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Aula 6 Letramento

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Letramento 
IELP II – Profa. Vanessa Monte 
 
Origens 
!   Letramento: palavra recente – segunda metade da década de 80 
!   Ganha força na década de 90 
!   Termo técnico dos campos da Educação e das Ciências 
Linguísticas 
!   “Que novo fato, ou nova ideia, ou nova maneira de compreender 
a presença da escrita no mundo social trouxe a necessidade desta 
nova palavra, letramento?” 
(SOARES, 2009, p. 16) 
!   Versão de literacy = do latim littera (letra). Designa “o estado ou 
condição que assume aquele que aprende a ler e 
escrever.” (SOARES, 2009, p. 17). 
Alfabetização 
!   Âmbito do individual; 
!   Domínio de uma 
tecnologia: a do ler e 
escrever; 
!   Codificação/
Decodificação (língua = 
código); 
!   Geralmente por meio do 
processo de escolarização 
(instrução formal). 
Letramento 
!   Âmbito social; 
!   Introdução da escrita em um grupo 
até então ágrafo 
!   Efeitos de natureza social, cultural, 
política, econômica e linguística. 
!   Estuda também as práticas 
psicossociais que substituem as 
práticas letradas em sociedades 
ágrafas. 
!   Estado ou condição que o indivíduo 
ou grupo passam a ter sob o impacto 
dessas mudanças. 
Comparação 
Alfabetização – a serviço do 
quê? 
!   “Subjugada à lógica e às necessidades do capital e o seu 
valor é definido e medido pela exigência daquelas 
habilidades de ler e escrever necessárias para a 
expansão do processo do trabalho [...]” 
(GIROUX, 1983, p. 57-8) 
Definição 
!   Letramento = “o resultado da ação de ensinar ou de aprender 
a ler e escrever: o estado ou a condição que adquire um grupo 
social ou um indivíduo como consequência de ter-se 
apropriado da escrita.” 
(SOARES, 2009, p. 18) 
 
•  “Quais mudanças sociais e discursivas ocorrem em uma 
sociedade quando ela se torna letrada? 
•  Grupos sociais não alfabetizados que vivem em uma sociedade 
letrada podem ser caracterizados do mesmo modo que aqueles 
que vivem em sociedades ‘iletradas’? 
•  Como estudar e caracterizar grupos não-alfabetizados cujo 
conhecimento, modos de produção e cultura estão 
perpassados pelos valores de uma sociedade letrada?” 
(TFOUNI, 2005, p. 20-21) 
Escrita 
!   Escrita = produto cultural por excelência. 
!   Livro = metáfora do corpo humano (orelhas, página de rosto, notas de 
rodapé, capítulo/cabeça). 
!   Finalidade da escrita => difundir as ideias ou ocultá-las? 
!   Índia: textos sagrados acessíveis apenas aos sacerdotes e aos iniciados. 
!   China: tipo de código escrito adotado – sistema ideográfico => forma de 
garantir o poder aos burocratas e aos religiosos. Quantidade elevada e 
sofisticação dos ideogramas = barreiras que impedem que o povo possa 
aprender a ler e a escrever. A escrita alfabética é conhecida deles desde o 
século II d.C., mas se recusaram a aceitá-la até atualmente. Seu código está 
ligado às instituições religiosas e é aceito como marca distinta das classes 
educadas. 
!   “[...] a escrita hieroglífica nada mais é que um sobrevivente arcaico da época 
feudal, um símbolo da escravização das massas trabalhadoras pela classe 
dirigente.” (GOODY, 1968, p. 23) 
 
Escrita 
!   Grécia – séculos V e VI a.C.: sociedade letrada. Não por 
coincidência é este o momento histórico em que surge o 
pensamento lógico-empírico e filosófico, em que se dá a 
formalização da história e da lógica como disciplinas intelectuais, e 
em que se desenvolve a democracia grega. 
!   Utilização restrita ou generalizada de um código escrito = esconde 
relações de poder e dominação. (O caso de O queijo e os vermes, 
de Ginzburg) 
 
Alfabetismo x Analfabetismo 
!   Ambas dicionarizadas 
!   Alfabetismo: estado ou qualidade de alfabetizado. 
!   Analfabetismo: estado ou condição de analfabeto. 
!   Uso raro x uso corrente (compreensão universal) 
!   Substantivo que afirma x Substantivo que nega. 
!   Analfabeto: uso corrente x ? (não tem o contrário) 
!   Alfabetizado (não é o contrário): nomeia apenas aquele 
aprendeu a ler e a escrever, não aquele que adquiriu o estado ou 
a condição de quem se apropriou da leitura e da escrita, 
incorporando as práticas sociais que a demandam. 
 
Extensões de Analfabeto 
!   Não somente aquele que não domina a tecnologia de ler e escrever, mas aquele que não 
pode exercer em toda a sua plenitude os seus direitos de cidadão; o marginalizado; o que 
não tem acesso aos bens culturais de sociedades letradas e grafocêntricas. 
!   Conhecemos bem e há muito esse “estado de analfabeto”, por isso uma palavra corrente 
como analfabetismo. 
!   O estado ou condição daquele que domina a tecnologia, respondendo às demandas sociais 
pelo uso amplo e diferenciado da leitura e da escrita: fenômeno recente em nossa realidade. 
Portanto, o oposto (alfabetismo ou letramento) não era necessário. 
!   Recente a necessidade de usar alfabetismo porque só recentemente enfrentamos a realidade 
social em que não basta apenas saber ler e escrever, sendo preciso saber responder às 
exigências de leitura e escrita feitas pela sociedade. => LETRAMENTO. 
!   Grã-Bretanha: iliteracy – termo corrente (desde 1660) x literacy – fim do século XIX. 
!   Ponto significativo: alteração no critério de analfabetos no Censo – escrever o próprio nome 
x saber ler e escrever um bilhete simples. Codificação x Capacidade de usar a leitura e a 
escrita para uma prática social. 
Avaliação do nível de 
letramento 
!   Países desenvolvidos – escolaridade básica é universal. 
!   Critério: número de anos de escolaridades completados 
– 4, 5 ou mais, dependendo do país e do momento 
histórico. Quanto maior as demandas sociais de leitura 
e escrita, mais anos. 
!   Escola: propicia não só a aquisição da tecnologia, mas 
também os usos e práticas sociais da leitura e da escrita; 
leva a uma adequada imersão no mundo da escrita. 
Aplicação 
!   Pesquisas sobre o número de alfabetizados e analfabetos e 
sua distribuição (por região, sexo, idade, época, etnia, nível 
socioeconômico etc.) ou sobre o número de crianças que 
escola consegue fazer dominar a leitura e a escrita na série 
inicial são pesquisas sobre ALFABETIZAÇÃO. 
!   Pesquisas que buscam identificar os usos e práticas sociais de 
leitura e escrita em determinado grupo social (comunidades 
de nível socioeconômico desfavorecido, crianças, 
adolescentes) ou buscam recuperar as práticas de leitura e 
escrita no passado são pesquisas sobre LETRAMENTO. 
Reflexão 
Um indivíduo pode não saber ler e escrever, 
ou seja, ser analfabeto, mas ser, de certa 
forma, letrado (no sentido vinculado a 
letramento)? 
Analfabeto Letrado 
!   Analfabeto, porque não domina a tecnologia, por isso é marginalizado 
social e economicamente, mas se vive em um meio em que a leitura e a 
escrita têm presença forte, se ouve, por exemplo, a leitura de jornais 
feita por um alfabetizado, se recebe cartas lidas por outros, se dita cartas 
para um alfabetizado (e geralmente dita usando vocabulário e estruturas 
próprios da língua escrita), se pede a alguém para ler avisos e indicações 
afixados; trata-se de um analfabeto letrado, porque faz uso da escrita, 
envolve-se em práticas sociais de leitura e de escrita. 
!   Criança que ainda não se alfabetizou, mas folheia livros, finge ler, 
brinca de escrever, ouve histórias lidas, está rodeada de materiais 
escritos e percebe sua função. Analfabeta que penetrou no mundo do 
letramento: analfabeta letrada. 
!   Educação: deve-se partir de uma clara concepção dos fenômenos da 
alfabetização e do letramento e de suas diferenças e relações. 
Referências bibliográficas 
!   GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes. São Paulo: 
Companhia das Letras, 1987. 
!   GIROUX, Henry. Pedagogia Radical. São Paulo: Cortez, 1983. 
!   GOODY, Jack. Literacyin Traditional Societies. Nova York: 
Cambridge University Press, 1968. 
!   SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo 
Horizonte: Autêntica Editora, 2009. 
!   TFOUNI, Leda. Letramento e Alfabetização. São Paulo: 
Cortez, 2005.

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