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Defeitos do Negócio Jurídico

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DIREITO CIVIL
DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICOS
Negócio Jurídico – manifestação de vontade que produz efeitos desejados pelas partes e permitidos por lei. 
Ex.: Contratos.
Pontes de Miranda criou o Plano da Existência, Validade e Eficácia dos Negócios Jurídicos para que sejam perfeitos, desprovido de vícios.
No primeiro Plano, o da Existência, o Negócio Jurídico precisa ser revestido de Parte, Objeto, Forma e Vontade para que exista.
Para que o Negócio Jurídico seja Válido, é preciso avançar ao Plano da Validade, no qual serão caracterizados de forma a adjetivar os substantivos listados no primeiro plano. Quais sejam:
As partes precisam ser capazes e legitimadas;
O objeto deve ser lícito, possível, determinado ou determinável;
Forma prescrita ou não defesa em lei;
A vontade deve ser livre, consciente e espontânea e de boa-fé.
O tema será trabalhado justamente no Requisito da vontade dos negócios jurídicos. No qual pode surgir os defeitos. Pois, a princípio, estaremos diante de um negócio jurídico que seria válido, mas a vontade foi manifestada de forma viciada e isso gerará a anulabilidade do negócio jurídico.
 	Vícios de Vontade: 
- Vício do Erro (arts. 138 a 144, CC): 
Erro é a falsa percepção da realidade. Quando uma pessoa realiza um negócio jurídico viciado por erro, ela realizou aquele negócio jurídico porque teve alguma falsa percepção sobre o objeto, a pessoa, o motivo, o direito, sobre alguma circunstância determinante daquele negócio jurídico. 
Ex.: Eu compro um relógio dourado acreditando que fosse de ouro e pago o valor correspondente. Lógico, que se eu soubesse que não era de ouro eu não teria comprado, ou então não teria comprado pelo valor que foi pago.
ATENÇÃO: nos artigos (138 a 144) que tratam do erro no Código Civil, está inserido o campo da ignorância, que nesta parte geral do código o tratam como sinônimos. Ocorre que cada um possui um conceito diverso. Erro é a falsa percepção da realidade, no exemplo citado acima eu comprei o relógio errando apenas uma característica, o material do relógio, enquanto que a ignorância é um erro mais grave, ou seja, eu acredito estar comprando um objeto, mas na verdade eu estarei comprando um objeto completamente distinto. Porque a ignorância é o completo desconhecimento da realidade, por exemplo, vou numa loja para comprar um celular, quando chego em casa, me dou conta que é um GPS. Ou seja, a ignorância é como se fosse um erro exagerado.
Portanto: 
Erro – falsa percepção da realidade;
Ignorância – um erro exagerado, um completo desconhecimento da realidade.
A consequência (os efeitos) do negócio jurídico que estiver viciado por erro ou ignorância será ANULÁVEL (Art. 178, II, CC). 
Quando o negócio jurídico for anulável, a ação que terá de ser ingressada será a Ação Anulatória.
O prazo para ingressar com a ação anulatória é de 4 anos (art. 178, caput, CC), começando a contar da celebração do negócio jurídico. E é prazo DECADENCIAL.
OBS: O Código Civil adotou a Teoria da Confiança com relação ao erro. Não sendo mais a escusabilidade um requisito para o uma pessoa que esteja celebrando um negócio jurídico em erro.
- Vício por Dolo (arts. 145 a 150, CC):
Dolo é o induzimento malicioso a erro. No erro, a pessoa erra sozinha, no dolo a pessoa é induzida. 
No exemplo acima, eu comprei o relógio acreditando ser de ouro, ou seja, a minha percepção foi de forma errônea e se deu por minha conta exclusiva. Já no dolo, poderia ser a hipótese do dono do relógio me afirmar ser de ouro, sabendo que não era. Neste caso, o outro contratante, o dono do relógio, escondeu a informação verdadeira e acabou declarando ser de material diverso do real e para ter um enriquecimento ilícito, agiu com dolo. 
Ou seja, enquanto no erro eu agi sozinho e a outra parte não teve culpa neste evento, no dolo eu tive induzimento malicioso.
A consequência (os efeitos) do negócio jurídico que estiver viciado por dolo também será ANULÁVEL (Art. 178, II, CC).
Quando o negócio jurídico for anulável, a ação que terá de ser ingressada será a Ação Anulatória.
O prazo para ingressar com a ação anulatória é de 4 anos (art. 178, caput, CC), começando a contar da celebração do negócio jurídico. E é prazo DECADENCIAL.
- Vício por Coação (arts. 151 a 155, CC):
Coação pressão ou ameaça a uma pessoa, um familiar ou algum bem para que esta realize determinado negócio jurídico. Ou seja, na coação, a pessoa a princípio não tinha vontade de celebrar o negócio jurídico, mas o coator utilizar de algum elemento para força-la a celebrar aquele determinado negócio jurídico.
Ex.: Um sujeito desejando comprar a casa de outro, oferece o valor correspondente ou até a mais, porém este não aceita. Então o comprador descobre alguma circunstância que poderia prejudicar o vendedor e por meio desta força o vendedor a vender a casa. 
Nesta hipótese, estamos diante de uma coação que está prevista no Código Civil, a coação relativa, também conhecida como coação moral ou ainda de vis compulsiva. Ou seja, embora constitua ameaça por um fato grave, este fato sempre deixa uma opção ao coagido. Este pode celebrar o negócio jurídico por meio da coação ou recusar a celebração e sofrer as consequências.
A consequência (os efeitos) do negócio jurídico que estiver viciado por coação também será ANULÁVEL (art. 178, I, CC).
O prazo para ingressar com a ação anulatória é de 4 anos (art. 178, caput, CC), começando a contar da DO DIA EM QUE CESSAR A COAÇÃO (art. 178, I, CC). E é prazo DECADENCIAL.
OBS: Existe ainda a coação que não está prevista no Código Civil, que é a coação absoluta, também denominada física ou vis absoluta, não foi prevista no Código Civil, então o seu conceito é:
Toda vez que uma pessoa for coagida e lhe for tirada qualquer possibilidade de opção, qualquer oportunidade de agir de forma contrária, estará diante de uma cotação absoluta.
Ex.: Um sujeito, querendo comprar a casa de um outro alguém, porém este não quer vender, põe uma arma na cabeça do vendedor diante de sua recusa, o ameaçando. O vendedor, com medo de morrer, assina o contrato. Porém, ele não está manifestando sua vontade alguma naquele negócio jurídico.
Diante desta hipótese estará havendo um negócio jurídico despido de vontade, sendo a assinatura um simples ato mecânico. Se não teve vontade, um elemento essencial para a existência do negócio jurídico, logo, não há o que se falar em anulabilidade do negócio, uma vez que inexiste o negócio, que nos efeitos práticos se equipara a hipótese de nulidade absoluta.
DICA: No exame de ordem não se costuma indagar a respeito de coação absoluta. Portanto, se não especificou qual o tipo de coação, não tenha dúvida, será a regulada pelo Código Civil, sendo esta a coação moral que torna o negócio jurídico anulável, seguindo as regras do Art. 178, CC.
- Vício por Estado de Perigo (arts. 156, CC):
É formado por dois elementos:
Objetivo – estamos diante de um negócio pelo qual uma das partes irá sofrer uma onerosidade excessiva, ou seja, uma pessoa irá celebrar um negócio jurídico tomando um grande prejuízo.
Subjetivo – é motivo que levou à aquela pessoa a celebrar um negócio jurídico no qual sofreria uma onerosidade excessiva, lhe trazendo um grande prejuízo
Portanto, o Estado de Perigo é o que está forçando ao contratante a celebrar aquele negócio jurídico extremamente oneroso.
Ex.: Um sujeito que esteja enfrentando uma situação de perigo, por exemplo, risco de morte. Seria a hipótese de alguém que precise de uma cirurgia urgente, precisando do valor de R$ 15.000,00. O pai, ou ele mesmo, tem um carro no valor de R$ 30.000,00. Precisando urgentemente do dinheiro, vende o carro pelo valor de R$ 15.000,00. Neste caso, aquele que vendeu o carro por um preço muito abaixo do valor, só vendeu por uma circunstância extrema, um risco de morte.
Quem pode sofrer estado de perigo pode ser o próprio negociante, como os parentes mais próximos, podendo ser até alguém que não seja necessariamente parente, mas alguémmuito próximo.
A consequência (os efeitos) do negócio jurídico que estiver viciado pelo estado de perigo torna este negócio ANULÁVEL (Art. 178, II, CC).
Para anular o negócio jurídico viciado pelo Estado de Perigo, é necessário que a outra parte tenha conhecimento da necessidade.
Quando o negócio jurídico for anulável, a ação que terá de ser ingressada será a Ação Anulatória.
O prazo para ingressar com a ação anulatória é de 4 anos (art. 178, caput, CC), começando a contar da celebração do negócio jurídico. E é prazo DECADENCIAL.
- Vício por Lesão (art. 157, CC)
É formado por dois elementos:
Objetivo – igual ao do Estado de Perigo, estamos diante de um negócio pelo qual uma das partes irá sofrer uma onerosidade excessiva, ou seja, uma pessoa irá celebrar um negócio jurídico tomando um grande prejuízo.
Subjetivo – a diferença está nesse elemento, pode acontecer por dois motivos, a) numa situação de premente necessidade ou, b) numa situação de inexperiência. Não se somam esses dois requisitos, qualquer um deles é suficiente para caracterizar a lesão.
A consequência (os efeitos) do negócio jurídico que estiver viciado pelo estado de perigo torna este negócio ANULÁVEL (Art. 178, II, CC).
Diferentemente do Estado de Perigo, aqui na lesão não há a necessidade de provar que a outra parte tinha conhecimento da necessidade ou da inexperiência do outro contratante.
Quando o negócio jurídico for anulável, a ação que terá de ser ingressada será a Ação Anulatória.
O prazo para ingressar com a ação anulatória é de 4 anos (art. 178, caput, CC), começando a contar da celebração do negócio jurídico. E é prazo DECADENCIAL.
 	Vícios Sociais:
- Fraude contra Credores (arts. 158 a 165, CC)
É a atuação maliciosa do devedor insolvente ou na iminência de assim se tornar que se desfaz de seu patrimônio procurando não responder pelas obrigações anteriormente assumidas.
A consequência (os efeitos) do negócio jurídico que estiver viciado pela Fraude Contra Credores torna este negócio ANULÁVEL (Art. 178, II, CC).
ATENÇÃO: o STJ tem, mesmo com o advento do CC/02, decidido com base na doutrina italiana, que a fraude contra credores não torna o negócio jurídico fraudulento ANULÁVEL, mas sim, um negócio jurídico INEFICAZ. Embora o CC trabalhe e fraude contra credores no plano da validade, o STJ possui um posicionamento de que a fraude contra credores torna o negócio jurídico ineficaz, no plano da eficácia. Mas ainda NÃO é considerado um negócio jurídico NULO. 
Quando o negócio jurídico for anulável, a ação que terá de ser ingressada será a Ação Pauliana.
O prazo para ingressar com a ação anulatória é de 4 anos (art. 178, caput, CC), começando a contar da celebração do negócio jurídico. E é prazo DECADENCIAL.
- Simulação (art. 167, CC):
Nada mais é que um negócio jurídico mentiroso. Nesta modalidade, o contrate almeja um determinado efeito, porém aquilo que ela declara é um outro efeito. Há um desacordo entre a vontade interna e a externa do contratante. Aquilo que desejo é uma coisa, mas o que é manifestado é algo completamente distinto.
Ex.: Um caso que esteja se separando a possuem um patrimônio de R$ 500.000,00. Um deles querendo evitar a divisão celebra um negócio jurídico mentiroso com um terceiro, um empréstimo, por exemplo, e compromete uma grande parte deste patrimônio. No momento em que for partilhar o patrimônio, teria apenas uma pequena parcela para a divisão (exemplo clássico de Simulação Absoluta, um negócio jurídico mentiroso por completo).
OBS: Simulação Relativa – se divide em Subjetiva, quando um dos contraentes não faz parte do negócio jurídico; e Objetiva, quando um elemento do contrato é divergente, como num contrato de compra e venda, quando na verdade será feita uma doação. Ou ainda o valor pago por um bem. Existem todos os elementos do negócio jurídico da compra e venda, sendo o único elemento fraudulento, o preço. Na simulação relativa, gera a Nulidade Absoluta do negócio apenas no que for mentira.
A consequência (os efeitos) do negócio jurídico que estiver viciado Simulação, é o único que torna este negócio NULO, a nulidade é absoluta.
Quando o negócio jurídico for nulo, a ação que terá de ser ingressada será a Ação Declaratória de Nulidade. É o direito de ingressar com esta ação é IMPRESCRITÍVEL (Art. 169, CC).
A diferença entre um negócio Jurídico Nulo e Anulável é que:
Nulo, a própria palavra remete a um estado. O negócio jurídico nulo, nasce nulo, é nulo, se será sempre nulo. Por isso, não é preciso se preocupar com prazo para ingressar com a Ação Declaratória de Nulidade (Absoula), uma vez que esse estado é perpétuo.
Anulável, a própria palavra indica uma nulidade relativa, demonstra um estado mutável, que pode ser alterado. Para tanto, a ação a ser ingressada é a Ação Anulatória. Sempre terá um prazo de DECADÊNCIAL, uma vez que é uma espécie de ação constitutiva negativa.

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