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João Marcelo Couto Conceição Empresarial I - Spinelli O Direito Empresarial regula o exercício das atividades econômicas de modo profissional – seu exercício, seus agentes (pessoas físicas e jurídicas) e seu objeto (estabelecimentos empresariais). Há uma linha tênue entre o que é o que não é atividade empresarial, pois não é um ramo estanque do Direito, podendo ser estendido para vários outros ramos, como Direito Penal, Tributário, etc. HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DO DIREITO COMERCIAL Direito Empresarial surge na Idade Média com o nome de Direito Comercial, para atender à classe emergente: a burguesia. Na Antiguidade, não havia um ramo específico do Direito Empresarial, mas ali surgiram alguns institutos, como o Código de Hamurabi e o contrato nauticus fuenos (de comércio marítimo), na Grécia, assim como uma espécie de instituto de falência no Direito Romano. Ainda não existia uma necessidade palpável para o despontar de tal tema, pois o comércio era uma atividade renegada, feita por libertos e escravos, não digna dos nobres. O ius gentium romano supria as necessidades por ser bem flexível, servindo como um direito comum. Com a queda do Império Romano e a ascensão árabe no mediterrâneo, há o início da Idade Média, a formação dos feudos (segurança em torno dos senhores feudais), o fechamento do comércio, a valorização da propriedade imóvel e poucas trocas internas nos burgos. Com a formação dos burgos livres, há um novo sistema econômico, precursor do capitalismo, formando cidades. Nesse início da Baixa Idade Média, os comerciantes assumem importância, surgindo nesse momento as corporações de ofício. Assim, o Direito Comercial tem sua primeira fase. 1. Fase Subjetiva (séc. XI - XVI) Para ser considerado comerciante, era necessário estar matriculado nas corporações, no album mercatorium, tendo cada ofício uma corporação específica. Assim, surge a lex mercatoria/ius mercatorium, o direito dos comerciantes, criado por esses. Era um direito de classe, pois o direito comum não mais supria as necessidades. Era um direito ágil e vivo, se adaptando aos problemas do dia-a-dia e incorporando costumes já sedimentados. Os estatutos das corporações (regravam as profissões) serviam como fonte, assim como as decisões consulares – embriões dos tribunais de comércio que tinham por base a realização de uma justiça ágil, baseada na equidade sem formalidades. Hoje, as juntas comerciais têm, por lei, competência para assentar costumes empresariais, embora tal seja raro na prática. As corporações regravam e julgavam as situações e disputas existentes no âmbito comercial (direito e justiça). Em um primeiro momento, os tribunais – privados, próprios de cada corporação – tinham atuação restrita aos litígios entre os matriculados no álbum mercatorium. Com o passar do tempo, sua influência se estender para os conflitos entre comerciantes e não comerciantes. Cada corporação tinha seu próprio cônsule, e, posteriormente, seu próprio tribunal. Principais características da lex mercatoria: Direito profissional, de classe e corporativo, regrando e defendendo seus próprios interesses; Consuetudinária – os costumes adotados tinham relevância; Urbana, nascida nas Feiras Medievais das cidades-estado, e posteriormente sendo usada para regrar comércios entre cidades, principalmente francesas e italianas. Nasceu na Itália; Mobiliária – se preocupava com a circulação da riqueza; Internacional e intercambista entre feiras de cidades distintas; Racional – tinha por objetivo resolver problemas práticos, distinguindo-se do direito comum (interno, religioso e agrícola). Na Idade Média, surgem as primeiras compilações de direito consuetudinário, sendo de Benvenuto Stracca a primeira obra de Direito Comercial de que se tem conhecimento, feita em Veneza, em 1553. Na época, os comerciantes eram considerados cidadãos de 2ª classe – não era um nobre trabalho. Ainda, a Igreja condenava os lucros e a usura. Com o tempo, os lucros dos comerciantes passaram a atrair as classes mais altas, que passaram a aceitá-los dentro de seus círculos, vendo-o com bons olhos os clérigos e nobres. Esses formavam sociedades em conta de participação (sociedade oculta, que não aparece perante terceiros, sendo desprovida de personalidade jurídica. O que a caracteriza é a existência de dois tipos de sócio, quais sejam, o sócio ostensivo, que aparece e assume toda responsabilidade perante terceiros, e o sócio participante - sócio oculto - que não aparece perante terceiros e só tem responsabilidade perante o ostensivo, nos termos do ajuste entre eles1), para expedições marítimas. Os nobres eram os sócios ocultos, para que não fossem estigmatizados. Institutos criados na Idade Média que persistem até hoje: Registro de empresário na Junta Comercial; Firma ou razão social; Capacidade ampliada dos menores; Casa comercial + filiais; Marca comercial privada; Contabilidade (método das partidas dobradas); Estruturação mercantil; Títulos de crédito e letras de câmbio (precursores dos bancos); Falência. 2. Subfase Estatal (séc. XVI - XVII) Há um fortalecimento estatal e a formação dos Estados Nacionais, cada um passando a ter seu próprio sistema de direito nacional. O direito comercial deixa de ser um direito de classe (criado e julgado pelos comerciantes) e passa a ser estatal, ainda 1 TOMAZZETTE, Marlon. Curso de Direito Empresarial. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2013, v. 1, p. 294. que esse buscasse suas leis na lex mercatoria. Os tribunais de comércio continuaram a existir, mas seus “juízes” eram indicados pelos monarcas, sem liberdade de formação. Na França, por exemplo, há as ordenanças de Luis XIV sobre o comércio marítimo (1681) e terrestre (1673). Nesse período, começam as companhias marítimas (embriões das S.A.), juntamente com a expansão colonialista. As S.A. só poderiam ser criadas pelo Estado – mais tarde, quando puderam ser criadas por particulares, ainda precisavam da autorização estatal. No Brasil, a constituição de S.A. só foi autorizada no século XIX. Nessas duas primeiras fases, o direito é subjetivo – é comerciante quem está inscrito no album mercatorium. 3. Fase Objetiva (séc. XIX - 1942) Na realidade econômica, a partir da Revolução Industrial. Há maior individualização da economia. A Rev. Industrial só foi possibilitada pela criação dos títulos de crédito (flexibilização da riqueza) e da sociedade anônima (captação de recursos para um grande investimento), institutos do Direito Comercial. Na realidade social, aconteceu a partir da Revolução Francesa. Há o questionamento de certos privilégios (por que determinados ofícios estavam reservados a certos grupos de pessoas?), dando início ao liberalismo. Segundo Ascarelli, os três institutos que viabilizaram a economia moderna foram o seguro, os títulos de crédito e a sociedade anônima. Em 1791, foi publicada a Lei Le Chapelier, que extinguiu todas as corporações de ofícios. Após, a edição do Código Civil (1804) e do Código Comercial (1807) franceses distingue a burguesia imobiliária (Código Civil) e a mercantil (Código Comercial). Com o último, o direito deixa de ser subjetivo e passa ser objetivo - baseado nos atos de comércio – é comerciante quem os realiza, havendo um rol de atividades fornecido pelo Estado. EX.: compra e venda de mercadorias. O grande problema era que esse rol era fechado, o que limitava as atividades e trazia insegurança jurídica nos temas de falência, atos mistos (o consumidor vira comerciante?), litígios entre vendedores e compradores(ainda havia uma bipartição nos tribunais, havendo civis e comerciais – levo o litígio ao tribunal comum ou ao comercial?), prestadores de serviço, etc. Havia, inclusive, atos que estavam de fora e deveriam estar dentro, como corporações imobiliárias e prestadores de serviço. Quem pode estar sob as obrigações do Direito Comercial? 4. Teoria da Empresa (1942) Instituída com o Código Civil italiano de 1942, foi o que influenciou a unificação do direito privado na Itália. O foco sai do rol de atos comerciais e vai para a atividade empresária (quem a explora) que instrui o direito privado. A ideia era que não houvesse mais um código de classe, um para a burguesia civil e outro para a burguesia comercial. Com a 4ª fase, há uma depreciação dos usos comerciais (costume), tendo em vista que o Estado deveria ser a única fonte legislativa do direito comercial. Seu nome também muda, passando a se chamar Direito Empresarial (o foco sai do comerciante e vai para o empresário). O motivo é que há uma identificação do No Brasil, o Código Comercial de 1950 também disponibilizava tal rol, fechado. A parte de Direito Marítimo do Código Comercial de 1850 permanecem em vigor até hoje. empresário como alguém útil para a sociedade, além da localização dos que exerciam tal atividade, para que o Estado tivesse maior controle sobre eles. EVOLUÇÃO DO DIREITO COMERCIAL BRASILEIRO (Hernani Estrella) 1. 1822 – 1850 A lei de 20 de outubro de 1823 dizia que se aplicavam no Brasil as leis portuguesas em vigor até 25 de abril de 1821. Essa fase é marcada pela aplicação das leis portuguesas e de algumas leis esparsas de D. Pedro I. Era um sistema jurídico incompleto, sendo a colmatação de lacunas feita pela Lei da Boa Razão, gerando insegurança jurídica, pois várias normas diferentes eram aplicadas: direito francês, português e italiano, que às vezes se contradiziam. O direito comercial era um direito classista, porém não organizado, havendo somente leis esparsas, pois, sendo o Brasil um país eminentemente agrícola, não há incentivo ao comércio. 2. 1850 – 1890 Em 1850, um Código Comercial brasileiro é promulgado, o que muda a perspectiva sobre esse tema. Consolidam-se a figura dos atos de comércio e o Direito Comercial como uma matéria sistematizada – considera-se ali seu início. Juntamente com o Código, há a promulgação de 2 decretos: Regulamento 737 – regula o Direito Processual Comercial e dá rol fechado de atos de comércio – sua positivação foi uma teoria importada da França; Regulamento 738 – cria os Tribunais de Comércio (julgam os processos de quebras e causas nos quais os comerciantes estivessem envolvidos). Para o Código Comercial de 1850, comerciante era quem praticava atos de comércio (o Art. 4º do Código Comercial afirmava que só gozaria da posição de comerciante quem era inscrito nos tribunais ou praticasse atividades habituais de mercancia – Regulmento 737). Portanto, quem não os praticava não estava sujeito à disciplina no Código Comercial. Assim, existiam profissões e atividades regulamentadas que não se sujeitavam à lei. Inicia-se assim a criação de jurisprudência e doutrina do Direito Comercial brasileiro → nascimento de fato do DCB. Entretanto, com o tempo, cresce a necessidade de atualização, e o Código Comercial vai se esgotando, não atendendo mais às demandas econômicas do país, exigentes de regras mais flexíveis. Em 1875, há a extinção dos Tribunais de Comércio, e, em 1890, uma unificação processual. 3. 1890 – 2002 Começa o período republicano. Com o surgimento da necessidade de mais legislação reguladora, há a criação de diversas leis esparsas: 1890 – Unificação processual. Criação do instituto da falência; 1903 – Lei dos Armazéns Gerais (ainda em vigor). Permite que as corporativas funcionem como armazéns gerais, excetuando-se as sociedades em liquidação; 1908 – Leis Cambiais; 1940 – Sociedades Anônimas/por Ações; 1960 – Inclusão das incorporadoras imobiliárias no Direito Comercial. Há uma expansão do Direito Comercial, que vai abarcando outras atividades além das previstas no regulamento 737. Começa uma “comercialização do Direito Civil”, ou seja, institutos típicos do direito comercial passam a fazer parte do Direito Civil, e isso fica cada vez mais comum. EX.: contratos de seguro, mora ex re (o mero atraso do prazo já coloca o devedor em mora, sem necessidade de interpelação). Institutos típicos do direito comercial se espalharam pela sociedade, por sua utilidade geral (cheques, notas promissórias, etc.). 4. 2002 – atual Com o novo Código Civil, há uma mudança no Direito Comercial. Ocorre a unificação formal e parcial do Direito Privado, revogando-se quase todo o Código Comercial de maneira expressa (só permanece em vigor a parte de Direito Marítimo). Há uma mudança de matriz no direito brasileiro; o Direito Comercial e a Teoria da Empresa se incorporam ao Direito Civil, e o CC 2002 passa a regrar as obrigações comerciais e civis. Boa parte do que hoje chamamos de Direito Empresarial se encontra dentro do CC; entretanto, institutos típicos do direito empresarial continuaram a ser regrados por leis especiais., e somente quem é empresário pode se valer deles. EX.: Lei das S.A. (6.404/76); Falência (7.661/45)→só foi revogada pela nova Lei de Falências (11.101/05). O Código Civil de 2002 abandona a Teoria dos Atos de Comércio e adota a Teoria da Empresa – não há um rol fechado de sujeitos; todos que exerçam atividade empresária estão sujeitos à lei. É uma mudança de perspectiva, o que não significa que qualquer um que ofereça atividade comercial voltada ao mercado seja empresário (ficam de fora, por motivos históricos, os sujeitos que exerçam atividade intelectual, artística ou científica - Art. 966, § único, CC). Aula 15/09 1 REGIME JURÍDICO DA ATIVIDADE 1.1) O QUE É ATIVIDADE Conceito: Conjunto de atos de qualquer espécie imputáveis a um sujeitou ou a um centro de interesses e organizados tendo em vista um mesmo objetivo “Conjunto de atos de qualquer espécie” – sejam jurídicos ou não. Ex: abrir uma loja. o Atos jurídicos – contratar empregados, assinar contrato com a CEEE o Atos não jurídicos – definir coleção, arrumar a vitrina – pouco importa a natureza “imputáveis a um sujeitou ou a um centro de interesses” – imputáveis a sujeitos (não pessoa), pois existem sujeitos com capacidade obrigacional que não são pessoas (ex: personalidade jurídica – que nada mais é que uma técnica de segregação de patrimônio). Pode ser uma pessoa física ou jurídica ou um ente sem personalidade jurídica. “organizados tendo em vista um mesmo objetivo” – O que qualifica a atividade é o fim dela. Voluntariedade: a atividade pode ser voluntária (Ex: iniciativa privada) ou pode ser vinculada por lei (ex: atividade estatal). Qualificação do ato: Tendo em vista isso, é a atividade (e o fim buscado dela) que vai qualificar os atos. Quando eu sei que um ato é ordinário ou extraordinário? Pelo fim da atividade o Ex: Numa construtora, a compra de vários imóveis num curto espaço de tempo ato de administração ordinária. Já para uma clinica médica, isso seria um ato administrativo extraordinário. Conceito 2: Atividade é o conjunto de atos com existência e regimes jurídicos distintos em relação aos atos isolados que o compõe 1.2) SUJEITO DENTRO DO REGIME JURÍDICO DA ATIVIDADE Capacidade, Legitimidade e Habilitação do sujeito para explorar a atividade a) Capacidade Normalmente segue-se o regime geral do CC quanto a capacidade para atos isolados. Atr. 972 CC: “Art. 972. Podemexercer a atividade de empresário os que estiverem em pleno gozo da capacidade civil e não forem legalmente impedidos.” Exceção: Economia própria e art 974. b) Legitimidade Também no art. 972. “Deve estar legitimado a tanto”. Não é qualquer um que pode explorar a atividade empresária. Pessoa não pode estar impedida (ex: juiz, professor com DE,...). Explorar a atividade = serie de atos concatenados, imputáveis a ele com um objetivo de exercer uma atividade para obter lucro c) Habilitação Tendo em vista a proteção de terceiros, para explorar certas atividades requer habilitação (ex: advogados, arquitetos, médicos). Já exercer atividade empresarial qualquer um pode (desde que esteja legitimado). 1.3) Existência da ATIVIDADE Depende se o sujeito da atividade é ou não uma pessoa jurídica. Se é PN, a existência da atividade pressupõe uma serie de atos com um certo objetivo dentro de um determinado período de tempo. Por exemplo, se uma pessoa troca de carro anualmente não significa necessariamente uma atividade empresarial. Se é PJ, qualquer ato já será considerado atividade, pois ela nasceu para aquilo. Importância desta distinção: Por conta da eficácia da atividade. Porque independe da vontade do sujeito para que a atividade produza efeitos. Ou seja, independentemente de sua vontade, a atividade pode atribuir sobre o sujeito um status. (art 973 CC). 1.4) NORMALIDADE DA ATIVIDADE Licitude, regularidade e validade. A atividade é sempre válida, jamais nula ou anulável. O que é nulo ou anulável são os atos que compões a atividade. A atividade é licita/ilícita e regular/irregular, mas jamais inválida. a) Licitude A atividade é lícita se ela é realizada de acordo com a lei. A licitude ou não da atividade não irá afetar os atos isolados e o contrário também é verdadeiro. Ex: Boate – atividade licita, mas vende bebida alcoólica para menor – atividade ilícita. Isso não transforma a atividade em ilícita. Ex2: refino de coca – atividade ilícita, mas fecho um contrato com a Vivo (ato isolado) – o contrato é válido. b) Regularidade A ver se eu cumpro ou não as exigências administrativas regulares ou tributárias. (Ex; alvará para ter restaurante – sem alvará é uma atividade lícita, mas irregular). c) Validade Regime das validade é do direito privado. Serve para proteger o sujeito, a pessoa. Proteger aquele que contrata individualmente. O regime jurídico da atividade, por sua vez, é de direito público. É para proteger justamente o interesse público, o mercado. Proteger a coletividade. 1.5) DESTINAÇÃO DA ATIVIDADE A atividade é destinada ao público, à coletividade. Enquanto que o ato/contrato é destinado entre pessoas específicas. Por isso que desde o início o sujeito necessita além de ser capaz, também ser legitimado e, eventualmente, ser habilitado. 1.6) RESPONSABILIDADE CIVIL 6.1 – Ato Ilícito Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Dolo ou culpa - “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,” Elementos subjetivos Tem que ter dolo ou culpa que cause dano em alguém Nexo Causal – violar o direito Dano – e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral Ou seja, só se responde se agira com dolo ou culpa causando dano a alguém. Aqui a regra é que a responsabilidade é subjetiva. 6.2 – Responsabilidade civil no regime da atividade A regra é que a responsabilidade é objetiva. Quem explora atividade, vai responder ainda que sem dolo ou culpa. Art. 37 §6º CF / Art. 12 a 17 CDC/ Art. 927 § único CC Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. 2 ATIVIDADE NEGOCIAL O Livro 2 da parte especial do anteprojeto do CC se chamava “Da Atividade Negocial”, pois este livro abarca a “atividade empresaria” e a “atividade não-empresária”. Atividade Negocial = Gênero / Atividade empresarial e atividade não-empresarial = espécie Durante o tramite legislativo, o título mudou para “Do Direito de Empresa”, fazendo referência única e exclusivamente a atividade empresária. Todavia, isso não significa que não encontremos no livro dois referências quanto a atividade não-empresária. Deveria se ser chamado “Da Atividade Negocial”, pois abarca esses dois tipos de atividade (empresária e não empresaria). 2.1) ATIVIDADE EMPRESÁRIA Definição em Caput do art. 966 do CC: Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços (exercida de modo profissional/ by Spineli). Atividade criadora de riqueza – Necessariamente é para produção, circulação de bens ou serviços patrimonialmente avaliáveis. Não confundir a atividade empresária com a mera fruição de bens. Simplesmente extrair frutos de bem, não é atividade empresária (ex: aluguel do imóvel). Atividade econômica organizada – organização dos meios de produção (capital, trabalho, tecnologia e natureza). Não é preciso a presença de todos os fatores de produção para que se tenha uma atividade econômica organizada (ex: ter uma lavanderia toda automatizada). Habitualidade – atividade deve ser exercida de modo profissional, com habitualidade, ainda que seja com sazonalidade (ex: quiosque na praia). Intuito lucrativo – busca-se o lucro. 2.2) ATIVIDADE NÃO-EMPRESÁRIA Parágrafo único do art. 966 CC: Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. “(...) profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística” – Médico, advogado, artista, ... não são empresários, mesmo atendendo os outros quatro requisitos anteriores. Existe uma diferença intrínseca entre advogados e empresários ou é uma distinção histórica? A quem entenda que existe uma diferença intrínseca entre ativida empresária e não empresária Ascareli: a atividade não empresária teria uma valoração social diversa. o O acesso é restrito à atividade não empresária. o Restrição à concorrência. Normas de decoro para concorrência. Já na atividade empresária o acesso e a concorrência é livre o A atividade não empresarial é sempre única, cada caso é um caso. Cada vez mais essa divisão se torna fluída e, talvez, desnecessária. Na prática, o critério mais seguro é qualificar pela negativa. Qualifica-se o caput pelo parágrafo único. (Há divergência quanto essa opinião). “(...) ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa.” O que é elemento de empresa: critérios mais arbitrários possíveis para determinar o que é elemento de empresa. “que não convencem, só convencem quem é preguiçoso” (SPINELI). Essa discussão se traduz principalmente na área do direito tributário. Justificativas: em lucro/ tem filiais/ emprega muita gente/ site na internet... A junção desses requisitos (variados) acarreta na perda do elemento pessoalidade, por isso passa ser considerado empresário. O problema, segundo Spineli, que isso tudo é chute, é arbitrário. 2.3) Atividade Mista Elemento de empresa: O código civilacabou com a ideia de atividade mista (empresária e não empresária juntas na mesma atividade). Pouco importa qual atividade prepondera entre as duas, basta que exista atividade empresaria junto com uma atividade não empresária que automaticamente a atividade será empresária. 2.4) ATIVIDADE RURAL Historicamente, quem explora atividade rural sempre esteve fora do direito comercial. Ideia de que o direito comercial nasceu para bens móveis e a atividade rural é voltada para o imóvel, a terra. Atividade rural engloba atividade agrícola, pecuária ou extrativista (mineral, vegetal ou animal). Regime de transição no Código Civil: art. 971 e 984: Art. 971. O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão, pode, observadas as formalidades de que tratam o art. 968 e seus parágrafos, requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, caso em que, depois de inscrito, ficará equiparado, para todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro. Art. 984. A sociedade que tenha por objeto o exercício de atividade própria de empresário rural e seja constituída, ou transformada, de acordo com um dos tipos de sociedade empresária, pode, com as formalidades do art. 968, requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da sua sede, caso em que, depois de inscrita, ficará equiparada, para todos os efeitos, à sociedade empresária. Quem explora atividade rural está fora do direito empresarial, não é empresário. Todavia, se quiser, pode ser equiparado a empresário, caso se registre na junta comercial. A importância está que aqui o registro é constitutivo. A regra geral é que a o registro não faz a pessoa ser empresária ou mercador. “Não é porque eu me registrei na junta que virei empresário, mas eu preciso me registrar para exercer a atividade empresarial de modo regular”. 3 EMPRESA/EMPRESÁRIO/ESTABELECIMENTO Para economia, todos exploram a atividade econômica, pouco importa essa divisão. Porém para o direito existe essa divisão entre atividade empresária e atividade não empresária. A atividade empresarial pode ser explorada de modo individual (empresário individual) ou coletivo (sociedade empresarial). Empresário Individual – Explorar a atividade em nome próprio. A atividade (empresa) é explorada pelo sujeito (empresário) por meio do estabelecimento. Empresa se exerce, empresário se é, estabelecimento se tem. 3.1) EMPRESA Não apenas no uso cotidiano da fala, mas o próprio legislador acaba por empregar o termo “empresa” com diferentes significados. Por isso, segundo Ascini, pode-se dizer que existem quatro tipos de perfil de empresa: Perfil funcional: É o tecnicamente correto. Traz a empresa enquanto atividade. Empresa se exerce. Empresa é atividade empresária. Perfil Subjetivo: Empresa enquanto sujeito, podendo ser tanto o empresário individual quanto a sociedade empresária. Perfil Objetivo (ou patrimonial): Indica o estabelecimento, que é o conjunto de bens do empresário organizados para exploração da empresa. É o objeto. Perfil Institucional (ou corporativo): Empresa enquanto instituição socialmente útil. Conceito oriundo do tempo do fascismo, por isso já caiu em desuso. Se diz que atividade é um fato jurídico, pois a qualificação do sujeito enquanto explorador da atividade independe da sua vontade. Ela produz efeitos independentemente da vontade do sujeito que a explora. 3.2) REGIME JURÍDICO DO EMPRESÁRIO INDIVIDUAL Empresário Individual é o sujeito que explora a empresa em nome próprio. Pessoa natural que explora atividade empresária. Caput art. 966 do CC: Como o sujeito explora em nome próprio a atividade, Ainda que faticamente se consiga distinguir quais são os bens destinados à exploração da atividade e quais são os bens destinados ao uso e gozo privado, juridicamente não existe esta distinção. A regra é que cada pessoa tenha um único patrimônio. Isso significa que se o empresário individual, no exercício da atividade empresária, contrair dívidas e obrigações, todo o seu patrimônio vai responder pelos pagamentos destas obrigações, pouco importando se os bens estão vinculados no exercício da atividade ou não. Não há limitação da responsabilidade do empresário individual. Isso se aplica ao profissional liberal = pessoa que explora atividade não empresária em nome próprio. 3.2.1 INCAPAZ COMO EMPRESÁRIO O incapaz não pode jamais iniciar uma atividade empresarial, mas pode continuar uma atividade que já vinha sendo exercida. Tal permissão se justifica pelo princípio da preservação da empresa, tentando evitar a extinção desta. Arts. 974, 975 e 976 do CC: Art. 974. Poderá o incapaz, por meio de representante ou devidamente assistido, continuar a empresa antes exercida por ele enquanto capaz, por seus pais ou pelo autor de herança. O CC faz isso porque aquela atividade pode ser importante para a subsistência do incapaz. Ex: caso os pais morram num acidente de carro, ele pode continuar a empresa. Necessita de autorização judicial para exercer a atividade empresarial (§ 1º do artigo). Problema: Por ser empresário individual, todo o patrimônio do incapaz poderia ir por água abaixo. Por conta disso, o § 2º tem uma regra de limitação de responsabilidade do empresário nesse caso. § 2o Não ficam sujeitos ao resultado da empresa os bens que o incapaz já possuía, ao tempo da sucessão ou da interdição, desde que estranhos ao acervo daquela, devendo tais fatos constar do alvará que conceder a autorização. O patrimônio é separado entre aquilo que é pessoal e aquilo que é utilizado para exercer a atividade. Somente os bens relacionados à atividade é que vão responder pelas obrigações contraídas do exercício da mesma. Essa autorização deve ser registrada na junta comercial para que terceiros tenham conhecimento. 3.2.2 FIRMA INDIVIDUAL Antigamente chamada de razão social. Empresário opera sobre firma individual, o que não faz com que ele seja uma pessoa jurídica. A firma individual e como ele se identifica no mercado. É obrigatório que todo o empresário tenha uma firma individual. Art. 968 e Art. 1156 3.2.3 REGIME DE RESPONSABILIDADE SUBSIDIARISADA Entendimento doutrinário - Os credores devem pegar primeiramente os bens vinculados a exploração da atividade. Só depois os credores vão poder pegar os bens não vinculados (pessoais). Não a previsão legal desta orientação. Aula 22/09 3.2.4 DEVERES DO EMPRESÁRIO INDIVIDUAL 1º) Se inscrever na Junta Comercial. O empresário individual deve, obrigatoriamente, deve realizar sua inscrição na Junta Comercial. Art. 967 CC: “Art. 967. É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade.” Quanto aos requisitos para realizar a inscrição, eles estão no art. 968 do CC. Art 969 – a respeito das filiais. Caso seja aberto uma filial em outro estado, terei que fazer a inscrição na Junta Comercial do respectivo estado, pois as Juntas são autarquias mistas, atuando de modo estadual. Esse registro tem natureza meramente declaratória, não é o registro que faz o individuo empresário ou não (com exceção de quem explora atividade rural, onde o registro é constitutivo – art. 971). Quem não faz o registro, segue como empresário, porém explora a atividade de forma irregular, mas jamais o desconstitui como empresário. No caso de profissionais liberais, que não exploram atividade empresarial, o registro é feito no respectivo órgão da classe. 2º) Adoção dos livros obrigatórios por lei Obrigação estipulada pelos arts. 1.180 a 1.185 do CC. Empresário deve manter esteslivros de modo regular (Ex: Livro Diário – art. 1.180). isto é necessário para escrituração. Muitos desses livros é essencial que se faça a autenticação na Junta Comercial. Atualmente, boa parte disso é feito em conjunto, eletronicamente, com a Receita Federal. Trata-se de uma atividade mais voltada para os contadores do que para os empresários em si. 3º) Realizar a escrituração mercantil Art. 1.179 – Todos os lançamentos devem constar. Usa como base a autenticação na Junta Comercial dos livros obrigatórios por lei. A escrituração será realizada por contabilista (art. 1.182) e deverá seguir os requisitos do art. 1.183. 4º) Realizar a sua contabilidade É dever do empresário realizar as suas demonstrações contábeis de modo periódico (art. 1.179, segunda parte). A periodicidade deve ser no mínimo como a prevista em lei, ou seja, anual. A apresentação deve ser no encerramento do exercício social que, em tese, coincide com o fim do ano civil. Porém algumas vezes o exercício social pode coincidir com outras datas, principalmente no caso de empresas controladas por outras estrangeiras (Ex: empresas americanas encerram o seu exercício social, geralmente, em maio ou setembro.). Nesses casos, a empresa irá apresentar os demonstrativos contábeis no final do seu exercício (para fins comerciais e administrativos), mas também ao final do ano civil (para fins fiscais). 5º) Fazer a boa guarda dos seus livros Art. 1.194. O empresário e a sociedade empresária são obrigados a conservar em boa guarda toda a escrituração, correspondência e mais papéis concernentes à sua atividade, enquanto não ocorrer prescrição ou decadência no tocante aos atos neles consignados. Quando se vai dar a baixa no registro na Junta Comercial, deve-se indicar com quem ficará com a guarda dos livros, o que pode ser por muitos anos (enquanto dura a prescrição ou a decadência das obrigações). É uma obrigação bem genérica e aberta. 3.2.5 CONSEQUÊNCIAS DO EXERCÍCIO IRREGULAR DA ATIVIDADE / OS DIREITOS DO EMEPRESÁRIO 1º) Recuperação de empresas (direito aos institutos recuperatórios) Quem explora atividade empresária de modo regular tem o direito ao acesso aos institutos recuperatórios: recuperação judicial e recuperação extrajudicial. (art. 48 e 161 da Lei de Falências). Art. 48. Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do pedido, exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda aos seguintes requisitos, cumulativamente: Art. 161. O devedor que preencher os requisitos do art. 48 desta Lei poderá propor e negociar com credores plano de recuperação extrajudicial. O que se analisa para verificar se ele sesta ou não regular é se eles esta inscrito na Junta Comercial. Apesar de existir a obrigação em lei de demonstrar a contabilidade regular, através das escrituras, livros obrigatórios e demonstrativos contábeis 2º) Possibilidade de falência Quem explora irregularmente a atividade pode falir, pois a falência é uma instituo que serve para proteger justamente os credores. A falência é um processo de execução coletiva. A ideia na falência é evita que alguns sejam mais rápidos e outros fiquem sem nada. Entretanto, se o credor é um empresário, para que ele possa requerer a falência de um devedor seu, ele tem que explorar regularmente sua atividade. Quem não é empresário não precisa fazer essa prova (ex: advogado pode pedir falência do devedor sem ter que provar sua regularidade). Art. 97. Podem requerer a falência do devedor: I – o próprio devedor, na forma do disposto nos arts. 105 a 107 desta Lei; 3º) Autenticação dos livros mercantis Se eu exploro irregularmente minha atividade, não poderei autenticar os livros mercantis. Art. 1.181. Salvo disposição especial de lei, os livros obrigatórios e, se for o caso, as fichas, antes de postos em uso, devem ser autenticados no Registro Público de Empresas Mercantis. Parágrafo único. A autenticação não se fará sem que esteja inscrito o empresário, ou a sociedade empresária, que poderá fazer autenticar livros não obrigatórios. Sem a autenticação dos livros, não é possível utilizar os livros como prova para si. Estando os livros regular e tendo outros subsídios, o empresário pode utilizar os livros como prova em favor dele. (art 226 do CC) Art. 226. Os livros e fichas dos empresários e sociedades provam contra as pessoas a que pertencem, e, em seu favor, quando, escriturados sem vício extrínseco ou intrínseco, forem confirmados por outros subsídios. 4º) Atividade irregular pode caracterizar crime falimentar Art. 178 da lei de Falências: Omissão dos documentos contábeis obrigatórios Art. 178. Deixar de elaborar, escriturar ou autenticar, antes ou depois da sentença que decretar a falência, conceder a recuperação judicial ou homologar o plano de recuperação extrajudicial, os documentos de escrituração contábil obrigatórios: 5º) Atividade irregular não assegura a proteção ao nome empresarial A regra é que cada empresário tenha o seu nome protegido, para que não haja dois empresários se valendo do mesmo nome. (art. 1166 do CC). Porém, aquele que está irregular, não tem o seu nome protegido. Art. 1.166. A inscrição do empresário, ou dos atos constitutivos das pessoas jurídicas, ou as respectivas averbações, no registro próprio, asseguram o uso exclusivo do nome nos limites do respectivo Estado. 6º) Impossibilidade de participar em licitações A regularidade da atividade é um dos requisitos para participar de licitações. 7º) Impossibilidade de se inscrever nos cadastros fiscais. Sem a inscrição na junta comercial, não é possível se possível se habilitar corretamente junto a receita, o que, no limite, pode vir a ser considerado crime de sonegação fiscal. 3.2.6 REGIME DE PUBLICIDADE PARA O EMPRESÁRIO INDIVIDUAL Quando se fala de empresário, o CC traz uma grande exigência de publicidade por parte do empresário individual (sempre relacionada a proteção de terceiros). É um dever de publicidade para proteção do mercado. Presume-se que todos devam ter esse conhecimento. NO caso do empresário individual em especifico, isso ocorrer por se tratar de um único indivíduo com um único patrimônio. Arts. 974, 975 e 976 obrigam a deixar público caso o empresário seja incapaz, justamente para publicizar a questão da proteção do seu patrimônio antes de se tornar empresário. Arts. 978 – O Empresário Individual não precisa da outorga da cônjuge para vender um imóvel, desde que o bem imóvel esteja vinculado a atividade, e para se ter certeza disso, o ideal é que quando se for inscrever na Junta Comercial, indique que aquele imóvel esta vinculado com o exercício da empresa. Art. 979 e 980 – Por ser pessoa natural que exerce atividade empresária, o seu patrimônio é um só e pode ser afetado por questões matrimoniais e de herança. Logo, é interesse de terceiros saber a respeito do estado civil do empresário individual e das eventuais mudanças que possam impactar no seu patrimônio. Assim, estes registros devem ser feitos além dos cartórios civis, também na Junta Comercial. 4 ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL 4.1 CONCEITO Perfil objetivo da empresa. Art. 1.142. Considera-se estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária. A atividade (empresa) é exercida por um sujeito (empresário), que geralmente viabiliza o exercício da atividade por meio de um complexo de bens, que denomina-se estabelecimento empresarial – ele é o instrumento da atividade empresarial / objeto por qual o empresário realiza a atividadeempresarial. O estabelecimento não pode ser entendido como o local onde se exerce a atividade. Apesar de usar corriqueiramente esse sentido, trata-se de um equívoco do ponto de vista jurídico. O estabelecimento é um complexo de bens organizados pelo empresário e não apenas o imóvel utilizado para o exercício da atividade. O estabelecimento não se confunde com a coisa comercial, com o local físico do exercício da atividade. Esse complexo de bens não precisa, necessariamente, pertencer ao empresário, que pode eventualmente locar bens (ex: Antonio’s loca os seus móveis). O essencial é que esse complexo de bens seja organizado pelo empresário para o exercício da empresa. A organização do empresário para uma finalidade comum é que vai dar ao complexo de bens a natureza de um estabelecimento. Cada empresário ou sociedade empresarial pode ter um ou mais estabelecimentos. Se possuir vários estabelecimentos, existirá a sede e as filiais. É o complexo de bens que o empresário organiza para exploração da atividade. Então é algo dinâmico, que está em constante mudança, pois se trata dos bens móveis e imóveis, materiais e imateriais. Numa loja de sapatos, por exemplo, o estoque faz parte deste complexo de bens que está constantemente mudando. Apesar de ser um instituto já conhecido há muito tempo, apenas a partir do CC/02 é que se passou a ter de fato um regramento a respeito do estabelecimento empresarial. Porém, o CC foi infeliz nessa regulação [/Spina], pois ele se preocupou basicamente em proteger os credores. O que faz com que em boa medida as disposições legais a respeito dos estabelecimentos sejam pouco utilizadas. Apesar disso, isso não reduz a sua importância. O estabelecimento empresarial é importantíssimo para determinação do local de competência de ação judicial. É fundamental que este complexo de bens, ainda que fechado, seja passível de abrir e começar a operar. Ex: Se eu compro um posto de gasolina e no dia seguinte eu já começo a operar, eu comprei um estabelecimento. Porém se eu compro um galpão fechado que era uma concessionária a 6 meses atrás, mas tive que fazer vários investimentos, melhorias e compras de equipamentos para poder operar, eu não comprei um estabelecimento. Isso juridicamente tem consequências relevantíssimas. O estabelecimento não abarca apenas bens, mas também direitos (ex: direito de crédito) e obrigações (ex: dívidas). 4.2 NATUREZA JURÍDICA DO ESTABELECIMENTO A Natureza Jurídica do estabelecimento já foi muito controvertida na doutrina, havendo uma certa uniformidade nos dias atuais. 4.2.1 TEORIA ATOMISTA Nega-se a unidade do estabelecimento, preferindo tratar os elementos componentes do estabelecimento, cada um individualmente. Esta é a chamada teoria atomista. Tal concepção afirma que o estabelecimento não existe do ponto de vista jurídico, porquanto seus elementos componentes seriam autônomos. A agregação desses vários componentes não teria a menor importância. Qualquer negociação do conjunto seria uma negociação coletiva de vários bens autônomos. Essa teoria está obsoleta, conforme se verifica pelo art. 1.143 do CC, onde posso comporar, vender ou alugar o estabelecimento de modo unitário: Art. 1.143. Pode o estabelecimento ser objeto unitário de direitos e de negócios jurídicos, translativos ou constitutivos, que sejam compatíveis com a sua natureza. 4.2.2. TEORIA UNIVERSALIDADE DE BENS Defina-se o estabelecimento como a universalidade de bens. Aqui há a discussão de menor relevância [/Spina]. Universalidade de direito Art. 91. Constitui universalidade de direito o complexo de relações jurídicas, de uma pessoa, dotadas de valor econômico. O estabelecimento seria uma massa de coisas e direitos reunidos em virtude de lei. Dentro dessa concepção, o estabelecimento deveria ser tratado sempre como uma unidade, não podendo haver tratamento separado dos seus vários componentes. Para se tratar o estabelecimento como uma universalidade de direito, a ei teria que trata-lo sempre como um conjunto unitário, o que não condiz com a realidade. Veja-se o caso do patrimônio, da herança e da massa falida, que são efetivamente universalidades de direito. A lei efetivamente trata o estabelecimento como uma unidade, mas não para todas as relações. Só para determinados fins a lei trata o estabelecimento como unidade. Assim sendo, não pode adotar também a teoria da universalidade de direito (Tomazette). Universalidade de fato Art. 90. Constitui universalidade de fato a pluralidade de bens singulares que, pertinentes à mesma pessoa, tenham destinação unitária. Parágrafo único. Os bens que formam essa universalidade podem ser objeto de relações jurídicas próprias. O estabelecimento é um conjunto de bens ligados pela destinação comum de constituir o instrumento da atividade empresarial. Tal liame entre os bens que compõem o estabelecimento permite-nos trata-lo de forma unitária, distinguindo-o dos bens singulares que o compõem. A unidade do estabelecimento se encontra na destinação comum de seus vários componentes. Diante dessa unidade, a maior parte da doutrina, concebe o estabelecimento como uma universalidade de fato, na medida em que a unidade decorreria não da lei, mas da vontade do empresário. O empresário tem liberdade para reduzir, aumentar o estabelecimento ou alterar o seu destino, uma vez que a unidade não decorre da lei. 4.2.4 OUTROS TÓPICOS RELEVANTES Existe estabelecimento virtual? Ou estabelecimento seria somente os elementos físicos? O site por si só poderia ser o estabelecimento? Existiria estabelecimento rural? Discussões com consequências relevantes. Caso eu compre a URL e afirme que esteja comprando o estabelecimento, eu também responderei pelo passivo do vendedor. 4.3 CLIENTELA O aviamento, enquanto qualidade do estabelecimento, é medido essencialmente pela clientela do empresário, vale dizer, quanto maior for o número de clientes, maior é o aviamento. A clientela “é o conjunto de pessoas que, de fato, mantêm com a casa de comércio relações contínuas para aquisição de bens ou serviços”. Clientela não faz parte do estabelecimento. Ela não se confunde com o aviamento, sendo apenas um efeito deste, que se converte em uma espécie de coeficiente deste. Tal conjunto de pessoas não é um bem, e consequentemente não pode ser objeto de um direito do empresário, não havendo que se falar em um direito à clientela. O que o ordenamento jurídico protege são os instrumentos usados para formar e preservar a clientela. 4.4 AVIAMENTO O estabelecimento, enquanto articulado para o exercício da atividade empresarial, possui um sobrevalor em relação à soma dos valores individuais dos bens que o compõem, relacionado a uma expectativa de lucros futuros, a sua capacidade de trazer proveitos. Essa mais-valia do conjunto é que se denomina aviamento. O aviamento pode decorrer das causas mais variadas. Ele pode ser subjetivo, quando ligado às qualidades pessoais do empresário, ou objetivo, quando ligado aos bens componentes do estabelecimento na sua organização. Em qualquer acepção, o aviamento deve ser entendido como o sobrevalor em relação a simples soma dos valores dos bens singulares que integram o estabelecimento e resumem a capacidade do estabelecimento, por meio dos nexos organizativos entre os seus componentes singulares, de oferecer prestações de empresa e de atrair clientela. Em outras Palavras, o aviamento é a aptidão da empresa para produzir lucros, decorrente da qualidade de sua organização. Assim, a soma dos bens singulares que compõem o estabelecimento é menor do que o valor do estabelecimento em si. O valor do estabelecimentonão é dado simplesmente pela soma dos valores singulares dos elementos que o compõem, mas também pela soma dos valores dos elementos e do aviamento. Apesar de ter um valor próprio, para a maioria da doutrina o aviamento não é considerado um bem de propriedade do empresário, mas apenas o valor econômico do conjunto, é antes uma qualidade que um elemento. Embora não seja um bem integrante do estabelecimento, é certo que o aviamento é extremamente importante e goza de proteção jurídica, como, por exemplo, na indenização devida ao locatário no caso de não renovação do contrato de locação não residencial. 4.5 PONTO COMERCIAL Ponto é o local onde se encontra o estabelecimento e é um elemento infungível do estabelecimento. É o local onde o empresário exerce sua atividade e isso tem um valor intrínseco. Diretamente relacionado ao imóvel, mas não se confundido com ele, está o chamado ponto empresarial/comercial, que é um elemento incorpóreo do estabelecimento que pertence ao empresário. O ponto empresarial é um bem diferente do imóvel, tanto que pode ser até objeto de locação, sem que isso desvirtue a sua natureza de elemento do estabelecimento. Quando o imóvel pertence ao empresário, a proteção do ponto decorre da própria proteção da propriedade do imóvel. Mesmo nos casos de locação do imóvel, o ponto empresarial é protegido como um elemento integrante do estabelecimento, assegurando-se ao empresário o direito de renovação da locação, atendidas determinadas hipóteses legais, e a indenização no caso de não renovação. Ressalta-se que no caso de locação não há uma dupla propriedade sobre o imóvel, o que há é um direito pessoal do locatário em face do proprietário. 4.6 ALIENAÇÃO DE ESTABELECIMENTO Contrato de Trespasse É o contrato de compra e venda de estabelecimento. Art. 1.143 estabelece de modo expresso que o estabelecimento pode ser objeto unitário de negócios e direito (constituir usufruto, vender, alugar, comodato, doar...): Art. 1.143. Pode o estabelecimento ser objeto unitário de direitos e de negócios jurídicos, translativos ou constitutivos, que sejam compatíveis com a sua natureza. O código civil, ao regrar o estabelecimento, regula apenas o contrato de trespasse, o de compra e venda do estabelecimento. Todos os demais negócios jurídicos estão em outras leis ou em outras partes do CC. Assim, o estabelecimento tem o regime próprio de circulação (que é diferente do regime de circulação dos bens individualmente considerados). O ideal que quando se faz um contrato de trespasse, se arrole todos os bens que estão sendo transferidos, mas nada impede de “transfiro a loja tal com todo estoque” (mas abre margem para insegurança). A forma dos negócios sobre o estabelecimento empresarial é livre. Exige-se forma escrita para fins de prova e validade perante terceiros. No caso dos bens que exijam forma especial para o negócio, como os imóveis, a forma especial deverá ser obedecida. Quando se faz a transferência do estabelecimento, é necessário que, no mínimo, haja potencialidade dos bens transferidos para exercício da atividade empresaria. Que aqueles bens em conjunto são suficientes para explorar a atividade econômica. Enunciado 233 da CJF: A sistemática do contrato de trespasse delineada pelo Código Civil nos arts. 1.142 e ss., especialmente seus efeitos obrigacionais, aplica-se somente quando o conjunto de bens transferidos importar a transmissão da funcionalidade do estabelecimento empresarial. A importância disso reside no fato de que a transferência do estabelecimento enseja na sucessão das obrigações. Na forma como o contrato de transpasse é formatado no CC é um desincentivo ao seu uso [/Spina]. Art. 1.144. O contrato que tenha por objeto a alienação, o usufruto ou arrendamento do estabelecimento, só produzirá efeitos quanto a terceiros depois de averbado à margem da inscrição do empresário, ou da sociedade empresária, no Registro Público de Empresas Mercantis, e de publicado na imprensa oficial. Condição 1 para eficácia da transferência: Obrigação de além ter que averbar na Junta Comercial, também ter que publicar no Diário Oficial (algo bem oneroso) e regular nos demais registros de cada objeto (algo bem burocrático). Devido a essa onerosidade, acaba-se optando pela compra de cotas da sociedade limitada -> os bens permanecem no nome da sociedade. 29/09 Condição 2 para eficácia da transferência: Art. 1.145. Se ao alienante não restarem bens suficientes para solver o seu passivo, a eficácia da alienação do estabelecimento depende do pagamento de todos os credores, ou do consentimento destes, de modo expresso ou tácito, em trinta dias a partir de sua notificação. Se após o trespasse restar para o alienante um patrimônio inferior às suas dívidas, é preciso que se registre expressa ou tacitamente o consentimento dos seus credores, sob pena desse negócio não gerar efeitos sobre terceiros. A manifestação dos credores deve ocorrer até 30 dias. Consequência da transferência ineficaz: Mesmo após realizar o pagamento pelo estabelecimento, o adquirente pode vir perder o estabelecimento por alguma execução dos “antigos” credores. O problema é que existe uma sobreposição de regras, especificamente com a Lei de Falências. Art. 94. Será decretada a falência do devedor que: III – pratica qualquer dos seguintes atos, exceto se fizer parte de plano de recuperação judicial: c) transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o consentimento de todos os credores e sem ficar com bens suficientes para solver seu passivo; Art. 129. São ineficazes em relação à massa falida, tenha ou não o contratante conhecimento do estado de crise econômico-financeira do devedor, seja ou não intenção deste fraudar credores: VI – a venda ou transferência de estabelecimento feita sem o consentimento expresso ou o pagamento de todos os credores, a esse tempo existentes, não tendo restado ao devedor bens suficientes para solver o seu passivo, salvo se, no prazo de 30 (trinta) dias, não houver oposição dos credores, após serem devidamente notificados, judicialmente ou pelo oficial do registro de títulos e documentos; Art. 94 decreta a falência do devedor pelo ato já visto no 1.145 do CC. Uma vez decretada a sua falência, o art. 129 torna ineficaz a venda do estabelecimento e o adquirente irá perder o estabelecimento que comprou. Logo, há uma sobreposição de regras. O CC tem uma regra geral, o que tornaria desnecessária a do art 45. Porém ao ocorrer a hipótese do art. 1.145, pode se decretar a falência do devedor, que levaria a ineficácia do negocio jurídico pelo art 129. Art 1.146 praticamente torna o art. 1.145 inútil. Art. 1.146. O adquirente do estabelecimento responde pelo pagamento dos débitos anteriores à transferência, desde que regularmente contabilizados, continuando o devedor primitivo solidariamente obrigado pelo prazo de um ano, a partir, quanto aos créditos vencidos, da publicação, e, quanto aos outros, da data do vencimento. Ainda que eu transfira o estabelecimento, o adquirente irá responder pelo passivo. Então o credor antigo pode executar automaticamente o novo proprietário. Então o credor vai preferir executar o adquirente do que tentar provar uma possível ineficácia do negócio. Tem-se uma super proteção dos credores. Art. 1.146 desestimula a aquisição do estabelecimento, já que o adquirente também responde pelo passivo. Regras específicas para sucessão de estabelecimento Art. 133 do código tributário - Regra específica a respeito do passivo tributário. O adquirente poderesponder integralmente ou subsidiariamente com o alienante sobre o passivo tributário. Art. 133. A pessoa natural ou jurídica de direito privado que adquirir de outra, por qualquer título, fundo de comércio ou estabelecimento comercial, industrial ou profissional, e continuar a respectiva exploração, sob a mesma ou outra razão social ou sob firma ou nome individual, responde pelos tributos, relativos ao fundo ou estabelecimento adquirido, devidos até à data do ato: I - integralmente, se o alienante cessar a exploração do comércio, indústria ou atividade; II - subsidiariamente com o alienante, se este prosseguir na exploração ou iniciar dentro de seis meses a contar da data da alienação, nova atividade no mesmo ou em outro ramo de comércio, indústria ou profissão. No direito do trabalho, se transfere o estabelecimento ocorre a total sucessão (arts. 10 e 448). Fato é que no direito do trabalho todos irão responder, tanto adquirente quanto alienante irão responder pelo passivo trabalhista [/Spina].: Art. 10 - Qualquer alteração na estrutura jurídica da empresa não afetará os direitos adquiridos por seus empregados. Art. 448 - A mudança na propriedade ou na estrutura jurídica da empresa não afetará os contratos de trabalho dos respectivos empregados. Com a reforma trabalhista, existe uma regra a respeito do art. 448. A partir de agora só o sucessor irá responder, a menos que seja comprovada fraude por parte do alienante. Se isso irá vingar ou não, não há como saber, pois na Justiça do trabalho não importa muito o que está na lei [/Spina]: Art. 448-A. Caracterizada a sucessão empresarial ou de empregadores prevista nos arts. 10 e 448 desta Consolidação, as obrigações trabalhistas, inclusive as contraídas à época em que os empregados trabalhavam para a empresa sucedida, são de responsabilidade do sucessor. Parágrafo único. A empresa sucedida responderá solidariamente com a sucessora quando ficar comprovada fraude na transferência. Aquisição Por tudo isso, a aquisição de estabelecimento não é algo muito comum, a não ser em falência e recuperação judicial. Isso ocorre porque nesses dois institutos, o adquirente do estabelecimento não sucede nas obrigações. Lei de Falências e Rec. Jud.: Art. 60. Se o plano de recuperação judicial aprovado envolver alienação judicial de filiais ou de unidades produtivas isoladas do devedor, o juiz ordenará a sua realização, observado o disposto no art. 142 desta Lei. Parágrafo único. O objeto da alienação estará livre de qualquer ônus e não haverá sucessão do arrematante nas obrigações do devedor, inclusive as de natureza tributária, observado o disposto no § 1o do art. 141 desta Lei. Art. 141. Na alienação conjunta ou separada de ativos, inclusive da empresa ou de suas filiais, promovida sob qualquer das modalidades de que trata este artigo: II – o objeto da alienação estará livre de qualquer ônus e não haverá sucessão do arrematante nas obrigações do devedor, inclusive as de natureza tributária, as derivadas da legislação do trabalho e as decorrentes de acidentes de trabalho. A importância desses artigos é que anteriormente a eles, ninguém comprava nada nas falências ou se alguém se arriscava comprar, o preço era muito baixo [/Spina]. Cessão a posição nos contratos Quando se compra o estabelecimento, eu estou mudando a propriedade daqueles bens, direitos e obrigações. Isso também se aplica aos contratos. Ocorre uma cessão das posições contratuais. Art. 1.148: Art. 1.148. Salvo disposição em contrário, a transferência importa a sub-rogação do adquirente nos contratos estipulados para exploração do estabelecimento, se não tiverem caráter pessoal, podendo os terceiros rescindir o contrato em noventa dias a contar da publicação da transferência, se ocorrer justa causa, ressalvada, neste caso, a responsabilidade do alienante. Como aponta o próprio artigo, em casos de contrato personalíssimo (como serviço de um fotógrafo, pintor, chef) não há cessão da posição contratual. Também há a ressalva de que é possível estipular disposição em contrário, principalmente nos termos de contrato do trespasse. Todavia, existe uma grande insegurança jurídica quanto a posição do contrato de locação do imóvel. Art. 13 da Lei de Locações: Art. 13. A cessão da locação, a sublocação e o empréstimo do imóvel, total ou parcialmente, dependem do consentimento prévio e escrito do locador. Sobre o assunto, conflito entre os enunciados 234 da 3ª Jornada de Direito Civil e 8 da 1ª Jornada de Direito Comercial: Enunciado 234: Quando do trespasse do estabelecimento empresarial, o contrato de locação do respectivo ponto não se transmite automaticamente ao adquirente. Enunciado 8: A sub-rogação do adquirente nos contratos de exploração atinentes ao estabelecimento adquirido, desde que não possuam caráter pessoal, é a regra geral, incluindo o contrato de locação. Pagamento de boa fé Caso o devedor pague de boa-fé o antigo dono do estabelecimento, este terá a responsabilidade de passar para o adquirente, de maneira que o último não poderá cobrar o devedor novamente. Art. 1.149. A cessão dos créditos referentes ao estabelecimento transferido produzirá efeito em relação aos respectivos devedores, desde o momento da publicação da transferência, mas o devedor ficará exonerado se de boa-fé pagar ao cedente. Proteção à concorrência Mesmo que não exista cláusula de não concorrência, o art. 1.147 pacificou a questão impondo impedimento de efetiva concorrência (que concorre no mesmo mercado e público). Base na boa fé: Art. 1.147. Não havendo autorização expressa, o alienante do estabelecimento não pode fazer concorrência ao adquirente, nos cinco anos subseqüentes à transferência. 5. NOME EMPRESARIAL 5.1 CONCEITO Nome empresarial é aquele usado pelo empresário, enquanto sujeito exercente de uma atividade empresarial. É o traço identificador do empresário, tanto o individual, quanto a EIRELI, quanto a sociedade empresária. Para todos os efeitos, equipara-se o nome empresarial à denominação das sociedades simples, das associações e fundações. Essa diferenciação é importante na medida que é com o nome empresarial que serão assumidas as obrigações relativas ao exercício da empresa. Além disso, é esse nome que servirá de referência nas relações do empresário com o público em geral. Art. 1.155. Considera-se nome empresarial a firma ou a denominação adotada, de conformidade com este Capítulo, para o exercício de empresa. Parágrafo único. Equipara-se ao nome empresarial, para os efeitos da proteção da lei, a denominação das sociedades simples, associações e fundações. 5.2 OUTRAS IDENTIFICAÇÕES Marca: aquela usada para identificar e distinguir produto ou serviço de outro idêntico, semelhante ou afim, de origem diversa. Identificação do produto. Registra-se no INPI, é um bem, um objeto, é alienável (posso vender), já o nome não. Titulo de estabelecimento: É a forma como o estabelecimento é reconhecido. Não há regime específico, sua proteção é indireta por meio do crime de concorrência desleal. O nome empresarial identifica o empresário, enquanto sujeito exercente da atividade empresarial, já o nome de fantasia identifica apenas o local do exercício da atividade empresarial. É o que se conhece por nome fantasia Em alguns casos, pode haver sobreposição de marca, nome e título de estabelecimento. 5.3 PRINCÍPIOS DO NOME EMPRESARIAL O nome empresarial deve respeitar alguns princípios 5.3.1 Princípio da Veracidade O nomeempresarial deve obedecer aos princípios da veracidade e da novidade (art. 34 da Lei 8.934/94). Pelo princípio da veracidade, não se pode traduzir uma ideia falsa no nome empresarial. A ideia fundamental desse princípio é não induzir a erro quem mantém relações jurídicas com a sociedade. Trata-se de princípio cujo objetivo é a proteção dos terceiros que lidam com a sociedade, para que não sejam enganados pelas indicações do nome. Não se pode indicar uma atividade que não seja exercida (ex: uma padaria que coloque no seu nome a expressão construtora). A firma deva guardar correspondência com a realidade, ainda que se possa lançar mão, eventualmente, de palavras de uso comum ou vulgar, mas para distinguir um empresário do outro. Art. 1.156. O empresário opera sob firma constituída por seu nome, completo ou abreviado, aditando-lhe, se quiser, designação mais precisa da sua pessoa ou do gênero de atividade. Também não se admite a indicação na razão social do nome de uma pessoa que não seja sócia. Em atenção a esse princípio, deve ser excluído nome de sócio falecido ou que tenha se retirado (art. 1.165 do CC). Art. 1.165. O nome de sócio que vier a falecer, for excluído ou se retirar, não pode ser conservado na firma social. 5.3.2 Princípio da novidade/originalidade Pelo princípio da novidade, o nome empresarial deve se distinguir de outros nomes empresariais no mesmo registro. O nome empresarial não pode ser idêntico, nem semelhante a outros já existentes no mesmo âmbito de proteção Art. 1.163: Art. 1.163. O nome de empresário deve distinguir-se de qualquer outro já inscrito no mesmo registro. Tendo em vista a função do nome empresarial, que é de distinção em relação a outros empresários, não se pode admitir nomes iguais ou semelhantes que possam causar confusão junto ao público. Não se pode nomes homógrafos e homófonos. 5.3.3 Princípio da unicidade Cada empresário possui apenas um nome 5.4 TIPOS DE NOME EMPRESARIAL Nome empresarial é gênero, do qual “firma/razão individual” e “nome social” são espécies, onde este último se subdivide em “firma/razão social” e “denominação”. A firma individual diz respeito apenas ao empresário individual, já a sociedade podem usar dois tipos de nome empresarial, a razão social e a denominação. A adoção deste ou daquele tipo depende da forma societária adotada. 5.4.1 Firma Individual O empresário individual e a EIRELI exercem a atividade empresária por meio da chamada firma individual, que é composta por seu nome completo ou abreviado, acrescido facultativamente de designação mais precisa de sua pessoa ou gênero de atividade (art. 1.156). Como regra, deveria ser assinada de próprio punho pelo empresário. Na pratica, isso caiu em desuso. O empresário individual é uma pessoa natural. Quando ele vai a juízo, ele vai com seu nome natural que opera sob a firma X, pois é a mesma pessoa. É o empresário que está em juízo, não a firma. 5.4.2 Razão Social A firma ou razão social é espécie de nome empresarial para sociedades empresárias que se caracteriza pela utilização do nome de sócios na sua composição. Tal espécie de nome empresarial pode ser usado nas sociedades em nome coletivo, em comandita simples, limitadas e em comandita por ações. Regra geral regulada pelo art. 1.157: Art. 1.157. A sociedade em que houver sócios de responsabilidade ilimitada operará sob firma, na qual somente os nomes daqueles poderão figurar, bastando para formá-la aditar ao nome de um deles a expressão "e companhia" ou sua abreviatura. Parágrafo único. Ficam solidária e ilimitadamente responsáveis pelas obrigações contraídas sob a firma social aqueles que, por seus nomes, figurarem na firma da sociedade de que trata este artigo. São elementos obrigatórios da razão social o elemento nominal e o elemento pluralizador. Também podem ser colocados elementos complementares que melhor identifiquem a sociedade. Por fim, podem ser exigidos elementos específicos para determinadas sociedades. O elemento nominal é a indicação completa ou parcial do nome de um, alguns ou todos os sócios, admitida a supressão de prenomes. O segundo elemento obrigatório é o elemento pluralizador que consiste na indicação de que a sociedade possui pelo menos dois sócios. Tal elemento pode consistir no aditamento das expressões “e companhia”, “e cia.” ou quaisquer outras que denotem a pluralidade de sócios. Por fim, é certo que em determinadas sociedades, como a limitada (art. 1.158), a lei exige um elemento sacramental que identifique a própria espécie societária, como, por exemplo a expressão limitada ou ltda. nestas sociedades. 5.4.3 Denominação A denominação caracteriza-se pela não utilização do nome dos sócios, podendo-se usar uma expressão fantasia, a indicação do local ou apenas a indicação do objeto social. Ela pode ser adotada nas sociedades limitadas e nas sociedades em comandita por ações, sendo obrigatória nas sociedades anônimas e cooperativas. Tal tipo de nome pode ser usado nas EIRELI’s, com a identificação do tipo EIRELI ao final do nome (CC – art. 980-A, § 1º): Art. 980-A. A empresa individual de responsabilidade limitada será constituída por uma única pessoa titular da totalidade do capital social, devidamente integralizado, que não será inferior a 100 (cem) vezes o maior salário- mínimo vigente no País. § 1º O nome empresarial deverá ser formado pela inclusão da expressão "EIRELI" após a firma ou a denominação social da empresa individual de responsabilidade limitada. Na denominação das sociedades empresárias, temos dois tipos de elementos obrigatórios, quais sejam, o objetivo e o sacramental. Além desses elementos, podemos ter elementos complementares que auxiliem na identificação das sociedades. O elemento objetivo necessariamente indica a atividade que está sendo exercida pela sociedade (arts. 1.158, § 2º, para limitadas; 1.160 para S/A; e 1.161 para comandita por ações). Excepcionalmente, admite-se a indicação de nome de sócios na denominação da limitada, ou o nome de fundador, acionista ou pessoa que haja concorrido para bom êxito da sociedade anônima. O elemento sacramental identifica o tipo societário. Nas sociedades limitadas, exige-se a expressão limitada ou ltda. Nas sociedades em comandita por ações exige-se a expressão sociedade comandita por ações ao final do nome. Nas sociedades anônimas, exige-se a expressão sociedade anônima ou companhia por extenso ou abreviadamente. Nas EIRELI’s exige a indicação do EIRELI ao final do nome. Lei das SA’s x CC: Lei 6.404/76, art. 3º Código Civil, art. 1.160 Art. 3º A sociedade será designada por denominação acompanhada das expressões "companhia" ou "sociedade anônima", expressas por extenso ou abreviadamente mas vedada a utilização da primeira ao final. § 1º O nome do fundador, acionista, ou pessoa que por qualquer outro modo tenha concorrido para o êxito da empresa, poderá figurar na denominação. Art. 1.160. A sociedade anônima opera sob denominação designativa do objeto social, integrada pelas expressões "sociedade anônima" ou "companhia", por extenso ou abreviadamente. Parágrafo único. Pode constar da denominação o nome do fundador, acionista, ou pessoa que haja concorrido para o bom êxito da formação da empresa. “Companhia” não pode no final; “SA” em qualquer lugar. “Companhia” e “SA” em qualquer lugar. Objeto não é obrigatório. Objeto é obrigatório. Nome do fundador é possível. Nome do fundador é possível. A lei das SA proíbe o “Companhia” no final para não confundir com o elemento pluralizador da razão social. Aula 06/10 5.5 PROTEÇÃO AO NOME EMPRESARIALA princípio, o nome empresarial é protegido pelo registro da Junta Comercial, que atua no âmbito estadual ou distrital, sendo vedado a esta aceitar registro de nome já existente, ou de nome que faça confusão com nome já existente. Assim, uma vez registrado, o nome empresarial passa a gozar de proteção em relação apenas àquela unidade da federação onde foi registrado. Caso queira estender o âmbito de proteção do nome, deve ser feito um pedido à Junta Comercial do Estado onde se queira estender-se a proteção. Art. 1.166. A inscrição do empresário, ou dos atos constitutivos das pessoas jurídicas, ou as respectivas averbações, no registro próprio, asseguram o uso exclusivo do nome nos limites do respectivo Estado. Parágrafo único. O uso previsto neste artigo estender-se-á a todo o território nacional, se registrado na forma da lei especial. 5.5.1 Convenção de Paris Todavia, o Brasil é signatário da Convenção de Paris, incorporada ao ordenamento jurídico brasileiro, com hierarquia de lei ordinária, pelo Decreto 75.572/75. Tal tratado afirma que a proteção do nome comercial registrado em um país se estende a todos os signatários da convenção, independentemente de novo registro. Assim, interpretando literalmente o conjunto da legislação brasileira, um nome registrado na Junta Comercial do Distrito Federal goza de proteção na França, mas não goza de proteção no estado de Goiás. A hierarquia do Código Civil de 2002 implicará a derrogação da Convenção de Paris, neste particular, passando a prevalecer a restrição da proteção do nome ao âmbito do seu registro. 5.5.2 REsp 120448/2011 Marca respeita o principio da anterioridade, territorialidade e o ramo de atuação. 5.5.3 Sanções Utilização indevida de marca e do nome empresarial constitui crime de concorrência desleal (194 e 195 da Lei de Propriedade Industrial). Dando ensejo de responsabilidade civil, desde que comprovado danos (209 da lei de LPI). Quanto ao nome, cabe ação anulatória quanto ao registro indevido: Art. 1.167. Cabe ao prejudicado, a qualquer tempo, ação para anular a inscrição do nome empresarial feita com violação da lei ou do contrato. No momento da inscrição na Junta, também é possível impugnar o registro de outro nome por processo administrativo. 5.6 NATUREZA JURÍDICA DO NOME EMPRESARIAL A rigor, ele é um direito inerente a personalidade do sujeito, tendo em vista a própria função identificadora que o nome empresarial possui. Nesse sentido, não pode o nome empresarial ser objeto de alienação. Não é objeto de propriedade. Todavia, o nome empresarial possui uma função econômico concorrencial. Quando o empresário age no mercado, o nome empresarial exerce função de identifica-lo para o mercado. Aqui, a rigor, nesta função (na propriedade intelectual), o nome empresarial é visto como bem móvel imaterial, visto a tutela específica dada nesses segmentos. Porém a matéria não é pacificada pela doutrina. Art 5º da Lei de LPI: Art. 5º Consideram-se bens móveis, para os efeitos legais, os direitos de propriedade industrial. 6. MICROEMPRESA E EMPRESA DE PEQUENO PORTE O pequeno empreendedor possui uma grande relevância numérica e socioeconômica no país. A maior parte das pessoas que atuam no setor privado, dependem direta ou indiretamente de pequenos empreendimentos, especialmente em momentos de crise econômica. Por conta disso, a própria CF no art. 178 determinou que a União, os Estados, o DF e os Municípios instituirão um tratamento jurídico diferenciado às microempresas e às empresas de pequeno porte, simplificando-se suas obrigações tributárias, administrativas, previdenciárias e creditícias. Enquadramento Lei Complementar 123/06 - estabelece os regimes de ME, EPP e Micro Empreendedor Individual. 6.3 MICROEMPREENDEDOR INDIVIDUAL – MEI MEI é uma espécie de Microempresa, mas sempre será um empresário individual. Com o intuito de retirar boa parte da economia da informalidade, a Lei Complementar 128/08 introduziu a figura do Microempreendedor Individual – MEI, nos artigos 18-A a 18-C da Lei complementar 123/06. O objetivo dessa criação foi a retirada da informalidade de pequenos exercentes de atividade econômicas, possibilitando a eles um recolhimento tributário fixo e permitindo-lhes o acesso ao crédito. Para todos os efeitos, será considerado MEI o empresário individual que tenha receita bruta anual de até R$ 81.000,00, desde que cumpra cumulativamente os seguintes requisitos: I. Seja optante pelo Simples Nacional – adesão voluntária ao sistema simplificado de arrecadação de tributos; II. Exerça tão somente atividades constantes do Anexo Único da Resolução 58/2009 – Comitê Gestor de Tributação das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte – CGSN III. Possua um único estabelecimento IV. Não seja empresário individual em outra atividade, nem seja sócio ou administrador de sociedade; V. Contrate no máximo um empregado que receba exclusivamente 1 (um) salário mínimo ou o piso salarial da categoria profissional. Benefícios Recolher valores fixos mensais tributários e acesso a linhas de créditos especiais. Além da dispensação da obrigatoriedade de apresentar contabilidade (1.179 Art.). 6.4 ME & EPP Enquadramento Só podem se enquadrar como microempresas ou empresas de pequeno porte os empresários individuais (como o MEI), as EIRELI’s, as sociedades empresárias e as sociedades simples que estejam devidamente registradas. O tratamento diferenciado assegurado a esses exercentes de atividade econômica não veio para incentivar o informalismo e, por isso, esses benefícios dependem necessariamente do registro adequado, seja na junta comercial, seja no cartório do registro civil. Aqui, profissionais liberais estão fora. Além da regularidade da inscrição, outros requisitos para ser enquadrado estão no art. 3º da LC 123. O que diferencia ME e EPP é o valor de receita bruta que cada um pode auferir. ME < ou = a R$ 4.800.000,00 EPP > a R$ 360.000,00 e < R$ 3.600.000,00 Exclusões As exclusões do regime das ME e EPP estão no artigo 3º, § 4º, da LC 123/06. Assim, não se enquadram como ME ou EPP a pessoa jurídica que tenha por sócio ou titular outra pessoa jurídica, ou que participe de outra pessoa jurídica. Se há um sócio pessoa jurídica, existe uma maior complexidade na estrutura da atividade, não justificando assim essa proteção. De modo similar, estão excluídas as pessoas jurídicas que sejam filiais, sucursais ou representações, no país, de pessoa jurídica com sede no exterior. Não se enquadra também a sociedade que tenha sócio que seja inscrito como empresário individual (enquadrado como ME ou EPP) ou que seja sócio de outra sociedade (enquadrada como ME ou EPP), cuja receita bruta global ultrapasse os limites do enquadramento. Não se pode simplesmente dividir a atividade no sentido de burlar a lei. Na mesma linha de entendimento, não se admite sócio ou titular tenha mais de 10% do capital de outra sociedade, cuja receita somada ultrapasse o limite do enquadramento. Ainda na mesma linha, não se admite enquadramento de pessoa jurídica na qual o titular ou sócio seja administrador de sociedade, cuja receita somada ultrapasse os limites de enquadramento. Ainda que ele não seja sócio, é certo que a condição de administrador de outra sociedade denota uma ligação entre as atividades, que poderia representar uma tentativa de burlar ao regime de enquadramento. Também pela complexidade de sua estrutura, não se admite o enquadramento de sociedade que seja resultante ou remanescente de cisão ou qualquer outra forma de desmembramento de pessoa jurídica que tenha ocorrido em
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