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Advogado desafios e perspectivas no contexto das relações internacionais

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ADVOGADO: 
D E S A F I O S E P E R S P E C T I V A S 
N O C O N T E X T O D A S 
R E L A Ç Õ E S I N T E R N A C I O N A I S
CONSELHO FEDERAL DA OAB 
1: EDIÇÃO - BRASÍLIA-DF 
1 9 9 7
© O R D E M D O S A D V O G A D O S D O BRASIL 
C O N S E L H O FED ERA L
Editor: C onselho Federal da O rd e m dos A dvogados do Brasil
D istribuidor; C en tro de D ocu m en tação e Inform ação do Conselho
Federal da OAB
Setor de A u tarqu ias Sul - Q .5 - Lote 2 - Bl. N - Sobreloja
Brasilia-DF 
CEP 7 0070-000 
Fones.: (061] 316-9631 e 316-9632 
Fax: (061] 225-4947 
e-mail: w ebm aster@ oab.com .br
Tiragem : 2 .500 exem plares
C ap a e Editoração: Forum Propaganda
Ordem dos Advogados do Brasil. Conselho Federal. Comissão de 
Relações Internacionais
0 65a O advogado: desafios e perspectivas no contexto das relações 
internacionais. - Brasília : OAB, Conseltio Federal, 1997.
264 p.
1. Direito Internacional. 2, Ordem dos Advogados do Brasil: 
Relações Internacionais, I. Título.
ODD: 341.1
1. D ire ito In te rnac iona l P úb lico : D ire ito C om un itá rio
2 . P aíses do M e rc o s u !; D ire ito C o m e rc ia l In te rnac iona l
3. A rb itragem In te rnac iona l
4 . R e fug iado ; D ire ito In te rnac iona l
5. A dvo ca c ia : G loba lização
2
DIRETORIA:
PRESIDENTE • E R N A N D O U C H O A LIM A 
V ICE-PR ESID EN TE - LUIZ A N T Ô N IO D E S O U Z A BASÍLIO 
SEC R ETÁ R IO -G ER A L - R E G IN A L D O O S C A R D E C A ST R O 
SECRETÁRIA-GERAL A D JU N T A - M A R IN A BEATRIZ SILVEIRA D E M A G A LH Ã E S 
D IR E T O R -T E S O U R E IR O - JO S É PAIVA D E S O U Z A FILH O
M E M B R O S NATOS:
A I .C IN O D E PAULA SALA ZAR, A LBERTO BA R R ETO D E M ELO, L A U D O D E A LM EID A C A M A R ­
G O , JO SÉ CAVALCANTI DAS NEVES, C A IO M Á R IO D A SILVA PEREIRA, R A Y M U N D O FAORO, 
E D U A R D O SEABRA FA G U N D ES, JO SÉ B E R N A R D O CABRAL, M Á R IO S ÉR G IO DUARTE G A R ­
CIA, H E R M A N N ASSIS BAETA, M Á R C IO T H O M A Z BASTOS, O F H IR FILGUEIRAS CAVALCANTE, 
M A R C E L L O LAVENÊRE M A C H A D O , JO S É R O B ER TO BATOCH IO.
C O N S E L H E IR O S FEDERAIS:
A C : JO SÉ E U S T Á Q U IO O SW A L D O , RO B ER TO FERREIRA ROSAS, S ÉR G IO FERRAZ AL: 
A N T Ô N IO N A B O R AREIAS BULHÕES, M A R C O S B ER N A R D ES D E MELLO, PAULO LUIZ N E T T O 
L Ó B O ; AM: JO SÉ PAIVA D E S O U Z A FILHO, M A RIA D O M IN G A S G O M E S LARANJEIRA, 
SULAM ITA A U G U STA D A SILVA; AP: G U A R A C Y D A SILVA FREITAS, JO SÉ A N T Ô N IO T H O M A Z 
N E T O ; BA: ARI DA C O ST A T O U R IN H O , D URVAL JÚ LIO R A M O S N ETO , E R N A N D E S DE 
A N D R A D E SAN TO S; CE: A N T Ô N IO F R A N C IS C O D E A L B U Q U E R Q U E , JO S É G U E D E S D E C A M ­
P O S BARROS, M A R C E L O V IN ÍC IU S G O U V E IA M A RTINS; DF: C A R L O S M Á R IO D A SILVA VEL- 
L O S O FILHO, M A R C E L O H E N R IQ U E S RIBEIRO D E O LIV EIR A , R E G IN A L D O O S C A R D E C A S ­
T R O ; ES: GILBERTO M A RTINS FILHO, H O M E R O JU N G E R MAFRA, LU iZ A N T Ô N IO D E SO U Z A 
BA SILIO ; G O : JO S É P O R F iR IO TELES, JO S É R O B E R T O D A PA IX Ã O , W A N D E R L E Y D E 
M ED EIR O S; MA: D O R O T E U SO A R ES RIBEIRO, FR A N C O ST A FIG U EIRED O , JO SÉ A N T Ô N IO F 
D E A LM EID A SILVA; M G ; A R ISTÓ TE LE S A TH EN IEN SE , G USTAVO D E A Z E V E D O B R A N CO , 
PAULO RO B ER TO D E G O U V E A M E D IN A ; MS: A N T Ô N IO D E A R A Ú JO CHAVES, H O R Á C IO 
V A N D ERLEI N A S C IM E N T O P IT H A N ; L E O N A R D O N U N E S D A C U N H A ; M T: JO SÉ C A R L O S DE 
S O U Z A PIRES, R EN A TO G O M E S NERY, V IC E N T E BEZERRA N E T O ; PA: EU D IR A CY ALVES D A 
SILVA, FR A N C IS C O ASSIS D O S SA N T O S FILHO, M IL TO N A U G U S T O D E BR ITO N OBRE; PB: A ÍR­
T O N C O R D EIR O , A R L IN D O C A R O L IN O D E L G A D O . JO SÉ A R A Ú JO AGRA; PE: JO R G E D A 
C O ST A P IN T O NEVES, JO SÉ JO A Q U IM D E A L M E ID A NETO, U R B A N O V ITA L IN O D E M E L O 
FILH O ; PI: FIDES A N G É L IC A D E C. V M . O M M A T I, JO A Q U IM BARBOSA D E A LM EID A NETO, 
ROB ER TO G O N Ç A L V E S D E FREITAS FIL H O ; PR: IRINEU C O D A TO , JO A Q U IM RO B ER TO 
M U N H O Z D E M ELLO, RO B ER TO A N T Ô N IO BUSATO; RJ: A L FR E D O B U M A C H A R FILHO, 
ÁLVARO LEITE G UIM ARÃES, SÉ R G IO ZV EITER ; RN: HERIBERTO E SC O L Á S T IC O BEZERRA, 
PAULO FRASSINETTI D E O LIV EIR A , PAULO L O P O SARAIVA; R O : F R A N C IS C O A Q U ILA U DE 
PAULA, G IL S O N LUIZ JU C Á RIOS, O D A IR M A RTINI; RR: A L C E U D A SILVA, ELEN A N A T C H 
FORTES, MESSIAS G O N Ç A L V E S G A R C IA ; RS: C L ÉA A N N A M A R IA CARPI DA R O C H A , G E L S O N 
R O LIM STO C K ER , M A R IN A BEATRIZ SILVEIRA DE M A G A LH Ã E S; SC: A D IL S O N A L E X A N D R E 
SIMAS, AM AURI J O Ã O FERREIRA, W E R N E R BACKES; SE; A N T Ô N IO J O Ã O R O C H A MESSIAS, 
JO R G E A U R ÉLIO SILVA, R A IM U N D O C É ZA R BR ITTO A R A G Ã O ; SP; E D S O N D A M A SC EN O , 
H E IT O R REG IN A , J O Ã O ROB ER TO E G Y D IO PIZA FO N TES; T O ; IVAIR M ARTINS D O S SA N T O S 
D IN IZ , SADY A N T Ô N IO B O E SSIO PIG A TTO , SiLVIO D O M IN G U E S FILHO.
C O M IS S Ã O D E R ELA Ç Õ E S IN T E R N A C IO N A IS - 1997:
U R B A N O V ITA LIN O D E M E L O F IL H O (Presidente), C A R LO S E D U A R D O C A P U T O BASTOS 
(Secretário), C A R LO S E D U A R D O M A N FR E D IN I H A PN E R , PAULO LINS E SILVA, O S C A R DIAS 
C O R R E A JR., M A R C E L O H E N R IQ U E S RIBEIRO D E O LIV EIR A , JO S É M A RTINS PIN H EIRO , LUIZ 
JO SÉ G U IM A R Ã ES FALC Ã O , F R A N C IS C O C L Á U D IO D E A L M E ID A SANTOS, A RISTÓ TELES 
A T H EN IEN SE , L U IZ O L A V O BAPTISTA, M A R IS T E L A BASSO, JO R G E LU IZ F O N T O U R A 
N O G U E IR A , M A RIA ISABEL V IA N N A D E O L IV E IR A VAZ, FR A N C IS C O D E ASSIS M. A L EN C A R . 
O L G A TEM IR A S. P IN H E IR O - Coordenadora de A poio A dm inistra tivo às Comissões 
T H O M A S N O L TE - Encarregado A d m in is tra tiiv
Colaboradores; Luiz Valério Dias, C ristina Botelho, Paola Barbieri e M auro Noleto.
3
SUMÁRI O
Prefácio - Presidente Ernando Uchoa L im a .........................................................07
Apresentação - D r. Urbano Vitalino de Melo F i l h o ......................................... 09
- Doutrina
Criação, Consolidação e Desdobramentos do Mercosul
M aria Claudia D ru m m on d .................................................................................................................................................................................................................13
O Mercosul: Aspectos de Direito e Comércio Internacional
M aristela Basso ....................................................................................................27
Co-relações entre o Direito Internacional Público e Direito Comunitário
EUzaheth A cc io ly ....................................................................................................37
A Construção Jurisprudencial do Direito Comunitário Europeu
Jorge F o n to u ra ...................................................................................................... 53
Internacionalização do Estado e Sistemas Jurídicos Nacionais
Patrícia Luíza K e g e l ............................................................................................ 67
Globalização, Direito e Advocacia
Urbano Vitalino de Melo F ilh o ..............................................................................................................................................................................................81A Corte Internacional de Justiça
Márcio Pereira Pinto G a rc ia ............................................................................. 89
Arbitragem Comercial Internacional e a Nova Lei de Arbitragem
Sérgio Luis Saba Rangel do Carmo ............................................................107
O Refugiado à Luz do Direito Internacional e do Direito Brasileiro
José H. Fischel de A n d r a d e ..............................................................................149
O Exercício Profissional da Advocacia no Mercosul 
G ustavo Henrique Caputo Bastos e
Francisco Queiroz Caputo Neto ....................................................................165
Direito Internacional e o crime de Genocídio: O caso Pol Pot
Thomaz P inheiro ................................................................................................................................................................................................................ 173
Formas Alternativas de Pena Criminal
José Roberto B atochio ........................................................................................179
5
- As Instituições Internacionais da Advocacia Organizada
União Internacional dos Advogados - UIA
Carlos Eduardo Caputo Bastos ....................................................................187
International Bar Association - IBA
José M artins P in h eiro ....................................................................................... 191
União Ibero-Americana de Advogados - UIBA
Urbano Vitalino de Melo Filho ...................................................................... 197
Associação Internacional de Jovens Advogados - AIJA
Horácio Bernardes Neto ................................................................................ 199
Colégios e Ordem de Advogados do Mercosul - COADEM
Carlos Eduardo M. Hapner ...........................................................................203
Federação Internacional de Advogados - FIA
Paulo Lins e S i lv a ...............................................................................................207
- Textos institutivos do Mercosul
Tratado de Assunção para a Constituição do Mercado Comum
entre a República Argentina, a República Federativa do Brasil, a
República do Paraguai e a República Oriental do Uruguai,
de 26 de março de 1 9 9 1 ; .................................................................................. 211
Protocolo de Brasília sobre Solução de Controvérsias, de 17
de dezembro de 1 9 9 1 ; ....................................................................................... 219
Protocolo de Ouro Preto Adicional do Tratado de Assunção sobre a 
Estrutura Institucional do Mercosul, de 17 de dezembro de 1994; . . . .229
Protocolo de Las Lenas de Cooperação e Assistência Jurisdicional em
Matéria Civil, Comercial, Trabalhista e Administrativa,
de 27 de junho de 1992...................................................................................... 243
Protocolo de Buenos Aires sobre Jurisdição Internacional em Matéria 
Contratual, de 5 de agosto de 1 9 9 4 , ............................................................. 253
Protocolo de Medidas Cautelares, de 17 de dezembro de 1994 .............259
6
PREFÁCI O
O terceiro milênio, em termos de progresso tecnológico, antecipou-se 
ao calendário, chegando muito antes da virada do século, pois o mundo hoje 
se comunica em instantes, eliminando fronteiras.
Com isso, as relações entre as pessoas ampliaram-se consideravelmen­
te, exigindo normas que regulem tal convivência.
No que pertine ao Brasil, o MERCOSUL é um bom exemplo de inte­
gração entre nações, e vem apresentando resultados muito satisfatórios, o que, 
inclusive, tem causado visíveis preocupações a uma potência do naipe dos Es­
tados Unidos, cujo intercâmbio comercial com o nosso País, em termos per­
centuais, perde posição, hoje, para o Mercado Comum do Sul.
Artífice das transformações sociais, até pelas importantes missões que 
a lei lhe incumbe, o advogado tem acompanhado, de perto, as investidas bra­
sileiras no campo internacional, ciente de que, sem dúvida, lhe está reservado 
importantíssimo papel na composição dos interesses dos cidadãos dos muitos 
países que, paulatinamente, venham a estabelecer parcerias com o Brasil, nos 
diversos segmentos de atividades.
O CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO 
BRASIL, entidade invariavelmente a serviço da classe, do primado do Direi­
to, da democracia e da liberdade, na busca de melhor orientar os colegas quan­
to a essa substanciosa área de atuação que se delineia, procurou armazenar in­
formações que entendia úteis ao desempenho profissional, fazendo-o através 
da laboriosa e competente COMISSÃO DE RELAÇÕES INTERNACIO­
NAIS, integrada por nomes da maior projeção na advocacia pátria, os quais 
reuniram, na publicação ora editada, não só legislação e dados pertinentes ao 
assunto, como também preciosos trabalhos voltados para os aspectos doutri­
nários e institucionais da matéria.
Por isso, quase ao findar a atual gestão, a Diretoria do CONSELHO 
FEDERAL sente-se gratificada em poder colaborar com os sempre interessa­
dos na seara do Direito Internacional, lançando esta obra que irá chamar a 
atenção, também, dos que ainda não atentaram para sua indispensabilidade no 
amanhã que se avizinha.
ERNANDO U C H O A LIMA 
Presidente Nacional da 
ORDEM DOS ADVOGADOS D O BRASIL
7
A P R E S E N T A Ç Ã O
A publicação desta edição especial da Comissão de Relações Interna­
cionais do Conselho Federal da OAB, antigo e acalentado projeto do Presiden­
te Ernando Uchoa Lima, do Vice-Presidente Luiz Antônio de Souza Basílio e 
do Secretário-Geral Reginaldo Oscar de Castro, ocorre em um momento de 
singular oportunidade.
A dinamização das relações internacionais de um Brasil que se mos­
trou por muito tempo divorciado do mundo, e a rápida inserção internacional 
a que assistimos, com a transformação da chamada agenda externa em temas 
que passam a se discutir como se fossem de política interna, descortinam tam ­
bém para os profissionais do direito um turbilhão de caminhos e oportunida­
des inusitadas.
Questões até então incomuns, como a eficácia e a validade das Con­
venções da OIT, a tutela internacional dos direitos humanos e do meio ambi­
ente, salvaguardas democráticas, cooperação internacional em matéria penal, 
convenções interamericanas de direito privado, e por último, mas não com 
menos importância, a construção de blocos econômicos regionais e suas in­
gentes demandas jurídicas parecem sair abruptamente dos compêndios em- 
poeirados para ganharem vida no dia-a-dia do foro em geral.
Compreender, no entanto, a vida internacional do Estado sob o pris­
ma jurídico que a ilumina não é tarefa fácil. A sociedade internacional é des­
centralizada e juridicamente não hierarquizada, o que transforma a coopera­
ção e a solução pacífica de conflitos em sua definitiva e única tábua de salva­
ção. Talvez isto tenha gerado certa refração da cultura jurídica tradicional, 
sempre cética diante de um propalado direito internacional público pouco ou 
nada impositivo, “sem sanção e sem razão".
Ê a História, porém, que se encarrega de mudar suas próprias verda­
des. Nesse sentido, o segundo pós-guerra, pródigo em surpresas e abruptas 
mudanças, após os perigos do bipolarismo e o paroxismo das ideologias, pron­
tamente fez nascer uma nova época da cooperação e integração de Estados so­
beranos, pelo viés da construção de espaços econômicos comuns. No campo
9
jurídico, a valorização do direito internacional público, base de todos os pro­
cessos de surgimento de blocos, que parecem conformar um inelutável "espí­
rito do tem po” em que vivemos, obriga uma reconsideração sobre a importân­
cia e a aplicação do “direito das gentes”.
A síntese de tudo isso talvez possa se fazer representar pelasingela no­
tícia publicada pelo jornal “El Clarin”, da Argentina, de 4 de outubro de 1994, 
reportando um fato aparentemente periférico, de crônica local da grande Bu­
enos Aires; 162 detentos do presídio de Junin, conforme a notícia, haviam se 
amotinado em protesto pelo não cumprimento do Pacto de São José da Cos­
ta Rica, no que tange à limitação do tempo de permanência na prisão sem 
condenação definitiva. Não só o motivo da sublevação era instigante, também 
chamando a atenção a resposta do Ministro de Governo de Buenos Aires, Fer­
nando Galmarini, que afirmava não ser o tratado aplicável à espécie, por estar 
ainda submetido à apreciação parlamentar.
Faz-se claro, em nossos dias, que o profissional do Direito, possuidor 
em seu patrimônio jurídico de conhecimentos provenientes do direito públi­
co externo domina um repertório maior de soluções aptas e prontamente dis­
poníveis a fazer face aos novos desafios da vida profissional.
Divulgando o trabalho realizado pelo Conselho Federal, no sentido de 
relacionar-se com instituições de advocacia organizada nos mais diversos con­
tinentes, solicitamos a colaboração de advogados brasileiros especialmente en­
volvidos com tais organizações, que nos prepararam artigos de grande atuali­
zação e importância.
A publicação dos atos institutivos básicos do Mercosul, que aqui tam ­
bém efetuamos, além de proporcionar aos advogados um instrumental indis­
pensável à compreensão do significado e da abrangência da construção jurídi­
ca dos espaços comunitários, igualmente incentiva e exorta a comunidade ju ­
rídica a interagir criticamente em relação à integração regional.
Da mesma forma, a publicação de uma série de artigos voltados para os 
temas de integração e de espaços econômicos comunitários, divulgando o for­
midável esforço desenvolvido por jovens pesquisadores e estudiosos das mais di­
versas regiões do Brasil, além de ilustrar e esclarecer, demonstra o inelutável 
efeito de dinamização de estudos internacionalistas trazidos pelo Mercosul.
Se o modelo europeu serve-nos como exemplo, fica patente que a 
construção comunitária é fundamentalmente uma elaboração jurídica, sendo
10
indispensável que os advogados, como interlocutores privilegiados junto aos 
atores sociais, estejam aptos a interpretar, explicar e orientar a todos os envol­
vidos, em meio aos difíceis caminhos que podem conduzir a uma zona de livre 
mercado, ainda que imperfeita, para um efetivo e eficiente mercado comum.
Urbano Vitalino de Melo Filho 
Presidente da Comissão de Relações Internacionais 
do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil
11
C r i a ç ã o , C o n s o l i d a ç ã o 
e D e s d o b r a m e n t o s d o 
M e r c 0 s u I . ‘
Maria Claudia Drummond 
Mestre em Relações Internacionais e Assessora Técnica da 
Comissão Parlamentar Conjunta do Mercosul-Seção Brasileira.
Sumário: I- Introdução; II- Antecedentes; 1. 
Formação de blocos econômicos, 2. Antecedentes 
do Mercosul. III- Criação e Consolidação: 1. O 
Tratado de Assunção, 2. Regime de Solução de 
Controvérsias, 3. O Protocolo de Ouro Preto. IV- 
A Lógica do Projeto Integracionista, V- Des­
dobramentos: 1. O Programa “Mercosul 2000", 
2. A agenda do Mercosul nas frentes externa e 
interna.
I - Introdução
Nesta exposição, procuraremos delinear as origens do Mercosul, as 
razões que levaram à sua criação, os instrumentos da integração e o seu desen­
volvimento e desdobramentos. É de suma importância que se crie entre os 
funcionários governamentais e a sociedade em geral a consciência do proces­
so de integração do qual o Brasil é parte, uma vez que no bojo desse proces­
so, negociam-se políticas públicas destinadas a produzir profundos impactos 
sobre o tecido social e econômico de cada um dos paises envolvidos.
Esta palestra não pretende fornecer uma visão completa da agenda 
negociadora. Existem neste momento inúmeros foros de negociação no 
Mercosul, onde se abordam os mais variados temas, desde a agricultura e 
políticas trabalhistas, até turismo e meio ambiente.
Coube-me delinear um breve histórico dos antecedentes e criação do 
Mercosul, a partir da celebração do Tratado de Assunção, apontar os instru-
' Conferência anotada proferida no seminário "Mercosul: Introdução e Desenvolvimento", promovido pelo Instituto 
Legislativo Brasileiro do Senado Federal, Brasilia, 23 e 24/06/97.
13
mentos da integração, conforme enumerados no mesmo tratado, e finalmente 
discorrer sobre o período de consolidação do Mercosul, inaugurado a partir da 
assinatura do Protocolo de Ouro Preto, quando é instalada a União Aduaneira.
II - Antecedentes
1. Formação de blocos econômicos
Antes de mais nada, cabe definirmos alguns termos relacionados à for­
mação de blocos econômicos.
A integração econômica é um processo. Seu estágio inicial é a área de 
livre comércio, onde os governos dos países membros do bloco entram em 
entendimentos para promover a desgravação tarifária dos produtos prove­
nientes dos países do bloco, bem como para abolir as barreiras não-tarifárias 
que porventura existam, o que possibilitará o livre fluxo do comércio de mer­
cadorias através de suas fronteiras.
O passo seguinte é a conformação de uma união aduaneira, mediante a 
adoção de um a tarifa externa comum (TEC) para os produtos importados de 
terceiros países. Isso significa que os países membros do bloco deverão adotar 
um mesmo imposto para a importação de produtos provenientes de fora do 
espaço econômico integrado. Uma vez consolidada a união aduaneira, o bloco 
poderá aprofundar a sua integração liberando o trânsito de fatores produtivos, 
isto é, capital e mão-de-obra, e harmonizando suas políticas setoriais, daí 
resultando um mercado comum. Outros passos além do mercado comum são 
a união monetária e a união política. Neste momento, há inúmeros blocos 
econômicos em processo de integração em todo o mundo. Entre eles, a 
ASEAN^ NAFTA^ Pacto Andino^ CARICOM^, a União Européia® e o 
Mercosul. Além desses, há negociações em curso para a conformação da 
AL CA (Área de Livre Comércio das Américas) a partir de 2005. A AL CA 
estará integrada por 34 países das Américas, com exceção de Cuba, e pretende 
estender-se “do Alasca à Terra do Fogo".
^Associação de Nações do Sudeste Asiático, integrada por Brunei Darussalam, Cingapura, Filipinas, Indonésia, 
Malásia, Tailândia e Vietname.
 ^North American Free Trade Area, integrada por EUA, México e Canadá.
'O Pacto Andino é formado por Bolivia, Equador, Colômbia, Venezuela.
^Mercado Com um ào Caribe, integrado p o r Antigua e Barbuda, Barbados, Bahamas, Belize, Dominica, Granada, 
Guiana, Jamaica, Montserrat, Santa Lucia, São Cristóvão e Neves, São Vicente e Granadinas, Suriname e Trinidad 
Tobago.
‘ Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Grécia , Holanda, Irlanda, Itália, 
Luxemburgo, Portugal, Reino Unido e Suécia.
14
2. Antecedentes do Mercosul
Já no ano de 1941, Brasil e Argentina assinavam um acordo de livre 
comércio para a constituição de uma união aduaneira. Este acordo estava 
fadado a não produzir quaisquer resultados práticos, dadas as posições diver­
gentes assumidas pelos dois países na questão do ataque japonês a Pearl 
Harbour/
Posteriormente, estudos realizados pela CEPAL (Comissão Econômica 
para a América Latina), nas décadas de quarenta e de cinqüenta, difundiram 
a idéia de se promover a integração econômica da região como uma forma de 
alavancar o seu crescimento.® Na ocasião, o economista Raul Prebisch pre­
conizou a adoção de um projeto de integração econômica na América Latina 
como forma de acelerar a sua industrialização, dentro da ótica da substituição 
de importações.
A partir daí, foi celebrado o primeiro Tratado de Montevidéu (I960), 
que criou a Associação Latino-Americana de Livre Comércio (ALALC), su­
bstituída em1980 pela Associação Latino-Americana de Integração 
(ALADI). A ALADI, mais flexível do que a ALALC, introduz mecanis­
mos de natureza bilateral para o estabelecimento de áreas de preferências 
tarifárias.
Em 1985, os presidentes da Argentina e do Brasil decidem, com a assi­
natura da Declaração de Iguaçu, iniciar um processo de integração bilateral. 
No ano seguinte, 1986, era assinada em Buenos Aires a Ata para a Integração 
Argentino-Brasileira, que instituiu o Programa de Integração e Cooperação 
Econômica [PICE). O objetivo do PICE era o de propiciar um espaço 
econômico comum, com a abertura seletiva dos respectivos mercados e o estí­
mulo à complementação de setores específicos da economia dos dois países, 
com base nos princípios da gradualidade, flexibilidade e equilíbrio, de modo a 
permitir a adaptação progressiva dos setores empresariais de cada Estado às
^Ver Almeida, Paulo Roberto LIntégration Latino-Américaine et le M ercosud: Paris, Ambassade du Brésil, J995, 
p. 38.
“Ver a resolução da CEPAL de 24/06/48 sobre a "União Aduaneira da América Latina". C f Eugênio da Costa e 
Silva, Noms sobre a Integração na América Latina e sobre a A L C A , in Infom m tivo Mercosul, Comissão Parlamentar 
Conjunta do Mercosui: Brasília, abril/maio ] 997, p. J 7.
35
novas condições de competitividade.^
Em 1988, Brasil e Argentina assinam o Tratado de Integração, 
Cooperação e Desenvolvimento, pelo qual demonstram o desejo de constituir 
um espaço econômico comum no prazo máximo de dez anos, por meio de 
medidas como a eliminação de todos os obstáculos tarifários e não-tarifários 
ao comércio de bens e serviços e a harmonização de políticas macroeconômi­
cas. Durante esta fase, foram assinados 24 protocolos de integração setorial em 
áreas como trigo, bens de capital, produtos alimentícios industrializados, setor 
automotriz, etc.
Em julho de 1990, os dois países firmavam a Ata de Buenos Aires, que 
estabeleceu a data de 31 de dezembro de 1994 para a conformação definiti­
va do mercado comum entre o Brasil e a Argentina. A este documento seguiu- 
se a assinatura, em 26 de março de 1991, do Tratado de Assunção para a 
Constituição de um Mercado Com um entre a República Argentina, a 
República Federativa do Brasil, a República do Paraguai e a República 
Oriental do Uruguai - Mercosul.
Importa observar que o governo Sarney vislumbrava completar esse 
espaço econômico integrado em 1998, porém, em 1990, nos governos Collor 
e Menem, verificou-se uma aceleração do processo. Estabeleceu-se assim a 
data de 31 de dezembro de 1994 para a conformação definitiva do Mercado 
Comum entre Brasil e Argentina.
Em setembro de 1990, Uruguai e Paraguai já buscavam agregar-se ao 
processo de integração em curso entre Brasil e Argentina, particularmente o 
primeiro. Na época, o Presidente Sanguinetti participava das reuniões nego­
ciadoras como observador, demonstrando o desejo de participar da área 
econômica integrada. O Paraguai, recém-saído do regime militar, foi o último 
a aproximar-se.
III- Criação e Consolidação
1 .0 Tratado de Assunção 
A assinatura do Tratado de Assunção inicia uma fase que se chama, no 
"jargão mercosulino”, de período de transição. É a fase em que são estabeleci-
* C f Departam ento de Integração Latino-Americana do Ministério das Relações Exteriores e Comissão 
Parlamentar Conjunta do Mercosul (Seção Brasileira) M ercosul Informações gerais e D esenvolvim eiitos Recentes 
Brasília: 1995, p .l .
16
dos os instrumentos para a conformação de uma área econômica integrada.
O Tratado de Assunção estabeleceu, na verdade, os instrumentos para a 
constituição de uma área de livre comércio e de uma união aduaneira, passos 
iniciais na rota de um mercado comum. Os meios de implementação do pro­
jeto integracionista incluem os três instrumentos que se seguem.
Primeiro, um programa de liberalização comercial, consistindo de 
reduções tarifárias progressivas, lineares e automáticas, objetivando chegar-se 
à tarifa zero em 31/12/94, e eliminação das restrições não-tarifárias. Haveria 
listas de exceções para os chamados produtos sensíveis, as quais seriam 
reduzidas anualmente em 20% até 31/12/94. As listas de exceções referem-se 
a produtos que os países determinam manter fora da área de livre comércio, 
sobre eles permanecendo, portanto, certos direitos aduaneiros. Tal medida 
atendia às pressões por parte de representantes daqueles setores produtivos 
do país mais sensíveis à concorrência externa. Este vem se constituindo, aliás, 
no grande obstáculo à conformação de áreas de Uvre comércio na América 
Latina, face às pressões naturais por parte de certos setores que buscam pro­
teger-se da concorrência externa.
Em segundo lugar, a coordenação de políticas macroeconômicas e seto­
riais. Existem vários foros técnicos de negociação para a coordenação destas 
políticas, entre os quais cabe mencionar a política agrícola, industrial, traba­
lhista e outras, devendo todas elas passar por essa harmonização.
Finalmente, o Tratado determinou a adoção de uma tarifa externa 
comum para terceiros países [TEC).'“
Conforme vimos acima, o mercado comum é feito em etapas, sendo as 
duas primeiras a área de livre comércio e a união aduaneira. Na área de livre 
comércio, os produtos circulam entre os países-membros sem pagar tarifas. Na 
união aduaneira, além de circular sem o pagamento de tarifas dentro da área, 
os produtos, quando importados de terceiros países, pagam uma mesma tari­
fa externa. Esse aspecto ainda não está bem conformado no Mercosul, que 
consiste, no momento, de uma união aduaneira imperfeita, parcial, visto que 
há vários produtos em exceção á tarifa externa comum, os quais ingressam na 
área pagando tarifas diferenciadas."
O Tratado de Assunção criou uma estrutura institucional mínima, com-
A TEC mantém-se cm uma média de 13%.
" H á tam bém uma lista de adequação, compreendendo 1.649 produtos que estão em exceção á área de livre 
comércio.
17
posta pelo Conselho do Mercado Comum, órgão político da integração; 
Grupo Mercado Comum, órgão executivo, que por sua vez se dividiu em 10 
subgrupos, mais tarde acrescidos do subgrupo n° 11, para Relações 
Trabalhistas, Emprego e Seguridade Social'^ O Conselho do Mercado 
Comum é integrado pelos Ministros das Relações Exteriores e os Ministros de 
Economia dos Estados Partes.
O Tratado de Assunção cria ainda, em seu artigo 24, uma Comissão 
Parlamentar Conjunta do Mercosul, “com o objetivo de facilitar a imple­
mentação do Mercado C om um ”. Prevê ainda que “os Poderes Executivos dos 
Estados Partes manterão seus respectivos Poderes Legislativos informados 
sobre a evolução do Mercado Comum'^”.
Para que se possa dimensionar o dinamismo imprimido pelo Mercosul 
ao comércio intra-regional vale lembrar que as exportações brasileiras para a 
Argentina, o Paraguai e o Uruguai cresceram de US$ L32 bilhão em 1990, 
ano anterior à assinatura do Tratado de Assunção, para US$ 5,92 bilhões em 
1994, ao encerrar-se o período de transição. As exportações brasileiras para os 
países do Mercosul elevaram-se, neste mesmo período, cerca de 350%, ao 
passo que as exportações totais do Brasil elevaram-se em 38,5%.*'*
2. Regime de Solução de Controvérsias
Em dezembro de 1991, os Estados Partes do Mercosul firmaram o 
Protocolo de Brasília para a Solução de Controvérsias. O Protocolo dispõe que 
os Estados submeterão suas controvérsias ao Grupo Mercado Comum.
Caso a controvérsia não se resolva mediante a aplicação dos procedi­
mentos acima referidos, os Estados Partes poderão recorrer ao procedimento 
arbitrai previsto no art. 9. O Tribunal será constituído por três árbitros per­
tencentes a uma lista designada pelos Estados e registradas na Secretaria
Ver ALMEIDA, Paulo Roberto de (coord.J, Mercostil, Legislação..., p. 155. Os Subgrupos de Trabalho instituídos 
pelo Tratado de Assunçãopara a harmonização de políticas foram os seguintes; l .Assuntos Comerciais; 2. Assuntos 
Aduaneiros; 3. Normas Técnicas; 4. Políticas Fiscal e Monetária Relacionadas com o Comércio; 5. Transporte 
Terrestre; 6. Transporte Marítimo; 7. Política Industrial e Tecnológica; 8. Política Agrícola; 9. Política Energética; 10. 
Coordenação de Políticas Macroeconômicas; 11. Relações Trabalhistas, Emprego e Seguridade Social.
” Ver Tratado de Assunção in ALMEIDA, Paulo Roberto op. dt.
"V er GONÇALVES, José Botafogo M ercosul ALCSA, NAFTA: Uma visão convergente ãa integração hem is­
férica. Brasilia'. Ministério das Relações Exteriores, pp. 14-15, mimeo.
18
Administrativa. As reclamações de particulares serão submetidas ao Grupo 
Mercado Comum, o qual poderá ou não encaminhá-las ao procedimento arbitrai.
 ^ Posteriormente, o Protocolo de O uro Preto estabeleceria um proce-
 ^ dimento gerai para reclamações perante a Comissão de Comércio do 
Mercosul.
3. O Protocolo de O uro Preto
O Protocolo de Ouro Preto, assinado em 17 de dezembro de 1994, 
inauguraria o chamado período de consolidação do Mercosul. Confere ele uma 
estrutura institucional mais aperfeiçoada à integração, necessária à condução 
do processo de instalação da união aduaneira, que agora se inicia e que será, 
neste primeiro momento, apenas parcial. Assim sendo, os produtos prove­
nientes de terceiros países que ingressem no espaço econômico integrado 
estão submetidos a uma mesma tarifa externa. A sua circulação dentro da área 
de livre comércio do Mercosul, entretanto, dispensa o pagamento de direitos 
aduaneiros.
O Protocolo estreita os contatos entre os Chefes de Estado do Mercosul 
ao determinar que o Conselho poderá reunir-se quantas vezes estimar opor­
tuno, mas pelo menos uma vez por semestre o fará com a participação dos 
Presidentes da República dos Estados Partes do Mercosul.
No campo institucional, as principais inovações introduzidas pelo 
Protocolo de O uro Preto são a criação de dois novos órgãos: uma Comissão 
de Comércio e o Foro Consultivo Econômico-Social. Além disso, inclui a 
Comissão Parlamentar Conjunta na estrutura orgânica do Mercosul. São 
definidas a sua composição, atribuições e competências. Do ponto de vista do 
papel do Congresso Nacional no processo de integração, o Protocolo de Ouro 
Preto representa im portante marco jurídico ao incluir a Comissão 
Parlamentar Conjunta no organograma institucional do Mercosul, atribuindo- 
lhe, ademais, funções e competências.
O Protocolo estipula que a Comissão Parlamentar Conjunta pode 
enviar recomendações ao Conselho do Mercado Comum, órgão de condução 
política da integração. Isso tem sido feito ainda de uma maneira embrionária, 
dada a inexistência de uma cultura integracionista no seio dos próprios 
Parlamentos, que não estão ademais acostumados a atuar na área
19
internacional.
Outra função atribuída à Comissão é a de contribuir para a harmoniza­
ção das legislações dos Estados Partes e acompanhar a tramitação dos tratados 
referentes ao Mercosul nos respectivos Parlamentos Nacionais.
A Comissão de Comércio é o órgão encarregado de assistir o Grupo 
Mercado Comum, velando pela aplicação dos instrumentos de politica co­
mercial comum acordados pelos Estados Partes para o funcionamento da 
união aduaneira, bem como revisando os temas e matérias relacionados com 
as políticas comerciais comuns, com o comércio intra-Mercosul e com ter­
ceiros países. O Foro Consultivo Econômico-Social é o órgão de represen­
tação dos setores econômicos e sociais dos Estados Partes.
Assim como a Comissão Parlamentar Conjunta, tam bém o funciona­
mento da Secretaria Administrativa, sediada em Montevidéu, passa por maior 
detalhamento.
O Protocolo de Ouro Preto representa um novo patamar jurídico para 
o Mercosul ao conferir-lhe personalidade jurídica de Direito Internacional, o 
que lhe permite, daí em diante, celebrar acordos e tratados com outros 
Estados e organismos internacionais.
IV- A Lógica do Projeto Integracionista '
Do ponto de vista do Brasil, fatores endógenos bem como exógenos 
contribuíram para que os formuladores da política externa brasileira decidis­
sem implantar o projeto integracionista, estabelecendo ademais a meta de um 
mercado comum.'®
Entre os fatores endógenos, o retorno dos quatro países ao primado do 
regime democrático é o mais óbvio. O pensamento geopolítico dos regimes 
militares, na época, era muito favorável à hegemonia e à soberania absoluta, o 
que configurava um entrave à integração. Félix Pefia assinala o papel decisivo
Visto em um contexto histórico, nota-se que o Tratado de Assunção não constitui uma iniciativa isolada das 
demais tentativas de integração presentes na história da América Latina. Ele se insere no movimento integra­
cionista iniciado com a fundação da ALALC, em 1960, cuja metodologia multilateralista veio a sofrer correções, 
dando lugar, vinte anos mais tarde, à ALADI. Foi no marco dos mecanismos bilaterais consagrados pelo Tratado 
de Montevidéu que se concebeu a integração, a princípio entre Brasil e Argentina.
20
desempenhado pelo esquema integracionista na consolidação do Estado de 
Direito no Cone Sul.'^ Por um lado, a distensão nas relações Brasil/Argentina 
veio a enfraquecer as demandas orçamentárias dos estamentos militares, ao 
desarmar-se um foco de conflitos em potencial, o último dos quais traduziu- 
se no litígio em torno de Itaipu - Corpus. Esta circustância permitiu reduzir 
gastos militares, diminuir tensões no quadro político interno, e realocar recur­
sos para projetos prioritários nos programas de desenvolvimento dos dois paí­
ses. Por outro, criou-se uma malha de interesses comuns e conjuntos, extrema­
mente avessa às instabilidades causadas por repentinas mudanças no regime 
político.
Além deste, outro fator endógeno contribuiria para viabilizar o projeto 
integracionista. Trata-se da decisão tomada pelo Governo brasileiro de desre- 
guiamentar e promover a abertura de sua economia e de, paralelamente, bus­
car uma inserção competitiva no mercado internacional. Neste novo mode­
lo, a integração desempenha importante papel, pois ao alargar os horizontes 
do empresariado nacional, oferecendo-lhe um mercado ampliado, ela lhe 
serve de preparação para a nova realidade da economia aberta. Para a sua 
implementação, adotou-se, como vimos, um cronograma de desgravação pro­
gressiva, linear e automática sobre todo o universo tarifário, e a eliminação 
progressiva das chamadas listas de exceções, que mantinham protegidos os 
setores considerados sensíveis à competição dos produtos dos demais par­
ceiros, estimulando investimentos em eficiência, competitividade e qualidade.
O Estado assume, neste tipo de integração, um papel mais funcional e 
menos regulatórío.
A nova lógica do processo integracionista supõe, para que o projeto 
avance, o decidido envolvimento e a adesão dos setores produtivos nacionais. 
Por isto, uma das características mais marcantes e distintivas desta nova etapa 
da integração latino-americana consubstanciada no Mercosul é a importância 
que nela assumem os agentes econômicos. A iniciativa privada, na nova 
estratégia da integração, caberia importante papel propulsor. Além disso, na
“'Ver para excelente histórico sobre as origens do projeto integracionista, MARQUES, Renato “Mercosul: Origens, 
Evolução e Desafios" in Inform ativo Mercosul, n® 2, Brasília, DECLA/DEC/M RE, s/d, pp. 1 a 7. Sobre a trajetória 
da idéia de integração na América Latina, ver Félix Pena, "Cotnpetíliviclaiie, Democracia e hicegração tias Américas" 
in O s N ovos Blocos Econômicos: D esafios e O portunidades Carlos Geraldo Langoni, coord., Rio de Janeiro, 
Fundação Getúlio Vargas, EPGE, Centro de Economia Mundial, 1993, pp. 117 a 136. Sobre a evolução das 
reJações Brasil/Argentina desde o signo do conflito até o marco da cooperação, ver AUviEIDA,Paulo Roberto, O 
Mercosul no Contexto R egional e Internacional, São Paulo, Edições Aduaneiras, 1993, pp. 71 a 79.
21
visão dos negociadores do Tratado de Assunção, era importante que as 
decisões empresariais passassem a levar em conta a noção de mercado amplia­
do e suas implicações, tanto em termos de competição, como de possível 
aliança de interesses.'^
Entre os fatores exógenos, talvez seja o final da Guerra Fria o mais 
óbvio. Cessada a divisão do mundo em áreas de influência americana ou 
soviética, tornou-se pela primeira vez possível aos países da América Latina 
unirem-se em um projeto econômico sem despertar temores e resistências ao 
norte do Equador.'* Dentro das fronteiras nacionais, até o início dos anos 
oitenta, tal atitude encontrava plena ressonância, emanada do pensamento 
geopolitico da época, afinado com os regimes militares então no poder em 
praticamente toda a América Latina. Qualquer projeto de união econômica 
entre os países latino-americanos era visto como resultante de tendências de 
esquerda e atentatórios à soberania nacional, então tida como absoluta.
Os objetivos da criação do Mercosul não são puramente comerciais. Ê 
verdade que seus formuladores lhe outorgaram um papel decisivo no que diz 
respeito ao incremento da competitividade dos produtos da sub-região no 
mercado internacional. Ao mesmo tempo, esperam que ele contribua para 
assegurar as reformas estruturais e a estabilidade econômica nos Estados 
Partes, tornando-os mais atraentes aos investidores internacionais, particular­
mente ao investimento produtivo. Sabe-se que o Mercosul oferece um mer­
cado consumidor interno de cerca de 200 milhões de pessoas.
Por outro lado, não se pode minimizar os aspectos político- estratégicos 
que cercam a decisão de se conformar um bloco econômico no Cone Sul. 
Quando pouco, ele confere aos Estados Partes um maior poder negociador em 
foros multilaterais, como a Área de Livre Comércio das Américas [ALCA]. 
Além disso, eleva as relações entre os seus membros a um novo patamar, que 
exclui terminantemente o recurso ao uso da força como forma de solução de 
conflitos. Nunca é demais lembrar a movimentação de tropas na fronteira 
argentino-brasileira em decorrência do conflito de Itaipu cerca de seis anos 
antes das primeiras iniciativas visando à integração. Hoje, multiplicam-se as 
visitas presidenciais e as reuniões de alto escalão; intensificam-se os contatos 
entre funcionários governamentais encarregados das negociações. As popu-
’■ Ver Renato Marques, op. cit, p. 5.
'*Ver Grupo do Rio.
22
iações passam a se conhecer.
Em sua dimensão política, o Mercosul desempenha o papel de garanti- 
dor das instituições democráticas na sub-região. Há não muito tempo, a 
ameaça de golpe de Estado no Paraguai foi objeto do repúdio por parte dos 
demais governos do bloco. A paz e o respeito à ordem democrática na região 
poderão ser, portanto, alguns dos “ efeitos colaterais” da integração.
V * Desdobramentos
1. O Programa “Mercosul 2000”
Vencida a etapa de transição que se estendeu da assinatura do Tratado 
de Assunção a 31 de dezembro de 1994, todos os esforços no Mercosul 
voltam-se para a consolidação e aperfeiçoamento da união aduaneira. Esta 
consolidação envolverá a plena implementação dos instrumentos de política 
comercial acordados e a elaboração da legislação necessária ao adequado fun­
cionamento da união aduaneira. Para este fim, o Conselho do Mercado 
Comum e o Grupo Mercado Com um empreenderam, em 1995, uma revisão 
dos foros negociadores existentes, tendo criado dez Subgrupos de Trabalho, 
duas Reuniões Especializadas, sete Reuniões de Ministros e três Grupos A d 
Hoc. A Sétima Reunião de Cúpula do Mercosul aprovou, ademais, em dezem­
bro de 1995 em Punta dei Este, um documento estratégico denominado 
Programa de Ação do Mercosul até o Ano 2000.'^
Tal programa inclui o cumprimento do cronograma de desgravações 
para o comércio intra-Mercosul até o ano 2000; a adoção de normas comuns 
relativas à defesa da concorrência,^" direitos do consumidor, práticas desleais 
de comércio e salvaguardas; e o aperfeiçoamento da estrutura jurídico-insti- 
tucional criada para o Mercosul.
O programa vislumbra ainda o aprofundamento do processo de inte­
gração rumo à meta de um mercado comum, prevendo para tanto a adoção 
de acordos que permitam a livre circulação de trabalhadores e de capitais.
Posteriormente à reunião de Ministros Encarregados do Comércio da
‘‘’LAMPREIA, Luiz Feljpe "A Agenda Negociadora do Mercosul até o Ano 2000" in Informativo Mercosul, Brasília; 
1996, p. 6.
'"O Protocolo de Defesa da Concorrência foi aprovado pelo Conselho do Mercado Com um em Fortaleza, em 17 
de dezembro de 1996.
23
Área de Livre Comércio das Américas, realizada em Belo Horizonte em maio 
de 1997, no decorrer da qual decidiu-se que as negociações visando ao esta­
belecimento da AL CA teriam por limite os acordos já negociados no âmbito 
dos esquemas de integração sub-regional a exemplo do Mercosul, incluíram- 
se os temas serviços e compras governamentais na agenda negociadora do 
Mercosul.
2. A agenda do Mercosul nas frentes externa e interna
Ao inaugurar a união aduaneira e o período de consolidação do 
Mercosul, o Protocolo de O uro Preto conferiu-lhe personalidade jurídica de 
Direito Internacional, permitindo-lhe celebrar acordos e tratados com outros 
Estados e organismos internacionais.
Abrem-se assim para o bloco interessantes possibilidades de associações 
no plano internacional, regional e hemisférico, que se expressa inicialmente 
na assinatura do Acordo-Quadro Mercosul - União Européia, assinado 
em dezembro de 1995. Acrescentam-se posteriormente o Acordo de 
Complementação Econômica Mercosul-Chile e o Acordo de Complemen- 
tação Econômica Mercosul-Bolívia, ambos de 1996, já negociados no forma­
to “4+1". Trata-se, na verdade, da renegociação de instrumentos bilaterais ce­
lebrados anteriormente no âmbito da ALADI, e que se orienta, a longo prazo, 
pelo objetivo da formação de uma área de livre comércio sul-americana, a 
ALCSA, conforme proposta pelo Brasil por ocasião da realização da Cúpula 
do Grupo do Rio em Santiago do Chile, em 1993. Na visão do Governo 
brasileiro, essa etapa deverá estar concluída antes que se estabeleça a ALCA, 
a integração hemisférica prevista pela Declaração de Miami, assinada por 
ocasião da Cúpula das Américas realizada em dezembro de 1994. Para tal fim, 
o Brasil defende a convergência dos diversos esquemas sub-regionais de inte­
gração já existentes, proposta que se tornou conhecida como os "building 
blocks”^ '.
Na frente interna, o desafio é fazer com que os Estados das regiões 
Norte e Nordeste também se beneficiem do dinamismo resultante do 
Mercosul, o que é possível, dada a complementaridade das economias
Ver GONÇALVES, José Botafogo, op. cit., pp. 20-21.
24
envolvidas.
Além da construção da percepção de que o Mercosul é um projeto para 
todo o país, o maior desafio na frente interna seja talvez o de fazer com que 
o processo integracionista possa beneficiar o conjunto das populações do 
Mercosul, erradicando a pobreza e propiciando o desenvolvimento com 
justiça social na região.
25
0 M e r c o s u l : A s p e c t o s d e D i r e i t o 
e C o m é r c i o I n t e r n a c i o n a l
Maristela Basso 
Professora-Doutora da Faculdade de Direito da 
Universidade de São Paulo - USP
Sumário: 1. Objetivos do Mercosul; 2. Os efeitos do 
Mercosul nos países-membros; 3. O Mercosul ao 
alcance do investidor; 4. As perspectivas do mercado 
comum; 5. Os benefícios advindos da rede de acordos 
de livre comércio; 6. Um novo conceito de investi­
mento; 7. O enfoque estratégico do Mercosul e sua 
abertura ao mundo; 8. Os resultados já alcançados; 9. 
A participação dos empresários; 10. Dados estatísticos 
da posição do Mercosul nocomércio mundial (com­
paração com outros blocos econômicos).
1. Objetivos do Mercosul
O MERCOSUL constitui um a etapa im portante de integração 
econômica da América Latina. Foi instituído pelo Tratado de Assunção, de 26 
de março de 1991, entre Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, e consolidado 
em 17 de dezembro de 1994, através do Protocolo de Ouro Preto, ambos já 
ratificados pelos quatro países.
O MERCOSUL implica:
a) a livre circulação de bens, serviços e fatores produtivos (mão-de- 
obra e capitais) entre os países membros, através, entre outros, da eliminação 
dos direitos alfandegários e restrições não tarifárias à circulação de mercado­
rias e de qualquer outra medida de efeito equivalente;
b) o estabelecimento de uma tarifa externa comum, a adoção de uma 
política comercial comum em relação a terceiros Estados e a coordenação de 
posições em íoros econômico-comerciais regionais e internacionais;
2 7
c} a coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais entre os 
Estados-Partes de comércio exterior, agrícola, industrial, fiscal, monetária, 
cambial e de capitais, de serviços, alfandegária, de transportes e comunicações 
e outras que se acordem, a fim de assegurar condições de concorrência entre 
os Estados-Partes; e
d) o compromisso dos Estados-Partes de harmonizar suas legislações, 
nas áreas pertinentes, para lograr o fortalecimento do processo de integração.
Através do MERCOSUL, os Estados buscam uma integração mais com­
petitiva das economias dos quatro países num mundo em que se consolidam 
grandes espaços econômicos e onde o progresso técnico se torna cada vez 
mais essencial para o êxito dos planos de investimento. Pretendem, assim, 
favorecer as economias de escala, reforçando as possibilidades de cada um dos 
países-membros com o incremento da produtividade, bem como estimular os 
fluxos de comércio com o resto do mundo, tornando mais atraente os inves­
timentos na região.
Com esse esforço de abertura das economias dos países-membros, que 
deverá conduzir à integração global da América Latina, busca-se também 
balizar as ações dos setores privados, que são os principais motores da inte­
gração.
2. Os efeitos do Mercosul nos países-membros
Com o Tratado de Assunção e o Protocolo de Ouro Preto, os Estados 
visam instituir a livre circulação de bens, serviços e fatores produtivos (mer­
cado comum). Tal proposta teve início em 1991, quando da assinatura e 
entrada em vigor do Tratado de Assunção, com a constituição da Zona de 
Livre Comércio, que implica a eliminação ou redução das taxas aduaneiras e 
restrições ao intercâmbio comercial entre os quatro países. Para tanto, esta- 
beleceu-se um programa de desgravação progressiva, linear e automática, que 
beneficia os produtos compreendidos no universo tarifário. A desgravação 
compreende não apenas os direitos aduaneiros propriamente ditos, mas tam ­
bém toda medida de efeito equivalente que incida sobre o comércio exterior 
[medidas de caráter fiscal, monetário e cambial).
Para assegurar que o programa de liberalização comercial não resulte 
prejudicado por outras práticas discriminatórias internas, o Tratado de 
Assunção estabelece a igualdade de tratamento, em matéria de impostos,
28
taxas e outros gravames internos, para os produtos originários dos países do 
MERCOSUL. Visando complementar o programa de liberalização comercial, 
o Tratado define os critérios e modos de certificação da origem dos produtos, 
já que as vantagens visadas pelo MERCOSUL não se destinam a terceiros 
países. Muito embora esse programa caracterize um dos instrumentos básicos 
da constituição do mercado comum regional, não é o único, existem muitos 
outros.
3. O Mercosul ao alcance dos investidores
A partir de 1 de janeiro de 1995, a existência do MERCOSUL garante 
a todos que investirem na Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai o direito de 
fazer chegar seus produtos aos consumidores dos quatro países, sem ter que 
pagar impostos nem ser objeto de restrições não tarifárias ao comércio.
O direito de acesso irrestrito aos respectivos mercados para os produ­
tos originários da região (existem regras de origem próprias do MERCOSUL] 
significa para os investidores que qualquer que seja sua localização no ter­
ritório dos quatro países, poderão operar em um mercado de 200 milhões de 
habitantes com uma renda per capita de mais de 4.000 dólares.
Em 1995, o MERCOSUL alcançou algo que nunca chegara antes e que 
tam bém ainda não foi obtido por nenhum outro bloco econômico latino- 
americano. A extensão da liberação comercial a toda produção possível torna 
seus resultados ainda mais amplos que aqueles que se espera obter na 
primeira etapa do NAFTA.
O MERCOSUL é muito mais que uma área de livre comércio. A partir 
de 1 de janeiro de 1995 temos uma taxa externa comum - TEC (AEC), que 
em sua primeira etapa já cobre 85% do universo tarifário. Para a implemen­
tação da TEC, estão previstos tratamentos diferenciados. Os quatro países 
acordaram que a partir de 1 de janeiro de 1995 a convergência linear e 
automática até um imposto comum máximo de 14% para os bens de capital 
se efetuará em seis anos ( onze anos para o Paraguai e Uruguai), e até um 
imposto máximo de 16% para os bens de informática e telecomunicações, em 
onze anos.
A TEC está orientada a assegurar a concorrência externa das economias 
dos quatro países membros. Esta é uma definição de política que foi incluída 
no próprio instrumento contratual que criou o MERCOSUL. O imposto
29
médio da TEC é de 14%, podendo atingir o máximo de até 20%.
A TEC revela a profunda abertura comercial que se produziu nas 
economias dos quatro países sócios do MERCOSUL, que nos últimos anos se 
colocam entre as mais abertas do mundo.
Existe ainda um Código Aduaneiro do MERCOSUL, uma nomen­
clatura tarifária comum e normas comuns sobre valoração alfandegária.
4. As perspectivas do Mercado Comum
Em 1 de janeiro de 1995 começou a etapa definitiva da construção do 
Mercado Comum do Sul. Para tanto, os sócios têm trabalhado juntos intensa­
mente durante esses quatro anos, identificando e eliminando obstáculos 
recíprocos. Grandes avanços já se registraram na desregulamentação do trans­
porte, especialmente o terrestre, culminando com uma redução substancial 
dos fretes. Também se adotaram medidas em distintos aspectos referidas, 
entre outras matérias, às normas técnicas, aos fluxos de capitais, ao tratamen­
to dos serviços, à coordenação das políticas econômicas e setoriais.
O espetacular crescimento do comércio recíproco e o aumento em 
todos os planos da interdependência econômica entre os quatro países-mem- 
bros facilitarão sem dúvida, o desenvolvimento das próximas fases do esta­
belecimento do Mercado Comum, para as quais o notável progresso alcança­
do em matéria de livre comércio e união aduaneira constituirá a necessária 
base de sustentação.
5. Os benefícios advindos da rede de acordos de livre comércio
Aqueles que investem no MERCOSUL gozam também dos demais 
benefícios de uma sólida e densa rede de acordos de livre comércio que seus 
países membros estão desenvolvendo no âmbito da Associação Latino-ameri- 
cana de Integração [ALADI). Disso decorre que os investidores poderão pro­
jetar seus produtos com maior fluidez em toda a América do Sul e do Norte, 
uma vez concretizadas as iniciativas atualmente em curso. Já foi assinado o 
acordo de ingresso do Chile no MERCOSUL, cujas vantagens já se fazem sen­
tir, e se avizinha a conclusão do acordo com a Bolívia e, possivelmente, com a 
Venezuela, formando, assim, um livre comércio sul-americano e hemisférico
30
impressionante. Da mesma forma, interessantes são as condições para o 
comércio e os investimentos que se poderão estabelecer no marco dos acor­
dos que estão sendo negociados entre o MERCOSUL e a União Européia.
6. Um novo conceito de investimentoInvestir no MERCOSUL permite não só aproveitar as enormes oportu­
nidades que oferecem seus países-membros, que agora já contam com o Chile 
como novo parceiro, ricos em recursos naturais, em experiência empresarial e 
em enormes recursos humanos qualificados, como ter acesso também ao 
mercado mundial, especialmente aos da América do Sul, Hemisfério 
Ocidental e Europa.
O MERCOSUL, portanto, representa uma nova fronteira para os inves­
timentos e para a competitividade de escala global, sustentada em uma forte 
vontade de seus respectivos governos e sociedades, no marco de instituições 
democráticas, e consolidado nas profundas transformações produtivas e so­
ciais realizadas nos últimos anos.
Além de potencializar excelente oportunidades de negócios nos quatro 
países além do Chile, graças à nova escala de mercado, como se vê na indús­
tria de alimentos e no setor automotriz, o MERCOSUL abriu enormes possi­
bilidades de investimentos em matéria de infra-estrutura, transporte, logística 
e energia. Estima-se que o investimento requerido por projetos de infra-estru­
tura que já estão na etapa de pré-inversão é da ordem de 10 bilhões de 
dólares. Compreendidos projetos como a Hidrovia Paraguai-Paraná e Paraná- 
Tieté; a auto-estrada São Paulo-Montevidéu-Buenos Aires; as interconexões 
por estrada e ferrovia com o Chile, e o túnel de baixa altura entre Mendonça 
(Argentina) e Valparaiso (Chile).
7. O enfoque estratégico do Mercosul e sua abertura ao mundo
Os quatro países, sem contar o Chile, ocupam uma superfície de 12 
milhões de quilômetros quadrados, com cerca de 200 milhões de habitantes. 
Representam 70% da superfície total da América do Sul, 64% de sua popu­
lação e 60% de seu produto interno bruto. São parceiros significativos do 
comércio mundial. Em 1994 compraram 55.000 bilhões de dólares, dos quais
31
cerca de um terço foi de bens de capital, em sua maior parte originados dos 
países membros da O CDE (Organização de Cooperação e Desenvolvimento 
Econômico).
O que se conhece hoje como "fortaleza MERCOSUL" pode ser enten­
dida como “plataforma MERCOSUL”, orientada a uma inserção ativa e com­
petitiva na economia hemisférica e global. A estratégia do MERCOSUL se 
baseia no seu caráter aberto ao comércio mundial, inserindo seus países-mem­
bros na economia global, através de uma metodologia heterodoxa e flexível, 
da qual podem se associar qualquer outro país latino-americano.
A idéia central do MERCOSUL é uma integração ampla e extroverti­
da, aberta aos investimentos e ao comércio com o mundo todo. Para tanto está 
procurando mobilizar o enorme potencial econômico e humano de seus paí­
ses-membros, criando um marco atrativo para investimentos e a incorporação 
do progresso técnico.
Os países do MERCOSUL são “global traders".
Suas relações comerciais e os investimentos estrangeiros diretos estão 
muito diversificados. Em 1993, 18 % de seu comércio exterior global foi ori­
entado ao próprio MERCOSUL; 27% para a União Européia; 9% para o resto 
da América do Sul; 20% para o NAFTA, e 12% para o Este Asiático.
O MERCOSUL foi concebido, desde suas origens, de acordo com as 
regras do GATT e hoje da OMC. É um caso típico de regionalismo aberto. 
Podemos dizer que o MERCOSUL é o “GATT-PLUS", isto é, procura apro­
fundar na região os acordos já alcançados no âmbito do GATT.
O intercâmbio comercial do MERCOSUL com o Chile, por exemplo, 
cresceu nos últimos quatro anos 40%. Daí porque, o Chile associou-se ao 
MERCOSUL, recentemente, num acordo 4 + 1. A Bolívia, por sua vez, man­
tém estreitas relações com o MERCOSUL e já concluiu importantes acordos, 
especialmente com Brasil e Argentina, para fornecimento de gás.
Ainda em 1991, o MERCOSUL firmou um “Acordo Relativo a um 
Conselho de Comércio e Investimentos” entre seus quatro países e os 
Estados Unidos. Esse acordo, conhecido como 4 + 1, estabelece um mecanis­
mo para facilitar o comércio e os investimentos entre os signatários.
Os países do MERCOSUL e do NAFTA são, sem dúvida, os principais 
parceiros da atividade econômica do Hemisfério Ocidental. Para os Estados 
Unidos, o MERCOSUL é um parceiro fundamental. Basta considerar que, em
32
1993, 50% das exportações americanas para a América do Sul se concen­
traram nos quatro países do MERCOSUL.
8. Os resultados já alcançados
Entre 1991 e 1994 o comércio intra-MERCOSUL se duplicou, 
alcançando 10 bilhões de dólares neste último ano.
As exportações ao MERCOSUL passaram a representar de 4% das 
exportações totais do Brasil, em 1989, para 10% em 1993. No caso da 
Argentina, passaram dos 10%, em 1989, aos 23%, em 1993; no do Paraguai, 
dos 30%, em 1989, aos 35%, em 1993; no do Uruguai, dos 28%, em 1989, aos 
43%, em 1993. E os índices recentes são muito mais otimistas.
9. A participação dos empresários
Para fazer avançar o processo de racionalização da produção e facilitar 
as alianças empresariais, foram previstos inúmeros instrumentos, tais como 
acordos setoriais. O Protocolo que regula a integração no setor automotriz 
entre Brasil e Argentina é um marco na integração, ao lado do Estatuto de 
Empresas Binacionais.
Grande foi o número de acordos de cooperação empresarial já firma­
dos. Empresas grandes, médias e pequenas se têm posicionado para aproveitar 
a nova escala de mercado que cria o MERCOSUL. Mais de trezentas “joint 
ventures” já foram feitas nos primeiros quatro anos. Inúmeras são as vanta­
gens conferidas às empresas binacionais brasileiro-argentinas, cuja legislação 
altamente facilitaria torna esse investimento extremamente atraente, do qual 
os estrangeiros também podem participar
As empresas multinacionais com operações nos países do MERCO­
SUL já adaptaram suas estratégias de investimento e comercialização à nova 
realidade MERCOSUL. Somente no setor automotriz foram feitos investi­
mentos da ordem de 10 bilhões de dólares em função do mercado ampliado.
33
A racionalização industrial e o desenvolvimento de novos esquemas de 
abastecimento refletem a convicção de que o processo de constituição do 
mercado comum não mais retrocederá. Razão pela qual esse é o mais atraente, 
promissor e importante bloco econômico mundial.
10. Dados estatísticos da posição do Mercosul no comércio interna­
cional (comparação com outros blocos econômicos)
A) Exportações de acordo com circuitos de comércio
1990-1995 
Em porcentagens
1990 1991 1992 1993 1994 1995
Intra-GRAN* 10,4 11,7 11,4 12,2 13,2 13,8
Intra-MCS** 33,9 33,8 37,2 42,3 42,2 41,2
GRAN-MCS 18,9 19,3 16,2 14,5 13,9 14,9
GRAN-Chile 6,4 6A 5,2 4,2 4,5 5,1
MCS-CHILE 13,5 13,5 13,3 12,2 12,0 13,0
GRAN-México 5,2 4,6 4,8 4,6 5,3 4,9
A LADr*" (milhões. U$S)12.170 15.086 19.412 23.692 28.553 35.490
* Grupo Andino 
** Mercosul
*** Associação Latino-Americana de Integração
34
B) Principais mercados compradores por blocos comerciais 
(US$ milhões FOB)
1994 1995 1996
Valor Part.% Valor Part. % Valor Part. %
União Européia 12.836 26,66 12.912 27,76 12.202 28,02
Nafta 10.388 21,71 9.640 20,73 10.367 23,61
Aladi 9.74 22,38 9.975 21,45 9.975 22,69
Ásia (excl. Or. Médio) 7.614 16,37 8.192 17,61 7.047 16,16
Mercosul 7.305 15,30 8.154 13,23 5.921 13,60
C) Comércio de acordo com o tipo de produto
1990-1995 - Em porcentagens
1990 1991 1992 1993 1994 1995 (a)
EXPORTAÇÕES I>JTRA-REGIONAIS
Alimentos, beb. e tab. 23,0 20,1 18,9 18,5 19,9 19,6
Mat.-Primas Agric. 4,9 4,2 3,3 3,1 3,2 2,9
Combustíveis 11,8 11,0 9,0 8,7 10,1 13,0
Minerais e metais 13,3 13,6 11,5 10,5 7,3 6,3
Manufaturas 46,9 50,7 57,0 59,1 59,3 57,9
Não classificados 0,2 0,3 0,2 0,2 0,2 0,3
TOTAL (milhões US$) 12.170 15.085 19.412 23.692 28.553 35.095
35
D) Exportações Globais
Alimentos, beb. e tab. 23,6 24,3 24,6 20,4 20,9 20,3
Mat.-Primas Agric. 3,5 3,5 3,5 3,0 3,3 3,9
Combustíveis 26,7 22,8 21,9 16,9 14,9 14,6
Minerais e metais 17,317,2 15,4 12,5 9,0 9,1
36
C o - R e l a ç õ e s e n t r e D i r e i t o 
I n t e r n a c i o n a l P ú b l i c o e D i r e i t o
Co mu n i t á r i o 
mm
Elizabeth Accioly 
Professora de Direito Internacional Público 
da Faculdade de Direito de Curitiba
Sumário: 1. Introdução; 2. O novo conceito de 
soberania e a evolução do Direito Internacional 
Público; 3. O ordenamento jurídico da união 
européia; 3.1. A autonomia do Direito 
Comunitário; 3.2. A aplicabilidade direta; 3.3. O 
efeito direto; 3.4. O primado do Direito 
Comunitário; 3.5. A uniformidade de interpre­
tação e aplicação; 4. O tribunal de justiça das 
comunidades européias; 4.1. O reenvio prejudicial.
1. * Introdução
As duas Grandes Guerras alteraram a concepção dos Estados, que, por 
presenciarem a que ponto se pode chegar o exacerbamento de suas sobera- 
nias internas, deixam de ter como fundamento exclusivo o princípio do indi­
vidualismo, para se basear tam bém no princípio da solidariedade internacio­
nal. Por conseguinte, a proteção aos indivíduos, ao ambiente, ao comércio e à 
paz entre os Estados passa a integrar as preocupações do Direito Internacio­
nal Público.
E nesse Direito Internacional novo ou moderno está embutido o reco­
nhecimento de que o Direito Internacional clássico, antigo, falhou. O Direito 
Internacional Público clássico se esgotava num Direito de coordenação das so- 
beranias, que partia da igualdade formal entre eles, e, agora, passa por uma 
metamorfose ao admitir novos sujeitos de Direito Internacional e a se preo­
cupar com questões outras que não o Direito Internacional da paz e da guer­
37
ra. “Esta evolução apresenta uma natureza qualitativa, estrutural, essencial: 
Direito Internacional Público deixa de ser apenas societário, deixa de ter por 
objeto apenas a soberania individual dos Estados, deixa de assentar no princí­
pio nuclear de que o que separava os Estados (por força do individualismo in­
ternacional projetado pela soberania dos Estados] era mais forte do que o que 
os unia (se, no apogeu da fase clássica do Direito Internacional Público, algu­
ma coisas os unia), para passar a ser também comunitário, ainda que lenta­
mente e em domínios concretos, fundado na prossecução de idéias e valores 
como a promoção da pessoa humana e a melhoria das condições de vida dos 
povos, e disposto, por isso, a valorizar o que une os Estados (mais do que isso: 
os povos e os indivíduos) em detrimento daquilo que os separa”'.
Desde o término da Segunda Grande Guerra, a história vem-se alte­
rando com demasiada rapidez, e até então impensáveis uniões de países co­
meçam a surgir. Estados que alimentavam inimizades concluem, com crescen­
te maturidade política, que rivalidades só trazem ressentimento, dor e pobre­
za para seus povos. O sofrimento por que passaram os europeus foi determi­
nante à revolução do conceito de soberania. Estados que antes mantinham a 
tradição de possuírem uma soberania una, indivisível e inalienável resolvem 
ceder e, de uma nova forma de integração econômica, passam a compartilhar 
sua soberania com os parceiros dessa empreitada.
Reveladora dessa ousadia foi a assinatura do tratado de Roma em 
1957, o qual instituiu a Comunidade Econômica Européia, cujo início se deu 
com seis países, com destaque á união de dois grandes rivais da Guerra — 
França e Alemanha — , para além da Itália, Bélgica, Holanda e Luxemburgo. 
Esses parceiros pretendem ultrapassar uma integração estritamente econômi­
ca a exemplo das conhecidas fórmulas de zona de livre comércio e união adu­
aneira, criando um novo modelo de integração: o mercado comum, que, além 
da livre circulação de mercadorias, impUca na livre circulação de pessoas, ser­
viços e capitais. Extrapolam assim as fronteiras comerciais para unir pessoas, 
e, se por um lado, a integração física já é complexa e representa um grande 
desafio, mais o será a integração de pessoas, uma vez que a movimentação hu ­
mana gera a união de mercados.
' FAUSTO de Quadros. "Direito d a Com unidades Européias e D ireito Internacional Público”. Coimbra: Ed. 
Almedina, 1991.
38
2. O novo conceito de soberania e a evolução do Direito Inter­
nacional Público
Foi a partir dos anos cinqüenta, com a evolução do conceito de sobe­
rania — quando "o Estado, tradicionalmente único sujeito de Direito Interna­
cional e principal participante da ordem respectiva, sofre efeitos da era da his­
tória global em que vivemos, em que cada fato, cada acontecimento se proje­
ta além de suas fronteiras, repercutindo nas diversas partes do m u n d o q u e 
se criaram e se aperfeiçoaram vários modelos de integração, sendo a União Eu­
ropéia o exemplo mais desenvolvido.
A nova ordem supranacional, criada pelo Tratado Institutivo da Co­
munidade Européia em 1957, conhecido por Tratado de Roma, revoluciono o 
conceito de soberania, principalmente no que concentre à aplicação de nor­
mas jurídicas, estas sujeitas a um Tribunal de Justiça que está acima dos Esta­
dos membros, aplicador de um novo direito — o Direito Comunitário, que 
tem primazia sobre o Direito Nacional.
A restruturação do conceito de soberania e, por conseqüência, do Di­
reito Internacional Público, enseja a aproximação deste com o Direito da In­
tegração. Este, a seu turno, passa a incidir na ordem jurídica interna dos Esta­
dos, e, na concepção da Fausto de Quadros, se encontra num grau superior ou 
avançado do Direito Internacional Público, que evolui à medida que evolui a 
União Européia.
O Direito Comunitário consegue, com êxito até ainda não visto, soli­
dificar um novo grau na hierarquia dos poderes através do poder supranacio­
nal. "A supranacionalidade, no conceito de um dos pais da CEE, Robert Schu- 
man, situa-se a meio caminho entre, por um lado, o individualismo interna­
cional que considera intangível a soberania nacional e não aceita outras limi­
tações desta soberania que não as resultantes de obrigações consensuais, 
ocasionais e revogáveis: e por outro lado, a federação de Estados, subordina­
dos a um super-Estado dotado de soberania territorial própria"\
Embora o poder supranacional, no seio das Comunidades Européias, 
caminhe para o federalismo, suas decisões ainda se concentram na mão dos
 ^MAGALHÃES, José CarJos de, 'As Em presas Mulíimunotmis e o M ercado d e C apita is”, in Revista da Faculdade 
de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, vol. 28. n°s. 23/24 e 25, 1980/82.
’ CAMPOS, João Mota de. “Direito Com unitário”, v. I. Lisboa; Fundação Calouste Gulbenkian, 1989.
39
Estados, ou seja, os Estados continuam sendo os donos do Tratado, que foi as­
sinado no âmbito do Direito Internacional Público clássico, o que é de todo 
oportuno que se destaque. Na visão de François Rigaux, a supranacionalidade 
se encontra, portanto, na esfera de uma ordem jurídica interestática regional: 
“Une première catégorie est faite dórdres juridiques interétatiques, entés sur le 
droit international, parce quíls ont pour source un traité auquel les Etats ont don- 
né leur adhesion [...] Parmi ces traités [...] une attention particulière doit ètre don- 
née aux traités ayant institue les Communautés européennes’’*.
O que se deve esclarecer é que, finalmente, os sócios das Comunida­
des Européias encontraram uma fórmula de estar unidos e de preservar uma 
meta que lhes é das mais caras: a paz. esse mecanismo original e inovador nas­
ce de uma nova visão do conceito de soberania: um partilhamento; os cele­
brantes do Tratado delegam parte da sua soberania a um poder supranacional, 
para que esse poder atue apenas e tão-somente com relação aos objetivos co­
muns, que os próprios Estados criaram e têm a ambição de alcançar. Eles já al­
cançaram o mercado interno e, em novo passo, almejam alcançar a união po­
lítica, econômica e monetária, a começar pela adoção de uma moeda única, 
de uma defesa única e de uma cidadaniaúnica, com o novo Tratado da 
União Européia, que entrou em vigor em 1993. Pretendem, conservar, entre­
tanto, a razia, a titularidade e a essência desses poderes, podendo, em qualquer 
altura, revogar a delegação e recuperar o pleno exercício dos poderes delega­
dos. Em outras palavras, o poder político comunitário não possui autonomia 
com relação ao poder políticos dos Estados membros. Nesse linha, os Estados 
podem, a seu alvedrio, dissolver as comunidades, pondo fim ao poder político 
comunitário e à ordem jurídica comunitária, sem que a isso se oponham as 
tratativas da Comunidade.
Não há dúvida de que o fenômeno da globalização da economia e seus 
conseqüentes desdobramentos fizeram com que a mentalidade dos países se fosse 
paulatinamente modificando, a partir de interesses políticos e econômicos, sendo 
também esse um dos motivos da mudança do conceito de soberania, que foi se so­
brepondo ao tradicional, ao ponto de os Estados concordarem em acatar e respei­
tar as normas emanadas por um poder acima dele — o poder supranacional.
A Europa, que foi o palco dos maiores conflitos do nosso século, mos­
trou ao mundo que, em vez da guerra, os povos podem e devem se unir e que.
‘ RIGAUX, François. "Le Pluralisme en D roit International Privé".
40
da união, da cooperação, da delegação de parte de sua soberania, é possível dar 
aos cidadãos uma qualidade de vida digna e aos Estados uma maior integra­
ção e desenvolvimento no âmbito econômico e sociaP.
A experiência da União Européia ensina que uma das mais difíceis ta ­
refas da construção integracionista foi a aceitação da soberania partilhada pe­
los Estados-membros, fato este que veio a ser debatido mais efusivamente 
quando da entrada em vigor do Tratado da União Européia, em novembro de 
1993, que veio reforçar as suas características federais, no âmbito econômico, 
bem assim na transferência de poderes no campo da moeda e da defesa úni­
ca. Paulo Pita e Cunha opina a respeito da Comunidade pós-Maastricht;
À medida que se vão precisando os contornos de uma união européia 
cada vez mais exigente e cada vez mais absorvente, assume um relevo que não 
tinha ao tempo em que a construção evolutiva da Europa se confinava a rea­
lidade mais prosaicas a inserção dos Estados numa coletividade que corres­
ponda à fórmula mais ou menos tipificada da federação, ou se deverá antes 
procurar preservar-se a originalidade do sistema de equilíbrio entre os Esta- 
dos-nações e a estrutura "supranacional”, detendo-se o processo integrativo, 
sem embargo do seu aprofundamento, aquém da linha de apagamento perso­
nalidade Internacional dos Estados-membros. A segunda via parece a única 
consentânea com a realidade da integração européia, movimento cuja inicia­
tiva dimana de Estados-nações de enraizamento secular, com marcados parti- 
cularismos na história, na tradição, na língua e na cultura.
Acresce que o aprofundamento da integração não se processa já no 
quadro familiar de uma Comunidade de contornos geográficos estabilizados 
— em que se garante a cada um dos Estados uma situação de igualdade na 
própria presidência rotativa — mas no bem diferente âmbito de uma Europa 
em profunda mutação, na qual se multiplicam as candidaturas atuais e poten­
ciais à condição de membro e onde, para além das fronteiras comunitárias, fer­
vilham agora nacionalismos por longo tempo adormecidos.
‘ A soberania não c hoje em qualquer Estado entendida como no Século XVII, onde os reis afirmavam que não estariam 
sujeitos a nenhum outro poder que apenas consentiam nos tratados que conviessem no interesse dos reinos, e não mais 
que isso. Todo o desenvolvimento das relações internacionais no sentido de se estabelecerem normas cada vez mais estre­
itas entre todos os Estados. Até o Século XIX os tratados eram principalmente comerciais, de navegação, e, no Século XX, 
surgiram com toda a força as organizações internacionais, como a ONU, a CEE, com larguissimas somas de atribuições e 
com poderes mesmo impondo-se sobre os Estados, como era o caso dos Direitos do Homem. Portanto, hoje, a soberania 
não pode ser entendida como antes, no entanto, a soberania ainda tem aquilo que se pode chamar de conteúdo essencial, 
a soberania de exercício dessa faculdades e por outro lado o Estado soberano aparece em igualdade com os demais Estados 
na vida internacional, pelo menos em igualdade juridica, prevalece a idéia de igualdade. Conferência proferida pelo 
Professor Jorge Miranda, sobre "A Constituição Portuguesa e a Adesão à CEE", para o 7° Curso de Estudos Europeus, ano 
letivo 1992/1992, Instituto Europeu da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, em 12.11.92.
41
Neste contexto movediço, mas em que a força da atração da Comuni­
dade só parece amplificar-se, o isolamento constituiria, decerto, opção inacei­
tável; antes deverá procurar assegurar-se uma participação ativa na modelação 
da própria evolução da união européia. Não basta aspirar à linha da frente das 
realizações comunitárias: há que procurar influir, de acordo com os interesses 
nacionais, na definição dos conteúdos e do ritmo das próprias realizações®.
3. O ordenamento Jurídico da Uniao Européia
3.1 A Autonomia do Direito Comunitário
A primeira caracteristica básica do direito da integração em nível co­
munitário é a de que “os tratados que instituíram as Comunidades são trata­
dos internacionais. Sem dúvida que eles apresentam, na sua interpretação e na 
sua aplicação, especialidades em relação ao Direito Comum dos Tratados; mas 
nada disso interfere com o princípio de base de que eles são instrumentos do 
Direito Internacional e não se confundem designadamente com a Constitui­
ção de um Estado. Para chegarmos a essa conclusão foi decisivo o fato de, em 
harmonia com o Direito Comunitário vigente, os tratados institutivos das Co­
munidades, que foram concluídos pelos Estados, continuarem subordinados à 
vontade comum dos Estados membros, quer quanto a sua modificação, quer 
quanto a sua ab-rogação^.
A segunda característica diz respeito a suas normas, que não irão regu­
lar unicamente a relação entre os Estados, como previsto no Direito Internaci­
onal Público, ["Por Direito Internacional clássico entendemos aqui a ordem ju­
rídica que assenta na soberania indivisível dos Estados, no individualismo inter­
nacional dos Estados, e que, portanto, promove em relação às soberanias estadu­
ais uma ação de mera coordenação. Trata-se, por conseguinte, de um Direito que 
só atribui direitos e impÕe obrigações aos Estados®], senão que regulam as rela­
ções entre os particulares, pessoas físicas ou jurídicas dos Estados-partes, deven­
do, para tanto, integrar-se nos ordenamentos jurídicos nacionais.
A essas duas características que formam o direito da integração cha-
‘ “A união m onetária e suas implicações'', Palestra proferida no "Seminário sobre a União Européia", promovido 
pelo Curso de Estudos Europeus da Faculdade de Coimbra, em 20 e 21 de março de 1992.
' Idem, p. 196.
‘ Idem, p. 174.
42
mamos de Direito Comunitário, que como bem conceitua o Prof. Jorge Fon­
toura: “não é um direito sui generis, revolucionário ou gratuitamente subver- 
tedor de convicções jurídicas seculares. Corresponde, ao contrário, à necessi­
dade que deriva da hegemonia das idéias, impondo-se a partir de um querer 
coordenado e coletivo dos Estados pactuantes"^
Portanto, o ordenamento jurídico comunitário é composto pelo direi­
to originário [Tratado de Roma, Ato Único Europeu, Tratado da União Euro­
péia ou Tratado de Maastricht), e pelo direito derivado (Regulamentos, Dire­
tivas, Decisões e Recomendações e Pareceres].
O exemplo da União Européia é o mais perfeito, pois foi onde nasceu 
o Direito Comunitário, uma das grandes glórias e o pilar da construção euro­
péia. Mas para que tal direito fosse se incorporando à integração, foi preciso 
muita vontade política e muita seriedade

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