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T22 - BGNNF e Leptospira (1) (Aula Transcrita)

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BASTONETES GRAM-NEGATIVOS NÃO FERMENTADORES
	Dentre os bastonetes gram-negativos de importância clínica, temos as enterobactérias e os não-fermentadores. A principal característica que vai diferenciar as bactérias desse grupo das enterobactérias é o metabolismo. Esse grupo é formado por vários gêneros de bactérias que não fazem fermentação e alguns deles não utilizam açúcares. São bactérias que obtem energia via oxidativa (aeróbios estritos, que precisam do oxigênio) ou então não usam açúcares no metabolismo (usam outras moléculas). Em função disso, vai ter um teste importante que vai ajudar na diferenciação dessas bactérias das enterobactérias.
	São amplamente distribuídos no meio ambiente. Grande parte delas são ambientais, bactérias saprófitas. Raramente colonizam seres humanos, fazendo parte da microbiota transitória, normalmente em indivíduos hospitalizados (são bactérias oportunistas). Existem vários gêneros de importância clínica, mas estudaremos apenas a Pseudomonas aeruginosa. Outros gêneros que têm se destacado em infecções hospitalares nos últimos anos são a Burkolderia, Acinobacter e Stenophomonas.
	No gênero Burkolderia, o que está mais envolvido em infecções em humanos são algumas espécies de difícil identificação bioquímica em laboratório, por isso o resultado sai como Complexo B. cepacia, ou outro complexo. Só é possível diferenciar por análise genética. Com o Acinetobacter também acontecendo isso, tendo o resultado Complexo A. calcoaceticus-baumannii. No gênero Stenotrophomonas temos a S. maltophilia como espécie mais relevante.
	Como são bactérias amplamente distribuídas no ambiente, quando causam infecções são em situações especiais, por isso são considerados seres oportunistas. Geralmente causam infecções hospitalares, pois se trata de pacientes imunodeprimidos, pacientes com portas de entrada que permitem a invasão das bactérias em função do uso de cateteres, sondas, equipamentos de ventilação mecânica, entre outros. Uma característica importante dessas bactérias é que elas respondem mal a controles químicos, então elas costumam ser resistentes a vários desinfetantes. Algumas são resistentes naturalmente a alguns antimicrobianos, sendo difícil de tratar. Pode adquirir resistência a outros antimicrobianos. O aumento da frequência de infecções hospitalares associadas a BGNNF e o rápido desenvolvimento de resistência é um problema grave de saúde pública.
	OBS: Sobre as enterobactérias, foi esquecido de falar sobre KPC, que é uma enterobactéria produtora de várias lactamases.
	Pseudomonas aeruginosa:
	É o BGNNF mais frequente em laboratório de microbiologia clínica. A gente pode encontrar essa bactéria no solo, na água, em vegetais, em animais, em alimentos e no ambiente hospitalar. Se a pessoa tiver algum fator de risco, principalmente no hospital, pode desenvolver doença. É um bastonete gram-negativo reto. É uma bactéria móvel, pois tem flagelo. Cresce numa ampla faixa de temperatura 4-42ºC. É aeróbio estrito (faz metabolismo oxidativo, utiliza oxigênio na respiração aeróbia). 
Existe um teste que a gente faz para saber se a bactéria é um não-fermentar. O não-fermentador pode fazer o metabolismo oxidativo ou ser assacarolídeo. É chamado de Teste OF (oxidação-fermentação). Existe um meio de cultura, que serão semeados em dois tubinhos, contendo açúcar, geralmente glicose. Semeia a colônia de bactérias nos dois tubos. A única diferença é que em um dos tubos será colocado óleo mineral, sendo assim, oxigênio não vai entrar. Em um tubo, portanto, teremos condições de anaerobiose e em outro aerobiose. O meio de cultura é verde e tem indicador de pH, sendo assim, a utilização da glicose promoverá queda no pH, modificando a cor para amarelo. A Pseudomonas só utilizará açúcar em ambiente com oxigênio. Sendo assim, um dos tubos ficará amarelo e outro verde. Um BGNNF que seja assacarolídico não crescerá em nenhum dos tubos, ficando os dois verdes. Uma bactéria que cresce na presença e na ausência de oxigênio mudará a cor dos tubos nas duas reações, ficando dois tubos amarelos.
Essa bactéria possui uma grande versatilidade nos seus requerimentos nutricionais, ou seja, cresce em qualquer coisa. Sua coloração e seu odor a destacam no laboratório. As colônias são iridescentes (verdes), pois produz os pigmentos piocianina (azul) e pioverdina (amarelo-esverdeado), cuja combinação dá essa coloração característica. O odor característico é dado pela aminoacetofenona, sendo similar ao odor de frutas. Algumas colônias tem um aspecto mucoso, em função de uma substância que algumas cepas produzem, o alginato, um tipo de cápsula diferenciado que algumas bactérias tem e outras não tem.
Essa bactéria pode causar pneumonia e existem alguns fatores de risco para pessoas desenvolverem pneumonia por essa bactéria. Um dos fatores de risco são indivíduos em ventilação mecânica (essa bactéria está presente no ambiente, gosta de ambientes úmidos). Outro fator de risco são indivíduos que tem fibrose cística, que afetam o transportador CFTR, interferindo na troca de íons. Essa proteína está presente na membrana de várias células epiteliais de diferentes órgãos e glândulas exócrinas. Sendo assim a secreção de alguns tecidos ficam mais viscosas, mais densas. No pulmão, essa secreção mais densa favorece a adesão da bactéria ao tecido.
ITUs também são frequentes em pessoas que estão com sondas. Podem causar infecções em queimaduras e feridas (porta de entrada exposta), podem evoluir para uma septicemia caso a bactéria caia na corrente sanguínea. Indivíduos saudáveis também podem ser acometidos por essa bactéria, existindo dois tipos de infecções que ocorrem frequentemente na comunidade em indivíduos saudáveis. Uma delas é a otite externa, chamada de otite do nadador, comum em pessoas que vão frequentemente em piscinas, devido ao ouvido úmido. Outra situação é a conjuntivite, associada a indivíduos que utilizam lentes de contato (podem colonizar as soluções onde se guarda as lentes, além do uso prolongado causar microlesões).
É uma bactéria extremamente ubiquitária (amplamente distribuída), devido a suas poucas exigências nutricionais e resistência a várias condições físicas como temperatura e desinfetantes. Tem preferência por ambientes úmidos. É um patógeno oportunista, raramente causando infecções em imunocompetentes. É um dos principais agentes de infecção em indivíduos com defesas baixas. É um dos principais agentes de infecção hospitalar, entre pacientes queimados. 
Muitas vezes o paciente pode ser colonizado por estar num ambiente onde a bactéria esteja presente. Esse paciente pode contaminar equipamentos médicos e os profissionais de saúde. Esses profissionais podem, então, acabar contaminando outros pacientes susceptíveis.
Para ter uma infecção por essa bactéria normalmente precisa de algum tipo de alteração dos mecanismos de defesa desse indivíduo, como interrupção de barreiras cutâneas ou mucosas, ou imunodepressão (seja fisiológica, clínica ou terapêutica). Essa bactéria vai se aderir, invadir o organismo e pode se disseminar sistemicamente. Existem alguns fatores de virulência, como o alginato (um tipo de cápsula, que é importante na adesão da bactéria aos tecidos e na evasão da fagocitose por esconder algumas proteínas de superfície), o flagelo (que para essa bactéria é considerado um fator de virulência, que confere motilidade, importante na invasão), tem pili (adesão), LPS (que ajuda na invasão celular e, por ser uma endotoxina, pode contribuir para choque séptico), pode produzir biofilme (é, inclusive, a bactéria protótipo para produção de biofilme) e algumas substâncias secretadas, como a exotoxina A (que reduz a atividade fagocítica) e uma série de enzimas que causam danos teciduais (como a hemolisina, elastase, proteases [causam danos teciduais], fosfolipase C [leva a colapso pulmonar, agindo na surfactante presente nos alvéolos] e exoenzimas S e U [agem contra células de defesa]).
A exotoxina A é uma toxina do tipo A-B, então tem uma porção que vai ligar a toxina a receptores da célulado hospedeiro e uma porção A, que é uma porção tóxica. A toxina entra na célula e a porção tóxica é liberada. Essa toxina inibe a síntese proteica porque pega a molécula ADP-ribose e vai ligar essa molécula no EF-2 (fator de alongamento 2), inativando essa proteína, impedindo que a síntese proteica aconteça, causando morte celular.
A elastase vai ter ação sobre a elastina (que forma 30% das proteínas no tecido pulmonar), diminuindo a propriedade elástica do pulmão, impedindo a expansão e a contração alveolar. Pode causar danos diretos nos vasos sanguíneos também, que também possuem elastina, causando hemorragias. O depósito de complexos imunes vai ativar o sistema complemento, o que atrai células polimorfonucleares, o que causará dano às células do hospedeiro.
Para diagnóstico, é preciso fazer o exame microbiológico que seria a cultura. A identificação presuntiva envolve a bacterioscopia (são bastonetes gram-negativos) e observação da morfologia colonial e do odor característico. Para identificar de forma definitiva existe uma série de testes bioquímicos (para identificar uma série de enzimas) ou testes moleculares (como o PCR). Deve-se realizar o antibiograma.
O tratamento é feito com antibióticos. As medidas de prevenção envolvem as práticas para controle de infecção hospitalar (lavagem das mãos, assepsia em procedimentos invasivos, desinfecção dos ambientes dando atenção especial para áreas úmidas, culturas de vigilância para procurar pacientes colonizados), evitar levar flores aos pacientes hospitalizados imunocomprometidos (pois podem ser veículos de bactérias) e cuidados de higiene com lentes de contato.

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