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RESENHA CRÍTICA
Kellen Suellen dos S. Oliveira (Mat. 141206551)*
HARARI, Yuval Noah. A descoberta da ignorância. In:______. Sapiens. Uma breve história da humanidade. Tradução de Janaína Marcoantonio. 15° ed. Porto Alegre: Editora L&PM, 2015. p. 257-284.
Ao que tange à biografia, a orelha do livro afirma que o autor Yuval Noah Harari é doutor em história pela Universidade de Oxford, especializado em história mundial e professor da Universidade Hebraica de Jerusalém. Sua linha de pesquisa gira em torno de questões abrangentes, tais como: qual a relação entre história e biologia? Existe justiça na história? As pessoas se tornaram mais felizes com o passar do tempo? Sapiens foi lançado originalmente em Israel, em 2011, e logo se tornou um best-seller internacional, sendo publicado em quase quarenta países. Em 2012, ele recebeu o Prêmio Polonsky por Criatividade e Originalidade nas Disciplinas Humanísticas.
No capítulo 14, intitulado “A descoberta da ignorância”, o autor revela a construção de um tortuoso caminho temporal delineado pela tríade: poder, recursos e pesquisa. O estudioso faz utilização clínica de metáforas para demonstrar que o homem conseguiu sua supremacia incontestável sobre qualquer outra espécie vista no planeta, devido a sua capacidade de criar e compartilhar mitos. 
“A descoberta da ignorância” é subdividido em algumas seções, que juntas, compõem um mosaico que demonstra as transições do modo de vida e percepções humanas sobre o mundo, sobre a evolução do conhecimento, sua forma de disseminação ao longo dos tempos e a capacidade que o homem adquiriu para admitir sua ignorância diante do contexto que o cerca e a busca constante de respostas em meio aos seus questionamentos. Assim, a seção “Ignoramus” traz a importância da Revolução Científica, visto que esta, parafraseando o autor, foi acima de tudo uma revolução da ignorância, cuja grande descoberta foi a descoberta de que os humanos não têm as respostas para suas perguntas mais importantes, nem no campo da Ciência, nem no campo nem no campo da Teologia, reconhecendo dessa forma, a ignorância da humanidade.
Diante da ligação extrema que há, historicamente, entre a transmissão de conhecimentos e as tecnologias na constituição do ser humano enquanto ser social, pensante e gerador de ideias, a seção denominada “O dogma científico” vem mostrar, com propriedade, que uma das principais características da Ciência Moderna é não ser dogmática, haja vista que isto é resultante da ignorância coletiva que marca a sociedade, a partir do momento em que essa, insaciavelmente, se rende à ideia de que nenhum conhecimento, ou saber é único, eterno ou imutável. 
Em contrapartida de uma sociedade que vivia na Idade das Trevas, na qual se acreditava saber de tudo, que estava pautada em uma justificação divina, incapaz de validar um novo conhecimento até então, nota-se o surgimento de uma certa perseverança baseada no empirismo, na justificação pela razão, buscando sentidos lógicos para se transformar realidades subjetivas latentes.
Em sequência, na seção “Conhecimento é poder”, Harari defende, firmemente, que a capacidade de criar mitos, religiões, instituições, etc., dá ao Homo Sapiens um poder muito grande de coesão social, pois há uma evolução cultural em curso durante todo o tempo de sua existência, evolução esta, que culmina na transformação tanto de seu modo de pensar, viver e agir quanto de sua procura expressiva pelo conhecimento, o que o diferencia de toda e qualquer outra espécie. A exemplo disso, o autor comenta acerca da linguagem, mencionando que um animal é até capaz de transmitir informações simples como um aviso de perigo, mas nenhum outro ser consegue descrever de forma abstrata o tipo de perigo ou o porquê de ser um perigo como o Homem. Além disso, a capacidade de se comunicar permitiu ao Sapiens um nível impressionante de coletividade e cooperação.
Em “O ideal de progresso”, o escritor de forma polêmica, relaciona assuntos como religião com o dinheiro e os problemas sociais pobreza e fome. Nesse momento, Harari diz veementemente que a revolução agrícola foi uma farsa, que ela trouxe mais ganância e miséria ao povo do que havia antes, assim, os homens eram mais felizes na Idade da Pedra do que na modernidade. Dessa forma, o texto afirma que agora, todos têm que trabalhar mais, comer mal, ter um maior risco de passar fome ou de morrer de tanto comer, ter uma condição de vida menos saudável, haja vista que a vida perdeu o brilho em relação aos tempos passados, quanto mais a humanidade adquire e conquista, mais está condenada à ignorância, ao egoísmo e à ditadura do ter. 
Nesse viés, a seção nomeada como “O projeto Gilgamesh”, revela que Gilgamesh – enquanto mito – perde sua chance de imortalidade, que não se morre, ao deixar escapar de suas mãos a planta da eterna juventude que a facultaria e parte para a busca da amortalidade, ou seja, o prolongar da vida. Aqui, Harari retrata de maneira própria, que o personagem histórico e mítico Gilgamesh agarra-se à ideia de garantir sua permanência na memória, e nesse sentido teria feito cunhar sua trajetória para a posteridade, incluindo ali aquela perda irreparável causada pela morte. O autor aduz também nesse momento, que a Ciência só consegue sustentar a ideologia que concede papel central à morte, como no Projeto Gilgamesh, nos dias modernos, no Nacionalismo, ainda que falido, quando este promete que os que morrerem pela pátria, viverão para sempre na memória do seu povo.
“Os padrinhos da ciência” é a última seção do capítulo 14, nesta o escritor afirma que “a ciência é uma atividade muito cara, já que, por exemplo, um biólogo que procura entender o sistema imunológico humano necessita de laboratórios, tubos de ensaio, substâncias químicas e microscópios eletrônicos, sem falar de assistentes de laboratório, eletricistas, encanadores e faxineiros”, logo, se o financiamento adequado não estivesse disponível, nenhum brilhantismo intelectual poderia compensar isso. A maior parte dos estudos científicos é financiada intencionalmente porque alguém que acredita que eles podem fomentar objetivos de ordem política, econômica ou religiosa. Harari relata ainda, que a ciência é incapaz de estabelecer as suas próprias prioridades e de determinar o que fazer com suas descobertas. Enfim, o autor é reticente em afirmar que a pesquisa científica só faz sentido se aliada a alguma religião ou ideologia, posto que a ideologia justifica o direcionamento e os custos da pesquisa em um mundo moderno retroalimentado pela tríade: ciência, império e capital. 
Em síntese, este capítulo “A descoberta da ignorância” demonstrou claramente, que a ignorância faz parte do pensamento lógico inato e é a aceitação racional do que não sabemos que permite o método e o conhecimento científico, o processo que originou e que ofereceu à condição humana vários “superpoderes” e uma ideia de progresso que até aqui nunca tinha existido é fruto precisamente das ideias de maximização do poder que a revolução científica e o imperialismo moderno conjuntamente apresentaram ao Homo Sapiens até os dias hodiernos.
* Graduanda do Curso de Administração da Universidade Estadual da Paraíba – UEPB

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