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História Antiga Ocidental Matéria Completa (10 aulas) 1º Semestre

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História Antiga Ocidental. 
 
Esta disciplina se insere no eixo de Antiga e Medieval e permite ao ingressante uma contextualização geral sobre as 
sociedades da Antiguidade Clássica. Existe o mito de que a sociedade ocidental foi criada apenas com base nos 
conhecimentos do mundo greco-romano. Devemos repensar e discutir essa ideia, visto criar uma noção evolutiva 
errônea. 
A problematização de elementos dessas sociedades visa, entre outros, contribuir para a materialização de um 
professor-pesquisador, aquele profissional de educação que ultrapassa a mera reprodução de conteúdos bem como, 
pondera e constrói paulatinamente seu próprio saber. 
Para obtermos êxito, devemos apresentar ao aluno abordagens historiográficas acerca dos modelos sócio-
econômicos vigentes no mundo antigo ocidental. Nesta construção veremos como é complexo o trabalho do 
historiador da Antiguidade em razão da escassez de fontes primárias e as formas de abordagem destes materiais, 
sublinhando as diversas procedências - literária, iconográficas, tratados filosóficos. 
Discutiremos ainda as estruturas sociais, políticas e econômicas consolidadas no mundo antigo, em especial seus 
modelos, destacando a análise das especificidades. 
Sobre o mundo grego, circularemos entre seus mitos de fundação, até a consolidação de suas póleis, em especial o 
papel de Atenas e Esparta. Discutiremos as influências das disputas com os persas e em especial as batalhas no 
interior da Hélade. 
Em seguida, trataremos da sociedade romana. Falaremos de sua controversa fundação, das disputas entre patrícios 
e plebeus, das reformas políticas e do estabelecimento da República romana. Abordaremos ainda, suas práticas 
expansionistas usando como referência as Guerras Púnicas. Em torno do século I a.C. discutiremos as contradições 
que transformaram a República em um sistema Imperial. 
Na construção do Alto-império romano discutiremos a afirmação da figura do Imperador e a construção de uma 
nova cidadania romana. Ainda abordaremos as questões religiosas, a relação com os chamados bárbaros e, por fim, 
a consolidação do cristianismo no Império. 
 
Aula 1: A História da História: discutindo a 
Antiguidade. 
 
Ao final desta aula, o aluno será capaz de: 
1. Identificar a periodização de tempo que estudaremos em história, aprendendo o que é História Antiga e as 
dificuldades que temos para conhecê-la; 
2. reconhecer a ideia de Ocidente, desconstruindo a noção genérica geográfica; 
3. comparar como a própria noção do que é história é algo mutável, e que não basta um discurso que afirme o que 
seja história para que nós o reconheçamos. 
 
O ensaísta Tom Holland faz, na introdução de Fogo Persa, uma reflexão que é fundamental para vermos como a 
observação histórica é muito mais rica que somente um conhecimento por gosto. É necessário amar a História para 
se perder em seus descaminhos. 
Holland conta que um amigo, ao assumir a reitoria de uma universidade nos Estados Unidos, teve logo de cara um 
primeiro desafio. O aluno tradicionalmente, ao fim do curso, apresentava um trabalho histórico e era feito um 
grande congresso para a discussão destes trabalhos. 
O problema era que há mais de dez anos o tema era o mesmo, Hitler e o nazismo, e queriam um tema novo. Esse 
seu amigo propôs então discutir um processo medieval de nome Cruzadas, momento em que Ocidente e Oriente se 
digladiaram e que, entre outras questões, tinha a religião como pano de fundo. O conselho, ao ver a proposta, o 
chamou de louco. Como uma coisa tão antiga e sem importância seria o tema? 
Enfim, ele conseguiu em meio a muita desconfiança realizar o evento, e a resposta de que ele não estava tão errado 
veio em 11 de setembro do ano seguinte. Quatro aviões sequestrados por terroristas islâmicos levaram o horror aos 
Estados Unidos. Uma velha pergunta aparece: "por que nos odeiam?" No seu primeiro discurso pós-evento, Bin 
Laden disse que era uma vingança contra o Ocidente invasor. 
O presidente norte-americano W George Bush, desnorteado em meio aos eventos, vai a uma Mesquita e faz um 
discurso público dizendo que sabia que aquele ato não era Islâmico, mas que estaria dali por diante realizando uma 
Cruzada contra o terrorismo. Mais infeliz impossível. 
Será aceitável imaginar que nossa história começa no nosso nascimento? Quem somos nós é uma questão central: 
como, onde estamos? Qual sociedade queremos viver, refletir, que legados temos? Refletir sobre a história antiga é 
notar que todas as sociedades são marcadas por continuidades e rupturas. Aprender a observar isso cria o olhar do 
cientista humano, um olhar crítico. 
 
Os objetivos desta aula são: 
 Identificar elementos da cultura greco-romana que ainda estão presentes em nosso cotidiano. 
 Relacionar o mapa conceitual ao cabedal de conceitos que será adquirido ao longo do semestre. 
 Perceber a importância do estudo da História Antiga para o curso de Licenciatura. 
 Conhecer o plano de ensino, os procedimentos de aula, o caderno de textos, os métodos de avaliação, a 
bibliografia básica e complementar. 
 
O que é História Antiga? É o período que se estende desde o aparecimento da escrita até a desestruturação do 
Império Romano. A invenção da escrita retira o homem da pré-história e o coloca na história... Será? 
 
Linha do tempo: 
História Antiga -> +- 3.000 aC a invenção da escrita até 476 dC - desestruturação do Império Romano. 
Idade Média -> 476 dC do fim do Império romano do Ocidente a 1453 dC no fim do Império romano do Oriente. 
Idade Moderna -> De 1453, na tomada dos turcos em Constantinopla, a 1789 na queda da Bastilha. 
 
Aí vamos nós: será que esse modelo é um consenso, algo inquestionável? Quem inventou isso? Imagine a situação: 
Odoacro e seu grupo de guerreiros se reunindo e questionando no dia seguinte a queda de Rômulo, o último 
imperador romano do Ocidente. Perceberam o que a gente fez ontem? Acabamos com a Idade Antiga! Não existe 
isso! 
A divisão da história existe com fins didáticos, foi elaborada pelo homem. Não devemos nos preocupar com os 
marcos, mas sim, refletir sobre as relações de poder na transição destes períodos. 
A linha do tempo como conhecemos foi proposta pelos iluministas. Os iluministas, homens do final do século XVII e 
XVIII, propunham a seguinte lógica: todo o período em que o homem foi evoluindo vamos chamar da verdadeira 
história do homem. Como ela estava no passado, então é antiga: da invenção da escrita até as grandes construções 
do Egito, Grécia e Roma. Os homens vinham num crescente, numa ideia evolutiva de sociedade. 
O homem mergulha em um período em que pensa pouco, um período de trevas, em que não ocorre nada – a Idade 
Média - o que ficou no meio. 
No século XVI, renasce o pensamento do homem no seu auge (o homem da antiguidade com os textos greco-
romanos recuperados) e tudo começa a melhorar, o homem volta a pensar até alcançar a luz dos iluministas... 
VERDADE? NÃO. 
A leitura é uma busca de legitimar seu trabalho, seu grupo. As sociedades estão o tempo todo tendo continuidades e 
rupturas na sua estrutura social... SEMPRE. 
 
Para realizar nosso curso, devemos resgatar a importância dos povos antigos, e é partir daí que encontramos 
problemas com os quais devemos nos acostumar: quanto de material nos sobrou da história antiga? 
Estamos falando de períodos de cerca de dois milênios atrás. Já pegou um livro muito antigo? Percebeu como ele se 
desfaz com o tempo? É cruel com os documentos, porém isso nos faz perceber como é fantástico o estudo da 
história antiga, pois é possível reconhecer nossa limitação. Estaremos diante de um um fascinante período com 
muitas lacunas. 
Mas que Ocidente é esse? Buscamos uma definição da história do Ocidente, uma palavratão comum e tão presente 
no nosso cotidiano. O que é o Mundo Ocidental hoje? Talvez sejam os seguidores de religião judaico-cristão para 
alguns, e capitalismo para outros. 
 
Historicamente, alguns autores utilizariam a noção de embate entre Ocidente e Oriente como duas áreas que de 
forma diversa lutaram ao longo da História. A primeira, sem dúvida, a mítica guerra de Troia; depois as guerras de 
Persas e Gregos; as cruzadas; as batalhas entre turcos e Constantinopla; se possível até as guerras mundiais com 
alemães versus o mundo ocidental. 
Só batalhas não explicam tudo, penso que Ocidente deve ser entendido como um conceito histórico, e que suas 
fronteiras geográficas mudam de momento para momento. 
Exemplo 1: Oriente e Ocidente nas Guerras Médicas; Ocidente e Oriente na Guerra Fria; Oriente e Ocidente puderam 
já estar no Império Romano. 
Professor, fiquei confuso: onde é oriente e onde é ocidente? Depende do momento em que você está estudando. 
 Em nosso recorte, buscamos a velha versão iluminista que dividiu nossa linha do tempo, a noção de cultura 
ocidental como filha da tradição greco-romana. 
 
Estudaremos nesta unidade os espaços da Grécia e da Roma antiga, identificando sua formação política e social, 
discutindo aspectos de sua cultura e sociedade. 
Sobre estes aspectos é importante pensarmos um pouco em como um dos maiores historiadores de História antiga 
explica o seu próprio campo de pesquisa. 
"Os pais da história foram os gregos. Os historiadores da Antiguidade têm muito orgulho disso, tanto que preferem 
não se lembrar de que algumas das maiores inteligências em história antiga não se impressionaram muito com esse 
feito. Os cunhadores de bons mots sempre tiveram grande predileção pela história enquanto disciplina: é falsa, é 
perigosa, é bobagem. 
Os historiadores podem ignorar tranquilamente as zombarias e dúvidas de Walpole ou Henry Ford,ou mesmo de 
Goethe, mas Aristóteles é outro caso, pois, afinal, criou várias ciências e dominou outras também, de um modo ou 
de outro — exceto história e economia. 
Ele não escarneceu da história, ele a rejeitou, nas famosas palavras do nono capítulo de sua Poética: "A poesia é 
mais filosófica e séria do que a história", pois aquela fala principalmente do universal e a história do particular. 
Por 'universal' entendo que determinado indivíduo dirá ou fará determinadas coisas segundo a verossimilhança ou a 
necessidade; esse é o propósito da poesia, acrescentar os devidos nomes às suas personagens." 
FINLEY, M. I. O uso e o abuso da história. 
Martins Fontes, 1989. 
 
O mau humor de Finley é contra exercícios bobos de historiadores em buscar engrandecimentos sem necessidade. 
Não precisamos de subterfúgios, nem de mitos, nem tão pouco de generalizações perigosas, para justificar seu 
estudo. 
Precisamos ter muito cuidado, pois a história que os gregos escreviam não tem nada diretamente relacionado ao 
nosso olhar. Para Homero, por exemplo, história é um exercício de observação. A função do historiador para o grego 
é julgar as ações, verificar os erros e as falhas. 
Não é a visão contemporânea da história, da disciplina; somos cientistas, discutimos, reunimos dados de maneira 
cuidadosa, não julgamos. 
Outro dos famosos historiadores gregos foi Tucidides: que pensava a história de maneira direta, quem viu pode 
relatar, quem não viu, não. Só existiria o historiador do tempo presente. Bom, se isso fosse verdade eu, por exemplo, 
estaria desempregado. 
 
Costumo brincar que dados e datas não é objeto do historiador, mas sim de reunião de dados. O Google, por 
exemplo, lhe responde com facilidade, veja: página do Wikipédia para cronologia de história antiga: 
Época Arcaica 
 
776: Data tradicional dos primeiros Jogos Olímpicos. 
c. 775 - 760: Fundação da primeira colônia grega conhecida no Ocidente: Ísquia. 
c. 750: Fundação da primeira colônia grega na Sicília: Naxos. Fundação da colônia de Cumas na Campânia. 
c. 735 - 716: Primeira Guerra Messénica, que se salda na conquista da Messénia por Esparta. 
c. 735: Fundação das colônias de Corcíra e Siracusa por Corinto. 
c. 730: Fundação das colônias de Mende e Metone por Erétria. 
c.728: Fundação de Mégara Hibleia por Mégara. 
c.720: Fundação de Síbaris por colonos da Acaia. 
c. 708: Fundação de Crotona por colonos da Acaia. 
c. 706: Fundação de Tarento por Esparta. 
689 a.C.: Fundação de Gela por colonos de Rodes e Creta. 
685 a.C.: Fundação de Calcedónia por Mégara. 
c. 660: Fundação de Bizâncio por Mégara. 
673: Fundação de Locros pela Lócrida. 
654: Fundação das colônias de Acanto, Lâmpsaco e Abdera por Andros, Foceia e Clazómenas respectivamente. 
650 a.C.: Segunda Guerra Messénica. Instauração da tirania em Corinto por Cípselo. 
640: Fundação de Hímera por Zancle. 
630: Fundação de Cirene por Tera. 
628: Fundação de Selinunte por Mégara Hibleia. 
627: Fundação de Epidamno por Corinto. 
621: Drácon concede um código de leis a Atenas. 
582: Início dos Jogos Píticos. 
581: Início dos Jogos Ístmicos. 
580: Fundação de Agrigento por Gela. 
573: Início dos Jogos Nemeus. 
560: Fundação de Alália por Foceenses. 
488: Nascimento do historiador Heródoto. 
c.487: O ostracismo é aplicado pela primeira vez em Atenas, com o exílio de Hiparco. 
c.486: Ostracismo de Mégacles. 
c.485-478: Tirania de Gélon em Siracusa. 
484: Ostracismo de Xantipo. 
482: Ostracismo de Aristides. 
481: Formação de uma aliança pan-helênica, liderada por Esparta, para resistir ao ataque persa. 
480: Agosto: começa a expedição persa contra a Grécia, liderada por Xerxes I. 
Batalha das Termópilas. 
Setembro: Vitória dos gregos na Batalha de Salamina. A tradição atribui no mesmo dia a vitória de Gélon sobre os 
Cartagineses na batalha do Hímeras. 
479: Fim das Guerras Médicas com a vitória grega na Batalha de Plateias e na Batalha de Mícale. 
Inverno: Atenas toma Sestos. 
478: Formação da Liga de Delos, sob liderança de Atenas. 
478-476: Reconstrução das muralhas de Atenas. 
476-475: Címon realiza uma campanha na Trácia. 
474: Os Siracusanos, liderados por Hierão, derrotam os Etruscos em Cumas. 
470: Ostracismo de Temístocles que se fixa em Argos. 
470-460: Construção do Templo de Zeus em Olímpia. 
469-468: Derrota dos persas pela frota da Simaquia de Delos, liderada por Címon. Os Persas deixam de ser uma 
ameaça no Mar Egeu. 
466-465: Condenação de Temístocles que foge para Susa, na Pérsia. 
462: Em Atenas Efialtes e Péricles reduzem os poderes do Areópago. 
 
Está exata? Não! Mas dá para usar! Não é importante saber todas essas datas se eu não souber discutir o que é, 
como é, que conjunto de relações de poder está envolvido para entender este modelo social. 
Por fim, é importante a ênfase na desconstrução do conceito de ciências auxiliares que deprecia os demais saberes, 
criando uma falsa hierarquia de importância da História em detrimento das demais. 
 
Vejamos Finley falando de Arqueologia: 
" Assim como outras disciplinas das ciências humanas e sociais, a arqueologia parece estar em crise. Atestam-no a 
profusão de livros e artigos com títulos como New Perspectives in Archaeology. Em menor grau, há uma forte reação 
dentro da disciplina contra as habituais incursões feitas no campo pré-histórico da religião, economia ou estudo da 
arte, que não tomem por base a — e nem sejam controlados pela — teoria ou o conhecimento adequado. 
Há um novo clima de austeridade, até de pessimismo. Pode parecer uma "doutrina severa para algumas pessoas", 
escreve Stuart Piggott, mas "os dados baseados na observação da pré-história parecem-me, em quase todos os 
sentidos, mais ambíguos e mais suscetíveis a interpretações variadas que a gama normal de material disponível para 
os historiadores.O que temos à nossa disposição, como pré-historiadores, são remanescentes duráveis da cultura material que 
chegaram acidentalmente até nós, os quais interpretamos da melhor maneira possível, e, inevitavelmente, a 
qualidade peculiar dessas evidências dita o tipo de informação que podemos obter delas. 
Além do mais, interpretamos as evidências em termos de nossa formação intelectual, que é condicionada pelo 
período e cultura nos quais fomos educados, nossa bagagem social e cultural, nossas hipóteses e pressupostos 
atuais, e nossa idade e posição social". 
 
Um exemplo que demonstra a necessidade urgente dessa "doutrina severa" merece ser examinado — a notável 
fábula da Grande Deusa Mãe. Para Jacquetta Hawkes, essa deusa era tão onipresente e onipotente na Creta 
(minoana) da Idade do Bronze que a própria civilização é rotulada de "força predominantemente feminina". O caso 
baseia-se numa coleção de pequenas estatuetas neolíticas, comum à altura média de menos de duas polegadas, que 
ela descreve assim: "As evidências materiais da vida religiosa desses agricultores da Idade da Pedra consistem, em 
sua maior parte, de estatuetas em forma de mulher (entalhadas ou modeladas) que eles guardavam em suas casas 
ou, às vezes, em casas sagradas construídas para elas. 
Na feitura dessas estatuetas eles destacavam a função reprodutiva, dando-lhes grandes seios e nádegas e, muitas 
vezes, ventres muito proeminentes de uma gravidez adiantada. Além disso, faziam-nas habitualmente de cócoras, 
posição que as mulheres daquela época provavelmente assumiam durante o parto." Afora as fantasias particulares 
da Sra.Hawkes sobre a força feminina e masculina das civilizações, sua interpretação das figuras é uma reafirmação 
daquilo que se tornara virtualmente uma doutrina aceita como verdadeira em arqueologia. Essa interpretação foi 
agora irrecuperavelmente demolida pela publicação do livro de Peter Ucko sobre as estatuetas. 
O número total das estatuetas antropomórficas cretenses do período neolítico conhecidas em 1969 era de 103. 
Dessas, só 28 são seguramente do sexo feminino, 5 são do sexo masculino e 28 não têm sexo; as restantes não 
podem ser classificadas, pois não passam de fragmentos. Elas estão sentadas, de pé, ajoelhadas, agachadas e de 
cócoras. 
"A maioria das figuras do sexo feminino tem seios muito juntos, que são achatados e pequenos, e pouco salientes", e 
seja como for a avaliação “é quase sempre muito subjetiva". Só duas estatuetas vêm de casas de algum lugar de 
Creta, nenhuma vem de qualquer estrutura que possa ser identificada como um santuário (as "casas sagradas que 
eram feitas para elas" da Sra. Hawkes). Geralmente, os locais onde são encontradas só podem ser descritos como 
"escombros comuns de uma habitação". E há também numerosas figuras de animais." 
 
Que fique claro: a arqueologia é uma matéria própria, não é história; tal qual o objetivo do trabalho do historiador é 
estudar o homem no tempo, o do arqueólogo é estudar o artefato no tempo. Ambas podem se ajudar se 
permanecermos com a ideia de que a Arqueologia é uma ciência autônoma. 
 
Pontuando: 
Mundo Ocidental: Conceito ideológico, não geográfico. Caracteriza povos que viveram em áreas de influência da 
cultura Greco-romana. 
Mundo Oriental: Caracteriza povos que viveram fora da esfera da influência da cultura Greco-romana ou 
considerados “menos civilizados” por eles. 
 
Nessa aula você: 
 Compreendeu que o termo história antiga não é acidental, foi construído a partir de escolhas; 
 Aprendeu que Ocidente é mais do que uma mera divisão geográfica; 
 Analisou que a formação do mundo greco-romano é bastante rica para refletirmos sobre as sociedades 
humanas e o estudo da história; 
 Conheceu a relação prática-teória da capacidade crítica que será uma constante ao longo da explanação do 
conteúdo. O professor-pesquisador será ininterruptamente solicitado a criticar, refletir, ponderar sobre as 
questões apresentadas, o que é de suma importância para a formação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
História Antiga Ocidental – Aula 2. 
 
Ao final desta aula, o aluno será capaz de: 
1. Identificar as teorias acerca da ocupação física do espaço da Hélade; 
2. analisar as dificuldades apresentadas na utilização de fontes de natureza literária, caso das epopeias, cuja 
materialização textual foi muito posterior à sua possível criação; 
3. destacar em que medida a Arqueologia tem sido decisiva para corroborar ou relativizar muitos elementos 
apresentados nas epopeias, tais como a Guerra de Troia; 
4. elencar as mudanças ocorridas no Período Arcaico e que permitiram a adoção no território grego de um modelo 
tão peculiar quanto a pólis; 
5. enfatizar de que maneira tal modelo impediu a unificação territorial da Grécia em comparação a outros povos 
contemporâneos a ela; 
6. identificar a periodização de tempo que estudaremos em história, aprendendo o que é História Antiga e as 
dificuldades que possuímos para conhecê-la. 
7. reconhecer a ideia de Ocidente, desconstruindo a noção genérica geográfica; 
8. comparar como a própria noção do que é história é algo mutável, e que não basta um discurso que afirme o que é 
a História para que nós o reconheçamos. 
 
 
Aula 2: Formação do Mundo Grego. 
A Ilíada, é um poema épico grego e narra uma série de acontecimentos ocorridos durante o décimo e último ano da 
guerra de Troia. O título da obra deriva do nome grego de Tria, Ílion. 
A Ilíada e a Odisseia são comumente atribuídas a Homero, que se acredita ter vivido por volta do século VIII a.C. na 
Jônia (lugar que hoje é uma região da Turquia), e trata-se dos mais antigos documentos literários gregos a 
sobreviverem aos nossos dias. Porém, até hoje se debate a existência desse poeta e se os dois poemas foram 
compostos pela mesma pessoa. 
Os gregos acreditavam que a guerra de Troia era um fato histórico ocorrido no período micênico, durante as 
invasões dóricas, por volta de 1200 a.C. Entretanto há na Ilíada descrições de armas e técnicas de diversos períodos, 
do micênico ao século VIII a.C, indicando ser este o século da composição da epopeia. 
A Ilíada influenciou fortemente a cultura clássica, sendo estudada e discutida na Grécia (onde era parte da educação 
básica) e, posteriormente, no Império Romano, Sua influência pode ser sentida nos autores clássicos, como na 
Eneida, de Virgílio. 
Até hoje é considerada uma das obras mais importantes da literatura mundial. 
 
A Guerra de Troia. 
A Guerra de Troia se deu quando os Aqueus atacaram a cidade de Troia, buscando vingas o rapto de Helena, esposa 
do rei de Esparta, Menelau, irmão de Agamémnom. 
Os Aqueus era o povo que hoje conhecemos como gregos e que compartilhavam elementos culturais. Na época, no 
entanto, não se enxergavam como um só povo. 
A lenda conta que a deusa (ninfa) do mar, Tétis, era desejada como esposa por Zeus e seu irmão, Poseidon. Porém, 
Prometeu profetizou que o filho da deusa seria maior que seu pai. Os deuses, temerosos, resolveram dá-la como 
esposa a Peleu, um mortal já idoso, tencionando enfraquecer o filho. 
O filho de ambos é o guerreiro Aquiles e sua mãe, visando fortalecer ser natureza imortal, o mergulhou quando 
ainda bebê nas águas do mitológico ria Estige. As águas tornaram o herói invulnerável, exceto no calcanhar, por 
onde a mãe o segurou para mergulhá-lo no rio (daí a famosa expressão "calcanhar de Aquiles", significando ponto 
vulnerável). 
Aquiles se torna o mais poderoso dos guerreiros, porém, ainda é mortal. Mais tarde, sua mãe profetisa que ele 
poderá escolher entre dois destinos: lutar em Troia e alcançar a glória eterna, mas morrer jovem; ou permanecer em 
sua terra natal e ter uma longa vida,porém ser logo esquecido. 
Para o casamento de Peleu com Tétis, todos os deuses foram convidados, menos Éris, oi Discórdia. Ofendida, a 
deusa compareceu invisível e deixou à mesa um pomo de ouro com a inscrição "à mais bela". 
As deusas Hera, Atena e Afrodite disputaram o título de mais bela e o pomo. 
Zeus então ordenou que o príncipe troiano Páriz, à época sendo criado como um pastor ali perto, resolvesse a 
disputa. Para ganhar o título de "mais bela", Atenas ofereceu a Páris poder na batalha; Hera, o poder e Afrodite o 
amor da mulher mais bela do mundo. Páris deu o pomo à Afrodote, ganhando assim sua proteção, mas atraindo o 
ódio das outras duas deusas contra si e contra Troia. 
A mulher mais bela do mundo era Helena, filha de Zeus e Leda. Leda era casada com Tíndaro, rei de Esparta. Helena 
possuía diversos pretendentes, que incluíam muitos dos maiores heróis da Grécia, e o seu pai adotivo, Tíndaro, 
hesitava tomar uma decisão em favor de um deles, temendo enfurecer os outros. 
Finalmente, um dos pretendentes, Odisseu (cujo nome latino era Ulisses), rei de Ítaca, resolveu o impasse propondo 
que todos os pretendentes jurassem proteger Helena e sua escolha, qualquer que fosse. Helena então se casou com 
Menelau, que se tornou o rei de Esparta. 
Quando Páris foi a Esparta em missão diplomática, se enamorou de Helena e ambos fugiram para Troia, enfurecendo 
Menelau. 
Este apelou aos antigos pretendentes de Helena, lembrando o juramento que haviam feito. Agamemnom então 
assumiu o comando de um exercito de mil naus e atravessou o Mar Egeu para atacar Troia. 
As Naus gregas desembarcaram na praia próxima a Troia e iniciaram um cerco que durou e custou a vida de muitos 
heróis de ambos os lados. 
Finalmente, seguindo um estratagema proposto por Odisseu, o famoso Cavalo de Troia, os gregos conseguem 
invadir a cidade governada por Príamo e terminam a guerra. 
A Ilíada não conta o final da guerra, nem narra a morte de Aquiles. 
 
Personagens Principais: 
A Ilíada é um poema extenso e possui uma grande quantidade de personagens da mitologia grega. Homero assumia 
que seus ouvintes estavam familiarizados com esses mitos, o que pode causar confusão no leitor moderno. 
Acesse a Biblioteca Virtual e veja um resumo dos personagens que tomam parte da Ilíada e um resumo da narração. 
 
Traduções: 
Existem muitas traduções para a Ilíada em português, tanto em verso como adaptações em prosa. A qualidade e 
fidelidade das traduções variam bastante, mas destacam-se três, todas em verso. A mais antiga das três é a de 
Odorico Mendes, feita no século XIX (1874), que possui a peculiaridade de trocar os nomes dos deuses gregos pelos 
seus arquétipos equivalentes latinos. Ou seja, em vez de Zeus, Júpiter, de Poseidon, Netuno, etc. A outra tradução é 
a de Carlos Alberto Nunes, feita em 1962. Por fim, há a tradução de Haroldo de Campos, em uma edição bilíngue em 
dois volumes de 2002 (editora Arx), em versos que buscam resgatar a sonoridade do original grego, inclusive com 
diversos neologismos, Todas as três são consideradas de grande qualidade e têm características próprias. 
 
Temas na Ilíada. 
Embora a Ilíada narre uma série de acontecimentos da guerra de Troia e se refira a uma série de outros, seu tema 
principal é o ciclo da ira de Aquiles, da sua causa ao seu arrefecimento. Isso fica claro logo na primeira linha do 
poema. 
A palavra grega menin, ira, é a primeira do poema, cuja famosa primeira linha é Menin aeide, Thea, Peleiadeo 
Aquileos. Em português seria “Ira canta, Deusa, Peléio Aquiles” ou, adaptando, “Cante, Deusa, a ira do filho de Peleu, 
Aquiles”. 
Através da consumação dessa ira, é tratada a humanização do herói e semideus Aquiles, sempre conflitado por sua 
dupla natureza, filho de deusa e homem e, portanto, mortal. 
A questão da escolha entre valores materiais, como a segurança, a vida longa e valores morais mais elevados, como 
a glória e o reconhecimento eterno é tratada na escolha com que Aquiles se defronta: lutar, morrer jovem e ser 
lembrado para sempre, ou permanecer seguro e ser esquecido. 
A soberba de Aquiles contrasta grandemente com a sobriedade de Heitor, também grande herói, que não busca a 
glória como Aquiles, mas luta pela segurança de sua família, de sua cidade e a preservação de suas raízes troianas. 
A guerra e suas consequências também é tema central na Ilíada, sendo ricamente retratada. 
Veja na Biblioteca Virtual uma visão interessante sobre a interpretação do papel de Homero no mundo grego. 
 
As origens arqueológicas do mundo grego: 
Cronologia: 
 Período Pré-Homérico: séculos XX a XII a.C. 
 Período Homérico: séculos XII a VII a.C. 
 Período Arcaico: séculos VIII a VI a.C. 
 Período Clássico: séculos V a IV a.C. 
 
No séculos XX a.C. os povos indo-europeus enfrentaram os Pelágios que habitavam a região e os dominaram. 
Como a superfície contínua da Grécia era bastante limitada, os gregos passaram a habitar também as ilhas próximas 
que eram numerosas. 
Essas ilhas constituíam a Grécia colonial, composta por terras mais distantes: 
Ásia Menor (Eólia, Jônica, Dória) 
Sul da Itália (Magna, Crécia) 
Costa Egípcia (Náucratis) 
 
A história egeana teve suas origens na ilha de Creta, irradiando-se daí para a Grécia continental e também para a 
Ásia Menor. 
 
Nos tempos Pré-Helênicos - na época neolítica - a Grécia passou por várias ondas de povoamento. Na Tessália foram 
descobertos Sexklo e Dhimini importantes vestígios de comunidades agrícolas e pastoris. 
De 2600 a 1990 a.C., o período dito heládico antigo corresponde ao bronze antigo. o conjunto do território grego 
povoou-se pouco a pouco e as relações marítimas com as ilhas do mar Egeu, estabelecidas há muito tempo, 
intensificaram-se. 
 
A Idade Média Helênica: (do Séc. XI ao VIII a.C.) Referem-se a esse período obscuro os textos de Homero e de 
Hesíodo. A arqueologia revelou a extensão do uso do ferro, o aparecimento de uma nova cerâmica com elementos 
geométricos e a prática da cremação. 
Um movimento de migração e de conquista levou os gregos para a costa da Ásia Menor. Foi aí, sem dúvida, que se 
moldaram, progressivamente, os traços da Grécia Clássica, imediatamente retomados e desenvolvidos no resto do 
mundo helênico. Nesse local apareceu também, a organização política e social da cidade (ou polis), na qual o 
proprietário mais poderoso exercia a função de rei (basileu). 
 
Os Tempos Arcaicos: (do Séc. VIII ao VI a.C) Essa época deve seu nome à arqueologia, que nela situa as primeiras 
manifestações da arte grega. Um regime aristocrático estendeu-se, então, a todas as cidades gregas. 
A realeza do tipo homérico desapareceu e uma minoria de privilegiados pelo nascimento e pela fortuna (os 
Eupátridas) possuía a terra e a autoridade do Séc. VIII a VI a.C. Um vasto movimento de colonização levou a 
fundação de cidade gregas para as costas do Mediterrâneo e do ponto Euxino. 
 
 
- > A competição entre as cidades gregas, tão presente em todos os aspectos da cultura grega, pôde ser 
documentada a partir da época arcaica. 
A rivalidade entre as cidades também é perceptível nos festivais pan-helênicos, entre os quais, os Jogos Olímpicos. 
Era uma ocasião em que se desenvolvia o que já foi classificado de “ uma guerra sem armas” e que propiciava o 
exercício das disputas entre as poleis, em situação controlada, definida por regras. 
É interessante apontar também que esse momento era solenemente aberto por um ritual religioso, o mais 
significativo da religião grega - o sacrifício – do qual participavam, em comunhão, todos os gregos. 
Assim, paralelamente à explicitação da disputa latente entre as cidades pelo reconhecimento da superioridade de 
umas sobre as outras, reafirmava-se a identidade grega frente aos não gregos. Estes não usavam a língua grega, não 
compartilhavam os cultosnem os princípios artísticos que estavam na raiz do que significava “ser grego”. 
Nos Jogos Olímpicos, as disputas entre atletas, somavam-se aquelas entre artistas e poetas, nos concursos que 
ocorriam paralelamente aos jogos. a competição entre as cidades envolvia, pois, os vários tipos de excelência 
entendidos como ideais na cidade grega. 
Ao vencedor cabia tanto a glória individual pelo feito extraordinário realizado como, e talvez principalmente, o 
mérito de ter alçado a sua cidade a uma posição de destaque frente a comunidade pan-helênica. 
O espirito competitivo, como aponta Antonaccio no trecho citado em epígrafe, aparece muito antes do surgimento 
dos santuários pan-helênicos e das próprias cidades gregas. É interessante percorrer a longa trajetória de formação 
das poleis e identificar como a competição é um dos traços marcantes desse processo. 
As fontes escritas não são de muita valia para os estágios iniciais do processo de formação das cidades gregas, mas a 
Arqueologia vem, nos últimos cinquenta anos, fornecendo um excelente conjunto de dados que nos permite propor 
modelos mais sofisticados de interpretação desse processo. 
Podemos citar o estudo sobre a relação entre a religião e a estrutura da cidade antiga, realizado por F. de Polignac. 
esse autor baseia seu olhar em fontes de característica textual tradicionais, como Aristóteles, para as informações 
advindas as escavações da Grécia e área colonial ocidental. 
Ele demonstrou como os santuários urbanos e especialmente os extraurbanos articulavam, por meio de cultos, laços 
entre a população que se agrupava na asty (área que abrigava, além de habitações, as edificações de caráter público) 
e na chora (território arável e onde era praticado o pastoreio, também espaço habitacional) sedimentando a 
interdependência dos dois espaços, um dos elementos que caracterizam a pólis. 
Embora nesta obra Polignac não aborde a questão dos santuários pan-helênicos, a ênfase na relação entre os cultos 
e a dinâmica da vida política na Grécia antiga é uma perspectiva que se adéqua ao estudo do papel dos festivais 
cívico-religiosos na vida das cidades gregas. 
No que diz respeito ao espírito competitivo, característico da cultura grega, dispomos de dados interessantes 
recuperados pelas escavações arqueológicas de vários sítios gregos referentes ao período imediatamente anterior 
ao advento das poleis. Nesta época, inadequadamente chamada de Idade Obscura e, em especial o final do séc.XI e 
ao X a.C., pôde ser documentado, com os achado das necrópoles, a competição entre famílias integrantes de elites 
em formação, visível na quantidade e qualidade do mobiliário funerário. 
Trata-se de famílias que ostentam e reafirmam seu poder construindo monumentos funerários repletos de objetos 
valiosos. Inspirando-se com certeza na tradição oral relativa à época heróica, buscam reproduzir o aparato das 
cerimônias fúnebres devidas aos heróis e que, mais tarde, serão consolidadas por Homero na Ilíada (nos funerais de 
Pátroclo, por exemplo). 
Nessa época, o poder estaria nas mãos daquele que ostentasse maior riqueza - em vida e na morte - e qualidades de 
liderança na condução dos conflitos, certamente frequentes em um momento em que as instituições ainda não 
estavam consolidadas. 
 
Estas chefias podem ser associadas aos basileis descritos por Homero na Odisseia e cujo poder estava baseado no 
consensus, no uso da coerção, no carisma pessoal, riqueza em objetos, terras, produtos com os quais atraíam 
seguidores e aliados. 
A hereditariedade não é direito reconhecido pelos pares, o poder há que ser conquistado e a ostentação de riqueza 
é um dos procedimentos utilizados na competição pela proeminência entre os pares. Na Odisseia, as disputas entre 
os pretendentes ao casamento com Penélope – e por consequência à riqueza e talvez ao poder de Ulisses – e a 
indiferença desses aristocratas diante da figura de Telêmaco podem ser indícios do tipo de autoridade que se 
instituía entre as famílias importantes e ricas. 
A riqueza das oferendas funerárias – com alto índice de objetos em bronze – insere-se, pois, em processo 
competitivo no âmbito de uma elite que, posteriormente, como grupo, estará à frente do poder político nas poleis. 
Assim, as tumbas principescas – como a de Lefkandi, na Eubeia –integram-se ao processo que a Arqueologia vem 
desvendando em sítios da Idade do Ferro Inicial, a partir do final do séc.X , em várias regiões da Grécia 
metropolitana, e que culminará, no séc. VIII, com a emergência da pólis. Para tanto, vale relembrar rapidamente o 
que ocorreu na Grécia antes desse momento. Para isso, basta acessar a Biblioteca Virtual: breve histórico. 
 
Mais uma vez, as escavações arqueológicas trazem evidências do processo em andamento: a partir do final do séc. 
IX, acentuando-se significativamente no VIII, vai sendo perceptível no registro arqueológico um redirecionamento do 
alvo das oferendas valiosas: das tumbas familiares migram para locais de culto. 
Os locais de culto se multiplicam significativamente e, ao mesmo tempo que agrupam comunidades de fiéis em 
torno de cultos comuns, significam a apropriação de um território. Mais tarde, no decorrer do século VII, muitos 
desses centros de cultos serão dotados de uma construção monumental: o templo. 
A aparição do templo documenta a existência de uma comunidade suficientemente estruturada e dotada de um 
poder político capaz de mobilizar recursos e mão de obra na execução de uma grande obra que se constituirá na 
expressão material dessa comunidade. A inserção do templo na paisagem define e demarca o espaço social 
apropriado pela comunidade. É um dos mais significantes sinais da emergência da pólis. 
 
Dado o papel crucial que desempenham na vida das comunidades gregas de todos os períodos, os santuários - 
sejam eles políades ou pan-helênicos - vão se transformando em espaços privilegiados para o exercício da 
competição. Por representar materialmente uma cidade, o templo catalisa a competição com as demais cidades. 
A rivalidade de intercidades passa a ser evidenciada na ostentação de dimensões imponentes e decoração 
extremamente cuidada, na encomenda a artistas famosos de estátuas das divindades protetoras. 
A riqueza das oferendas votivas é um elemento a mais a caracterizar o prestígio e a riqueza de uma pólis. 
 
As Colônias: 
A partir do século VIII a.C., concomitantemente com a emergência das poleis na área balcânica, os gregos espalham 
colônias pelo Mediterrâneo. A área colonial grega do Ocidente é um excelente estudo de caso no que tange à 
competição entre as cidades, incorporando, em um espectrum mais amplo, essa disputa. Por outro lado, o caso 
colonial esclarece,, ao explicitar as suas diferenças, a própria situação das metrópoles. 
As colônias fundadas não tinham obrigatoriamente laços de dependência política ou econômica com as metrópoles, 
mas buscavam preservar e valorizavam muito a sua identidade helênica: conservavam os cultos, os padrões 
arquitetônicos e artísticos em geral, imitavam as novas tendências em todos os campos, importavam filósofos e 
artistas. Ao mesmo tempo, também buscavam assegurar a sua independência. 
A arte provê as colônias de meios efetivos de expressão para demonstrar seu sucesso. Especialmente nos santuários 
pan-helênicos criava-se o ambiente ideal para o desenvolvimento e a exposição da arte. 
 
As Cidades e os Jogos Olímpicos. 
A emergência da cidade como uma forma de estado e uma forma de vida são contemporâneos do surgimento de um 
fenômeno religioso original e, ao mesmo tempo, conseguente desse arranjo político: os santuários "supracidades". 
Nesta categoria, incluem-se os santuários pan-helênicos de Olímpia, Delfos, Nemeia. Localizavam-se afastados das 
maiores cidades da Grécia e, embora sob o controle administrativo de cidades-Estado vizinhas ou de uma anfictiônia,assumiam uma aura de neutralidade. 
Assim, formavam-se em locais ideais para a interação política. 
Eram locais onde gregos podiam encontrar outros gregos em condições de igualdade para competir e estabelecer 
pactos, consignar a superioridade em competições atléticas, ler a propaganda um do outro, sob a forma de 
inscrições dedicatórias, inteirar-se das novidades. 
Sem os santuários pan-helênicos, a cultura grega poderia não ter atingido tal riqueza, decorrente da constante 
exposição a estímulos e variações regionais. Gregos podiam compartilhar com outros gregos as últimas tendências 
em técnicas e tendências em arte, que traziam de diferentes partes do mundo. 
Ou então, como afirma Spivey (Greek Art, p.126): "Quando não estavam lutando em campos de batalha, Delfos 
oferecia a estes estados um stadium para disputas atléticas". 
 
Os santuários pan-helênicos era a arena perfeita para a competição entre todas as cidades integrantes da 
comunidade cultural grega. Se os templos gregos já eram verdadeiros museus de guerra, o mesmo pode ser dito em 
relação aos thesauroi, edificações que as cidades construíam no espaço dos santuários pan-helênicos. 
Além da construção arquitetonicamente bem elaborada - reproduzindo um templo em tamanho menor - e da 
decoração bem cuidada, os tesouros estavam repletos de oferendas valiosas e botins de guerra. sua função era 
claramente propagandística. 
Os botins de guerra eram para serem vistos por todos e possuíam inscrições apropriadas, especificando o vencedor e 
o vencido. Tanto em Olímpia quanto em Delos os tesouros estavam localizados em posição de destaque nos 
santuários, próximos às áreas de maior circulação de visitantes. Quando o grande templo de Zeus foi consagrado em 
Olímpia, um enorme escudo - troféu da guerra vencida pelos Eleanos - foi exposto em posição de destaque sobre o 
pedimento. 
 
Os tesouros era símbolos do poder das cidades que os erigiam, pois abrigavam, como já foi dito, botins e troféus de 
guerra, assinalavam, pelas inscrições, vencedores e vencidos. Em síntese, estavam em sintonia com o ambiente 
altamente politizado do santuário e dos jogos realizados em Olímpia. 
A competição nos santuários proporcionava oportunidades também para o estrelato político; não era por acaso que 
alguns vencedores olímpicos emergiam como políticos de destaque: foi o caso de Cílon, por exemplo. Tucídides 
(1126), ao descrevê-lo, destaca três pontos: sua vitória olímpica, sua origem em uma família nobre e seu poder 
pessoal. 
Também a respeito de Cimom, vencedor por três vezes sucessivas em Olímpia, atribuía-se alta popularidade em 
Atenas, o que gerou desconfiança a respeito de seus propósitos políticos e consequente assassinato pelos agentes 
de Pisístrato. (MORGAN; ATHLETES, p. 212). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
História Antiga Ocidental – Aula 3. 
 
Aula 3: A Formação do Mundo Políade e Sua Desestruturação – Atenas: Um Estudo de 
Caso. 
Ao final desta aula, o aluno será capaz de: 
1. Determinar como teve início a ocupação do território grego; 
2. Analisar as primeiras formas políticas adotadas no território grego; 
3. Identificar as principais estruturas políticas existentes em Atenas durante o governo aristocrático; 
4. Relacionar as novas leis e instituições introduzidas pelos líderes atenienses e o início da democracia; 
5. Identificar as prerrogativas necessárias aos habitantes de Atenas para se tornarem cidadãos; 
6. Destacar os fatores que contribuíram para a desagregação do mundo políade. 
 
A Arqueologia nos permite saber muito sobre os períodos mais remotos da história grega. As escavações de Sir 
Arthur Evans em Cnossos, na ilha de Creta, e outras explorações mais recentes revelam uma sociedade de palácios 
suntuosos que floresceu entre 2000 e 1450 a.C. (Essa sociedade era conhecida como Minoica por causa do lendário 
rei Minos). 
(Na mitologia grega, o rei Minos seria filho de Zeus e da mortal Europa. Ele foi criado com seus irmãos Sarpedon e 
Radamanto pelo rei de Creta. Quando o rei morreu, teria deixado seu trono a Minos, que baniu os irmãos. Sua 
esposa, além dos filhos que lhe dera, seria mãe do mitológico Minotauro). 
 
A Origem da Grécia - Idade do Bronze (2.000 a.C - 1.200 a.C). 
Os habitantes desses lugares não eram gregos, mas sua cultura teve uma influência significativa sobre eles. Por volta 
de 2000 a.C, novos povos se estabeleceram em muitas áreas da Grécia e mesclaram as influências minoicas com seus 
elementos, originando uma nova realidade. 
Nessas áreas, acabaram desenvolvendo sua própria cultura palaciana que durou de 1600 a 1200 em lugares como 
Micenas, Tirinto e Pilos (Período Micênico). Sabemos agora que pelo menos alguns desses povos falavam grego, pois 
centenas de tábuas de argila com inscrições feitas em uma escrita conhecida como Linear B foram encontradas em 
Pilos (Muitos estudos indicam que essas inscrições eram uma forma de grego.) 
Esses palácios teriam sido destruídos por volta de 1200 a. C e ainda não descobrimos exatamente a razão para tal 
devastação. Segue-se, a partir daí, um período de instabilidade: a “Idade das Trevas”(1200-800 a.C), de que os 
gregos se lembravam como uma época de nomadismo e migrações. 
 
Costumamos dividir o território grego em três partes: 
1) Grécia Continental 
2) Grécia Peninsular 
3) Grécia Insular 
 
Idade das Trevas (XII a. C –VIII a.C): 
A Idade das Trevas refere-se a um período de escassez de documentação, seja material ou arqueológica. O que 
sabemos é que houve um grande retrocesso cultural e organizacional. Os gregos, nessa fase, viviam em habitações 
menores e mais distantes, o que indica uma significativa redução populacional. 
Acredita-se que os poemas de Homero – a Ilíada e a Odisseia – sejam os maiores indicativos de como vivia a 
população desse período, mais especificamente a aristocracia (– Aristoi significa - em grego – belo e bem-nascido, ou 
seja, a elite econômica e de nascimento). 
 
Período Arcaico (VIII a.C –VI a.C): 
A unidade política básica da Grécia era a pólis, traduzida como Cidade-Estado. As comunidades gregas eram 
independentes umas das outras, rivalizando-se, inclusive. Assim, devemos lembrar que ao falarmos de Grécia Antiga, 
não estamos nos referindo a um território possuidor de unidade geográfica e sim de comunidades “aparentadas” 
por elementos culturais. 
As comunidades gregas tinham nesse período apenas formas simples de organização política. Aos poucos e com 
muita resistência, os aristocratas passaram a reconhecer a autoridade central de uma só família que detinha a 
realeza. Os reis eram conhecidos pelo nome de basileus. 
Para justificar seu poder perante o restante da população, era comum os aristocratas criarem uma genealogia divina 
ou heroica. Em Atenas, por exemplo, foi o herói Teseu (responsável pela morte do Minotauro, entre outros feitos) 
quem, segundo a tradição, unificou a Ática e deu à cidade um Conselho Central, o Areópago, no qual os aristocratas 
podiam reunir-se. 
Por tradição, os sucessores de Teseu governavam em Atenas como basileus. No entanto, por volta do século VII a.C, 
o rei (basileu) já não exercia grande poder. Era apenas um dentre um corpo de funcionários nomeados anualmente, 
os nove arkhontes (arcontes). 
Esses arkhontes tornavam-se membros vitalícios do Conselho que se reunia de vez em quando no Areópago e 
decidia os destinos da comunidade. Os postos de basileu e arcontes não eram destinados a todos os habitantes da 
pólis. A aristocracia mantinha o seu direito exclusivo aos cargos. Além de aristoi, eles também eram conhecidos pelo 
nome de eupátridas (filhos de bons pais). 
 
Ao longo dos séculos seguintes, muitos homens iriam se ressentir de serem excluídos do poder e alguns passaram a 
explorar os descontentamentos e o poderio militar dos cidadãospara conquistar poder pessoal. 
Uma primeira alternativa para tentar atenuar as insatisfações internas foi a fundação de colônias, as apoikias 
(colônias). A partir do século VIII a.C várias pólis gregas, entre elas Atenas, estabeleceram “colônias” na Jônia, costa 
da Ásia Menor. Posteriormente, a partir de 750 a.C, comerciantes e agricultores descontentes, que desejavam uma 
vida melhor, fundaram na Sicília, no sul da Itália, no sul da França, na Espanha, no norte da África e junto ao Mar 
Negro outras apoikias. 
 
Internamente, aproveitando do clima de perturbação, alguns homens deram golpes e tomaram o poder. Esses 
usurpadores eram conhecidos como tiranos – palavra de origem não grega que não tinha necessariamente 
conotação de crueldade e opressão. (Muitos foram bons administradores, com aprovação popular). Os tiranos eram 
indivíduos que centralizavam o poder em suas mãos. 
 
Segundo a tradição, em 621-620 a.C. o legislador ateniense Drácon publicou um código de leis que se tornou 
proverbial por sua severidade. Esse código pode representar uma tentativa de resposta dos eupátridas ao 
descontentamento geral. 
O Código Draconiano regularizou os procedimentos que tratam do assassinato e, em certa medida, limitou os 
poderes da família de um morto, no que dizia respeito ao seu direito de vingança. O significado desse código é mais 
simbólico, pois, a partir dele, percebemos os primeiros indícios da afirmação do controle central sobre os laços de 
lealdade locais. 
Além de todos os problemas que atingiam os atenienses no final do século VII a.C, a questão da propriedade agrícola 
era cada vez mais significativo. Os camponeses eram muito prejudicados pelas dívidas. Para manter sua propriedade, 
muitos contraíam débitos que não conseguiam pagar. Como solução, eram convertidos ao status de escravos (Essa 
instituição era conhecida como escravidão por dívidas). 
 
A crescente insatisfação e instabilidade criava as condições para a tirania. Como alguns tiranos tinham o discurso da 
redistribuição das terras e o cancelamento das dívidas, recorrer a eles podia parecer solução atraente. 
Nesse momento, em 594-93 a.C, Sólon foi nomeado arconte em Atenas e tentou oferecer soluções para os 
problemas da época. Aliviou a pressão das dívidas que levavam à escravidão. Sua solução foi chamada de 
seisákhteia. Definiu quatro classes com base na riqueza agrícola (pentacossiomedinos, zeugitas, tetes e hippeis). 
A partir desse momento, os mais ricos na sociedade, fossem ou não eupátridas, passaram a poder ocupar os 
principais cargos da cidade. Isso significava que, não apenas os nascidos nas famílias tradicionais teriam acesso à 
política. Sólon foi responsável também pela instituição de um Conselho popular (Boulé), com quatrocentos 
membros. Esse Conselho convivia paralelamente com o Areópago. 
 
A despeito das reformas de Sólon, os aristocratas de Atenas continuaram a lutar por seu direito à liderança na 
comunidade ateniense. Em 561-560 a.C, um desses homens, Pisístrato, herói militar, ganhou o apoio popular e 
tomou o poder em Atenas como tirano. 
Seu controle esteve longe de ser inquestionável. Foi derrubado do poder duas vezes por seus inimigos políticos. 
Consolidou a tirania em Atenas anos mais tarde e, a partir de então, conseguiu permanecer no poder até sua morte, 
em 528-27. 
Seu governo não pode ser reconhecido como realizador de mudanças radicais no âmbito da política. Garantiu 
apenas que seus amigos estivessem entre os arcontes. Em outras áreas, no entanto, obteve grandes êxitos: 
grandiosos projetos de edificações, a bela cerâmica de figuras negras das oficinas atenienses e a remodelação do 
festival das Grandes Panateneias. 
Pisístrato conseguiu deixar um sucessor, seu filho, Hípias. O jovem enfrentou uma crescente oposição aristocrática, 
mesmo por parte de homens que haviam colaborado com seu pai. 
 
Em 514 a.C, dois amantes aristocratas, Harmódio e Aristogíton, tramaram o assassinato de Hiparco (irmão de Hípias). 
Na procissão das Panateneias, os conspiradores entraram em pânico. Hiparco foi assassinado, mas Harmódio foi 
morto no atentado e depois Aristogiton morreu sob tortura. Hípias sobreviveu e sua tirania tornou-se ainda mais 
severa. Isso fez com que a oposição a seu governo crescesse e ele acabasse deposto. 
Os aristocratas atenienses solicitam ajuda de Esparta para derrubar o tirano e as rivalidades entre facções 
aristocratas aumentaram. O vitorioso dessa contenda foi Clístenes, que empreendeu uma série de reformas que 
permitiram o nascimento da democracia. No entanto, não podemos considerá-lo o criador da democracia, pois não 
foi um processo deliberado. 
Ele criou o conceito de isonomia. Todos os cidadãos passaram a ser considerados iguais perante a lei. Implantou 
ainda a participação direta do povo, a partir do comparecimento na Assembleia - Eclésia, que votava nas leis 
preparadas pela Bulé ou Conselho dos 500. A justiça era distribuída pela Heliae, formada por 12 tribunais e o 
comando do exército cabia ao estrategos, em número de dez, escolhidos pela Eclésia para um mandato anual. 
Com a finalidade de preservar a cidade de Atenas, Clístenes instituiu o ostracismo, que consistia em um exílio 
forçado dos maus cidadãos. Para isso, o nome do indivíduo era escrito em um pedaço de argila chamado ostrakon, 
Quando a maioria votava pela expulsão, o cidadão perdia seus direitos políticos, sem perda dos bens. Depois de dez 
anos, a pessoa banida podia voltar à cidade e recuperar todos os seus direitos de cidadão. Esse costume prevaleceu 
até o final do século V a.C. 
“Entenda que, para os atenienses, ser cidadão significava ser homem, maior de 25 anos, filho de pai e mãe 
atenienses e livre. Dessa forma estavam excluídas mulheres, estrangeiros (METECOS) e escravos, além dos menores 
de 25 anos. 
Isso não quer dizer que Atenas fosse uma democracia deformada. Não podemos esquecer que é equivocado 
comparar sociedades antigas com valores atuais. Logo, dentro da lógica estabelecida, os cidadãos eram iguais 
perante as leis sim. 
Outro elemento importante da democracia ateniense é o modo de escolha de seus magistrados. Na maioria das 
funções, a maneira de acesso é o sorteio do qual qualquer cidadão poderia participar.” 
 
Guerras Médicas: 
No decorrer da formação de seu amplo império, os persas tiveram o domínio sobre várias regiões. Em seu processo 
de expansionismo, a partir do século V a.C, começaram a esbarrar nos interesses gregos, na Àsia Menor. Os jônios, 
colonos gregos dessa região, solicitaram apoio militar das polieis de Erétria e Atenas contra seus inimigos e o 
resultado foi o início dos conflitos genericamente conhecidos como Guerras Médicas. O que estava em jogo era o 
controle marítimo-comercial na região. 
No primeiro confronto, surpreendentemente, 10 mil gregos, liderados pelo ateniense Milcíades, conseguiram 
impedir o desembarque de 50 mil persas, vencendo-os na Batalha de Maratona, no ano de 490 a.C. Os persas, 
entretanto, não desistiram. Dez anos depois voltaram. As poleis gregas esqueceram suas divergências internas e se 
uniram contra o inimigo comum. Os persas foram vencidos em Salamina (480 a.C) e Plateia (479 a.C). 
Apesar do êxito, o temor de que houvesse um novo ataque persa persistiu, o que levou as poleis a se unirem em 
uma confederação, a Liga de Delos. Cada pólis deveria contribuir com navios, soldados e dinheiro. Atenas aproveitou 
sua liderança sobre a liga e passou a utilizar o dinheiro em benefício da comunidade. Várias construções foram 
realizadas. Atenas entrou em uma fase de grande prosperidade. 
Nessa época, se destaca o governo de Péricles, responsável pelo aprimoramento da democracia ateniense. A ação 
dos atenienses de utilizar os recursos da Liga de Delos e punir aquelas poleis que se rebelaram, logo motiva uma 
articulação. 
Lideradas por Esparta, várias cidades daGrécia Antiga fundaram a Liga do Peloponeso. Tal associação visava 
combater a hegemonia de Atenas e da Liga de Delos. Entre 431 e 417 a.C., as várias cidades-Estado gregas se 
envolveram em um penoso conflito que ficou conhecido como a Guerra do Peloponeso. 
Após a vitória na Batalha de Egos Pótamos, os espartanos exerceram uma política semelhante a de Atenas causando 
novos conflitos. Essa constante hostilidade no mundo grego esgotou seu poderio militar e os tornou vulneráveis a 
ataques externos e, nesse momento, do rei Felipe II da Macedônia. Teve fim a autonomia das poleis gregas que 
passaram a integrar o Império Macedônio. 
 
 
 
 
 
 
História Antiga Ocidental – Aula 4. 
 
Aula 4: A Cultura do Mundo Grego. 
Ao final desta aula, o aluno será capaz de: 
1. Identificar a importância da produção cultural grega para a formação do universo mental de diversos povos 
antigos; 
2. enumerar as principais áreas de conhecimento desenvolvidas no mundo grego; 
3. determinar os principais componentes da religiosidade no mundo grego; 
4. apontar as diversas finalidades do teatro para o homem grego; 
5. relacionar a origem da filosofia e das ciências no mundo grego às suas tentativas de compreensão do universo em 
que viviam; 
6. explicar por que os elementos da cultura grega foram absorvidos pelos povos que os subjugaram; 
7. detectar as permanências da cultura grega no mundo contemporâneo. 
 
Todas as sociedades antigas nos legaram contribuições culturais. No entanto, os gregos são sempre citados pois, 
certamente, nenhuma dessas sociedades apresentou a diversidade por eles experimentada. Enquanto nos 
lembramos dos egípcios por suas pirâmides e monumentos, podemos associar aos gregos conhecimentos de vários 
matizes. A eles atribuímos a criação da filosofia, do teatro, da história, além de descobertas no âmbito da 
matemática, das artes plásticas, da literatura. 
Para não sermos injustos, devemos considerar a problemática da conservação e difusão cultural. Isso significa que 
não sabemos muito sobre outros povos da Antiguidade porque, provavelmente, muita coisa se perdeu ao longo dos 
séculos. No entanto, os gregos também passaram pelas intempéries temporais. Então, por que sabemos tanto sobre 
sua cultura? 
Bem, esse é o primeiro conceito com que você deve se familiarizar; conhecemos tanto sobre eles graças ao 
HELENISMO. 
Alexandre, o grande, rei da Macedônia, conquistou vários territórios, dentre eles, a Grécia. Por admirar 
profundamente a cultura grega, em cada território dominado, criava centros de irradiação cultural que promoviam a 
divulgação do saber científico e das formas artísticas e literárias do mundo grego. Houve, é claro, uma mistura com 
os valores culturais desses outros povos. O resultado é o HELENISMO. 
(A Grécia era conhecida pelo nome de Hélade, ou seja, terra dos helenos. Seria uma referência a um personagem 
mítico, Heleno, cujos filhos seriam os primeiros ocupantes do território. A Macedônia de Alexandre era um território 
imediatamente acima da Grécia, portanto, tinha traços culturais semelhantes. Por conta disso, o período de 
dominação macedônia sobre os gregos, que durou de 336 a. C até a conquista romana, em 146 a. C é chamado de 
Período Helenístico. Alexandre, que havia sido educado pelo filósofo Aristóteles, como vimos, cuidou da difusão 
desse conhecimento. Dessa forma, a religiosidade, os costumes, a literatura e a língua grega se transformaram no 
padrão para as pessoas cultas de então). 
Ao longo dos séculos, muitos componentes da cultura grega ainda serviram de referência. Nos séculos XIV-XV, por 
exemplo, houve uma retomada dos padrões clássicos durante o Renascimento. 
Renascimento foi um movimento cultural dos séculos XIV - XV e XVI, cujo berço foi a Itália, e que produziu nomes 
como Leonardo da Vinci, Michelangelo, Rafael, entre outros. Um dos princípios seguidos pelos artistas era o 
chamado Classicismo, ou seja, valorização da Antiguidade Clássica como padrão por excelência do sentido estético. 
Vamos conhecer então essa cultura maravilhosa a partir de seus tópicos principais. 
 
Religiosidade: 
A religiosidade grega era baseada na MITOLOGIA: Conjunto de narrativas dos antigos gregos sobre seus deuses e 
heróis, através das quais eram explicados fatos do cotidiano, ritos e até a criação do mundo. Essas narrativas, que 
durante séculos foram transmitidas oralmente, apresentaram variações e serviram de material para as peças 
teatrais. 
Politeísmo é a crença em vários deuses. Os deuses gregos eram homens superlativizados, ou seja, possuíam os 
mesmos defeitos e qualidades dos humanos, no entanto, se distinguiam deles por serem ATHANATOI (imortais) e 
poderosos. Devemos observar que sua definição é menos automática do que parece. Temos exemplos que nos 
permitem notar o conceito de politeísmo associado ao monoteísmo de grupo, existem muitos deuses, mas somente 
um nos representa. O politeísmo aparece bastante em estruturas sociais com múltiplas origens, constituindo 
panteões específicos. 
O Panteão grego era formado por uma grande variedade de deuses, dentre os quais podemos citar: 
 Zeus – Senhor do Olimpo. (Nome latino: Júpiter) 
 Hera – esposa e irmã de Zeus, deusa da família e do matrimônio. (Nome latino: Juno) 
 Ares – deus da guerra. (Nome latino: Marte) 
 Afrodite – deusa do amor. (Nome latino: Vênus) 
 Atená – deusa da sabedoria. (Nome latino: Minerva) 
 Deméter – deusa da fertilidade. (Nome latino: Ceres) 
 Hermes – mensageiro dos deuses. (Nome latino: Mercúrio) 
 Artémis – deusa da caça. (Nome latino: Diana) 
 Hefaistos ou Hefestos: deus da metalurgia. (Nome latino: Vulcano) 
 Hades – deus do mundo subterrâneo. (Nome latino: Plutão) 
 Poseidon – deus dos mares e oceanos. (Nome latino: Netuno) 
 
Além dos deuses, os gregos também acreditavam nos heróis ou semideuses, filhos de deuses e deusas com 
humanos, tais como: Herácles ou Hércules, Odisseus, Aquiles, Teseu e em entidades como faunos, musas e ninfas. 
A religiosidade dos gregos era vivenciada em público, ou seja, através de festivais, procissões. A base do 
relacionamento entre homens e deuses era a permuta, ou seja, o mortal reconhece seu poder e consegue, por isso, 
ser agraciado. 
O templo era a morada dos deuses, não lugar de reunião entre os crentes. Em geral, possuíam em seu interior uma 
imagem do deus ali adorado ou algo que o simbolizasse. A adoração aos deuses era processada no exterior do 
templo, ao leste. Essa é uma das razões para o exterior dos templos ser o lugar das decorações arquitetônicas mais 
elaboradas - homenagem aos deuses. 
Na religiosidade grega, não havia culto estabelecido com rígidas regras, não havia verdade revelada, nem livro 
sagrado. Os sacerdotes eram sorteados anualmente entre os cidadãos.Quando desejavam conhecer a vontade dos 
deuses, os cidadãos iam a um vidente (Mânthis) ou aos oráculos. O mais famoso deles foi o Oráculo de Delfos. 
A ideia de culpa, pecado, bem como a preocupação com a vida após a morte eram totalmente desconhecidos pelos 
gregos. Apenas alguns grupos minoritários as utilizavam, tal como o Orfismo. 
 
Orfismo era uma crença criada a partir dos séculos VII e V a.C. Seu fundador teria sido o poeta Orfeu que desceu ao 
Hades e retornou. Os mistérios órficos prometiam uma vida melhor após a morte. 
Quando morriam, os gregos acreditavam que os indivíduos passavam a habitar o mundo subterrâneo, denominado 
Hades, cuja entrada era protegida pelo cão Cérbero. A entrada era separada do interior pelo rio Estige, cuja travessia 
era feita pelo barqueiro Caronte. Os recém chegados tinham que pagar para fazer a travessia, por isso, os mortos 
eram enterrados ou cremados com moedas sobre os olhos para que tivessem com que pagar o barqueiro. 
Para agradar aos deuses, os gregos faziam sacrifícios, geralmente, os primeiros frutosde uma colheita ou uma 
novilha. Oferecendo-se o melhor aos deuses, eles acreditavam que estabeleciam uma relação de reciprocidade e 
assim, esperavam receber também o melhor. 
Os festivais aumentaram em número e grandiosidade no século V a.C. Ocupavam grande parte do ano cívico de cada 
pólis. Embora fosse prática cada comunidade ter seu deus protetor, eles costumavam homenagear outros deuses 
também. O Teatro, que veremos à frente, surgiu desses festivais, ou seja, tinham uma função religiosa. 
Em geral, participavam dos festivais todos os habitantes da pólis, mesmo os escravos e estrangeiros (metecos). 
 
Literatura e Teatro: 
Em todas as sociedades, os indivíduos narram histórias, seja verídicas ou ficcionais. Os gregos não eram diferentes e, 
no início de sua civilização, as transmitiam uns aos outros oralmente. 
Os autores dessas narrativas eram chamados de rapsodos e, um dos mais conhecidos era HOMERO. 
Homero é um personagem controverso. Alguns historiadores questionam, inclusive, se existiu de fato. Como em seu 
tempo as obras eram transmitidas oralmente, muitos acreditam que os versos a ele atribuídos, na verdade, foram a 
condensação de contribuições de diferentes indivíduos. 
Homero teria escrito doas obras que nos ajudam a remontar períodos bem remotos da História grega. O gênero 
literário por ele desenvolvido era chamado de EPOPEIA. 
Gênero narrativo em que são descritas as aventuras de heróis; poema épico em que são mesclados fatos históricos 
entrelaçados com lendas, as duas mais conhecidas foram a Ilíada e a Odisseia. Ambas descreviam fatos ligados à 
Guerra de Troia. 
A partir do séc. VIII a.C., os gregos desenvolveram seu próprio sistema de escrita, o primeiro totalmente fonético, ou 
seja, com símbolos que representam as consoantes e vogais. Isso facilitou significativamente a materialização das 
histórias anteriormente cantadas. 
Outro autor digno de nota desse período é Hesíodo. Através de suas obras conhecemos um pouco mais sobre o 
período arcaico. Três poemas são, em geral, a ele atribuídos. A TEOGONIA, O TRABALHO E OS DIAS e O ESCUDO DE 
HÉRCULES. 
A literatura grega sobreviveu até hoje graças ás cópias e recópias que foram feitas ao longo dos séculos. Esse 
processo, como sabemos, levou à perda de muitas obras porque os copistas inseriam observações pessoais, novos 
versos, faziam as chamadas interpolações. Além disso, muito se perdeu porque não foi considerado adequado e 
digno de preservação. 
De alguns autores, citados como bastante profícuos por seus contemporâneos, temos somente fragmentos ou 
apenas a lembrança de seus nomes. É o caso, por exemplo, da poetisa Safos, da ilha de Lesbos. 
Nos séculos seguintes, foram desenvolvidos dois novos gêneros literários: a tragédia e a comédia. Essas obras eram 
apresentadas nos teators por ocasião da celebração dos festivais em homenagem a Dionísio, o deus do vinho. 
O ápice do teatro, criado durante o governo do tirano de Atenas, Pisístrato (séc. VI a.C.), foi no chamado período 
clássico, ou seja, o período seguinte. 
O Teatro na Antiguidade tinha muitas mais funções que o Teatro moderno. Além de entretenimento, era uma festa 
religiosa, uma oportunidade de convívio social e uma forma de educar bons cidadãos. 
Em Atenas, as peças eram encenadas no teatro de Dionísio, logo abaixo da Acrópole e chegavam a ser assistidas por 
quase 14 mil pessoas. 
Nos festivais cômicos, eram apresentadas cinco peças de cinco autores distintos. Nos festivais trágicos, três autores 
encenavam quatro peças cada: três tragédias e um drama satírico. Os autores competiam nesses festivais. 
Os principais autores trágicos foram: 
1) Ésquilo (525-456 a.C) - de quem nos restam sete obras, sendo as principais: PROMETEU e OS SETE CONTRA TEBAS. 
2) Sófocles (496-406 a.C.) - de quem nos restam sete obras, sendo as principais: ANTÍGONA e ÉDIPO-REI. 
3) Eurípides (485-406 a.C) - de quem nos restam dezenove obras, sendo as principais: MEDEIA e AS TROIANAS. 
Nas comédias, o principal nome é Aristófanes que, em suas peças, fazia críticas à sociedade, indivíduos e política 
ateniense. 
As encenações eram custeadas por homens abastados e os atores eram sempre homens, que representavam vários 
papéis na mesma peça. Eles usavam máscaras que cobriam seus rostos e indicavam se estavam felizes ou tristes. O 
público sabia o sexo do personagem pelas roupas e perucas que portavam. As peças, a partir do século IV a.C 
passaram a ser repetidas, sobretudo, após o domínio macedônio. 
 
Matemática: 
Pitágoras (525 a.C), para escapar da tirania em sua terra, migrou para o sul da Itália, onde fundou uma escola em 
que ensinava um novo mundo, um novo modo de vida. Lá, ele fez uma série de descobertas sobre a relação da 
natureza com o mundo. 
Os pitagóricos sugeriram que o número está no centro da realidade. Uma das grandes contribuições de Pitágoras foi 
seu teorema, que todos estudamos na escola até hoje: a soma do quadrado dos catetos é igual ao quadrado da 
hipotenusa. 
Os gregos eram seduzidos pela Matemática por sua precisão e também eram fascinados pelo problema do infinito. 
Um outro matemático, Zenão de Eleia (490 a.C) afirmou que se cortássemos uma linha ao meio, isso poderia ser 
feito indefinidamente. Outros estudiosos que podem ser citados: Tales de Mileto e Parmênides. 
 
Medicina: 
Até onde sabemos, os gregos foram os primeiros a transformar a medicina em algo mais sistematizado. O principal 
defensor dessa medicina racional foi Hipócrates. Ele fundou uma “escola” de medicina e escreveu alguns tratados 
como SOBRE A DOENÇA SAGRADA. Seu juramento é proferido até hoje pelos formados em medicina. 
Para os gregos, as doenças eram resolvidas a partir do equilíbrio entre os elementos que compunham o corpo, os 
chamados humores. Através de dietas, sangrias, purgativos e cirurgias, esses humores eram reequilibrados e as 
doenças sanadas. 
A força da medicina grega estava no prognóstico, isto é, na cuidadosa observação dos rumos que a doença tomava, 
de modo que, quando surgiam sintomas semelhantes, os médicos poderiam prever a evolução da doença. 
Eles já possuíam conhecimento de cirurgia, especialmente do tratamento de ferimentos de guerras e da 
comparação de dados conseguidos com a dissecação de animais. Eles não dissecavam humanos por questões 
religiosas. 
 
História: 
Os gregos consideravam o próprio passado e passaram a repensá-lo inventando a História (significa pesquisa, 
indagação). Quando os gregos passaram a colonizar outras regiões, houve a necessidade de criar uma espécie de 
guia para os colonos onde eram informados os costumes locais, a descrição da geografia, enfim, narrativas sobre 
aquele povo. Assim, nasceu a História. 
Heródoto, que descreveu os fatos das guerras médicas, era considerado o Pai da História. Seu método de narrativa 
era totalmente inusitado. Ele introduziu perguntas: Como? Por quê? Em relação aos eventos sobre os quais 
dissertava. 
Além disso, integrou em sua obra os costumes, a cultura dos povos que haviam entrado em contato com os gregos. 
Ao introduzir esses elementos, ele estabeleceu uma “postura” histórica: os indícios devem ser, na medida do 
possível, verificados por indagações e pesquisas. 
Outro nome digno de menção é o de Tucídides, que narrou em sua História da Guerra do Peloponeso, todos os fatos 
que cercaram essa luta fratricida. Nessa obra, ele excluiu o “romance”, as conversas e priorizou os aspectos militares 
e políticos da guerra. Iniciou uma tradição analítica, pois considerou as mudanças ano a ano do conflito. 
 
Filosofia: 
A palavra Filosofia significa amor à sabedoria. Muitos homens, desde os primórdios da História grega, passaram a 
refletir sobre a natureza humana, o universo e fizeram descobertas que permanecem até os nossos dias. 
A Filosofia surgiu no período arcaico com a Escola de Mileto. Para osseguidores dessa escola, todos os elementos da 
natureza vinham de um elemento básico (a água, o ar ou a matéria). Nessa escola destacaram-se Anaxímenes e 
Anaximandro. Tales de Mileto e Pitágoras, já citados, eram filósofos matemáticos. 
No século V a.C surgiram os sofistas, que se dedicavam ao ensino da retórica e os outros assuntos aos jovens 
atenienses abastados. Muito os viam com maus olhos, mas o fato é que eles estiveram à frente de um movimento 
que considerava o homem e não o mundo físico como centro do debate intelectual. 
Um dos grandes nomes do sofismo era Protágoras que afirmava: “O homem é a medida de todas as coisas”. Eles não 
acreditavam em verdades absolutas e defendiam que havia diferentes visões sobre o mundo e as coisas. 
No final do século V a.C, a ciência e a filosofia começaram a formar ramos distintos de conhecimento. A filosofia 
passou a se preocupar especialmente com o homem, a ética e a estética. Surgiu então a chamada Escola Socrática, 
baseada em seus ensinamentos. 
Sócrates não deixou seu conhecimento escrito e o que sabemos de seu pensamento foi o que seus discípulos 
citavam. Como educador era preocupado em conhecer o indivíduo e os segredos do universo. Foi o autor da célebre 
frase: “Só sei que nada sei” 
Sendo um dos maiores filósofos de todos os tempos, morreu em 399 a.C condenado pela democracia a tomar cicuta. 
Foi acusado de tentar corromper a juventude ateniense e introduzir novos deuses . 
Criou um método chamado Maiêutica (parto em grego), pois partia do pressuposto de que o conhecimento estava 
em cada um e devia ser “parido”. Dizia que, como sua mãe era parteira, ele também era, mas que fazia nascer a 
sabedoria. 
Desinteressado da física e preocupado apenas com as coisas morais, Sócrates em sua obra era capaz de regular a 
conduta humana e orientá-la no sentido do bem. A virtude supõe o conhecimento racional do bem, razão pela qual 
se pode ensinar. Teve muitos seguidores, dentre os quais podemos citar Platão, e Xenofonte. 
Seu discípulo Platão, nascido em 428 a.C, vinha de uma família aristocrática. Depois da morte de seu mestre, 
empreendeu uma série de viagens. Voltando a Atenas, fundou a Academia, sua célebre escola. 
Era vivamente interessado pela vida política de sua pólis e fazia sérias críticas à democracia. Costumava dizer que o 
homem comum era incapaz de tomar decisões políticas inteligentes e que, para liderar, deveria haver conhecimento 
intelectual. Segundo Platão, o conhecimento humano era dividido em duas partes: o conhecimento sensível, 
particular, mutável e relativo, e o conhecimento intelectual, universal, imutável, absoluto, que ilumina o primeiro 
conhecimento, mas que dele não se pode derivar. Pregava, ainda, que a moral individual deveria ser acompanhada 
de uma mudança na sociedade, afirmando existir um mundo perfeito, o mundo da ideias. 
Escreveu várias obras das quais destacamos a República, onde explicava as regras para um governo perfeito, criando 
ainda uma hierarquia para as formas de poder existentes, dividindo-as em perfeitas e imperfeitas... 
O principal discípulo de Platão foi Aristóteles. É considerado o filósofo que mais influência exerceu no mundo 
Ocidental. Defendia o escravismo ao afirmar que alguns indivíduos nasceram para ser escravos. Em 343 foi 
convidado por Filipe II da Macedônia, para tornar-se preceptor de Alexandre, então com treze anos. Lá permaneceu 
por três anos. De volta a Atenas, em 335, Aristóteles fundou sua escola. 
O filósofo valorizava a inteligência humana, única forma de alcançar a verdade. Fez escola e seus pensamentos 
foram seguidos e propagados pelos discípulos. Pensou e escreveu sobre diversas áreas do conhecimento: política, 
lógica, moral, ética. 
O Liceu, também chamado de Escola Peripatética, devido ao costume de dar lições, em amena palestra, passeando 
pelos jardins do ginásio de Apolo, foi muito frequentado. Esta escola seria a grande rival e a verdadeira herdeira da 
velha e gloriosa academia platônica. Publicou muitas obras de cunho didático, principalmente para o público geral. 
Valorizava a educação e a considerava uma das formas de crescimento intelectual e humano. Sua grande obra é o 
livro Organon, que reúne grande parte de seus pensamentos. 
Como vimos, a cultura grega é bastante diversificada. Que tal buscar mais informações sobre os personagens aqui 
citados e ler sua produção intelectual? Certamente você se impressionará ainda mais com esse povo tão distante 
cronologicamente, mas tão próximo de nós culturalmente. 
Até a próxima aula! 
 
 
História Antiga Ocidental – Aula 5. 
 
Aula 5: A Crise de sistema Políade e ascensão dos Macedônios 
 
Ao final desta aula, o aluno será capaz de: 
1. Observar os aspectos da Guerra do Peloponeso; 
2. Analisar as críticas de Aristóteles ao sistema democrático; 
3. Identificar os aspectos que permitiram entender o crescimento dos macedônios; 
4. O governo de Alexandre e o helenismo; 
5. A relação entre Grécia e Roma. 
 
Guerra do Peloponeso: 
Como conhecemos a história da Guerra do Peloponeso? 
Temos um cronista de guerra, alguém capaz de nos contar com detalhes das batalhas, dos feitos, realizados pelos 
gregos. Será? 
Será que estudar a história é isso? Achar o relato de um contemporâneo e usar o que ele nos conta para sabermos 
com detalhes o que aconteceu no passado? 
Isso passa pela compreensão do que é história, de qual é o seu objetivo... Antes de passarmos para a Guerra 
propriamente dita, vamos conhecer um pouco a grande opositora de Atenas: Esparta??? 
Esparta era uma pólis situada na região conhecida como Lacedemônia. Baseava seu modelo político em uma 
oligarquia governada por dois reis. Após o século VI a.C, houve uma diminuição de sua produção cultural e 
fortalecimento de um modelo militarista. 
Os espartanos chamavam seus cidadãos de esparciatas. Sua educação iniciava-se por volta dos 7 anos, quando eram 
obrigados a viver com os demais cidadãos da pólis em um regime de caserna. Eram fisicamente habilitados à luta, 
aprendendo a sobreviver ao frio e à fome. As meninas também eram obrigadas à prática da atividade física para se 
tornarem boas “parideiras”. 
Ao nascerem, as crianças eram conduzidas aos éforos, que avaliavam suas características físicas. Caso possuíssem 
algum tipo de deformidade, eram jogadas do Monte Taigeto por não servirem aos interesses da comunidade. Para 
manter esse modelo, os espartanos submeteram populações vizinhas da Lacônia e constuitíram duas formas de 
submissão: os periecos e os hilotas. Os periecos poderiam se dedicar às atividades comerciais e ao artesanato. Não 
possuíam direitos políticos e gozavam de autonomia limitada. Contribuíam com impostos e eram obrigados a servir o 
exército espartano em unidades diferenciadas. Os hilotas eram subordinados, exerciam atividades bastante pesadas 
e pagavam tributos. Eram mantidos em suas terras o que os faziam ainda mais revoltados. Os espartanos viviam 
temerosos de uma rebelião desse grupo. 
 
Atenas, como vimos na última aula, vem de um grande desenvolvimento cultural. A cidade (pólis) é construída em 
torno da valorização da escrita. Seus referenciais de poder passam necessariamente pelo desenvolvimento da 
filosofia e do pensamento escrito. Esse elemento é central dentro de Atenas. 
Após as vitórias diante dos persas, Atenas passa a ser o centro do poder grego, a liderança da liga de Delos. Cobra 
impostos, o que garante sua posição de representante máxima dos exércitos. 
Esparta, tradicional potência militar da região do Peloponeso, inicia uma sistemática resistência ao crescimento 
ateniense. O ponto crítico se dá quando os Coríntios se recusam a permanecer na liga de Delos e os espartanos 
afirmam que, se houvesse qualquer ataque a esses, a guerra começaria. 
E assim se fez. Certeza? 
A guerra do Peloponeso é diferente de outras

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