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T23 - Vibrio, Campylobacter e Helicobacter (1) (Aula Transcrita)

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VIBRIO
	Também são bastonetes gram-negativos, mas apresentam uma forma mais curva que os anteriores. Nós vamos falar principalmente do Vibrio cholerae, que é o agente etiológico da cólera e é a espécie tipo desse gênero. A cólera é uma doença antiga que se manifesta muitas vezes em forma de epidemias ou pandemias (epidemias que acontecem em vários continentes). Atualmente, estamos na 8ª pandemia.
	O mapa mostra a distribuição mundial da doença. Países como o Brasil, da América do Sul, África e sul asiático são os países em que ocorrem casos autóctones de cólera, isto é, pessoas adquirem no próprio país (Países em vermelho). Na Europa, América do Norte e Oceania, os países em amarelo representam locais que apresentaram casos alotóctones de cólera.
	Na tabela, a gente vê a distribuição de casos de cólera no Brasil. O destaque é da região Nordeste, pois é uma região com condições mais precárias de vida. Esses números podem estar subestimados, já que representam apenas os casos confirmados e notificados.
	São bacilos gram-negativos curvos. São anaeróbios facultativos (crescem tanto na presença quanto na ausência de oxigênio). São móveis, pois apresentam flagelo. Algumas espécies vão requerer NaCl para crescimento.
	A Vibrio cholerae é classificada em sorogrupos, biotipos e sorotipos. Isso é importante pois não são todas as cepas que causam a cólera. A classificação em sorogrupos é com a letra O, baseada na característica antigênica do LPS (lipopolissacarídeo na membrana externa dos gram-negativos). Em função de diferenças típicas no antígeno O nós podemos agrupar as bactérias em diferentes sorogrupos. O sorogrupo O1 foi o responsável pela maioria das pandemias e a última pandemia (ou penúltima) foi causada pelo sorogrupo O139. Os demais sorogrupos são chamados de Não-O1/O139. Até o momento em que o O139 não foi identificado como responsável pela cólera, chamávamos os demais sorotipos de apenas Não-O1, mas hoje se usa a nomenclatura Não-O1/O139.
	Existe uma classificação em biotipos, realizada apenas para o sorogrupo O1. Essa classificação se baseia em testes fenotípicos, logo, não se usa anticorpos para identificar diferenças. Esse biótipo é identificado através de alguns testes, dizendo se o V.cholerae, é do tipo clássico (o maior responsável pelas pandemias) ou El Tor. O O1 também pode ser sorotipado, através do uso de anticorpos. Assim, o antígeno O1 pode ser classificado em Ogawa, Inaba e Hikogima.
	O Vibrio cholerae O1 e O139 são os responsáveis pela cólera. O O1 Clássico é o responsável pela 1ª-6ª pandemias e El Tor pela 7ª. O O139 é o responsável pela 8ª. Os casos de cólera podem ser assintomáticos (a pessoa adquire a infecção mas não tem sintomas) ou um quadro de diarreia autolimitante (a pessoa se recupera sozinha), o que ocorre em cerca de 75% dos casos. Essa bactéria também pode causar infecções em outros órgãos que não o intestino, como bacteremia, mas essas infecções são raras. O O139 emergiu em 1992. Estudos sobre essa bactéria tem surgerido que teria sido o O1 El Tor que recebeu DNA por transferência de outras bactérias. Os indivíduos que vem adoecendo nessa 8ª epidemia mais frequentemente são os adultos, já que as infecções prévias com O1 não são protetoras.
	As cepas não-O1/O139 são todos os outros sorogrupos que não causam cólera. São idênticas fenotipicamente ao O1 e ao O139. Não são identificáveis através de testes bioquímicos, sendo a única forma de separação a utilização de anticorpos específicos. Essas cepas não produzem a toxina colérica, mas produzem outra enterotoxina, que vai levar a uma diarreia aquosa branda. Também podem causar infecções extra-intestinais, mas também é raro, e os indivíduos precisam fatores de risco pra isso, como doenças de base.
	Os fatores de virulência (O1 e O139) incluem: flagelo polar (já que a motilidade permite que chegue ao sítio de ligação) e um fator de colonização acessório, que regula a motilidade. Algumas moléculas facilitam a adesão da bactéria aos tecidos e consequente colonização. Dessas moléculas, a mais importante é o pilus, o TCP (pilus corregulado por toxina), que é produzido pela ação do mesmo regulador que permite a produção da toxina. Além do pilus, existem outras adesinas como as aglutininas e proteínas na membrana externa. A toxina colérica é uma enterotoxina e existem também outras toxinas, que são de menor importância.
	A toxina colérica é uma enterotoxina do tipo A-B. As subunidades B fazem a ligação da toxina às células do hospedeiro e a subunidade A é a parte tóxica, a parte que realmente tem o mecanismo de ação na célula do hospedeiro. O gene para toxina colérica foi adquirido pela bactéria por um bacteriófago através da transdução. A bactéria se adere à mucosa do intestino delgado através do receptor GM1 (gangliosídeo M1). A toxina, então, é endocitada e sua porção A passa pro citosol da bactéria (translocação). A enzima que sofre alteração é a adenilato ciclase. Essa enzima converte ATP em AMPc, e o AMPc é um mensageiro secundário, envolvido em várias rotas na célula do hospedeiro. Dentre essas rotas, uma delas é o transporte de íons da célula, assim, quando acontece um aumento muito grande de AMPc na célula do hospedeiro, mexe com os canais de Cl- e Na+, aumentando a quantidade de íons no lúmen intestinal. A subunidade A faz a ADP-ribosilação da proteína G, deixando de inibir a adenilato ciclase, aumentando os níveis de AMPc, interferindo nos canais de transporte, principalmente nos canais de Cl-. Com isso, vai ter líquido indo pro lúmen intestinal, resultando em diarreia.
	A cólera é uma doença em que o microrganismo vai atingir o hospedeiro entrando através de água ou alimentos contaminados. Esse microrganismo chega no intestino delgado, coloniza principalmente através do TCP e produz suas toxinas, principalmente a toxina colérica, a responsável pela sintomatologia drástica, uma diarreia aquosa profusa. Como a pessoa perde muito líquido, pode morrer por choque hipovolêmico caso não seja prontamente atendida. Entra em acidose metabólica porque perde vários sais, interferindo na ação de várias enzimas do organismo. O indivíduo pode ter emese, câimbras musculares, entre outros. O indivíduo libera o microrganismo nas fezes.
	O período de incubação da doença varia desde algumas horas à 5 dias (sendo uma média de 2-3 dias). Os principais sintomas incluem diarreia intensa (aspecto de “água de arroz”), prostração, desidratação grave, câimbras musculares, choque hipovolêmico e morte. Os reservatórios são os humanos, além de reservatórios ambientais (consumo de frutos do mar). A transmissão é pela ingestão de água ou alimentos contaminados por fezes, com alta dose infectante, já que a bactéria é sensível ao pH ácido. As pessoas que são infectadas podem ser assintomáticos e crônicos. As áreas afetadas incluem, principalmente, comunidades pobres (sem saneamento básico e fornecimento de água).
	O diagnóstico microbiológico é realizado principalmente por cultura de fezes ou de material coletado por swab retal. Em casos de sintomatologia clássica, pode ser feito o exame direto do material, sem cultura. A cultura é realizada em um meio chamado de TCBS, um meio seletivo-indicador, contendo sacarose (indicador de pH), deixando o meio amarelo quando a bactéria utiliza a sacarose. É feito o isolamento nesse meio de cultura, alguns testes bioquímicos podem ser feitos, e a confirmação vem através de um teste de aglutinação em lâmina com anticorpo específico.
	Se a pessoa tem os sintomas clássicos da doença, pode fazer um exame microscópico do material. Adiciona o material na lâmina, com uma gota do antissoro e mistura. Quando acontece a ligação do anticorpo com a bactéria, ela para de se mexer, inibindo a motilidade, se não acontece a ligação, a bactéria continua se mexendo. Sendo assim, adiciona anticorpo em uma lâmina e em outra não, que serve de controle. Uma alternativa seria colocar a bactéria para reagir com um anticorpo O1/O139 conjugado com substância fluorescente.
	O tratamento consiste principalmente na reposiçãode fluidos e eletrólitos, oral ou intravenosa, dependendo da gravidade. A antibioticoterapia só será feita em casos graves. O controle é feito por identificação e tratamento dos casos, saneamento básico e educação de práticas sanitárias, distribuição e consumo de água tratada e vacinas não recomendadas (porque não são duradouras e possuem efeitos colaterais).

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