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AULA III rdo

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - UFPI
CENTRO DE EDUCAÇÃO ABERTA E A DISTÂNCIA - CEAD
COORDENAÇÃO DO CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM GEOGRAFIA
DISCIPLINA: EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO
Unidade I
A Origem da Geografia Como Ciência Moderna
Aula 03
Origens e Pressupostos: 
contexto, teorias, personagens e Estados nacionais.
	
Pré-História da Geografia
- Da Antiguidade Clássica até o final do século XVIII.
Pensadores clássicos, medievais ou viajantes do início das expansões marítimas, designavam como Geografia: “Relatos de viagens escritos em tom literário; compêndios de curiosidades escritos sobre lugares exóticos; áridos relatórios estatísticos de órgãos administração; obras sintéticas, agrupando os conhecimentos existentes a respeito dos fenômenos naturais; catálogos sistemáticos sobre os continentes e os países do globo”.
Dispersão do conhecimento geográfico produzido, diversidade do uso do rótulo geografia, conteúdos dispersos e sem continuidade, sem conexão. Exemplos, os pensadores clássicos e a geografia: Tales e Anaximandro (o espaço e a forma da terra), Heródoto (descrição dos lugares), Hipócrates (obra com título dos ares, dos mares e dos lugares), Aristóteles (Meteorologia e descrições regionais), etc. Ainda possível citar a obra de C. Ptolomeu – Almagesto – síntese geográfica (debate sobre o pensamento clássico da Idade Média) e Varrenius - Geografia Generalis – (uma espécie de geografia Geral).
“Até o final do século XVIII não é possível falar de conhecimento geográfico como algo padronizado, com um mínimo que seja de unidade temática e de continuidade nas formulações”.
Pressupostos da Geografia como ciência moderna
- Início do Século XIX – acompanha a própria constituição e consolidação do modo capitalista de produção (formação de um espaço mundializado), sendo o oitocentos o período que muitos processos estavam suficientemente maturados.
Três Pressupostos Materiais (econômicos e políticos):
I) As grandes navegações e a constituição de um espaço mundial que tem como centro difusor a Europa. O conhecimento efetivo da extensão real do planeta. Conhecer a terra e pensá-la de forma unitária, ter a dimensão e forma real dos continentes. O século XIX agrupa e dar a conhecer os contornos gerais do planeta.
II) As informações sobre variados lugares da terra em articulação foram sendo agrupadas em arquivos, repositórios de informações empíricas (descrição, enumeração e classificação do espaço local) que permitiram fazer comparações e diferenciações entre geografias materiais. Temas como o caráter variável dos lugares e diversidade da superfície terrestre, aprimoram os levantamentos locais para uma reflexão geográfica sólida (os países coloniais produziram conhecimentos e instituições com esses objetivos).
III) Aprimoramento da técnicas cartográficas. Representação dos fenômenos observados na superfície e da localização dos territórios. Cartografia e expansão do comércio para uma economia global: navegação, rotas, correntes de vento, localização dos portos – exigiam mapas precisos.
 
Pressupostos Ideológicos
Correspondência, no plano filosófico e científico, das transformações operadas ao nível econômico e político;
Valorização de temas geográficos, sendo criada o campo da geografia como ciência e disciplina acadêmica, dotando o geógrafo de uma cidadania acadêmica;
Quatro pressupostos ideológicos:
I) A geografia ganha peso em sua sistematização por buscar explicações abrangentes do mundo, através de sistemas de fenômenos, sendo essa ambição propostas pelas mudanças filosóficas e científicas da época (Kant, Leibnz, Herder, Hegel).
II) Os pensadores iluministas, porta vozes do novo regime político, na busca de uma explicação racional da realidade, envolveram em seus debates o espaço, a influência do meio na sociedade, o Estado, a representação e a extensão de um território, valorizando temas da geografia (Rousseau, Montesquieu, etc).
III) Os trabalhos de economistas políticas. “Discutiam questões geográficas ao tratar de temas como a produtividade natural do solo, a dotação diferenciada dos lugares, em termos de recursos minerais, o problema da distância, o aumento populacional, entre outros” (Malthus, Smith, entre outros).
IV) A teoria evolucionista. Papel desempenhado pela condição do ambiente na evolução das espécies; a adaptação ao meio seria um dos processos fundamentais (Darwin e Lamarck); 
A Sistematização da Geografia
Além da geografia como desdobramento do modo de produção capitalista, a sistematização dessa disciplina operou na “consolidação do capitalismo em determinados países da Europa”.
Mesmo com temas difundidos, nos demais países europeus, foi no interior do Estado da Alemanha (em formação) que a Geografia teve sua colocação como uma ciência particular e autônoma.
“Temas como domínio e organização do espaço, apropriação do território, variação regional, entre outros, estarão na ordem do dia na prática da sociedade alemã da época”.
Dois personagens e suas teorias
A. Humboldt (1769-1859), geólogo, botânico, conselheiro do Rei da Prússia;
Naturalista e Viajante (livros Quadros da Natureza e Cosmos);
É de Humboldt a teoria da geografia como síntese de todos os conhecimentos relativos à terra;
O geógrafo tem um pensamento capaz de conectar os fenômenos até buscar sua unidade, distinguindo constâncias e mudanças aparentes.
Executar a intuição a partir da observação. O geógrafo deveria contemplar a paisagem de uma forma quase estética.
Da impressão da paisagem, pela observação, a explicação com raciocínio lógico.
C. Ritter (1779 – 1859), filósofo, historiador, tutor de uma família de banqueiros.
Obra metodológica sobre a geografia (livro Geografia Comparada).
Conceito de “sistema natural” – uma área delimitada dotada de individualidade.
O geógrafo deveria estudar esses arranjos individuais e compará-los.
A Geografia de Ritter é um estudo dos lugares, da individualidade deles, a população está no centro dessa individualidade, diferenciação permitida pela comparação.
A proposta de Ritter é antroprocêntrica, regional e sobre a relação particular entre sociedade e natureza.
Considerações Finais
Os pressupostos serviram como base para a sistematização da geografia no século XIX e consolidou o início da geografia como ciência ligada ao desenvolvimento capitalista nos território dos Estados nacionais formados e em formação.
Humboldt e Ritter são as bases da geografia fundamentada pelo positivismo, a chamada geografia tradicional.
E, como veremos na próxima aula, a Alemanha continuou a envolver temas geográficos no seu processo particular de desenvolvimento do capitalismo, sendo novos personagens (como Ratzel) também centro do pensamento geográfico moderno.
No entanto, evidenciaremos como a efetivação da geografia tradicional, como o corpo de conhecimento sistematizados enquanto ciência, se desenvolveu em outros Estados, envolvendo outros temas e processos científicos da geografia ligados aos pressupostos materiais e ideológicos do capitalismo.
Boa Leitura!
Referências
Texto base:
MORAES, Antônio Carlos Robert. Geografia, pequena história crítica. São Paulo: HUCITEC, 1991.
Boa Leitura!

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