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Determinação da Fibra Bruta → Os carboidratos representam a principal fonte de energia na dieta dos animais onívoros e herbívoros, os quais são consumidos em maior quantidade. Há dois grandes grupos de carboidratos de acordo com o tamanho da cadeia de açúcar: 1. Polissacarídeo: cadeia longa constituída de vários açúcares; 2. Oligossacarídeos: alguns açúcares constituídos de dois a seis açúcares, como os dissacarídeos (maltose, sacarose, lactose) 3. Monossacarídeos: açúcar único (galactose, lactose, glicose); → Alguns exemplo principais de monossacarídeos são: a glicose, uma hexose que representa a molécula básica para a síntese de amido e da celulose. É o principal produto das CHOs nos monogástricos, e a frutose, que é uma penstose que ocorre livre em folhas verdes, frutos e mel. Forma o disscarídeo presente na cana de açúcar, a sacarose. → Os dissacarídeos são: Sacarose: glicose + frutose; presente na cana-deaçúcar e beterraba; Maltose: glicose + glicose; produto da hidrólise do amido; Lactose: galactose + glicose; ocorre no leite; → Dentro dos polissacarídeos, ocorre outra divisão: Amido: polissacarídeos de reserva energética, passível de digestão pelos animais Parede celular vegetal (fibra). → O amido é um polissacarídeos composto por ligações do tipo alfa 1-4, reconhecidas pelas enzimas digestivas, e por isso diz-se que o amido é passível de digestão. Alguns amidos são chamados de “amidos resistentes a digestão”, pois possuem ligações glicosídicas do tipo alfa 1-6, cuja enzima digestiva não tem grande afinidade e por isso são pouco digeridas, passando pelo intestino sem ser quase digeridos. Alimentos como mandioca e o milho são exemplos desse tipo de amido. Especialmente os equinos não digerem esse tipo de ligação e por isso a administração excessiva de milho causa cólicas intestinais nesses animais. Por isso, o milho normalmente sofre um processo de extrusão (milho extrusado), que envolve mudança de temperatura, pressão e umidade. O processo faz com que as ligações do tipo alfa 1-6 se tornem mais susceptíveis à digestão. → Há duas subdivisões do amido, de acordo com o tipo de ligações peptídicas: 1. Amilose: é a fração mais solúvel, uma vez que possui predominantemente ligações de glicose alfa-1,4. 2. Amilopectina: é a fração mais insolúvel uma vez que predominam ligações de glicose do tipo alfa-1,4 e também alfa- 1,6, que confere ramificações em sua estrutura. → A amilase salivar e pancreática atuam na quebra do amido e liberação de glicose. → Animais que se alimentam de grãos ricos em carboidratos, como o milho, podem desenvolver a laminite, pois o excesso desse alimento ira causar a redução do pH no ceco (corresponde ao apêndice no humano) do cavalo e consequentemente a morte das bactérias que atuam nessa porção do intestino. Com a morte dessas bactérias há a liberação de toxinas que entram na corrente sanguínea e terão a mesma ação da endotoxemia. A laminite é bastante grave nos equinos, pois pode gerar um quadro de debilidade bastante severo e consequente morte do animal ou nos casos graves em que há a recuperação do cavalo podem ocorrer alterações na conformação do casco. → A parede celular vegetal ou fibra, por outro lado, é composta por açúcares ligados por ligação do tipo beta 1-6, que não é reconhecida pelas enzimas digestivas do animal. O herbívoro ao mastigar o vegetal lesa as células deste e com isso o conteúdo celular é liberado (proteínas, carboidratos solúveis e lipídios). Este é passível de digestão pelas enzimas do animal, porém a parede celular restante não. Diante disso, as bactérias presentes no trato digestório do animal metabolizam a fibra, liberando substâncias passíveis de absorção e aproveitamento pelo herbívoro. → Conforme a planta cresce a espessura da parede aumenta, reduzindo o núcleo celular. A parede celular tem como principal função dar estruturação, rigidez e firmeza à planta. São quatro as substâncias que compõem a parede celular: Celulose: é o carboidrato ou homopolímero de glicose de maior proporção entre as outras, composta exclusivamente de ligações beta 1-4; sua função é basicamente estrutural e confere rigidez à planta, formando várias cadeias lineares formando os feixes da fibra. A celulose interage com a lignina. Hemicelulose: carboidrato formado por heteropolímeros de -xilose (xilanas) e L-arabinose (arabanas); se associa com a celulose e por não ser composta apenas de ligações do tipo beta 1-4, não são lineares, mas apresentam ramificações, ou seja, fazem ligações laterais com as fibras de celulose, fazendo rotação do seu eixo principal. Por isso, a hemicelulose facilita a degradação pelas bactérias e é mais passível de digestão quando comparada a celulose; Pectina: é o carboidrato ou heteropolímero composto de ácido B-D- galacturônico e cadeias laterais e arabanas e galananas; é extremamente solúvel, cuja função é fundamentalmente de preenchimento, e não estrutural, ou seja, é uma substância cimentante. Em leguminosas está presente em mais de 5%, em gramíneas menos que 2% e em polpas de beterraba e cítricos, mais ou menos 20%. Ela tem capacidade de viscosidade da digesta, além de levar ao aumento do volume e peso das fezes. Também possui grande capacidade tampão, favorecendo o metabolismo fermentativo pelas bactérias, tanto que se a ingestão de concentrado for grande, pode ocorrer uma drástica diminuição do pH rúmen e causar acidose ruminal. Além disso possui grande capacidade higroscópica, ou seja, absorve a umidade do ar, facilitando o processamento das fezes. Por isso, o bagaço de beterraba é bastante indicado até mesmo para animais carnívoros (cães e gatos), pois nesses animais além da sua característica higroscópica, também influencia uma pequena fermentação nesses animais, produzindo butirato, que é benéfico para as células do cólon. Lignina: é um composto de fenil propano, e logo não é carboidrato e apesar disso faz parte da parede celular vegetal, logo está contida na fibra. A lignina é é uma substância indigestível, tanto pelo animal quanto pelas bactérias; é hidrofóbica e por isso não tem capacidade de carrear água junto a si, desfavorável para as bactérias. Além disso, ela se associa com a celulose de forma que as bactérias, por um efeito físico, não reconhece a celulose e por isso a metaboliza. Com isso, a lignina tem efeito de redução da digestibilidade dos alimentos, por efeito de integração com a celulose, havendo uma correlação negativa coma digestibilidade. Logo, quanto maior o teor de lignina menos disgestível e menos aproveitável é o alimento pelo animal. → Diferentemente do amido, a digestão da parede celular vegetal se dá pelas enzimas bacterianas, que levarão a produção de AGVs (ácidos graxos voláteis), os quais serão metabolizados pelo animal de formas diferentes. No geral, esse processo é mais lento e energicamente menos eficiente. O CH4 e o CH2 são eliminados por processos de eructação. → Os AGVs são produtos do metabolismo fermentativo das bactérias do rúmen a partir da parede celular vegetal. São eles: 1. Acetato: usado como fonte de energia, participando da síntese de lipídios, tanto para a composição corporal quanto na constituição do leite. O acetato está diretamente relacionado à qualidade do leite. 2. Propionato: é gliconeogênico, ou seja, é um substrato que pode entrar na via da gliconeogênese para produção de glicose. Logo o proprionato funciona como um composto capaz de se tornar glicose. O propionato relaciona-se com o nível de glicose do animal e é devidoa isso que a glicemia de um animal herbívoro é menor que um animal carnívoro, já que o primeiro necessita formar a glicose para depois utilizá-la. 3. Butirato: fonte de energia para células das papilas ruminais, uma vez que estas são constantemente repostas. → A definições de fibra pela botânica é de que a fibra é uma estrutura anatômica da planta que é composta pela parede celular vegetal. Do ponto de vista analítico a fibra bruta é o resíduo insolúvel em solução ácida e alcalina que se perde quando é incinerada a 500°C. Porém,do ponto de vista nutricional, define-se fibra dietética como sendo: o Polissacarídeos e ligninas não digeridos ou absorvidos no trato gastrointestinal, sendo a parte do alimento que não pode ser digerida pelas enzimas do trato digestivo dos mamíferos e, portanto, não resultando em açúcares como metabólitos. → As principais propriedades físico-químicas da fibra são: Densidade energética reduz com idade da planta, devido ao aumento da espessura e da lignificação da perede celular vegetal; Tamanho das partículas: quanto maior a partículas, mais difícil será para digeri- las; Capacidade de hidratação: B-blucanas, pentosanas e pectinas são hidrofílicas, que formam um gel reduzindo a velocidade de passagem da digesta. Pode reduzir a digestibilidade dos nutrientes. Possuem capacidade de troca de cátions. Capacidade tampão (dito anteriormente). → A análise da fibra bruta é quantitativa, gravimétrica, cuja técnica consiste na perda do resíduo insolúvel, a qual ocorre através do mergulho da amostra em solução ácida, solução alcalina e incinerada a 500°C. → É importante salientar que essa técnica não caracteriza as diferentes frações da fibra, ou seja, não qualifica a fibra, já que através dela não é possível separar e quantificar a celulose, hemicelulose e pectina. Logo, essa técnica, chamada de técnica de Weende, não é uma análise qualitativa, somente quantitativa. Além disso, a hemicelulose e a pectina, por serem compostos altamente solúveis se perdem facilmente durante o processo. Logo, a percentagem da fibra bruta não é exata. → A técnica consiste em colocar a amostra seca e desengordurada em béquer de 600 mL. Em seguida, pesa-se o cadinho filtrante vazio e depois faz-se a primeira digestão. Esta é feita através da adição de um composto ácido (H2SO4 – 1,25%) e manter por 30 min. Filtra-se logo depois (a filtragem a vácuo acelera o processo). Após digestão primária, adiciona-se um composto básico (NaOH – 1,25%) no cadinho filtrante e amostra e mantenha por 30 minutos. Faz-se a filtragem final no cadinho poroso, para então secar na estufa a 105°C. Pesa-se antes de levar o cadinho mais a amostra seca ao forno mufla para a obtenção das cinzas. Pesa-se o cadinho e as cinzas e por gravimetria tem-se o valor do resíduo insolúvel, que corresponde à fibra bruta. O valor relativo (em percentual) pode ser encontrado através do peso encontrado nessa diferença. Porém este percentual é relativo à FB presente na amostra laboratorial na ASE e, por isso, deve ser corrigido para 100% na matéria seca. → Abaixo segue um exemplo do cálculo da análise de FB em feno de alfafa: → O sistema detergente é uma técnica desenvolvida por Van Soest que consiste na separação das frações constituintes dos alimentos por meio de detergentes. Primeiramente, adiciona-se um detergente neutro na fibra, que solubiliza o conteúdo celular da parede celular resultando em fibra em detergente neutro (FDN). Nessa etapa contabiliza-se celulose + hemicelulose + lignina + parte da pectina). A pectina como é altamente solúvel é perdida a ponto de somente uma fração insignificante restar, e por isso, esse valor é desconsiderado. Em seguida, adiciona-se um detergente ácido, que irá solubilizar o conteúdo celular as hemiceluloses e as pectinas, resultando em resíduo insolúvel em detergente ácido (FDA). O terceiro passo é a análise de lignina que contabiliza a celulose e lignina. Por diferença de peso é possível encontrar os valores de cada fração (celulose, hemicelulose e lignina) e, por fim, qualificar a fibra. → Com isso, surgiu uma definição atualizada de fibra, sob o ponto de vista analítico, onde ela é o resíduo da matriz insolúvel dos alimentos, obtido após lavagem com detergente, composta pelos principais constituintes da parede celular vegetal.