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DIREITO DO CONSUMIDOR - AULA 2
Aspectos constitucionais da disciplina
O CPC
Princípios do Direito do Consumidor
(2) Origem constitucional da proteção
Previsão:
art. 5º, XXXII (direito fundamental)
art. 170, V (princípio da ordem econômica)
art. 48 do ADCT (mandamento para legislador ordinário; em 120 dias elaborar um CDC)
*** Lembre-se que a CF foi promulgada em 05/10/88 e o CDC em 11/09/90, portanto em prazo muito superior.
- reconhecimento desse novo sujeito de direito
- proteção constitucional em duas frentes:
a) Direito Fundamental
b) Princípio da Ordem Econômica
Enfim, o CDC realiza o deseja constitucional de proteger o consumidor. 
2.1.) Como Direito Fundamental:
Assegurar afirmativamente que o Estado, por qualquer de seus poderes, realize a defesa/proteção dos consumidores: atuação positiva (protetiva, tutelar, afirmativa, de promoção) => 2ª dimensão (transição para o Estado Social) 
- A promoção da defesa do consumidor passou a ser um dever do Estado.
- Típica norma de eficácia limitada de princípios programáticos.
O constituinte originário instituiu o direito do consumidor como um direito subjetivo geral!
Além de um direito individual, é um Direito Fundamental!
Garantia constitucional desse novo ramo do Direito.
Celso de Melo: compromisso inderrogável que o Estado brasileiro conscientemente assumiu. A ANC elevou a defesa do consumidor à posição de direito fundamental, bem como a condição de princípio estruturador e conformador da própria ordem jurídica econômica.
Exercitável/exigível:
a) contra o Estado (eficácia vertical dos direitos fundamentais)
b) contra o Particular (eficácia horizontal dos DF)
2.2.) Princípio da Ordem Econômica:
As bases constitucionais do atual sistema econômico brasileiro encontram-se nos arts. 170 a 192, impregnado de princípios e soluções contraditórias (capitalismo e Estado intervencionista, por exemplo).
Anote-se que foram as Constituições do México (17) e de Weimer (19) que inauguraram o Estado Social, com a previsão dos Direitos de 2ª Geração/Dimensão.
A compreensão do art. 170 da CF/88 aponta a busca por implementar uma nova ordem econômica.
o art. 170 da Carta Magna estabeleceu a defesa do consumidor como princípio fundamental para a ordem econômica e financeira. Tal princípio integra-se a ideia geral do caput do artigo, devendo a ordem econômica assegurar a todos uma existência digna:
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
(...)
V -  defesa do consumidor;
Portanto, a defesa do consumidor, princípio da ordem econômica, é um direito social de 2ª geração. Logo, exige do Estado uma ação positiva, um fazer, para que a defesa do consumidor seja implementada continuamente. Para a CESPE é de 3ª geração.
Enfim, o capital ou o Estado, ao intervir na ordem econômica, deve observar os princípios do direito do consumidor.
(3) CDC - Código de Defesa do Consumidor
3.1. - Microssistema legislativo
- Por tempos, a disciplina jurídica foi monotemática. Cada código uma disciplina.
- Essa divisão severa tem perdido lugar. Sociedade muito complexa.
- Tendência: leis que cuidam de diversas disciplinas, ou seja, civil, penal, administrativo, processo civil, entre outras. São os microssistemas legislativos.
- O CDC é um! Há outros: ECA, Estatuto do Idoso, Lei de locações etc.
- O importante não é a divisão, mas a efetividade dos direitos.
- Ao invés de legislar com base em velhas categorias do direito público e privado, o foco é legislar baseando-se em problemas: consumidor, idoso, crianças e etc.
- CDC confere tratamento multidiscipliar: (i) civil (8º ao 54); (ii) administrativo (55 a 60 e 105/106); (iii) penal (61 a 80); e (iv) jurisdicional (81 a 104)
 
3.2. - Normas de "ordem pública e interesse social"; o que significa?
Dispõe o art. 1º do CDC:
Art. 1º O presente código estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos arts. 5º, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e art. 48 de suas Disposições Transitórias.
São normas cogentes que não toleram renúncia.
Os hipossuficientes dependem de proteção legal.
São impositivas e não admitem disposição particular.
Enfim, indisponíveis e inafastáveis, pois resguardam valores básicos e fundamentais da ordem jurídica.
3.3. Autonomia e heteronomia
Por tempos, o Direito Privado foi marcado pela autonomia da vontade.
Os particulares auto-regulavam seus próprios interesses: autonomia.
Atualmente, há o decréscimo da autonomia para proteger os mais fracos, hipossuficientes. Reduz-se para protegê-los.
Pontes de Miranda, criticando a liberdade de contratar, diz ser "praticamente traduzível em liberdade, para os fortes, de impor sua vontade aos fracos".
Logo, atualmente ganha destaque a heteronomia. Por meio de leis de ordens pública (a heteronomia que se deseja) OU através do que se chama de "heteronomia privada", imposta pelos grandes complexos econômicos (ditam o conteúdo dos contratos).
3.4. Normas principiológicas
O CDC é recheado de normas principiológicas, é dizer, normas que veiculam valores, estabelecendo fins a serem alcançados.
Isso possibilita a maior adequação às mudanças sociais, cada vez mais velozes. 
Assim, a par de regras, cuja técnica traduz-se no binômio "hipótese/sanção" ou "suporte fático/preceito", adotam-se normas descritivas de valores. 
(4) Princípios do CDC
4.1. Vulnerabilidade do consumidor
A vulnerabilidade fundamenta o sistema de consumo. Sua presunção é absoluta.
Cuida-se do estado em que o consumidor se encontra no momento em que adquire bens ou serviços no mercado. Vulnerabilidade é uma característica, um estado do sujeito mais fraco, um sinal de necessidade de proteção. Elimina a premissa de igualdade entre as partes envolvidas.
Logo, se um dos pólos é vulnerável as partes são desiguais e, justamente por força da desigualdade, é que o vulnerável é protegido pela legislação, com o fim de se lhe garantir os princípios constitucionais da isonomia e igualdade nas relações jurídicas minimizando deste modo a desigualdade.
Desdobra-se em quatro faces: (i) informacional, (ii) técnica, (iii) jurídica/cientifica e (iv) fática ou socioeconômica. 
Diferente é a hipossuficiência, com a qual a vulnerabilidade que não se confunde. Naquela, a análise é feita pelo juiz em um caso concreto.
Logo, nem todo consumidor é hipossuficiente, embora todos sejam vulneráveis.
São duas as principais noções de hipossuficiência, segundo a lei:
1º) Concessão do benefício da justiça gratuita aos que alegarem pobreza e comprovando-a na forma da lei então, considera-se a parte hipossuficiente.
2º) Relaciona-se à inversão do ônus da prova, prevista no inciso VIII do art. 6º do CDC, mas que não se relaciona necessariamente à condição econômica dos envolvidos. 
Anote-se que, para o STJ, a vulnerabilidade da pessoa física é presumida, já a da pessoa jurídica deve ser demonstrada (não demonstrada: direito empresarial).
4.2. Informação
É fundamental no sistema de consumo.
A ausência de informação, falha ou defeituosa gera responsabilidade.
É o que diz o art. 6º, III. Exige que seja correta, clara e precisa.
A jurisprudência do STJ aponta que a obrigação de informação é desdobrada em quatro categorias:
a) informação-conteúdo: características intrínsecas do produto ou serviço;
b) informação-utilização: como se usa o produto ou o serviço;
c) informação-preço: custo, formas e condições de pagamento; e
d) informação-advertência: riscos do produto ou serviço.
Somente o caso concreto indicará se houve falha no dever de bem informar.
4.3. Segurança
É dever do fornecedor garantir que os produtos ou serviços sejam seguros e não causem qualquer espécie de dano. 
Nesse sentido, dentre outros, os arts. 6º, 8º, 10 e 12.
4.4. Equilíbrio nas prestações
Cuida-se de vetor fundamental, cuja inobservância pode levarà anulação de um contrato ou de cláusulas específicas.
Dentre outros, os art.s 4º, III, 51, § 1º, III e 51, IV.
4.5. Interpretação mais favorável ao consumidor
Essa a exata redação da norma do art. 47.
Mais uma disposição fundamental.
4.6. Boa-fé objetiva
Provavelmente o mais importante princípio do direito contratual contemporâneo.
Cuida-se de um padrão de conduta exigida de todos no ambiente negocial.
(5) Conclusão
Essa a tarefa do Poder Público, fazer com que a defesa do consumidor seja, ao mesmo tempo, um instrumento de proteção do indivíduo e, de outra parte, um fator de aprimoramento da atividade econômica como um todo (Tancredo Neves).
O Direito do Consumidor impõe, ao mesmo tempo, uma atuação positiva/afirmativa do Estado e uma limitação da autonomia da vontade dos fortes em relação ao fracos ou vulneráveis.

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