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1 Econometria I Lista de exercícios # 3 Gabarito Thiago Fonseca Morello fonseca.morello@ufabc.edu.br sala 301, Bloco Delta, SBC (Texto-base para as questões 1-4) Ronald Oaxaca propôs, em artigo de 1973, uma decomposição para a diferença de salários recebidos por indivíduos pertencentes a grupos sociais distintos. Tal decomposição pode, de maneira simplificada, ser apresentada como segue. log( ഥܹଵ) – log( ഥܹଶ) = ( തܺଵ − തܺଶ)ߚመଶ + തܺଵ(ߚመଵ − ߚመଶ) A média para o salário horário (R$/hora) do grupo social 1 é denotado por ഥܹଵ e analogamente para o grupo social 2. O logaritmo natural é indicado por “log()”. Os vetores com as médias das variáveis explicativas para os dois grupos são തܺଵ e തܺଶ e, oas estimativas pontuais dos parâmetros das FPRs referentes a cada um dos grupos são representados por ߚመଵ e ߚመଶ. A parcela ( തܺଵ − തܺଶ)ߚଵ capta a porção da diferenciação salarial devida a características observáveis e supostamente correlacionadas com a produtividade intrínseca dos trabalhadores. Já a parcela തܺଶ(ߚଵ − ߚଶ) capta a porção referente à discriminação social. A partir da adaptação do script utilizado no laboratório 3 (script_lab_3) e do arquivo de dados dados_lista_3, calcule a parcela discriminatória do diferencial salarial existente entre os grupos sociais compostos por indivíduos que se auto-declararam brancos, d_bca == 1, e indivíduos que se auto declararam não brancos, d_bca == 0. Para isso, é preciso estimar, para cada um dos dois grupos, a FRP cuja forma geral é: log(W) = β0 + β1educ + β2exper + β3exper2 + β4 d_fem + β5d_indu + β6d_serv + β7d_apub + β8d_formal + β9d_no + β10d_se + β11d_su + β12d_co Com base nos resultados, responda: (Q.1) A discriminação racial no mercado de trabalho brasileiro em 2009 se mostrou favorável ou desfavorável aos não-brancos e em que magnitude houve favorecimento ou desfavorecimento? Em sua resposta, apresente o valor da parcela atribuída à discriminação racial e o interprete. R: A discriminação racial mostrou-se desfavorável aos não-brancos de acordo com os dados da PNAD 2009, uma vez que a parcela da decomposição de Oaxaca 2 correspondente à discriminação racial assume valor o valor de 0.071, positivo. Uma vez que esta parcela, tal como definida no enunciado, capta a subtração dos parâmetros da FRP referentes ao grupo social “brancos” dos parâmetros da FRP referentes ao grupo social “não-brancos”, um valor positivo indica uma vantagem do primeiro grupo social em relação ao segundo. Nota 1: a variável dependente das regressões corresponde à log(renda_trab_pri_10/(horas_trab_pri_sref*4) Nota 2: para rodar as regressões para o grupo que se autodeclarou branco utilizar o comando mqo_mincer_mas<-lm(formula = log(renda_trab_pri_10/(horas_trab_pri_sref*4)) ~ anos_educ + exper + exper_sq + d_fem + d_indu + d_serv +d_apub + d_formal + d_no + d_se + d_su + d_co , data=subset(pnad, d_bca==1)) Nota 3: para os demais detalhes, consultar script_lab_3 (não deixe de fazer isso) (Texto complementar para as questões 2 e 3) Uma medida alternativa para a discriminação racial no mercado de trabalho é dada pela estimativa pontual para o parâmetro δ na FRP a seguir, em que X é um vetor de explicativas socioeconômicas adicionais. log(Wi) = β0 + β1educ + β2exper + β3exper2 + β4X + δd_bca (Q.2) Argumente porque a estimativa pontual de δ é uma medida para a porção do diferencial salarial associada à discriminação. Embase sua resposta no teorema de Frisch-Waugh e no conceito do coeficiente δ. R: É preciso considerar que o coeficiente δ capta a diferença inter-racial em termos da expectativa condicional da variável dependente em relação às explicativas, exceto pela binária d_bca. Ou seja, δ = E[log(Wi)| Z, d_bca = 1] - E[log(Wi)| Z, d_bca = 0], em que Z é o vetor que contém as explicativas educ, exper, exper2 e X (d_bca está excluída de Z). Desta maneira, trata-se de uma medida para a diferença de salário esperado entre dois grupos sociais que diferem apenas em função de sua etnia, sendo equivalentes no que tange às demais características consideradas, i.e., sendo equivalentes em nível educacional, experiência, etc. Tal medida, portanto, capta exclusivamente o efeito da etnia declarada (branca ou não-branca). Ou melhor, de acordo com o teorema de Frisch-Waugh, δ capta o efeito da etnia sobre a remuneração livre, este, da influência das demais características individuais consideradas. Tal efeito, pois, não se confunde com o efeito das medidas correlacionadas com a produtividade individual intrínseca, educação e experiência e, portanto, não pode, em nenhuma medida ser atribuída a diferenças inter-étnicas em função de tais características. Este é um aspecto crucial, pois a decomposição de Oaxaca tem como uma de suas principais vantagens separar a parcela do diferencial de remuneração que se deve a características correlacionadas (de acordo com a teoria) com a produtividade intrínseca, como educação, experiência, setor de atividade, por exemplo, de 3 características irrelevantes em tal sentido, como raça e gênero. De fato, alguns grupos sociais têm menos acesso a oportunidades de aquisição de educação e experiência laboral e isso acaba contribuindo para uma menor remuneração, em um processo de retroalimentação da desigualdade de acesso a oportunidades. Do ponto de vista da teoria neoclássica, a pior remuneração dos grupos desfavorecidos em função de características correlacionadas com a produtividade intrínseca não constitui discriminação, uma vez que, efetivamente, a produtividade intrínseca de tais grupos tende a ser menor (de novo, de acordo com a teoria). O coeficiente δ é uma medida adequada para a discriminação racial pois, se esta não se manifestasse no mercado de trabalho, a parcela da variação do salário horário que restaria para explicar em uma equação que incorpora o efeito de variáveis correlacionadas (segundo a teoria) com a produtividade intrínseca dos indivíduos, como educação e experiência, deveria ser nula. Ou seja, uma vez deduzidas as contribuições, para a explicação da variação do salário horário, das explicativas que funcionam como indicadores da produtividade intrínseca, a contribuição da etnia deveria ser nula em um mercado competitivo e livre de falhas de funcionamento. Desta maneira, se, contrariamente, a etnia mostra ter contribuição não nula, então há evidência de discriminação étnica (ou racial) no mercado de trabalho. (Q.3) Porque a medida de Oaxaca para a parcela da diferenciação salarial associada à discriminação racial é mais precisa do que a estimativa pontual de δ? Para responder, considere que a primeira medida capta diferenças inter-raciais do retorno da educação, da experiência e das demais características socioeconômicas subsumidas ao vetor X da FRP acima. R: a medida de Oaxaca é mais precisa pois capta diferenças nos retornos das características socioeconômicas existentes entre os grupos sociais. Ou seja, ela tem, em sua composição, medidas dos graus em que o retorno da educação, da experiência, da formalização, etc, discrepam entre os grupos sociais. O coeficiente da dummy racial não incorpora as diferenças de retornos. Apesar de δ estar livre da influência das explicativas em função das quais estes retornos se definem, ela não capta em que medida o mercado remunera distintamente brancos e negros por um ano de educação a mais ou por um aumento no nível de experiência. (Q.4) Estime a FRP apresentada no texto complementar. Como componentes do vetor X, considere as seguintes explicativas: d_indu, d_serv, d_apub, d_formal, d_no, d_se, d_su, d_co. Com base nos resultados, faça os exercícios a seguir. (Q.4.a) Considerando o teste bi-caudal de significância individual de δ para um nível de significância de 1%: (Q.4.a.i) Reporte os valores críticosdo teste: R:- 2.576, + 2.576 (qt(0.005,df=99115)), com o modelo incorporando d_fem ou não. 4 (Q.4.a.ii) Reporte o valor da estatística do teste: R:19.36 se d_fem for incluída no modelo, 18.36 se d_fem não for incluída. (Q.4.a.iii) Decida quanto ao resultado do teste: é correto rejeitar a hipótese nula? R: Sim, é correto rejeitar a hipótese de nulidade para o valor populacional para o coeficiente da binária d_bca. (Q.4.b) Considerando o teste de significância global do modelo a 1%: (Q.4.b.i) Reporte o valor crítico do teste: R: para o modelo com d_fem: 2.13 (qf(0.99,df1=13,df2=99115)). Para o modelo sem d_fem: 2.18 (qf(0.99,df1=12,df2=99116)). (Q.4.b.ii) Reporte o valor da estatística do teste R: para o modelo com d_fem: 4668.95 ((0.3798/(1-0.3798))*(99115/13)). Para o modelo sem d_fem: 4743.587((0.3798/(1-0.3798))*(99116/12)). (Q.4.b.iii) Decida quanto ao resultado do teste: é correto rejeitar a hipótese nula? R: Sim, é correto rejeitar a hipótese nula de que o modelo é globalmente não- significativo. Nota: a estatística do teste é o R2 ordinário, não-ajustado e não o ࡾതതതത (Q.5) Com base nos dados contidos no arquivo “dados_lista_3” estime as duas versões da equação de Mincer abaixo. Versão 1: log(Wi) = β0 + β1educ + β2exper + β3exper2 + β4d_bca + β5d_indu + β6 d_serv+ β7 d_apub + β8 d_formal + β9d_no + β10 d_se+ β11 d_su + β12 d_co + β13 d_esgoto + β14d_agua_can + u Versão 2: contém todas as explicativas da versão 1, e, adicionalmente, d_luz_eletr. A partir dos resultados das duas estimações, responda: qual é o R2 ajustado (adjusted R- squared) das regressões correspondentes a cada uma das versões e porque a regressão associada à versão 2 da FRP não possui maior R2 ajustado, mesmo incorporando mais explicativas? Justifique sua resposta não com base na teoria da equação de Mincer, mas sim em estatísticas obteníveis como resultado das estimações realizadas e nos determinantes de eventuais diferenças do R2 ajustado entre modelos distintos. R: As duas regressões apresentam o mesmo valor para o R2 ajustado (adjusted R- squared), 0.3603. A razão pela qual o R2 ajustado da regressão com maior número de 5 explicativas não é maior está em que a estatística t da única variável que a regressão maior (versão 2) contém a mais do que a versão 1, d_luz_eletr, é inferior à unidade e equivalente a -0.473. A demonstração de que a inclusão de uma explicativa com estatística t inferior, em módulo, à unidade resulta na queda do R2 ajustado pode ser encontrada na seção 8 da nota de aula 10. Contudo, como o curso não avançou o suficiente para cobrir esta parte, a correção desta questão considerará discussões que remetam à composição do R2 ordinário e do R2 ajustado e a diferenças entre eles. Estatísticas retiradas dos resultados da estimação e relacionadas com componentes das fórmulas do R2 ordinário e do R2 ajustado também serão consideradas.
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