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DOENÇAS OCUPACIONAIS 1 Aula 1: Introdução às Doenças Ocupacionais ................................................................. 2 Introdução ............................................................................................................................. 2 Conteúdo ................................................................................................................................ 4 Concepção da saúde do trabalhador ............................................................................ 4 Concepção da saúde do trabalhador ............................................................................ 4 Campo da saúde do homem no ambiente de trabalho ............................................ 5 Concepção evolutiva da saúde ....................................................................................... 5 Concepção sistêmica ........................................................................................................ 6 Modelo de determinantes sociais da saúde ................................................................. 6 Saúde do trabalhador ........................................................................................................ 8 Conhecimento técnico-político-sociológico ............................................................... 8 Alguns marcos da evolução da saúde do trabalhador no mundo ........................... 8 O papel do Brasil no contexto do trabalho e na economia internacional ........... 14 O trabalho ......................................................................................................................... 16 Trabalho como gerador de doenças ........................................................................... 17 Nexo causal (ou nexo de causalidade) ........................................................................ 18 Classificação das doenças ocupacionais .................................................................... 19 Atividade proposta .......................................................................................................... 21 Aprenda Mais ....................................................................................................................... 22 Referências........................................................................................................................... 24 Exercícios de fixação ......................................................................................................... 25 Notas ........................................................................................................................................... 32 Chaves de resposta ..................................................................................................................... 34 DOENÇAS OCUPACIONAIS 2 Introdução Olá! Seja bem-vindo a nossa primeira aula sobre as doenças ocupacionais, também denominadas doenças relacionadas ao trabalho. Neste primeiro contato, trataremos dos conceitos introdutórios, história e evolução da saúde do trabalhador, buscando propiciar o entendimento sobre a saúde, a doença, o dano, o agravo e o risco, dentre outros aspectos relevantes ao ambiente do trabalho. Através desse panorama inicial, será possível conhecer as principais alterações ocorridas, desde a antiguidade até os dias atuais, nas formas de compreender e tratar o adoecimento no trabalho. Identificaremos os estudiosos e as instituições que mais contribuíram para a construção do conhecimento específico sobre as doenças ocupacionais e o âmbito da saúde do trabalhador. No decorrer dessa exposição dialogada, resumiremos os elementos conceituais essenciais ao entendimento sobre o processo de identificação dos fatores de risco do trabalho, dos agentes nocivos e dos diversos ambientes de trabalho capazes de promover agravos à saúde e doenças, que veremos adiante, nos nossos encontros subsequentes. Vamos iniciar nossa jornada de estudos? DOENÇAS OCUPACIONAIS 3 Objetivo: 1. Descrever conceitos estruturantes, histórico e evolução do âmbito da saúde do trabalhador; 2. Identificar as relações entre trabalho, saúde e doenças ocupacionais. DOENÇAS OCUPACIONAIS 4 Conteúdo Concepção da saúde do trabalhador Nesta aula, você entrará em contato com os principais conceitos e marcos históricos pertinentes à patologia do trabalho, sobretudo, aqueles relacionados à evolução da compreensão sobre os fatores determinantes dessas doenças. Esses fatores contribuíram para a gênese da concepção da saúde do trabalhador como uma área especializada da assistência à saúde, nos campos individual (trabalhador) e coletivo (organizações), a qual tem por finalidade prevenção, promoção, tratamento e reabilitação, mas também visa auxiliar na mudança em processos nocivos de trabalho através da atuação interdisciplinar e multiprofissional. Para o completo entendimento da complexidade do tema será preciso “navegarmos”, ainda que de forma resumida, na dimensão legal do tema no contexto brasileiro, apresentando a você as bases da legislação que tratam da definição, dos conceitos e da classificação das doenças ocupacionais, imprescindíveis para que você possa guiar a sua atuação futura no mercado de trabalho. Concepção da saúde do trabalhador Nesta aula, você entrará em contato com os principais conceitos e marcos históricos pertinentes à patologia do trabalho, sobretudo, aqueles relacionados à evolução da compreensão sobre os fatores determinantes dessas doenças. Esses fatores contribuíram para a gênese da concepção da saúde do trabalhador como uma área especializada da assistência à saúde, nos campos individual (trabalhador) e coletivo (organizações), a qual tem por finalidade prevenção, promoção, tratamento e reabilitação, mas também visa auxiliar na mudança em processos nocivos de trabalho através da atuação interdisciplinar e multiprofissional. DOENÇAS OCUPACIONAIS 5 Para o completo entendimento da complexidade do tema será preciso “navegarmos”, ainda que de forma resumida, na dimensão legal do tema no contexto brasileiro, apresentando a você as bases da legislação que tratam da definição, dos conceitos e da classificação das doenças ocupacionais, imprescindíveis para que você possa guiar a sua atuação futura no mercado de trabalho. Campo da saúde do homem no ambiente de trabalho Para iniciarmos nossos estudos precisamos partir de uma linha conceitual que permita nossa compreensão sobre o campo da saúde do homem no ambiente de trabalho. Para tal, trataremos aqui na nossa abordagem de saúde e de doença conceitos mais abrangentes os quais consideram processos dinâmicos e inseridos na vida laboral e social do homem desde os primórdios da humanidade até os dias atuais. Comecemos então falando da saúde, que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 1948), é definida como "um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afecções e enfermidades“. Concepção evolutiva da saúde Desde então, muitas e distintas abordagens se sucederam contribuindo para uma concepção evolutiva da saúde: Migrando de um estado de “ausência de doença” (visão restritiva). Passando pelo “estado de bem estar-social” (visão utópica). E, por último, um “valor social” (visão ampliada) que coloca notadamente a saúde para o âmbito dos direitos essenciais do indivíduo (CNS, 1986). DOENÇAS OCUPACIONAIS 6 Muitas são as abordagensconceituais sobre saúde que se estabeleceram como teorias consolidadas no último século, e, dentre elas, as mais recentes, que buscam integrar aspectos do adoecimento individual (biológicos, genéticos, científicos) com aspectos da vida das coletividades (sociais, ambientais, políticos, econômicos, culturais, religiosos), parecem estar mais próximas à realidade humana. Concepção sistêmica Vamos trabalhar a partir dessa concepção sistêmica que admite a saúde como parte integrante da vida cotidiana e, por isso, retoma a importância de todas as dimensões da vida, inclusive a laboral, na influência sobre o estado de saúde e aparecimento de doenças no indivíduo e nas coletividades. Sendo assim, qual seria então o fenômeno de produção da saúde e da própria doença? Pois bem, esse é um fenômeno que traduz um conjunto de determinantes da gênese das doenças e condições de agravos à saúde bastante complexo por ser reconhecido tanto pelo próprio indivíduo, sejam elas manifestações fisiopatológicas e/ou psíquicas (referentes à sua própria subjetividade), bem como identificado pelo coletivo, caracterizando-se em âmbito populacional, geográfico, muitas vezes em magnitudes tão expressivas que se configuram em problemas de saúde pública. Modelo de determinantes sociais da saúde No contexto brasileiro das normas técnicas e legislativas, em 2008, já no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) e através da atuação da Comissão Nacional de Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS), passamos a adotar um modelo de representação didático dos níveis e relações entre os diversos aspectos individuais, sociais e macro determinantes no processo saúde-adoecimento, elaborado por Dahlgren e Whitehead (1991), o qual comentaremos, a seguir. DOENÇAS OCUPACIONAIS 7 Condições socioeconômicas, culturais e ambientais gerais Condições de vida e de trabalho Produção agrícola e de alimentos Educação Ambiente de trabalho Desemprego Água e esgoto Serviços sociais de saúde Habitação Redes sociais e comunitárias Idade, sexo e fatores hereditários Condições socioeconômicas, culturais e ambientais gerais Essa visão sobre os determinantes sociais do processo saúde-doença é importante para nós profissionais da saúde, para que possamos compreender nossa própria prática profissional e as atuações dos serviços de saúde nesse contexto. Condições de trabalho e vida Imediatamente acima dessa, estão as “condições de trabalho e vida”, às quais daremos especial destaque no que se refere o aspecto do ambiente de trabalho. Convidaremos você a analisar por um momento o modelo demonstrado e, em seguida, questionar sobre como as interligações entre os determinantes irão definir também os diferentes graus de vulnerabilidade Redes sociais e comunitárias Vejamos que, a partir da camada denominada “redes sociais e comunitárias”, os autores nos introduzem aos determinantes sociais, ou seja, aqueles que superam os aspectos pertinentes à individualidade das pessoas. DOENÇAS OCUPACIONAIS 8 Saúde do trabalhador Até agora falamos de saúde, doença e seus determinantes de forma mais geral; está na hora de falarmos sobre a saúde do trabalhador! Mãos à obra... Para evitarmos dúvidas de nomenclatura e aplicações dela durante sua prática profissional, reunimos outros conceitos importantes para que você se familiarize e consolide seus conhecimentos. Antes de qualquer coisa, você sabe o que é e sobre o que trata a “saúde do trabalhador”? O Ministério da Saúde (2001), no Brasil, considera que: “A Saúde do Trabalhador constitui uma área da Saúde Pública que tem como objeto de estudo e intervenção as relações entre o trabalho e a saúde. Tem como objetivos a promoção e a proteção da saúde do trabalhador, por meio do desenvolvimento de ações de vigilância dos riscos presentes nos ambientes e condições de trabalho, dos agravos à saúde do trabalhador e a organização e prestação da assistência aos trabalhadores, compreendendo procedimentos de diagnóstico, tratamento e reabilitação de forma integrada, no SUS”. Conhecimento técnico-político-sociológico Mas será que a saúde do trabalhador sempre foi considerada dessa forma? Como a medicina passou a se dedicar às ações de prevenção, promoção e tratamento da saúde da população trabalhadora? O nascimento desse conhecimento técnico-político-sociológico foi resultante de um processo evolutivo, longo, histórico, marcado por descobertas científicas de grandes estudiosos das ciências médicas e fenômenos sociais, culturais e econômicos que contribuíram para a consolidação do que hoje tratamos como saúde do trabalhador. Alguns marcos da evolução da saúde do trabalhador no mundo Para destacar alguns dos marcos evolutivos de diversos períodos da história da saúde dos trabalhadores apresentamos uma breve síntese para você, observe: DOENÇAS OCUPACIONAIS 9 Antiguidade Greco-Romana Hipócrates a Galeno Idade Média Século XV Século XVII Em 1700 A era da Revolução Industrial Século XIX Século XX Século XXI Antiguidade Greco-Romana (Hipócrates, 460-375 a.C.) O trabalho não era o centro das preocupações dos historiadores da medicina. No entanto, já havia relatos de reconhecimento dos riscos ocupacionais e de que tanto o trabalho quanto as condições de vida causavam doenças. Copus Hippocraticum, de Hipócrates (pai da medicina científica), trás a descrição de doenças específicas de pescadores, dos homens que montavam cavalo, mineiros, alfaiates e outras. De Hipócrates a Galeno (129-199 d.C.) Registros de doenças em escravos e mineiros, bem como citações de outras condições relacionadas ao aparecimento de doenças e às diversas ocupações da época; e Platão e Aristóteles também descreveram em seus textos doenças dos atletas profissionais. Mas, naquela época, tais reflexões não impactaram no ato médico nem nos ambientes laborais. Idade Média A incorporação de inovações tecnológicas aos processos de trabalho trouxeram novas condições de promoção de doenças aos trabalhadores, cujas principais ocupações eram moagem de grãos, metalurgia, queima de carvão, construção civil, entre outras. DOENÇAS OCUPACIONAIS 10 Nos séculos XII e XIII (DIECKERSON, 1967) havia um cenário de grandes construções nas cidades europeias ocasionando inúmeras lesões e acidentes graves decorrentes dos riscos ocupacionais. Século XV • Ellenborg (1440-1499) publicou o primeiro livro dedicado aos riscos ocupacionais: riscos de exposição a metais (prata, mercúrio e chumbo) e envenenamento laboral. • Johannes de Vigo (1450-1525) também contribuiu ao tema dedicando um capítulo de seu livro sobre febre dos marinheiros: primeira sistematização de conteúdo técnico no âmbito da medicina do trabalho e medicina tropical. • Agrícola (1494-1555) e Pracelso (1493-1541) lançaram livros famosos por apresentarem relatos de doenças ocupacionais em marinheiros, mineiros e fundidores: as doenças dos militares foram alvo também de muitos estudiosos, destacando a importância da prevenção dos trabalhadores (Ambroise Paré, Botallo e Schneberger). Século XVII • Período com grande produção de conhecimento médico sobre as relações de trabalho e doenças. • Surgiu o conceito das doenças de natureza ocupacional. • Relatos sobre doenças de mineradores, fundidores, militares, navegadores, soldadores, sapateiros, outros. • A primeira autópsia realizada por Diemerbroeck (1608-1704), na Holanda, confirmou o caso de silicose (areia nospulmões em trabalhador cortador de diamantes). • Marco histórico: primeiro tratado de doenças ocupacionais, comentado adiante. Em 1700, foi publicada a grande obra do médico italiano Bernardino Ramazzini, De Morbis Artificum Diatriba DOENÇAS OCUPACIONAIS 11 • Apresentou o resultado dos seus estudos sobre as doenças e as profissões, a importância das condições sociais de vida e o aparecimento de doenças (medicina social). • Até a Revolução Industrial, permaneceu como a única obra médica de referência na área da medicina. • Ramazzini se destacou ao apresentar de forma sistematizada e completa uma abordagem clínica e diagnóstica de mais de 50 doenças ocupacionais. • Segundo Mendes (2003), quatro destaques de Ramazzini foram: 1. preocupação com classe operária, que não era interesse da medicina até então; 2. visão sobre a determinação social das doenças; 3. ensinamento sobre a forma de abordagem clínica e epidemiológica dos agravos à saúde dos trabalhadores (observação in locu, entrevista orientada ao trabalhador – anamnese ocupacional); e 4. classificação das doenças segundo natureza e grau de causalidade com o trabalho em si. A era da Revolução Industrial • Junto com o desenvolvimento e as transformações sociais desse período nas grandes capitais europeias, também surgiram diversos problemas que afetaram a saúde do trabalhador: ambientes de trabalho perigosos, acidentes graves, condições precárias, diversos tipos de intoxicações agudas e muitos outros incidentes que acometiam trabalhadores e inclusive crianças (já havia trabalho infantil na época). • Alguns estudos, como o de Percival Pott (1713-1788) sobre câncer de escroto em limpadores de chaminé, promoveram também ações políticas no sentido de proteger os trabalhadores. • A medicina do trabalho nasceu na Inglaterra, na Revolução Industrial, sendo compreendida na ocasião como uma atuação médica (medicina científica) isolada e no contexto do ambiente do trabalho (fábricas) com finalidade principal de auxiliar na “adaptação física e mental do trabalhador”. • Em 1788, na Inglaterra, surgiu um conjunto de leis que caracterizam a primeira legislação destinada à prevenção de doenças ocupacionais e acidentes de trabalho. DOENÇAS OCUPACIONAIS 12 O Século XIX • Expansão das leis de proteção à saúde do trabalhador como resultado das pressões populares, sobretudo dos trabalhadores, bem como do impacto do adoecimento sobre a produção industrial, o que promoveu preocupações no cenário econômico inglês. • Lei dos Pobres (1834) - proteção à saúde dos trabalhadores da indústria têxtil. • Intervenção dos governos nas indústrias, e adoção de médicos nas fábricas para cuidar dos trabalhadores e evitar "perdas de produção". • Estudos franceses sobre morbidade dos trabalhadores (Louis Villermé, 1840; Tanquerel des Planches, 1839); e estudo inglês de William Farr (1849-1853) sobre mortalidade por doenças pulmonares em mineiros, que evidenciou maior acometimento desse tipo de enfermidade nessa classe trabalhadora comparada com outros males. • Estudos sobre exposição ocupacional aguda ao sulfeto de carbono (Auguste Delpech, 1856). • Marco histórico: a medicina do trabalho surgiu, e o trabalhador passou a ser tratado no seu ambiente laboral (serviços de saúde dentro das empresas na Europa). O século XX • O controle social sobre a saúde do trabalhador é o marco desse período de elevada industrialização e urbanização em todo o mundo. • Cenário político pautado pelas bases socialistas, comunistas e capitalistas coexistindo no contexto da Primeira Guerra Mundial. • Relações de empregados e empregadores marcadas por exploração de mão de obra; mudanças em processos de trabalho acentuando agravos a saúde. • Organização e padronização de processos de trabalho (taylorismo e fordismo). • Evolução da ciência, tecnologia, engenharia de segurança do trabalho, química, saúde pública. DOENÇAS OCUPACIONAIS 13 • Convenções da OIT consolidaram normas vitais de proteção ao trabalhador, como aquelas que limitavam a jornada laboral máxima e a atuação de menores de 14 anos na indústria, além de proibir o trabalho de mulheres/menores em jornadas noturnas. • A internacionalização das normas da OIT, impulsionada também pelos processos de globalização e organização social sindical, contribuiu a para formulação de leis trabalhistas. • Reconhecimento e aplicação de outras áreas de conhecimento que guardam relação com o trabalho e seu processo de patogênese, como a ergonomia, engenharia, sociologia, psicologia, economia e direito, dentre outras, na ampliação do conhecimento técnico e prático no cuidado ao trabalhador. • Marco: criação da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 1919, e da "saúde ocupacional“, que incorporava outras disciplinas na abordagem ao trabalhador. O século XXI • Evolução e diversificação das patologias e agravos à saúde do trabalhador que outrora foram, sobretudo, as intoxicações químicas, mutilações, mortalidade por pneumopatias e demais doenças específicas, LER/DORT (anos 80-90), por exemplo. • Aumento da incidência de patologias relacionadas a outros riscos (psíquicos), que não os habituais (químicos, físicos, biológicos, mecânicos, ergonômicos), como, por exemplo: doenças psíquicas, depressão, síndrome de burnout, outras. • Por volta dos anos 2000, houve o reconhecimento do impacto psíquico do trabalho sobre a saúde e a revisão das doenças listadas como relacionadas ao trabalho, permitindo-se uma atualização das políticas de saúde e previdenciárias e o reconhecimento das “doenças contemporâneas” e do impacto das novas formas ou relações de trabalho na vida e na saúde das pessoas. • O compartilhamento de resultados de estudos técnicos e experiências e o aumento do poder de disseminação de informação através das ferramentas da DOENÇAS OCUPACIONAIS 14 internet permitiram aprender com a realidade das desigualdades sociais e laborais globais. O papel do Brasil no contexto do trabalho e na economia internacional E no nosso país, como era tratada a matéria naquela ocasião? Bem, o papel do Brasil no contexto do trabalho e na economia internacional era o de grande exportador de café, o que impulsionava o nosso processo de industrialização e nos colocava em um debate, a respeito da análise dos riscos do trabalho e do avanço do crescimento econômico nacional, feito entre sanitaristas e médicos legistas. Século XIX e início do século XX Década de 30 1943 Década de 60 Anos 80 1986-1988 Século XIX e início do século XX O cenário brasileiro era o da reorganização da força de trabalho devido ao final da escravatura e à grande imigração oriunda dos países europeus. No final do século XIX e início do XX, novas relações de trabalho se estabeleceram com o início da industrialização no sudeste e com as transformações políticas, econômicas e sociais que marcavam o nosso país. As endemias eram parte principal dos esforços técnicos dos profissionais da saúde e das escolas médicas. A concepção das doenças do trabalho (conceito de Ramazzini) ficava restrita à lista dos acidentes de trabalho, nessa época, no Brasil, também por influência do que acontecia na Europa. DOENÇAS OCUPACIONAIS 15 Década de 30 A produção do conhecimento dessa área no nosso país ocorreu entre as décadas de 30 e 60 com especial atenção às chamadas mesopatias, ou seja, aquelas doenças do trabalho provocadas pelas próprias condições com as quais o trabalho era executado ou com ele se relacionavam.Com a constituição do Ministério do Trabalho (MT) brasileiro, na década de 30, fortaleceu-se a preocupação higienista com as condições de trabalho e intensificaram-se as inspeções médicas do trabalho, tendo como pano de fundo as normas promulgadas pela OIT. Destacamos que, nessa ocasião, ocorreu o acúmulo de conhecimento técnico sobre as pneumoconioses (doenças respiratórias ocupacionais) estudadas principalmente nas minerações de ouro e carvão em vários estados brasileiros, graças a estudos liderados pelo Departamento Nacional de Produção Mineral e pelo MT (MENDES, 2003). 1943 Um grande marco no cenário nacional foi o impacto normativo da promulgação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), sobretudo, em 1943. A CLT contribuiu para solidificar o processo de legalização e obrigatoriedade das empresas manterem serviços de saúde aos trabalhadores estruturando ações de cunho preventivo, curativo e reabilitador. Década de 60 Dessa forma, o tratamento brasileiro às questões do adoecimento do trabalho foi se deslocando, nos anos 60, com a contribuição de saúde pública, movimentos sociais e muitos estudos nacionais sobre intoxicações, doenças respiratórias e acidentes de trabalho, para se aproximar dos conceitos científicos, multiprofissionais e preventivos consolidados pela saúde ocupacional, que já estava estabelecida no pós-guerra na Europa e também no mercado norte-americano. DOENÇAS OCUPACIONAIS 16 Anos 80 Já nos anos 80, com auxílio dos sindicatos, dos sanitaristas da segunda geração e das instituições públicas de ensino e pesquisa, em função da ineficiência das políticas públicas de proteção ao trabalhador, e pela massificação do debate público com compartilhamento de informações sobre a realidade do trabalho no país, a saúde do trabalhador foi definida no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), recém-criado a partir da então nova Constituinte (1988). 1986-1988 Você pode se perguntar: o que realmente mudou na abordagem da saúde dos trabalhadores a partir da nova Constituição? No campo da prática, a expressiva produção científica nacional sobre o tema promoveu o aumento nos processos de identificação dos riscos ocupacionais, agentes e danos à saúde, e a organização ou criação de serviços de saúde especializados para atendimento aos trabalhadores (ambulatórios em instituições acadêmicas e unidades hospitalares públicas, serviços médicos nas indústrias, ambulatórios privados). Assim sendo, houve o crescimento dos cursos de capacitação e formação especializados para os profissionais de saúde, possibilitando uma força de trabalho especializada capaz de sistematizar condutas diagnósticas e terapêuticas mais adequadas e eficientes e operacionalizando as políticas de públicas estabelecidas como desdobramentos da VIII Conferência Nacional de Saúde realizada em 1986, evento crucial à elaboração do texto final da Constituição de 1988, pensado o tema da saúde. O trabalho Aprofundando nosso conhecimento sobre o campo da saúde do trabalhador, necessitamos considerar o trabalho como parte essencial na vida das pessoas e primordial para nossa área de estudo. Assim como a saúde, que é uma área complexa e multidimensional, o trabalho em si pode assumir diversos papéis na vida individual e da comunidade, por exemplo: espaço produtivo; fonte de renda; ambiente de reconhecimento profissional e realização pessoal; lugar DOENÇAS OCUPACIONAIS 17 para desenvolvimento de habilidades e competências; convívio social; ambiente gerador de doenças; e até mesmo promotor de saúde. Trabalho como gerador de doenças Para abordarmos o trabalho como gerador de doenças, foco desta aula inicial, preciamos analisar de perto quais riscos ele pode proporcionar ao indivíduo e às coletividades, fato esse que não é nenhuma novidade, como vimos anteriormente. Há muito tempo já é sabido e identificado que existe nexo entre o trabalho e o sofrimento, agravo ou dano à saúde. Dessa forma, são riscos ocupacionais quaisquer condições do ambiente e/ou processo de trabalho que possam causar dano ou agravo à saúde do trabalhador (doenças, sofrimento ou acidentes). Dentre os muitos riscos existentes, temos como exemplos: Físicos • Ruídos; • Temperaturas e pressão anormais; • Umidade; • Radiações. Químicos • Gases; • Materiais de limpeza, desinfecção e esterilização; • Soluções químicas utilizadas como terapêuticas (quimioterápicos, por exemplo). Biológicos • Agentes patogênicos selvagens; • Agentes patogênicos atenuados; • Agentes patogênicos que sofreram processo de recombinação; • Amostras biológicas; • Culturas e manipulações celulares (transfecção, infecção); • Animais. DOENÇAS OCUPACIONAIS 18 Mecânicos • Espaço físico inadequado; • Equipamentos de proteção individual inadequados; • Ferramentas ou máquinas de trabalho inadequadas; • Quedas. Ergonômicos • Esforço físico excessivo; • Levantamento, transporte e descarga manual de peso; • Ritmo excessivo de trabalho; • Jornadas de trabalho prolongadas; • Trabalho em turno noturno; • Repetitividade de atividade laboral; • Postura inadequada de trabalho; • Mobiliário impróprio; • Equipamentos, condições ambientais dos postos de trabalho e organização do trabalho. Nexo causal (ou nexo de causalidade) É preciso entender que a causalidade intrínseca ou não aos processos e ambientes de trabalho, por conceito, determina, condiciona e significa os fatores de risco que estão associados à gênese do adoecimento. Pois bem, o que seria então o nexo causal, ou nexo de causalidade? O dicionário da língua portuguesa explica que se trata da “vinculação entre a conduta do agente e o resultado por ela produzido”. A dificuldade nessa identificação de relacionamento entre o trabalho-saúde-doença está justamente na necessidade de constatação objetiva e na própria complexidade inerente aos processos patogênicos os quais são, muitas vezes, multicausais. Vejamos exemplos: o mesotelioma maligno de pleura possui associação etiológica a asbesto – contudo, doenças cardiovasculares, que possuem DOENÇAS OCUPACIONAIS 19 múltiplas causas, provocam efeitos similares; ou, ainda, síndrome de burnout, uma ação de múltiplas causas causando múltiplos efeitos. O papel dos profissionais da saúde da área é essencial para estabelecer se há nexo causal entre o evento em questão e as condições de trabalho. E essa etapa investigativa e diagnóstica é condição essencial para que as ações no âmbito da saúde do trabalhador possam ser implementadas nos serviços de saúde ofertados aos trabalhadores. Nessa ocasião, através da análise da história clínica aliada à história ocupacional, estudo do local de trabalho, avaliação dos fatores de risco ocupacionais e análise dos dados epidemiológicos, os profissionais de saúde deverão identificar se os problemas de saúde investigados são ou não de doença relacionada ao trabalho para que o trabalhador seja devidamente assistido e o manejo da sua patologia seja adequado também, no que se refere ao âmbito da proteção legal. Portanto, conhecidos os riscos ocupacionais, o profissional deve estar apto a avaliar se o dano, sofrimento ou agravo à saúde foi desencadeado, agravado pelo trabalho ou, até mesmo, se está com ele relacionado. Classificação das doenças ocupacionais Segundo Mendes (2003), a classificação das doenças ocupacionais é fundamental pela “necessidade de separar o que é diferente, e se possível juntar o que é semelhante”. Uma das classificações mais reconhecidas(apesar de não ser a precursora na área) é a apresentada por Schilling, em 1984, a qual define um sistema de categorização de doenças relacionadas ao trabalho em três tipos principais, segundo a forma com que se relacionam com o trabalho, a saber: DOENÇAS OCUPACIONAIS 20 GRUPO I Doenças em que o trabalho é causa necessária. São as chamadas doenças profissionais, estando incluídas as intoxicações agudas de origem ocupacional. GRUPO II Doenças em que o trabalho pode ser um fator de risco, contributivo, mas não necessário. Exemplos: doenças comuns, como a hipertensão arterial e as neoplasias malignas (cânceres), em determinados grupos ocupacionais ou profissões. GRUPO III Doenças em que o trabalho é provocador de um distúrbio latente ou agravador de doença já estabelecida ou preexistente. Exemplos: doenças alérgicas de pele e respiratórias e distúrbios mentais, em determinados grupos ocupacionais ou profissões. A importância da classificação vista, assim como outras que estudaremos mais adiante, está em permitir a identificação correta da causalidade do evento e, portanto, a orientação de ações dos serviços de saúde, considerando-se as especificidades de cada tipo de risco ocupacional, relação de trabalho e história natural evolutiva da doença diagnosticada. Justamente esse será o enfoque da nossa segunda aula, caro aluno, quando abordaremos os principais sistemas de classificação das doenças, bem como os critérios de categorização que eles apresentam. Também falaremos do impacto dos critérios que os sistemas adotam para fins de assistência à saúde, legais e previdenciários. DOENÇAS OCUPACIONAIS 21 Atividade proposta Leia o texto http://fis.edu.br/revistaenfermagem/artigos/vol02/artigo10.pdf Riscos ocupacionais no ambiente hospitalar: fatores que favorecem a sua ocorrência na equipe de enfermagem e faça o que se pede. Com base no texto, reflita sobre os conceitos e informações apreendidas nesta primeira aula da nossa disciplina e destaque fragmentos que corroborem com os principais tópicos abordados, em especial: processo saúde-doença e sua relação com trabalho; riscos ocupacionais; exposição e grau de vulnerabilidade; doenças relacionadas ao trabalho. Além disso, destaque um único trecho ou parágrafo que considere mais significativo para caracterizar a importância das ações que visam minimizar os riscos da profissão de enfermagem, citando-as como exemplos. Chave de resposta: Espera-se que o aluno consiga destacar no texto indicado fragmentos que se relacionem aos tópicos mencionados acima, provocando raciocínio crítico para identificar trechos que evidenciem conceitos apresentados em aula. Todavia, é fundamental que apresente sua própria visão sobre a relevância do conhecimento sobre condições de trabalho e exposição a riscos e grau de vulnerabilidade para poder atuar preventivamente e buscar reduzir a incidência de doenças e acidentes laborais. DOENÇAS OCUPACIONAIS 22 Aprenda Mais Material complementar Para saber mais sobre o Relatório da VII Conferência Nacional de Saúde, leia o material 8° Conferencia Nacional de Saúde, disponível em nossa biblioteca virtual. Para saber mais sobre Doenças relacionadas ao trabalho, leia o Manual de Doenças Relacionadas ao Trabalho, disponível em nossa biblioteca virtual. Para saber mais sobre o risco biológico, leio os materiais: Guia Técnico de Riscos Biológicos do Ministério do Trabalho (2008) e NR 17 – ERGONOMIA, disponível em nossa biblioteca virtual Para saber mais sobre a legislação relativa à segurança e à saúde do trabalhador e entender a evolução das leis, normas, decretos e outros instrumentos legislativos brasileiros, acesse os conteúdos a seguir: • Associação do Brasil à Organização Internacional do Trabalho (OIT), criada, em 1919, para ser responsável pela formulação e aplicação das normas internacionais do trabalho (convenções e recomendações); • Decreto nº 19.433, que trata da criação do Ministério do Trabalho no Brasil, em 26/11/1930, durante o governo de Getúlio Vargas; • Decretos nºs 21.417 e 22.042, ambos de 1932, que tratam de prevenção dos acidentes de trabalho referindo-se à eliminação e/ou neutralização da insalubridade e periculosidade nas atividades laborais do menor e da mulher; • Decreto nº 5.092, de 1942, que trata da criação do Departamento de Higiene e Segurança do Trabalho (DHST), no TEM, com a finalidade de fiscalizar as empresas e elaborar as normas especificas de prevenção de acidentes de trabalho; • Decreto-Lei nº 5.452, de 01/05/1943, que aprovou a CLT com artigos de segurança e medicina do trabalho; • Decreto-Lei nº 7.036, de 10/11/1944, que atribui ao MTE a fiscalização da legislação de prevenção a acidentes de trabalho, criando o cargo/função do engenheiro de segurança do trabalho no país – nessa mesma ocasião, foi criada a CIPA nas empresas; DOENÇAS OCUPACIONAIS 23 • Convenção nº 81 da OIT, em 1947, referente à contratação de engenheiros e médicos pelo MTE com objetivo de integrar o quadro de técnicos para a inspeção do trabalho; • Portaria nº 155, de 27/11/1953, que regulamentou a CIPA nas empresas; • Lei nº 5.194/66, que conferiu maior autonomia ao CONFEA, criou as Câmaras Especializadas nos CREA e instituiu o salário-mínimo profissional; • Lei nº 5.161, de 21/10/1966, que autorizou a criação da Fundação Centro Nacional de Segurança, Higiene e Medicina do Trabalho (FUNDACENTRO), alterada pela Lei nº 7.133, de 26/10/1983, para Fundação Centro Nacional Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho; • Portaria nº 3.237, de 27/07/1972, que regulamentou o Decreto-Lei nº 229/67, de 27/02/1967, que, por sua vez, disciplinou a CIPA e o SEESMT; • Lei nº 6.514, de 22/12/1977, que alterou o Capítulo V do Titulo II da CLT para segurança e medicina do trabalho; • Artigo 195 e seguintes da Lei nº 229/67, que estabeleceram que o engenheiro de segurança do trabalho pode elaborar Laudo de Insalubridade, antes permitido apenas aos médicos, especializados em saúde pública; • Portaria nº 3.214 do MTE, que aprovou as Normas Regulamentadoras (regulamentando o Capítulo V da CLT); • Constituição Federal de 1988, a qual estabelece os direitos relacionados à segurança e saúde do trabalhador; • Diretrizes estabelecidas pela Federação Nacional dos Técnicos de Segurança do Trabalho (FENATEST). DOENÇAS OCUPACIONAIS 24 Referências BRASIL. A causa das inequidades no Brasil. Brasília: Ministério da Saúde, 2008. Disponível em http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/causas_sociais_iniquidades.pdf BRASIL. Doenças relacionadas ao trabalho: manual de procedimentos para os serviços de saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2001. LAURELL. A. C. A saúde-doença como processo social. In: BARATA, R. C. B. A historicidade do conceito de causa. Rio de Janeiro: Abrasco, 1985, p. 13- 27. MENDES, René (org.). Patologia do trabalho. Atual. e ampl. Vol. 1 e 2. Rio de Janeiro: Atheneu, 2003. DOENÇAS OCUPACIONAIS 25 Exercícios de fixação Questão 1 A obra do médico italiano Ramazzini mundialmente conhecida, De Morbis Artificium Diatriba, de 1700, se destacou, sobretudo, pela seguinte contribuição à saúde dos trabalhadores: a) Inovação do tema nunca antes abordado (relação entre trabalho e doenças). b) Maior quantidade de agravos identificados.c) Enfoque na prevenção em vez da abordagem terapêutica das doenças ocupacionais. d) O olhar sobre os determinantes sociais das doenças ocupacionais identificadas e sistematizadas de forma organizada e categorizada. e) Metodologia aplicada ao estudo das doenças que focava em extensa pesquisa científica das obras escritas pelos grandes médicos e historiadores da Antiguidade Greco-Romana, berço da medicina. Questão 2 A saúde ocupacional é caracterizada por promover a saúde, prevenir doenças e oferecer tratamento em uma abordagem multiprofissional a todos os trabalhadores respeitando aspectos de suas vidas e de suas atividades laborais, considerando o processo adaptativo do trabalho ao homem. Qual fato histórico foi fundamental para a consolidação desse campo do cuidado à saúde, inicialmente na Europa? a) Resultados dos estudos científicos ingleses e franceses sobre morbimortalidade por doenças respiratórias produzidos no início do século XX que mostravam necessidade de prevenir doenças mais do que tratá-las. b) Redução da produtividade advinda da rápida incorporação tecnológica e da mudança em processos produtivos relacionados a numerosos casos de doenças e acidentes de trabalho e devido à Revolução Industrial e à insuficiência da medicina do trabalho em dar solução a esses problemas laborais. c) A promulgação das leis trabalhistas inglesas (século XIX) voltadas à proteção dos trabalhadores. DOENÇAS OCUPACIONAIS 26 d) Movimentos sociais organizados no setor da indústria têxtil, na França, estruturados a partir de 1819. e) Estudos sobre exposição ocupacional aguda ao sulfeto de carbono (DELPECH, 1856). Questão 3 O que representaram, na abordagem à saúde dos trabalhadores, a criação da OIT, em 1919, e a elaboração de suas recomendações e convenções aplicadas no cenário nacional e internacional? a) A unificação de procedimentos relativos à abordagem da saúde dos trabalhadores dentro das empresas na Europa, a partir de acordos internacionais assinados entre os diversos países-membros. b) Criação de fórum integrado internacional de especialistas que se dedicam, desde o ato de constituição da OIT, a coordenar pesquisas científicas na área da medicina do trabalho. c) Representou uma ameaça às empresas de todos os setores em diversos países que não tinham como atender as normas definidas pela organização e que, por isso, eram impedidas de continuar a exercer atividade comercial em condições insalubres aos trabalhadores. d) Determinação de importantes e incipientes normas de proteção ao trabalhador estabelecendo parâmetros de segurança aliados a diferentes medidas e ações preventivas voltadas a resguardar os trabalhadores de condições e processos de trabalho nocivos, como, por exemplo, a definição de limites de jornadas de trabalho, regulamentação sobre o desemprego, maternidade e trabalho infantil, entre outros representados em seis convenções adotadas inicialmente. e) Um avanço em matéria de engenharia e segurança do trabalho, na medida em que promovia a capacitação profissional de engenheiros e médicos que atuavam no setor, através de convênios com as empresas de diversos segmentos econômicos, nos países membros da OIT. DOENÇAS OCUPACIONAIS 27 Questão 4 Sobre quais fatores determinantes de processos de adoecimento as ações de promoção da saúde e prevenção das doenças laborais, no âmbito da saúde do trabalhador, podem ou devem atuar? a) Riscos individuais e coletivos de todo tipo. b) Ambientes de trabalho, condições sobre as quais os trabalhadores desempenham suas funções laborais e a assistência a eles prestada. c) Condições e estilo de vida do homem trabalhador. d) Fatores socioeconômicos, culturais, e sociais em uma compreensão coletiva e ao mesmo tempo individualizada. e) Microdeterminantes sociais da saúde. Questão 5 De que maneira o entendimento da evolução histórica da saúde dos trabalhadores pode auxiliar na formação do profissional que atua ou quer atuar na área? a) A maneira como a saúde do trabalhador evoluiu historicamente (a ampliação do conhecimento sobre a patogênese do trabalho, detecção dos agravos, identificação dos riscos e condições de vulnerabilidade e assistência ao trabalhador) deve estar presente nos processos reflexivos que norteiam a nossa atuação profissional, permitindo a adequada tomada de decisão sobre nossa praxis. A atuação do profissional de saúde precisa estar atualizada do ponto de vista técnico-científico, mas também contextualizada – por isso é essencial saber como a área evoluiu e seus principais marcos identificados. b) Na verdade, não muito. A evolução histórica não é a mais relevante, mas sim as inovações que essa evolução trouxe do ponto de vista das tecnologias da área da saúde e que são capazes de melhorar a prestação de cuidados assistenciais. c) Entender os marcos históricos nos permite saber quais erros não podem ser mais cometidos no momento da determinação do diagnóstico e tratamento dos trabalhadores vítimas de doenças ocupacionais, esse o foco mais importante da medicina do trabalho. DOENÇAS OCUPACIONAIS 28 d) As atuações do enfermeiro, médico e outros profissionais da área da saúde, no Brasil, não dependem do conhecimento de nenhum dos marcos históricos citados que tenham ocorrido fora do cenário nacional, mas sim daqueles importantes para a consolidação da área no nosso país. e) A saúde do trabalhador, como área da saúde pública, se interessa pelo cuidado da saúde do trabalhador com doença ocupacional e pela prevenção de acidentes do trabalho, depende, pois, esse campo da atualização técnica dos profissionais, e não de conhecimento histórico propriamente dito. Questão 6 Das afirmações abaixo relacionadas quais expressam a relevância do nexo de causalidade entre trabalho e o adoecimento para o processo de prevenção, promoção e tratamento das patologias do trabalho? I – Auxilia na determinação do diagnóstico e na correta condução terapêutica da doença ou agravo do trabalhador. II – Permite a notificação do agravo quando necessário (exemplo: acidente do trabalho). III – Promove ao trabalhador as garantias previstas na legislação pertinente ao trabalho. IV – Explica o grau de culpabilidade do empregador ou do empregado na ocorrência do evento. a) I e III b) II, III e IV c) Somente a IV d) Todas as alternativas e) Todas exceto a IV Questão 7 Como profissional de saúde, analisando as alternativas abaixo relacionadas marque a correta em relação a correlação entre a adoção de medidas de promoção à saúde e o fomento do papel do TRABALHO como sendo promotor de saúde e não gerador de doenças? DOENÇAS OCUPACIONAIS 29 a) Nenhuma medida de promoção pode amenizar papel nocivo dos processos produtivos; b) Medidas simples de humanização de processos de trabalho, como tornar ambiente mais tranquilo e saudável mediante redução da exposição aos riscos ocupacionais (físicos, químicos, biológicos, ergonômicos, mecânicos), além das específicas de redução de exposição a agentes nocivos incentivam o papel promotor de saúde do trabalho em si; c) O trabalho é essencialmente nocivo seja pelos inúmeros riscos ocupacionais inerentes aos seus processos ou pela reduzida realização de ações de promoção à saúde coletiva e proteção individual; d) Ações informativas sobre o potencial promotor de saúde do trabalho ressaltando seu valor social, seu impacto positivo no componente psíquico do indivíduo parecem não causar impacto efetivo; e) O incentivo às políticas internas de RH que promovam o reconhecimento dasqualidades e habilidades laborais dos trabalhadores podem minimizar doenças ocupacionais somente do tipo psíquicas. Questão 8 De que maneira o estudo do ambiente e das condições de trabalho pode auxiliar na assistência à saúde dos trabalhadores? a) Na verdade, analisar o ambiente e as condições de trabalho não ajuda em nada o processo de cuidado da saúde dos trabalhadores. b) Auxilia na emissão do atestado de saúde ocupacional periódico. c) Ajuda no diagnóstico do grau de exposição aos riscos ocupacionais e na determinação do nexo causal. d) Somente permite qualificar o diagnóstico da doença segundo gravidade e potencial nocivo. e) A assistência ao trabalhador no âmbito da promoção e do tratamento de saúde não é auxiliado pelo resultado desse estudo. Conhecer o ambiente de trabalho somente impacta nas ações de prevenção que precisam ser específicas aos grupos populacionais atingidos pelas mesmas doenças. DOENÇAS OCUPACIONAIS 30 Questão 9 Segundo MENDES, 2003, a classificação das doenças ocupacionais é fundamental pela “necessidade de separar o que é diferente, e se possível juntar o que é semelhante”. Em sua concepção qual das alternativas abaixo apresenta as justificativas corretas sobre a importância mencionada por Mendes sobre os sistemas de classificação das doenças ocupacionais? I. A categorização dos agravos/danos/doenças relacionadas ao trabalho vai permitir tratar com maior eficiência e eficácia cada uma das condições em si. II. A identificação e separação das doenças segundo similaridades e diferenças levam ao reconhecimento de padrões de comportamento, efeitos similares e orientam a investigação médica. III. É essencial devido à necessidade de acompanhamento dos resultados das abordagens terapêuticas distintas para problemas iguais que podem orientar a economicidade dos tratamentos; IV. A produção de informação técnica sobre cada doença em si e seu grupo de doenças semelhantes é crucial, entre outros motivos, por orientar a anamnese ocupacional e o uso das demais ferramentas de investigação da relação trabalho-saúde-doença. a) I e III b) I, III e IV c) Somente a IV d) Todas as afirmativas e) Todas exceto a IV Questão 10 Qual a principal característica da classificação das doenças proposta por Schilling em 1984? a) Diferenciar doenças graves, agudas e crônicas entre os trabalhadores em geral. b) Permitir a identificação dos riscos ocupacionais. c) Promover a padronização, inicialmente, no Reino Unido da classificação das doenças no âmbito das indústrias. DOENÇAS OCUPACIONAIS 31 d) Forma de relacionamento do trabalho com as doenças, diferenciando as doenças essencialmente ocupacionais daquelas relacionadas ao trabalho. e) Todas as afirmativas. DOENÇAS OCUPACIONAIS 32 Área da saúde pública: Vale ressaltar que a constituição desse campo de conhecimento se fez a partir do compartilhamento interdisciplinar de conceitos, aspectos teóricos e conhecimentos práticos, sobretudo oriundos de medicina social, saúde pública, epidemiologia e psicologia, entre outras. O desenvolvimento de uma compreensão própria da relação entre saúde e trabalho capaz de influenciar na construção de uma nova prática assistencial e intervenção preventiva nos ambientes de trabalho foi, sem dúvidas, resultado da contribuição da Saúde dos Trabalhadores e do próprio trabalhador. Causalidade: Para nosso estudo, trata-se do mesmo já apresentado: a presunção de causalidade entre um agente nocivo e um resultado nocivo (sofrimento, adoecimento, agravo e até morte) requer a constatação de ligação entre o primeiro e o efeito que ele promove (relação de causa-efeito). Nessa perspectiva, as relações entre trabalho e processo saúde-doença podem variar, sendo as mais comuns as seguintes: i) trabalho como um determinante da condição de saúde; ii) trabalho como fator de adocecimento; iii) saúde como uma relação de trabalho; iv) doença ou agravo como um impeditivo do exercício laboral. Ergonômicos: São elementos físicos e organizacionais que interferem no conforto da atividade laboral e, consequentemente, nas características psicofisiológicas do trabalhador. Processo saúde-doença: O estudo do processo saúde-doença como um processo social, segundo Laurell (1983), compreende mais do que avaliar a articulação desse com outros processos sociais – trata-se de entender a questão da causalidade e de como o processo de adoecimento biológico ocorre no contexto social. Robert Schilling: Era um renomado professor, com aproximadamente 50 DOENÇAS OCUPACIONAIS 33 anos de experiência, na área de saúde ocupacional (London School of Higiene and Tropical Medicine/Department of Occupational Health), que vivia na Inglaterra, conhecido por sua importante contribuição na determinação das tipologias das doenças em razão de sua relação com o trabalho. Trabalho: você sabia que a palavra “trabalho” significa tortura? Segundo a etimologia, estudo da origem e história das palavras, trabalho advém do termo latino tripalium, que era um instrumento de tortura romano usado com os prisioneiros da época. DOENÇAS OCUPACIONAIS 34 Aula 1 Exercícios de fixação Questão 1 - D Justificativa: A obra em referência, datada de 1700, constitui-se na maior publicação de todos os tempos a tratar da vida e adoecimento dos operários. Ela se diferenciou na ocasião e serve até hoje como importante referência na área por trazer notadamente a visão social da vida do trabalhador para o campo da gênese do adoecimento e também por descrever de forma detalhada, sistematizada e classificada por natureza e grau do nexo causal com o trabalho mais de 50 diferentes patologias (MENDES, p. 4-6). Questão 2 - B Justificativa: A Revolução Industrial iniciada na Inglaterra foi um marco em termos da estruturação da saúde ocupacional, pois proporcionou um grande e acelerado processo de modificação das condições e processos de trabalho nas indústrias, o que culminou em muitas baixas laborais e evidenciou a insuficiência da medicina do trabalho em resolver os problemas de adoecimento, lesões e mortes dos operários, configurando uma redução direta da produtividade dessas indústrias. Foi esse importante fato histórico que impulsionou a modificação da visão e da atuação no campo da saúde dos trabalhadores, que assumiu a abordagem multiprofissional para prevenir os riscos crescentes e tratar os desvios de saúde causados pelas novas e más condições de trabalho. Questão 3 - D Justificativa: A OIT, criada em 1919, no contexto do final da Primeira Guerra Mundial, sobre a égide do Tratado de Versalhes, tinha como lema central a justiça social, exercendo seu papel de formuladora e aplicadora das normas internacionais do trabalho através da elaboração de convenções e recomendações que são seguidas pelos países-membros e contribuem em DOENÇAS OCUPACIONAIS 35 conjunto para a proteção ao trabalhador. As seis primeiras convenções adotadas foram fundamentais e se relacionavam a: limitação de jornada de trabalho, proteção à maternidade, proteção ao desemprego, limitação da jornada noturna de trabalho, idade mínima para o trabalhador das indústrias. Através de suas conferências internacionais, a OIT conseguiu, ao longo dos anos, corresponder a muitas das demandas dos movimentos sociais organizados e sindicatos de trabalhadores, intensificando a fiscalização sobre a aplicação das normas internacionais. Seu papel estratégico na consolidação de leis trabalhistas, e, de certo modo, de blindagem às políticaseconômicas e sociais em diversos países, resultou em relevante proteção ao trabalhador, em princípio. Posteriormente e até a atualidade, também segue como instrumento para identificar as grandes diversidades globais, no que se refere às condições laborais. Conferindo publicidade a seus estudos técnicos e participando ativamente em debates políticos sobre a temática, a OIT mantém-se engajada na luta por justiça social auxiliando nas negociações coletivas reativas a condições laborais, salários e benefícios de classes operárias, entre outras. Questão 4 - B Justificativa: A saúde do trabalhador, como área da saúde pública que estuda e intervém sobre as relações entre o trabalho e a saúde, deve atuar na promoção e na proteção da saúde do trabalhador por meio do desenvolvimento de ações de vigilância dos riscos presentes nos ambientes e condições de trabalho, dos agravos à saúde do trabalhador e a organização e prestação da assistência. Dessa forma, lembrando o Modelo de Determinantes Sociais de Saúde (CNDSS), a saúde do trabalhador deve atuar sobre os macrodeterminantes do processo de adoecimento, ressaltando-se condições e ambientes de trabalho e a oferta dos serviços de saúde (assistência). Questão 5 - A Justificativa: A saúde do trabalhador como área especializada da assistência à saúde é resultado de um processo evolutivo, histórico, marcado por descobertas científicas de grandes estudiosos das ciências médicas e dos DOENÇAS OCUPACIONAIS 36 fenômenos sociais, culturais e econômicos. Dessa forma, a atuação profissional da atualidade, por se tratar do conhecimento teórico refletido na prática inserida nos processos de promoção, prevenção e assistência à saúde, só pode ser completa e eficiente se for contextualizada em seu processo histórico (de entendimento da especificação da área como sendo de saúde pública). O entendimento da evolução histórica permite entender a complexidade da abordagem clínica e epidemiológica dos agravos à saúde do trabalhador, admitida a necessidade da multidisciplinaridade do cuidado pela insuficiência de a área da saúde isoladamente ser resolutiva. Além disso, tal entendimento auxilia a compreendermos a gênese e o significado de cada uma das descobertas realizadas, cada qual em seu contexto histórico e cada qual influenciando na forma de ver e atuar sobre o processo saúde-doença, em última análise, nos dias de hoje. A formação para atuar na área em referência exige não somente conteúdo técnico, ou prática de campo, mas uma combinação entre ambos e um acúmulo de conhecimento acerca dos conceitos e evolução das práticas incorporadas. Questão 6 - E Justificativa: O nexo de causalidade permite que a assistência seja adequada, além de contribuir para a qualificação das informações epidemiológicas (incidência, prevalência, gravidade e distribuição, entre outras) relativas a doenças e/ou agravos relacionados ao trabalho. Estabelecer esse nexo é importante na medida em que são notificados aos órgãos competentes a correta identificação e o diagnóstico de uma enfermidade, assegurando a proteção laboral dos pontos de vista legal, trabalhista e previdenciário ao trabalhador afetado. Questão 7 - B Justificativa: O aluno deverá expor medidas relativas a ações de promoção à saúde e preventivas que podem ser promovidas no ambiente de trabalho de forma organizada, coletiva e outras direcionadas ao indivíduo que esteja DOENÇAS OCUPACIONAIS 37 exposto a determinados riscos ocupacionais específicos, na tentativa de evitar ocorrências de danos, sofrimento ou agravos. Questão 8 - C Justificativa: O estudo técnico do ambiente e condições de trabalho é essencial para conhecer como, onde e em que condições as atividades laborais são exercidas e, consequentemente, de que maneira impactam no processo de saúde-doença do trabalhador individual e coletivamente. Essa informação permite a determinação do nexo de causalidade, quando for o caso, e orienta a condução dos profissionais de saúde nos processos assistenciais. Questão 9 - B Justificativa: Saber se uma doença esta intrinsecamente relacionada ao trabalho e seu potencial nocivo (Grupo I de Schiller) ou se a mesma possui múltiplos fatores de risco (etiologia epidemiológica), muda absolutamente tudo, seja na abordagem diagnóstica e terapêutica como na própria repercussão laboral do agravo/dano/doença do trabalhador individual ou das coletividades. Por isso é importantíssimo conhecê-las, classificá-las e identificá-las de forma objetiva e técnica. Questão 10 - D Justificativa: Schilling identificou que todas as informações já existentes sobre as doenças essencialmente ocupacionais (profissionais) poderiam mascarar a incidência de doenças que guardavam relação ou eram afetadas pelo trabalho, mas que eram de etiologia epidemiológica. Portanto, a principal característica de seu sistema de classificação é a proposição da existência de três formas de relacionamento entre trabalho e doença, permitindo que as abordagens preventivas para eliminação ou redução dos fatores de risco pudessem ser direcionadas segundo tipo de grupo de doenças específico, sendo, portanto, mais efetivas.
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