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Hist. da Am Lat v.4 Os E.U.A america latina 1830 a 1930

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OJ @ 
HISTORIA DA AMÉRICA LATINA 
íZe:r. 7Ck.lrcQ BJAe.. ~H\ LA, 
VOLUME IVl '\~O -\ ~So 
DE1870A1930 
Lestie Bethell / organizador[§JJ U:\IVcRSIDADE DE sAo PAULO Profmor Emérito de Hi$toria da América Latil1a, Universidade de Londres, 
e Diretor do CC/ltro de Estudos Brasileiros, Universidade de OxfordReitora Suei)' Yilela 
Vice-reitor Franco Maria Lajolo 
Traduçãoled:!:. 
EDITORA DA U~IVERSIDADE D[ SÃO PAULO Geraldo Gerson de Souza 
Diretor-presidente Plinio Martins Filho 
COMISSÃO EDITORIAL 
Presidente José Mindlin 
Vic e-p resideme Carlos Alberto Barbosa Dantas 
Adolpho José Melfi 
Benjarni n Abdala Júnior 
Maria Arminda do Nascimento Arruda "~IIlJN""O:led~ 
Nélio Marco Vincenzo Bil7.:o -~:.:':~:::':'.: 
Ricàrdo Toledo Silva 
DirelO({j Ediroritl/ Silvana Bira! 
EdilorlH-{/ssistenrcJ Marilena VizcOIin 
Carla Fernanda Fonlana 
608 
Inglaterra como principal nação industrial e credora do mundo, aqueles au­
mentaram continuamente seu comércio com os vizinhos latino-americanos e 
seus investimentos. Os Estados Unidos substituíram a Inglaterra como prin­
cipal potência econômica dominante (mesmo antes da Primeira Guerra 
Mundial) no México e nas repúblicas centro-americanas e caribenhas, depois 
nas repúblicas do norte da América do Sul, nas repúblicas da Costa Oeste e 
no Brasil, e finalmente, após a Segunda Guerra Mundial, na Argentina. Além 
disso, os Estados Unidos tinham um projeto hegemônico para América Lati­
na, que tendo em vista o declínio do seu poder econômico e militar, seus 
compromissos internacionais, suas prioridades diferentes e, não menos, sua 
"relação especial" com os Estados Unidos, a Grã-Bretanha optou por não re­
sistir - exceto de certa forma na Argentina. 
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u­ Os ESTADOS UNIDOS 
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"'Z E A AMÉRICA LATINA, 1830-19300:'" 
~ '" < .... 
~z 
AS RIVALIDADES ANGLO-AMERICANAS APÓS A INDEPENDiôNCIA 
Em 1830, as nações latino-americanas recém-independentes viram-se 
dentro de um mundo de rivalidades e políticas de poder internacionais. As 
potências européias, especialmente a Inglaterra, que algumas vezes tivera 
participação decisiva na luta pela independência latino-americana, conti­
nuaram, até bem adiante no século XX, a desempenhar importante papel po­
lítico e econômico na América Latina. Depois da independência, os ingleses 
mostraram interesse especial pelo Brasil , pela região do Prata, pelo Chile, 
pela América Central e pelo México. Em menor grau, a França demonstrou 
interesse pelo Prata e pelo México. E o mar dos Caraíbas continuou sendo 
um lago dominado pelos europeus, pois muitas de suas ilhas eram colônias 
da Espanha, da Inglaterra, da França, da Holanda, da Suécia e da Dinamarca. 
Entre 1830 e 1890, em muitas ocasiões, as potências européias intervie­
ram diretamente no hemisfério com graus diversos de força militar. Algumas 
dessas intervenções tiveram o objetivo de preservar sua influência mediante 
uma ajuda amigável aos países latino-americanos em suas rivalidades com 
vizinhos hostis e de proteger seus próprios conterrâneos quando não eram 
bem tratados pelos governos dos países onde viviam. Esses elementos se 
combinaram nas várias intervenções britânicas e francesas no Prata entre 
1836 e 1850, duas das quais - o bloqueio francês de Buenos Aires em 1836 e 
o bloqueio conjunto britânico-francês em 1845 - duraram mais de dois anos 
e meio. A principal causa dessas intervenções foi o ditador argentino Juan 
Manuel de Rosas, que se mostrou hostil tanto aos interesses estrangeiros 
quanto aos Estados vizinhos do Uruguai e do Brasil. 
Segundo a prática internacional do século XIX, era dever das grandes po­
tências proteger as vidas e a propriedade de seus cidadãos no estrangeiro e im­
por os supostos padrões civilizados de comportamento. Nesse último caso, 
empregavam-se desde ações militares como na supressão do tráfico transatlân­
----L 
610 
611 
tico de escravos até a punição daqueles que atacassem estrangeiros ou interfe­
rissem no comércio internacional. As reclamaçôes financeiras dos cidadãos es­
trangeiros provocaram várias in tervenções. Em abril de 1838, os franceses blo­
quearam o porto de Veracruz por ter o México se recusado a pagar uma conta 
de 600 mil pesos decorrente de reclamações diversas. Esse episódio recebeu o 
nome de "Guerra de los Pasteles'; porque entre os débitos reclamados havia 
um de 800 pesos relativo a tortas devoradas por um oficial do exército mexica­
no numa invasão a uma loja de propriedade de um cidadão frances. A mari­
nha francesa bombardeou a fortaleza de San Juan de Ulua e desembarcou seus 
soldados, mas nem por isso as reclamações foram satisfeitas; foram apenas 
renegociadas. Num episódio mais sério, em 1861 a França, a Inglaterra e a 
Espanha intervieram para forçar a cobrança de cerca de 80 milhões de pesos 
de dívidas e reclamações. Mas Napoleão 1Il, da França, alimentava maiores 
ambições do que a simples cobrança de dívidas, e a Inglaterra e a Espanha reti­
raram-se da operação quando ele desembarcou seus soldados e empossou 
Maximiliano da Áustria como imperador. O regime fantoche perdurou en­
quanto os 34 mil soldados regulares franceses e a Legião Estrangeira permane­
ceram no país. A vitória do Norte na Guerra Civil norte-americana, liberando 
boa parte do exército para outras obrigações em outros locais, combinada com 
crescentes complicações na Europa, convenceu Napoleão III de que o renas­
cimento do império frances na América era um risco grande demais. As tropas 
francesas deixaram o México em 1867 e, subseqüentemente, Maximiliano foi 
fuzilado e a Imperatriz Carlota, mandada para o manicômio. 
Foi durante a Guerra Civil norte-americana que a Espanha tentou reto­
mar seu domínio imperial no hemisfério. Em 1861, assumiu o controle de 
Santo Domingo, onde permaneceu até 1865. Em 1863, com o propósito de 
atender às reclamaçôes dos cidadãos espanhóis, a Espanha também tomou o 
poder nas ilhas Chincha, ao largo da costa do Peru . Enquanto travavam uma 
guerra naval com o Chile, que se uniu a seu rival, o Peru, e mais tarde ao
"' 
.. 
z Equador e à Bolívia numa frente comum contra o antigo inimigo, os espa­
o 
u nhóis extraíam e comercializavam o guano. Em 1866, a frota espanhola
< 
..
7- bombardeou Callao e VaI paraíso. Durante as três décadas seguintes, as recla­
'" ... 
z mações dos europeus que viviam nesses países produziram intervenções me­
"' nores, ou ameaças de uso da força, por parte da Inglaterra, da França, da 
o"' 
<.> Espanha, da Alemanha, da Itália, da Dinamarca e da Rússia em pelo menos 
-J 
.. 
"' 
"' dezesseis ocasiões, envolvendo a Venezuela , a Nicarágua, a Colômbia, Santo 
"'.. Domingo e Haiti. 
Os Estados Unidos que, durante muitos anos, não revelara uma preocupa­
ção maior com o papel dos europeus na região, aos poucos se envolveram nas 
rivalidades internacionais do hemisfério. No momento da independência dos 
países latino-americanos, a preocupação política dos Estados Unidos era evitar 
a restauração da antiga ordem colonial de mercantilismo econômico e auto­
ritarismo político. Como declarou o Secretário de Estado John Quincy Adams 
-' em maio de 1823, a política norte-americana deveria dedicar-se "a neutralizar 
os esforços que sem dúvida as negociações européias continuarão a envidar 
em apoio aos seus projetos monárquicos e monopolizadores". Para promover 
esses objetivos, Adams esperava negociar com as novas repúblicas tratados 
baseados nos "princípios amplos e liberais de independêl1cia, favores iguais e 
reciprocidade" I. A declaração do presidente Monroe, em dezembro de 1823, 
prefigurava um "Sistema Americano" fundamentado não só nos princípios 
econômicos liberais, mas também na liberdade civil, política e religiosa. Na 
prática, essesideais seriam modificados, e mesmo distorcidos, quando se vis­
sem defrontados pelos assaltos da política de poder internacional. De qualquer 
modo a Doutrina Monroe foi muito mais uma declaração de esperanças futu­
ras do que um plano direto de ação. O envolvimento dos Estados Unidos na 
América Latina foi contido durante muito tempo pelo medo de se envolver 
numa guerra com a Inglaterra ou com a França, por preocupações e conflitos 
políticos domésticos e por sua capacidade militar limitada. 
A rivalidade entre a Inglaterra e os Estados Unidos no México inflamou­
se em meados da década de 1840. Depois que a província do Texas se sepa­
rou do México em 1836, agentes ingleses começaram um trabalho ativo na o 
região, encorajando os texanos a não se juntarem aos Estados Unidos. Em 	 ~ 
o 
1844, o chargé britânico convenceu o governo mexicano a reconhecer a inde­ '" 
.;,
pendência do Texas se este concordasse em permanecer independente. Mas, 	 z 
;:: 
no mesmo momento, o governo do Texas aceitou a anexação aos Estados j 
Unidos, dando prosseguimento à guerra entre este país e o México. Um dos "' 
..
~ 
argumentos usados pelo presidente James K. Polk para justificar a anexação 
'":;: 
do Texas e da Califórnia foi o de que a Inglaterra (e, no último caso, também "' < 
a França) estava tentando exercer uma influência de certo modo hostil aos () 
Estados Unidos. Na visão dos expansionistas norte-americanos, o vasto ter­ => 
Z 
ritório entre o Texas e o Pacífico, desabitado e selvagem em sua maior parte, 	 :> () 
o 
\. WALTER LAFEIIER (ed .l, /01111 Q'ÚI/cy Adall/' al/d AII/erical/ COl/lil/cl/lal ElIlpire, Chicago, l~ó5 . 	 !;;"' 
... 
p. 123 • 	 "'O 
613 
612 
oferecia uma tentadora oportunidade para as ambições européias. Por isso, o 
"Destino Manifesto" da nação de se expandir do Atlântico ao Pacífico seria 
bloqueado se os Estados Unidos não o incorporassem à União. 
No final da guerra entre os Estados Unidos e o México (1846-1848), o 
Caribe tornou-se uma área de confronto com os ingleses. Em 1839, um 
agente da coroa britânica havia tomado a ilha de Roatán (ao largo da costa 
setentrional de Honduras) e, em 1843, o governo inglês havia restabelecido o 
protetorado sobre os índios Mosquitos ao longo da costa oriental da Nicará­
gua e de Honduras. Ao mesmo tempo, os interesses norte-americanos na 
América Central eram estimulados pela perspectiva de uma expansão até o 
Pacífico. As rotas de trânsito que cruzavam a América Central tornaram-se 
uma questão de interesse primordial para os representantes norte-america­
nos. Em 1846, os Estados Unidos negociaram o Tratado Bidlack com Nova 
Granada (Colômbia). Os ingleses e os franceses haviam rejeitado uma pro­
posta colombiana de neutralização internacional do istmo do Panamá. Pelo 
Tratado Bidlack, os cidadãos norte-americanos tinham assegurado o direito 
de passagem sob as mesmas condições que os cidadãos de Nova Granada, e 
os Estados Unidos garantiam a neutralidade do istmo a fim de preservar o li­
vre trânsito. Além disso, ficavam garantidos os direitos de soberania de Nova 
Granada sobre o territôrio. Em 1848, os ingleses, numa tentativa de consoli­
dar o protetorado de Mosquito, ocuparam a cidade de San Juan, na foz do 
rio San Juan; a cidade mudou seu nome para Greytown. Mais tarde, em ou­
tubro de 1849, um oficial da marinha inglesa invadiu a ilha Tigre, no golfo 
de Fonseca . Esse ato foi repudiado pelo governo britânico, mas o clamor que 
se seguiu nos Estados Unidos provocou a abertura de negociações. O Trata­
do Clayton-Bulwer, assinado em 19 de abril de 1850, determinava que ne­
nhuma das partes "ocuparia", "colonizaria" ou exerceria "domínio" sobre 
qualquer porção da América Central. Estipulava ainda que, no caso de ser 
construído um canal no futuro, nenhum país poderia fortificá-lo ou exercer 
z 
< 
controle exclusivo sobre ele. 
o 
Ü Inicialmente, o Tratado Clayton-Bulwer nada resolveu, porque os ingle­
< 
z 
ses diziam que ele protegia o status quo, enquanto os norte-americanos sus­
'" 
...'" 
z tentavam que ele ordenava uma redução do controle britânico; especialmen­
~ 
... 
<) te com relação à costa de Mosquito. Em 1852, o governo inglês anexou 
v 
< Roatán e as ilhas adjacentes à Colônia das Ilhas Bay, e os norte-americanos
... 
"' acusaram-no de traição. Depois que um navio da marinha norte-americana
'"~ 
..: bombardeou Greytown em 1854 para se vingar de um ataque da plebe a um 
diplomata, pairavam no ar os rumores de uma guerra. Na realidade, a Amé­
rica Central não era uma região de grande prioridade para o interesse britâ­
nico, e a Inglaterra já tinha muito com que se preocupar na Guerra da Cri­
méia. Os ânimos se acalmaram, e em 1856 foi assinado outro tratado, pelo 
qual os ingleses concordavam em renunciar ao protetorado de Mosquito e 
ceder as ilhas Bay a Honduras. Devido a um problema de somenos, os Esta­
dos Unidos recusaram-se a ratificá-lo, mas os ingleses prosseguiram em sua 
idéia de resolver a questão centro-americana nos termos do tratado. Todas as 
reivindicações foram atendidas, com exceção de Belize, que em 1862 se 
transformou na Colônia das Honduras Britânicas. Não oficialmente, os 
funcionários ingleses aceitaram a idéia de que, em algum momento no fu­
turo, os Estados Unidos seriam o poder dominante na região. No entanto, 
somente depois de quarenta anos é que vieram a exercer de fato esse papel. 
No entender do presidente James Buchanan (1857-1861), os Estados 
Unidos deviam exercer um papel de polícia na América Central e no Caribe, 
a fim de garantir que os tumultos que grassavam na região não ameaçassem 
os norte-americanos que lá viviam ou as rotas de passagem pela América 
Central. Na sua opinião, ou os Estados Unidos faziam isso ou as potências 
européias iriam intervir. Seus pedidos de autorização para usar força armada 
nessas inten'enções foram negados pelo Congresso. Quase cinqüenta anos se 
passariam antes que o presidente Theodore Roosevelt incluísse na Doutrina 
Monroe um corolário, no qual se afirmava o poder de polícia norte-america ­
no nO Caribe. 
Durante a segunda metade do século XIX, vários Estados latino-america­ o 
nos pediram proteção aos Estados Unidos. Em 1857, a,Nicarágua assinou um '" , 
o 
~ 
~tratado de protetorado, que o Senado norte-americano se recusou a ratificar. 
<E, pelo menos em três ocasiões entre 1868 e 1892, Santo Domingo ofereceu z 
;::: 
aos Estados Unidos o arrendamento ou cessão de sua base naval (e mesmo <
... 
<do próprio país). Essas ofertas foram rejeitadas, assim como outras idênticas u 
feitas pelo Haiti. Os Estados Unidos também foram chamados a mediar con· '" 
'" 
"'<flitos entre Estados latino-americanos e nações européias que tentavam co­
< 
brar dívidas. 
ô 
Em 1878, a Companhia Francesa do Canal do Panamá obteve o direito de o 
z 
construir um canal no istmo. O governo dos Estados Unidos objetou, mas ;;; 
::;
em vão. Todavia, a partir desse momento os norte-americanos pressionaram o 
< 
para que o país assumisse um papel mais ativo na região caribenho-centro­ t;; 
... 
americana. A marinha dos Estados Unidos realizou expedições de levanta- ::; 
614 
mento do istmo, e uma resolução conjunta do Congresso em 1880 insistiu 
na anulação do Tratado Clayton-Bulwer. Em 1884, o Secretário de Estado 
Frederick Frelinghuysen negociou um tratado com a Nicarágua, pelo qual os 
Estados Unidos e a Nicarágua teriam a posse conjunta do canal. Esse acordo 
teria anulado unilateralmente o tratado de 1850 com a Inglaterra, mas o Se­
nado deixou de aprová-lo por cinco votos. 
Em 1881, o Secretário de Estado James G. Blaine tentou exercer um papel 
mais ativo na América Latina. O governo norte-americano convidou os paí­
ses para uma Conferência Americana Internacional, mas, antes de sua reali­
zação, o Secretário Blaine renunciou ao cargo por motivospolíticos. Seu 
substituto, Frelinghuysen, cancelou a conferência, mesmo depois que várias 
nações latino-americanas já haviam aceito o convite. A esperança de B1aine 
fora que a conferência criasse um sistema que desse paz e estabilidade ao he­
misfério, e que essas condições ajudassem os Estados Unidos a desafiar a su­
premacia econômica européia. 
No começo, a maioria dos países latino-americanos foram buscar na Eu­
ropa não apenas mercados para seus produtos, mas também financiamentos 
para seu governo e capital para seus projetos de desenvolvimento econômi­
co. Na década de 1820, houve um breve crescimento dos investimentos, mas 
a maioria desses empreendimentos comerciais acabaram falindo ou foram li­
quidados. Após a década de 1860 teve início nova era de investimentos em 
grande escala. Agora, a maior parte do capital vinha da Inglaterra, da França 
e da Alemanha. Com algumas oscilações, os investimentos ingleses aumenta­
ram de 85 milhões de libras em 1870 para cerca de 750 milhôes (3,7 bilhões 
de dólares) em 1914 . Na mesma data, os franceses investiram o valor aproxi­
mado de seis bilhões de francos (1,2 bilhão de dólares), e os investimentos 
da Alemanha chegaram a 3,8 bilhões de marcos (cerca de 900 milhões de dó­
lares) . O capital inglês foi aplicado geralmente na construção de estradas de 
ferro, na mineração (nitratos ·chilenos) e na indústria (acondicionamento~ 
z 
< de carne no Prata) . Os franceses investiram no setor ferroviário, assim como 
o 
Ü em propriedades rurais, em bancos, na mineração e na indústria. Os alemães 
<
z 
se interessaram mais pelos bancos de hipoteca e pelas grandes lavouras (so­
"uJ 
... 
Z bretudo na América Central) . 
Na última parte do século XIX, os investidores norte-americanos começa­o 
~ 
'" 
v 
ram a dirigir os olhos para o sul; especialmente para Cuba e o México. No :; 
uJ 
entanto, o fluxo de capital norte-americano em grande escala só começou
'"~ 
..: depois de 1900, de modo que o capital europeu continuaria a predominar 
615 
(sobretudo na América do Sul) até quase meados do século xx. Alguns em­
presários norte-americanos, utilizando capital europeu, deram algumas con­
tribuições para o desenvolvimento econômico. Henry Meiggs e Minor C. 
Keith, por exemplo, construíram estradas de ferro no Peru e na América 
Central. Keith deu início também a um grande plantação de bananas na 
Costa Rica e na Guatemala. 
OS ESTADOS UNIDOS E A AMfRICA LATINA NO FINAL DO SfCULO XIX 
No curso das décadas de 1880 e 1890, a competição pelo domínio entre 
as principais potências européias aumentou agudamente. A África foi dividi­
da, e parecia que estava em marcha uma corrida pela divisão final da Ásia. 
Para muitas pessoas bem informadas, era quase certo que a competição pelo 
controle do território, dos recursos e dos mercados mundiais havia entrado 
em seu estágio final. Por sua vez, essa rivalidade era intensificada pelas dife­
rentes versões da missão civilizadora e cristianizadora de cada nação. Rela­
cionada estreitamente com a idéia imperial de poder e prestígio nacional e 
exacerbada por essa idéia grassava uma intensa rivalidade comercial mesmo 
nas áreas não-coloniais. Impelidos pelo medo de ficar para trás ou de ser ex­
pulsos da corrida pelos mercados, os líderes nacionais faziam todo e qual­
quer esforço para melhorar a posição comercial do seu pa ís. Esses esforços se 
caracterizavam por um protecionismo interno e por arranjos econômicos 
unilaterais especiais no exterior (especialmente acordos comerciais em detri­ o 
mento de terceiras partes). '" 
Desde o período colonial a economia dos Estados Unidos tivera um im­ .. 
o 
portante componente de comércio exterior; o comércio era considerado par­ 7-.( 
;:te vital do interesse nacional. No final do século XIX, os norte-americanos :; 
..:estavam cada vez mais convencidos de que a nova ordem mundial imperial 
::! 
ameaçava o seu comércio de exportação. Por exemplo, em 1880, os Estados " 
'":< 
Unidos importaram mercadorias da América Latina no valor de 176 milhões ..: 
..: 
de dólares, mas exportaram apenas 58 milhões. Assim, parecia que o país esta­ uJ ~ 
o 
va ficando para trás até mesmo no lugar que todos consideravam seu próprio c 
z 
:;,quintal. E essa ansiedade se acentuou quando os norte-americanos percebe­
~ 
oram a queda de sua frota mercante, tão florescente há tão pouco tempo. Em o 
1850, mais de 50 por cento de toda a tonelagem embarcada nos portos nor­ 1;;"' 
uJ 
~te-americanos eram transportados por navios norte-americanos; em 1900, o 
616 617 isso caiu verticalmente para apenas 17 por cento . Nos Estados Unidos, um 
número crescente de cidadãos influentes e líderes políticos estava chegando 
à conclusão de que a nação teria de reorientar sua política externa para po­
der atender à mudança de condições no mundo e enfrentar efetivamente os 
desafios colocados pelas rivalidades imperiais. Frederick B. Emory, do Bureau 
of Foreign and Domestic Commerce, expressou algumas das novas preocu­
pações quando relatou em 1898: 
Pode· se dizer que a principal questão da diplomacia européia no momento é assegurar "esferas 
de intluéncia" e opo rtunidades mais amplas de comércio, bem como um territ ório adequado 
para ser ocupado pelo excesso de população dos paises mais habitados. [· · ·1 A partilha da Áfri· 
ca entre as potências européias oferece considerações de um caráter econômico de magnitude 
quase igual. enquanto os planos das nações comerciais mais ativas para aumentar suas partes 
respecti vas no comércio dos mercados latino-americanos nos afetam de forma ainda mais séria 
no desenvolvimento das nossas relações comerciais com a metade sul do hemisferio ocidental' . 
}ames G. Blaine fora um dos primeiros articuladores dessas idéias e temo­
res. Ele acreditava que, no hemisfério ocidental, as relações pacíficas, a media­
ção de conflitos, a redução da influência européia e o aumento do comércio 
de exportação dos Estados Unidos, tudo estava ligado de maneira intrínseca. 
Embora sua primeira tentativa de convocar uma conferência interamericana 
para discutir esses objetivos tivesse fracassado, suas idéias sobre as relações 
hemisféricas e a necessidade da adoção de um papel mais ativo por parte do 
governo dos Estados Unidos ganhou apoio na década de 1880. Em maio de 
1888, o Congresso solicitou ao presidente Grover Cleveland que convidas­
se os Estados latino-americanos para uma conferência dessa natureza. Uma 
mudança no controle do partido ocorrida no curso da eleição presidencial 
de 1888 levou Blaine a ocupar mais uma vez a Secretaria de Estado. Foi ele 
que presidiu a conferência, realizada em Washington, em 1889.
'" 
z 
< Antes que fosse tratada qualquer questão, os delegados latino-america­
o 
Ü nos fizeram uma dura excursão de trem pelas áreas industriais dos Estados 
< 
z Unidos. Visitaram 41 cidades, onde observaram fábricas e assistiram a de­
'" "' ... monstrações das proezas norte-americanas no campo da tecnologia e ou­
viram inúmeros discursos e concertos de bandas. Segundo comentário do 
z 
'" 
o'" 
(j 
::; 
2. FREDERICK EMORY, Commercial Relariolls of rhe Ullired Srnres durillg rhe Yen" 1896 Gllri 18 97,
"' 
'" 
'"< Washington, 189S, vaI. I, pp . 19-22. 
jornal londrino Spectator, o objetivo da viagem era inculcar nos visitantes 
respeito por uma nação "tão temerariamente vigorosa que considera uma 
diversão uma jornada de seis mil milhas por estrada de ferro"'. A intenção 
da excursão e da conferência foi claramente estimular as nações latino-ame­
ricanas a seguir os Estados Unidos e não a Europa em termos de liderança 
econômica e política. 
A conferência voltou a reunir-se em novembro de 1889, quando Blaine 
apresentou planos para a criação de uma união aduaneira no hemisfério e a 
instituição de uma comissão de arbitramento que mediasse as disputas entre 
as nações. A Argentinaliderou a oposição à primeira proposta, e o Chile, 
que havia obtido importantes conquistas territoriais na Guerra do Pacífi­
co, fez objeções à segunda. Nenhuma das propostas de união aduaneira foi 
aprovada; quanto ao arbitramento, foi assinado um tratado de compromis­
so por apenas onze nações (e nenhuma o ratificou). Todavia, a conferência 
criou a União Internacional das Repúblicas Americanas com um Conselho 
Comercial das Repúblicas Americanas, que foi autorizado a coletar e divul­
gar informações relativas às tarifas e às regulamentações comerciais. 
A idéia alimentada por Blaine de um sistema interamericano verdadeira­
mente funcional estava baseado no mito da existência, no hemisfério, de um 
potencial de comunidade de interesses genuína que a liderança norte-ameri­
cana poderia tornar realidade. No século XX, muitos dos sucessores de Blaine 
tentariam uma série de medidas políticas para criar um sistema que resol­
vesse a maioria dos problemas - se não todos - das relações interamer,icanas. 
Seus esforços teriam resultados limitados porque alguns conflitos básicos de o 
'" interesse simplesmente não puderam ser resolvidos por declarações de har­
o 
monia pan-americana. Por sua vez, muitos líderes latino-americanos adota­ " 
~ 
< 
ram sua própria versão de uma relação hemisférica especial, tentando impor z ;: 
<aos Estados Unidos padrões utópicos de conduta internacional. Seus esfor­ .. 
.., 
ços também teriam resultados variados. u 
..A conferência interamericana de 1889, na qual foi negado aos Estados 
'":l': 
<Unidos o papel de líder eletivo do hemisfério, nada fez para minorar a cres­ < 
cente ansiedade norte-americana com respeito à dominação do hemisfério ô 
pelos europeus e ao senso reforçado de rivalidade comerci.al. A crença de que 
" z 
::>os Estados Unidos tinham de desempenhar um papel de primeira linha na 
Ô 
< " 3. Apud m OMAS A. BAILEY, A Diplomatic Hisror)' of rhe Alllcricnll People, 9.ed ., Engk.-ood Cliffs !;; 
... 
!N.J.), " 7', p.•08. 
'"o 
618 
619 
América Latina e conquistar mais prestígio ajudou a armar o cenário para 
crises com o Chile (1891-1892) e com a Inglaterra ( 1895). Em ambos os ca­
sos, o governo dos Estados Unidos, tanto sob a administração do~ republica­
nos quanto sob a dos democratas, reagiu com uma postura nacionalista e 
emocíonal, condicionada por aguçados sentimentos de rivalidade interna­
cional. As posições norte-americanas com relação ao hemisfério passaram a 
caracterizar-se por uma espécie de "mentalidade de crise': 
A crise chilena nasceu de um incidente ocorrido em outubro de 1891, 
quando 120 marinheiros do navio norte-americano Baltimore foram ataca­
dos enquanto estavam de licença em Valparaíso. Dois foram mortos, dezesse­
te ficaram feridos e outros foram espancados e presos . Segundo testemunhos 
dados a uma comissão de inquérito, a polícia chilena participou dos ataques. 
O governo chileno, que havia chegado recentemente ao poder por meio de 
uma revolução, era antagônico aos Estados Unidos por causa do apoio di­
plomático normal que havia concedido ao antigo governo (l3almaceda) . Os 
funcionários chilenos não apresentaram desculpas e seus primeiros esforços 
diplomáticos mostra ram-se ambíguos e bastante críticos ao presidente Ben­
jamin Harrison . A comoção de guerra inflamou-se nos Estados Unidos quan­
do o corpo de um dos m arinheiros foi velado em câmara ardente no Inde­
pendence Hall, na Filadélfia. O ultimato de Harrison ao go \'erno chileno, 
dado em janeiro de 1892, foi reforçado por uma mensagem especial ao Con­
gresso. O novo ministro das Relações Exteriores do Chile enviou um pedido 
de desculpas aceitável e foram acertadas indenizações pelas mortes e pelos 
ferimentos. Sob a exagerada retórica de orgulho nacional, a administração 
Harrison estava na verdade declarando que os Estados Unidos eram uma 
grande potência do hemisfério e deviam receber o mesmo tratamento que 
era dado à Inglaterra. Seus símbolos nacionais deviam ser tratados com res­
peito, e seus representantes oficiais não deviam ser maltratados; do contrá­
rio, as nações ofensoras teriam de prestar contas. De seu lado, os chilenos 
< passaram cada vez mais a buscar ajuda militar e econômica na Alemanha. 
V> 
o 
Ü A crise entre a Inglaterra e os Estados Unidos irrompeu por causa da lon­
" 
< 
z ga disputa de fronteira entre a Venezuela e a colônia da Guiana Inglesa . Du­
oi '" 
... 
Z rante anos as autoridades venezuelanas haviam tentado conseguir o apoio 
V> d os Estados Unidos a um arbitramento da questão. Em 1887, os ingleses ti­
o'" 
U' 
o( nham declinado da oferta norte-americana de bons ofícios. Em 1894, os 
.... 
oi 
venezuelanos contrataram os serviços do lobista William L. Scruggs , um ex­
'"V> 
'" diplomata norte-americano, que fez circular amplamente seu panfleto "Agres­
sões Inglesas na Venezuela ou a Doutrina Monroe em Julgamento". Devido 
em parte aos seus esforços, foi apresentada ao Congresso e subseqüentemen­
te adotada com a aprovação unânime de ambas as casas uma resolução que 
exigia o arbitramento da disputa. 
O clima de grande preocupação com respeito à influência e ao poder da 
Europa no hemisfério acentuou-se ainda mais em abril de 1895, quando os 
ingleses ocuparam Corinto, na Nicarágua, e assumiram o controle da al­
fândega para forçar o pagamento dos danos à propriedade de cidadãos in­
gleses. A tropa retirou-se depois que foi feito um acordo sobre as indeniza­
ções, mas muitos norte-americanos viram no incidente mais uma prova da 
ineficácia da Doutrina Monroe. Escrevendo na North America/l Review, o 
senador Henry Cabot Lodge, de Massachusetts, exemplificou a mentalida­
de de crise quando ligou a situação na Nicarágua, a disputa de fronteiras 
na Venezuela e os temores da expansão imperial européia: "Se se permitir 
que a Inglaterra ocupe os portos da Nicarágua e, ainda pior, tome o terri ­
tório da Venezuda, não há nada que a impeça de tomar toda a Venezuela 
ou qualquer outra nação sul-americana. Se a Inglaterra puder fazer isso 
com impunidade, a França e a Alemanha também o farão"' . 
Numa nota ao governo britânico de 20 de julho de 1895, o Secretário de 
Estado Richard Olney exprimiu uma visão um tanto exagerada de um he­
misfério aliado aos Estados Unidos por vínculos de "proximidade geográfica 
[ ... 1 simpatia natural [ ... 1 similaridade de governo". Segundo ainda obser­
vou o Secretário, essa aliança estendia a proteção da Doutrina Monroe a to­
das as nações do hemisfério. Para sublinhar o "direito" dos Estados Unidos a o> 
exigir o arbitramento da disputa de fronteira da Venezuela, Olney fez sua fa­ '" 
~
.. '" mosa declaração: "Hoje os Estados Unidos são praticamente soberanos nesse 
.(
continente, e sua vontade é lei com relação aos indivíduos aos quais eles li­ z 
mitam sua interposição". ... ~ 
No final de novembro, o secretário do Foreign Office, Lorde Salisbury, u < 
numa nota que foi quase tão pouco diplomática quanto aquela à qual respon­ '".., 
~dia, replicou à definição enormemente exagerada que Olney fez do poder nor­
'" te-americano. Salisbury corrigiu os erros de história de Olney, deu-lhe uma V> 
o 
aula sobre direito internacional e sobre a Doutrina Monroe e recusou termi­
" z 
:> 
Ô 
nantemente o pedido de arbitramento. O presidente Grover Cleveland ficou 
tão irritado que solicitou ao Congresso fundos para criar uma comissão de in­
< " t;; 
oi 
4. North A1IIcr;cGtI Review, U;O: 658, June IR95. o V> 
[ 
620 
vestigação de fronteira. O Congresso, cheio de entusiasmo, aprovou a proposta 
de Cleveland, pela qual os Estados Unidos estabeleceriam unilateralmente a 
fronteira e fá-Ia-iam cumprir independentemente da política britânica. 
Correram boatos de guerra nos dois países, mas a crise dos bóeres na 
África do Sul, aliada à crescente percepção dos ingleses de uma ameaça ger­
mânica, precipitoua decisão de aceitar a exigência norte-americana. Com os 
bons ofícios dos Estados Unidos, a Venezuela e a Inglaterra assinaram um 
tratado de arbitramento em fevereiro de 1897. O governo dos Estados Uni­
dos teve de pressionar a Venezuela a aceitar um acordo que liberava por um 
período de cinqüenta anos o território que havia sido ocupado por uma e 
outra parte. No acerto final de outubro de 1899, os venezuelanos ficaram 
com o controle da foz do rio Orinoco, mas seus líderes se mostraram des­
contentes com a recusa dos Estados Unidos em apoiar suas pretensões mais 
extremadas. Outros líderes latino-americanos não gostaram da declaração de 
Olney sobre o poder norte-americano. embora essa afirmação fosse, na reali­
dade, muito mais uma bazófia, destinada ao consumo local. Para o governo 
inglês, essa controvérsia assinalou importante virada. Para cortejar a amiza­
de norte-americana diante de uma crescente rivalidade com a Alemanha, os 
ingleses deram um grande passo rumo 11 aceitação da predominância política 
dos Estados Unidos no hemisfério ocidental. A predominância econômica 
era outra questão. 
Nos Estados Unidos, na década de 1890, Ulll número cada vez maior de 
cidadãos comuns e funcionários públicos acreditava que o mundo estava 
sendo fechado por impérios em expansão e, com isso, os Estados Unidos po­
diam ficar isolados. Desse modo, os Estados Unidos estariam à mercê das 
nações mais poderosas do mundo. O país podia escolher não jogar o jogo da 
política de poder internacional, mas nâo podia evitar as conseqüências mili­
tares, políticas, econômicas e ideológicas de tal decisão. Parte importante 
desse jogo era garantir a paz, a ordem e a estabilidade nas chamadas nações
'" 
z '" atrasadas. Em tais regiões, a potência que realizava o papel de polícia era 
o 
v aquela que exercia maior influência. Na década de 1890, vários norte-ameri­
z"' 
canos importantes haviam adotado essa visão européia das relações interna­
Ul '" ,... 
z cionais. Acreditavam que, se quisesse ser levada a sério e ter seus interesses 
'" tratados com respeito pelas outras potências, a nação tinha de assumir a 
o'" 
v função de polícia para restaurar e manter a paz e a ordem naquelas partes do:'l 
"' 
'" 
mundo consideradas especialmente vitais aos seus interesses. O Illar dos 
'" 
'" Caraíbas e o golfo do México há muito vinham sendo considerados parte da 
621 
zona de segurança norte-americana, pois era a rota de acesso ao "baixo-ven­
tre" vulnerável da nação e ao sistema de transporte fluvial Mississippi-Ohio. 
A essa zona fora acrescentada a América Central quando os líderes norte­
americanos aceitaram a idéia de que os Estados Unidos deviam construir e 
controlar um canal no istmo. Esse canal seria vital, militar e economicamen­
te, para qualquer expansão da ação norte-americana na América do Sul e na 
Ásia. No mundo moderno do aço e dos navios a vapor, poderia significar a 
diferença entre o isolamento e o acesso. Todavia, se os Estados Unidos não 
conseguissem manter a paz e a ordem em seu próprio quintal, não se podia 
esperar que protegessem com eficiência um canal e suas rotas de acesso. As­
sim - corria a discussão - os Estados Unidos tinham de afirmar seu papel de 
polícia na região caribenho-centro-americana, ou alguma outra potência o 
faria. No contexto dos acontecimentos na África e na Ásia, muitos líderes 
norte-americanos acreditavam que o país precisava agir para evitar maior 
influência e/ou controle da Europa. 
Esse ponto de vista geral não prescrevia nenhuma política particular para 
a sua implementação. Os norte-americanos estavam extremamente divididos 
com respeito à questão das políticas específicas e, especialmente, sobre o uso 
da força militar. O ressurgimento de um elemento ideológico na herança da 
nação complicou ainda mais o debate. Era a crença de que o país - às vezes 
em conjunto com outros anglo-saxões - tinha um destino (de quando em 
quando chamado manifesto) de salvar o mundo pela disseminação da civili­
zação anglo-americana, do governo republicano e do cristianismo protestan­
te. Muitos incluíam no item civiliza ção a promoção do desenvolvimento ~ 
econômico, da educação e da saúde pública. 
~ 
c 
~Todas essas questões e argumentos surgiram durante o debate público 
sobre o papel dos Estados Unidos na guerra cubana pela independência, que z .( 
tivera início em 1895. O presidente William McKinley não queria a guerra, 3 
mas aceitara a idéia de que os Estados Unidos eram, em última análise, res­ < ::! 
ponsáveis pela lei e ordem no Caribe. Quando a Espanha não conseguiu pôr '" 
'":l1 
<um fim à guerra com uma vitória ou uma retirada, McKinley pediu autori ­
"' 
zação ao Congresso para entrar em Cuba e pacificá-Ia. O entusiasmo público 
'"o 
diante dessa atitude já havia sido despertado pelas histórias de atrocidades Q 
z 
cometidas pelos espanhóis e intensificou-se ainda mais com o afundamento ::> 
o 
Qdo navio norte-americano Maine, no porto de Havana, em fevereiro de 1898. 
< 
O presidente solicitou ao Congresso autorização para cumprir o dever inter­ S 
nacional dos Estados Unidos: manter a paz de todos os países civilizados: o '" 
622 623 
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[ .. . ) tomar medidas para assegurar um término pleno e final das hostilidades entre o governo da 
Espanha e o povo de Cuba. e garantir na ilha a instalação de um governo estável. capaz de manter a 
ordem e de cumprir suas obrigações internacionais. assegurando a paz. a tranqüilidade e a seguran­
ça dos seus cidadãos. bem como as nossas próprias .. .' 
Alguns congressistas queriam autorização para reconhecer a independên­
cia de Cuba sob a direção do governo provisório cubano. McKinley e seus 
conselheiros não acreditavam que este "governo-na-selva", como alguns o cha­
mavam, fosse uma entidade funcional capaz de governar Cuba em tempo de 
paz. Temiam que uma Cuba independente sob esse governo voltasse a ser 
outro Haiti ou outra República Dominicana e criasse mais tentações para a 
intervenção européia. No entender de McKinley, se os Estados Unidos trou­
xessem paz a Cuba, a nação tinha a obrigação de preparar a ilha para o 
autogoverno e de protegê-Ia no início de sua república. O presidente decla­
rou que vetaria qualquer resolução que reconhecesse a independência de 
Cuba, mas aceitou o meio-termo da Emenda Teller, pela qual os Estados 
Unidos, depois de concluída a pacificação, não anexariam Cuba e "deixariam 
o governo e o con trole da ilha a seu próprio povo". 
Uma conseqüência da guerra com a Espanha e do Tratado de Paris 
(1898) foi que os Estados Unidos deram o primeiro passo no sentido de es­
tabelecer uma esfera de interesse no Caribe. Porto Rico tornou-se colônia 
norte-americana e converteu-se numa espécie de limbo - esquecido pela 
maioria dos líderes norte-americanos, salvo por períodos ocasionais de 
liberalização, época em que a situação colonial seria modificada. No entan­
to, Cuba era a chave para o Golfo-Caribe, e a situação da ilha e o papel dos 
Estados Unidos nas questões cubanas seriam discutidos durante várias dé­
cadas . Os resultados dessa discussão, como daqueles do debate mais amplo 
sobre a predominância na região caribenho-centro-americana, seriam uma 
mistura de políticas e ações caracterizadas pelo paradoxo e pela ambigüi­
dade; uma espécie de imperialismo ambivalentemodificado continuamen­
te pela culpa, pelas políticas internas e pela falta de uma verdadeira incli ­
nação colonial. 
Para os líderes norte-americanos, a pacificação de Cuba significava a ins­
talação de um governo republicano que daria estabilidade econômica e cria­
ria a infra-estrutura para uma sociedade ordeira. De 1898 a 1902 Cuba foi 
5. A Compilarioll of the Messages and Papers of the Presidellts. Ne.. York. "22, vol. XIII. p. 620. 
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624 
governada por um governo militar norte-americano, e essa experiência na 
construção da nação iria influenciar as políticas dos Estados Unidos na re­
gião durante o primeiro quarto do século xx. Em dezembro de 1899, o gene­
ral Leonard Wood tornou-se o segundo governador militar de Cuba. Sob a 
sua direção e a do Secretário da Guerra Elihu Root, foram implementados 
extensos programas de saneamento, construção de escolas, formação de pro­
fessores, controle de doenças, reforma das prisões e dos hospitais mentais, 
revisão dos sistemas judiciários e desenvolvimento das estruturas de gover­
no. Na opinião de Wood, um governo estável e uma sociedade ordeira exi­
giam "[ ... 1boas escolas, bons tribunais, um sistema de obras públicas, meios 
de comunicação, hospitais, instituições beneficentes etc. etc." e que isso só 
podia ser conseguido por meio do desenvolvimento econômico. Como ele 
disse ao presidente Theodore Roosevelt: 
1... 1 na medida em que sua posição geográfica nos obriga a controla-Ia e protege-Ia. por que niio esti­
mular por meio de uma assist~ncia moderada aquel:ls indústrías qUl' irão tom..'-Ia tão próspera c ~1(is· 
feita que tia sempre será amigável e uma fonte de poder para nós' Isso Lertamente é melhor do que ter 
às nossas portas uma ilha deslllorali7.1da. assolada pela pobre",. COntO Santo Domingo ou o Ha)'ti 
IsicJ CUj3S condições de existénci~1 põem em risco as vid~lS dt: milhõt:s de nossOS cidadãos". 
Wood articulou o conceito de diplomacia do dólar que seria cada vez 
mais utilizada pelos Estados Unidos depois de 1900. Nessa visão, estariam li­
gados entre si o desenvolvimento econômico, um governo forte e a ordem 
social. Um governo forte praticaria a prudência fiscal e criaria lima situação 
que atrairia o capital estrangeiro (de preferência o norte-americano) a ra­
zoáveis taxas de juro. Esse capital promoveria o desenvolvimento econômi­
co, o qual, por sua vez, fortaleceria o governo e produziria harmonia social. 
Seriam asseguradas paz, ordem e estabilidade pelo processo continuado de 
desenvolvimento econômico associado a um governo forte. Wood e outros 
z 
o( 
acreditavam que isso se revelaria mutuamente benéfico, e que para os Esta­
o 
Ü dos Unidos significaria um comércio maior com o país em desenvolvimento. 
< 
z
.. Em 1902, o general Wood e o presidente Roosevelt estavam convencidos de 
'".... que esse processo estava bem encaminhado em Cuba. O exército dos Estados ~ 
'" Unidos retirou-se da ilha e, em 20 de maio de 1902, foi proclamada formal-
o'" 
u­
o( 
..J 
.."' 6. Carta de Wood a Roosevelt, 2R de outubro de 1901, box 29, Leonard Wood 1'-.15S , l.ihrar)' of 
~ 
< Congress (Washington). 
625 
mente a nova república. Para pagar o preço da retirada norte-americana, a 
constituição cubana teria de adotar diversos artigos (a chamada Emenda Platt, 
pois foram acrescentados à Lei de Apropriações do Exército, de 190 I). Esses 
artigos impunham certas limitações às ações do novo governo no tocante à 
contração de dívida pública, ao estabelecimento de acordos militares com as 
potências estrangeiras e ao repúdio a atos do governo militar norte-america­
no. Além disso, a emenda dava aos Estados Unidos o direito de intervir em 
Cuba sob determinadas condições e estipulava que Cuba venderia ou arrenda­
ria "as terras necessárias para a instalação de postos de abastecimento de car­
vão ou bases navais .. . " O secretário Root prometeu a uma delegação cubana 
que os Estados Unidos só interviriam sob as condições mais extremas de anar­
quia e garantiu o apoio do governo Roosevelt a um tratamento especial para o 
açúcar cubano no mercado norte-americano; esse último projeto foi posto em 
prática em 1903, após dura batalha com os protecionistas internos. 
A Emenda Platt foi o produto de muitas mentes e constituiu um meio­
termo entre aqueles que queriam exercer um papel decididamente imperial 
no Caril:e e os que desejavam um tipo mais genérico de predomínio norte­
americano. Na opinião de Root, o tratado com Cuba, assinado em 1903 e 
que anexava a Emenda Platt à constituição, era a incorporação da Doutri ­
na Monroe ao direito internacional. Em termos históricos, foi a interpreta­
ção da Doutrina Monroe que viera emergindo aos poucos desde a década de 
1880. Incorporava certamente a crença generalizada de que, nas palavras do 
general Wood, "[ ... 1não há meio de fugir do fato de que, mesmo não sendo 
donos da ilha, somos responsáveis por sua conduta, pela manutenção de um 00 
'" 
~ 
,governo estável e pelo tratamento justo e eqüitativo dos estrangeiros que ali 
00 
..residem"'. As idéias básicas envolvidas ajudaram a moldar as políticas dos 
<Estados Unidos no Caribe para as três décadas seguintes. z ;: 
< 
..J 
::
o( 
.. 
A EUROPA. OS ESTADOS UNIDOS E A AMtRICA LATINA 
'" :lO 
ANTES DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL o( < 
ê 
oOs Estados Unidos não foram o único país a demonstrar um crescen­
Z 
te intrresse pela América Latina na virada do século. A Alemanha imperial :J 
'" otambém se mostrou atraída não só em termos econômicos, como também o 
:;; < 
,. Carta de Wood a Rooscvelt, 28 de outubro de t90l, ibid. "' 
o 
~ 
626 627 
demográficos e militares. Por volta de 1900. mais de 350 mil alemães mi­
graram para o Sul do Brasil e cerca de 120 mil estavam vivendo no Chile. 
Eram encontradas colônias alemãs ainda na Argentina e na América Cen­
traI. O governo germânico incentivou ativamente esses colonos a preservar 
e ampliar as tradições alemãs e financiou igrejas e escolas de língua alemã. 
A marinha imperial intensificou suas operações nas águas do hemisfério; em 
1900. o almirante von Tirpitz declarou à comissão de orçamento do Reichs­
tag que. eventualmente. a Alemanha precisaria de uma base naval armada 
na costa do Brasils. O Kaiser Guilherme II não escondia sua crença de que 
a Alemanha tinha um papel importante a desempenhar no hemisfério oci­
dental. Considerava Cuba um "Estado europeu". mas fracassou na tentativa 
de estabelecer uma aliança européia contrária aos Estados Unidos durante 
a guerra com a Espanha. Em 1900. num despacho o embaixador alemão no 
México observou que uma colônia alemã na América Latina seria mais va­
liosa do que todas as da África . O Kaiser escreveu à margem: "Correto. é por 
isso que precisamos ser lá o 'poder supremo' "9. O Kaiser recusou-se consis­
tentemente a reconhecer a Doutrina Momoe e asseverou oportunamente o 
direito das nações européias de intervirem no hemisfério. 
A presença militar alemã na América Latina tornou-se cada vez mais per­
ceptível. Em 1896. oficiais do exército alemão estavam instruindo o exérci­
to chileno e em 1900 a missão militar alemã fundou a Academia de Guerra 
Chilena. O exército chileno adotou os uniformes cinza· prussianos e os capa­
cetes tipo baldes de carvão. Antes de 1914. a Alemanha havia enviado missões 
militares à Argentina. à Bolívia e ao Paraguai. O governo mexicano havia 
pensado seriamente em adotar esse arranjo . O único esforço comparável foi 
a missão militar francesa no Peru (1895) '0. 
Em 1903, o Almirantado alemão preparou o Plano de Operações III : um 
plano de contingência para uma guerra contra os Estados. Unidos, travada 
no hemisfério ocidental. Nele era projetada a ocupação de Porto Rico por 
z'" um exército de 12 a 15 mil homens(o número aumentou entre 1903 e 1906) 
~ 
o 
Ü 
z '" 8. HOLGEI! H. HERWIG, Poliries of Frusrrarioll: Til, Ullired Srm,s ill Gcrl/la" Naval Plnllllillg, r8'''­
o: 
"'... r94/, Boston, 1976, p. 73.z 
9. HOLGER H. HERWIG, op. cir., pp. 21 e 68. 
O"' 
~ 
(j 10. "Foreign Military Training Missions in Latin America", 2S de dezembro de '9<4. Office of 
<
... 
Plans and Oeve\opment (OPOl , file#))6 Latin America , case 74. /tG ' 65, Rccords of the W..
"' 
" ~ 
< Oepanment General and Special Staffs; National Archi\'es of the United States (WashinglOnl. 
e a utilização das bases da ilha para conduzir uma ofensiva naval contra os 
Estados Unidos. Foi descartado em 1906. quando as atenções da Alemanha 
se voltaram mais para a Europa e para a mudança da estrutura de aliança". 
As ambições alemãs no hemisfério continuaram e acabaram por estimu­
lar os temores norte-americanos de um possível controle europeu de partes 
do hemisfério. Assim, a rivalidade germânico-norte-americana fo i um dos 
fatores importantes por trás da ampliação do papel dos Estados Unidos no 
Caribe e na América Central. O Almirantado alemão não escondia o dese­
jo de instalar alguma base no Caribe para controlar um canal no istmo; aos 
líderes norte-americanos parecia possível a repetição muito mais perto de 
casa dos confrontos navais entre alemães e norte-americanos nas ilhas Sa­
moa (1888) e na baía de Manila (1898)". Durante os primeiros anos do sé­
culo circularam periodicamente nos Estados Unidos rumores de uma possível 
guerra com a Alemanha. O senador Lodge confiou ao presidente Roosevelt 
sua crença de que o imperador alemão " tem momentos em que é selvagem 
o bastante para fazer qualquer coisa. Se ela [a guerra I vier, será através de 
alguma tentativa na América do Sul, provavelmente no Brasil"". Em 1913, o 
Conselho Geral da marinha norte-americana formulou seu Plano de Guerra 
Negra: uma operação defensiva com base num ataque alemão ao hemisfério 
ocidental. Era opinião do Conselho que, quando a Alemanha se sentisse bas­
tante forte, insistiria "em ocupar algum território do hemisfério ocidental 
sob a bandeira alemã, e então os Estados Unidos terão de defender sua polí­
tica pela força, ou concordar com a ocupação"". 
oA crise venezuelana de 1902 deu novo estímulo à rivalidade germânico· 
'" 
~ 
,no rte-americana e convenceu Theodore Roosevelt, e outros, de que os Esta­ o 
..dos Unidos tinham de estender o seu poder além de Cuba e de Porto Rico. 
~ 
< 
Roosevelt havia declarado anteriomente que as nações latino -americanas z 
... 
não podiam prejudicar os interesses estrangeiros e esperar esconder ·se atrás ~ 
da Doutrina Monroe; em casos de mau comportamento de um país sul·ame­ ~ '" 
ricano . "[ ... 1 deixe que o país europeu o espanque"'5. E a princípio Roosevelt " 
'":;: 
< 
< 
lI. IIERWIG, Poliries ofFnmrmion, op. cir., pp. 85-92. OI 
Ô 
". HERW'G, Poliries ofFrustrarioll, op. cir., pp. 68-72, Q 
Z 
13. HENIIY CABOT LODGE, Sclcerions fro", rh e Correspondence ofTlleodore Roosevelr m.d Hellry Ca· => 
~ 
Obor Lodge, /88'-1918, New YorklLondon, /925, va I. I, pp. 4S7-4S8. o 
14. Apud HERWIG, Poliries Df Frustrarioll, p. '05. !;;'" 
"' ~15. Apud BAILEY, Diplomarie Hisrory, p. 502. O 
629 628 
pareceu concordar com o bloqueio pacífico britânico-germânico-italiano da 
Venezuela, decidido em 9 de dezembro de 1902 . Vários navios venezuelanos 
foram afundados ou capturados. e alguns fortes costeiros bombardeados pe­
los esquadrões associados. O ditador venezuelano, Cipriano Castro, aceitou 
o arbitramento internacional que havia rejeitado anteriormente. mas o cerco 
tornou-se um bloqueio oficial de tempo de guerra e exigia uma resolução fi­
nal. Então, em 17 de janeiro de 1903, uma canhoneira alemã arrasou o Forte 
San Carlos, que guardava os estreitos de Maracaibo. Outros incidentes se se­
guiram. e Roosevelt informou ao embaixador alemão que o almirante George 
Dewey (que estava na ilha de Culebra, Porto Rico, com uma frota de 54 na­
vios) tinha ordens secretas de manter-se em prontidão e, se fosse necessário. 
estar em águas venewelanas em uma hora. Em 13 de fevereiro, o governo bri ­
tânico e o alemão assinaram um protocolo que suspendeu o bloqueio. 
Durante todo o ano de 190 I até 1902, Roosevelt envolveu-se em várias 
tentativas de fortalecer a posição norte-americana no mar dos Caraíbas. 
Além de reunir uma frota em Culebra e de transferir a ilha para o Departa­
mento da Marinha, tentara comprar da Dinamarca as ilhas Virgens. despa­
chara uma expedição secreta para patrulhar a costa venezuelana em possíveis 
locais de desembarque e mandara um enviado naval para ajudar a Venezuela 
a se preparar para uma invasão. Essa grande atividade e demonstraçào vela­
da de força estavam relacionadas não s6 com a crise venezuelana. mas tam­
bém com o fato de estarem nos estágios finais as negociações dos Estados 
Unidos para adquirir um local no istmo onde se pudesse construir um canal. 
O segundo Tratado Hay-Pauncefote entre os Estados Unidos e a Inglaterra 
foi assinado em novembro de 1901. Ele substituía o Tratado Clayton-Bulwer 
(1850) e dava aos Estados Unidos o direito de construir, controlar e fortificar 
um canal. Há tempos que se vinha estudando uma rota adequada , mas o 
Congresso dos Estados Unidos (depois de astuta pressão de Philippe Bunau­
Varilla da Companhia Francesa do Novo Canal do Panamá) escolheu o Pana­
'" 
< 
z má em junho de 1902 - se o presidente pudesse obter o direito de passagem 
o 
Ü "num tempo razoável e em boas condições".
.. 
z Há quase dois anos vinha sendo negociado um tratado entre a Colômbia
... '" 
... 
z e os Estados Unidos. Essas negociações começaram por imposição da Co­
'" lômbia e terminaram no Tratado Hay-Herrán que. na opinião de Roosevelt e O'" 
v 
< do Secretário de Estado lohn Hay. satisfazia os desejos do governo colombia­
.... 
... 
no. Mas o presidente colombiano convocou um congresso especial que. sob
" 
'"< sua liderança. adiou por semanas a discussão do tratado e finalmente rejei­
tou-o. Os panamenhos revoltaram-se e Roosevelt invocou o Tratado Bidla­
ck de 1846 para impedir que a Colômbia desembarcasse mais soldados. Ao 
reconhecimento seguiu-se imediatamente a instituição da República do Pa­
namá e, doze dias mais tarde, foi assinado entre os Estados Unidos e o Pana­
má um tratado sobre o canal. Nessa altura, o presidente colombiano mos­
trou desejos de aprovar o tratado anterior, mas Roosevelt o ignorou. Diante 
disso, os colombianos se irritaram, chamando-o de "joguete" e aos Estados 
Unidos de ladrões. Mas a Colômbia tinha exercido sobre o Panamá um con­
trole intermitente e sempre dependera da intervenção norte-americana para 
manter alguma aparência de soberania . (A partir de 1846 irromperam no 
istmo cerca de 53 levantes e a Colômbia solicitou a intervenção dos Esta­
dos Unidos em pelo menos seis oportunidades.) Theodore Roosevelt queria 
a construção do canal o mais rápido possível. O Tratado Hay-Bunau-Varilla, 
assinado em novembro de 1903, estabeleceu uma zona do canal com 16 qui­
lômetros de extensão, controlada pelos norte-americanos. Também tornou 
o Panamá na prática um protetorado. 
Assegurada a zona do canal, teve início a construção da passagem que li­
garia o oceano Atlântico ao Pacífico; assim, os Estados Unidos firmaram sua 
posição na América Central, fortalecendo a crença no país de que deveriam 
exercer maior controle na região. Em dezembro de 1902. o primeiro-ministro 
britânico. Arthur Balfour. deixou escapar tranqüilamente a Roosevelt que seu 
governo ficaria mais do que feliz em ver os Estados Unidos contendo os "ar­
ruaceiros" da América Latina. Em 1904, quando foi decretada a bancarrota 
da República Dominicana, Roosevelt aproveitou a oportunidade para afirmar 
'" 
'" 
'" 
uma doutrina de intervenção preventiva. que se tornou conhecida como o~"corolário Roosevelt" para a Doutrina Monroe. Ele explicou ao Congresso: 
< 
z 
Se uma nação mostra que sabe agir com razoável eficiência e decéncia em questões sociais e polí­ >== ~ 
ticas. se ela mantém a ordem e paga suas obrigações, n50 precisa temer qualquer interferência dos u < 
Estados Unidos. Os maus procedimentos crônicos ou uma impotência que resulte num afrouxa · '" 
'" 
"" menta geral dos laços de sociedade civili7.ada, podem na América . como em qualquer outro lugar, 
"" 
"" exigir a intervenção de alguma nação civili7.ada e. no hemisfério ocidental, a fidelidade dos Esta. 	 ... 
Ô dos Unidos à Doutrina Monroe pode forçar este país. embora com relutãncia, em casos flagrantes Q 
de maus procedimentos ou de impotência. a exercer um poder de polícia internacional". => '" 
o'" 
Q 
:;; < 
16. McssagcSGl/{f Popas ofllie Presidellts. vaI. XIV. p. 6 923. 	 '" 
'" o 
630 631 
Assim, Roosevelt estendeu a toda a regwo caribenho-centro-americana 
a premissa básica que esteve por trás da pacificação cubana e da Emenda 
Platt e demarcou claramente uma esfera norte-americana de interesse. No 
caso da República Dominicana, Roosevelt assinou um pacto que cedia às 
autoridades norte-americanas o controle das arrecadações alfandegárias. 
Elas, por sua vez, administrariam as rendas do país de modo a separar uma 
parte para amortizar a dívida que fora reduzida proporcionalmente. O Se­
nado não aprovou o pacto original; diante disso, Roosevelt teve de agir nos 
termos de um acordo entre os executivos, até a aprovação em 1907 de um 
tratado modificado. 
Sob a orientação conservadora de Elihu Root, diante da oposição in­
terna e das frustrações da própria "missão civilizadora", Roosevelt acabou 
por concordar que havia limitações na imposição da esfera de interesse dos 
Estados Unidos. Por exemplo, mostrou grande relutância em enviar tropas 
a Cuba em 1906, quando os políticos cubanos paralisaram o governo. Foi 
feita outra tentativa de construir uma república no Caribe, mas em 1906 
Roosevelt confidenciou ao diplomata-editor Whitelaw Reed que estava 
prevendo sérias dificuldades no "controle das regiões tropicais densamente 
povoadas por democracias autônomas do Norte ... "'7. Para tentar solucio­
nar pacificamente as disputas, a Conferência Centro-Americana reuniu-se 
em Washington em 1907. Nessa conferência foi criado o Tribunal Centro­
americano de Justiça, que devia adjudicar as disputas, e foram formuladas 
políticas de desencorajamen to das periódicas revoltas de caserna tão fre­
qüen tes na região. 
De maneira análoga, o sucessor de Roosevelt, William Howard Taft, 
anunciou uma política de substituição das "balas por dólares" . No entender 
dele e do Secretário de Estado Philander C. Knox, a chave para o desenvol­
vimento e a estabilidade econômica era a estabilidade fiscal. A administração 
incentivou os banqueiros norte-americanos a refinanciar os títulos de vários 
z 
-.: países a fim de eliminar a causa potencial de uma intervenção européia. Os 
~ 
o 
banqueiros norte-americanos investiram no Banco Nacional Haitiano e em­u
.., 
z prestaram dinheiro à Nicarágua para pagar à Inglaterra as dívidas em títu­
'" 
'" los. Na Nicarágua, os Estados Unidos assumiram também as arrecadações 
'" de taxas alfandegárias. Taft e Knox tinham esperança de que, usando dólares 
~ 
<:>"' 
u 
::; 
17. 	 Apud ALLAN REED MILLETT. Tlle Politic5 ofll/cervelltioll: Tlle Milirary OCCl/paliorl ofCuba. 1906
'" 
'" 
'".., 1008, Columbus (Ohio). 1968. p. 25 1. 
norte-americanos para apoiar a integridade financeira dos governos na esfera 
norte-americana, pudessem evitar as intervenções em grande escala. A admi­
nistração Taft, mediando várias controvérsias e patrocinando uma série de 
tratados de arbitramento, tentou promover a solução pacífica das disputas. 
Nesse período da diplomacia norte-americana da esfera de interesse, 
as principais nações da América Latina reagiram de maneiras diversas . 
Depois de 1900, o Brasil, para contrabalançar a prática da Argentina , ado­
tou uma política de amizade com os Estados Unidos. Por outro lado, o 
México, que havia desenvolvido relações muito próximas com seu vizinho 
do Norte, começou a cortejar mais de perto a Inglaterra e a Alemanha . 
(Em 1907, o Departamento de Estado norte-americano chegou a sugerir 
que o México partilhasse os deveres de polícia na América Central. Mas 
as ambições mexicanas na região não concordavam necessariamente com 
as dos Estados Unidos e a perspectiva de cooperação desvaneceu-se".) 
Nessa época, algumas nações latino-americanas endossaram duas doutrinas 
formuladas por argentinos e tentaram fa zer com que fossem aceitas como 
direito interamericano e internacional. Numa série de volumes publicados 
entre 1868 e 1896, Carlos Calvo defendeu uma versão absoluta da soberania 
nacional e aplicou-a ao tratamento nacional dos estrangeiros e dos interes­
ses extern os. Na sua fórmula, os estrangeiros deviam ser tratados do mesmo 
modo que os cidadãos nacionais, deviam suje itar-se às leis e aos tribunais 
nacionais e não tinham direito a apelar para seus governos de origem. Era 
uma reação à doutrina da extraterritorialidade, que fora instituída pelas na ­
ções desenvolvidas e industriais para proteger seus próprios cidadãos dos '" 
'" caprichos dos governantes, de sistemas legais diferentes e dos estragos das 
.,'" 
revoltas políticas. As nações ocidentais argumentavam que certos princí­	
~ 
.., 
pios, como a inviolabilidade dos contratos e os devidos processos da lei, 	 Z 
l­
..,
eram direito internacional e protegiam os estrangeiros e suas propriedades 	
... 
..,
independentemente do que os governantes fizessem com seus próprios ci­ u 
dadãos. Na prática, haviam sido cometidos abusos na aplicação desse prin­ '" Ul ;;: 
cípio de extraterritorialidade, fora usado para exigir um tratamento privi­
.., 
.., 
legiado para os interesses estrangeiros. Mas Calvo foi ao outro extremo e ~ 
o 
declarou que as nações podiam fazer o que quisessem, até mesmo mudar 
'" z 
as regras do jogo sob as quais os estrangeiros haviam vindo para um país e 
'" Ô 
o
.., 
18. 	 Cf. DANIEL coslo VILLEC AS, La vida politiea exterior, parte primera, vol. 5 de Hisroria lIlodema l-
de Ml!xico: EI Porfiriato. México. 1960 , pp. 62Cl-692 . '" 
o 
~ 
632 
investido nele. Num sentido peculiar, Calvo queria estabelecer como prin­
cípio de direito internacional a idéia de que não existe isso que chamam 
padrões internacionais de conduta. Depois de 1890, a Doutrina Calvo tor­
nou-se o grito de guerra legal e ideológico daquelas nações latino-america­
nas que queriam evitar que as potências industriais protegessem seus cida­
dãos nativos e seus interesses. Foi esse o debate clássico entre devedores e 
credores, entre os desenvolvidos e os subdesenvolvidos. entre os fracos e os 
fortes. A batalha em torno dessa doutrina iria aparecer de alguma forma 
em quase toda conferência interamericana. Na Segunda Conferência In­
ternacional dos Estados Americanos (Cidade do México. 1901-1902). foi 
proposta uma resolução, que incorporava a Doutrina Calvo. a respeito do 
tratamento a ser dado aos estrangeiros (análoga à adotada na primeira con­
ferência e rejeitada pelos Estados Unidos). Como era de esperar. os Estados 
Unidos votaram contra qualquer idéia de que os Estados não tinham res­
ponsabilidades pelos danos causados por estrangeiros durante as guerras 
civis. ou que os estrangeiros não tinham direito a apelar para os governos 
dos seus países de origem. 
A segunda doutrina (baseada na primeira) foi enunciada em 1902 por 
Luis Drago e afirmava apenas que as dívidas de uma nação para com outra 
não deviam ser cobradas à força. Os Estados Unidos mostraram-se mais 
sensíveis a essa doutrina. uma vez que ela não estabelecia o direito absolu­
to de um devedor a faltar com seus compromissos sem conseqüências­
que era exatamente o que pretendiam alguns Estados devedores. Na Terceira 
Conferência dos Estados Americanos. realizada no Rio de Janeiro (1906). os 
Estados Unidos concordaram com uma resolução que recomendava a dis­
cussão da doutrina na Segunda Conferência de Haia. Essa conferência 
aconteceu em 1907 e. graças aos esforços do secretário Root. todas as na­
ções latino-americanas foram convidadas a participar. D"rago compareceu 
~ 
como delegado da Argentina. O representante dos Estados Unidos apoiou a 
-< 
7: adoção da Doutrina Drago com importante emenda: a de que a não-inter­
o 
venção devia implicar a aceitação de arbitramento. Dessa forma. a Confe­U 
< 
rência de Haia adotou a doutrina. mas apenas seis nações latino-america­
" 
" 
'" ... 
z nas ratificaram o protocolo. 
Na Quarta Conferência Internacional dos Estados Americanos. realiza­
o'" 
~ 
u da em Buenos Aires (1910). foi formado um corpo permanente. a União< 
.... 
'" Pan-americana. da qual o Secretário de Estado dos Estados Unidos seria o 
"~ 
-< presidente. A posição dominante dos Estados Unidos na organização era 
633 
clara. mas o órgão tinha pouco poder real. Nem todos os líderes latino­
americanos se mostraram entusiasmados com a nova União Pan-america­
na. mas no entender de alguns ela poderia exercer uma influência dura­
doura sobre as políticas dos Estados Unidos. 
Enquanto isso. depois de 1898 o capital norte-americano fluiu para o 
Sul num volume cada vez maior. Grande parte dele foi dirigida para as em­
presas comerciais privadas produtoras de matérias-primas para exportação 
e concentrou-se em Cuba e no México. Os investimentos diretos dos norte­
americanos em Cuba foi orientado primordialmente para a produção de 
açúcar. Em 1909. 34 por cento do açúcar cubano era produzido por enge­
nhos de propriedade dos norte-americanos. Parte desse investimento dire­
to foi aplicada em mineração. na indústria do fumo e em serviços públicos. 
Entre 1896 e 1915. os investimentos norte-americanos em Cuba aumenta­
ram de cerca de 50 milhões de dólares para 265 milhões. embora o predo­
mínio continuasse sendo do capital europeu. Com o aumento da produção 
de açúcar cubano depois de 1900, a participação de Cuba no mercado do 
açúcar norte-americano saltou. em 1913. para 50 por cento. As exportações 
norte-americanas para Cuba seguiram a mesma tendência e. em 1914. 
Cuba ocupava o sexto lugar entre os clientes dos Estados Unidos. No Méxi­
co. o capital norte-americano fluiu geralmente para as empresas de mine­
ração e de petróleo. Companhias como a American Smclting and Refining, 
Phelps-Dodge. Greene-Cananea Copper e a Southern Pacific Railroad con­
quistaram uma posição predominante na mineração de cobre, de chum­
bo, de zinco e de ouro. Em 1908. as empresas norte-americanas possuíam c 
três quartos das minas do México que pagavam dividendos. Em 190 I. '" 
~ 
. 
c 
~ 
~Edward L. Doheny e seus sócios sondaram o primeiro poço de petróleo. e 
o capital estrangeiro foi despejado na região agora apelidada de "Gargan­ -< 
;::" ta de Ouro". A Huasteca Petroleum Company. de Doheny. expandiu suas :; 
operações, mas sua concorrente britãnica EI Aguila (de propriedade de u < 
Weetman Pearson - mais tarde Lorde Cowdray) cresceu mais rapidamen­ " '" 
<te graças ao tratamento favorável que recebeu do governo mexicano. Os 
«. 
-< 
empreendimentos norte-americanos se expandiram também na América '" 
'"oCentral. A United Fruit Company fundou empresas em vários países, e 
'"7: 
::>em 1899 duas famílias de imigrantes italianos organizaram a Standard 
ÔFruit e a Steamship Company em New Orleans. Na América do Sul, no o 
< 
período anterior a 1914, o Chile recebeu mais capital dos Estados Unidos 1;; 
'" do que qualquer outro país. '" o 
--L 
634 
635 
Em 1904, a indústria de cobre chilena caiu para o sexto lugar entre os 
produtores mundiais, e o governo encorajou as companhias norte-ameri­
canas a revivê-la. Em 1904, foi fundada a Braden Copper Company e, em 
1912, os Guggenheims criaram a Chilex Company. Em 1914, nenhuma com­
panhia tinha registrado lucros, mas juntas haviam despejado na indústria 
um total de 169 milhões de dólares. Depois de 1900, várias companhias nor­
te-americanas começaram a fundar filiais de fábricas na América Latina. Os 
exemplos mais notáveis foram a United Shoe Machinery Company, a Singer 
Sewing Machine Company, algumas firmas de medicamentos e cosméticos e 
várias companhias de acondicionamento de carne de Chicago. Apesar desse 
aumento da atividade econômica, antes da Primeira Guerra Mundial o capi­
tal e o empreendimento europeus ainda predominavam. 
OS ESTADOS UNIDOS E A AMÉRICA LATINA, 1913-1921 
Em 1913, Thomas Woodrow Wilson foi eleito presidente dos Estados 
Unidos. Sua administração estava profundamente enraizada na visão calvi­
nista e secularizada da nação redentora com uma missão e um destino pecu­
liares. U ma das manifestações dessa tradição no século xx foi o Movimento 
Progressista, com seu anseio de reformar o mundo. O Secretário do Interior 
de Wilson, Franklin K. Lane, expressou de maneira sucinta essa visão e sua 
ligação com a crença na superioridade racial: "Há no povo norte-america­
no muito do policial especial, do engellheiro sanitário, do assistente social 
e do ditador do bem-estar. [ ... ) É um dos instintos mais fundamentais que 
fizeram os homens brancos dar ao mundo a sua história nos últimos mil 
anos"I'. Para Lane, e para outros que acreditavam nessa nova versão do Des­
tino Manifesto, o "ônus do homem branco" era a nobre tarefa de construir a 
nação e manter a paz. 
< 
7. Nesse espírito, várias figuras fundamentais da nova administração tenta­o 
Ü 
< ram implementar um plano de policiamento cooperativo das áreas atrasadas 
z 
o: do mundo. O coronel Edward M. House, em sua viagem pela Europa em 
"'... 
z 1913, sugeriu esse curso de ação a funcionários alemães e britânicos. Duran­
~ 
te uma conversa com o conde Johann von Bernstorff, embaixador alemão~ 
u­
nos Estados Unidos, House sugeriu que a Inglaterra, a Alemanha, o Japão e 
...'" 
"'o: 
~ 
< ". New York Wor/d, 16 /uly 1'16. 
os Estados Unidos deviam trabalhar conjuntamente para "[ ... ) assegurar a 
paz e o desenvolvimento adequado dos locais agrestes, além de manter uma 
porta aberta e oportunidades iguais para todos em todo lugar". O embai­
xador expressou sua aquiescência. E quando House visitou a Inglaterra em 
1914, descreveu como "entusiástica" a reação dos funcionários britânicos20. 
Quando relatou essas conversas ao presidente Wilson, o coronel imagi­
nou um vasto plano pelo qual "as nações emprestadoras de dinheiro e em 
desenvolvimento" seriam estimuladas "a emprestar dinheiro a juros razoá­
veis e a desenvolver, sob condições favoráveis, os locais agrestes da terra e 
por outro lado criar condições pelas quais tais empréstimos pudessem ser 
razoavelmente seguros"21. A deflagração da guerra na Europa limitou a pro­
moção dessa diplomacia do dólar cooperativo para reduzir a rivalidade nas 
regiões subdesenvolvidas do globo. No entanto, House continuou a promo­
ver uma versão limitada do plano que, segundo ele esperava, formaria o nú­
cleo do sistema maior depois da guerra. Este envolveria as nações da América 
do Sul num Pacto Pan-americano que, no entender de House, também re­
solveria um "problema mexicano" (uma referência à revolução que estava 
assolando o México desde 1911). A administração Wilson trabalhou ativa­
mente pela aprovação desse pacto, que seria um meio cooperativo de impor 
a Doutrina Monroe. A oposiçãO da Argentina e do Chile impediu sua consu­
mação, e a proposta foi engavetada quando os Estados Unidos entraram na 
guerra, em 1917. 
Woodrow Wilson acreditava firmemente na missão nacional de in­
troduzir a paz, a ordem e a estabilidade no mundo. E enfatizou o pa­ o 
'" pei das instituições políticas anglo-americanasno estabelecimento dessas o 
condições. Em sua opinião, as revoluções aconteciam ou porque homens ~ 
< 
zmaus estavam tentando usurpar o poder por meios inconstitucionais, ou 
... 
<porque as pessoas eram impossilitadas de votar em eleições livres. Não ... 
<
ocorreriam revoluções se houvesse eleições, se os preceitos constitucio­ u 
o: 
nais fossem obedecidos e os homens maus afastados do poder. Para Wil­ '"::[ 
< 
son, a ordem constitucional é o alicerce da ordem e da estabilidade. O < 
presidente pôs muita ênfase no governo exercido por homens bons que ô 
seguem os preceitos constitucionais. Mas os países nem sempre escolhem " z 
;j 
Ô20. CHARLES SEYMOUR (ed .), TIIe IlItilllale Papers of CO/Ollel HOU5C. Arral1ged a5 a Narrali.,c by Cl 
Clwrles Seymollr. Boston. 1926, vol. I) pp. 240--244,264-267. '" B 
21. CHARLES SEYMOUR (ed.l, op. cit., pp. 264-265. ô 
L 
636 
tais homens para seus líderes . Assim , quando Sir William Tyrrell pediu a 
\Vilson, em novembro de 1913, que explicasse sua política com relação 
ao México, o presidente respondeu : "Vou ensinar as repúblicas sul -ame­
ricanas a eleger homens bons"22. 
Sob a chefia do severo professor Wilson, os Estados Unidos se envol­
veram de maneira mais ativa e com forças militares na região caribenho­
centro-americana do que em qualquer outra época em sua história ante­
rior. Isso foi, em parte, um reflexo da guerra na Europa, que não somen­
te exacerbou o temor com relação à Alemanha, mas também apresentou 
uma oportunidade para reduzir a influência européia em toda a parte. 
Em 1915, o novo Secretário de Estado, Robert Lansing, escreveu (com 
a aprovação de Wilson) que a "segurança nacional" dos Estados Unidos 
dependia da intervenção para suprimir insurreições e ajudar as pessoas a 
"estabelecer e manter governos responsáveis e honestos .. . "u. Depois dos 
tumultos que irromperam no Haiti e na República Dominicana e da insinu­
ação de franceses e alemães sobre possíveis desembarques, os Estados Uni­
dos intervieram - no Haiti em 1915 e na República Dominicana em 1916. 
Ambos os países foram submetidos a um governo militar norte-americano. 
Cada país promulgou uma constituição escrita por norte-americanos, cuja 
adoção, em cada um dos casos, foi facilitada pela presença do corpo de fu­
zileiros navais. Em ambos foram empreendidos vários projetos d~ sane­
amento, de saúde pública, de educação e de comunicações, quando o zelo 
reformador dos ianques se voltou mais uma vez para a construção da nação. 
Nem tudo o que aconteceu durante as tentativas de criar repllblicas consti ­
tucionais foi planejado ou aprovado necessariamente pelos funcionários de 
Washington. E no Haiti houve resistência armada, resultando na morte de 
cerca de 3 250 haitianos 24 • 
Em 1916, os Estados Unidos compraram da Dinamarca as ilhas Virgens 
V> e com isso ocuparam um local vantajoso para controlar todas as princi­
7."" 
:;, 
V 22. BU"TO~ J. HENLJI<ICK (ed.). Tile Life a"d Lcrrer; Df \\la/ler H. Pagc, Garden Cit)" IN. Y. ), " D , VoJ. 
o( 
" I, pp. 20'-2U'." ~ 
23. Memorandum, "Presenr Nature and Ext ent of the Momoe Doctrine", H November 191';z 
V> file#71u . llilSS' f2 ; RG ,9, Rccords of lhe DepJrtJmcnt of State. National Archivcs of the Uni­
O'" 
tj ted States (Washington). Cirado doravanre como SD e o número do arquivo.
::i 
"' 2' . HA NS SCIIMIDT. Th. Uniled Slares Ocwpariol/ of Haili. /915-/93 4, New llrunSlvick (N . !.l , 1971,
"' V> 
o( p. /03. 
637 
pais passagens para o mar dos Caraíbas. No mesmo ano, o Tratado Bryan­
Chamorro, assinado com a Nicarágua, foi aprovado pelo Senado norte­
americano, mas somente depois que foram eliminados alguns elementos da 
Emenda Plate - devido em parte aos esforços do senador Elihu Root, que 
tinha uma idéia conservadora da intervenção. Esse tratado dava aos Estados 
Unidos uma opção de exclusividade permanente para a construção de uma 
rota do canal, um arrendamento por 99 anos das ilhas Grande Com e Pe­
quena Corn, no mar dos Caraíbas, e de uma possível base naval no golfo de 
Fonseca, no lado do Pacífico - concessões adquiridas do governo da Nica­
rágua em troca de vultosos pagamentos. Todavia, o Senado só agiu quando 
os líderes nicaragüenses advertiram que a Alemanha estava tentando obter 
a rota do canal. Os vizinhos da Nicarágua reclamaram parte do território 
alocado no tratado e levaram seu caso ao Tribunal Centro-americano de 
Justiça. Este decidiu a favor deles, mas nem a Nicarágua nem os Estados 
Unidos aceitaram a decisão. Em vista disso, o tribunal perdeu qualquer 
sentido e foi extinto. 
A Revolução lvlexicana revelou-se uma eterna dor de cabeça para a ad­
ministração Wilson. A violência da luta afetou diretamente os norte-ame ­
ricanos residentes no México e transbordou continuamente a fronteira com 
os Estados Unidos. Algumas das incursões ao outro lado da fronteira foram 
feitas em nome do Plano de San Diego, um projeto que propugnava um le ­
vante das minorias raciais nos Estados Unidos, ao qual se seguiria a separa­
ção da Califórnia, do Colorado, do Arizona e do Novo México. Durante a 
Primeira Guerra Mundial, os alemães se envolveram nas intrigas, esperan­ ~ 
~ " 
do provocar uma maciça intervenção dos Estados Unidos no jl.1éxico. Se os ~ 
Estados Unidos entrassem em guerra com a Alemanha, o governo imperial 
"" propunha no telegrama de Zimmermann (1917) uma aliança militar com o % 
.... 
México e ajuda na recuperação dos territórios perdidos em 1848". ~ 
<A administração "Vilson havia tentado primeiramente influenciar os ne­ v 
gócios mexicanos através do solapamento do poder de Victoriano Huerta, "' '"::;: 
que, apoiado em parte pelo embaixador norte-americano anterior, havia de­ o("' 
posto Francisco Madero, o "apóstolo da democracia" e "pai" da Revolução. Ô 
Isso levou os Estados Unidos a ocupar o porto de Veracruz em abril de 1914, Q 
Z 
::>numa tentativa de impedir o fluxo de armas para Huerta. A subseqüente re-
~ 
o 
Q 
o( 
2, . CHAItLES H. HAKIUS 111 6 LOUIS R. SAUW', "The Plan of San Dicgo alld rhe Mexican-Unircd Srates 
'" 
~ 
V>'vVar Crisis of 191t.: A Reexamination", Hisprl1lic AmeriClHl Historical Ri}';ew, 58(3): 381-·IOX, 1~7(t 
o 
..L... 
638 
tirada foi mediada pela Argentina, pelo Brasil e pelo Chile. Após a derrota de 
Huerta, Wilson tentou estabelecer um compromisso entre os chefes revolu­
cionários em guerra, o que levou os Estados Unidos a apoiar Venustiano 
Carranza extra-oficialmente. Em conseqüência disso, Pancho Villa invadiu, 
em março de 1916, a cidade de Columbus, no Novo México. Wilson enviou 
uma expedição punitiva, comandada pelo general John J. Pershing, com or­
dens de capturar ViHa. A expedição não cumpriu a missão, mas forçou a dis­
persão do bando de ViIla. Os Estados Unidos e o México chegaram às portas 
da guerra em maio-junho de 1916. Todavia, a situação na Europa impedia 
qualquer envolvimento mais substancial no México e Pershing recebeu or­
dens de regressar aos Estados Unidos. Quando a guerra chegou ao fim na 
Europa, alguns norte-americanos renovaram seus apelos em favor da pacifi­
cação do México por força armada, mas a maioria dos funcionários do go­
verno sabiam que uma operação desse porte seria extremamente difícil e 
contaria com pouco apoio popular. 
Como se as relações Estados Unidos-México não fossem agitadas bas­
tante pela violência e pela intriga externa, surgiu outro fator de exacerba­
ção: a questão do tratamento e da situação das propriedades estrangeiras. 
O elemento nacionalista-reformista da liderança revolucionária exigia a re­
forma agrária e algum tipo de controle nacional dos investimentos estran­
geiros - especialmente na indústria petrolífera. As exigências foram docu­
mentadas claramente na Constituição de 1917, que incorporou a Doutrina 
Calvo em várias seções importantes sobre a propriedade da terra, o contro­
le dos direitos minerais e

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