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A Função da Linguagem em Jonh Searle

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ
CENTRO DE TEOLOGIA E CIÊNCIAS HUMANAS
CURSO DE LICENCIATURA EM FILOSOFIA
JOÃO FRANCISCO COSSA
MARCELO SALA
ODENILTON OLIVEIRA SANTOS
VANDERSON ALVES DA SILVA
VERONICE
A FUNÇÃO DA LINGUAGEM EM JOHN LANGSHAW AUSTIN E JOHN R. SEARLE
CURITIBA
2009
JOÃO FRANCISCO COSSA
MARCELO SALA
ODENILTON OLIVEIRA SANTOS
VANDERSON ALVES DA SILVA
VERONICE
A FUNÇÃO DA LINGUAGEM EM JOHN LANGSHAW AUSTIN E JOHN R. SEARLE
Trabalho apresentado ao Curso de Filosofia no Programa de Aprendizagem de Filosofia da Linguagem, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, como requisito para avaliação.
Docente: Bortolo do Valle
CURITIBA
2009
A função da linguagem em Austin
Austin é um filósofo da linguagem que viveu em uma época que a teoria do discurso pragmático começava a dar seus primeiros passos. Seu discurso filosófico gira em torno da visão performativa da linguagem, pretendendo com isso esclarecer os problemas filosóficos, e ao mesmo tempo mostrar que a linguagem ordinária não é a ultima palavra e sim a primeira. 
De acordo com a filosofia wittgensteiniana, se o homem viesse a resolver a questão do real ele perderia o seu sentido, pois ele atribui à filosofia uma visão terapêutica. 
Para Austin, há uma realidade objetiva a ser referida e significada, é impossível um ato rético que faça parte de um ato locucionário. Ele, ao contrário de Wittgenstein, quer classificar os diversos tipos de uso de atos de fala.
Em sua série de conferências Austin oferece uma contribuição original, pois vê na afirmação não a forma privilegiada na qual as proporções se articulam com o mundo pelos juízos de verdade, mas como um entre os atos de falar que não obedecem a condição de verdade, mas ao sucesso em atos de falar como os da discrição, afirmação ou nomeação, ou seja, um individuo deve poder ao compreender tal ato de fala localizar no mundo os estados de coisas descritos ou os objetos designados (ARAÚJO, 2004, p.128)
Ao ver os exames das enunciações, Austin percebe que muitas delas não servem para relatar ou comunicar pura e simplesmente algo sobre os fatos, tendo caráter de verdadeiros ou falsos. Em sua conferência ele cita alguns exemplos que possibilita uma maior clareza do seu pensamento, como: o “sim” num casamento, “eu batizo...”, “aposto”. Nestes casos, não basta pronunciar a sentença, é necessário que certas ações, convenções, circunstâncias e participantes envolvidos sejam adequados a situação e que na situação de emprego sejam integrais.
Ele não valoriza o performativo como ato interior, ético pessoal, pois estes afirmam fazer tal coisa, mas não o faz. Como o ato performativo efetivamente se deu o que houve foi à má-fé. Assim dizem que algo não é como geralmente se pensa denotar algo, pois ao se dizer algo está se fazendo algo (ARAÚJO, 2004, p.129)
Ao lado da sentença performativa, Austin distinguiu a sentença constativa, essa sim pode ser verdadeira ou falsa, pois nela algo é informado, constatado, afirmado.
Austin direciona toda a discussão feita pela tradição filosófica em torno do estatuto privilegiado e central das afirmações assertóricas, em torno de um novo eixo. Como por exemplo: “os filhos de Pedro são carecas”. Se Pedro não tem filho a frase na deixa de ser significativa, mas não se trata de uma afirmação falsa como se costuma sustentar, ou desprovida de valor de verdade se não tem referente do qual predicar a careca no caso da paternidade de Pedro Austin explica a diferença entre valor de verdade e valor discursivo.
Austin entende, finalmente, que é difícil distinguir as enunciações performativas das constativas.
Ato locucionário: é o ato de dizer algo, e para tal se requer elementos completos do discurso: sons (ato fonético), palavras de um vocabulário empregadas conforme as regras gramaticais, entonação. Austin o chama de ato fático, reprodutível por uma imitação.
Se um enunciado não estiver de acordo com a gramática, não há significado. Se o enunciado falha em relatar ou nomear, o discurso fica vago, obscuro.
Ato ilocucionário: dá-se sempre que se pronuncia um ato locucionário e com ele executa-se, pelo fato mesmo de dizê-lo, um ato ilocucionários. Por meio desse ato, pergunta-se, responde-se, avisa-se, anuncia-se um veredicto, fazem-se apelos, descrevem-se algo. Trata-se de enunciações que possuem valor convencional.
O discurso é usado de certo modo certo “sentidos” são visado, acepções diversas podem ocorrer conforme a ocasião. Valem-se como sugestão ou ordem, como pergunta ou opinião, só se saberá ao dizer, que é quando terão incorporado determinado valor, o valor ilocucionário, uma advertência pode provocar temor no interlocutor (ARAÚJO, 2004, p.132).
Ato perlocucionário: ocorre quando se produz um ato locucionário produz-se também o ato ilocucionário dotado da força do dizer. Mas, alem disso, muitas vezes provoca-se um efeito no ouvinte, no auditório. A produção de efeito, Austin chamou de ato perlocucionário. Um exemplo de ato perlocucionário é uma advertência que provoca no interlocutor um certo temor.
Uma das maiores contribuições de Austin para a linguagem foi distinguir dois níveis, o do enunciado que pode ser denominado de ato fático e ato rético e o da força dos atos de fala, advinda do fato de serem ditos por alguém em situação de discurso. O ato de fala concreto fica revestido de um valor, esse valor advem da fala, do fato de enunciar-se algo a alguém (ARAÚJO, 2004, p.132).
O ato ilocucionário segundo Austin não é mera decorrência do ato locucionário. E este não é um simples composto de sons e significados. A própria escolha lexical depende de ambos, da significação e das convenções relacionadas à efetividade do dito em situação de discurso; daí a produção do principal efeito pretendido por qualquer falante ser compreendido requerendo uma resposta do auditório, dependente ou não de efeito perlocucionário. O que é interessante é que até sem o uso de palavras é possível provocar no interlocutor efeitos ilocucionários e perlocucionário exemplo disso foi o sapato atirado em Bush pelo jornalista iraquiano (protesto). O mas freqüente e culturalmente, mas produtivo por levar uma resposta do auditório, é usar a linguagem articulada para afirmar, informar, argumentar, apreciar, supor, agredir, elogiar protestar etc. (ARAÚJO, 2004, p.133).
Os atos ilocucionários e os atos perlocucionários não esgotam todos os empregos da linguagem, pode-se usá-la para fazer brincadeiras, poesias, e insinuações.
As afirmações: de acordo com Austin as afirmações não têm um estatuto lógico privilegiado estão sujeitas ao mesmo risco de sucesso de qualquer ato ilocucionário (ARAÚJO, 2004, p.133).
Ele fala também das afirmações putativas, ou seja, são as afirmações vazias e nulas, tal como seria nulo o ato de vender algo que não pertence ao vendedor. Temos aqui uma dimensão inerente à linguagem, a de sua efetividade, dimensão propriamente discursiva. Pode acontecer também de não se ter o direito de fazer certas afirmações, ou de não se ter meio de fazê-las, como no caso de não se poder prever quantas laranjas há num sexto ou quantas pessoas há em uma sala. Não se pode afirma há trinta laranjas no sexto ou há cinqüenta pessoas na sala, pois a afirmação perde a força ilocucionária.
Para valer como um ato completo de discurso precisa efetivar-se como ato de afirmação completa, compromisso; além de sua significação e referência, é preciso levar em conta as circunstâncias apropriadas ao caráter de ato ilocucionário. Só assim nomear algo ou alguém alcança sucesso.
De acordo com Austin considerar que o objeto de estudo não é a sentença, mas a produção de uma enunciação na situação de discurso, é uma nova e promissora perspectiva, pela qual dificilmente haverá uma possibilidade de não ver que afirmar é executar.
Portanto osfatos entram em consideração nos atos executivos, como nomear, esclarecer e explicar. A objetividade da afirmação não é o único requisito para efetivá-la, é preciso levar em consideração se é razoável, seu8 grau de evidencia, sua pertinácia. 
A Função da Linguagem em Jonh Searle
Este pensador, seguindo a tradição da Escola Analítica Inglesa (Oxford), situado no marco da virada lingüística, investiga a linguagem a partir de seu uso cotidiano, ordinário, de sua formulação enunciativa em atos de fala, isto é, em uma situação comum discursiva (ARAÚJO, 2004, p. 127-128). É considerado marco inicial da pesquisa na filosofia da mente, devido suas investigações concernentes a funcionalidade do cérebro. 
Está preocupado em como conjugar a existência do cérebro, entendido como órgão biológico responsável pela produção da fala, com a linguagem, que é a capacidade de articular a fala na qual é constituída do índice (aparelho fonador), ícone (variação de índice) e o símbolo (ensino), e, juntamente com o cérebro a linguagem, a sociedade, elemento formador da linguagem, a fim de entender a produção interna da consciência.
Searle inicia sua investigação pelo problema de referência: “Como as palavras se relacionam com o mundo?”. Conseqüentemente, é necessário estabelecer a relação entre as palavras e as coisas significadas; compreender, a natureza dessa relação de unidade, quais os recursos utilizados nas operações discursivas, e qual a categoria da representação de uma realidade.
Ele retratará que: 
(...) não há como determinar que dada expressão se refira a dado objeto sem ser particularizado de modo definitivo. A linguagem que se fala tem uma semântica e é em função dela que algo é dito ou comunicado na enunciação de uma expressão referencial, sujeita às capacidades dos falantes em explicar como e por que expressões usadas para referir têm aqueles determinados referentes. Ao lado do referente, entram as capacidades, comportamentos, estados mentais, para que o nome tenha dado referente. (ARAÚJO, 2004, p. 89).
Em sua obra Mente, Linguagem e Sociedade discorre sobre o funcionamento da linguagem. Nesta parte inicia explanando o caráter funcional da fala, ou seja, uma emissão de som produzida por um processo biológico, mas que adquire uma semântica de proporções variadas.
John Searle afirma que a referência é um ato de fala, iniciado como uma afirmação particular, uma expressão singular. O Ato de fala de fala demanda um certo tipo de comportamento e um uso em situação. Daí parte duas noções axiológicas: a exigência da existência do objeto referido e a identidade, ou seja, da mesma forma que um predicado é verdadeiro a um objeto também o é às coisas que são idênticas a esse objeto (ARAÚJO, 2004, p. 139). A satisfação do proferimento depende das condições de verdade.
Quanto os enunciados negativos, seguindo o pensamento de Russell, afirma que o sujeito gramatical não é um sujeito lógico, por isso, não precisa de referente (aqui a existência não implicada). Em relação às afirmações fictícias há uma falsidade por não ser real o objeto.
A simples emissão de som em uma linguagem convencional é um ato de fala, ademais nota-se variações nessas emissões (perguntar, afirmar, pedir, mandar, etc.) e essas variações são denominadas atos ilocucionários. Acompanhando Austin “o ato ilocucionário é a menor unidade completa possível da comunicação linguística humana” (SEARLE, 2000, p. 127). 
Um ato proposicional de referência, portanto, é um ato de fala, parte da enunciação de uma frase ou segmento de um discurso, que realiza um ato ilocucionário que pode ou não ser bem-sucedido. Para ser bem-sucedido, é preciso que o locutor tenha intenção de realizar tal ato, de modo que a enunciação não seja mera articulação de sons (ARAÚJO, 2004, p. 141). 
A ação de “comunicar” (ato ilocucionário) se distingue dos efeitos que essa ação comporta. Esses efeitos sobre alguém, de persuasão e convencimento, são denominados “atos perlocucionários”. Destarte, o ato ilocucionário é intencional por seu caráter de significação na comunicação, enquanto o ato perlocucionário pode ser ou não intencional (SEARLE, 2000, p. 127). 
Dentro do ato ilocucionário há uma distinção entre o contexto do ato e o tipo de que se trata. Desse modo, podemos perceber que uma proposição pode ter o mesmo conteúdo, porém há diversas maneiras de proferi-lo. 
A linguagem se relaciona à realidade em virtude do significado, mas o significado é a propriedade que transforma meros proferimentos em atos ilocucionários. Os atos ilocucionários são significativos em um sentido muito especial da palavra, e é esse tipo de significado que permite à linguagem se relacionar com a realidade (SEARLE, 2000, p. 129). 
 A significação de uma fala é determinada pelos significados das falas e das disposições entre elas, sua organização sintática. Mas o sentido é plenamente estabelecido em seu contexto, ou seja, dependência da intenção em seu proferimento. O significado está nesse querer dizer algo com a afirmação, pois as frases são um instrumento do falante para expressar uma realidade: “o significado do falante ainda é a forma primária de significado lingüístico” (SEARLE, 2000, p. 130).
O significado é uma forma de intencionalidade derivada, isto é, a intencionalidade no interior de um emissor é transferida em palavras e suas formulações conseqüentes. Essas pronúncias ao serem significativa tornam-se um modo de intencionalidade derivada, um significado não estritamente gramatical, mas também desiderativo. O limite da significação é o limite da intencionalidade. 
Pode-se entender que a finalidade da fala é a comunicação, mas a intenção de comunicar não é idêntica à intenção de significado. A comunicação tem a finalidade de levar o entendimento desejado pelo falante, intenção de fazer o ouvinte entender aquilo que se quer expressar. Quando se fala tem a intenção de produzir entendimento, entretanto o entendimento vai ser produzido se há a compreensão do significado atribuído. Mas para isso deve-se haver um proferimento gramatical convencional correto, uma condição de verdade (satisfação), e do reconhecimento da intenção pelo ouvinte (SEARLE, 2000, p. 133-134).
Daí parte a compreensão dos atos de fala, pois se constitui na imposição de intencionalidade ao conjunto de símbolos. Assim, temos muitas formas de usos: que variam em diversas aplicações. 
Atendo aos aspectos comuns, uma “finalidade ilocucionária” nos atos de fala depende do propósito, é a noção daquilo a que equivale a um proferimento e significado pela intencionalidade. “A finalidade ilocucionária determina tanto a direção de ajuste quanto o estado intencional expresso na realização do ato de fala” (SEARLE, 2000, p. 136). Uma pronunciação vem conjuntamente a uma intenção exprimida, dessa maneira, só contém a condição de sinceridade no ato de fala quando houver uma correspondência entre o estado intencional e o conteúdo proposicional do ato de fala.
 Quanto a finalidade ilocucionária, segundo Searle, há um número restrito de finalidades, no sentido, das coisas que podemos fazer ao realizá-los. Há um limite de significados estabelecido pelo limite da mente, pela imposição de condições de satisfação a condições de satisfação (SEARLE, 2000, p. 137). 
A partir disso, estabelecem-se cinco tipos de finalidade ilocucionárias.
A primeira é a assertiva, na qual compromete o ouvinte com a verdade da proposição, é expressão de uma crença, pois tem a função de apresentar um estado de coisas no mundo (ajuste palavra-mundo).
A segunda é a diretiva, em que busca fazer correspondência entre comportamento do ouvinte e o conteúdo proposicional (ajuste mundo-palavra), é o desejo da execução do ato desejado.
A terceira é a compromissiva: comporta um compromisso da parte de quem fala em agir em conformidade ao conteúdo apresentado (ajuste mundo-palavra), expressão de uma intenção de agir.
A quarta é a expressiva, tendo por finalidade exprimir sinceridade do ato de fala,que requer uma coerência entre a proposição que expressa um sentimento e o sentimento demonstrado (ajuste nulo).
 E finalmente, as declarativas, na qual almejam provocar mudança no mundo, por isso, representa-o como já mudado (ajuste mundo-palavra). A mudança está calcada na realização fidedigna ao ato de fala, mas se apóia em instituições extralingüísticas (SEARLE, 2000, p. 137-139). 
Ligadas a essa compreensão temos as expressões performativas que são a criação de um estado de coisas descritos para a realização do ato de fala, ou seja, dependem de condições e pessoas apropriadas. Uma regra constitutiva que permite que a função seja imposta a um ato de fala, possibilitando a existência de um fato institucional. É um estado de status imposto a uma sentença já existente em contexto e situações apropriadas (CANDIOTTO, 2003, p. 74-75).
Quando um ato de fala pretendido pelo falante não expressa literalmente aquilo que um conteúdo proposicional carrega temos “atos de fala indiretos”, como nos casos da metáfora, metonímia, ironia, sarcasmo, hipérbole ou eufemismo.
A linguagem propicia o aumento das capacidades de intencionalidade, há uma ampliação da intencionalidade pela linguagem, dada no acúmulo e compreensão na comunicação. Um processo de enriquecimento concomitante entre mente e linguagem. Há uma comunicação na medida em que os objetos referidos são conhecidos pelo emissor e também quando há o reconhecimento da expressão atribuída à proposição.
John Searle questiona a ontologia de objetos independentes da linguagem, não pode se conceber uma matéria metafísica determinada. Contrariamente, o objeto só adquire existência quando descrito pelas proposições. O predica aplicado a objetos não decorre uma existência em si. A referência passa a ser ato de discurso (ARAÚJO, 2004, p. 142).
Por fim, este estudo está impulsionado pela tentativa de explicar certos aspectos estruturais da mente, da linguagem e da realidade social, e explicar as relações de dependência lógica entre eles, por uma descrição lógica e conceitual. Investigando os elementos constitutivos dos atos de fala e da intencionalidade, observando-os em seu funcionamento e os ajustes entre si.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Inês Lacerda. Do signo ao discurso. São Paulo: Parábola Editorial, 2004.
CANDIOTTO, Kleber Bez Birolo. As contribuições do pensamento de filosófico de John Searle para uma análise crítica do estado da arte da pesquisa acadêmica. 2003. C217c. Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 2003.
SEARLE, John R. Mente, Linguagem e Sociedade. Tradução: F. Rangel. Rio de Janeiro: Rocco, 2000.

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