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Normas Fundamentais do NCPC

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
 Professor Leandro Valladares (Curso Ênfase) 
NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL 
O novo CPC traz um primeiro capítulo (artigos 1º a 12) que diz respeito às normas fundamentais e da aplicação 
das normas processuais. O capítulo se chama Normas Fundamentais do Processo Civil. 
Vários dos princípios e normas fundamentais desse primeiro capítulo já são conhecidas pelo Direito. Alguns 
princípios são novos e outros já eram previstos na CF/88 e foram positivados no CPC. Aqueles já previstos na 
CF foram detalhados no novo CPC. 
Art. 1o O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas 
fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as 
disposições deste Código. 
 
1. Princípio do Acesso à Justiça ou Princípio da Inafastabilidade do Controle Jurisdicional: artigo 3º 
Já tem previsão constitucional específica: artigo 5º, XXXV, CF/88. O Poder Judiciário não deixará de apreciar 
qualquer lesão ou ameaça de lesão a direito. A atuação do PJ pode ser reparatória no caso de lesão, ou inibitória 
no caso de ameaça de lesão. 
Art 5°, XXXV: a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; 
Nesse ponto, o novo CPC quis trazer dois temas importantes: 
a) Arbitragem: 
O procedimento arbitral foi trazido pela Lei 9307/96 em que se criou a possibilidade dos cidadãos optarem 
por não resolverem a lide no Poder Judiciário e elegerem uma pessoa maior, capaz, imparcial, por meio de 
cláusula compromissória ou compromisso arbitral, denominado pela legislação de árbitro, para que este 
pudesse dirimir os seus conflitos com definitividade. 
Em primeiro lugar, essa opção pela arbitragem foi muito questionada sob a luz da CF/88 e alguns 
questionavam se essa exclusão do PJ era constitucional ou não, se iria ferir o artigo 5º, XXXV. Pois, se a partir 
do momento que a parte optasse pela arbitragem, não poderia recorrer ao PJ, estaria violado o Princípio do 
acesso à justiça. 
Todavia, o STF, em 2001, por meio de uma homologação de sentença estrangeira (5206) - que até 2004 era de 
competência do STF e não do STJ - fixou a constitucionalidade da exclusão da via judicial por meio do 
procedimento arbitral. 
Portanto, desde 2001, o STF entendeu que a arbitragem era constitucional e não feria o princípio de 
inafastabilidade jurisdicional. As partes possuem a possibilidade de optar pela via arbitral ou pela via 
jurisdicional. Portanto, faz parte da autonomia da vontade. 
Nesse sentido, o artigo 3º, §1º do NCPC, apenas reforça a legalidade do procedimento arbitral. 
 Art. 3o Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito. 
 § 1o É permitida a arbitragem, na forma da lei. 
 
Questão: Qual a natureza jurídica do procedimento arbitral? 
Ainda na vigência do antigo CPC, a ministra Nancy Andrighi, em um conflito de competência, fixou o entendimento de 
que a arbitragem possui natureza jurisdicional. Inclusive o STJ seria competente para dirimir conflitos de arbitragem 
entre o Poder Judiciário e o tribunal arbitral. 
Portanto, além do STF entender que a arbitragem é um procedimento constitucional, tendo o artigo 3º, §1º do NCPC 
reforçado esse entendimento, estabelecendo que é permitida a arbitragem, o STJ entende que a arbitragem é uma 
atividade jurisdicional. 
OBS 1: A decisão do árbitro é chamada de sentença arbitral. E de acordo com o artigo 515 do NCPC a sentença 
arbitral é um título executivo judicial que prescinde/dispensa/independe de homologação/exequatur ou 
qualquer confirmação do Poder Judiciário. Tanto a sentença cível quanto a sentença arbitral são espécies do 
gênero títulos executivos judiciais. Portanto, não é tecnicamente correto dizer que a sentença arbitral é 
equiparada a sentença jurisdicional. Até porque o STJ fixou o caráter jurisdicional da arbitragem. 
O artigo 515 estabelece que a sentença arbitral é um título executivo judicial. 
Art. 515: São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo com os artigos 
previstos neste Título: 
 VII - a sentença arbitral; 
 
Todavia, o árbitro não tem poder de coação para efetivar as suas próprias medidas. Essa sentença arbitral deve 
ser executada perante o Poder Judiciário. É um título executivo judicial, mas a sua eventual execução, o seu 
cumprimento, deve ser feito perante o Poder Judiciário. O artigo 516 do NCPC trata da competência para 
executar nesse procedimento arbitral. 
 
 Art. 516: O cumprimento da sentença efetuar-se-á perante: 
III - o juízo cível competente, quando se tratar de sentença penal condenatória, de sentença arbitral, de 
sentença estrangeira ou de acórdão proferido pelo Tribunal Marítimo. 
 
Conclusão: É título executivo judicial executado no Poder Judiciário. A sua execução ocorre por meio de 
processo autônomo. Terá de iniciar uma nova relação processual no Poder Judiciário. 
 
OBS 2: Existem duas formas de submeter o litígio ao juízo arbitral: por meio da cláusula compromissória, 
que é uma cláusula prévia ao litígio inserida em um dos contratos, ou por meio do compromisso arbitral, que 
é um documento por meio do qual as partes convencionam submeter um litígio já existente no Poder Judiciário 
a arbitragem. 
Suponhamos que por meio da cláusula compromissória, as partes decidiram submeter o litígio a arbitragem. 
O que acontece se uma das partes não respeitar essa cláusula compromissória e propor ação no Poder 
Judiciário? 
O artigo 485 traz as chamadas sentenças terminativas do direito processual civil, nas quais o juiz sequer analisa 
o mérito da demanda. 
E no artigo 485, VII, há previsão de que o juiz não resolverá o mérito quando acolher a alegação de existência 
de convenção de arbitragem ou quando o juízo arbitral reconhecer sua competência. 
 
 
 Art. 485: O juiz não resolverá o mérito quando: 
VII - acolher a alegação de existência de convenção de arbitragem ou quando o juízo arbitral 
reconhecer sua competência; 
Portanto, o desrespeito a convenção de arbitragem (gênero do qual são espécies a cláusula compromissória e 
o compromisso arbitral) gera uma sentença terminativa, antes chamado no antigo CPC de extinção do processo 
sem resolução do mérito. 
E ainda, o NCPC acabou com uma polêmica existente no Código anterior, no qual se discutia se o juiz poderia 
reconhecer de ofício a convenção de arbitragem ou se dependia das partes alegarem essa convenção. 
Hoje, o NCPC resolveu essa questão, no referido artigo 485, VII, ao relegar a alegação da arbitragem à 
iniciativa da parte. O referido artigo prevê que o juiz não resolverá o mérito quando acolher a alegação de 
convenção de arbitragem. 
Dessa forma, a convenção de arbitragem, por meio da cláusula compromissória ou do compromisso arbitral, 
deve ser alegada pela parte para que seja acolhida pelo juiz e gere uma sentença terminativa. 
E a alegação, segundo o artigo 337, X, do NCPC, será por meio de preliminar de contestação. 
 Art. 337: Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar: 
 X - convenção de arbitragem; 
b) Meios alternativos consensuais de solução de conflitos ou meios de autocomposição: 
 Artigo 3º, § 2°: O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos. 
§ 3o A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser 
estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive 
no curso do processo judicial. 
Os meios consensuais ou a solução consensual dos litígios é também chamada de meios de autocomposição. 
Diferentemente da heterocomposição, que é uma decisão dada por um terceiro, a autocomposição é uma 
solução que as próprias partes encontram para resolver e colocar fim a um litígio, sem que o juiz precise dar 
uma decisão desfavorável aos seus interesses.Existem três formas de autocomposição no direito processual civil: 
b.1) Renúncia: sacrifício integral dos interesses do autor do processo. 
b.2) Submissão: sacrifício integral dos interesses do reú do processo. 
b.3) Transação: forma mais estimulada no direito processual civil. Não há sacrifício integral de nenhuma das 
partes. Na transação, tem-se concessões mútuas de ambas as partes, autor e réu, para que cada um ceda um 
pouco e eles possam chegar a um bom termo naquele processo. 
Duas formas envolvem o sacrifício integral de uma das partes: renúncia e submissão. 
A renúncia e a submissão estão tipificadas no direito processual civil. 
Quando o autor renuncia o direito em que se funda a ação, o juiz resolve o mérito da demanda. Suponhamos 
que haja uma ação de cobrança em que o autor alega ser titular de um crédito de 10 mil reais. O autor então 
conversa com o réu e decide renunciar o direito em que se funda a ação. Nesse caso, há resolução do mérito 
nos termos do artigo 487, III, ”c” do NCPC. 
 
 Art. 487: Haverá resolução de mérito quando o juiz: 
 III - homologar: 
 c) a renúncia à pretensão formulada na ação ou na reconvenção. 
Atenção! Qual a diferença entre a renúncia do direito em que se funda a ação e a desistência da ação? Renúncia 
e desistência são fenômenos processuais totalmente diferentes. Primeiro que a renúncia ao ser homologada 
pelo juiz faz coisa julgada material de acordo com o artigo 487, III, “c”, e, portanto, tem efeitos 
endoprocessuais e exoprocessuais, ou seja, não permite que o cidadão questione aquela lide com as mesmas 
partes, mesma causa de pedir e o mesmo pedido em qualquer outra ação. A partir do momento em que o autor 
renunciou o direito em que se funda a ação, se quiser rescindir aquela homologação, só poderá por meio de 
ação anulatória. Portanto, a renúncia faz coisa julgada material e impede de ingressar com a ação novamente. 
Já a desistência, prevista no artigo 485 do NCPC, gera uma sentença terminativa/sem resolução de mérito (não 
fazendo coisa julgada material e sim coisa julgada formal), e que, portanto, de acordo com artigo 486, não 
impede que o autor questione a mesma questão perante o PJ, ou seja proponha nova ação. 
 Art. 485: O juiz não resolverá o mérito quando: 
 VIII - homologar a desistência da ação; 
Art. 486: O pronunciamento judicial que não resolve o mérito não obsta a que a parte proponha de 
novo a ação. 
Por isso o meio de autocomposição é só a renúncia. Pois esta, resolve a lide com definitividade, resolve o 
problema entre as partes de forma definitiva. 
Ainda, a renúncia é ato unilateral e a desistência depende da aquiescência da parte contrária, após a 
apresentação da defesa. 
Processualmente a submissão é chamada de reconhecimento jurídico do pedido. E esse, assim como a 
renúncia, também é causa de resolução do mérito (artigo 487, III, “a”). 
 Art. 487: Haverá resolução de mérito quando o juiz: 
 III - homologar: 
 a) o reconhecimento da procedência do pedido formulado na ação ou na reconvenção; 
Renúncia e submissão (ou reconhecimento jurídico do pedido) são faces da mesma moeda. A primeira é 
voltada ao autor e a segunda é voltada ao reú. 
A transação é a forma mais estimulada no direito processual civil. Não há sacrifício integral de nenhuma das 
partes. Na transação, tem-se concessões mútuas de ambas as partes, autor e réu, para que cada um ceda um 
pouco e eles possam chegar a um bom termo naquele processo. 
No antigo CPC não havia o enfoque e a prioridade que o NCPC dá aos meios consensuais de resolução de 
conflitos. Inclusive no Código anterior, a ausência na audiência preliminar de conciliação não trazia nenhuma 
consequência à parte. Havia previsões de que o juiz deveria tentar realizar a conciliação a todo momento, mas 
não havia um sistema propriamente dito. E não havia regulamentação dos meios pelos quais se poderia realizar 
a transação. Já o NCPC traz técnicas pelas quais se chega a transação. 
A transação é uma finalidade que a lei procura. O meio pelo qual se irá alcançar a transação o NCPC estabelece 
que pode ser a conciliação ou a mediação. São, portanto, técnicas utilizadas para se chegar à transação. 
Portanto, a transação é o acordo, é um dos meios de autocomposição. E a técnica utilizada pode ser a 
conciliação ou a mediação. 
 
A novidade é que o NCPC trouxe previsão de quando preferencialmente será realizada a conciliação e quando 
preferencialmente será realizada a mediação. Vejamos o artigo 165, §§2º e 3º: 
Art. 165: Os tribunais criarão centros judiciários de solução consensual de conflitos, responsáveis pela 
realização de sessões e audiências de conciliação e mediação e pelo desenvolvimento de programas 
destinados a auxiliar, orientar e estimular a autocomposição. 
§ 2o O conciliador, que atuará preferencialmente nos casos em que não houver vínculo anterior entre 
as partes, poderá sugerir soluções para o litígio, sendo vedada a utilização de qualquer tipo de 
constrangimento ou intimidação para que as partes conciliem. 
§ 3o O mediador, que atuará preferencialmente nos casos em que houver vínculo anterior entre as partes, 
auxiliará aos interessados a compreender as questões e os interesses em conflito, de modo que 
eles possam, pelo restabelecimento da comunicação, identificar, por si próprios, soluções 
consensuais que gerem benefícios mútuos. 
O NCPC orienta o juiz a designar uma audiência de conciliação quando verificar que as partes não tinham 
qualquer relação anterior ao litígio. O §2º do artigo 165 prevê que o conciliador irá atuar preferencialmente 
quando as partes não têm qualquer relação anterior ao litígio. Por exemplo: você está dirigindo e ao fazer uma 
conversão correta, vem um carro na contramão e bate no seu carro. Você então tenta se entender com o 
motorista, mas por não conseguir, ingressa com ação judicial em face dele para cobrança do valor do conserto 
do carro. Nesse caso, não havia entre as partes qualquer relação anterior ao litígio. Então, o NCPC no artigo 
165, §2º, prevê que preferencialmente, será designada uma sessão de conciliação. E ainda, que o conciliador, 
ao analisar a demanda, irá propor soluções ao litígio. 
Já no caso da mediação, segundo o NCPC, o mediador irá atuar quando as partes já tinham uma relação 
anterior ao litígio e esta foi se deteriorando até que chegasse ao Poder Judiciário. Portanto, as partes estão 
buscando resolver não apenas um problema jurídico, mas uma angústia pessoal que paira entre elas. O NCPC 
estabelece que nesse caso, a técnica utilizada para transação será a mediação. 
A atuação do mediador, de acordo com o artigo 165, §3º, será para reestabelecer o diálogo entre as partes, para 
que elas mesmas entendam o porquê de estarem no PJ e encontrem a melhor solução para o caso. Exemplo: 
após um divórcio, a guarda do filho está com a mãe, e a ação é para regulamentação de visitas. Nesse caso, as 
partes tinham uma relação anterior. O mediador então, irá restabelecer o diálogo entre as partes, para que elas 
próprias possam chegar a um bom termo. 
Atenção! Princípios informativos da conciliação e da mediação (artigo 166 do NCP): 
 
Art. 166. A conciliação e a mediação são informadas pelos princípios da independência, da 
imparcialidade, da autonomia da vontade, da confidencialidade, da oralidade, da informalidade e da 
decisão informada. 
 
Atenção! Princípio da independência da conciliação e da mediação 
Um dos grandes avanços trazidos pelo NCPC foi tirar a conciliação e a mediação da pessoa do juiz. O art. 165 
do NCPC determina que os tribunais deverão criar centros judiciários de conciliação e de mediação, ou seja, 
são locais, preferencialmente, desgarrados da figura do magistrado, nos quais a sessão de conciliação e 
mediação será tocada por profissionais que realizaram curso específico, cuja matriz curricular é determinada 
pelo CNJ. E essa desvinculaçãodo juiz, essa independência da conciliação, é salutar para que as partes possam 
se sentir à vontade durante o procedimento. 
 
 
Art. 165. Os tribunais criarão centros judiciários de solução consensual de conflitos, responsáveis pela 
realização de sessões e audiências de conciliação e mediação e pelo desenvolvimento de programas 
destinados a auxiliar, orientar e estimular a autocomposição. 
 
No antigo Código, na audiência preliminar, audiência de conciliação, esta era promovida pelo juiz. Nessas 
situações, as partes temiam expor algum posicionamento perante o magistrado e esse ser influenciado quando 
da tomada de sua decisão. 
Assim, o princípio da independência retirou as atividades da conciliação e da mediação da figura do juiz, 
colocando-as nos centros judiciários de solução consensual, passando a serem realizadas por profissionais 
devidamente cursados. Esses profissionais são registrados no tribunal, que pode ou não ser precedido por 
concurso público. 
Importante salientar é que se as partes estiverem de comum acordo, podem escolher um profissional ou uma 
pessoa que promoverá a conciliação ou a mediação, que não esteja previamente cadastrada no tribunal, em 
decorrência do princípio da autonomia da vontade. Vejamos o artigo 168, § 1º do NCPC: 
 
Art. 168. As partes podem escolher, de comum acordo, o conciliador, o mediador ou a câmara privada 
de conciliação e de mediação. 
§ 1º O conciliador ou mediador escolhido pelas partes poderá ou não estar cadastrado no tribunal. 
 
Questão Consulplan: O Novo Código de Processo Civil de 2015 (Lei Federal nº 13.105) prestigia, em diversas 
passagens, os métodos alternativos de solução de conflitos como forma de entregar aos cidadãos uma prestação 
jurisdicional mais célere e que melhor atenda os interesses das partes em conflito, buscando-se, com isso, a 
pacificação social e a maior efetividade das decisões estatais. No que tange às disposições processuais que regem 
os conciliadores e mediadores judiciais, assinale a alternativa correta. 
a) As partes podem escolher, de comum acordo, o conciliador ou o mediador, ainda que este não esteja cadastrado no 
tribunal onde tramita o processo. 
b) A conciliação e a mediação são informadas pelo princípio da publicidade, devendo ser publicadas todas as 
informações produzidas no curso do procedimento. 
 c) Os conciliadores e mediadores judiciais devidamente cadastrados, se advogados, poderão continuar exercendo a 
advocacia nos juízos em que desempenham suas funções. 
d) Eventuais conflitos no âmbito administrativo que envolvam órgãos e entidades da administração pública não estão 
sujeitos aos mecanismos de solução consensual de conflitos previstos no Código de Processo Civil de 2015. 
Resposta: A. Em regra, os conciliadores e mediadores terão prévio cadastro no tribunal para atuarem. 
 
Art. 167. Os conciliadores, os mediadores e as câmaras privadas de conciliação e mediação serão inscritos 
em cadastro nacional e em cadastro de tribunal de justiça ou de tribunal regional federal, que manterá 
registro de profissionais habilitados, com indicação de sua área profissional. 
 
Porém, em decorrência do princípio da autonomia da vontade, as partes, de comum acordo, podem escolher o 
conciliador ou o mediador, mesmo que não esteja cadastrado no tribunal, conforme previsão do art. 168, § 1º, do 
CPC/2015. 
 
OBS: A alternativa B está incorreta. O art. 166, § 1º, do NCPC, prevê o contrário da proposição da alternativa 
B. A conciliação e a mediação não são informadas pelo princípio da publicidade. Na verdade, ambas as 
espécies de solução consensual são informadas pelo princípio da confidencialidade. Desse modo, o juiz não 
terá conhecimento do que ocorreu durante a audiência de conciliação ou da sessão de mediação. Na ata 
constará apenas o seguinte: “Tentada a autocomposição entre as partes, esta foi frustrada. Autos conclusos ao 
juiz.” Ou seja, nenhuma informação será levada ao processo em decorrência do sigilo garantido pelo princípio 
da confidencialidade. É uma vantagem do NCPC. 
 
Art. 166, § 1º A confidencialidade estende-se a todas as informações produzidas no curso do 
procedimento, cujo teor não poderá ser utilizado para fim diverso daquele previsto por expressa 
deliberação das partes. 
 
OBS: A alternativa C está incorreta. O NCPC estabelece justamente o contrário, pois os conciliadores ou 
mediadores não podem exercer atividade advocatícia no tribunal em que estão cadastrados. 
 
 
OBS: A alternativa D está incorreta. O art. 174 do NCPC, estende as possibilidades de solução consensual de 
conflitos às pessoas jurídicas de direito público. Assim, os conflitos em âmbito administrativo também podem 
ser solucionados através da conciliação e da mediação. 
 
Art. 174. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios criarão câmaras de mediação e 
conciliação, com atribuições relacionadas à solução consensual de conflitos no âmbito administrativo, 
tais como: 
I - dirimir conflitos envolvendo órgãos e entidades da administração pública; 
II - avaliar a admissibilidade dos pedidos de resolução de conflitos, por meio de conciliação, no âmbito 
da administração pública; 
III - promover, quando couber, a celebração de termo de ajustamento de conduta. 
 
2. Princípio da boa-fé processual 
 
Art. 5º NCPC: Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de acordo com 
a boa-fé. 
 
Tradicionalmente, o princípio da boa-fé foi muito ligado ao direito material. No CC/02 o referido princípio é 
muito tradicional. 
 
O tema boa-fé, no processo, sempre foi visto pela doutrina mais tradicional com muitas reservas. Os autores 
costumavam dizer que o dever de boa-fé era incompatível com a parcialidade da advocacia, e com a 
parcialidade que o contraditório exercia no processo. 
 
Contudo, o NCPC pensa a boa-fé processual de forma diferente, tendo positivado o dever de todos aqueles 
que participam do processo (juiz, partes, perito, MP, etc) de agir de acordo com a boa-fé. 
 
O Professor Didier classifica a boa-fé em dois tipos e informa que uma delas é objeto do artigo 5º do NCPC. 
Em primeiro lugar existe a boa-fé subjetiva, que é o indivíduo praticar o ato processual inconsciente de 
eventual vício ou de eventual mácula, e existe a boa-fé objetiva, que é a expectativa criada na parte adversária 
com a prática de determinado comportamento. A boa-fé objetiva veda o comportamento contraditório 
(contrário à expectativa que gerou na parte adversa), traçando regras de conduta padrão no processo, de que, 
se contrariadas, frustram a expectativa da parte contrária sobre aquela situação. 
 
O que o art. 5º do NCPC exige é a boa-fé objetiva, que os participantes do processo se comportem 
correspondendo às expectativas que criaram em relação as suas posições processuais. 
 
Vejamos o posicionamento do STJ nos Edcl no AgInt no RESP nº204.876 RJ: 
 
 
Tanto no antigo CPC, quanto no NCPC, está prevista a audiência de instrução e julgamento, a qual tem a 
serventia de colher as provas orais do processo (oitiva do perito nos quesitos suplementares, oitiva de 
testemunhas, depoimento pessoal das partes). O objetivo do depoimento pessoal é fazer com que a parte 
contrária confesse os fatos que você alegou em sua peça. Para que a parte preste depoimento pessoal em juízo, 
é necessário que seja intimada pessoalmente. No julgamento do EDcl no AgInt no RESP 204876/RJ, não 
houve a intimação pessoal do indivíduo para prestar depoimento pessoal, a intimação deu-se na pessoa do seu 
advogado. O advogado instruiu a parte a não comparecer à audiência, tendo em vista que não foi efetivada sua 
intimação pessoal. Ocorreu que nem a parte, nem o advogado compareceram à aludida audiência de instrução 
e julgamento. Após a apresentação dos memoriais, o juiz prolatou sentençadesfavorável à parte que não foi 
intimada pessoalmente. Obviamente, foi interposta apelação suscitando a nulidade da sentença por ferimento 
ao princípio do contraditório, pois a parte não havia sido intimada pessoalmente para prestar depoimento 
pessoal e, portanto, não havia comparecido à audiência e sofreu cerceamento de defesa. 
 
Nesse caso, o tribunal e, posteriormente, o STJ entenderam que o comportamento do advogado feriu a boa-fé 
objetiva, ou seja, fere um padrão de comportamento que criou uma expectativa na parte contrária, pois houve 
a intimação na pessoa do advogado, o qual sabia da ocorrência da audiência. O advogado deveria ter suscitado 
a nulidade no primeiro momento que tinha para se manifestar nos autos processuais. Porém, guardou a 
nulidade para utilizá-la caso a sentença fosse desfavorável. 
 
No referido caso, o Superior Tribunal de Justiça entendeu que houve ferimento do princípio da boa-fé e utilizou 
a expressão nulidade de algibeira, a qual ocorre quando a parte tem conhecimento da existência da nulidade 
e a guarda para que, se eventualmente ocorrer sua derrota no processo, apresenta a nulidade como forma de 
tentar anular os atos processuais. Para o STJ essa nulidade de algibeira é contrária ao princípio da boa-fé 
processual. 
 
Atenção! Aplicação da Boa-fé objetiva pelo STJ: Proibição da Nulidade de Algibeira. Vide: Edcl no Aglnt no 
Agravo em RESP n° 204.876-RJ. Motivações do posicionamento: "Guardar a nulidade para alegá-la em 
momento oportuno, dependendo da conveniência processual” – Isso fere a boa-fé. 
 
Outro ponto importante sobre a boa-fé é o art. 229 do NCPC. Antes da vigência do novo código, o conteúdo 
do aludido dispositivo era bastante cobrado nas provas de concurso público e continuará sendo cobrado 
(corresponde ao art. 191 do antigo CPC). 
 
Art. 229. Os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de escritórios de advocacia distintos, 
terão prazos contados em dobro para todas as suas manifestações, em qualquer juízo ou tribunal, 
independentemente de requerimento. 
§ 1o Cessa a contagem do prazo em dobro se, havendo apenas 2 (dois) réus, é oferecida defesa por 
apenas um deles. 
§ 2o Não se aplica o disposto no caput aos processos em autos eletrônicos. 
 
O artigo dispõe sobre o prazo em dobro para litisconsortes com procuradores diferentes. No antigo CPC, quem 
possuísse litisconsórcio com procuradores diferentes, se fosse réu, teria prazo em dobro para apresentar 
contestação. Essa previsão não desapareceu no NCPC, apenas ganhou nova roupagem. Analisando o art. 229, 
 
do NCPC, é possível notar que há maior restrição na aplicação do prazo dobrado. No novo CPC, para que haja 
prazo em dobro, é necessário existir litisconsórcio, procuradores diferentes vinculados a escritórios de 
advocacia diferentes e os autos devem ser físicos, pois os autos eletrônicos estão à disposição da parte a todo 
o momento. 
 
A situação que ocorria na vigência do antigo CPC, foi decidida pelo STJ e endossada pela legislação, 
constando atualmente no NCPC, é a seguinte: em determinada ação existe um autor e dois réus. O réu 1, 
quando citado, procura do advogado A. E o réu 2 não procura advogado. O advogado A deduz que o réu 2 
procurou outro advogado e que ambos possuem prazo em dobro para apresentar defesa, portanto, 30 dias, 
apresentando a contestação no 28º (vigésimo oitavo) dia do prazo. Para a surpresa do advogado A, verifica-se 
no processo que, apesar de existirem dois réus, o réu 2 não apresentou defesa, ficando revel (não constituiu 
advogado), ou seja, as condições que precisam ser preenchidas para que haja prazo em dobro sem necessidade 
de autorização judicial não foram preenchidas no caso concreto, não havendo pluralidade de procuradores 
representando os réus. Nesse caso, a contestação apresentada é tempestiva ou intempestiva? 
 
O STJ entendia que, nesse caso, o juiz não poderia considerar a contestação intempestiva, em nome do 
princípio da boa-fé objetiva, isto é, da legítima expectativa criada em cima do advogado X, de que se 
implementaria a condição do prazo em dobro. Mas o NCPC foi além, prevendo que se essa situação ocorrer, 
o prazo para apresentar defesa é em dobro. Contudo, todos os outros atos processuais terão prazo simples. 
Assim, contestado, cessa o prazo em dobro para todos os demais atos processuais, pois se verificou que não 
se perfizeram as condições do art. 229, § 1º do NCPC. 
 
Art. 229, § 1º: Cessa a contagem do prazo em dobro se, havendo apenas 2 (dois) réus, é oferecida 
defesa por apenas um deles. 
 
3) Princípio do contraditório 
O princípio do contraditório é uma das principais novidades do Novo Código de Processo Civil em relação à 
legislação passada. O referido princípio não é novidade do CPC. 
A novidade é que o NCPC detalhou o princípio do contraditório em três tipos/faces, que se encontram nos 
artigos 7º, 9º e 10º, do NCPC. Basicamente, essas três formas de contraditório são o contraditório 
efetivo/material (chamado também de “poder de influência” por alguns doutrinadores, como, por exemplo, 
Marinoni e Didier) – art. 7º, contraditório e matérias de ofício – art. 10 – e vedação do contraditório diferido 
– art. 9º. 
 
3.1) Contraditório efetivo/material/substancial/democrático 
Tradicionalmente, o contraditório pode ser divido em duas espécies: contraditório formal (tradicional) e 
contraditório material (democrático). O contraditório formal é visto como a bilateralidade da audiência, em 
outras palavras, é a necessidade da parte ter informação sobre os atos processuais a serem praticados mais a 
possibilidade de reação àqueles atos (integrar o processo e ser ouvido antes da prolação de uma decisão 
judicial). Essa espécie de contraditório pode levar a situações em que o contraditório é extremamente 
mecanizado (um dever a ser cumprido pelo PJ), no qual, a parte não tem efetiva participação no processo. 
 
Surge então outra face do contraditório, denominado contraditório material/substancial (art. 7º, do NCPC), 
que é o chamado “poder de influência” na decisão do juiz, ou seja, é o direito de ver os argumentos levados 
ao processo considerados na decisão judicial, o direito de participar da construção da decisão judicial. 
OBS: Lembrar do exemplo citado pelo professor da audiência que realizou no Juizado Especial, na qual a 
sentença já estava pronta, mesmo antes da apresentação da sua defesa. 
O novo CPC apresenta dispositivo que é importantíssimo para a efetivação do contraditório material, qual seja 
o art. 489, § 1º, IV: 
 
Art. 489, § 1º: Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, 
sentença ou acórdão, que: 
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a 
conclusão adotada pelo julgador; 
 
Esse dispositivo apresenta o sistema de fundamentação de qualquer decisão judicial, que é denominada 
fundamentação exauriente. A partir do NCPC, o juiz é obrigado, sob pena de não se considerar fundamentada 
sua decisão judicial, a analisar todos os argumentos trazidos pelas partes, tanto na petição inicial, quanto na 
contestação, capazes de influenciar em sua decisão ou no julgamento da causa. Desse modo, o juiz deve, 
efetivamente, analisar todos os argumentos postos nos autos, em respeito ao contraditório material, fazendo 
com que tanto o autor quanto o réu tenham direito a que a decisão judicial seja construída a partir de seus 
argumentos. E a partir do momento em que têm o direito de ver os seus argumentos obrigatoriamente 
considerados na decisão, as partes exercem plenamente seu poder de influência, e tem-se verificado o 
contraditório material ou substancial ou também chamado de democrático. 
 
3.2) Contraditório e matérias de ofício 
O contraditório e matérias de ofício, aperfeiçoado pelo art. 10 do NCPC, é também chamadopelos autores de 
“vedação da decisão surpresa”. 
Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do 
qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a 
qual deva decidir de ofício. 
Decidir de ofício não é decidir sem ouvir as partes, pois o juiz, em nenhum grau de jurisdição, pode proferir 
decisão sobre alguma questão sobre a qual não tenha dado às partes a oportunidade de se manifestar 
previamente, ainda que a matéria seja passível de decisão de ofício. 
Por exemplo, se alguém sofre um dano moral no ano de 2011, mas não procurou, à época, o Poder Judiciário 
para ser ressarcido do dano sofrido, ajuizando ação judicial apenas no ano de 2016, ou seja, cinco anos após 
a ocorrência do fato, sendo que, o caso não se trata de relação de consumo. Nesse caso, pelo art. 206, § 3º, do 
Código Civil, a demanda está prescrita. Não atento à prescrição, o advogado ajuiza a ação. O magistrado 
também não se atenta à situação e determina a citação da parte contrária para comparecer à audiência. Após a 
realização da audiência, o juiz se atenta à prescrição da ação e, de ofício, prolata sentença resolvendo o mérito 
pelo acolhimento da prescrição. 
À luz do NCPC, o procedimento adotado pelo juiz não pode mais ser realizado. A prescrição permanece sendo 
matéria de ordem pública e pode ser reconhecida de ofício pelo juiz. O que não pode mais ser feito pelo juiz 
 
é reconhecer e proferir decisão judicial chamada de “decisão surpresa”, ou seja, decisão que surpreende as 
partes, pois não tiveram a oportunidade de se manifestar sobre ponto específico. No caso dado com exemplo, 
o juiz ao não intimar as partes previamente, surpreendeu as partes inovando na sentença em ponto pelo qual 
não foi dada as partes a oportunidade de falar nos autos. 
Sob a égide do NCPC, a postura correta do magistrado é intimar as partes para se manifestar sobre eventual 
prescrição da pretensão do autor. Por exemplo, pode ter alegação de alguma causa interruptiva ou suspensiva 
da prescrição. Apenas após a intimação e manifestação das partes é que o juiz pode proferir de ofício a decisão. 
O artigo 10 do NCPC veda a decisão surpresa, veda-se a decisão que inova sem submeter previamente ao 
contraditório. 
Cuidado! As bancas têm repetido a literalidade do art. 10 do NCPC, alterando apenas a parte final, colocando 
“salvo matéria sobre a qual deva decidir de ofício”. Enquanto o correto é: “ainda que se trate de matéria sobre 
a qual deva decidir de ofício”. 
3.3) Vedação do contraditório diferido/postecipado 
Art. 9º: Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida. 
Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica: 
I - à tutela provisória de urgência; 
II - às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. 311, incisos II e III; 
III - à decisão prevista no art. 701. 
 
Para melhor compreensão da vedação do contraditório diferido, é necessário o entendimento da estrutura usual 
do contraditório e a estrutura do contraditório diferido/postecipado. 
1º) Estrutura usual do contraditório: primeiro a parte interessada realiza requerimento ao juiz (por exemplo, 
tutela antecipada); após o requerimento, o juiz intima a parte contrária para se manifestar sobre aquele 
requerimento; para, finalmente, decidir. 
 REQUERIMENTO 
 ↓ 
 INTIMAÇÃO DA PARTE CONTRÁRIA PARA SE MANIFESTAR 
 ↓ 
 DECISÃO 
Todavia, algumas situações não suportam aguardar a estrutura usual do contraditório. Por exemplo, em ação 
em que se busca o tratamento de saúde urgente de determinada enfermidade, requer-se a tutela antecipada para 
que o juiz conceda de forma liminar a sua pretensão de tratamento médico. Se o juiz cumprir a estrutura usual 
do contraditório, haverá um dano grave à saúde do autor, podendo até mesmo falecer. Nesse caso, a espera do 
cumprimento da estrutura usual é incompatível com a tutela pretendida. 
Dessa forma, em algumas situações é preciso que o juiz inverta a ordem do contraditório, utilizando o 
contraditório diferido/postecipado. 
2º) Estrutura do contraditório diferido ou postecipado: primeiramente a parte faz o requerimento; e ao 
 
invés do juiz intimar a parte contrária para se manifestar acerca do requerimento, o juiz decide, e só depois, a 
intima para ser ouvida. Ou seja, difere ou postecipa o contraditório. 
 REQUERIMENTO 
 ↓ 
 DECISÃO 
 ↓ 
 INTIMAÇÃO DA PARTE CONTRÁRIA PARA SE MANIFESTAR 
 
É também usualmente chamado pelos autores de liminar concedida inaudita altera partes, ou seja, sem a oitiva 
da parte contrária. 
O que o NCPC consagrou, no artigo 9º foi a regra da proibição do contraditório diferido ou postecipado. Ou 
seja, nos termos desse artigo, em regra, o juiz não pode decidir contra alguém sem antes ouvi-la, tem que 
cumprir a estrutura usual do contraditório. 
 
FIM

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