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Ondas geradas pelo vento 1. Introdução Ondas de gravidade são geradas pela tensão do vento na superfície da água sendo que a gravidade exerce função restauradora das oscilações, propiciando a sua propagação muito além de sua área de geração. A energia das ondas cresce com o aumento da velocidade do vento, de sua duração e do “fetch” (área de geração). Quando em suas áreas de geração as ondas recebem a denominação genérica de “sea” ou vagas. Depois de dispersarem-se e se encontrarem distantes de seu centro de geração são denominados “swell” ou ondulações. 2. Características do movimento ondulatório. As ondas progressivas, aquelas que se deslocam ao longo da superfície do oceano, são periódicas. Considerando grupos de ondas que se repetem em intervalos regulares, pode-se representa-las conforme a figura: onde: h é a profundidade da água; H é a altura da onda, dada pela distância vertical de uma cava a uma crista; a é a amplitude da onda, que para ondas regulares é H/2; é o comprimento de onda – distância entre dois pontos equivalentes de duas ondas; T é o período – tempo para que um comprimento de onda passe por um ponto de referência; f = 1/T é a frequência da onda. cava crista A velocidade de propagação (celeridade) é dada por: A altura da onda é independente dos outros parâmetros. A relação é definida como esbeltez da onda. 3. O problema de valor de contorno A análise matemática do problema de propagação de ondas no oceano pode ser feita como um problema de contorno, onde a equação diferencial de governo é a equação de Laplace, que considera o fluido incompressível e irrotacional: Para a solução matemática existem cinco teorias. A teoria de Airy ou teoria linear é a mais simples e usa considerações simplificativas que permitem aplicação somente a ondas simétricas e com órbitas circulares fechadas. Para o uso dessa teoria é necessário também que: - a onda tenha uma esbeltez muito pequena ( ) - a profundidade h seja muito maior do que a altura da onda ( ). A equação que descreve a elevação da superfície é dada por: onde: é conhecido como número de onda; é a frequência angular. Resolvendo o problema com as condições de contorno adequadas se encontra como solução: Dessa equação, podem-se obter as componentes da velocidade da partícula: As equações de u e w descrevem circunferências de raio a para z = 0 e raio decrescente quando z < 0. Para determinada onda, as máximas velocidades horizontais (para frente e para trás) serão alcançadas para os valores extremos de H = 2a. Ou seja, na crista da onda (+a) a velocidade será máxima e para frente, enquanto que, na cava da onda (-a) a velocidade orbital é máxima para trás. Segundo a teoria linear de ondas, as partículas d’água quando da passagem de uma onda não apresentam movimento líquido de posição, ou seja, não há transporte de massa associado ao movimento ondulatório. Desta forma, a propagação de uma onda na superfície do oceano gera um movimento orbital circular das partículas de água. As órbitas descritas pelas partículas de água durante a passagem da onda são de diâmetro variável e dadas pela equação: onde D é o diâmetro da órbita H é a altura da onda e é a base natural dos logaritmos z0 é a profundidade da água abaixo do centro da órbita é o comprimento de onda Essa expressão prediz que o diâmetro orbital da partícula na superfície é igual a altura da onda e diminui a medida que a profundidade aumenta. Essa expressão só é válida para águas profundas onde a profundidade é suficiente para permitir o total desenvolvimento vertical das órbitas, até sua extinção. Caso contrário, as ondas passam a “sentir o fundo”, pois a profundidade torna-se inferior àquela necessária para extinção vertical do movimento orbital das partículas. Por exemplo: Onda de água profunda com H = 2 m, λ = 100 m -160 -140 -120 -100 -80 -60 -40 -20 0 0 1 2 3 Diâmetro profundidade Em profundidades menores, ocorre então a distorção das órbitas que passam a assumir formas cada vez mais elípticas e assimétricas causando grande efeito junto ao fundo. Dessa solução também se pode obter uma importante relação entre as variáveis da onda: chamada de relação de dispersão substituindo as relações de k e A celeridade fica: Analisando a equação fica clara a dificuldade de aplicá-la diretamente pois não se pode explicitar o . Analisando o gráfico da função tanh, pode-se obter algumas simplificações. 1- se (kh) assume valores altos (>3) a função tanh(x) tende para 1. Esta simplificação corresponde a condição de definida como águas profundas onde a profundidade h é muito grande em relação ao comprimento de onda . Essa aproximação conduz a equação: - que substituindo o valor de g = 9,81, vem: logo, para águas profundas, é possível calcular o comprimento da onda apenas pelo seu período. Isto é muito prático, pois medir o período da onda é muito mais fácil (e possível) do que medir o comprimento. A expressão do comprimento de onda indica que pequenos aumentos de T implicam em grandes aumentos de . A celeridade para águas profundas resulta: A expressão da celeridade indica que ondas mais longas propagam-se mais rápido. Observação: uma tempestade produz ondas com os mais variados períodos, que se encontram inicialmente desordenadas na superfície do oceano. As de maior período afastam-se mais rapidamente da zona de geração. Esse fenômeno produz uma seleção a partir do centro de geração, onde as ondas separam-se em grupos uniformes e cada vez mais regulares. Essas ondas bem selecionadas e de espectro de frequência uniforme são conhecidas por ondulações ou “swell”. Já as ondas que se encontram em grupos irregulares e de espectro de frequência muito amplo são chamadas de vagas ou “sea”. Essas ondas, normalmente não se afastaram do centro de geração suficientemente para permitir a seleção. O conceito de águas profundas foi usado, para quando kh > 3. Substituindo esse valor, usando kh = , o argumento da tanh fica: isso significa dizer, que as equações para água profunda seriam válidas a partir de: Esse é normalmente a relação usada para definir águas profundas. 2- Analisando o outro extremo da aproximação, quando kh torna-se pequeno. Para valores pequenos de kh, a tanh(kh) se aproxima do próprio valor de kh (ver gráfico de tanh). Substituindo na equação da dispersão para comprimento de onda: simplificando A celeridade fica: Essa aproximação é chamada de condição de água rasa e é aceita pararelação (isso equivale a kh< /10 = 0,314) Por essa aproximação, pode-se concluir que a velocidade de propagação da onda em águas rasas depende apenas da profundidade. Assim, resumindo: parâmetro águas profundas águas intermediárias águas rasas Aplicação h > /2 /2 > h > /20 h < /20 (x,z,t) C 3. Energia das ondas de gravidade Embora não haja movimento líquido de água quando uma onda passa no oceano, ocorre transferências de energia através da superfície do mesmo. O deslocamento provocado pela onda na superfície da água em relação ao nível médio fornece à oscilação energia potencial, ao mesmo tempo que o movimento orbital das partículas da água fornece-lhe energia cinética. Assim, a energia total de uma onda é dada pelo somatório da energia cinética com a potencial: Integrando a Equação de Bernoulli sobre o comprimento de uma onda e sua profundidade, resulta : O fluxo de energia, ou potência da onda, ou seja, a taxa na qual a energia da onda é transferida na direção de propagação de um trem de ondas é dado por: onde Cg é a velocidade de grupo, dada por: sendo C, a celeridade da onda. A velocidade de grupo Cg (velocidade de grupo) é a velocidade com que o “trem” de ondas se propaga no oceano, ou, em outras palavras, é a velocidade com que a energia é transferida. Em águas profundas, kh é grande, logo senh(2kh) tende a infinito, e a equação da Cg, resulta que: Isso significa dizer que as ondas individualmente propagam-se com velocidade duas vezes maior do que a taxa de transmissão de energia. Isso pode realmente ocorre, pois à medida que um trem de ondas avança, algumas ondas progridem mais rápido que outras e logo se extinguem. Para compensar, outras ondas se desenvolvem no trem conservando a energia total do sistema. Em águas rasas, kh é pequeno e o senh(2kh) tende a (2kh), resultando que: Como o fluxo de energia se conserva, e em águas rasas, a velocidade das ondas decresce com a diminuição da profundidade, o termo de energia deve aumentar. Isso ocorre com o aumento da altura H da onda, próximo a praia antes da onda quebrar. Para analisar o fenômeno de embancamento (ou shoaling) que a onda sofre ao percorrer zonas com menor profundidade é usada a teoria de Stokes (que permite analisar assimetrias em ralação ao nível médio da água e órbitas abertas) O critério de Stokes baseia-se no fato de que em uma onda estável a velocidade das partículas da água na crista é igual a celeridade. Caso a velocidade da crista exceda a velocidade de propagação da onda, então está tombara para frente e a onda quebrará. Para águas profundas, segundo Michell (1983) a esbeltez máxima para que não ocorra a quebra é: Em águas rasas e intermediárias, a esbeltez limitante é: Especificamente para águas rasas a tanh(kh) = (kh), assim: Usando a teoria da Onda Solitária, que considera uma onda progressiva como uma única crista, McCowan (1894) demonstrou teoricamente que existe um valor máximo para a relação entre altura da onda e profundidade, através da qual a onda quebra: Outros estudos experimentais demonstraram relação entre fundos íngremes e o valor de b: declividade de 1,3º - b = 1,2 declividade de 3,7º - b = 2,8 A propagação das ondas desde sua zona de geração ocorre com alguma atenuação no transporte de energia. Os fenômenos responsáveis por essa atenuação são: - viscosidade interna; - espalhamento angular a medida que deixam a área de geração; - ventos em direção contrária à direção de propagação das ondas; - interação onda-onda. O decaimento da altura da onda devido à fricção interna pode ser calculado como: 4. Medição e análise de ondas As ondas produzidas no oceano por ação de ventos são geradas com um amplo espectro de ondas e não como um trem de ondas com períodos e alturas fixas. A adição de trens de ondas simples resulta em um padrão irregular, de alturas variável e aparentemente nenhuma periodicidade. A análise do clima de ondas de uma determinada região é feita pela aquisição de dados medidos em campo de altura e período de ondas. O resultado é um registro muito complexo. Usando ferramentas de análise espectral pode-se obter as ondas que o produziram. É muito comum se trabalhar com a “altura de onda significativa”. Esse termo, normalmente representado por H1/3, é definido com a média de um terço (1/3) das ondas mais altas medidas durante um intervalo de tempo, em geram 20 minutos. Da mesma forma, existe o “período de onda significativo”, definido como a média dos períodos de 1/3 das ondas mais altas encontradas. Usando esses conceitos, pode-se calcular o fluxo de energia (P) a partir de dados experimentais, usando o espectro da onda. Onde: S(f) é o espectro de frequência do estado de mar medido. Para um espectro de energia típico, pode ser obtidos a altura de onda significativa Hs e período de pico de energia do espectro Tp. Para esse caso o fluxo de energia pode ser calculado, conforme Eloi (2010) a partir da equação: (kW/m)
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