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História da América Independente II

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Celso Ramos Figueiredo Filho
História da América 
Independente
 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................................................................................... 5
1 A INDEPENDÊNCIA .................................................................................................................................... 7
1.1 Resumo do Capítulo ..................................................................................................................................................... 11
1.2 Atividades Propostas.................................................................................................................................................... 11
2 O SONHO DE BOLÍVAR E SAN MARTÍN SE DESPEDAÇA ..............................................13
2.1 A Fragmentação da América Central ..................................................................................................................... 16
2.2 Resumo do Capítulo ..................................................................................................................................................... 17
2.3 Atividades Propostas.................................................................................................................................................... 17
3 O IMPERIALISMO NORTE-AMERICANO NA AMÉRICA CENTRAL ...........................19
3.1 Resumo do Capítulo ..................................................................................................................................................... 21
3.2 Atividades Propostas.................................................................................................................................................... 21
4 POLÍTICA E SOCIEDADE NA AMÉRICA LATINA ...................................................................23
4.1 Disputas de Fronteiras entre os Estados Latino-Americanos ........................................................................ 24
4.2 Resumo do Capítulo ..................................................................................................................................................... 27
4.3 Atividades Propostas.................................................................................................................................................... 27
5 ESTADOS UNIDOS NO SÉCULO XIX .............................................................................................29
5.1 Resumo do Capítulo ..................................................................................................................................................... 33
5.2 Atividades Propostas.................................................................................................................................................... 33
AMÉRICA INDEPENDENTE II .................................................................................................................35
6 O ESTADO OLIGÁRQUICO NA AMÉRICA LATINA ..............................................................37
6.1 As Forças Armadas ........................................................................................................................................................ 38
6.2 O Populismo .................................................................................................................................................................... 39
6.3 As Ditaduras Militares na América Latina ............................................................................................................. 43
6.4 Resumo do Capítulo ..................................................................................................................................................... 44
6.5 Atividades Propostas.................................................................................................................................................... 44
7 A QUESTÃO INDÍGENA NA AMÉRICA LATINA......................................................................45
7.1 Resumo do Capítulo ..................................................................................................................................................... 46
7.2 Atividades Propostas.................................................................................................................................................... 47
8 OS ESTADOS UNIDOS NO SÉCULO XX ......................................................................................49
8.1 A Primeira Guerra e a Crise de 1929 ....................................................................................................................... 49
8.2 A Segunda Guerra e a Guerra Fria ........................................................................................................................... 52
8.3 Resumo do Capítulo ..................................................................................................................................................... 54
8.4 Atividades Propostas.................................................................................................................................................... 55
9 AS REVOLUÇÕES NA AMÉRICA LATINA .............................................................................. 57
9.1 A Revolução Boliviana ............................................................................................................................................57
9.2 A Revolução Cubana ...............................................................................................................................................59
9.3 Resumo do Capítulo ................................................................................................................................................61
9.4 Atividades Propostas...............................................................................................................................................61
10 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................ 63
RESPOSTAS COMENTADAS DAS ATIVIDADES PROPOSTAS ..................................... 65
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................................. 69
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INTRODUÇÃO
Amigo(a) leitor(a),
Temos em mãos a tarefa de redigir uma apostila sobre a História da América Independente, dirigida 
a estudantes de Licenciatura em História, quer dizer, futuros(as) professores(as).
Isso signifi ca que temos que garantir a qualidade ante o público ao qual ela se destina e temos que 
assegurar que o conteúdo de dois séculos de história esteja minimamente contemplado. Isso porque 
nosso recorte cronológico inicial se localiza, no mínimo, nos anos imediatamente anteriores à eclosão 
das guerras de independência. Em termos das colônias ibéricas, estamos nos referindo aos impactos 
do maremoto napoleônico nas suas costas, ou seja, nos anos primeiros anos do século XIX. Mas, se nos 
referirmos às colônias inglesas na América do Norte, esse recorte deve retroceder em, no mínimo, trinta 
anos, lá pelo início da década de 1770. E o recorte fi nal pode ser localizado... hoje?!? 
E, quantos países que compõem esse vastíssimo continente? Dezenas. São exatas trinta e cinco 
nações independentes e mais dezenove possessões que remontam ao período colonial. Da Argentina ao 
Canadá. Quantas latitudes? Quantas geografi as? Quantas histórias?
São, pois, realidades históricas e espaços geográfi cos absolutamente díspares. Dos Pampas às pla-
nícies fl uviais dos Estados Unidos, passando pelos Altiplanos andinos, pelas belas ilhas e tão sofridas ilhas 
do Caribe, e não podemos nos esquecer das imensas fl orestas úmidas. Essas paisagens tão desiguais já 
eram, como você bem sabe, habitadas por populações também bastantediferentes. 
Sabidamente, a síntese do contato entre essas culturas e os europeus fez nascer sociedades muito 
diferentes entre si. Creio que a evidência das diferenças entre os haitianos e os uruguaios, por exemplo, 
seja tão clara a todos que me dispense de maiores argumentos sobre o resultado dessa síntese. 
Não podemos perder do nosso horizonte o fato de que os europeus implantaram, à força, é claro, 
vários modelos de exploração colonial. Todos muito nocivos para as populações pré-colombianas, po-
rém uns mais que os outros. Dezenas de nações indígenas foram exterminadas pelos ingleses e pelos 
portugueses no litoral, respectivamente, das Américas do Norte e do Sul. Isso ocorria ao mesmo tempo 
em que os guaranis do interior da mesma América do Sul estiveram razoavelmente a salvo do risco de 
extermínio enquanto viviam nas “Reduções”.
Todo esse preâmbulo visa a deixar bem claro a você, meu(minha) leitor(a), que fomos obrigados a 
fazer alguns voos panorâmicos para poder completar nossa viagem historiográfi ca a contento. Mas essas 
panorâmicas foram intercaladas por alguns rasantes, que nos permitiram ver bem de pertinho nosso 
objeto e esses objetos aos quais dirigimos um olhar privilegiado foram escolhidos pela relevância no 
cenário conjunto da América, especialmente, a Latina.
Em nosso olhar para a história da América, privilegiamos os aspectos políticos e econômicos e, 
quando necessário, os movimentos sociais. Lembramos que esta apostila atende aos conteúdos de Amé-
rica Independente I e também América Independente II, que será ministrada no próximo módulo. O cri-
tério da divisão, em partes I e II, respectivamente, é cronológico. A primeira parte cobre, grosso modo, o 
período que vai da independência até o início do século XX, quando tem início a segunda parte.
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Feita essa necessária digressão introdutória, devemos enfrentar outra distinção, e cremos, tão im-
portante quanto a anterior. 
Perguntamo-nos se a América Latina é, de fato, independente. 
Essa questão não só é pertinente como extremamente atual. Isso porque, nós, latino-americanos, 
devemos distinguir, e com muita clareza, três palavras fundamentais no vocabulário político e, portanto, 
do historiador. São elas: independência, emancipação e revolução. 
Os Estados Nacionais que surgiram na América Latina após as décadas iniciais do século XIX logra-
ram sua emancipação política, quer dizer, deixaram de ter seus destinos formalmente subordinados aos 
de uma metrópole transoceânica. Isso lhes permitiu instituir os regimes políticos que julgaram conve-
nientes, bem como estabelecer suas próprias leis. Mas, como veremos a seguir, estão ainda muito lon-
ge da sua independência efetiva, sobretudo se partirmos do ponto de vista econômico. Muitas dessas 
jovens nações têm sua independência política penhorada a novos senhores, como, por exemplo, Porto 
Rico e Panamá, quase verdadeiras neocolônias dos Estados Unidos. Nunca é demais lembrar que na Amé-
rica do Sul, na fronteira norte brasileira, ainda há uma colônia europeia. Trata-se do Departamento de 
Ultramar da Guiana Francesa. Quer dizer, a presença do dominador estrangeiro em solo americano não 
se limita ao controle, direto ou indireto, das suas economias, ao que alguns neoliberais empedernidos 
chamam modernidade, mas, como vemos, é uma realidade que transcende aos discursos ideológicos. 
Curiosidade: devido à Guiana, o Brasil é o país que tem com a França a maior extensão de fronteira, fato 
esse que explica os renovados interesses do governo francês em manter relações bastante cordiais com 
o governo brasileiro. 
Muito diferente foi o que ocorreu com a grande colônia britânica da América do Norte, que, por 
razões que veremos sucintamente a seguir, obteve independência política justamente porque já possuía 
sua independência econômica. Essa sua condição econômica ímpar em relação às demais regiões ame-
ricanas lhe permite exercer uma rigorosa dominação sobre quase todo o continente desde o século XIX.
Portanto, nossa missão é dupla: identificar as causas da dominação internacional na América Lati-
na, com o apoio cúmplice das elites locais, e, também, resgatar alguns dos momentos de luta pela eman-
cipação efetiva e de tentativas de construção de sociedades mais justas. Afinal, entendemos a história do 
mesmo prisma que Walter Benjamin:
A luta de classes, que um historiador educado por Marx jamais perde de vista, é uma luta pelas coisas brutas e 
materiais, sem as quais não existem as refinadas e espirituais. Mas na luta de classes essas coisas espirituais não 
podem ser representadas como despojos atribuídos ao vencedor. Elas se manifestam nessa luta sob a forma 
da confiança, da coragem, do humor, da astúcia, da firmeza, e agem de longe, do fundo dos tempos. Elas ques-
tionarão sempre cada vitória dos dominadores. Assim como as flores dirigem sua corola para o sol, o passado, 
graças a um misterioso heliotropismo, tenta dirigir-se para o sol que se levanta no céu da história. O materialis-
mo histórico deve ficar atento a essa transformação, a mais imperceptível de todas. (BENJAMIN, 1940).
Benjamin escreveu suas Teses sobre a história no calor dos acontecimentos que culminaram na eclo-
são da Segunda Guerra Mundial. Não lhe causou espanto, pois a violência tem prevalecido sempre, mas, 
motivado para que as classes trabalhadoras não se acumpliciem dessa barbárie, Benjamin lançou tão 
candente apelo e esse apelo ainda não foi atendido. 
Senhor(a) leitor(a), espero que esta Introdução lhe tenha despertado o interesse em ler nossa apos-
tila e espero ainda mais: que ela lhe tenha alguma serventia nessa árdua tarefa de ensinar História aos 
nossos jovens, dentro do espírito de uma educação transformadora.
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1 A INDEPENDÊNCIA
Os principais protagonistas e maiores inte-
ressados pela emancipação das colônias latino-
-americanas, assim como pela fragmentação da 
América Espanhola em várias nações, foram, para-
doxalmente, as elites criollas de cada região. Por-
tanto, a chamada “crise da independência” seria a 
busca por um novo pacto colonial que eliminaria 
o intermediário ibérico, colocando os produtos e 
importadores americanos em contato direto com 
os mercados internacionais. A reforma administra-
tiva das colônias imposta por Carlos III, em 1782, 
centralizou o poder com a criação das Intendências 
e, com isso, otimizou a arrecadação fi scal. Tal fato 
descontentou a elite criolla, que passou a aventar a 
ideia da separação. 
Ao mesmo tempo, a reforma, ao liberar o co-
mércio entre as colônias, barateou o custo de uma 
série de produtos. Em 1778, já havia sido abolido 
o monopólio comercial de Cádiz e permitido o co-
mércio intercolônias. Isso repercutiu na elevação 
da produção das minas de metais preciosos e no 
crescimento econômico em geral das colônias. 
Com isso, houve o crescimento pela demanda de 
produtos manufaturados, que a metrópole não po-
dia satisfazer.
Territórios coloniais europeus na América até 1776.
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Então, vivia-se uma realidade, no mínimo, 
contraditória. Por um lado, a coroa arrochava as 
metrópoles em termos de arrecadação fiscal e de 
repressão ao contrabando e demais práticas con-
sideradas lesivas ao Real Tesouro e, por outro lado, 
essas mesmas reformas estimularam a produção 
econômica em geral, mas seu efetivo crescimento 
estava estrangulado pelo exclusivo colonial. 
Tentando superar esse impasse, já em 1797, 
a Espanha havia aberto os portos das colônias aos 
parceiros comerciais. O maior beneficiário dessa 
medida foi os Estados Unidos (EUA), seguidos da 
Inglaterra, sendo que a presença desta se fazia 
mais sentida na América do Sul.
Nos anos iniciais do século seguinte, o cená-
rio iria se agravar. Aliada à França napoleônica no 
início do XIX, a Espanha foi sendo cada vez mais ali-
jada dos seus contatos comsuas colônias, devido à 
supremacia naval britânica. O clímax do isolamen-
to se deu com a vitória inglesa na Batalha de Trafal-
gar, que destruiu boa parte das armadas francesa e 
espanhola.
A ocupação napoleônica da Península Ibérica 
em 1807 trouxe a efetiva eliminação do pacto colo-
nial. Ainda que a América Espanhola se mantivesse, 
ao menos formalmente, leal a Fernando VII, as Jun-
tas de Sevilha, que substituíram o monarca preso 
por Napoleão, não tinham autoridade efetiva sobre 
as colônias. Isso acirrou o clima de mútua descon-
fiança que sempre reinou entre os peninsulares e 
os criollos, chegando inclusive à ocorrência de al-
guns confrontos armados entre ambos os grupos, 
a exemplo do episódio de La Paz, em 1809. Era o 
prenúncio das Guerras de Independência.
Com a derrota definitiva das Cortes de Sevi-
lha (1810), último reduto da monarquia espanho-
la ante o invasor napoleônico, desencadeou-se 
nas colônias o processo de independência, que se 
anunciava pacífico e legitimista, quer dizer, contra 
o dominador francês. Os separatistas não se apre-
sentavam, pois, nesse momento, como rebeldes, 
mas como legitimistas, herdeiros do poder real su-
primido pelo invasor francês. Essa independência 
tinha, pois, no mínimo, um caráter ambíguo. É por 
isso que, para a maioria absoluta dos historiadores, 
o processo de independência se deu em dois tem-
pos. 
No primeiro, anteriormente referenciado, 
que se iniciou em 1810 estendendo-se até 1817, a 
elite mercantil criolla afirmava-se leal ao rei depos-
to, Fernando VII, mas, sofrendo a oposição dos de-
mais setores da elite colonial, a exemplo da Igreja 
e dos mineradores, o movimento não progrediu, à 
exceção da região do antigo Vice-Reinado do Prata 
(Argentina, Bolívia, Uruguai e Paraguai). 
A segunda fase teve início após o retorno de 
Fernando VII ao trono (1815) em decorrência da 
derrota de Napoleão. A Espanha tentou reatar os 
apertados laços do pacto colonial tal como esta-
vam atados no final do século XVIII. Dessa feita, a 
Saiba maisSaiba mais
A batalha de Trafalgar, ocorrida em 21 
de outubro de 1805, resultou numa ca-
tástrofe para os projetos franceses. A in-
tenção da França e da sua aliada, a Espa-
nha, era a invasão da Ilha Britânica. Com 
essa derrota, a França optou por decre-
tar o Bloqueio Continental (22/11/1806), 
para tentar derrotar a Inglaterra através 
de desgaste econômico.
AtençãoAtenção
A data oficial da Independência mexi-
cana é o dia 16 de setembro, pois, nesta 
data, em 1810, o padre Miguel Hidalgo y 
Costilla, na pequena paróquia da cidade 
de Dolores, deu o “Grito de Dolores”, mar-
cando assim o início da primeira etapa do 
processo de independência desse país.
Fernando VII.
História da América Independente
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união entre todos os setores da elite criolla fez-se 
inevitável. Resultado: de 1817 a 1820, em toda a 
antiga América Espanhola, com exceção de Cuba e 
Porto Rico, surgiram nações independentes.
Quase todas as revoltas tiveram sua origem 
nos “Cabildos”, instituições análogas às câmaras mu-
nicipais. Os “cabildos abiertos” instituíram juntas go-
vernativas para substituir as autoridades peninsu-
lares (Caracas, 19/4/1810; Buenos Aires, 25/5/1810; 
Bogotá, 27/7/1810; Santiago, 18/9/1810). Contu-
do, o caráter conservador e regionalista das elites 
criollas logo se manifestou. No primeiro aspecto, 
tolerou-se pouco a participação de estratos menos 
elitizados da população nas juntas governativas que 
se estabeleceram depois da independência. Isso 
se evidenciou através da pouca profundidade nas 
transformações político-sociais, cabendo ao povo 
de forma geral a mera função de soldados quando 
das guerras pela independência. Em relação ao se-
gundo aspecto, salientamos a quase imediata frag-
mentação dos territórios da América Espanhola nas 
diversas nações que surgiram nesse momento. 
É importante lembrarmos que, na rígida es-
trutura da sociedade colonial, os espanhóis pe-
ninsulares, chamados “chapetones” pelos nativos, 
ocupavam o topo de forma inconteste. Era como se 
eles constituíssem uma casta superior na socieda-
de americana, à qual estavam reservados os postos 
da administração colonial e os comandos militares 
mais importantes. Eram igualmente oriundos da 
metrópole os membros da cúpula eclesiástica e, 
diga-se de passagem, a Igreja era um poder efeti-
vo, para além das questões meramente espirituais. 
Exemplo disso é o fato de a Igreja ser proprietária, 
em algumas regiões, como o México, de 40% das 
propriedades urbanas. 
Na escala social colonial, o degrau interme-
diário era ocupado pelos criollos – descendentes 
diretos dos espanhóis, nascidos na América. Com-
punham a elite econômica, concentrando em suas 
mãos a maior parte das atividades comerciais, além 
de serem importantes proprietários rurais. Porém, 
apesar da condição econômica privilegiada, esta-
vam excluídos da administração colonial e o pro-
cesso de independência será conduzido por mem-
bros desse grupo social. 
Finalmente, no último degrau da pirâmide 
social estavam os negros e os índios. Quanto aos 
mestiços em geral, ainda que fossem considerados 
homens livres, eram alvo de discriminação, o que, 
na prática, os colocava numa situação parecida com 
a dos indígenas. Serão muito beneficiados com a in-
dependência.
Com a eclosão da guerra de independência, 
as elites criollas vão procurar aliados nos demais 
segmentos da sociedade, o que acabou por levar 
ao envolvimento na guerra, de forma geral, de to-
das as camadas da população das colônias onde 
elas ocorreram. Uma das consequências de longa 
duração desse fato foi a militarização das relações 
políticas, que se manifesta até o presente momento 
em vários dos países latino-americanos, a exemplo 
de Honduras, abalada por um golpe de Estado co-
mandado por setores do Exército, no mês de junho 
de 2009. Em curto prazo, essa militarização que so-
breviveu à independência gerou um corpo de ofi-
ciais imenso, que resistiu à desmobilização e que-
ria sua recompensa, na forma de cargos públicos e 
posições na hierarquia do governo. A manutenção 
desses exércitos em alguns países chegou a consu-
mir até 50% das rendas públicas.
Essa militarização decorreu, entre outros fa-
tores, da arregimentação de tropas pelos grandes 
proprietários rurais. Essas lideranças locais ou regio-
nais passaram a procurar ampliar sua área de influ-
ência para além das suas propriedades e circunvizi-
nhanças, dando origem a um fenômeno social que 
acabou sendo conhecido por caudilhismo, muito 
semelhante àquilo que no Brasil denominamos co-
ronelismo. Além dessa militarização, as terras de-
volutas ou comunais indígenas continuaram a ser 
moeda de troca nos favorecimentos políticos. Isso 
levou a um enfraquecimento político dos antigos 
estratos urbanos, sobretudo aqueles ligados ao co-
mércio internacional, bem como da Igreja, cuja anti-
ga cúpula de origem “chapetona” foi substituída por 
lideranças locais. Significativo o fato de o Papa, num 
primeiro momento, não ter reconhecido nenhuma 
das nações recém-surgidas nas primeiras décadas 
do século XIX.
DicionárioDicionário
Caudilho: donde provém a expressão ‘caudilhis-
mo’; era um chefe político-militar, cuja autorida-
de, em geral, provinha do seu status econômico 
privilegiado. Noutras palavras, quase sempre se 
tratava de um proprietário rural poderoso que, 
com seu séquito de aliados e seu exército de 
capangas, ameaçava o poder central.
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Apesar de armadas pelos caudilhos, as mas-
sas camponesas em nenhum lugar, exceto na Ban-
da Oriental, sob o comando de Artigas, realizaram 
movimentos em proveito próprio. Em todos os 
locais, a população, quando armadas, atuou res-
paldando as lideranças criollas1 e, em vários casos, 
líderes militares que, anteriormente à guerra, ocu-
pavam posições sociais intermediárias, ao seu final, 
tornaram-se políticos conservadores quando alça-
dos ao poder.
Certamentehavia setores conservadores da 
sociedade, como ainda há, que se beneficiavam 
dessa retaguarda armada, pois equivalia a uma 
garantia de que a democracia não escapasse aos 
limites desejados por essa elite. Prova de que as 
estruturas sociais pouco se modificaram com a in-
dependência está no fato de que a escravidão não 
foi abolida na maioria das nações recém-surgidas, 
tampouco o status de casta inferior dos indígenas 
foi modificado. É importante destacar que parte 
expressiva da população indígena não desejava a 
independência, pois via na coroa uma proteção, 
ainda que relativa, contra os desmandos das elites 
criollas. Apenas os mestiços e homens brancos po-
bres conseguiram uma mobilidade social um pou-
co maior, ao passarem a poder concorrer a postos 
públicos. Outro grupo social que logrou rápida as-
censão foi a dos especuladores financeiros. Por te-
rem sido responsáveis pela sustentação financeira 
dos exércitos separatistas e, após a independência, 
por assegurarem as finanças dos novos Estados, 
os financistas tornaram-se verdadeiras “iminências 
pardas” de várias nações latino-americanas.
Do ponto de vista do comércio internacio-
nal, a América Latina era vista pela Europa e pelos 
EUA quase exclusivamente como um local propício 
para o escoamento das suas manufaturas. Não ha-
via a intenção, pelo menos até as décadas de 1840 
e 1850, de realizar investimentos de capitais direta-
mente na produção, devido ao temor pela instabili-
dade política. Novos agentes comerciais foram for-
talecidos, em lugar daqueles que se beneficiavam 
do antigo comércio colonial, pois os europeus pre-
tendiam o controle direto ou associado a comer-
ciantes locais do fluxo de mercadorias. Por isso que, 
até a década de 1830, boa parte do comércio lati-
no-americano estaria nas mãos de ingleses e dos 
seus associados locais. É importante lembrar que o 
mercado interno era limitado e que as exportações 
não cresciam no mesmo ritmo que as importações, 
que acabaram se tornando as maiores fontes de tri-
butos. Em tempo, somente na década de 1850 os 
EUA iriam despontar como uma efetiva ameaça ao 
comércio inglês na América Latina.
Após a independência, os comerciantes que 
haviam controlado as redes mercantis coloniais ti-
veram as maiores perdas, pois as rotas haviam se 
transferido e estavam em mãos estrangeiras. Ao 
mesmo tempo, a progressiva entrada de manu-
faturas estrangeiras infligiu pesadas perdas para 
o artesanato local. A guerra rompera as rotas co-
loniais de metais preciosos, além de ter prejudica-
do bastante a produção das minas. Por exemplo, a 
produção mexicana atingiu os mesmos índices do 
pré-independência apenas em 1850.
Outra consequência de longo prazo das guer-
ras de independência, muito diretamente ligada à 
dominação estrangeira, e que parecia insuperável, 
como ainda parece, é a estagnação econômica. 
Despotismo, militarização, corrupção, tudo isso le-
vou a um desfalecimento dos sonhos e projetos de 
renovação tão acalentados nos inícios da revolu-
ção, como veremos em uma das nossas aulas web. 
1 Artigas foi um líder da independência do atual Uruguai. Em 1828, o Uruguai foi criado como um Estado-tampão entre o 
Brasil e a Argentina.
General Artigas.
História da América Independente
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Neste capítulo, estudamos por quais razões as colônias espanholas na América buscaram sua inde-
pendência política. Entre as causas desse processo, destacamos a tentativa da coroa espanhola, nos anos 
finais do século XVIII, em aumentar a intensidade da exploração colonial, o que desagradou sobrema-
neira aos colonos. Ao mesmo tempo, as desigualdades sociais entre as elites coloniais e os espanhóis de 
nascimento desagradavam sobremaneira aos primeiros. Por fim, houve a conjuntura das Guerras Napo-
leônicas como estopim de todo o processo de independência, formalmente iniciado em 1810.
Agora, caro(a) aluno(a), vamos agora avaliar sua aprendizagem.
1.1 Resumo do Capítulo
Caro(a) aluno(a), vamos agora verificar sua aprendizagem. Para isso, responda às perguntas que 
seguem e, para conferir as respostas, de um pulinho na penúltima sessão da apostila.
1. A quais fatores podemos atribuir o sucesso dos movimentos de independência na América 
Espanhola?
2. Por que podemos afirmar que a independência da América Latina não trouxe grandes benefí-
cios para as populações oprimidas na região?
1.2 Atividades Propostas
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2 O SONHO DE BOLÍVAR E SAN MARTÍN SE DESPEDAÇA
Neste capítulo, caro(a) aluno(a), veremos que 
a fragmentação da América Espanhola, contra-
riando os sonhos de Bolívar e de San Martín, já era 
uma tendência que se manifestava na colônia. As 
Audiências eram foros privilegiados na administra-
ção colonial espanhola. Portanto, as cidades que as 
abrigavam, evidentemente, se destacavam das de-
mais. Por isso, de forma geral, elas foram os polos 
aglutinadores das aspirações separatistas.
Aliás, diga-se de passagem, o projeto boli-
variano estava longe de ser social e politicamente 
avançado, mesmo para os padrões da época. Pro-
punha a República, com um presidente vitalício, 
cujo reduzido corpo eleitoral – restrito aos “ho-
mens bons” – daria a necessária retaguarda legisla-
tiva. Tudo isso em nome das elites criollas.
Simon Bolívar nasceu em Caracas, na Capi-
tania Geral da Venezuela, em 1783, numa família 
aristocrática de ascendência espanhola. Com edu-
cação esmerada, empreendeu, ainda jovem, duas 
viagens de estudos para a Europa. Na segunda, em 
1804, esteve na França, onde conheceu de perto os 
efeitos da Revolução de 1789 e da expansão napo-
leônica, que o deixaram muitíssimo impressiona-
do. Sua permanência na Europa se prolongou até 
1806, período no qual aprofundou seus estudos 
sobre Ciências, História e Literatura, sendo bastan-
te infl uenciado pelas ideias contratualistas. Nesse 
ano, Bolívar soube das conspirações pró-indepen-
dência da Venezuela, lideradas pelo general Fran-
cisco Miranda, decidindo voltar ao seu país. No seu 
retorno à América, já imbuído dos ideais emanci-
pacionistas, Bolívar percorreu várias cidades norte-
-americanas, numa viagem de meses de duração. 
Foi quando pôde conhecer in loco a organização de 
uma grande federação.
Quando da deposição de Fernando VII por 
Napoleão, em 1808, Bolívar aderiu à Junta Gover-
nativa que não reconheceu a autoridade de José 
Bonaparte e que, dois anos depois, proclamou a 
independência da Venezuela. A reação espanhola 
foi intensa, estendendo a guerra até 1814 e para 
os territórios do Vice-Reinado da Nova Granada 
(Colômbia, Panamá e Equador), porém sucessivas 
derrotas militares o obrigaram, já como um dos 
maiores líderes da independência, a exilar-se na 
Jamaica. 
Desde a derrota na primeira fase das lutas de 
independência, em 1815, Simon Bolívar anunciou 
sua intenção de organizar uma federação pan-
-americana; vide a sua “Carta da Jamaica”, ilha in-
glesa onde se exilou.
Renascido o movimento pela independência 
na Venezuela, em 1816, Bolívar retornou ao país. 
Com a derrota defi nitiva dos espanhóis, Bolívar, 
então presidente da Colômbia, convocou em 1826 
o Congresso do Panamá. Seu desejo era organizar 
uma confederação americana que englobasse to-
das as Américas. Enviaram representantes os go-
vernos da Federação Centro-Americana, México e 
Grã-Colômbia (Colômbia, Venezuela e Equador e o 
atual Panamá, então província da Colômbia). Nota 
curiosa, os EUA enviaram representante, mas o dig-
natário morreu na viagem e o país acabou não ten-
do tempo para enviar outro missionário. 
AtençãoAtenção
A Grã-Colômbia existiu até 1863, quando 
se desmembrou nos atuais Equador, Ve-
nezuela e Colômbia. O Panamá separou-
-se desta em 1903.
Celso Ramos Figueiredo Filho
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No seu entendimento, a grande federação a 
ser formada deveria ser governada por um execu-
tivo forte, centralizador. Isso porque Bolívar estava 
convencido de que as populações sul-americanas,pelo fato de terem sido secularmente subjugadas, 
não saberiam conviver numa democracia. Em 1821, 
foi eleito presidente da Grã-Colômbia.
A guerra de independência havia sido de-
veras desgastante, sob todos os aspectos, para 
as novas nações sul-americanas. Exauridas, não 
tinham recursos para enfrentar as sucessivas ten-
tativas de invasão por parte da Espanha e a ideia 
de recorrer a auxílio externo, leia-se Inglaterra, con-
trariava os princípios independentistas de Bolívar. 
Esta, por sua vez, ansiava por unidades políticas 
cada vez maiores, mas não interferia diretamente 
nos processos políticos internos. Portanto, não era 
um parceiro inconteste. Em várias dessas regiões, 
poderosas lideranças locais, fortalecidas durante a 
guerra, se opunham aos ideais federalistas de Bolí-
var, defendendo a criação de pequenas unidades 
autônomas.
Ressalva importante, em várias dessas regi-
ões, os federalistas eram maçons, isto é, anticleri-
cais, e, sabidamente, a Igreja Católica sempre exer-
ceu uma influência muito grande junto a amplos 
segmentos da sociedade. Portanto, os projetos es-
tatais inspirados em ideais iluministas, laicos, que 
defendiam a separação entre o Estado e a Igreja, 
evidentemente eram boicotados por esta.
Em 1828, ao se reunir novamente o Congres-
so da Grã-Colômbia para a escolha do sucessor de 
Bolívar, as duas tendências – federalistas-bolivaria-
nos e unitaristas, sendo que estes contavam com 
o apoio da Igreja – já estavam de tal forma sepa-
radas que qualquer possibilidade de consenso se 
mostrou inviável. Apesar de reeleito, Bolívar en-
frentava sérias ameaças de cisões. Renunciou em 
1830, retirando-se para um autoexílio em Santa 
Marta (Colômbia), onde morreu pouco depois (17 
de dezembro), aos 47 anos de idade, abandonado 
e desgostoso.
Nesse mesmo ano de 1830, em abril, a Vene-
zuela já havia optado pela separação. O mesmo fez 
o Equador, em agosto. 
 Uma de suas últimas cartas, datada de 
pouco mais de um mês antes da sua morte, lemos 
um Bolívar amargo, elencando as razões de sua de-
silusão: 
1. a América é ingovernável;
2. aquele que serve a uma revolução para 
no mar;
3. a única coisa que se pode fazer é emi-
grar;
4. esse país cairá infalivelmente em mãos 
de multidão desenfreada, para depois 
passar a pequenos tiranos quase imper-
ceptíveis, de todas as raças e cores;
5. devorados por todos os crimes e extin-
tos pela ferocidade, os europeus não se 
dignarão a nos conquistar;
6. se fosse possível que uma parte do mun-
do se voltasse ao caos primitivo, este se-
ria o último período da América.
 Bolívar estava certo nesse seu último sus-
piro? O século seguinte da nossa história deu-lhe 
razão. E o próximo? Cabe a nós responder a essa 
incômoda pergunta.
Vejamos agora, brevemente também, o 
projeto de José Francisco de San Martín y Mator-
ras ou, mais simplesmente, San Martín. Nasceu na 
Argentina (então Vice-Reinado do Prata), na loca-
lidade de Yapeyú, em 1778, e faleceu na França, 
em 25/2/1850. Foi um general argentino, líder da 
independência de seu país e também do Chile e do 
Peru, apoiando as ações militares de Bolívar. Iniciou 
sua carreira militar na Espanha, para onde havia se 
mudado com a família quando criança. Nos anos 
finais do século XVIII, participou ativamente, ainda 
como oficial de baixa patente, em diversas campa-
nhas militares promovidas pela coroa espanhola, 
Saiba maisSaiba mais
Oligarquia: do grego oligo, que signifi-
ca grupo, e arquia, que designa gover-
no. Em política, significa governo de um 
grupo. O grupo pode ser de qualquer 
natureza, por exemplo, a oligarquia ca-
feeira no Brasil da República Velha.
História da América Independente
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15
como, por exemplo, contra as tropas napoleônicas 
na região dos Pirineus (1797) e nas batalhas navais 
contra os ingleses (1797-1798).
Por ocasião da invasão francesa à Espanha 
em 1808, San Martín engajou-se no exército de re-
sistência, sendo promovido a capitão de um regi-
mento que teve ação de destaque na retomada de 
Madri. Por esse bem-sucedido comando, foi pro-
movido a tenente-coronel. 
No exército, tomou conhecimento de que 
em diferentes partes da América, a exemplo do Vi-
ce-Reinado do Prata, as Juntas Governativas que se 
formaram para resistir à dominação francesa aca-
baram manifestando intenções separatistas. Ainda 
no exército espanhol, conheceu militares ingleses 
que o puseram em contato com compatriotas ame-
ricanos que se reuniam, na Inglaterra, numa loja 
maçônica denominada Loja Lautaro. Fazia parte 
dessa loja, entre outros, Francisco de Miranda, alia-
do de Bolívar na emancipação da Venezuela. Nessa 
ocasião, por volta de 1811, desligou-se do exército 
espanhol, retornando à Argentina para engajar-se 
nas lutas pela libertação.
Logo, devido às suas habilidades militares e à 
capacidade de liderança, foi nomeado General do 
governo de libertação. Sabedores das iniciativas 
separatistas em Nova Granada, sob a liderança de 
Miranda e Bolívar, decidem então tentar a liberta-
ção de toda a América do Sul espanhola. Até 1814, 
a resistência espanhola na atual Argentina estava 
praticamente debelada, de forma que San Martín 
e outros revolucionários planejavam atravessar os 
Andes e invadir o Chile, depois o Peru. Evidente-
mente contavam com apoio de boa parte da po-
pulação local. 
Em 1817, iniciou a travessia da Cordilheira. 
Dura resistência realista, que chegou a impor der-
rotas graves ao exército libertador, prolongou a 
campanha no Chile até 1818. Em 5 de abril desse 
ano, a vitória na Batalha de Maipú assegurou a li-
bertação chilena. 
Em 1820, era esse o cenário das lutas pela 
independência da América do Sul Espanhola: no 
Norte, Venezuela e Nova Granada estavam prati-
camente libertos; no Sul, o Vice-Reinado do Pra-
ta, idem. O Chile fora liberto em 1818. Restava o 
Peru. San Martín decidiu invadi-lo em setembro de 
1820. Nove meses depois, em 28 de julho de 1821, 
ocupou Lima, capital do Peru, e, após consultar a 
população, declarou independência. Sem ter a su-
premacia militar necessária, pediu apoio a Bolívar, 
então presidente da Grã-Colômbia, que a enviou, 
assegurando assim a independência também do 
Peru.
Porém, ao re-
tornar à Argentina, 
as lutas internas en-
tre Buenos Aires e as 
demais províncias 
logo o desiludiram. 
Batalha de Maipú, 5/4/1817.
Bandeira da Grã-Colômbia.
Celso Ramos Figueiredo Filho
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O país vivia mergulhado numa insolúvel 
guerra civil, que arrebanhava também a Banda 
Oriental. Por isso, em 1824, decidiu emigrar, viajan-
do para a França, aonde veio a morrer em 1850.
2.1 A Fragmentação da América Central2
Em 1823, as antigas províncias da Capitania 
Geral da Guatemala proclamaram sua indepen-
dência. Eram elas: Honduras, El Salvador, Nicará-
gua, Costa Rica e a Guatemala propriamente dita. 
Chiapas, a província mais ao norte da Capitania, 
optou por anexar-se ao território mexicano. For-
maram uma república federativa, cuja capital era 
a Cidade da Guatemala, e um legislativo bicame-
ral. Cada unidade da federação tinha o seu próprio 
conjunto de três poderes, o que preservava grande 
autonomia para as oligarquias locais.
Em todo o país, predominava a disputa en-
tre os liberais e os conservadores. Os primeiros, de 
onde brotou o movimento pela independência, 
desejavam um Estado laico, a aplicação dos princí-
pios liberais na economia e a ocupação das terras 
indígenas. Também propugnavam um poder cen-
tralizado. Seu grupo mais forte era composto pelos 
antigos membros das elites criollas que, apesar do 
poder econômico proveniente, sobretudo, do co-
mércio, estava alijadas da estrutura do poder polí-
tico colonial.
Os assim denominados “conservadores” eram 
remanescentes das elites realistas, que também 
atuavam no comércio, sobretudo naqueles setores 
monopolizados pela coroa, mas eram, principal-
mente, grandes proprietários rurais. Eram mais au-
tonomistas e, na estrutura administrativacolonial, 
ocupavam os postos de comando administrativo 
e militar. Tinham o apoio da Igreja, pois queriam a 
instauração de um Estado católico.
Uma guerra civil opôs violentamente os dois 
grupos a partir de 1826. Com sua vitória, os liberais 
impuseram graves reveses aos conservadores e à 
Igreja, além de estabelecerem um poder ditatorial, 
exercido pelo general hondurenho Francisco Mo-
razán. 
A situação, em nada consensual, gerou outra 
guerra civil, iniciada em 1873. Isso porque, com o 
poder centralizado nas mãos do ditador, as unida-
des da federação foram perdendo cada vez mais 
sua autonomia. Em 1838, a Costa Rica abandonou 
a confederação, seguida de pronto pela Nicarágua 
e por Honduras. Formalmente, as Províncias Unidas 
deixaram de existir em 1839. 
2 Esse tema é assunto também de uma aula web.
Saiba maisSaiba mais
Na América Central, as Províncias Uni-
das da América Central dividiram-se em 
1841, dando origem aos países que hoje 
compõem o Istmo, à exceção do Pana-
má, separado da Colômbia no início do 
século XX.
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2.2 Resumo do Capítulo
Nossa longa trajetória neste capítulo está chegando ao fim. Vamos agora somente dar uma revisa-
da neste importante conteúdo.
Vimos que Símon Bolívar teve seu projeto de integração americana interrompido pelas disputas 
intraelites, cujos particularismos levaram à secessão de todo o antigo território do império colonial espa-
nhol. Aliás, a preservação dos interesses das elites de cada uma das antigas províncias de todos os vice-
-reinados está na raiz da gênese das atuais nações latino-americanas.
Caro(a) aluno(a), vamos agora conferir seus conhecimentos sobre o assunto tratado anteriormente.
2.3 Atividades Propostas
1. Em relação à América Central, por que podemos afirmar que ela estava fadada à fragmentação 
desde a Independência?
2. Como podemos confirmar o descrédito do próprio Bolívar no seu outrora tão acalantado pro-
jeto de unificação da América?
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Neste capítulo, vamos estudar como os EUA 
substituíram as antigas metrópoles coloniais tão 
logo elas foram expulsas do continente.
Já falamos anteriormente que a presença 
inglesa na América Central, assim como em pra-
ticamente todas as antigas áreas de colonização 
ibérica, já se fazia sentir fortemente desde antes da 
independência. Nas guerras contra a França napo-
leônica, os ingleses foram os maiores aliados dos 
espanhóis, tendo como contrapartida praticamen-
te o monopólio do comércio internacional das “Ín-
dias”. O controle econômico da região só não era 
absoluto devido à presença norte-americana, tam-
bém importante, especialmente na América Cen-
tral e no Caribe, desde o século XVIII. Com a pro-
gressiva industrialização dos EUA no decorrer do 
XIX, somada à sua política expansionista, as áreas 
circunvizinhas da América Latina foram se tornan-
do cada vez mais interessantes. Instaurou-se, pois, 
uma disputa comercial entre os britânicos e os ian-
ques.
É importante ressalvar, caro(a) aluno(a), que 
em momento algum, ao longo de todo o século 
XIX, a rivalidade comercial entre a Inglaterra e sua 
ex-colônia, no tocante à América Central e Caribe, 
ameaçou degringolar em confl ito. Isso porque am-
bos eram, entre si, os respectivos parceiros econô-
micos mais importantes. Portanto, as trocas fi nan-
ceiras e comerciais nas rotas do Atlântico Norte 
suplantavam em muito, em termos de importân-
cia, as trocas centro-americanas. Com efeito, não 
havia o menor interesse em ameaçar essa relação 
tão lucrativa para ambos, muito menos por um 
comércio de dimensões tão reduzidas quanto o 
centro-americano. E, para amenizar de vez as rela-
ções entre ingleses e norte-americanos na região, 
em 1850 foi assinado pelos respectivos governos o 
Tratado Clayton-Bulwer. Através desse instrumen-
to, os dois países se comprometiam a não inva-
dir, ocupar, anexar ou colonizar nenhuma área da 
América Central e ainda davam garantias mútuas 
de apoio à construção do canal que ligaria o Atlân-
tico ao Pacífi co.
Mas alguma disputa houve e esta se acen-
tuou radicalmente quando da descoberta do ouro 
na Califórnia, no fi nal da década de 1840. Nessa 
ocasião, a rede ferroviária norte-americana ainda 
não unia as duas costas e, especialmente, a Califór-
nia, pois esta era território mexicano. Assim sendo, 
o caminho mais curto entre o leste e o oeste dos 
EUA passava pelo istmo centro-americano. Isso le-
vou o governo norte-americano a negociar com 
a Nicarágua, em 1849, a construção de um canal 
transoceânico. No ano anterior, em 1848, já havia 
sido assinado um acordo entre os EUA e a Colôm-
bia para a construção de um canal na então pro-
víncia colombiana do Panamá. Em 1903, os EUA 
fomentaram a separação do Panamá em relação à 
Colômbia, para obter maiores facilidades na cons-
trução do canal, que efetivamente teve início em 
1908 e foi concluído em 1914.
A Inglaterra, ainda hegemônica na região na 
metade do século XIX, adotou uma estratégia di-
ferente daquela adotada pelos norte-americanos. 
Optando por agir como árbitro nos diversos lití-
gios por fronteiras e navegação que envolveram 
os países centro-americanos, assegurou uma forte 
presença diplomática na região. A estratégia fun-
cionou durante décadas, pois a Inglaterra perma-
neceu como o país estrangeiro de maior presença 
na América Central até o século XX.
3 O IMPERIALISMO NORTE-AMERICANO NA AMÉRICA CENTRAL
Celso Ramos Figueiredo Filho
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20
Aliás, o verificado em relação à América 
Central pode, nos seus traços gerais, ser aplicado 
à América Latina como um todo, Brasil incluso. O 
rompimento do pacto colonial com a independên-
cia beneficiou principalmente as elites ligadas ao 
comércio internacional. Manteve-se, pois, a mes-
ma dependência econômica externa em relação 
à Inglaterra, primeiramente, e, depois, em relação 
aos Estados Unidos e a outros países. Estes, de 
forma muito conveniente e com a conivência das 
elites locais que lhes eram associadas, difundiram 
a ideia de que os países latino-americanos deve-
riam continuar se especializando na exportação 
de produtos primários. Desse modo, continuavam, 
e continuam até hoje, a fornecer matérias-primas 
aos países industrializados e a importar os manufa-
turados – muito mais caros – destes. Se, nos séculos 
XVIII e XIX, as mercadorias inglesas abarrotavam os 
portos latino-americanos, hoje são as empresas 
transnacionais de várias procedências, mas, sobre-
tudo, norte-americanas, instaladas no território de 
vários desses países que sufocam sua possibilidade 
de independência econômica. 
Essas indústrias, para se instalarem, necessi-
tam de obras de infraestrutura: rede de transpor-
tes, energia elétrica, derivados de petróleo etc. Os 
países latino-americanos, por sua vez, para atender 
a essas exigências, sem dinheiro em caixa, foram 
buscá-lo no sistema financeiro internacional. Moral 
da história: a impagável dívida externa. 
Esse processo de industrialização se fez com 
capitais multinacionais e teve lugar a partir dos 
anos 1920 (Argentina) e 1950 (Brasil). O México 
também viveu esse processo, durante os anos 1930 
e 1950. Ele é chamado “industrialização tardia”. O 
adjetivo ‘tardia’ é uma referência à industrialização 
“clássica”, ou seja, aquela verificada no final do sé-
culo XVIII e início do XIX, no processo histórico que 
ficou mais conhecido com Revolução Industrial. 
Mas a diferença fundamental entre as duas 
industrializações não é cronológica, obviamente; 
diz respeito à origem dos capitais investidos no 
surgimento das indústrias. Na industrialização clás-
sica, o capital é propriedade da burguesia nativa 
dos respectivos países, Inglaterra, Bélgica, França 
etc., e foi acumulado através da exploração, dire-
ta ou indireta, de colônias noutros continentes. No 
caso da industrialização “tardia”, ela ocorre a partir 
de capitais externos ao país que está se industria-lizando, aliás, capitais esses provenientes dos mes-
mos países que viveram a industrialização clássica. 
AtençãoAtenção
Os EUA devolveram o controle do Canal 
ao Panamá somente em 1999, por força 
do Tratado Torrijos-Carter, de 1977.
AtençãoAtenção
A categoria teórica “Terceiro Mundo” 
surgiu pela primeira vez num artigo 
do demógrafo e economista Fran-
ces Alfred Sauvy, publicado no jornal 
L’Obervateur,em 1952.
Traçado atual do Canal do Panamá (1908-1914).
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21
Quando se instalam nos países de Terceiro Mundo, 
as multinacionais normalmente o fazem mediante 
uma série de vantagens fiscais, que as indústrias 
similares locais jamais obteriam. Ao mesmo tem-
po, essas empresas reenviam para suas sedes boa 
parte dos lucros obtidos nas operações no Tercei-
ro Mundo, além do pagamento de royalties e de 
know-how pelo uso das marcas e dos projetos in-
dustriais, respectivamente.
Assim, o século XX presenciou a construção 
de um novo pacto colonial entre os países hege-
mônicos no capitalismo mundial e na América La-
tina. Sob a pecha de serem o “celeiro do mundo” 
ou de “terem uma vocação agrícola”, muitos países 
latino-americanos não buscaram modelos econô-
micos alternativos e aqueles que buscaram a in-
dustrialização “tardia” acabaram caindo em formas 
diferentes da mesma dominação.
Saiba maisSaiba mais
Empresas transnacionais são aquelas 
que possuem a matriz no seu país de 
origem, mas mantêm filiais em diversos 
outros. O termo substitui “multinacio-
nais”, pois este pode levar à suposição 
de que se trata de uma empresa cuja 
propriedade é de várias nações.
3.1 Resumo do Capítulo
Vamos agora resumir um pouco o que vimos neste capítulo.
Estudamos que, desde o início do século XIX, os EUA olhavam cobiçosamente para o restante da 
América. Exemplo disso é a própria doutrina “Monroe”, criada pelo presidente James Monroe, em 1823, 
que determinava a “América para os americanos”, afastando, dessa forma, interesses europeus do con-
tinente. Obviamente que a expansão norte-americana pela região foi facilitada pelos interesses locais, 
quer dizer, pela cumplicidade com amplas parcelas das elites locais que se beneficiavam com os acordos 
comerciais com os EUA. Exemplos marcantes da presença imperialista norte-americana são a Emenda 
Platt, em Cuba (1901), e a independência do Panamá (1903), que está diretamente relacionada ao Canal 
do Panamá
Então, passemos a conferir nossa aprendizagem sobre este capítulo.
3.2 Atividades Propostas
1. Apesar de a América Central interessar sobremaneira aos EUA, por que jamais houve a ameaça 
de um conflito entre eles e a Inglaterra, então a toda poderosa na região?
2. Por que podemos afirmar que a independência do Panamá foi uma ação imperialista dos EUA 
na América Central?
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Já falamos anteriormente que a independên-
cia benefi ciou principalmente à elite criolla e, em 
um grau muitíssimo menor, aos mestiços. Mas os 
criollos foram indiscutivelmente os maiores bene-
fi ciados, pois passaram a controlar os Estados re-
cém-criados. É bom que se frise que não tinham o 
menor interesse em criar uma nova estrutura social. 
A exploração dos camponeses, indígenas e demais 
setores populares permaneceu intacta. Prova dis-
so é o fato de que, em praticamente em nenhum 
dos novos países, a escravatura foi abolida imedia-
tamente à independência. Mesmo em termos da 
elite, sua composição permaneceu exatamente a 
mesma: não surgiu uma burguesia industrial e o 
poder continuou a ser disputado entre os latifundi-
ários e a burguesia mercantil.
Este se dividia entre os Liberais e os Conser-
vadores, todos da elite, mas alguns mais elitistas 
que os outros ou mais católicos. As disputas res-
tringiam-se à ampliação ou não de alguns poucos 
direitos civis ou então à limitação dos privilégios 
da Igreja Católica. O liberalismo latino-americano 
restringia-se à defesa da livre-iniciativa e do direito 
de propriedade. No mais, eram boas ideias e belos 
discursos. 
O poder incontestável dos grandes proprie-
tários rurais fazia deles os verdadeiros soberanos 
nas regiões por eles controladas. Muitas vezes, seu 
poder era de tal monta que nem mesmo o exérci-
to nacional era capaz de batê-lo. Na América Es-
panhola, esses potentados locais foram denomi-
nados “caudilhos”, enquanto que no Brasil foram 
chamados “coronéis”. Exercem seu poder sobre a 
população das regiões onde possui suas fazendas, 
através de um misto de paternalismo com terror 
surdo, sempre escudados por um batalhão de ja-
gunços – o seu verdadeiro exército pessoal. 
As camadas médias urbanas que existiam, 
e em parte ainda existem na América Latina, não 
eram compostas por trabalhadores assalariados ur-
banos, mas sim por pequenos comerciantes, fun-
cionários públicos e militares. Isso signifi ca que, no 
geral, eram indivíduos acomodados e bem adapta-
dos a essa estrutura social, não representando, por-
tanto, em termos classistas, uma ameaça à ordem 
vigente.
Não havendo, praticamente, indústrias, não 
havia um proletariado urbano que, eventualmen-
te organizado em sindicatos e partidos políticos, 
poderia ter alguma combatividade e questionar a 
estrutura dessas sociedades oligárquicas que eram 
aquelas dos países latino-americanos no século XIX 
e, quem sabe, em muitos deles, ainda o sejam. A 
grande massa de trabalhadores era composta por 
camponeses pobres, mestiços, ex-escravos e índios 
aculturados.
Em vários países da América Latina, quando 
da independência, os indígenas ganharam a ci-
dadania. Quer dizer, passaram a poder votar. E só! 
Mas como, na maioria dos casos, o voto era aberto, 
o “caudilho” local tinha total controle sobre o seu 
eleitorado, literalmente obrigando-o a votar em 
quem lhe fosse interessante. Isso naqueles países 
que não adotaram o voto censitário, ou seja, aque-
le que exige que o cidadão detenha um determina-
do patrimônio para poder participar das eleições. E 
mais, alçado à condição de “igual perante a lei”, de 
4 POLÍTICA E SOCIEDADE NAAMÉRICA LATINA
DicionárioDicionário
Proletariado: trabalhador urbano ou rural que 
não possui nada além da sua força de trabalho, 
que é vendida como mercadoria nas socieda-
des de economia capitalista. O termo foi cunha-
do por Karl Marx.
Celso Ramos Figueiredo Filho
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24
cidadão, perdeu as salvaguardas legais que tinha 
durante o período colonial. Portanto, as terras co-
munais onde viveram durante séculos passaram ao 
patrimônio público e foram, em seguida, vendidas 
a preços módicos para os grandes fazendeiros.
4.1 Disputas de Fronteiras entre os Estados Latino-Americanos
Passadas as turbulentas décadas iniciais do 
período de independência, os Estados latino-ame-
ricanos, razoavelmente pacificados e organizados, 
puseram-se a resolver seus litígios de fronteiras ex-
ternas. Algumas dessas disputas remontavam ao 
período colonial, quando diferentes capitanias ou 
províncias de vice-reinados não tinham consegui-
do definir com exatidão suas divisas, principalmen-
te nas áreas de fronteira seca. Ao mesmo tempo, a 
estabilidade interna, naturalmente, fazia com que a 
atividade agrícola se ampliasse, exigindo cada vez 
mais novas terras.
Três desses conflitos foram solucionados 
através de guerras violentas e de longa duração, 
cujas consequências extrapolaram muito os pró-
prios motivos da contenda. Foi o caso da Guerra do 
Paraguai, que envolveu este país contra a Tríplice 
Aliança, composta pelo Brasil, Argentina e o Uru-
guai, entre 1864 e 1870. Entre os vários motivos 
desse conflito estão, também, antigas disputas ter-
ritoriais que remontam aos Impérios coloniais por-
tuguês e espanhol. Mais detalhes dessa sangrenta 
guerra, que dizimou a população paraguaia e des-
truiu sua economia, podem ser obtidos em nossa 
aula web sobre o Paraguai. 
A Guerra do Salitre
Outra guerra prolongada e que trouxe prejuí-
zos humanos e materiais incalculáveisé a chamada 
Guerra do Salitre, que envolveu o Chile e a Bolívia, 
em aliança com o Peru, durante os anos de 1879 
e 1884. O motivo foi a disputa pela faixa de terra 
de três graus de latitude entre a Bolívia e o Chile, 
no deserto de Atacama. Região sem valor econô-
mico durante todo o período colonial, sua fronteira 
não era demarcada de forma precisa. Já no período 
independente, o Chile fixou a fronteira no Paralelo 
23° S, enquanto a Bolívia reivindicava que ela fosse 
estabelecida pelo Paralelo 26° S. A celeuma ficou 
em suspenso até a descoberta de importantes mi-
nerais na região, que logo passou a ser ocupada 
por mineradoras chilenas. Entre os minerais desco-
bertos em meados do século XIX, destacavam-se os 
nitratos, importantes ingredientes na composição 
de fertilizantes agrícolas e da pólvora. Além disso, 
essa estreita faixa de terra representava a saída da 
Bolívia para o oceano Pacífico.
O Peru, por sua vez, temendo uma expansão 
militar e territorial chilena na sua fronteira sul e 
também por ter interesses associados aos da Bolí-
via na exploração dos minérios recém-descobertos 
no Atacama, aliou-se a ela nessa pendência. Acor-
dos preliminares entre Bolívia e Chile (1866 e 1874) 
não puseram fim à tensão entre eles. Até que, final-
mente, em 1879, em resposta a ameaças bolivianas 
de encampar empresas chilenas instaladas no ter-
ritório pretendido por ela, o Chile declarou guerra 
à Bolívia e ao Peru.
Saiba maisSaiba mais
O Tratado da Tríplice Aliança, assinado 
em 1º de maio de 1865, no seu art. 9º 
previa o respeito à integridade territorial 
do Paraguai no caso de derrota deste. 
Contudo, o artigo foi desrespeitado pelo 
Brasil e pela Argentina e o Paraguai foi 
alijado de 1/3 do seu território. Para co-
nhecer o Tratado na íntegra, visite o site 
<http://franklinmartins.com.br/esta-
cao_historia_artigo.php?titulo=tratado-
-da-triplice-alianca-guerra-do-para-
guai-1865>.
História da América Independente
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25
As forças militares chilenas, apesar de nu-
mericamente inferiores, eram melhor adestradas 
e equipadas. Sua marinha, recém-reforçada por 
navios novos, logo ocupou o litoral da Bolívia e do 
Peru. Desembarcando tropas nesses litorais, o Chile 
manteve a ofensiva na guerra, chegando inclusive 
a ocupar a capital peruana, Lima, em 1881. O exér-
cito boliviano já havia se retirado dos combates, 
após derrotas militares quando da invasão chilena 
do litoral. O combalido exército peruano perseve-
rou numa tentativa de resistência aos chilenos por 
mais dois anos. O Peru e a Bolívia se renderam, for-
malmente, em 20 de outubro de 1883, com a assi-
natura do Tratado de Ancon. 
Derrotados, o Peru se viu privado da sua pro-
víncia de Tarapacá, no sul do país, enquanto que a 
Bolívia perdeu sua saída para o mar através do por-
to de Antofagasta, além das minas de nitrato.
Em longo prazo, Peru e Bolívia se viram pri-
vados de uma marinha de guerra, o que fragilizou 
ainda mais a posição desses países no cenário in-
ternacional. Em termos econômicos, foram alijados 
da possibilidade de exploração desse recurso na-
tural, que, tendo sido praticamente monopolizado 
pelos chilenos, rendeu ao país, somente até a déca-
da de 1920, cerca de 1,0 bilhão de libras esterlinas.
A Guerra do Chaco
O Chaco é uma região fronteiriça entre o sul 
da Bolívia e o norte do Paraguai. Solo pantanoso, 
ocupado por índios bravios, durante todo o perío-
do colonial não recebeu maiores atenções por par-
te da Espanha. Por isso, desde a época do Vice-Rei-
nado do Prata, as fronteiras entre as províncias do 
Paraguai e da Bolívia não foram detalhadamente 
demarcadas. Quando da independência, a região 
ficou sendo território paraguaio, sem que houves-
se maiores contestações por parte dos bolivianos.
Décadas depois, a região passaria a ser de ex-
tremo interesse por parte da Bolívia. Com a derrota 
para o Chile na Guerra do Salitre, a Bolívia precisa-
va, desesperadamente, encontrar uma nova saída 
para o mar. Tendo sua nascente no Chaco, o rio Pa-
raguai se mostrou uma alternativa. 
Com efeito, desde 1879 a Bolívia levou seu 
pleito a Assunção. Sua reivindicação era que as 
fronteiras fossem rigorosamente demarcadas e 
que parte do território então paraguaio passasse 
a pertencer à Bolívia. Na região, no início do sécu-
lo XX, foi descoberto petróleo. Em 1923, a Bolívia 
iniciou a escalada militar na região, deslocando 
contingentes e construindo fortins. A resposta pa-
raguaia foi imediata e nos mesmos moldes, quer di-
zer, fortalecendo suas posições militares na região. 
Pequenas escaramuças entre os dois exércitos, po-
sicionados praticamente frente a frente, ocorreram 
nos anos de 1927 e 1929, elevando a temperatura 
e exigindo a intermediação de outros países, como 
a Argentina e os EUA. 
Fronteiras do Chile, Peru e Bolívia, antes 
e depois da guerra.
Planície del Chaco.
Celso Ramos Figueiredo Filho
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26
Em 1932, por pressões internas, o presidente 
boliviano Daniel Salamanca encerrou as negocia-
ções e rompeu relações com o Paraguai. Em 15 de 
julho desse ano, a Bolívia iniciou as operações mi-
litares. Devido a ter tomado a iniciativa na guerra, 
a Bolívia conseguiu algumas vantagens militares 
iniciais. Contudo, desgastada economicamente, 
não consegui manter o ímpeto inicial e, em janei-
ro de 1935, os paraguaios tomaram a iniciativa da 
guerra, ameaçando a importante cidade boliviana 
de Santa Cruz de la Sierra. Isso foi possível graças 
ao apoio que o Paraguai recebia, extraoficialmente, 
da Argentina, que lhe fornecia armamentos e mu-
nições. Um Tratado de Paz foi assinado em 12 de 
junho de 1935, depois de a guerra ter consumido 
cerca de 30 mil vidas paraguaias e 60 mil vidas bo-
livianas, além de ter extenuado economicamente 
os dois países. Em termos territoriais, apesar da vi-
tória paraguaia, as fronteiras não se alteraram dras-
ticamente, não trazendo, pois, impacto econômico 
nenhum.
Alguns analistas econômicos e historiado-
res defendem a tese de que as pressões de duas 
grandes empresas petrolíferas, a norte-americana 
Standard Oil e a anglo-holandesa Royal Dutch Shell 
sobre os governos boliviano e paraguaio, respecti-
vamente, estejam nas razões de bastidores dessa 
guerra. Outros estudiosos localizam as causas mais 
fortes desse sangrento conflito nas dinâmicas po-
líticas internas à Bolívia e nas pressões argentinas 
sobre o governo paraguaio.
A Guerra das Malvinas 
 
O arquipélago das Malvinas (em espanhol) 
ou Falklands (em inglês) está localizado a 600 qui-
lômetros do litoral argentino. No passado colonial, 
a possessão espanhola do arquipélago era reco-
nhecida pelas outras potências colonialistas, po-
rém, em 1833, os ingleses, que algumas décadas 
antes já o haviam ocupado, voltaram a se apode-
rar do arquipélago. Sem importância econômica 
em si, as Malvinas, até a proibição da caça à baleia, 
eram um importante ponto de apoio para essa ati-
vidade. Afora esse aspecto, hoje irrelevante, há a 
suspeita da ocorrência de petróleo nas suas águas 
territoriais. Além disso, na divisão do território An-
tártico, por ser-lhe adjacente, o país que detiver sua 
possessão poderá pleitear participação nas nego-
ciações. Por fim, o tráfego marítimo antártico lhe é 
circunvizinho. Todos esses fatores tornam o arqui-
pélago bastante interessante, especialmente do 
ponto de vista geopolítico. 
Até hoje os ingleses mantêm-se inarredáveis 
na sua posição, que é veementemente contestada 
pela Argentina desde o século XIX. Sem declaração 
formal de guerra, em 2 de abril de 1982, numa ação 
relâmpago, a Argentina invadiu a ilha, tomando fa-
cilmente a capital, Porto Stanley. A resposta inglesa 
foi imediata e avassaladora. Destinou ao arquipé-
lago uma poderosa esquadra, composta por um 
porta-aviões, submarinos atômicos e diversos ou-
tros navios de combate e apoio, e, para as opera-
 Imagem do sul da Argentina e das Malvinas.
História da América Independente
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ções em terra, enviou cerca de 5.000 combatentes 
experientes e rigorosamente treinados.
Os argentinos pouco puderam fazer frente 
à poderosa força britânica, porém os combates se 
prolongaram, por terra, mar e ar, até o dia 14 de 
junho de 1982, quando as forças argentinas, com-
postas na sua grande maioria por soldados cons-
critos, se renderam ante os paraquedistas ingleses. 
As consequências dessa aventura militar foram a 
morte de mais de 600 militares argentinos e de 220 
britânicos, além da destruição de parte da esqua-
dra de guerra portenha e de sua força aérea.
Se a Junta Militar que presidia ditatorialmen-
te a Argentina usou a guerra como instrumento 
para alavancagem da sua imagem junto à popula-
ção, que estava cansada dos vários anos de autori-
tarismo, a derrota piorou sua situação. Em pouco 
mais de um ano, a Argentina voltou a respirar ares 
democráticos, porém, economicamente, o país 
agravou sua condição. Os esforços de guerra cus-
taram aos cofres públicos bilhões de dólares em 
dívidas, que contribuíram para o cenário de deca-
dência que assolou o país até recentemente. 
Em termos diplomáticos, os EUA, ao apoia-
rem a Grã-Bretanha, feriram todos os Tratados Inte-
ramericanos. Isso serviu para evidenciar, mais uma 
vez, que, nos momentos de crise aguda, as alianças 
pendem para o lado daqueles com quem se man-
têm as trocas comerciais mais importantes.
AtençãoAtenção
Segundo o site da BBC Brasil, o núme-
ro de ingleses veteranos na Guerra das 
Malvinas, ou Falklands, como eles as 
chamam, mortos por suicídio supera o 
número de baixas em combate. Para a 
informação completa, consulte o site: 
http://www.bbc.co.uk/portuguese/no-
ticias/2002/020313_malvveteranoscg.
shtml.
4.2 Resumo do Capítulo
Resumindo nosso percurso neste capítulo, destacamos a fragilidade das fronteiras entre diversos 
Estados latino-americanos, a exemplo da Bolívia, Peru e Chile, que travaram a Guerra do Salitre, entre 
1879 e 1883, e a Guerra do Chaco (1932-1935), que envolveu o Paraguai e novamente a Bolívia. Finalmen-
te, vimos a tentativa frustrada da Argentina em conquistar a soberania sobre as Ilhas Malvinas, entrando 
em guerra com a Inglaterra (1982).
Mais uma vez, vamos dar uma conferida nos nossos estudos!
4.3 Atividades Propostas
1. Aponte algumas consequências da Guerra do Chaco para os países nela envolvidos.
2. Relacione a Guerra das Malvinas (1982) com a ditadura militar na Argentina (1976-1983).
 
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5 ESTADOS UNIDOS NO SÉCULO XIX
Narrar a história dos EUA equivale a descre-
ver a efetivação, pelo menos até o momento, da 
concretização do espírito do “Destino Manifesto” 
(1845). Queremos dizer com isso que a história 
dos EUA pode ser encarada pelo prisma de uma 
gradual expansão do seu sistema econômico e do 
estilo de vida dele decorrente, primeiramente para 
os territórios circunvizinhos norte-americanos, em 
seguida, para a América Central e, fi nalmente, para 
todo o globo. É mais do que evidente a hegemonia 
econômica e política da rica nação norte-america-
na sobre as demais áreas do continente e, por que 
não dizer, também do mundo.
Saiba maisSaiba mais
A crença de que os EUA foram eleitos 
por Deus para comandar o mundo e im-
por a ele seus valores tratar-se-ia de algo 
inevitável, uma vez que era da dimen-
são do destino, e irrefutável, pois estava 
manifestando-se. Serviu como justifi ca-
tiva para o expansionismo estaduniden-
se durante o século XIX e foi formulada 
pela primeira vez pelo jornalista de Nova 
Iorque, John L. O’Sullivan, em sua revista 
Democratic Review, em um ensaio inti-
tulado Annexation, no qual defendia a 
anexação da então República do Texas 
à União.
Fonte: http://estrondo.org/wp-content/uploads/2008/08/eua-no-mundo.jpg.
Celso Ramos Figueiredo Filho
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30
Evidentemente, essa expansão se deu à custa 
do trabalho, num primeiro momento, de milhões 
de escravos negros e, num segundo momento, dos 
trabalhadores assalariados pobres, entre os quais, 
se incluem os imigrantes e os próprios negros, li-
bertos em 1862. A construção dessa hegemonia se 
deu, também, pelo extermínio das nações indíge-
nas, pela usurpação de territórios mexicanos e, por 
fim, pela brutal exploração dos povos latino-ame-
ricanos. No quadro reproduzido anteriormente, se 
vê, à esquerda, índios e animais selvagens sendo 
empurrados pelos colonos norte-americanos, que 
avançam pelas planícies do Centro-Oeste em dire-
ção ao Pacífico. Note-se também que os peregrinos 
são secundados pelos “avanços” da civilização, ilus-
trados pelo telégrafo e pela ferrovia. Ressalta, na 
composição do quadro, a imagem de uma mulher 
angelical, tal qual uma ninfa grega, que carrega em 
seus braços uma tábua de leis, tal qual Moisés. 
No plano das ideias, há quem acredite que se 
tratou da concretização do American Dream e da 
vitória do estilo de vida do self made man. Esse ide-
ário supõe que os EUA são o “reino das oportunida-
des” e quem souber “fazer a vida” obterá fama e for-
tuna. Qualquer olhar mais atento a essa trajetória 
poderá perceber o quanto há de falso nessa ideo-
logia – malgrado sua indiscutível permanência. Foi 
um “sonho” construído à base da violência contra 
outros povos e nações, da manipulação do Estado 
pelos grandes conglomerados. Hoje, ele ainda se 
sustenta através desses mesmos instrumentos e 
mantém sua aparência de virtuosismo em shows 
pirotécnicos e artificialismos. 
Mas, igualmente ao seu indiscutível poderio 
econômico, suas contradições sociais e políticas 
também remontam à colonização, basta lembrar 
que essas contradições, num dado momento da 
história nacional estadunidense, assumiram a di-
mensão trágica de uma guerra fratricida, e até hoje 
são evidenciadas pela real condição de inferiorida-
de à qual os negros e os nativos americanos são 
submetidos.
Vejamos, então, como se deu o processo de 
independência das treze colônias inglesas da Amé-
rica do Norte.3
3 As colônias do Norte eram as seguintes: New Hampshire (1624), que incluía o atual estado do Maine; Massachusetts 
(1691); New York (1664); Rhode Island (1663); Connecticut (1662); New Jersey (1664); Pensilvânia (1681); Delaware (1682); e 
Maryland (1632). As colônias do Sul eram: Virginia (1624); Carolina do Sul (1713); Carolina do Norte (1713); e Geórgia (1732).
John Gast, Progresso Americano (1872).
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31
O modelo de colonização entre as colônias 
do Norte e as do Sul foi radicalmente diferente e 
engendrou sociedades também diferentes. Se, no 
Norte, prevaleceu a pequena agricultura familiar, 
secundada por prósperas oficinas de manufaturas 
e um eficiente comércio, no Sul a atividade predo-
minante foi a plantation.
O I Congresso de Filadélfia (1774), que reuniu 
delegados das treze colônias, exigia a “taxação com 
representação”, quer dizer, as colônias concorda-
vam em pagar tributos à Coroa desde que tivessem 
direito a ocupar assentos no Parlamento Britânico.
O II Congresso das colônias, reunido igual-
mente em Filadélfia, no ano seguinte, diante das 
recusas britânicas em conceder assentos aos colo-
nos, deu corpo à ideia de separação.
Importante lembrar que o ambiente interna-
cional levou à participação da Espanha e da França, 
principalmente desta, na guerra, ao lado dos ame-
ricanos.
O Tratado de 1783 encerrou as hostilidades 
entre britânicos e sua ex-colônia. O que ocorreu 
não foi uma Revolução propriamente dita, pois o 
status quo das camadas socialmente dominantes e 
dominadas permaneceu absolutamente inaltera-
do. Exemplo disso é a manutenção da instituição 
da escravidão. A Guerra de Independência foi um 
processo político, cuja resolução teve que ser atra-
vés da medida de força, conduzido em todos os 
seus detalhes pelas elites locais das treze colônias e 
que objetivava essencialmente a ruptura do pacto 
colonial recém-apertado. 
Agricultores, artesãos,comerciantes, enfim, 
se opunham àqueles que se beneficiavam com o 
pacto. A guerra unificou sob um só comando mi-
litar as treze colônias. Essa unificação – os “nacio-
nalistas” – prevaleceu no pós-guerra frente às pro-
postas antifederalistas. Isso porque se reconheceu 
que alguns assuntos, sobretudo aqueles de fórum 
internacional, deveriam ser tratados por um gover-
no central devidamente autorizado para tal, como, 
por exemplo, a expansão para o oeste, defesa, co-
mércio ultramarino, tributação federal e a criação 
de um Banco Central, que unificaria a moeda. Os 
que eram contrários à federação, que reunia par-
ticularmente os pequenos e médios agricultores e 
comerciantes, quer dizer, aqueles cujas atividades 
alcançavam o âmbito meramente local, não dese-
javam a criação de mais impostos, ou seja, aque-
les que seriam usados na criação do poder central. 
O projeto federalista era fato consumado para as 
elites economicamente mais poderosas. Diante da 
sua inevitabilidade, os antifederalistas consegui-
ram que certos impostos não fossem criados ao se 
responsabilizarem pela construção de estradas e 
pontes locais, escolas e igrejas para a comunidade.
A centralização foi, por fim, adotada, visan-
do a proteger os interesses principalmente dos 
comerciantes de ultramar e de âmbito nacional. 
Todavia, a soberania popular, tal como foi sacra-
mentada pela Constituição de 1786, retificada em 
1790, repousava na propriedade privada, ou seja, 
só tinha cidadania política o proprietário. Estava 
consagrado o princípio liberal proposto por John 
Locke. Segundo os historiadores especializados na 
história social norte-americana, esse princípio de 
cidadania, por si só excludente, remonta aos pri-
meiros pioneiros.
No Sul, as raízes sociais eram menos profun-
das, predominando a figura do grande proprietário 
rural, devido à economia estar fundamentada nas 
plantations (arroz, milho, trigo e algodão, sendo 
que este irá prevalecer a partir da segunda metade 
do XVIII). O tráfico de escravos – que havia sido in-
troduzido na colônia em 1630 – foi legalmente in-
terrompido, por lei federal, em 1808. O contraban-
do das Antilhas e a compra de escravos de outras 
áreas do país foram alternativas encontradas pelos 
grandes fazendeiros para o fornecimento de mão 
de obra. Além disso, diga-se de passagem, o trata-
mento dado aos escravos era bem menos severo 
AtençãoAtenção
As colônias do Norte eram as seguintes: 
New Hampshire (1624), que incluía o atu-
al estado do Maine; Massachusetts (1691); 
New York (1664); Rhode Island (1663); 
Connecticut (1662); New Jersey (1664); 
Pensilvânia (1681); Delaware (1682); e 
Maryland (1632). As colônias do Sul eram: 
Virginia (1624), Carolina do Sul (1713); Ca-
rolina do Norte (1713); e Geórgia (1732).
Celso Ramos Figueiredo Filho
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que o verificado nas colônias portuguesas e france-
sas, por exemplo, aumentando significativamente 
a longevidade do escravo norte-americano.
A explosão da produção algodoeira ocorreria 
no início do XIX. Se, em 1790, o Sul havia produzido 
3.000 fardas do produto, em 1860 esse número sal-
tou para espantosos 4,5 milhões. A produção havia 
se ampliado pelos estados do Alabama, Texas, Ca-
rolina do Sul, Carolina do Norte, Mississipi, Louisia-
na e Geórgia. 
No Norte, a economia era mais diversificada, 
incluindo, além da pequena e média agricultura, o 
artesanato e a pequena indústria. Ao lado dessas 
atividades, trabalhadas por famílias, havia também 
a grande indústria, especialmente a naval, além de 
um mercado financeiro bastante ativo, responsável 
pelo financiamento das plantações sulistas. A so-
ciedade era predominantemente urbana, a exem-
plo de Nova Iorque, que, em 1860, contava com 1 
milhão de habitantes. 
No início do século XIX, os EUA estavam em 
franca expansão para o Oeste. Logo, o Centro-Oes-
te, devido aos seus rios navegáveis em longo curso, 
se tornaria o celeiro do país e, até o final desse sécu-
lo, se tornaria o maior produtor mundial de alimen-
tos, exportando-os para vários países do globo. No 
Oeste, conquistado após a expulsão ou extermínio 
dos indígenas ou ainda pela anexação de territó-
rios mexicanos, predominava uma vida comunal, 
no “espírito dos pioneiros”. A vida pródiga, laborio-
sa, despojada das comodidades dos centros urba-
nos, aliada à fraca presença dos poderes estatais – 
uma espécie de “terra sem lei” –, fez do Oeste uma 
terra bravia e cheia de oportunidades aos espíritos 
mais aventureiros ou para as famílias sem alternati-
vas nas outras regiões do país.
A “marcha para o Oeste” começou, informal-
mente, ainda no período colonial. A fronteira natu-
ral entre os territórios espanhol e inglês na América 
era os Montes Apalaches. Caçadores ou mesmo pe-
quenos agricultores já se embrenhavam para além 
dessa cadeia montanhosa, que servia como fron-
teira natural entre os territórios coloniais ingleses 
e espanhóis. Com a independência, esse processo 
se acentuou, levando os EUA a comprar, seja da 
Espanha, França (Louisiana) ou mesmo do México, 
todos os territórios até o Pacífico, até meados do 
século XIX. Os territórios que não foram adquiridos 
legalmente foram anexados após guerras de con-
quista, a exemplo dos estados do Novo México, 
Colorado e Arizona, que pertenciam ao México até 
a guerra entre os dois países no ano de 1846. O re-
sultado foi a perda de 40% do território mexicano, 
aproximadamente 2,5 milhões de km².
Quanto ao Texas, uma curiosidade. Mesmo 
sendo território mexicano, desde os anos 1820, a 
presença de norte-americanos, que o adentravam 
em busca de áreas para o plantio de algodão, viveu 
um crescente. Em 1829, com a abolição da escra-
vatura pelo governo mexicano, os colonos norte-
-americanos, cujas relações com o governo do Mé-
xico eram naturalmente tensas – inclusive já tendo 
sido pedida a anexação do território pelos colonos 
para o governo dos EUA – declaram a independên-
cia do estado em 1836. Uma nova solicitação de 
anexação pelos texanos aos EUA, em 1845, dessa 
vez aceita, levou o México a declarar guerra contra 
os EUA em 1846. Outro fator que levou os dois paí-
ses à guerra foi a descoberta do ouro na Califórnia, 
que atraiu milhares de americanos. A guerra se pro-
longou até 1848 e trouxe como resultado a perda 
de vastos territórios pelo México: Califórnia, Utah, 
Nevada, partes do Arizona e do Novo México, Co-
lorado, Wyoming, além do Texas. Mais detalhes da 
expansão norte-americana em direção ao Pacífico 
você tem na nossa aula web.
Historiadores consideram que o “espírito co-
munal” deixa, gradativamente, de prevalecer entre 
os norte-americanos e, já no início do século XIX, 
passa a predominar o individualismo.
A política comercial protecionista adotada 
pelos EUA desde o início do século XIX fez com 
que os mercados europeus, em represália, evitas-
sem a importação de produtos norte-americanos. 
Duas consequências desse fato: a América Latina 
tornou-se o mercado substituto ao europeu em 
DicionárioDicionário
Plantation: conceito da historiografia e da eco-
nomia política que designa as unidades agríco-
las coloniais, cuja produção monocultora era 
destinada ao mercado metropolitano e traba-
lhada pela mão de obra do escravo.
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potencial e o sul, maior exportador para a Europa, 
reacendeu suas antigas rivalidades tarifárias em 
relação ao Norte. O maior argumento usado pelos 
sulistas era os states rights, ou seja, o direito de cada 
estado tarifar seus próprios produtos.
O ingresso de imigrantes europeus passou 
a ser expressivo a partir da década de 1840; eles 
provinham, sobretudo, da Inglaterra, Irlanda, Ho-
landa, Alemanha, Itália e França. O sonho comum 
era tornar-se proprietário rural, aproveitando a ex-
pansão para o Oeste, mas muitos desses imigran-
tes acabaram se tornando trabalhadores urbanos. 
Entre 1880 e 1910, era frequente o número de imi-
grantes ultrapassar a cifra anual do milhão, mas

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