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Resumo da Aula 1 - By SM

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História e política do Ensino Superior 
Aula 1 | Discussões sobre política 
 
Uso do termo Política 
 
Você já percebeu como se fala em política atualmente? 
 
Utilizamos essa palavra para nos referirmos a inúmeras ações, tais como as Estatais ou 
Coletivas, estando a palavra política, nesse sentido, relacionada aos papéis do Estado. 
 
Muito ouvimos, também, sobre as várias formas de política como organização social dentro de 
uma comunidade, seja ela uma igreja, uma universidade, um hospital ou sindicato. Nesse caso, 
trata-se da maneira pela qual tais instâncias consideram a participação dos indivíduos em sua 
organização. 
 
Como você pode perceber, de um modo ou de outro, nós nos relacionamos com essa noção – 
seja para afirmar nosso interesse em movimentos políticos, seja para caracterizar diversas 
posturas que assumimos no cotidiano. 
 
É possível afirmar que que esses diversos significados associados ao termo política vêm de um 
longo processo histórico, vamos conhecê-lo a partir de agora. 
 
 
Contexto Histórico 
 
Noção de política difundida na Grécia antiga 
De acordo com Shiroma, Moraes e Evangelista (2007, p. 7), no período conhecido como 
História Clássica , o significado de política estava vinculado à noção de cidade, ou seja, tratava-
se de algo “urbano, civil, público e social”. 
 
Por exemplo, a atividade desenvolvida pelos homens na polis ou cidade-estado grega era 
considerada como tal. Em outras palavras, a política correspondia àquilo que era de interesse 
do indivíduo enquanto cidadão. 
 
Logo, na Grécia antiga, essa ideia estava muito mais articulada às práticas desenvolvidas pelo 
social do que a uma forma de governo. Essa concepção assumia como referência a noção de 
coletividade, estabelecendo um sentido que diferia daquele apresentado pelas demais 
civilizações deste tempo. 
 
Desviemos, então, o nosso olhar para analisarmos Roma. Uma outra civilização, com uma 
outra concepção de política no mesmo período histórico. 
 
Noção de política difundida na Roma antiga 
A cidade de Roma assumia uma característica imperial. Portanto, seu modelo de atividade 
política era exercido a partir de um Estado forte e centralizador, e a disputa pelo poder, pela 
tutela estatal – a título de interesses privados – ganhava relevância. 
 
De acordo com esse posicionamento, a ideia de política estava associada à preocupação com a 
instituição que se ocupava de gerir a coisa pública – diferente da noção empregada na Grécia, 
que tinha como base a atividade social humana. 
 
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Essas concepções se distanciam no sentido de apontar para o papel exercido pelo Estado nas 
relações de poder que pode concentrar. 
 
Vejamos como tal significado foi disseminado em períodos posteriores a este. 
 
Noção de política difundida na Idade média 
A partir da Idade Média, as relações de poder foram se evidenciando na atividade política. 
Nesse período, o referido poder político consistia em dominar pela força e orientar pela 
persuasão. 
 
Essa forma de domínio exigia, também, outra concepção de ESTADO: aquela cujas bases o 
caracterizariam como OPRESSOR, DIRIGENTE e ORIENTADOR. Em virtude dessa concepção, 
Estado e governo se separaram. 
 
Desse momento em diante, Estado e governo se separam, o governo passou a ser agente da 
atividade política estatal, gerenciando os interesses do Estado. 
 
Quais seriam, então, os sentidos atribuídos ao conceito de política hoje em dia? 
 
Já mencionamos alguns deles no início desta aula, mas, agora, vamos definir essa noção de 
forma mais específica! 
 
Noção de política difundida na Modernidade 
A ação de sujeitos na história produz rearranjos, dando novos significados aos conceitos. 
Justamente em função disso, a noção de política assumiu outros sentidos na Modernidade. 
 
De acordo com Shiroma, Moraes e Evangelista (2007, p. 7), atualmente, esse termo reporta-se: 
 
“[...] à atividade ou ao conjunto de atividades que, de alguma forma ou de outra, são 
imputadas ao Estado moderno capitalista ou que dele emanam. O conceito de política 
encadeia-se, assim, ao poder do Estado – ou sociedade política – em atuar, proibir, ordenar, 
planejar, legislar, intervir, com efeitos vinculadores a um grupo social definido bem como ao 
exercício exclusivo sobre um território e a defesa de suas fronteiras”. 
 
Isso significa que, hoje em dia, a política está relacionada às ações de determinado tipo de 
governo e de administração estatal. 
 
Poder do Estado 
Para alguns, o Estado possui significados diversos. Vamos conhecer dois deles atribuídos pelos 
seguintes filósofos: 
 
Marx 
Estado = Expressão de relações contraditórias da sociedade civil como resultado dos regimes 
capitalistas de produção. 
 
Nossa condição de governo está mais próxima da definição de Marx, afinal, vivemos sob esse 
capitalismo, que reforça o abismo entre aqueles que têm acesso a bens culturais e usufruem 
deles e aqueles que não os possuem. 
 
Nessa proposta de governo, os papéis assumidos pelos representantes do Estado nem sempre 
correspondem ao interesse da maioria, ou seja, das necessidades sociais. 
 
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Hegel 
Estado = Produto da razão, fundamento da sociedade civil e da família. 
 
Estado x sociedade civil 
Em função da visão apresentada anteriormente, chegamos à conclusão de que, nos dias de 
hoje, o termo política consiste em pensar como se estabelecem as relações de poder – entre 
governo e sociedade – que legitimam determinadas ações em detrimento de outras. 
 
Por exemplo, no Brasil – um país que assume caráter democrático estruturado pelo consenso 
do povo –, a sociedade autoriza o presidente a exercer seu poder por meio de um documento 
legal: a Constituição Federal, que formaliza esse consenso e dá garantias a ele sob o regime 
capitalista de produção. 
 
E nessa situação descrita, as análises sobre as relações de poder que legitimam as ações entre 
Estado e sociedade, comumente, aparecem de forma polarizada: de um lado a figura do 
Estado e do outro lado a sociedade, como se as demandas vindas da sociedade não pudessem 
articular com aquelas do governo. 
 
Exercício de Fixação 
Vamos fazer uma atividade para que você possa exercitar o que aprendeu até aqui sobre as 
relações de poder entre Estado e Sociedade. Como as relações de poder aparecem em nosso 
texto? O poder se configura de maneira fluida, na relação entre Estado e Sociedade ou aparece 
de forma polarizada, caracterizando o poder único e exclusivo do Estado? 
 
A ideia de poder é desenvolvida, nos textos dessa aula, de forma a pensa-la de maneira fluida, 
e não estática. Em outras palavras, sempre haverá disputas entre o Governo e a Sociedade 
com a intenção de produzir uma hegemonia. 
 
Este é o jogo político: enfatizar determinada visão de mundo como aquela em que vale a pena 
apostar. Por isso, é muito importante compreender como se articulam tais lutas nos diferentes 
espaços. Dessa forma, entenderemos os motivos que levam as manifestações de oposição ao 
governo a assumirem legitimidade política. 
 
Política = consenso ou oposição de ideias? 
Você percebeu, pela realização do exercício de fixação, como a definição de política também 
nos remete à ideia de oposição? 
 
Esta é a visão defendida por Mouffe (1993 apud MENDONÇA, 2010) sobre a noção de 
democracia atribuída à política: pensá-la sob a forma de um modelo agonístico, ou seja, 
radical. 
 
Esse conceito surge para contrariar a democracia contemporânea, baseada no consenso. De 
acordo com a autora, a tentativa de apagar da dimensão política as relações antagônicas – que 
se opõem – é impossível, até porque essa é a lógica de constituição de qualquer política social. 
 
A oposição é condição para se fazer política! 
 
Os interesses contraditórios assumidos pelos indivíduos animamas disputas pelo poder e não 
precisam ser eliminados. 
 
A proposta de Mouffe (1993 apud MENDONÇA, 2010) é transformar o objetivo da política 
democrática da seguinte forma: 
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ANTAGONISMO = INIMIGO > AGONISMO = ADVERSÁRIO NECESSÁRIO 
Sendo assim, as lutas travadas nos espaços da política teriam o propósito de construir 
mecanismos capazes de fixar, provisoriamente, um projeto hegemônico, a partir da relação 
positiva entre adversários e de formas coletivas de identificação, que mobilizam demandas 
sociais. 
 
Política x Político 
Como vimos anteriormente, Mouffe (2005) defende a ideia de que as relações de oposição e 
de poder permeiam os espaços da política na articulação com o político. 
 
A autora diferencia ambos os conceitos por considerá-los a base para analisar o processo 
hegemônico. 
 
É através dessa distinção que podemos entender as interrelações entre os contextos políticos 
que atribuem significados a qualquer termo indiscriminadamente – como é o caso da palavra 
política, por exemplo (LACLAU; MOUFFE, 2004). 
 
Além disso, essa é uma maneira de pensarmos de que forma ocorrem as disputas para que 
algo seja assumido como consenso na sociedade. 
 
Podemos afirmar que a transição do adjetivo político para o substantivo política assumiu estes 
significados: 
 
POLÍTICO 
Qualidade do conjunto de relações de ação política – aquilo que pertence à cidade, à 
sociedade. 
 
POLÍTICA 
Nome que designa um saber mais ou menos organizado sobre tal conjunto de relações. 
 
Manifestações políticas 
Como exemplo claro da relação entre o político – o Estado – e a política – as ações do povo –, 
podemos citar as manifestações populares iniciadas no Brasil, no mês de junho de 2013. 
 
A sociedade brasileira se organizou em prol de uma demanda comum: a revogação do 
aumento das passagens de ônibus em oposição a uma ação do governo, e o resultado foi 
satisfatório. 
 
Essa mobilização – que assumiu valor de verdade – promoveu rearranjos na estrutura política 
do país. Afinal, para solucionar a disputa pelo poder, houve uma mediação entre as 
intervenções do governo e as posições dos brasileiros nesse processo. 
 
Atividade Proposta 
Antes de finalizarmos esta aula, vamos fazer uma atividade com base no artigo apresentado 
para este estudo: Sindicato dos professores defende black blocs e avisa que vai criar sua 
“autodefesa”. Clique no botão “artigo” para ler o texto. 
 
No decorrer do conteúdo, discutimos bastante a respeito de política. Mas será que todos nós 
fazemos política ou conseguimos nos isentar desse tipo de ação? 
 
De acordo com Chauí (1995, p. 371): 
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“As pessoas que, desgostosas e decepcionadas, não querem ouvir falar em política recusam-se 
a participar de atividades sociais que possam ter finalidade ou cunhos políticos e afastam-se de 
tudo o que as lembre de atividades políticas. Mesmo tais pessoas, com seu isolamento e sua 
recusa, estão fazendo política, pois deixam que as coisas fiquem como estão e, portanto, que a 
política continue a ser o que é. A apatia social é, pois, uma forma passiva de fazer política”. 
 
Faça um contraponto entre esse trecho e o caso em questão, refletindo sobre a importância 
dos cidadãos na luta política – reafirmada pelo uso recorrente da frase “O gigante acordou”. 
Não se esqueça de considerar a definição de política aqui discutida. 
 
Para auxiliá-lo em sua resposta, propomos algumas questões. 
 
Chave de resposta: A apatia com relação às atividades políticas vem assumindo outros 
contornos na sociedade. Prova disso é o uso contínuo da frase “O gigante acordou”, na qual a 
palavra gigante representa, metaforicamente, o Brasil. Portanto, essa afirmação indica que um 
grande número de indivíduos vem-se mobilizando politicamente no país. 
 
Com base no caso proposto para esta aula e na visão de Chauí (1995), identificamos que a 
demanda por uma educação de qualidade está presente em diversos grupos. Esse interesse 
promove articulações para que conjuntos distintos de pessoas sejam colocados lado a lado em 
favor de um projeto maior. 
 
A ideia é criar condições básicas para formar uma política dominante. O fato é que esse projeto 
enfrenta processos de negociação que envolvem sujeitos organizados em grupos ou 
identidades nos diferentes contextos, capazes de representar essa hegemonia 
temporariamente. 
 
Nessa disputa, um movimento de correlação de forças entre a figura do Estado e a sociedade 
se estabelece. Isso significa que na relação entre a POLÍTICA – instituições que representam o 
Estado – e o POLÍTICO – ação dos diversos sujeitos sociais –, essa espécie de política dominante 
provisória vai-se configurando nos processos de luta. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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NOTAS 
Estatais 
Direcionadas à coisa pública (política PARA o Estado) ou originadas desta (política DO Estado), 
através da concretização de atos políticos. 
 
Coletivas 
Realizadas por um grupo de indivíduos que se mobilizam para reivindicar algo do governo. 
 
Definição de política 
De acordo com o Dicionário Básico de Filosofia (JAPIASSÚ; MARCONDES, 2001, não paginado), 
o termo política corresponde a: 
 
“Tudo aquilo que diz respeito aos cidadãos e ao governo da cidade, aos negócios públicos. A 
filosofia política é, assim, a análise filosófica da relação entre os cidadãos e a sociedade, as 
formas de poder e as condições em que estas se exercem, os sistemas de governo e a 
natureza, a validade e a justificação das decisões políticas. 
 
Segundo Aristóteles, o homem é um animal político que se define por sua vida na sociedade 
organizada politicamente. Em sua concepção e na tradição clássica em geral, a política 
enquanto ciência pertence ao domínio prático e é de natureza normativa, estabelecendo os 
critérios da justiça e do bom governo, e examinando as condições sob as quais o homem pode 
atingir a felicidade (o bem-estar) na sociedade, em sua existência coletiva [...]”. 
 
História Clássica 
Tempo compreendido entre os séculos V e IV a.C. e marcado pelo surgimento da poesia grega 
que assume como eixo condutor da época a cultura das civilizações da Grécia e Roma antigas. 
 
Adaptado de: http://www.klickeducacao.com.br/. Acesso em: 21 jan. 2014. 
 
Idade Média 
Período compreendido entre os séculos V e XV. 
 
Polis 
Pequeno território geograficamente situado na parte mais alta de determinada região. Suas 
características equivaliam às de uma cidade. 
 
Termo 
Dentre os termos que recebem significados, podemos citar: 
 Cidadania; 
 Democracia; 
 Qualidade; 
 Educação; 
 Política; 
 Sociedade.

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