACIONAL DE DESCONGESTIONANTES NASAIS POR CLIENTES DE UMA FARMÁCIA COMERCIAL LOCALIZADA NO MUNICÍPIO DE FORTALEZA - CE FAGNER BATALHA FERREIRA Fortaleza – Ceará 2016.1 2 FAGNER BATALHA FERREIRA O USO IRRACIONAL DE DESCONGESTIONANTES NASAIS POR CLIENTES DE UMA FARMÁCIA COMERCIAL LOCALIZADA NO MUNICÍPIO DE FORTALEZA - CE Trabalho Acadêmico apresentado à UNICE – Ensino Superior / IESF – Instituto de Ensino Superior de Fortaleza, como requisito parcial para a obtenção do Título de Bacharel em Farmácia, sob a orientação da Prof.ª Me. Juliana Fernandes e Prof. Esp. Antônio Cláudio Silva Nunes. Fortaleza – Ceará 2016.1 3 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação F383u Ferreira, Fagner Batalha. O uso irracional de descongestionantes nasais por clientes de uma farmácia localizada no município de Fortaleza – CE. / Fagner Batalha Ferreira - 2016. 60f.; il.Color. Inclui Bibliografia. Monografia (Graduação em Farmácia) – UNICE – Ensino Superior, 2016. Orientador: Prof. Me. Juliana Fernandes. 1. Congestão Nasal. 2. Uso Irracional. 3. Descongestionantes. I. Título. CDD 615 Ficha catalográfica elaborada pelo Serviço Técnico da Biblioteca da UNICE - Ensino Superior. Bibliotecária: Josyane Moreno da Costa. CRB-3/1302 4 Trabalho Acadêmico apresentado à UNICE – Ensino Superior / IESF – Instituto de Ensino Superior de Fortaleza, como requisito necessário para a obtenção do Título de Bacharel em Farmácia. A citação de qualquer trecho deste trabalho acadêmico é permitida, desde que, em conformidade com as normas da ética científica. __________________________________________________________________________ Fagner Batalha Ferreira Apresentação em: _______/_______/_______ ___________________________________________________________________ Orientadora Prof.ª Me. Juliana Fernandes Pereira ___________________________________________________________________ 1ª Examinadora Prof.ª Dr.ª Terezinha de Jesus Afonso Tartuce ___________________________________________________________________ 2º Examinador Prof. Esp. Antônio Cláudio Silva Nunes ___________________________________________________________________ Coordenador do Curso Prof. Me. Fábio Luiz Tartuce Filho 5 Dedico Este trabalho primeiramente a Deus, que me deu força e coragem nessa longa jornada. Aos meus pais e esposa, que com muito carinho e apoio, não mediram esforços para que eu concluísse mais esta etapa na minha vida. 6 Agradeço A todos da minha família e minha amada esposa que, de alguma forma, incentivaram-me na constante busca pelo conhecimento. Aos meus orientadores, Prof.ª Juliana Fernandes e Prof. Antônio Cláudio, pela paciência, dedicação e sabedoria que muito me auxiliaram para conclusão deste trabalho. A todos os meus amigos e colegas de trabalho, que contribuíram de alguma forma nessa jornada. A todos os mestres dessa instituição, que dedicaram-se a transmitir uma das maiores virtudes que eles podem ter: o conhecimento. Meus sinceros agradecimentos! 7 RESUMO Muitos descongestionantes nasais tópicos são vendidos livremente nas farmácias e drogarias do Brasil, o que predispõe ao uso irracional, pois muitos acreditam que esses medicamentos não causam danos aos usuários. Entretanto, estudos têm demonstrado efeitos nocivos relacionados tanto ao uso terapêutico quanto ao uso indiscriminado desses medicamentos. Os descongestionantes nasais promovem o alívio sintomático da congestão nasal e, se utilizados pelo período e modo apropriado, o paciente obtém resultados, geralmente, eficazes. Por outro lado, quando usados de modo incorreto, ou por um período que ultrapassa o recomendado, pode resultar em efeitos adversos e em situação conhecida como: rinite medicamentosa, provocando certa dependência ao produto. É necessária uma maior conscientização da população quanto aos riscos do uso continuado de descongestionantes nasais tópicos. A avaliação farmacêutica da prescrição e da forma como o paciente utiliza esses medicamentos, bem como a orientação no ato da dispensação podem gerar bons resultados. Considerando ampliar conhecimentos relevantes a este tema, demonstrou-se a necessidade desse estudo que tem como intuito investigar o uso irracional de descongestionantes nasais e a prevalência de pacientes com uso dependente dessa medicação e, ainda, os fatores relacionados ao consumo desse produto. Para o embasamento teórico, a pesquisa fundamentou- se em um levantamento bibliográfico de diversas obras e artigos pertinentes ao tema. Palavras-chave: Congestão Nasal; Descongestionantes; Uso Irracional; Importância do Farmacêutico. 8 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10 CAPÍTULO I. CONGESTÃO NASAL ........................................................................ 13 1.1 Fisiopatologia da Rinite ....................................................................................... 16 1.1.1 Rinite Medicamentosa .................................................................................. 17 1.1.2 Rinite Infecciosa ........................................................................................... 17 1.1.3 Rinite Alérgica .............................................................................................. 19 1.1.4 Rinite Crônica ............................................................................................... 21 1.1.5 Pólipos Nasais ............................................................................................. 21 1.2 Fisiopatologia da Rinosinusite ............................................................................. 22 1.3 Fisiopatologia da Adenoidite ............................................................................... 24 CAPÍTULO II. DESCONGESTIONANTES NASAIS ................................................. 26 2.1 Nafazolina ........................................................................................................... 29 2.1.1 Indicações .................................................................................................... 29 2.1.2 Mecanismo de Ação ..................................................................................... 30 2.1.3 Efeitos Adversos .......................................................................................... 30 2.1.4 Os Riscos da Superdosagem ....................................................................... 31 2.1.5 Tratamento da Intoxicação ........................................................................... 31 2.1.6 Interações Medicamentosas ........................................................................ 32 2.2 Fluticasona ..........................................................................................................32 2.2.1 Indicações .................................................................................................... 33 2.2.2 Mecanismo de Ação ..................................................................................... 34 2.2.3 Efeitos Adversos .......................................................................................... 34 2.2.4 Os Riscos da Superdosagem ....................................................................... 34 2.2.5 Tratamento da Intoxicação ........................................................................... 35 2.2.6 Interações Medicamentosas ........................................................................ 36 CAPÍTULO III. A IMPORTÂNCIA DO FARMACÊUTICO NO COMBATE AO USO IRRACIONAL DE DESCONGESTIONANTES ......................................................... 38 9 CAPÍTULO IV. PESQUISA DE CAMPO ................................................................... 44 4.1 Método da Pesquisa ............................................................................................ 44 4.2 Universo da Pesquisa ......................................................................................... 45 4.3 Perfil do Sujeito ................................................................................................... 45 4.4 Apresentação dos Dados .................................................................................... 46 4.5 Análise dos Resultados ....................................................................................... 50 CONCLUSÃO ........................................................................................................... 52 BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................ 53 FONTES ON LINE .................................................................................................... 56 APÊNDICES ............................................................................................................ 59 10 INTRODUÇÃO Muitas vezes, o fato de se ter assistência médica e acesso a medicamentos não implica necessariamente em melhores condições de saúde ou qualidade de vida. Isso ocorre porque mesmo nessas condições, ainda pode haver problemas como erros de prescrição médica, automedicação inadequada e uso irregular de medicamentos. Tais práticas levam a tratamentos ineficazes e inseguros. Os medicamentos constituem-se em importantes métodos terapêuticos largamente utilizados no tratamento da saúde. Porém, apesar do seu uso ter por objetivo o trato de enfermidades, os medicamentos também apresentam riscos à saúde dos pacientes. Dentre os principais riscos, destacam-se as intoxicações medicamentosas e as reações adversas ao medicamento, podendo piorar a condição atual do paciente ou mesmo provocar o surgimento de uma nova enfermidade. Diante dos riscos oferecidos pelo uso de medicamentos é fundamental o seu uso de forma racional, ou seja, a utilização do fármaco correto, proveniente de uma origem conhecida e certificada, munido de orientação médica e farmacêutica, nos horários e quantidades especificadas na bula. Entretanto, apesar das recomendações médicas e de autoridades de saúde com relação ao uso racional de medicamentos, estudos mostram o crescente uso abusivo de fármacos e suas consequências. Os descongestionantes nasais configuram como um dos medicamentos mais acessíveis à população e, portanto, ocupam uma posição de risco quanto a sua má utilização, muitas vezes de forma irracional. Nesse contexto, o papel do farmacêutico é fundamental como 11 profissional de saúde responsável pela orientação da utilização correta dos medicamentos. A partir do que foi evidenciado anteriormente, apresenta-se a seguinte problemática: quais os principais fatores que contribuem para o uso irracional de descongestionantes nasais? Tem-se como hipóteses que o uso irracional de descongestionantes nasais é influenciado por diversos fatores como: grau de escolaridade, acesso a serviço de saúde (privado ou público), baixa qualidade do atendimento nos serviços de saúde, hábitos culturais de aconselhamento com amigos e familiares, experiência prévia com medicamentos, publicidade de medicamentos, que muitas vezes estimulam a utilização desnecessária e irracional, tudo isso atrelado à falta de esclarecimento sobre os riscos associados ao seu uso. Portanto, este trabalho acadêmico tem como objetivo evidenciar os riscos causados pelo uso indiscriminado de descongestionantes nasais, focando na importância da orientação farmacêutica no combate ao uso irracional desses medicamentos. Outra contribuição pretendida é analisar o perfil dos pacientes que realizam essa prática. Sendo assim, esse trabalho acadêmico está estruturado em quatro capítulos: O primeiro capítulo aborda os aspectos teóricos da congestão nasal, bem como as fisiopatologias associadas a este sintoma, como a fisiopatologia da rinite, a fisiopatologia da rinosinusite e a fisiopatologia da adenoidite. O segundo capítulo detalha o que são os descongestionantes nasais, abordando dois deles: a nafazolina e a fluticasona. São retratados, também, suas indicações, mecanismos de ação, efeitos adversos, riscos de superdosagem, tratamento da intoxicação e interações medicamentosas. O terceiro capítulo relata a importância da atenção 12 farmacêutica no combate ao uso irracional de descongestionantes. O quarto capítulo apresenta a pesquisa de campo que será realizada em uma farmácia comercial, mostrando a prática do uso abusivo de descongestionantes, com apresentação de dados e resultados obtidos. Nessa visão, o entendimento dessa realidade vivenciada pela população, para captação dos detalhes em relação ao uso de descongestionantes nasais, torna-se indispensável para um melhor aproveitamento desse produto. 13 CAPÍTULO I. CONGESTÃO NASAL Problemas relacionados à congestão nasal têm sido referenciados como um dos principais motivos para a busca por atendimento médico no Brasil; como aponta BRANCO, FERRARI e WEBER, 1 tais sintomas podem ser originados por fatores como resfriado, sinusite, alergias e outros que desencadeiam o irritamento ou inflamação dos tecidos nasais. Em concordância com os autores citados, MELLO JÚNIOR et al. atestam que: As afecções inflamatórias do nariz e seios paranasais são o grupo de doenças mais prevalentes na população em geral. Estas doenças, como, por exemplo, as rinites alérgicas e não alérgicas, as rinossinusites agudas e crônicas, com e sem polipose nasal, causam acentuada queda da qualidade de vida dos pacientes afetados, gerando perdas significativas das atividades de trabalho, lazer e sociais em geral. Estes pacientes necessitam de tratamento específico e especializado. 2 MALM adiciona que a congestão nasal também é um “(...) sintoma comum observado em pacientes com rinite atrófica, doença crônica da mucosa nasal caracterizada por uma progressiva atrofia da mucosa, crosta nasal e um surpreendente alargamento do espaço nasal.” 3 Por outro lado, SHEDDEN 4 afirma que uma das consequências do sintoma supracitado é o estreitamento anatômico das vias aéreas. Em decorrência de tal sequela, os agentes podem passar a sofrer distúrbios respiratórios de sono e sonolência diurna. O autor ainda aponta que uma série de 1 A. Branco; G. F. Ferrari; S. A. T. Weber. Alterações orofaciais em doenças alérgicas de viasaéreas. 2007, p. 266-270. 2 J. F. Mello Júnior et al. Posicionamento da academia brasileira de rinologia sobre terapias tópicas nasais. 2013, p. 391-400. (a) 3 J. M. Malm. Definition, prevalence and development of nasal obstruction. Disponível em: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1398-9995.1997.tb04876.x/epdf. Acessado em: 03/mar/2016. 4 A. Shedden. Impact of nasal congestion on quality of life and work productivity in allergic rhinitis. 2005, p. 439-446. 14 pesquisas tem relacionado o congestionamento nasal a doenças das vias aéreas inferiores. YOUN, FINN e KIM 5 complementam o estudo anterior ao caracterizar os efeitos da congestão nasal sobre os distúrbios do sono, via efeito da respiração nasal, tanto na resistência quanto na velocidade do fluxo, afetando o diferencial de pressão entre a atmosfera e o ambiente intratorácico. Contextualizando o que ensinam os autores referenciados, a obstrução nasal gera uma sensação de desconforto ocasionada pela insuficiente passagem de ar pelo nariz, não indicando necessariamente a presença de um obstáculo anatômico na corrente aérea, como, por exemplo, desvio de septo, hipertrofia de cornetos, adenoides e de amígdalas palatinas, tumores e pólipos, mas, com frequência, indica a presença de processo inflamatório, como ocorre nas rinites alérgicas e asma. De tal forma, pacientes com rinite alérgica e outras doenças do trato respiratório superior têm sua qualidade de vida e desempenho laboral comprometido. Pesquisas têm sido realizadas nos últimos anos no intuito de avaliar o efeito da rinite alérgica e não alérgica sobre a atividade econômica norte- americana. MIN 6 aponta que casos de rinite alérgica estão se expandido ao redor de todo o mundo; ainda, segundo o autor, estima-se que cerca de 60 milhões de pessoas são afetadas pela doença. Em outra pesquisa, SIN e TOGIAS 7 observam que 30% da população americana possuem rinite alérgica ou não alérgica, com a proporção de adultos oscilando entre 10 e 30%, enquanto a proporção se eleva para cerca de 40% na idade infanto-juvenil. 5 T. Young; L. Finn; H. Kim. Nasal obstruction as a risk factor for sleep-disordered breathing. 1997, p. 557-562. 6 Y. G. Min. The pathophysiology, diagnosis and treatment of allergic rhinitis. 2010, p. 65-75. 7 B. Sin; A. Togias. Pathophysiology of allergic and nonallergic rhinitis. 2011, p. 106-114. 15 Em termos laborais, NATHAN 8 infere que a rinite alérgica causa a perda de 3,5 milhões de dias de trabalho na economia americana; adicionalmente, o autor aponta que 2 milhões de dias de escola são perdidos também em decorrência da doença, o que tende a afetar a formação de capital humano do país. Fica claro, portanto, que a doença, além de afetar a produtividade presente na economia, tem potencial para causar um impacto negativo sobre o desempenho das futuras gerações. Porém, essas doenças epidemiológicas, em relação à rinite alérgica, não é exclusividade de países estrangeiros. LEAL et al. afirmam que, Embora estudos que avaliem a prevalência de sintomas associados à rinite alérgica e a interferência na vida diária entre os adultos jovens sejam importantes para possibilitar medidas preventivas, existem poucos trabalhos com população de adolescentes e adultos, particularmente estudantes universitários, principalmente na região Nordeste. Os adultos em crise de rinite alérgica podem apresentar alterações psicológicas como sensação de fadiga, dificuldade de concentração, lentidão do raciocínio e alterações de humor. Essas modificações psicológicas podem interferir na capacidade de trabalho, em atividades que requeiram atenção e na coordenação motora. 9 Logo, pode-se inferir que, além dos custos diretos como a utilização do sistema de saúde e os relativos ao consequente tratamento, tais doenças causam um impacto indireto relacionado à perda de produtividade no trabalho, de modo que gera um potencial devastador sobre a renda da economia, uma vez que ele causa uma reação em cadeia, afetando diversos setores da economia. Nessa linha de raciocínio, REED, LEE e MCCRORY 10 caracterizam que os custos indiretos relacionados à rinite alérgica causam o maior impacto sobre a economia americana. Os autores estimaram que a perda associada aos termos financeiros oscila entre US$ 5.5 bilhões e US$ 9.7 bilhões, 8 R. A. Nathan. The burden of allergic rhinits. 2007, p. 3-9. 9 A. O. Leal et al. Sinais de rinite em estudantes universitários da área da saúde. 2015, p. 184-185. 10 S. D. Reed; T. A. Lee; D. C. Mccrory. The economic burden of allergic rhinits: a critical evaluation of the literature. 2004, p. 345-361. 16 representando um valor duas ou três vezes maior do que as perdas diretas atribuídas à rinite (US$ 1.7 bilhões até US$ 4.3 bilhões). Para o caso brasileiro, apesar de não existirem estudos estimando o efeito de doenças como a rinite sobre a economia, é consensual que seu impacto deve ser elevado, uma vez que, como será explicitado adiante, estima- se que cerca de 40 milhões de brasileiros são afetados pela rinite. 1.1 FISIOPATOLOGIA DA RINITE Segundo SOLÉ e SAKANO, 11 a rinite é uma inflamação da mucosa de revestimento nasal, caracterizada pela presença de um ou mais dos seguintes sintomas: congestão nasal, rinorreia, espirros, prurido e hiposmia e pode afetar até 20% da população em geral. É oportuno mencionar que as rinites podem ser classificadas com base em critérios clínicos, frequência e intensidade de sintomas, citologia nasal, e fatores etiológicos. Segundo a sua duração, podem ser classificadas em: aguda, subaguda e crônica. A classificação etiológica parece ser a mais adequada, pois está diretamente relacionada à terapêutica, segundo demostra a Tabela 1. TABELA 1. CLASSIFICAÇÃO DAS RINITES SEGUNDO O FATOR ETIOLÓGICO INFECCIOSA VIRAL BACTERIANA FÚNGICA ALÉRGICA IMUNOLÓGICA NÃO ALÉRGICA INDUZIDA POR DROGAS: VASOCONSTRITORES TÓPICOS (RINITE MEDICAMENTOSA); ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO HORMONAIS, ANTI-HIPERTENSIVOS, PSICOTRÓPICOS (ANTIPSICÓTICOS), COCAÍNA E OUTRAS. HORMONAL RINITE EOSINOFÍLICA NÃO ALÉRGICA (RENA) RINITE IDIOPÁTICA RINITE NEUROGÊNICA RINITE ATRÓFICA RINITE ASSOCIADA A REFLUXO GASTROESOFÁGICO OUTRAS RINITE MISTA; RINITE OCUPACIONAL; RINITE ALÉRGICA LOCAL Fonte adaptada: D. Solé; E. Sakano. III Consenso Brasileiro sobre rinites. Brazilian journal of otorhinolaryngology. 2012, p. 1-52. 11 D. Solé; E. Sakano. III Consenso Brasileiro sobre rinites. Brazilian journal of otorhinolaryngology. 2012, p. 1-52. 17 1.1.1 Rinite Medicamentosa Segundo TOOHILL et al., 12 a rinite medicamentosa é uma forma não alérgica, induzida pelo uso de drogas em que a mucosa nasal é agredida ou tem suas lesões prévias agravadas pelo uso excessivo ou inadequado de descongestionantes nasais tópicos. Incide na prática otorrinolaringológica em cerca de 1% das consultas. Para LAGUE, ROITHMANN e AUGUSTO, 13 essa patologia caracteriza-se por congestão nasal, gotejamento pós-nasal, espirros e pode iniciar após a utilização de descongestionantes nasais tópicos por mais de três dias. Ainda segundo os autores, uma série de estudos tem demonstrado que a congestão nasal rebote não se desenvolve em até 8 semanas de uso de descongestionante tópico, enquanto outros sugerem que o inícioda rinite medicamentosa ocorre após o uso de simpaticomiméticos tópicos por 3 a 10 dias. Antagonicamente, TREBIEN 14 defende que “(...) o intervalo entre uma tomada e outra do medicamento é determinada por vários parâmetros, entre eles o tempo de meia-vida plasmática e a concentração sanguínea do medicamento (...),” em outras palavras, apesar de existir uma grande quantidade de estudos com relação à rinite medicamentosa, nenhum critério foi validado, não existindo, portanto, um consenso com relação ao intervalo temporal entre o início da utilização de descongestionantes tópicos e a congestão nasal rebote. 1.1.2 Rinite Infecciosa A rinite infecciosa pertence à classe não-alérgica, sendo identificada por sintomas periódicos e passageiros, não sendo mediadas por eventos IgE-dependentes. Tal processo inflamatório pode ser agudo ou crônico. Porém, as rinites infecciosas agudas, etiologicamente, são 12 R. J. Toohill et al. Rhinitis medicamentosa. 2007, p. 14-21. 13 L. G. Lague; R. Roithmann; T. A. M. Augusto. Prevalência do uso de vasoconstritores nasais em acadêmicos de uma universidade privada do Rio Grande do Sul. 2013, p. 39-43. 14 H. A. Trebien. Medicamentos: benefícios e riscos com ênfase na automedicação. 2011, p. 61. 18 classificadas em bacterianas ou virais, sendo relacionadas com uma infecção respiratória superior viral, representando-se de forma geral com obstrução nasal, febre, dentre outros. Consoante à classe viral, de acordo com ROBBINS et al. 15 a inflamação pode ser decorrente de um ou mais vírus – como o adenovírus, eco vírus, e rinovírus. Esse tipo de rinite infecciosa é considerado o processo mais corriqueiro entre todo conjunto de rinites; a transmissão se dá por meio do contato pessoal. WALLACE e DYKEWICZ 16 afirmam que durante o estágio inicial da doença ocorre um espessamento da mucosa nasal, outro sinal desse processo inflamatório é a coriza – secreção clara e serosa – acompanhada por frequentes espirros e obstrução nasal. Cabe ressaltar que o quadro inflamatório brevemente exposto tende a durar entre 7 e 10 dias, em média, porém, uma infecção bacteriana secundária pode intensificar a reação inflamatória podendo causar complicações. Os referidos autores ainda afirmam que as formas crônicas são menos frequentes e, entre os principais sintomas desse processo de rinite infecciosa, destacam-se a congestão e corrimento nasal, fadiga, dor de cabeça, além de alterações no olfato. Em termos de longevidade do processo inflamatório, tal inflamação das fossas nasais diferencia-se do processo agudo por perdurar em um período muito superior, podendo causar crises alérgicas intensas de mais de 90 dias. O diagnóstico toma por base o histórico clínico do paciente, levando em conta, posteriormente, a análise de exames físicos, testes de alergia e citologia nasal, apesar de seu valor clínico limitado. De acordo com ROITHMANN, 17 os tipos crônicos de rinite infecciosa podem ser classificados em específicos: como leishmaniose, hanseníase, 15 S. L. Robbins et al. Patologia: bases patológicas das doenças. 2010, p. 138-139. 16 D. V. Wallace; M. S. Dykewicz. The diagnosis and management of rhinits: an updated practice parameter. 2008, p. 1-1237. 17 R. Roithmann. Rinites. 2000, p. 96-99. 19 rinosporidiose, por exemplo, ou inespecíficos: síndrome da discinesia ciliar ou Kartagener, síndrome de Young, fibrose cística, entre outras. 1.1.3 Rinite Alérgica A rinite alérgica é considerada um processo inflamatório nasal desenvolvido por meio da hipersensibilidade mediada IgE a substâncias estranhas (alérgenos). BOUESQUET et al. 18 afirmam que os principais sintomas incluem rinorréia aquosa, obstrução/prurido nasais, espirros e sintomas oculares, tais como prurido e hiperemia conjuntival, os quais se resolvem espontaneamente ou através de tratamento. ROBBINS et al., descrevem alguns informações sobre a rinite alérgica, Inicia-se por reações de hipersensibilidade a um dentre muitos alérgenos, mais comumente pólen de plantas, fungos, alérgenos animais e ácaros. Ela afeta 20% da população dos Estados Unidos. Como no caso da asma, a rinite alérgica é uma reação imune mediada por IgE com uma resposta de fase inicial e de fase tardia “Hipersensibilidade Imediata (tipo I)”. A reação alérgica é caracterizada por um edema evidente da mucosa, vermelhidão e secreção de muco, acompanhados de infiltração leucocitária na qual há proeminência de eosinófilos. 19 (grifo original) BOUSQUET et al. 20 realizaram um estudo colaborativo denominado International Study on Asthma and Allergies in Childhood - ISAAC, no Brasil, no qual mostrou que a prevalência média de sintomas relacionados à rinite alérgica foi 29,6% entre adolescentes e 25,7% entre escolares. Quanto aos sintomas relacionados à asma ativa, a prevalência média foi de 19,0 e 24,3% entre adolescentes e escolares, respectivamente. 18 J. Bousquet et al. Allergic rhinitis and its impact on asthma. 2008, p. 8-160. 19 S. L.Robbins et al. Op. Cit. p. 1972. 20 J. Bousquet et al. Loc. Cit. p. 8-160. 20 Assim, segundo os autores citados, o Brasil está no grupo de países que apresentam as maiores taxas de prevalência de asma e de rinite alérgica no mundo. SOLÉ e SAKANO 21 definem a rinite alérgica como uma resposta mediada por reação de hipersensibilidade do tipo 1. O processo de sensibilização ocorre pela deposição de antígenos na mucosa nasal, os quais são processados por células apresentadoras de antígenos - APCs, que assim o fazem aos linfócitos T - TH0 que se diferenciam em TH2. Tais células induzem a liberação de citocinas, estimulando colônias de granulácitos e monócitos. FIGURA 1. ESQUEMA RESUMIDO DA RESPOSTA ALÉRGICA E PRINCIPAIS CITOCINAS ENVOLVIDAS Fonte: D. Solé; E. Sakano. III Consenso Brasileiro sobre rinites. Brazilian journal of otorhinolaryngology. 2012, p. 1-52. Ainda segundo os teóricos mencionados, pelo que demonstra a Figura 1, as citocinas (IL-4 e IL-13) estimulam os linfócitos B à diferenciação em plasmócitos, que acabam por produzir IgE. Os anticorpos IgE ligam-se a receptores de IgE de alta afinidade, localizados, principalmente, em mastócitos e basófilos e a receptores de IgE de baixa afinidade em eosinófilos, monócitos e plaquetas. Assim, os sintomas são decorrentes dos estímulos da histamina (age em receptores H1), 21 D. Solé; E. Sakano. Op. Cit. p. 1-52. 21 que causam o aumento da permeabilidade vascular e secreção glandular, iniciados pela IgE. É importante frisar que, segundo esse contexto, além da histamina, há liberação de prostaglandinas - PGD2, leucotrienos (LB4, LC4, LD4) e bradicinina. Além disso, a liberação de prostaglandinas e leucotrienos são mecanismos que estão relacionados com os eventos inflamatórios iniciais, como a resposta axonal, migração leucocitária e elevação da permeabilidade vascular. Por fim, os referidos autores apontam que as interleucinas induzem o aparecimento de fatores que contribuem para localização e migração inflamatória, que são as moléculas de adesão celular (ICAM-1, VCAM-1). A substância P, neurocinina A e peptídeo são neurotransmissores ligados ao gene da calcitonina que agem como mecanismo não adrenérgico/não colinérgico na ativação de regiões dos gânglios trigêminais e esfenopalatino,produzindo reflexos espontâneos de vasodilatação. 1.1.4 Rinite Crônica Para ROBBINS et al., 22 a rinite crônica surge como resultado de crises alérgicas periódicas, de origem microbiana ou alérgica, com o desenvolvimento eventual de infecções bacterianas superpostas. Características como o desvio de septo nasal ou pólipos nasais contribuem para a invasão microbiana, na medida em que impedem o processo de drenagem das secreções. Os autores complementam, ainda, que é comum a ocorrência de descamação ou ulceração superficial do epitélio da mucosa. Essas infecções supurativas por vezes estendem-se para dentro dos seios da face. 1.1.5 Pólipos Nasais Segundo ROBBINS et al., 23 crises recorrentes de rinite tem o 22 S. L. Robbins et al. Op. Cit. p. 1972-1973. 23 Idem. Ibidem. p. 1972-1973. 22 potencial de gerar protrusões focais da mucosa, produzindo pólipos nasais que podem atingir entre 3-4 cm de tamanho. Esses pólipos consistem em uma mucosa edemaciada com estroma frouxa que, com certa frequência, abrigam glândulas mucosas císticas ou hiperplásicas. NIGROVIC e LEE 24 observam que o revestimento mucoso dos pólipos permanece intacto na ausência de infecção bacteriana, porém, o caráter crônico do processo inflamatório pode torná-lo ulcerado ou infectado. No caso extremo de pólipos múltiplos ou de grande dimensão, pode-se decorrer a invasão das vias aéreas e o impedimento da drenagem dos seios. Ainda que as características dos pólipos nasais apontem para uma etiologia alérgica, muitas pessoas com pólipos nasais não são atópicas, e somente 0,5% dos pacientes atópicos desenvolvem pólipos. 1.2 RINOSINUSITE De acordo com ABBAS, KUMAR e FAUSTO, 25 de forma geral, a sinusite aguda é antecedida pela rinite aguda ou crônica, enquanto a sinusite maxilar, ocasionalmente, pode ter origem a partir da extensão de uma infecção periapical por meio do assoalho do osso do seio. Os agentes agressores geralmente são habitantes da cavidade oral, e a reação inflamatória tende a ser totalmente inespecífica. A drenagem deficiente do seio decorrida em função do edema inflamatório da mucosa surge como um fator primordial para o processo, podendo encerrar o exsudato supurativo de modo a gerar o empiema do seio. Como ressaltam os autores citados, a obstrução do efluxo, mais frequentemente a partir dos seios frontais e menos comumente a partir dos seios etmoidais, ocasionalmente, desencadeia o acúmulo de secreções mucoides na ausência de invasão bacteriana direta, produzindo uma mucocele. Cabe, porém, reiterar que a sinusite aguda pode, em qualquer estágio, dar origem a uma sinusite crônica, em particular quando houver 24 P. A. Nigrovic; D. M. Lee. Synovial mast cells: role in acute and chronic arthritis. 2007, p. 1-19. 25 A. Abbas; V. Kumar; N. Fausto. Patologia – bases patológicas das doenças. 2005, p. 255-290. 23 interferência com a drenagem. Existe, de forma geral, uma flora microbiana mista, amplamente constituída de microorganismos da cavidade bucal. Algumas formas graves de sinusite crônica são particularmente causadas por fungos: cita-se mucormicose, especialmente em pacientes diabéticos. Incomumente, a sinusite é um componente da síndrome de Kartagener, que também inclui bronquiectasia e situs inversus. Todas essas características são secundárias à ação ciliar defeituosa. Embora a maioria das sinusites crônicas seja mais desconfortável do que incapacitante ou grave, as infecções possuem potencial de se espalhar para a órbita ou penetrar o osso adjacente e dar origem a uma osteomielite ou invadir a abóbada craniana, causando tromboflebite séptica do seio venoso dural. Com base em SOLÉ e SAKANO, 26 define-se que a utilização do termo rinossinusite alérgica se deve principalmente a três fatores: 1. Estudos epidemiológicos sugerindo incidência aumentada de rinite alérgica em pacientes com rinossinusite. 2. Adoção do termo rinossinusite pelo continuum da mucosa nasal com a sinusal. 3. Facilidade em explicar o mecanismo fisiopatológico pelo qual a rinite alérgica pode causar rinossinusite, via edema e hipersecreção da mucosa nasossinusal e obstrução do óstio dos seios paranasais, com consequente êxtase de muco, o que favorece a infecção bacteriana secundária. De acordo com ANNESI-MAESANO, 27 a sinusite está comumente associada à asma e as evidências sugerem uma relação de causa e efeito, isto é, que a rinossinusite pode desencadear ou exacerbar a asma. Cerca de 30% a 70% dos pacientes com asma apresentaram sinusite pelo menos uma vez, enquanto que 34% dos pacientes que tiveram sinusite têm asma. Entretanto, a relação entre estas entidades ainda não está definida, pela inexistência de observações feitas a partir de estudos adequadamente controlados. 26 D. Solé; E. Sakano. Op. Cit. p. 1-52. 27 I. Annesi-Maesano. Epidemiological evidence of the occurrence of rhinitis and sinusitis in asthmatics. 1999, p. 7-13. 24 1.3 ADENOIDITE As vegetações celulares encontradas na parede póstero- superior da nasofaringe são nomeadas como adenoide. A ocorrência de inflamações nas adenoides é causada por infecções bacterianas ou virais, visto que a adenoide é localizada na região onde o fluxo aéreo nasal passa. O aumento dessas células tem o potencial de causar obstrução nasal, maior exposição a antígenos, o que, por sua vez, tende a aumentar ainda mais o seu tamanho, gerando uma reação em cadeia. Nessa linha de pensamento, CASSANO et al. 28 defendem que a causa mais importante e mais frequente para a obstrução das vias aéreas superiores é a hipertrofia adenoideana. A presença de uma tonsila faríngea de volume aumentado obstruindo a nasofaringe, prejudica todas essas funções. A partir dos sete anos de idade, a atrofia da tonsila faríngea e o aumento do diâmetro da nasofaringe melhoram o fluxo de ar local. De acordo com SCOTT, sobre a classificação clínica das Adenoidites: Adenoidite aguda: quadro muito difícil de diferenciar de IVAS generalizada, ou mesmo de rinossinusite bacteriana. Apresenta- se com febre, rinorréia, obstrução nasal e roncos, que desaparecem com o término do processo. Adenoidite aguda recorrente: 4 ou mais episódios de adenoidite aguda em 6 meses. Pode ser muito difícil de diferenciar de sinusite aguda recorrente. Adenoidite crônica: rinorréia constante, halitose, secreção em orofaringe e congestão crônica podem significar adenoidite crônica, que é difícil diferenciar de sinusite crônica. A associação com OMS sugere mais adenoidite. OBS: RGE pode ser causa de adenoidite crônica. Hiperplasia adenoidiana: obstrução nasal crônica (com roncos e respiração bucal), rinorréia e voz hiponasal. 29 (grifo original) (sic) Diante do exposto, observam-se diversos tipos de adenoidite, e em grande parte sua semelhança com outras patologias respiratórias. Um 28 P. Cassano et al. Adenoid tissue rhinopharyngeal obstruction grading based on fiberendoscopy findings: a novel approach to therapeutic management. 2003, p. 1303-1309. 29 B. A. Scott. Deep neck space infections in Bailey Head & Neck Surgery – otolaryngology. 1998, p. 1-313. 25 prognóstico mais acurado antes de qualquer tipo de automedicação faz-se necessário para o tratamento correto da doença e não somente do tratamento do sintoma. Em suma, a obstruçãonasal pode ser provocada por doenças virais ou por distúrbios estruturais. Em geral, quando a causa é uma infecção por vírus, o incômodo é passageiro, mas pode ser persistente e progressivo nas rinites alérgicas, se houver uma barreira anatômica que impeça a passagem do ar. Por isso, é importante uma avaliação farmacêutica do indivíduo que sofre com esses tipos de enfermidades para obtenção de um diagnóstico e tratamento específico. 26 CAPÍTULO II. DESCONGESTIONANTES NASAIS Para MELLO JÚNIOR et al., 30 os medicamentos descongestionantes nasais apresentam um excelente efeito sobre a obstrução e a congestão nasal em pacientes com várias patologias naso-sinusais, como rinite alérgica, rinite não alérgica e sinusite crônica com e sem polipose nasal. Isso ocorre porque estas são drogas simpaticomiméticas que atuam diretamente sobre os vasos de capacitância das conchas nasais. CASTRO destaca ainda, A eficácia dos descongestionantes se restringe ao controle de um único sintoma nasal: o bloqueio, um dos mais desconfortáveis. Sua melhor indicação ocorre nos sintomas agudos de obstrução nasal que ocorrem nos quadros de resfriado comum ou em crises de rinite. Esta indicação aguda se deve a suas características farmacológicas, pois uso prolongado em dias consecutivos está relacionado a distúrbios na motilidade dos vasos, taquifilaxia e ao efeito rebote, que implica na continuidade de seu uso inadequado e consequente gênese da rinite medicamentosa. O tempo ideal de tratamento necessário para que estes sintomas não ocorram varia, na literatura, entre três e dez dias. 31 A partir dos discursos apresentados, evidencia-se que, por todas essas características, o uso dos descongestionantes nasais deve ser bastante restrito. Não há indicação dos descongestionantes em doenças nasais crônicas como a rinite alérgica persistente, principalmente no País, onde há elevadas taxas de automedicação. Os fármacos descongestionantes nasais tópicos são constituídos por classes ou categorias farmacológicas, como observa-se no Quadro 1. 30 J. F. Mello Júnior et al. Brazilian academy of rhinology position paper on topical intranasal therapy. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/bjorl/v79n3/v79n3a20.pdf. Acessado em: 20/mar/2016. (b) 31 A. P. B. M. Castro. Medicamentos tópicos nasais em pediatria. Disponível em: http://www.moreirajr.com.br/revistas.asp?fase=r003&id_materia=3634. Acessado em: 20/mar/2016. 27 QUADRO 1. CLASSIFICAÇÃO DOS DESCONGESTIONANTES NASAIS SEGUNDO SUA CATEGORIA FARMACOLÓGICA CATEGORIA SUBSTÂNCIAS ENCONTRADAS NA COMPOSIÇÃO Corticoides Beclometasona Budesonida Fluticasona Mometasona Triancinolona Anti-Histamínicos Azelastina Levocabastina Vasoconstritores Efedrina Fenilefrina Nafazolina Oximetazolina Xilometazolina Cromoglicato Cromaglicato Dissodico 2% e 4% Anticolinérgico Brometo de Ipratropico Fonte: A. P. S. Balbani; J. G. Duarte; J. C. Montovani. Análise retrospectiva da toxicidade de gotas otológicas, medicamentos tópicos nasais e orofaríngeos registrada na Grande São Paulo. Disponível em: http://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/67888/2-s2.0- 33644637849.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acessado em: 20/mar/2016. Conforme LAGUE, ROITHMANN e AUGUSTO, os fármacos descongestionantes nasais tópicos são constituídos por duas classes farmacológicas: As aminas simpaticomiméticas (fenilefrina, anfetamina, benzedrine, cafeína, efedrina, pseudoefedrina, mescalina, fenilpropanolamina) Os imidazólicos (clonidina, nafazolina, tetraidrozolina, oximetazolina, xilometazolina). 32 (grifo original) Ainda de acordo com os autores referenciados, a classe dos imidazólicos é mais suscetível a causar o efeito rebote de edema na mucosa nasal devido à longa duração do seu efeito farmacológico sobre os vasos sanguíneos da mucosa nasal. 32 L. G. Lague; R. Roithmann; T. A. M. Augusto. Op. Cit. Disponível em: http://www.amrigs.com.br/revista/57-01/1088.pdf. Acessado em: 20/mar/2016. 28 Para BALBANI, DUARTE e MONTOVANI, 33 os derivados imidazólicos são vasoconstritores potentes e podem causar estimulação alfa- adrenérgica central, gerando reflexo vagal e bradicardia. Em alguns casos, a oximetazolina pode acarretar reações ainda mais sérias como sedação, convulsões, agitação, insônia e alucinações, em crianças. Os autores caracterizaram que, Dentre os medicamentos tópicos nasais, destacamos os vasoconstritores. Esses simpatomiméticos dividem-se em: derivados imidazólicos (nafazolina, oximetazolina, tetraidrozolina e xilometazolina) e derivados das catecolaminas (epinefrina, efedrina e fenilefrina). Os derivados imidazólicos são vasoconstritores potentes e podem causar estimulação alfa-adrenérgica central, gerando reflexo vagal e bradicardia. 34 Dentre os descongestionantes nasais tópicos, existem aqueles que necessitam de prescrição médica e os que são isentos dela. Porém, em ambos os casos o seu uso deve ser cauteloso, obedecendo as instruções médicas ou as instruções do farmacêutico. Como apontam WANG et al., 35 vários estudos têm demonstrado que o uso abusivo desses medicamentos tem o potencial de causar efeitos nocivos aos usuários, como intoxicações medicamentosas, reações clínicas e em alguns casos, até o surgimento de uma nova enfermidade. ARRAIS et al. 36 afirmam que os descongestionantes são a classe de medicamentos mais utilizados na automedicação no Brasil. Dentre os principais descongestionantes nasais mais utilizados estão o Neosoro, o Sinustrate, o Sorine, o Adnax e o Rinoklin. No entanto, nesse trabalho serão abordados os 33 A. P. S. Balbani; J. G. Duarte; J. C. Montovani. Análise retrospectiva da toxicidade de gotas otológicas, medicamentos tópicos nasais e orofaríngeos registrada na grande São Paulo. Disponível em: http://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/67888/2-s2.0- 33644637849.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acessado em: 20/mar/2016. 34 Idem. Ibidem. Disponível em: http://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/67888/2-s2.0- 33644637849.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acessado em: 20/mar/2016. 35 R. Wang et al. Síndrome do balonamento apical secundário ao uso abusivo de descongestionante nasal. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/abc/v93n5/a22v93n5.pdf. Acessado em: 20/mar/2016. 36 P. S. Arrais et al. O perfil da automedicação no Brasil. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rsp/v31n1/2212.pdf. Acessado em: 06/abr/2016. 29 componentes fármacos nafazolina e fluticasona, nos quais compõem boa parte destes medicamentos. 2.1 NAFAZOLINA A nafazolina é um componente fármaco derivado imidazolínico no qual é frequentemente utilizado como descongestionante tópico. Por ter contato direto com a mucosa nasal, uma região altamente vascularizada, tem ação imediata (aproximadamente de 5 a 10 minutos após o uso). Ela possui ação vasoconstritora, de forma a reduzir o inchaço dos vasos sanguíneos da mucosa nasal, promovendo a descongestão nasal. Estima-se que o seu efeito dure, aproximadamente, até 6 horas. De acordo com HERBERTS et al., 37 a nafazolina auxilia, também, na drenagem das secreções, nas afecções dos seios paranasais, facilita a rinoscopia e controla a hiperemia em pacientes com vascularidade superficial córnea. Os teóricos salientam que, apesar da eficácia no tratamento dedescongestionamento nasal, o uso prolongado da nafazolina pode trazer sérias consequências. Entretanto, estes riscos são, muitas vezes, desconhecidos dos pacientes que fazem uso de descongestionantes, na medida em que os sintomas permanecem, descumprindo o tempo máximo do tratamento. 2.1.1 Indicações Verifica-se o alívio sintomático da congestão nasal, auxiliando na drenagem das secreções e nas afecções dos seios paranasais. É também indicado para facilitar a rinoscopia. 37 R. A. Herberts et al. Uso indiscriminado de descongestionantes nasais contendo nafazolina. Disponível em: http://www.sbtox.org.br/Revista_SBTox/V19%5B2%5D%202006/V19%20n%202%20Pag%20103- 108.pdf. Acessado em: 20/mar/2016. 30 2.1.2 Mecanismos de Ação De acordo HERBERTS et al., 38 as ações terapêuticas decorrem da estimulação direta dos receptores 2-adrenérgicos pós-sinápticos dos vasos sanguíneos periféricos das mucosas, causando vasoconstrição local. 2.1.3 Efeitos Adversos LAGUE, ROITHMANN e AUGUSTO 39 apontam que o uso contínuo e duradouro de descongestionantes nasais da família de imidazólicos, nos quais a nafazolina está inserida, tem um alto risco de desenvolver o efeito congestão rebote, dependência aos usuários e lesão na mucosa. Além dessas reações, BUCARETCHI, DRAGOSAVAC e VIEIRA 40 chamam a atenção para as manifestações clínicas como: sudorese, sonolência, palidez, hipotermia e, até mesmo, a necessidade de assistência ventilatória mecânica por parte de uma criança de um ano de idade. É bastante significativo citar outras possíveis reações a esse fármaco que são: pressão alta transitória, erupção na pele, urticária, náusea, irritação no estômago, retenção urinária em paciente com hipertrofia prostática, sensação anormal de queimação, formigamento ou agulhadas ao toque, dor de cabeça, tontura e reações locais (agulhadas, secura, irritação). A Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA, 41 ressalta, ainda, a contraindicação do uso de nafazolina em crianças, 38 R. A. Herberts et al. Op. Cit. Disponível em: http://www.sbtox.org.br/Revista_SBTox/V19%5B2%5D%202006/V19%20n%202%20Pag%20103- 108.pdf. Acessado em: 20/mar/2016. 39 L. G. Lague; R. Roithmann; T. A. M. Augusto. Op. Cit. Disponível em: http://www.amrigs.com.br/revista/57-01/1088.pdf. Acessado em: 20/mar/2016. 40 F. Bucaretchi; S. Dragosavac; R. J. Vieira. Exposição aguda a derivados imidazolínicos em crianças. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/%0D/jped/v79n6/v79n6a10.pdf. Acessado em: 20/mar/2016. 41 Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA. Publicações farmacovigilância. Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/wps/content/anvisa+portal/anvisa/pos+-+comercializacao+-+pos+- +uso/farmacovigilancia/publicacoes+farmacovigilancia/alertas+anvisa/2013+regiao+nacionais/201307 1604. Acessado em: 20/mar/2016. (c) 31 especialmente no caso de superdosagem, podendo ter efeitos como: náusea, cefaleia, hipertensão, hipotensão, depressão do sistema nervoso central com diminuição acentuada da temperatura do corpo, bradicardia, sudorese, sonolência e coma. 2.1.4 Os Riscos da Superdosagem HERBERTS et al. 42 afirmam que os sintomas característicos da intoxicação por nafazolina, provocada pela administração tópica excessiva ou ingestão oral, são sonolência, sudorese, hipotensão ou choque, bradicardia, depressão respiratória e coma. Um resultado mais grave a reações ao uso abusivo de descongestionantes nasais da classe das imidazolinas é abordado por WANG et al. 43. Foi o caso do desencadeamento de um caso típico de síndrome do balonamento apical em uma paciente octogenária, com alteração eletrocardiográfica de contratilidade do ventrículo esquerdo. Nesse caso, apenas com a retirada do descongestionante nasal é que a paciente apresentou melhora do quadro clínico, mostrando uma provável relação causal entre o uso de simpatomimético e a síndrome coronariana aguda e o balonamento apical. 2.1.5 Tratamento da Intoxicação De acordo com estudos de BUCARETCHI, DRAGOSAVAC e VIEIRA, 44 não há um tratamento específico para intoxicação com esse medicamento. A recomendação da ANVISA é a suspensão do medicamento e o encaminhamento urgente do paciente ao serviço médico. 42 R. A. Herberts et al. Op. Cit. Disponível em: http://www.sbtox.org.br/Revista_SBTox/V19%5B2%5D%202006/V19%20n%202%20Pag%20103- 108.pdf. Acessado em: 20/mar/2016. 43 R. Wang et al. Op. Cit. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/abc/v93n5/a22v93n5.pdf. Acessado em: 19/mar/2016. 44 F. Bucaretchi; S. Dragosavac; R. J. Vieira. Op. Cit. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/%0D/jped/v79n6/v79n6a10.pdf. Acessado em: 20/mar/2016. 32 2.1.6 Interações Medicamentosas Recomenda-se precaução no uso do produto nos pacientes em tratamento com inibidores da monoaminoxidase. Os autores referenciados asseveram que o uso concomitante de nafazolina com antidepressivos tricíclicos pode levar a uma potencialização dos efeitos pressóricos do composto imidazólico. 2.2 FLUTICASONA Conforme SZEFLER, 45 os corticosteroides sistêmicos foram desenvolvidos na década de 50 e mostraram-se efetivos para tratar rinite alérgica, porém, ofereciam alto risco de toxicidade sistêmica em longo prazo. MORROW, STOREY e GEORGE 46 mostram que em 1972 foi publicada, pela primeira vez, a eficácia da beclometasona em aerossol pressurizado, sem aparente evidência de toxicidade sistêmica. Nos últimos anos, desenvolveram-se moléculas com menor biodisponibilidade e melhor perfil de segurança. Os referidos autores frisam que, atualmente, estão disponíveis comercialmente no Brasil sete componentes: acetonido de triancinolona, budesonida, dipropionato de beclometasona, ciclesonida, propionato de fluticasona, furoato de mometasona e furoato de fluticasona. Todos os corticosteroides disponíveis reduzem o processo inflamatório da rinite alérgica. AREND et al. descrevem que, A fluticasona tem a menor percentagem ativa de droga disponível após a inativação hepática (< 1%), enquanto que a triancinolona tem 10%, a budesonida 21% e a beclometasona 41%. A beclometasona pode ter, portanto, mais efeito sistêmico e efeitos colaterais. A indústria farmacológica tem 45 S. J. Szefler. Pharmacokinetics of intranasal steroids. 2001, p. 26-31. 46 M. H. Brown; G. Storey; W. H. S. George. Beclomethason.e dipropionate: a new steroid aerosol for the treatment of allergic asthma. 1972, p. 90. 33 se preocupado em aumentar a potência tópica, a fim de diminuir a absorção sistêmica, de forma a haver menos efeitos colaterais. Apresentam-se em ordem decrescente quanto à potência: fluti-casona, budesonida, beclometasona, triancinolona e flunisolida. 47 Nota-se que a fluticasona pode impedir a liberação de substâncias no corpo que causam inflamação e também por ser usada para tratar os sintomas nasais como congestão, espirros e corrimento nasal provocado por alergias sazonais, ou durante todo o ano; tem fortes investimentos das indústrias farmacológicas. DERENDORF e MELTZER, 48 em seus estudos farmacológicos sobre potência, utilizando apenas o critério de afinidade, geraram uma classificação para os glicocorticoides e os corticosteroides - GCC. Os GCC intranasais mais potentes são o furoato de mometasona, o furoato de fluticasona e o propionatode fluticasona. BELVISI et al., 49 acrescentam que as cadeias laterais dos ésteres de furoato e propionato proporcionaram a estas moléculas, uma alta ação lipofílica, qualidade que pode facilitar a sua absorção pela mucosa nasal e posterior progressão por meio das fosfolipases de membrana das células. Estes compostos não demonstram absorção sistêmica relevante, com valores menores que 1%, conjuntamente com a ciclesonida. 2.2.1 Indicações De acordo com o BOUSQUET, VAN CAUWENBERGE e KHALTAEV, 50 a fluticasona é indicada no tratamento da rinite alérgica, intermitente ou persistente, e nas rinites não alérgicas. Constituem a única classe 47 E. E. Arend et al. Corticóide inalatório: efeitos no crescimento e na supressão adrenal. Jornal Brasileiro de Pneumologia. 2005, p. 3. 48 H. Derendorf; E. O. Meltzer. Molecular and clinical pharmacology of intranasal corticosteroids: clinical and therapeutic implications. Disponível em: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1398- 9995.2008.01750.x/pdf. Acessado em: 26/fev/2016. 49 M. G. Belvisi et al. Preclinical profile of ciclesonide, a novel corticosteroid for the treatment of asthma. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1124/jpet.105.085217 Acessado em: 26/fev/2016. 50 J. Bousquet; P. Van Cauwenberge; N. Khaltaev. Op. Cit. p. 147-334. 34 farmacológica que promove melhora significativa de todos os sintomas, como prurido, espirros, coriza e congestão nasal. 2.2.2 Mecanismos de Ação Segundo LEUNG e BLOOM, 51 a ação biológica dos GCC é mediada por meio da ativação intracelular dos receptores de glicocorticoides, que são expressos na maioria dos tecidos e células. Dois tipos de receptores foram identificados nos humanos: GR-alfa e GR-beta, os quais são originários do mesmo gene e que se dividem após a transcrição primária do receptor de glicocorticoide. Assim, a fluticasona é um corticosteroide trifluorado sintético que tem afinidade muito grande com o receptor de glicocorticoides e potente ação anti-inflamatória. 2.2.3 Efeitos Adversos De acordo com LIPWORTH, 52 o risco de efeitos adversos dos corticoides depende da via de administração, dose, potência, biodisponibilidade, metabolismo hepático de primeira passagem e de sua meia- vida. Então, ressalta-se o fato de que a avaliação dos efeitos adversos desses fármacos pode ser realizada verificando a presença de rouquidão, candidíase oral, atraso na velocidade de crescimento e pelos achados de supressão adrenal por meio de análises bioquímicas. Essas são reconhecidamente mais sensíveis do que a avaliação clínica. 2.2.4 Os Riscos da Superdosagem A inalação da droga em doses muito acima daquelas 51 D. Y. Leung; J. W. Bloom. Update on glucocorticoid action and resistance. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1067/mai.2003.97 Acessado em: 26/fev/2016. 52 B. J. Lipworth. Systemic adverse effects of inhaled corticosteroid therapy: a systematic review and meta-analysis. 1999, p. 55. 35 aprovadas pode levar à supressão temporária do eixo hipotalâmico-hipofisário- adrenal. Geralmente, isso não requer ação emergencial, uma vez que a função adrenal normal costuma recuperar-se em poucos dias. Entretanto, se o uso do propionato de fluticasona em doses diárias, acima das aprovadas, for continuado por períodos prolongados, é possível que ocorra uma significativa diminuição da função adrenal. Foram relatados casos muito raros de crise adrenal aguda em crianças expostas a doses maiores que as aprovadas (geralmente 1.000 mcg/dia ou acima) por períodos prolongados (muitos meses ou anos). SKONER et al. 53 observaram um retardo do crescimento em crianças tratadas com duas aplicações diárias de 168 mcg de beclometasona nasal, por um ano. Contudo, como observado anteriormente, não é usual a administração de duas doses diárias de corticosteroide intranasal durante o tratamento de manutenção da RA. CHONG NETO, ROSÁRIO e ROSÁRIO 54 afirmam que o uso de furoato de mometasona por 12 meses não provocou atrofia e metaplasia da mucosa nasal e o uso prolongado de propionato de fluticasona causou metaplasia insignificante em apenas um indivíduo. Os sinais observados incluíram hipoglicemia e sequelas de diminuição da consciência ou convulsões. Os teóricos citados comentam que situações que podem acelerar a crise adrenal aguda incluem exposição a traumas, cirurgias, infecções ou uma redução brusca na dosagem. De fato, é importante frisar que os pacientes medicados com doses superiores às aprovadas devem ser cuidadosamente monitorados, e a dose reduzida gradualmente. 53 D. P. Skoner et al. The effects of intranasal triamcinolone acetonide and intranasal fluticasone propionate on short-term growth and HPA axis in children with allergic rhinitis. 2003, p. 56-62. 54 H. J. Chong Neto; C. S. Rosário; N. A. Rosário. Corticosteroides intranasais. 2010, p. 4. 36 2.2.5 Tratamento da Intoxicação Para DELGADO, SOLE e NASPITZ, 55 a intoxicação é normalmente observada no uso crônico de corticosteroides sistêmicos, quando manifestam-se os sinais e sintomas de supressão do eixo hipotálamo- hipófiseadrenal. Segundo MELTZER, 56 nas intoxicações agudas, muitas vezes o quadro clínico é dado pelo descongestionante ou anti-histamínico associado ao corticosteroide, devendo ser investigada a presença desse último na formulação antialérgica utilizada pelo paciente. O uso prolongado de corticosteroides intranasais não tem sido associado a efeitos adversos sistêmicos, nem com o aumento da pressão intraocular. 2.2.6 Interações Medicamentosas De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, 57 o furoato de fluticasona é rapidamente eliminado por extenso efeito metabólico de primeira passagem, mediado pelo citocromo P450 3A4. Com base em dados de outro glucocorticoide (propionato de fluticasona), metabolizado pelo CYP3A4, não se recomenda a administração concomitante com ritonavir devido ao risco de aumento da exposição sistémica do furoato de fluticasona. Nesse mesmo contexto do referido órgão, num estudo de interação medicamentosa do furoato de fluticasona intranasal com o cetoconazol, um potente inibidor do CYP3A4, houve mais indivíduos com concentrações mensuráveis de furoato de fluticasona, no grupo cetoconazol (6 de 20 indivíduos) comparativamente ao placebo (1 em 20 indivíduos). Este pequeno aumento na exposição, não resultou numa diferença estatisticamente significativa, nas concentrações séricas de cortisol de 24 horas entre os dois grupos. 55 L. F. Delgado; D. Sole; C. K. Naspitz. Antihistamínicos "não clássicos" e cardiotoxicidade. Revista Brasileira de Alegia e Imunopatia. 1997, p. 46-55. 56 E. O Meltzer. An overview of current pharmacotherapy in perennial rhinitis. 1995, p. 110. 57 Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA. Modelo de texto de bula profissional de saúde Avamys. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/datavisa/fila_bula/frmVisualizarBula.asp?pNuTransacao=9736752014&pIdA nexo=2287137. Acessado em: 08/abr/2016. (a) 37 Recomenda-se, nesse sentido, precaução quando se administra concomitantemente furoato de fluticasona com inibidores potentes do CYP3A4, uma vez que não se poderá excluir a possibilidade de um aumento na exposição sistémica. Por fim, as interações medicamentosas variam deacordo com os medicamentos descongestionantes nasais. Cada substância existente nestes medicamentos podem provocar diversas reações e, associadas com o consumo de outros componentes fármacos, ser muito prejudiciais à saúde do paciente. Desse modo, reitera-se a necessidade do diagnóstico correto da doença, a devida prescrição do medicamento necessário e o uso de forma recomendada. 38 CAPÍTULO III. A IMPORTÂNCIA DO FARMACÊUTICO NO COMBATE AO USO IRRACIONAL DE DESCONGESTIONANTES Apesar de os medicamentos trazerem como principal objetivo tratar enfermidades, também apresentam riscos à saúde dos pacientes, como interações medicamentosas, efeitos adversos, risco de intoxicação. A automedicação é um risco ao paciente, e não um risco atrelado ao medicamento, como uma reação adversa. É importante verificar uma forma melhor de iniciar a escrita de automedicação. PIVATTO JÚNIOR, BERNARDI e BARROS 58 acrescentam que, a automedicação pode trazer alguns eventos indesejáveis ao usuário como, por exemplo, reações idiossincráticas, relacionadas aos efeitos provenientes do medicamento, bem como contraindicação do uso desconhecidas pelo paciente e também pode acarretar na suspensão de um tratamento sem consultar um profissional especializado ou alteração na dosagem do medicamento. Ainda nessa linha de raciocínio, PEREIRA et al., relatam que “(...) pode-se apontar como uma das causas a facilidade de acesso a medicamentos devido ao número elevado de farmácias e drogarias, além de práticas comerciais éticas e legalmente questionáveis cometidas por diversos estabelecimentos (...).” 59 Apesar do intenso controle exercido pelos órgãos de vigilância sobre a comercialização de medicamentos, ainda há uma certa facilidade na obtenção de alguns fármacos, muitas vezes, em virtude das sobras de remédios anteriores, prescrição médica inadequada ou, até mesmo, a obtenção irregular de receitas. Essas práticas são expressamente desaconselhadas pelos órgãos de saúde. 58 F. Pivatto Júnior; R. B. Bernardi; H. M. T. Barros. Interações medicamentosas. 2010, p. 101. 59 J. R. Pereira et al. Riscos da automedicação: tratando o problema com conhecimento. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/premio_medica/pdfs/trabalhos/mencoes/januaria_ramos_trabalho_com pleto.pdf. Acessado em: 04/abr/2016. 39 Dessa forma, o fácil acesso a alguns medicamentos, a sua utilização inadequada e o desconhecimento da população sobre os efeitos nocivos dessas substâncias ao organismo, têm aumentado significativamente o número de intoxicações em todo o mundo. Diante disso, os riscos oferecidos pelo uso de medicamentos torna fundamental o uso de forma racional, ou seja, utiliza-se o fármaco correto, proveniente de uma origem conhecida e certificada, munido de orientação médica e farmacêutica, nos horários e quantidades especificadas na bula. A ANVISA 60 alerta que todo medicamento oferece riscos à saúde, mesmo quando utilizados de forma correta, porém, o seu consumo de forma racional objetiva proporcionar o máximo de benefício em detrimento aos possíveis efeitos prejudiciais à saúde. Em suma, o uso racional dos medicamentos proporciona tanto benefícios individuais para o paciente quanto benefícios para a sociedade e instituições. O Ministério da Saúde evidencia alguns dos principais benefícios decorrentes do uso racional de medicamentos, Para o usuário, a escolha racional proporciona mais garantia de benefício terapêutico (eficácia e segurança) a menor custo, contribuindo para a integralidade do cuidado â saúde. Institucionalmente, há melhorias do padrão de atendimento, maior resolubilidade do sistema e significativa redução de gastos. Em plano nacional, condutas racionais acarretam consequências positivas sobre mortalidade, morbidade e qualidade de vida da população, aumentando a confiança do usuário na atenção pública à saúde. 61 Uma das principais decorrências do uso irracional de medicamentos é o agravamento, ou até mesmo o surgimento de uma nova 60 Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA. O que devemos saber sobre medicamentos. Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/d1ebd3804745871090afd43fbc4c6735/Cartilha+o+que+d evemos+saber+sobre+medicamentos.pdf?MOD=AJPERES. Acessado em: 19/mar/2016. (b) 61 Brasil. Ministério da Saúde - MS. Uso racional de medicamentos. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/uso_racional_medicamentos_temas_selecionados.pdf. Acessado em: 19/mar/2016. 40 enfermidade. ARRAIS 62 alerta que o uso desnecessário ou mesmo a utilização de fármacos em situações contraindicadas, expõem os pacientes a riscos, como intoxicações medicamentosas e reações adversas a medicamentos, podendo levar, inclusive, o paciente a óbito. MATOS, ROZENFELD e BORTOLETTO, 63 com o intuito de conhecer a magnitude das ocorrências de intoxicações medicamentosas em crianças menores de cinco anos, no Brasil, analisaram as frequências por classe terapêutica, seguimento e circunstâncias dos casos de intoxicação em menores de cinco anos de idade, nos anos de 1997 e 1998, em São Paulo e no Rio Grande do Sul. Os autores utilizaram dados secundários do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas – SINITOX, totalizando uma amostra de 15.559 mil casos de intoxicação de crianças com menos de cinco anos. Os resultados apontaram que, para crianças com até dois anos, a principal classe de medicamento responsável pela intoxicação medicamentosa foi o descongestionante nasal, seguidos pelo uso do broncodilatador e de analgésico. A causa preponderante deste problema foram os incidentes individuais e erro de administração. Nesse mesmo contexto, BUCARETCHI, DRAGOSAVAC e VIEIRA 64 estudaram a exposição aguda a derivados de imidazolínicos em crianças com idade inferior a 15 anos, atendidas no período de janeiro de 1994 a dezembro de 1999. Os derivados imidazolínicos são frequentemente empregados como descongestionantes tópicos de ação rápida e prolongada por via nasal e ocular. Os autores avaliaram 72 crianças com idade entre dois meses e 13 anos expostas a nafazolina, fenoxazolina, oximetazolina, tetrizolina por via oral, nasal ou desconhecida. Os resultados apontaram que cerca de 79% das crianças 62 P. S. D. Arrais. O uso irracional de medicamentos e a famarcovigilância no Brasil. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csp/v18n5/11022.pdf. Acessado em: 20/mar/2016. 63 G. C. Matos; S. Rozenfeld; M. E. Bortoletto. Intoxicações medicamentosas em crianças menores de cinco anos. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/%0D/rbsmi/v2n2/17114.pdf. Acessado em: 19/mar/2016. 64 F. Bucaretchi; S. Dragosavac; R. J. Vieira. Op. Cit. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/%0D/jped/v79n6/v79n6a10.pdf. Acessado em: 19/mar/2016. 41 desenvolveram alguma manifestação clínica, tais como sonolência, sudorese, palidez, hipotermia, bradicardia, extremidades frias, agitação, taquicardia, vômitos, respiração irregular e apneia, miose/midríase, sendo a nafazolina, a fenoxazolina e a oximetazolina os princípios ativos mais envolvidos. WANG et al. 65 trazem resultados mais graves quanto a reações ao uso abusivo de descongestionantes nasais. Em seu estudo, os autores descrevem um caso típico de síndrome do balonamento apical em uma paciente octogenária com alteração eletrocardiográfica, de contratilidade do ventrículoesquerdo. Segundo esse argumento, a provável causa dessa síndrome seria uma reação ao uso de altas doses de Afrin (cloridrato de oximetazolina- pertencente a classe das imidazolinas), descongestionante nasal comercializado sem a necessidade de prescrição médica. Essa relação causal foi comprovada pela melhora do quadro clínico da paciente, ao ser suspenso o uso deste medicamento. Os pesquisadores ainda chamam atenção para o aparecimento de novos casos, devido ao fácil acesso a esse fármaco, a sua venda sem receita médica e o seu uso indiscriminado. Dentre as formas de tornar o uso de medicamentos mais racional, pela compreensão dos teóricos mencionados, a conscientização por parte dos pacientes, por meio da compreensão dos riscos quanto ao uso de medicamentos e no devido cumprimento das orientações; o adequado acesso aos medicamentos apropriados; e a capacitação, supervisão e orientação dos profissionais de saúde, figuram como as principais formas. Nesse contexto, o farmacêutico desempenha um papel fundamental como profissional de saúde responsável pela orientação da utilização correta dos medicamentos. Logo, a evolução do papel do farmacêutico acompanhou as 65 R. Wang et al. Op. Cit. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/abc/v93n5/a22v93n5.pdf. Acessado em: 19/mar/2016. 42 mudanças na sociedade, na economia e na indústria. Com o advento da indústria farmacêutica, o profissional farmacêutico evoluiu de mero produtor e vendedor de medicamentos e se tornou uma peça fundamental para a saúde pública. VIEIRA 66 afirma que a prática farmacêutica orienta para a atenção ao paciente, e o medicamento é apenas um meio ou instrumento para se alcançar um resultado, seja este paliativo, curativo ou preventivo. Dessa forma, a finalidade do trabalho deste profissional é voltada para a sociedade, sempre visando o bem estar do paciente e trabalhando para que não tenha sua qualidade de vida comprometida por um problema decorrente de uma terapia farmacológica. Em conformidade, LEONARDO ressalta, ainda, a influência e abrangência do profissional farmacêutico: O farmacêutico tem um papel de extrema importância perante a população, pois é a farmácia que, frequentemente, os doentes recorrem quando surgem os primeiros sintomas de uma patologia. Procuram aconselhamento, esclarecimento e muitas vezes questionam a necessidade de recorrer a consulta médica. Assim sendo, o farmacêutico deve estar apto, baseando-se nos seus conhecimentos científicos e práticos, a averiguar a situação clínica do paciente e desse modo, remetê- lo a consulta médica ou aconselhamento de forma a aliviar-lhe os sintomas. 67 Portanto, o profissional farmacêutico tem sua atuação em diversas áreas. Ele atua na orientação direta dentro de estabelecimentos comerciais de medicamentos, denominados de farmácias, ou ainda nos hospitais. MIRANDA et al. 68 ressaltam a importância do farmacêutico clínico nas unidades de pronto atendimento. Segundo os referidos autores, o farmacêutico clínico pode aumentar a qualidade do cuidado ao paciente e segurança em relação às terapias 66 F. S. Vieira. Possibilidades de contribuição do farmacêutico para a promoção da saúde. Disponível em: http://www.scielosp.org/pdf/csc/v12n1/20.pdf. Acessado em: 20/mar/2016. 67 R. S. M. R. Leonardo. Aconselhamento Farmacêutico em Otorrinolaringologia. Disponível em: http://bdigital.ufp.pt/bitstream/10284/1110/1/mono_ritaleonardo.pdf. Acessado em: 20/mar/2016. 68 T. M. M. Miranda et al. Intervenções realizadas pelo farmacêutico clínico na unidade de primeiro atendimento. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/eins/v10n1/pt_v10n1a15.pdf. Acessado em: 20/mar/2016. 43 medicamentosas, identificando e prevenindo erros de medicação. A principal abordagem adotada por esse profissional é a interação direta com o paciente, para obter o histórico de medicamentos e, assim, poder minimizar as possíveis consequências negativas do uso de medicamentos. Para MENEZES et al., 69 numa atuação correta, é imprescindível que o farmacêutico tenha o conhecimento científico necessário para transmitir ao paciente toda a informação sobre o fármaco e a forma farmacêutica, assegurando o uso adequado do medicamento. Dessa forma, a linguagem adotada pelo profissional deve ser acessível e clara aos pacientes, uma vez que não há distinção de idade ou nível de escolaridade entre a população que necessita do auxílio do farmacêutico. Diante do exposto, é de amplo conhecimento que o profissional farmacêutico exerce fundamental influência na orientação do uso de medicamentos em geral, tanto os isentos de prescrição médica quanto àqueles que a necessitam. Este profissional desempenha um importante papel no combate ao uso irracional de medicamentos, especialmente, no auxílio àqueles medicamentos que são muito demandados nas farmácias comerciais pelos pacientes, como é o caso dos descongestionantes. 69 E. A. Menezes et al. Automedicação com antimicrobianos para o tratamento de infecções urinária em estabelecimento farmacêutico de Fortaleza (CE). Disponível em: http://www.cff.org.br/sistemas/geral/revista/pdf/77/i07-automedicao.pdf. Acessado em: 20/mar/2016. 44 CAPÍTULO IV. PESQUISA DE CAMPO Para a elaboração deste trabalho torna-se indispensável a realização de uma pesquisa, objetivando-se confrontar os resultados com a problemática apresentada. Para TARTUCE, A pesquisa é o processo de desenvolvimento do método científico, cujo objetivo é descobrir respostas mediante o uso dos processos científicos, ou seja, a pesquisa de campo tem por objetivo procurar as respostas para as indagações propostas. 70 Diante desse raciocínio, a pesquisa serve de base para identificação e solução de problemas, fornecendo informações que correspondem à realidade dentro de determinada área. A pesquisa de campo pode ser de natureza qualitativa ou quantitativa, podendo ser realizada por meio de entrevistas ou questionários, respectivamente. Dessa forma, por meio das informações obtidas nesta pesquisa de campo, será possível analisar de que forma ocorre o uso de descongestionantes nasais pela população. 4.1 MÉTODO DE PESQUISA Esta pesquisa tem natureza quantitativa, na qual foi aplicado um questionário com 14 perguntas em uma farmácia comercial, no município de Fortaleza-CE, voltadas ao tema proposto, com intenção única de coletar informações que respondam à problemática. De acordo com TARTUCE, 70 Terezinha de Jesus Afonso Tartuce. Normas e técnicas para trabalhos acadêmicos. 2008, p. 41. 45 Pesquisa de campo de caráter quantitativo é a técnica de coleta de dados de observação direta extensiva. É o resultado da formulação de uma série ordenada de questões. As questões devem ser respondidas pelo informante, por escrito, sem a presença do pesquisador. 71 O método utilizado proporciona eficácia na análise, na medida em que o questionário fornece respostas objetivas, sendo possível apresentar com clareza e objetividade os resultados encontrados. 4.2 UNIVERSO DA PESQUISA A pesquisa proposta se fundamenta nos dados coletados a partir do questionário aplicado em uma farmácia comercial do município de Fortaleza- CE, realizada no período de 11 a 15 de abril de 2016. A pesquisa de campo foi realizada com 50 pessoas, escolhidas
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