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Os riscos do empreendedor
A análise dos riscos deve levar em conta a probabilidade e o impacto de uma decisão
Por Marcos Hashimoto*
Todos nós corremos riscos o tempo todo. Ao saímos de casa, podemos ser atropelados, fulminados por um raio ou simplesmente tropeçar e ralar o joelho. Se levássemos em conta todas as ameaças que sofremos, nem sequer sairíamos de casa. Na verdade, nem em casa nos sentiríamos seguros. Se nós conseguimos tocar nossas vidas diariamente, é porque sabemos que, apesar das ameaças que vivemos todos os dias, no fundo, a probabilidade de se concretizarem é baixa. 
Não é por acaso que, depois de lerem algumas estatísticas sobre mortalidade de empresas, poucas pessoas se aventuram na carreira empreendedora. Segundo levantamento feito por algumas instituições, o índice de descontinuidade de pequenos negócios é altíssimo nos seus primeiros anos de vida. Até pouco tempo atrás, 75% das empresas abertas não chegavam ao seu quinto ano de vida. Ou seja, a regra é quebrar, dar certo é a exceção. Diante disso, é normal que as pessoas nem cogitem o negócio próprio como alternativa de futuro. 
Mesmo assim, a despeito das estatísticas, por que algumas pessoas resolvem empreender? Simples. O empreendedor tem uma visão diferente do risco que está correndo. Em primeiro lugar, ele não olha só o que tem a perder, mas, acima de tudo, o que tem a ganhar. São as possibilidades de ganho e os benefícios atrelados, como independência, autonomia ou propósito, que fazem a pessoa empreender. As possibilidades são bem maiores do que os prejuízos. Temos, portanto, dois elementos que explicam o fenômeno do risco: a probabilidade e o impacto. 
A probabilidade é normalmente confundida com risco. Quanto maiores as chances de algo dar errado, maior a probabilidade e, portanto, maior o risco. Pode ser um elemento importante, mas não é o único. A sua probabilidade de tropeçar caminhando de olhos vendados é alta, mas, se o impacto é baixo, você até se arrisca, ou seja, você não vai perder a vida a não ser que resolva atravessar uma rua movimentada. Por outro lado, a probabilidade de um cofre cair na sua cabeça ao andar na praia é baixíssima. Embora o impacto seja alto – a perda da vida –, você nem considera esse risco porque a probabilidade é baixa.
Quanto ao impacto, a maioria das pessoas acha que ele é o que se perde ao enfrentar uma situação. Mas o empreendedor considera impacto a diferença entre o que se ganha e o que se pode perder, se algo der errado. O impacto mede os resultados de assumir um risco, que pode ser positivo ou negativo. Assim, andar em um quarto escuro representa o risco de tropeçar e se machucar. Ninguém faria isso a troco de nada. Mas, se a luz tiver acabado e a vela estiver guardada naquele quarto, o benefício de ter um pouco de luz poderá compensar a probabilidade alta de tropeçar. Tanto o impacto como a probabilidade são relevantes na determinação do grau de risco. 
Mas a análise de riscos não se resume à conjunção desses dois elementos. Existem outros que devem ser considerados na análise: a incerteza, a complexidade, as ameaças e as ações alternativas. 
Incerteza: muitas vezes, devido à falta de informações, você não pode determinar o grau de risco. A incerteza também pode ser atribuída a outras causas, como excesso de dados, informações de veracidade duvidosa, fontes sem credibilidade, dados contraditórios, excesso ou falta de racionalidade e excesso ou falta de influência emocional. Quanto maior a incerteza, maior é a chance de algo inesperado acontecer. Saber que existe uma vela no quarto escuro mostra que vale a pena correr o risco. Se eu não sei se existe uma vela lá, mas entro no quarto e tropeço, o risco foi alto mediante o benefício inexistente. 
Complexidade: é a quantidade de variáveis que influenciam a atividade. O risco é diretamente proporcional ao número de variáveis. Um projeto de organizar as próximas Olimpíadas, por exemplo, possui um grau de complexidade maior do que organizar um passeio com a família. Essa complexidade se deve à quantidade de pessoas, empresas, tempo, orçamento, espaço, ações, recursos e outros fatores que são considerados no projeto. Quanto maior o número de variáveis, maior a chance de uma delas dar errado. Note que a complexidade também deve ser analisada junto com a incerteza, mas uma coisa não necessariamente influencia a outra. Assim, mesmo que você seja o líder do comitê que organiza as Olimpíadas há 20 anos e o seu grau de incerteza seja mínimo, a complexidade do evento é que determina que o risco é alto. 
Ameaças: todos nós assumimos algum tipo de risco. Dormir, comer e andar é arriscado, mas não tanto quanto saltar de paraquedas ou atravessar correndo uma estrada movimentada. Assim, o próximo elemento da análise de riscos é a ameaça – aquilo que gera o risco. Andar é arriscado porque podemos ser atropelados, assaltados, levar um tiro etc. Essas são as ameaças. Por isso, a mesma atividade pode ter baixo risco em um contexto e alto risco em outro. Dormir pode ser uma atividade de baixo risco se você estiver na sua cama, mas pode ser de alto risco no relento de uma floresta. 
Ações alternativas: o último elemento relevante da análise de risco é a ação alternativa, ou seja, o que se faz para eliminar ou minimizar o risco. Muitas vezes, o custo para executar uma ação nesse sentido é maior do que correr o próprio risco. É possível, por exemplo, construir uma casa totalmente livre de risco de desabamento? Sim, sobretudo se houver investimento em um bom projeto estrutural. Mas como garantir 100% da qualidade da matéria-prima? Como evitar inundações, terremotos e outras intempéries de baixa probabilidade? Essa análise só pode ser feita quando há um bom balizamento entre a proporcionalidade do risco e da ação de prevenção correspondente, um tipo de análise custo-benefício. Quanto mais formas de reduzir ou eliminar os impactos, a probabilidade, a incerteza, a complexidade e o número de ameaças, menor o risco.
 
O empreendedor é às vezes tachado com o rótulo de “jogador”. Expressões como “apostar todas as fichas”, “ou tudo ou nada”, “tomador de riscos”, usualmente aplicados ao perfil empreendedor, só ajudam a reforçar essa imagem. É um erro achar que o empreendedor aceita e busca o risco. O empreendedor não é um aventureiro. Ele nem sempre assume riscos, ele sabe ponderar todos os prós e os contras e, mesmo assim, quando assume o risco, faz o que pode para minimizá-lo. 
Veja o seu negócio, por exemplo. Analise o risco de um fornecedor quebrar. Qual será o impacto no seu negócio? Que prejuízo representará para o seu produto? Qual é a sua dependência dele? E a probabilidade de ele quebrar? Veja como está a situação financeira e a credibilidade dele. Use os mesmos critérios para analisar outros riscos: de perder um cliente, de formar uma parceria, de exportar um produto. Os riscos estão por toda a parte, mas, usando os critérios certos, você saberá qual merece atenção especial. O que você não pode fazer é ter medo de todos e vacilar na hora de tomar decisões importantes. 
* Marcos Hashimoto é professor de empreendedorismo do Insper, consultor e palestrante (www.marcoshashimoto.com) 
http://revistapegn.globo.com/Revista/Common/0,,EMI259579-17141,00-OS+RISCOS+DO+EMPREENDEDOR.html
Crie uma situação hipotética de empresa (abertura de uma empresa, inovação de um produto, inovação de um serviço, expansão, enfim, algo empreendedor dentro do negócio) e avalie todos os itens descritos no artigo em relação à situação hipoteticamente criada.
- probabilidade; impacto; Incerteza; Complexidade; Ameaças; Ações; Alternativas
Posicione-se ainda sobre o risco devido à complexidade.

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