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Celso Ramos Figueiredo Filho História da América Independente SUMÁRIO INTRODUÇÃO .................................................................................................................................................... 5 1 A INDEPENDÊNCIA .................................................................................................................................... 7 1.1 Resumo do Capítulo ..................................................................................................................................................... 11 1.2 Atividades Propostas.................................................................................................................................................... 11 2 O SONHO DE BOLÍVAR E SAN MARTÍN SE DESPEDAÇA ..............................................13 2.1 A Fragmentação da América Central ..................................................................................................................... 16 2.2 Resumo do Capítulo ..................................................................................................................................................... 17 2.3 Atividades Propostas.................................................................................................................................................... 17 3 O IMPERIALISMO NORTE-AMERICANO NA AMÉRICA CENTRAL ...........................19 3.1 Resumo do Capítulo ..................................................................................................................................................... 21 3.2 Atividades Propostas.................................................................................................................................................... 21 4 POLÍTICA E SOCIEDADE NA AMÉRICA LATINA ...................................................................23 4.1 Disputas de Fronteiras entre os Estados Latino-Americanos ........................................................................ 24 4.2 Resumo do Capítulo ..................................................................................................................................................... 27 4.3 Atividades Propostas.................................................................................................................................................... 27 5 ESTADOS UNIDOS NO SÉCULO XIX .............................................................................................29 5.1 Resumo do Capítulo ..................................................................................................................................................... 33 5.2 Atividades Propostas.................................................................................................................................................... 33 AMÉRICA INDEPENDENTE II .................................................................................................................35 6 O ESTADO OLIGÁRQUICO NA AMÉRICA LATINA ..............................................................37 6.1 As Forças Armadas ........................................................................................................................................................ 38 6.2 O Populismo .................................................................................................................................................................... 39 6.3 As Ditaduras Militares na América Latina ............................................................................................................. 43 6.4 Resumo do Capítulo ..................................................................................................................................................... 44 6.5 Atividades Propostas.................................................................................................................................................... 44 7 A QUESTÃO INDÍGENA NA AMÉRICA LATINA......................................................................45 7.1 Resumo do Capítulo ..................................................................................................................................................... 46 7.2 Atividades Propostas.................................................................................................................................................... 47 8 OS ESTADOS UNIDOS NO SÉCULO XX ......................................................................................49 8.1 A Primeira Guerra e a Crise de 1929 ....................................................................................................................... 49 8.2 A Segunda Guerra e a Guerra Fria ........................................................................................................................... 52 8.3 Resumo do Capítulo ..................................................................................................................................................... 54 8.4 Atividades Propostas.................................................................................................................................................... 55 9 AS REVOLUÇÕES NA AMÉRICA LATINA .............................................................................. 57 9.1 A Revolução Boliviana ............................................................................................................................................57 9.2 A Revolução Cubana ...............................................................................................................................................59 9.3 Resumo do Capítulo ................................................................................................................................................61 9.4 Atividades Propostas...............................................................................................................................................61 10 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................ 63 RESPOSTAS COMENTADAS DAS ATIVIDADES PROPOSTAS ..................................... 65 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................................. 69 Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 5 INTRODUÇÃO Amigo(a) leitor(a), Temos em mãos a tarefa de redigir uma apostila sobre a História da América Independente, dirigida a estudantes de Licenciatura em História, quer dizer, futuros(as) professores(as). Isso signifi ca que temos que garantir a qualidade ante o público ao qual ela se destina e temos que assegurar que o conteúdo de dois séculos de história esteja minimamente contemplado. Isso porque nosso recorte cronológico inicial se localiza, no mínimo, nos anos imediatamente anteriores à eclosão das guerras de independência. Em termos das colônias ibéricas, estamos nos referindo aos impactos do maremoto napoleônico nas suas costas, ou seja, nos anos primeiros anos do século XIX. Mas, se nos referirmos às colônias inglesas na América do Norte, esse recorte deve retroceder em, no mínimo, trinta anos, lá pelo início da década de 1770. E o recorte fi nal pode ser localizado... hoje?!? E, quantos países que compõem esse vastíssimo continente? Dezenas. São exatas trinta e cinco nações independentes e mais dezenove possessões que remontam ao período colonial. Da Argentina ao Canadá. Quantas latitudes? Quantas geografi as? Quantas histórias? São, pois, realidades históricas e espaços geográfi cos absolutamente díspares. Dos Pampas às pla- nícies fl uviais dos Estados Unidos, passando pelos Altiplanos andinos, pelas belas ilhas e tão sofridas ilhas do Caribe, e não podemos nos esquecer das imensas fl orestas úmidas. Essas paisagens tão desiguais já eram, como você bem sabe, habitadas por populações também bastantediferentes. Sabidamente, a síntese do contato entre essas culturas e os europeus fez nascer sociedades muito diferentes entre si. Creio que a evidência das diferenças entre os haitianos e os uruguaios, por exemplo, seja tão clara a todos que me dispense de maiores argumentos sobre o resultado dessa síntese. Não podemos perder do nosso horizonte o fato de que os europeus implantaram, à força, é claro, vários modelos de exploração colonial. Todos muito nocivos para as populações pré-colombianas, po- rém uns mais que os outros. Dezenas de nações indígenas foram exterminadas pelos ingleses e pelos portugueses no litoral, respectivamente, das Américas do Norte e do Sul. Isso ocorria ao mesmo tempo em que os guaranis do interior da mesma América do Sul estiveram razoavelmente a salvo do risco de extermínio enquanto viviam nas “Reduções”. Todo esse preâmbulo visa a deixar bem claro a você, meu(minha) leitor(a), que fomos obrigados a fazer alguns voos panorâmicos para poder completar nossa viagem historiográfi ca a contento. Mas essas panorâmicas foram intercaladas por alguns rasantes, que nos permitiram ver bem de pertinho nosso objeto e esses objetos aos quais dirigimos um olhar privilegiado foram escolhidos pela relevância no cenário conjunto da América, especialmente, a Latina. Em nosso olhar para a história da América, privilegiamos os aspectos políticos e econômicos e, quando necessário, os movimentos sociais. Lembramos que esta apostila atende aos conteúdos de Amé- rica Independente I e também América Independente II, que será ministrada no próximo módulo. O cri- tério da divisão, em partes I e II, respectivamente, é cronológico. A primeira parte cobre, grosso modo, o período que vai da independência até o início do século XX, quando tem início a segunda parte. Celso Ramos Figueiredo Filho Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 6 Feita essa necessária digressão introdutória, devemos enfrentar outra distinção, e cremos, tão im- portante quanto a anterior. Perguntamo-nos se a América Latina é, de fato, independente. Essa questão não só é pertinente como extremamente atual. Isso porque, nós, latino-americanos, devemos distinguir, e com muita clareza, três palavras fundamentais no vocabulário político e, portanto, do historiador. São elas: independência, emancipação e revolução. Os Estados Nacionais que surgiram na América Latina após as décadas iniciais do século XIX logra- ram sua emancipação política, quer dizer, deixaram de ter seus destinos formalmente subordinados aos de uma metrópole transoceânica. Isso lhes permitiu instituir os regimes políticos que julgaram conve- nientes, bem como estabelecer suas próprias leis. Mas, como veremos a seguir, estão ainda muito lon- ge da sua independência efetiva, sobretudo se partirmos do ponto de vista econômico. Muitas dessas jovens nações têm sua independência política penhorada a novos senhores, como, por exemplo, Porto Rico e Panamá, quase verdadeiras neocolônias dos Estados Unidos. Nunca é demais lembrar que na Amé- rica do Sul, na fronteira norte brasileira, ainda há uma colônia europeia. Trata-se do Departamento de Ultramar da Guiana Francesa. Quer dizer, a presença do dominador estrangeiro em solo americano não se limita ao controle, direto ou indireto, das suas economias, ao que alguns neoliberais empedernidos chamam modernidade, mas, como vemos, é uma realidade que transcende aos discursos ideológicos. Curiosidade: devido à Guiana, o Brasil é o país que tem com a França a maior extensão de fronteira, fato esse que explica os renovados interesses do governo francês em manter relações bastante cordiais com o governo brasileiro. Muito diferente foi o que ocorreu com a grande colônia britânica da América do Norte, que, por razões que veremos sucintamente a seguir, obteve independência política justamente porque já possuía sua independência econômica. Essa sua condição econômica ímpar em relação às demais regiões ame- ricanas lhe permite exercer uma rigorosa dominação sobre quase todo o continente desde o século XIX. Portanto, nossa missão é dupla: identificar as causas da dominação internacional na América Lati- na, com o apoio cúmplice das elites locais, e, também, resgatar alguns dos momentos de luta pela eman- cipação efetiva e de tentativas de construção de sociedades mais justas. Afinal, entendemos a história do mesmo prisma que Walter Benjamin: A luta de classes, que um historiador educado por Marx jamais perde de vista, é uma luta pelas coisas brutas e materiais, sem as quais não existem as refinadas e espirituais. Mas na luta de classes essas coisas espirituais não podem ser representadas como despojos atribuídos ao vencedor. Elas se manifestam nessa luta sob a forma da confiança, da coragem, do humor, da astúcia, da firmeza, e agem de longe, do fundo dos tempos. Elas ques- tionarão sempre cada vitória dos dominadores. Assim como as flores dirigem sua corola para o sol, o passado, graças a um misterioso heliotropismo, tenta dirigir-se para o sol que se levanta no céu da história. O materialis- mo histórico deve ficar atento a essa transformação, a mais imperceptível de todas. (BENJAMIN, 1940). Benjamin escreveu suas Teses sobre a história no calor dos acontecimentos que culminaram na eclo- são da Segunda Guerra Mundial. Não lhe causou espanto, pois a violência tem prevalecido sempre, mas, motivado para que as classes trabalhadoras não se acumpliciem dessa barbárie, Benjamin lançou tão candente apelo e esse apelo ainda não foi atendido. Senhor(a) leitor(a), espero que esta Introdução lhe tenha despertado o interesse em ler nossa apos- tila e espero ainda mais: que ela lhe tenha alguma serventia nessa árdua tarefa de ensinar História aos nossos jovens, dentro do espírito de uma educação transformadora. Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 7 1 A INDEPENDÊNCIA Os principais protagonistas e maiores inte- ressados pela emancipação das colônias latino- -americanas, assim como pela fragmentação da América Espanhola em várias nações, foram, para- doxalmente, as elites criollas de cada região. Por- tanto, a chamada “crise da independência” seria a busca por um novo pacto colonial que eliminaria o intermediário ibérico, colocando os produtos e importadores americanos em contato direto com os mercados internacionais. A reforma administra- tiva das colônias imposta por Carlos III, em 1782, centralizou o poder com a criação das Intendências e, com isso, otimizou a arrecadação fi scal. Tal fato descontentou a elite criolla, que passou a aventar a ideia da separação. Ao mesmo tempo, a reforma, ao liberar o co- mércio entre as colônias, barateou o custo de uma série de produtos. Em 1778, já havia sido abolido o monopólio comercial de Cádiz e permitido o co- mércio intercolônias. Isso repercutiu na elevação da produção das minas de metais preciosos e no crescimento econômico em geral das colônias. Com isso, houve o crescimento pela demanda de produtos manufaturados, que a metrópole não po- dia satisfazer. Territórios coloniais europeus na América até 1776. Celso Ramos Figueiredo Filho Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 8 Então, vivia-se uma realidade, no mínimo, contraditória. Por um lado, a coroa arrochava as metrópoles em termos de arrecadação fiscal e de repressão ao contrabando e demais práticas con- sideradas lesivas ao Real Tesouro e, por outro lado, essas mesmas reformas estimularam a produção econômica em geral, mas seu efetivo crescimento estava estrangulado pelo exclusivo colonial. Tentando superar esse impasse, já em 1797, a Espanha havia aberto os portos das colônias aos parceiros comerciais. O maior beneficiário dessa medida foi os Estados Unidos (EUA), seguidos da Inglaterra, sendo que a presença desta se fazia mais sentida na América do Sul. Nos anos iniciais do século seguinte, o cená- rio iria se agravar. Aliada à França napoleônica no início do XIX, a Espanha foi sendo cada vez mais ali- jada dos seus contatos comsuas colônias, devido à supremacia naval britânica. O clímax do isolamen- to se deu com a vitória inglesa na Batalha de Trafal- gar, que destruiu boa parte das armadas francesa e espanhola. A ocupação napoleônica da Península Ibérica em 1807 trouxe a efetiva eliminação do pacto colo- nial. Ainda que a América Espanhola se mantivesse, ao menos formalmente, leal a Fernando VII, as Jun- tas de Sevilha, que substituíram o monarca preso por Napoleão, não tinham autoridade efetiva sobre as colônias. Isso acirrou o clima de mútua descon- fiança que sempre reinou entre os peninsulares e os criollos, chegando inclusive à ocorrência de al- guns confrontos armados entre ambos os grupos, a exemplo do episódio de La Paz, em 1809. Era o prenúncio das Guerras de Independência. Com a derrota definitiva das Cortes de Sevi- lha (1810), último reduto da monarquia espanho- la ante o invasor napoleônico, desencadeou-se nas colônias o processo de independência, que se anunciava pacífico e legitimista, quer dizer, contra o dominador francês. Os separatistas não se apre- sentavam, pois, nesse momento, como rebeldes, mas como legitimistas, herdeiros do poder real su- primido pelo invasor francês. Essa independência tinha, pois, no mínimo, um caráter ambíguo. É por isso que, para a maioria absoluta dos historiadores, o processo de independência se deu em dois tem- pos. No primeiro, anteriormente referenciado, que se iniciou em 1810 estendendo-se até 1817, a elite mercantil criolla afirmava-se leal ao rei depos- to, Fernando VII, mas, sofrendo a oposição dos de- mais setores da elite colonial, a exemplo da Igreja e dos mineradores, o movimento não progrediu, à exceção da região do antigo Vice-Reinado do Prata (Argentina, Bolívia, Uruguai e Paraguai). A segunda fase teve início após o retorno de Fernando VII ao trono (1815) em decorrência da derrota de Napoleão. A Espanha tentou reatar os apertados laços do pacto colonial tal como esta- vam atados no final do século XVIII. Dessa feita, a Saiba maisSaiba mais A batalha de Trafalgar, ocorrida em 21 de outubro de 1805, resultou numa ca- tástrofe para os projetos franceses. A in- tenção da França e da sua aliada, a Espa- nha, era a invasão da Ilha Britânica. Com essa derrota, a França optou por decre- tar o Bloqueio Continental (22/11/1806), para tentar derrotar a Inglaterra através de desgaste econômico. AtençãoAtenção A data oficial da Independência mexi- cana é o dia 16 de setembro, pois, nesta data, em 1810, o padre Miguel Hidalgo y Costilla, na pequena paróquia da cidade de Dolores, deu o “Grito de Dolores”, mar- cando assim o início da primeira etapa do processo de independência desse país. Fernando VII. História da América Independente Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 9 união entre todos os setores da elite criolla fez-se inevitável. Resultado: de 1817 a 1820, em toda a antiga América Espanhola, com exceção de Cuba e Porto Rico, surgiram nações independentes. Quase todas as revoltas tiveram sua origem nos “Cabildos”, instituições análogas às câmaras mu- nicipais. Os “cabildos abiertos” instituíram juntas go- vernativas para substituir as autoridades peninsu- lares (Caracas, 19/4/1810; Buenos Aires, 25/5/1810; Bogotá, 27/7/1810; Santiago, 18/9/1810). Contu- do, o caráter conservador e regionalista das elites criollas logo se manifestou. No primeiro aspecto, tolerou-se pouco a participação de estratos menos elitizados da população nas juntas governativas que se estabeleceram depois da independência. Isso se evidenciou através da pouca profundidade nas transformações político-sociais, cabendo ao povo de forma geral a mera função de soldados quando das guerras pela independência. Em relação ao se- gundo aspecto, salientamos a quase imediata frag- mentação dos territórios da América Espanhola nas diversas nações que surgiram nesse momento. É importante lembrarmos que, na rígida es- trutura da sociedade colonial, os espanhóis pe- ninsulares, chamados “chapetones” pelos nativos, ocupavam o topo de forma inconteste. Era como se eles constituíssem uma casta superior na socieda- de americana, à qual estavam reservados os postos da administração colonial e os comandos militares mais importantes. Eram igualmente oriundos da metrópole os membros da cúpula eclesiástica e, diga-se de passagem, a Igreja era um poder efeti- vo, para além das questões meramente espirituais. Exemplo disso é o fato de a Igreja ser proprietária, em algumas regiões, como o México, de 40% das propriedades urbanas. Na escala social colonial, o degrau interme- diário era ocupado pelos criollos – descendentes diretos dos espanhóis, nascidos na América. Com- punham a elite econômica, concentrando em suas mãos a maior parte das atividades comerciais, além de serem importantes proprietários rurais. Porém, apesar da condição econômica privilegiada, esta- vam excluídos da administração colonial e o pro- cesso de independência será conduzido por mem- bros desse grupo social. Finalmente, no último degrau da pirâmide social estavam os negros e os índios. Quanto aos mestiços em geral, ainda que fossem considerados homens livres, eram alvo de discriminação, o que, na prática, os colocava numa situação parecida com a dos indígenas. Serão muito beneficiados com a in- dependência. Com a eclosão da guerra de independência, as elites criollas vão procurar aliados nos demais segmentos da sociedade, o que acabou por levar ao envolvimento na guerra, de forma geral, de to- das as camadas da população das colônias onde elas ocorreram. Uma das consequências de longa duração desse fato foi a militarização das relações políticas, que se manifesta até o presente momento em vários dos países latino-americanos, a exemplo de Honduras, abalada por um golpe de Estado co- mandado por setores do Exército, no mês de junho de 2009. Em curto prazo, essa militarização que so- breviveu à independência gerou um corpo de ofi- ciais imenso, que resistiu à desmobilização e que- ria sua recompensa, na forma de cargos públicos e posições na hierarquia do governo. A manutenção desses exércitos em alguns países chegou a consu- mir até 50% das rendas públicas. Essa militarização decorreu, entre outros fa- tores, da arregimentação de tropas pelos grandes proprietários rurais. Essas lideranças locais ou regio- nais passaram a procurar ampliar sua área de influ- ência para além das suas propriedades e circunvizi- nhanças, dando origem a um fenômeno social que acabou sendo conhecido por caudilhismo, muito semelhante àquilo que no Brasil denominamos co- ronelismo. Além dessa militarização, as terras de- volutas ou comunais indígenas continuaram a ser moeda de troca nos favorecimentos políticos. Isso levou a um enfraquecimento político dos antigos estratos urbanos, sobretudo aqueles ligados ao co- mércio internacional, bem como da Igreja, cuja anti- ga cúpula de origem “chapetona” foi substituída por lideranças locais. Significativo o fato de o Papa, num primeiro momento, não ter reconhecido nenhuma das nações recém-surgidas nas primeiras décadas do século XIX. DicionárioDicionário Caudilho: donde provém a expressão ‘caudilhis- mo’; era um chefe político-militar, cuja autorida- de, em geral, provinha do seu status econômico privilegiado. Noutras palavras, quase sempre se tratava de um proprietário rural poderoso que, com seu séquito de aliados e seu exército de capangas, ameaçava o poder central. Celso Ramos Figueiredo Filho Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 10 Apesar de armadas pelos caudilhos, as mas- sas camponesas em nenhum lugar, exceto na Ban- da Oriental, sob o comando de Artigas, realizaram movimentos em proveito próprio. Em todos os locais, a população, quando armadas, atuou res- paldando as lideranças criollas1 e, em vários casos, líderes militares que, anteriormente à guerra, ocu- pavam posições sociais intermediárias, ao seu final, tornaram-se políticos conservadores quando alça- dos ao poder. Certamentehavia setores conservadores da sociedade, como ainda há, que se beneficiavam dessa retaguarda armada, pois equivalia a uma garantia de que a democracia não escapasse aos limites desejados por essa elite. Prova de que as estruturas sociais pouco se modificaram com a in- dependência está no fato de que a escravidão não foi abolida na maioria das nações recém-surgidas, tampouco o status de casta inferior dos indígenas foi modificado. É importante destacar que parte expressiva da população indígena não desejava a independência, pois via na coroa uma proteção, ainda que relativa, contra os desmandos das elites criollas. Apenas os mestiços e homens brancos po- bres conseguiram uma mobilidade social um pou- co maior, ao passarem a poder concorrer a postos públicos. Outro grupo social que logrou rápida as- censão foi a dos especuladores financeiros. Por te- rem sido responsáveis pela sustentação financeira dos exércitos separatistas e, após a independência, por assegurarem as finanças dos novos Estados, os financistas tornaram-se verdadeiras “iminências pardas” de várias nações latino-americanas. Do ponto de vista do comércio internacio- nal, a América Latina era vista pela Europa e pelos EUA quase exclusivamente como um local propício para o escoamento das suas manufaturas. Não ha- via a intenção, pelo menos até as décadas de 1840 e 1850, de realizar investimentos de capitais direta- mente na produção, devido ao temor pela instabili- dade política. Novos agentes comerciais foram for- talecidos, em lugar daqueles que se beneficiavam do antigo comércio colonial, pois os europeus pre- tendiam o controle direto ou associado a comer- ciantes locais do fluxo de mercadorias. Por isso que, até a década de 1830, boa parte do comércio lati- no-americano estaria nas mãos de ingleses e dos seus associados locais. É importante lembrar que o mercado interno era limitado e que as exportações não cresciam no mesmo ritmo que as importações, que acabaram se tornando as maiores fontes de tri- butos. Em tempo, somente na década de 1850 os EUA iriam despontar como uma efetiva ameaça ao comércio inglês na América Latina. Após a independência, os comerciantes que haviam controlado as redes mercantis coloniais ti- veram as maiores perdas, pois as rotas haviam se transferido e estavam em mãos estrangeiras. Ao mesmo tempo, a progressiva entrada de manu- faturas estrangeiras infligiu pesadas perdas para o artesanato local. A guerra rompera as rotas co- loniais de metais preciosos, além de ter prejudica- do bastante a produção das minas. Por exemplo, a produção mexicana atingiu os mesmos índices do pré-independência apenas em 1850. Outra consequência de longo prazo das guer- ras de independência, muito diretamente ligada à dominação estrangeira, e que parecia insuperável, como ainda parece, é a estagnação econômica. Despotismo, militarização, corrupção, tudo isso le- vou a um desfalecimento dos sonhos e projetos de renovação tão acalentados nos inícios da revolu- ção, como veremos em uma das nossas aulas web. 1 Artigas foi um líder da independência do atual Uruguai. Em 1828, o Uruguai foi criado como um Estado-tampão entre o Brasil e a Argentina. General Artigas. História da América Independente Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 11 Neste capítulo, estudamos por quais razões as colônias espanholas na América buscaram sua inde- pendência política. Entre as causas desse processo, destacamos a tentativa da coroa espanhola, nos anos finais do século XVIII, em aumentar a intensidade da exploração colonial, o que desagradou sobrema- neira aos colonos. Ao mesmo tempo, as desigualdades sociais entre as elites coloniais e os espanhóis de nascimento desagradavam sobremaneira aos primeiros. Por fim, houve a conjuntura das Guerras Napo- leônicas como estopim de todo o processo de independência, formalmente iniciado em 1810. Agora, caro(a) aluno(a), vamos agora avaliar sua aprendizagem. 1.1 Resumo do Capítulo Caro(a) aluno(a), vamos agora verificar sua aprendizagem. Para isso, responda às perguntas que seguem e, para conferir as respostas, de um pulinho na penúltima sessão da apostila. 1. A quais fatores podemos atribuir o sucesso dos movimentos de independência na América Espanhola? 2. Por que podemos afirmar que a independência da América Latina não trouxe grandes benefí- cios para as populações oprimidas na região? 1.2 Atividades Propostas Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 13 2 O SONHO DE BOLÍVAR E SAN MARTÍN SE DESPEDAÇA Neste capítulo, caro(a) aluno(a), veremos que a fragmentação da América Espanhola, contra- riando os sonhos de Bolívar e de San Martín, já era uma tendência que se manifestava na colônia. As Audiências eram foros privilegiados na administra- ção colonial espanhola. Portanto, as cidades que as abrigavam, evidentemente, se destacavam das de- mais. Por isso, de forma geral, elas foram os polos aglutinadores das aspirações separatistas. Aliás, diga-se de passagem, o projeto boli- variano estava longe de ser social e politicamente avançado, mesmo para os padrões da época. Pro- punha a República, com um presidente vitalício, cujo reduzido corpo eleitoral – restrito aos “ho- mens bons” – daria a necessária retaguarda legisla- tiva. Tudo isso em nome das elites criollas. Simon Bolívar nasceu em Caracas, na Capi- tania Geral da Venezuela, em 1783, numa família aristocrática de ascendência espanhola. Com edu- cação esmerada, empreendeu, ainda jovem, duas viagens de estudos para a Europa. Na segunda, em 1804, esteve na França, onde conheceu de perto os efeitos da Revolução de 1789 e da expansão napo- leônica, que o deixaram muitíssimo impressiona- do. Sua permanência na Europa se prolongou até 1806, período no qual aprofundou seus estudos sobre Ciências, História e Literatura, sendo bastan- te infl uenciado pelas ideias contratualistas. Nesse ano, Bolívar soube das conspirações pró-indepen- dência da Venezuela, lideradas pelo general Fran- cisco Miranda, decidindo voltar ao seu país. No seu retorno à América, já imbuído dos ideais emanci- pacionistas, Bolívar percorreu várias cidades norte- -americanas, numa viagem de meses de duração. Foi quando pôde conhecer in loco a organização de uma grande federação. Quando da deposição de Fernando VII por Napoleão, em 1808, Bolívar aderiu à Junta Gover- nativa que não reconheceu a autoridade de José Bonaparte e que, dois anos depois, proclamou a independência da Venezuela. A reação espanhola foi intensa, estendendo a guerra até 1814 e para os territórios do Vice-Reinado da Nova Granada (Colômbia, Panamá e Equador), porém sucessivas derrotas militares o obrigaram, já como um dos maiores líderes da independência, a exilar-se na Jamaica. Desde a derrota na primeira fase das lutas de independência, em 1815, Simon Bolívar anunciou sua intenção de organizar uma federação pan- -americana; vide a sua “Carta da Jamaica”, ilha in- glesa onde se exilou. Renascido o movimento pela independência na Venezuela, em 1816, Bolívar retornou ao país. Com a derrota defi nitiva dos espanhóis, Bolívar, então presidente da Colômbia, convocou em 1826 o Congresso do Panamá. Seu desejo era organizar uma confederação americana que englobasse to- das as Américas. Enviaram representantes os go- vernos da Federação Centro-Americana, México e Grã-Colômbia (Colômbia, Venezuela e Equador e o atual Panamá, então província da Colômbia). Nota curiosa, os EUA enviaram representante, mas o dig- natário morreu na viagem e o país acabou não ten- do tempo para enviar outro missionário. AtençãoAtenção A Grã-Colômbia existiu até 1863, quando se desmembrou nos atuais Equador, Ve- nezuela e Colômbia. O Panamá separou- -se desta em 1903. Celso Ramos Figueiredo Filho Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 14 No seu entendimento, a grande federação a ser formada deveria ser governada por um execu- tivo forte, centralizador. Isso porque Bolívar estava convencido de que as populações sul-americanas,pelo fato de terem sido secularmente subjugadas, não saberiam conviver numa democracia. Em 1821, foi eleito presidente da Grã-Colômbia. A guerra de independência havia sido de- veras desgastante, sob todos os aspectos, para as novas nações sul-americanas. Exauridas, não tinham recursos para enfrentar as sucessivas ten- tativas de invasão por parte da Espanha e a ideia de recorrer a auxílio externo, leia-se Inglaterra, con- trariava os princípios independentistas de Bolívar. Esta, por sua vez, ansiava por unidades políticas cada vez maiores, mas não interferia diretamente nos processos políticos internos. Portanto, não era um parceiro inconteste. Em várias dessas regiões, poderosas lideranças locais, fortalecidas durante a guerra, se opunham aos ideais federalistas de Bolí- var, defendendo a criação de pequenas unidades autônomas. Ressalva importante, em várias dessas regi- ões, os federalistas eram maçons, isto é, anticleri- cais, e, sabidamente, a Igreja Católica sempre exer- ceu uma influência muito grande junto a amplos segmentos da sociedade. Portanto, os projetos es- tatais inspirados em ideais iluministas, laicos, que defendiam a separação entre o Estado e a Igreja, evidentemente eram boicotados por esta. Em 1828, ao se reunir novamente o Congres- so da Grã-Colômbia para a escolha do sucessor de Bolívar, as duas tendências – federalistas-bolivaria- nos e unitaristas, sendo que estes contavam com o apoio da Igreja – já estavam de tal forma sepa- radas que qualquer possibilidade de consenso se mostrou inviável. Apesar de reeleito, Bolívar en- frentava sérias ameaças de cisões. Renunciou em 1830, retirando-se para um autoexílio em Santa Marta (Colômbia), onde morreu pouco depois (17 de dezembro), aos 47 anos de idade, abandonado e desgostoso. Nesse mesmo ano de 1830, em abril, a Vene- zuela já havia optado pela separação. O mesmo fez o Equador, em agosto. Uma de suas últimas cartas, datada de pouco mais de um mês antes da sua morte, lemos um Bolívar amargo, elencando as razões de sua de- silusão: 1. a América é ingovernável; 2. aquele que serve a uma revolução para no mar; 3. a única coisa que se pode fazer é emi- grar; 4. esse país cairá infalivelmente em mãos de multidão desenfreada, para depois passar a pequenos tiranos quase imper- ceptíveis, de todas as raças e cores; 5. devorados por todos os crimes e extin- tos pela ferocidade, os europeus não se dignarão a nos conquistar; 6. se fosse possível que uma parte do mun- do se voltasse ao caos primitivo, este se- ria o último período da América. Bolívar estava certo nesse seu último sus- piro? O século seguinte da nossa história deu-lhe razão. E o próximo? Cabe a nós responder a essa incômoda pergunta. Vejamos agora, brevemente também, o projeto de José Francisco de San Martín y Mator- ras ou, mais simplesmente, San Martín. Nasceu na Argentina (então Vice-Reinado do Prata), na loca- lidade de Yapeyú, em 1778, e faleceu na França, em 25/2/1850. Foi um general argentino, líder da independência de seu país e também do Chile e do Peru, apoiando as ações militares de Bolívar. Iniciou sua carreira militar na Espanha, para onde havia se mudado com a família quando criança. Nos anos finais do século XVIII, participou ativamente, ainda como oficial de baixa patente, em diversas campa- nhas militares promovidas pela coroa espanhola, Saiba maisSaiba mais Oligarquia: do grego oligo, que signifi- ca grupo, e arquia, que designa gover- no. Em política, significa governo de um grupo. O grupo pode ser de qualquer natureza, por exemplo, a oligarquia ca- feeira no Brasil da República Velha. História da América Independente Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 15 como, por exemplo, contra as tropas napoleônicas na região dos Pirineus (1797) e nas batalhas navais contra os ingleses (1797-1798). Por ocasião da invasão francesa à Espanha em 1808, San Martín engajou-se no exército de re- sistência, sendo promovido a capitão de um regi- mento que teve ação de destaque na retomada de Madri. Por esse bem-sucedido comando, foi pro- movido a tenente-coronel. No exército, tomou conhecimento de que em diferentes partes da América, a exemplo do Vi- ce-Reinado do Prata, as Juntas Governativas que se formaram para resistir à dominação francesa aca- baram manifestando intenções separatistas. Ainda no exército espanhol, conheceu militares ingleses que o puseram em contato com compatriotas ame- ricanos que se reuniam, na Inglaterra, numa loja maçônica denominada Loja Lautaro. Fazia parte dessa loja, entre outros, Francisco de Miranda, alia- do de Bolívar na emancipação da Venezuela. Nessa ocasião, por volta de 1811, desligou-se do exército espanhol, retornando à Argentina para engajar-se nas lutas pela libertação. Logo, devido às suas habilidades militares e à capacidade de liderança, foi nomeado General do governo de libertação. Sabedores das iniciativas separatistas em Nova Granada, sob a liderança de Miranda e Bolívar, decidem então tentar a liberta- ção de toda a América do Sul espanhola. Até 1814, a resistência espanhola na atual Argentina estava praticamente debelada, de forma que San Martín e outros revolucionários planejavam atravessar os Andes e invadir o Chile, depois o Peru. Evidente- mente contavam com apoio de boa parte da po- pulação local. Em 1817, iniciou a travessia da Cordilheira. Dura resistência realista, que chegou a impor der- rotas graves ao exército libertador, prolongou a campanha no Chile até 1818. Em 5 de abril desse ano, a vitória na Batalha de Maipú assegurou a li- bertação chilena. Em 1820, era esse o cenário das lutas pela independência da América do Sul Espanhola: no Norte, Venezuela e Nova Granada estavam prati- camente libertos; no Sul, o Vice-Reinado do Pra- ta, idem. O Chile fora liberto em 1818. Restava o Peru. San Martín decidiu invadi-lo em setembro de 1820. Nove meses depois, em 28 de julho de 1821, ocupou Lima, capital do Peru, e, após consultar a população, declarou independência. Sem ter a su- premacia militar necessária, pediu apoio a Bolívar, então presidente da Grã-Colômbia, que a enviou, assegurando assim a independência também do Peru. Porém, ao re- tornar à Argentina, as lutas internas en- tre Buenos Aires e as demais províncias logo o desiludiram. Batalha de Maipú, 5/4/1817. Bandeira da Grã-Colômbia. Celso Ramos Figueiredo Filho Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 16 O país vivia mergulhado numa insolúvel guerra civil, que arrebanhava também a Banda Oriental. Por isso, em 1824, decidiu emigrar, viajan- do para a França, aonde veio a morrer em 1850. 2.1 A Fragmentação da América Central2 Em 1823, as antigas províncias da Capitania Geral da Guatemala proclamaram sua indepen- dência. Eram elas: Honduras, El Salvador, Nicará- gua, Costa Rica e a Guatemala propriamente dita. Chiapas, a província mais ao norte da Capitania, optou por anexar-se ao território mexicano. For- maram uma república federativa, cuja capital era a Cidade da Guatemala, e um legislativo bicame- ral. Cada unidade da federação tinha o seu próprio conjunto de três poderes, o que preservava grande autonomia para as oligarquias locais. Em todo o país, predominava a disputa en- tre os liberais e os conservadores. Os primeiros, de onde brotou o movimento pela independência, desejavam um Estado laico, a aplicação dos princí- pios liberais na economia e a ocupação das terras indígenas. Também propugnavam um poder cen- tralizado. Seu grupo mais forte era composto pelos antigos membros das elites criollas que, apesar do poder econômico proveniente, sobretudo, do co- mércio, estava alijadas da estrutura do poder polí- tico colonial. Os assim denominados “conservadores” eram remanescentes das elites realistas, que também atuavam no comércio, sobretudo naqueles setores monopolizados pela coroa, mas eram, principal- mente, grandes proprietários rurais. Eram mais au- tonomistas e, na estrutura administrativacolonial, ocupavam os postos de comando administrativo e militar. Tinham o apoio da Igreja, pois queriam a instauração de um Estado católico. Uma guerra civil opôs violentamente os dois grupos a partir de 1826. Com sua vitória, os liberais impuseram graves reveses aos conservadores e à Igreja, além de estabelecerem um poder ditatorial, exercido pelo general hondurenho Francisco Mo- razán. A situação, em nada consensual, gerou outra guerra civil, iniciada em 1873. Isso porque, com o poder centralizado nas mãos do ditador, as unida- des da federação foram perdendo cada vez mais sua autonomia. Em 1838, a Costa Rica abandonou a confederação, seguida de pronto pela Nicarágua e por Honduras. Formalmente, as Províncias Unidas deixaram de existir em 1839. 2 Esse tema é assunto também de uma aula web. Saiba maisSaiba mais Na América Central, as Províncias Uni- das da América Central dividiram-se em 1841, dando origem aos países que hoje compõem o Istmo, à exceção do Pana- má, separado da Colômbia no início do século XX. História da América Independente Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 17 2.2 Resumo do Capítulo Nossa longa trajetória neste capítulo está chegando ao fim. Vamos agora somente dar uma revisa- da neste importante conteúdo. Vimos que Símon Bolívar teve seu projeto de integração americana interrompido pelas disputas intraelites, cujos particularismos levaram à secessão de todo o antigo território do império colonial espa- nhol. Aliás, a preservação dos interesses das elites de cada uma das antigas províncias de todos os vice- -reinados está na raiz da gênese das atuais nações latino-americanas. Caro(a) aluno(a), vamos agora conferir seus conhecimentos sobre o assunto tratado anteriormente. 2.3 Atividades Propostas 1. Em relação à América Central, por que podemos afirmar que ela estava fadada à fragmentação desde a Independência? 2. Como podemos confirmar o descrédito do próprio Bolívar no seu outrora tão acalantado pro- jeto de unificação da América? Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 19 Neste capítulo, vamos estudar como os EUA substituíram as antigas metrópoles coloniais tão logo elas foram expulsas do continente. Já falamos anteriormente que a presença inglesa na América Central, assim como em pra- ticamente todas as antigas áreas de colonização ibérica, já se fazia sentir fortemente desde antes da independência. Nas guerras contra a França napo- leônica, os ingleses foram os maiores aliados dos espanhóis, tendo como contrapartida praticamen- te o monopólio do comércio internacional das “Ín- dias”. O controle econômico da região só não era absoluto devido à presença norte-americana, tam- bém importante, especialmente na América Cen- tral e no Caribe, desde o século XVIII. Com a pro- gressiva industrialização dos EUA no decorrer do XIX, somada à sua política expansionista, as áreas circunvizinhas da América Latina foram se tornan- do cada vez mais interessantes. Instaurou-se, pois, uma disputa comercial entre os britânicos e os ian- ques. É importante ressalvar, caro(a) aluno(a), que em momento algum, ao longo de todo o século XIX, a rivalidade comercial entre a Inglaterra e sua ex-colônia, no tocante à América Central e Caribe, ameaçou degringolar em confl ito. Isso porque am- bos eram, entre si, os respectivos parceiros econô- micos mais importantes. Portanto, as trocas fi nan- ceiras e comerciais nas rotas do Atlântico Norte suplantavam em muito, em termos de importân- cia, as trocas centro-americanas. Com efeito, não havia o menor interesse em ameaçar essa relação tão lucrativa para ambos, muito menos por um comércio de dimensões tão reduzidas quanto o centro-americano. E, para amenizar de vez as rela- ções entre ingleses e norte-americanos na região, em 1850 foi assinado pelos respectivos governos o Tratado Clayton-Bulwer. Através desse instrumen- to, os dois países se comprometiam a não inva- dir, ocupar, anexar ou colonizar nenhuma área da América Central e ainda davam garantias mútuas de apoio à construção do canal que ligaria o Atlân- tico ao Pacífi co. Mas alguma disputa houve e esta se acen- tuou radicalmente quando da descoberta do ouro na Califórnia, no fi nal da década de 1840. Nessa ocasião, a rede ferroviária norte-americana ainda não unia as duas costas e, especialmente, a Califór- nia, pois esta era território mexicano. Assim sendo, o caminho mais curto entre o leste e o oeste dos EUA passava pelo istmo centro-americano. Isso le- vou o governo norte-americano a negociar com a Nicarágua, em 1849, a construção de um canal transoceânico. No ano anterior, em 1848, já havia sido assinado um acordo entre os EUA e a Colôm- bia para a construção de um canal na então pro- víncia colombiana do Panamá. Em 1903, os EUA fomentaram a separação do Panamá em relação à Colômbia, para obter maiores facilidades na cons- trução do canal, que efetivamente teve início em 1908 e foi concluído em 1914. A Inglaterra, ainda hegemônica na região na metade do século XIX, adotou uma estratégia di- ferente daquela adotada pelos norte-americanos. Optando por agir como árbitro nos diversos lití- gios por fronteiras e navegação que envolveram os países centro-americanos, assegurou uma forte presença diplomática na região. A estratégia fun- cionou durante décadas, pois a Inglaterra perma- neceu como o país estrangeiro de maior presença na América Central até o século XX. 3 O IMPERIALISMO NORTE-AMERICANO NA AMÉRICA CENTRAL Celso Ramos Figueiredo Filho Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 20 Aliás, o verificado em relação à América Central pode, nos seus traços gerais, ser aplicado à América Latina como um todo, Brasil incluso. O rompimento do pacto colonial com a independên- cia beneficiou principalmente as elites ligadas ao comércio internacional. Manteve-se, pois, a mes- ma dependência econômica externa em relação à Inglaterra, primeiramente, e, depois, em relação aos Estados Unidos e a outros países. Estes, de forma muito conveniente e com a conivência das elites locais que lhes eram associadas, difundiram a ideia de que os países latino-americanos deve- riam continuar se especializando na exportação de produtos primários. Desse modo, continuavam, e continuam até hoje, a fornecer matérias-primas aos países industrializados e a importar os manufa- turados – muito mais caros – destes. Se, nos séculos XVIII e XIX, as mercadorias inglesas abarrotavam os portos latino-americanos, hoje são as empresas transnacionais de várias procedências, mas, sobre- tudo, norte-americanas, instaladas no território de vários desses países que sufocam sua possibilidade de independência econômica. Essas indústrias, para se instalarem, necessi- tam de obras de infraestrutura: rede de transpor- tes, energia elétrica, derivados de petróleo etc. Os países latino-americanos, por sua vez, para atender a essas exigências, sem dinheiro em caixa, foram buscá-lo no sistema financeiro internacional. Moral da história: a impagável dívida externa. Esse processo de industrialização se fez com capitais multinacionais e teve lugar a partir dos anos 1920 (Argentina) e 1950 (Brasil). O México também viveu esse processo, durante os anos 1930 e 1950. Ele é chamado “industrialização tardia”. O adjetivo ‘tardia’ é uma referência à industrialização “clássica”, ou seja, aquela verificada no final do sé- culo XVIII e início do XIX, no processo histórico que ficou mais conhecido com Revolução Industrial. Mas a diferença fundamental entre as duas industrializações não é cronológica, obviamente; diz respeito à origem dos capitais investidos no surgimento das indústrias. Na industrialização clás- sica, o capital é propriedade da burguesia nativa dos respectivos países, Inglaterra, Bélgica, França etc., e foi acumulado através da exploração, dire- ta ou indireta, de colônias noutros continentes. No caso da industrialização “tardia”, ela ocorre a partir de capitais externos ao país que está se industria-lizando, aliás, capitais esses provenientes dos mes- mos países que viveram a industrialização clássica. AtençãoAtenção Os EUA devolveram o controle do Canal ao Panamá somente em 1999, por força do Tratado Torrijos-Carter, de 1977. AtençãoAtenção A categoria teórica “Terceiro Mundo” surgiu pela primeira vez num artigo do demógrafo e economista Fran- ces Alfred Sauvy, publicado no jornal L’Obervateur,em 1952. Traçado atual do Canal do Panamá (1908-1914). História da América Independente Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 21 Quando se instalam nos países de Terceiro Mundo, as multinacionais normalmente o fazem mediante uma série de vantagens fiscais, que as indústrias similares locais jamais obteriam. Ao mesmo tem- po, essas empresas reenviam para suas sedes boa parte dos lucros obtidos nas operações no Tercei- ro Mundo, além do pagamento de royalties e de know-how pelo uso das marcas e dos projetos in- dustriais, respectivamente. Assim, o século XX presenciou a construção de um novo pacto colonial entre os países hege- mônicos no capitalismo mundial e na América La- tina. Sob a pecha de serem o “celeiro do mundo” ou de “terem uma vocação agrícola”, muitos países latino-americanos não buscaram modelos econô- micos alternativos e aqueles que buscaram a in- dustrialização “tardia” acabaram caindo em formas diferentes da mesma dominação. Saiba maisSaiba mais Empresas transnacionais são aquelas que possuem a matriz no seu país de origem, mas mantêm filiais em diversos outros. O termo substitui “multinacio- nais”, pois este pode levar à suposição de que se trata de uma empresa cuja propriedade é de várias nações. 3.1 Resumo do Capítulo Vamos agora resumir um pouco o que vimos neste capítulo. Estudamos que, desde o início do século XIX, os EUA olhavam cobiçosamente para o restante da América. Exemplo disso é a própria doutrina “Monroe”, criada pelo presidente James Monroe, em 1823, que determinava a “América para os americanos”, afastando, dessa forma, interesses europeus do con- tinente. Obviamente que a expansão norte-americana pela região foi facilitada pelos interesses locais, quer dizer, pela cumplicidade com amplas parcelas das elites locais que se beneficiavam com os acordos comerciais com os EUA. Exemplos marcantes da presença imperialista norte-americana são a Emenda Platt, em Cuba (1901), e a independência do Panamá (1903), que está diretamente relacionada ao Canal do Panamá Então, passemos a conferir nossa aprendizagem sobre este capítulo. 3.2 Atividades Propostas 1. Apesar de a América Central interessar sobremaneira aos EUA, por que jamais houve a ameaça de um conflito entre eles e a Inglaterra, então a toda poderosa na região? 2. Por que podemos afirmar que a independência do Panamá foi uma ação imperialista dos EUA na América Central? Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 23 Já falamos anteriormente que a independên- cia benefi ciou principalmente à elite criolla e, em um grau muitíssimo menor, aos mestiços. Mas os criollos foram indiscutivelmente os maiores bene- fi ciados, pois passaram a controlar os Estados re- cém-criados. É bom que se frise que não tinham o menor interesse em criar uma nova estrutura social. A exploração dos camponeses, indígenas e demais setores populares permaneceu intacta. Prova dis- so é o fato de que, em praticamente em nenhum dos novos países, a escravatura foi abolida imedia- tamente à independência. Mesmo em termos da elite, sua composição permaneceu exatamente a mesma: não surgiu uma burguesia industrial e o poder continuou a ser disputado entre os latifundi- ários e a burguesia mercantil. Este se dividia entre os Liberais e os Conser- vadores, todos da elite, mas alguns mais elitistas que os outros ou mais católicos. As disputas res- tringiam-se à ampliação ou não de alguns poucos direitos civis ou então à limitação dos privilégios da Igreja Católica. O liberalismo latino-americano restringia-se à defesa da livre-iniciativa e do direito de propriedade. No mais, eram boas ideias e belos discursos. O poder incontestável dos grandes proprie- tários rurais fazia deles os verdadeiros soberanos nas regiões por eles controladas. Muitas vezes, seu poder era de tal monta que nem mesmo o exérci- to nacional era capaz de batê-lo. Na América Es- panhola, esses potentados locais foram denomi- nados “caudilhos”, enquanto que no Brasil foram chamados “coronéis”. Exercem seu poder sobre a população das regiões onde possui suas fazendas, através de um misto de paternalismo com terror surdo, sempre escudados por um batalhão de ja- gunços – o seu verdadeiro exército pessoal. As camadas médias urbanas que existiam, e em parte ainda existem na América Latina, não eram compostas por trabalhadores assalariados ur- banos, mas sim por pequenos comerciantes, fun- cionários públicos e militares. Isso signifi ca que, no geral, eram indivíduos acomodados e bem adapta- dos a essa estrutura social, não representando, por- tanto, em termos classistas, uma ameaça à ordem vigente. Não havendo, praticamente, indústrias, não havia um proletariado urbano que, eventualmen- te organizado em sindicatos e partidos políticos, poderia ter alguma combatividade e questionar a estrutura dessas sociedades oligárquicas que eram aquelas dos países latino-americanos no século XIX e, quem sabe, em muitos deles, ainda o sejam. A grande massa de trabalhadores era composta por camponeses pobres, mestiços, ex-escravos e índios aculturados. Em vários países da América Latina, quando da independência, os indígenas ganharam a ci- dadania. Quer dizer, passaram a poder votar. E só! Mas como, na maioria dos casos, o voto era aberto, o “caudilho” local tinha total controle sobre o seu eleitorado, literalmente obrigando-o a votar em quem lhe fosse interessante. Isso naqueles países que não adotaram o voto censitário, ou seja, aque- le que exige que o cidadão detenha um determina- do patrimônio para poder participar das eleições. E mais, alçado à condição de “igual perante a lei”, de 4 POLÍTICA E SOCIEDADE NAAMÉRICA LATINA DicionárioDicionário Proletariado: trabalhador urbano ou rural que não possui nada além da sua força de trabalho, que é vendida como mercadoria nas socieda- des de economia capitalista. O termo foi cunha- do por Karl Marx. Celso Ramos Figueiredo Filho Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 24 cidadão, perdeu as salvaguardas legais que tinha durante o período colonial. Portanto, as terras co- munais onde viveram durante séculos passaram ao patrimônio público e foram, em seguida, vendidas a preços módicos para os grandes fazendeiros. 4.1 Disputas de Fronteiras entre os Estados Latino-Americanos Passadas as turbulentas décadas iniciais do período de independência, os Estados latino-ame- ricanos, razoavelmente pacificados e organizados, puseram-se a resolver seus litígios de fronteiras ex- ternas. Algumas dessas disputas remontavam ao período colonial, quando diferentes capitanias ou províncias de vice-reinados não tinham consegui- do definir com exatidão suas divisas, principalmen- te nas áreas de fronteira seca. Ao mesmo tempo, a estabilidade interna, naturalmente, fazia com que a atividade agrícola se ampliasse, exigindo cada vez mais novas terras. Três desses conflitos foram solucionados através de guerras violentas e de longa duração, cujas consequências extrapolaram muito os pró- prios motivos da contenda. Foi o caso da Guerra do Paraguai, que envolveu este país contra a Tríplice Aliança, composta pelo Brasil, Argentina e o Uru- guai, entre 1864 e 1870. Entre os vários motivos desse conflito estão, também, antigas disputas ter- ritoriais que remontam aos Impérios coloniais por- tuguês e espanhol. Mais detalhes dessa sangrenta guerra, que dizimou a população paraguaia e des- truiu sua economia, podem ser obtidos em nossa aula web sobre o Paraguai. A Guerra do Salitre Outra guerra prolongada e que trouxe prejuí- zos humanos e materiais incalculáveisé a chamada Guerra do Salitre, que envolveu o Chile e a Bolívia, em aliança com o Peru, durante os anos de 1879 e 1884. O motivo foi a disputa pela faixa de terra de três graus de latitude entre a Bolívia e o Chile, no deserto de Atacama. Região sem valor econô- mico durante todo o período colonial, sua fronteira não era demarcada de forma precisa. Já no período independente, o Chile fixou a fronteira no Paralelo 23° S, enquanto a Bolívia reivindicava que ela fosse estabelecida pelo Paralelo 26° S. A celeuma ficou em suspenso até a descoberta de importantes mi- nerais na região, que logo passou a ser ocupada por mineradoras chilenas. Entre os minerais desco- bertos em meados do século XIX, destacavam-se os nitratos, importantes ingredientes na composição de fertilizantes agrícolas e da pólvora. Além disso, essa estreita faixa de terra representava a saída da Bolívia para o oceano Pacífico. O Peru, por sua vez, temendo uma expansão militar e territorial chilena na sua fronteira sul e também por ter interesses associados aos da Bolí- via na exploração dos minérios recém-descobertos no Atacama, aliou-se a ela nessa pendência. Acor- dos preliminares entre Bolívia e Chile (1866 e 1874) não puseram fim à tensão entre eles. Até que, final- mente, em 1879, em resposta a ameaças bolivianas de encampar empresas chilenas instaladas no ter- ritório pretendido por ela, o Chile declarou guerra à Bolívia e ao Peru. Saiba maisSaiba mais O Tratado da Tríplice Aliança, assinado em 1º de maio de 1865, no seu art. 9º previa o respeito à integridade territorial do Paraguai no caso de derrota deste. Contudo, o artigo foi desrespeitado pelo Brasil e pela Argentina e o Paraguai foi alijado de 1/3 do seu território. Para co- nhecer o Tratado na íntegra, visite o site <http://franklinmartins.com.br/esta- cao_historia_artigo.php?titulo=tratado- -da-triplice-alianca-guerra-do-para- guai-1865>. História da América Independente Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 25 As forças militares chilenas, apesar de nu- mericamente inferiores, eram melhor adestradas e equipadas. Sua marinha, recém-reforçada por navios novos, logo ocupou o litoral da Bolívia e do Peru. Desembarcando tropas nesses litorais, o Chile manteve a ofensiva na guerra, chegando inclusive a ocupar a capital peruana, Lima, em 1881. O exér- cito boliviano já havia se retirado dos combates, após derrotas militares quando da invasão chilena do litoral. O combalido exército peruano perseve- rou numa tentativa de resistência aos chilenos por mais dois anos. O Peru e a Bolívia se renderam, for- malmente, em 20 de outubro de 1883, com a assi- natura do Tratado de Ancon. Derrotados, o Peru se viu privado da sua pro- víncia de Tarapacá, no sul do país, enquanto que a Bolívia perdeu sua saída para o mar através do por- to de Antofagasta, além das minas de nitrato. Em longo prazo, Peru e Bolívia se viram pri- vados de uma marinha de guerra, o que fragilizou ainda mais a posição desses países no cenário in- ternacional. Em termos econômicos, foram alijados da possibilidade de exploração desse recurso na- tural, que, tendo sido praticamente monopolizado pelos chilenos, rendeu ao país, somente até a déca- da de 1920, cerca de 1,0 bilhão de libras esterlinas. A Guerra do Chaco O Chaco é uma região fronteiriça entre o sul da Bolívia e o norte do Paraguai. Solo pantanoso, ocupado por índios bravios, durante todo o perío- do colonial não recebeu maiores atenções por par- te da Espanha. Por isso, desde a época do Vice-Rei- nado do Prata, as fronteiras entre as províncias do Paraguai e da Bolívia não foram detalhadamente demarcadas. Quando da independência, a região ficou sendo território paraguaio, sem que houves- se maiores contestações por parte dos bolivianos. Décadas depois, a região passaria a ser de ex- tremo interesse por parte da Bolívia. Com a derrota para o Chile na Guerra do Salitre, a Bolívia precisa- va, desesperadamente, encontrar uma nova saída para o mar. Tendo sua nascente no Chaco, o rio Pa- raguai se mostrou uma alternativa. Com efeito, desde 1879 a Bolívia levou seu pleito a Assunção. Sua reivindicação era que as fronteiras fossem rigorosamente demarcadas e que parte do território então paraguaio passasse a pertencer à Bolívia. Na região, no início do sécu- lo XX, foi descoberto petróleo. Em 1923, a Bolívia iniciou a escalada militar na região, deslocando contingentes e construindo fortins. A resposta pa- raguaia foi imediata e nos mesmos moldes, quer di- zer, fortalecendo suas posições militares na região. Pequenas escaramuças entre os dois exércitos, po- sicionados praticamente frente a frente, ocorreram nos anos de 1927 e 1929, elevando a temperatura e exigindo a intermediação de outros países, como a Argentina e os EUA. Fronteiras do Chile, Peru e Bolívia, antes e depois da guerra. Planície del Chaco. Celso Ramos Figueiredo Filho Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 26 Em 1932, por pressões internas, o presidente boliviano Daniel Salamanca encerrou as negocia- ções e rompeu relações com o Paraguai. Em 15 de julho desse ano, a Bolívia iniciou as operações mi- litares. Devido a ter tomado a iniciativa na guerra, a Bolívia conseguiu algumas vantagens militares iniciais. Contudo, desgastada economicamente, não consegui manter o ímpeto inicial e, em janei- ro de 1935, os paraguaios tomaram a iniciativa da guerra, ameaçando a importante cidade boliviana de Santa Cruz de la Sierra. Isso foi possível graças ao apoio que o Paraguai recebia, extraoficialmente, da Argentina, que lhe fornecia armamentos e mu- nições. Um Tratado de Paz foi assinado em 12 de junho de 1935, depois de a guerra ter consumido cerca de 30 mil vidas paraguaias e 60 mil vidas bo- livianas, além de ter extenuado economicamente os dois países. Em termos territoriais, apesar da vi- tória paraguaia, as fronteiras não se alteraram dras- ticamente, não trazendo, pois, impacto econômico nenhum. Alguns analistas econômicos e historiado- res defendem a tese de que as pressões de duas grandes empresas petrolíferas, a norte-americana Standard Oil e a anglo-holandesa Royal Dutch Shell sobre os governos boliviano e paraguaio, respecti- vamente, estejam nas razões de bastidores dessa guerra. Outros estudiosos localizam as causas mais fortes desse sangrento conflito nas dinâmicas po- líticas internas à Bolívia e nas pressões argentinas sobre o governo paraguaio. A Guerra das Malvinas O arquipélago das Malvinas (em espanhol) ou Falklands (em inglês) está localizado a 600 qui- lômetros do litoral argentino. No passado colonial, a possessão espanhola do arquipélago era reco- nhecida pelas outras potências colonialistas, po- rém, em 1833, os ingleses, que algumas décadas antes já o haviam ocupado, voltaram a se apode- rar do arquipélago. Sem importância econômica em si, as Malvinas, até a proibição da caça à baleia, eram um importante ponto de apoio para essa ati- vidade. Afora esse aspecto, hoje irrelevante, há a suspeita da ocorrência de petróleo nas suas águas territoriais. Além disso, na divisão do território An- tártico, por ser-lhe adjacente, o país que detiver sua possessão poderá pleitear participação nas nego- ciações. Por fim, o tráfego marítimo antártico lhe é circunvizinho. Todos esses fatores tornam o arqui- pélago bastante interessante, especialmente do ponto de vista geopolítico. Até hoje os ingleses mantêm-se inarredáveis na sua posição, que é veementemente contestada pela Argentina desde o século XIX. Sem declaração formal de guerra, em 2 de abril de 1982, numa ação relâmpago, a Argentina invadiu a ilha, tomando fa- cilmente a capital, Porto Stanley. A resposta inglesa foi imediata e avassaladora. Destinou ao arquipé- lago uma poderosa esquadra, composta por um porta-aviões, submarinos atômicos e diversos ou- tros navios de combate e apoio, e, para as opera- Imagem do sul da Argentina e das Malvinas. História da América Independente Unisa | Educaçãoa Distância | www.unisa.br 27 ções em terra, enviou cerca de 5.000 combatentes experientes e rigorosamente treinados. Os argentinos pouco puderam fazer frente à poderosa força britânica, porém os combates se prolongaram, por terra, mar e ar, até o dia 14 de junho de 1982, quando as forças argentinas, com- postas na sua grande maioria por soldados cons- critos, se renderam ante os paraquedistas ingleses. As consequências dessa aventura militar foram a morte de mais de 600 militares argentinos e de 220 britânicos, além da destruição de parte da esqua- dra de guerra portenha e de sua força aérea. Se a Junta Militar que presidia ditatorialmen- te a Argentina usou a guerra como instrumento para alavancagem da sua imagem junto à popula- ção, que estava cansada dos vários anos de autori- tarismo, a derrota piorou sua situação. Em pouco mais de um ano, a Argentina voltou a respirar ares democráticos, porém, economicamente, o país agravou sua condição. Os esforços de guerra cus- taram aos cofres públicos bilhões de dólares em dívidas, que contribuíram para o cenário de deca- dência que assolou o país até recentemente. Em termos diplomáticos, os EUA, ao apoia- rem a Grã-Bretanha, feriram todos os Tratados Inte- ramericanos. Isso serviu para evidenciar, mais uma vez, que, nos momentos de crise aguda, as alianças pendem para o lado daqueles com quem se man- têm as trocas comerciais mais importantes. AtençãoAtenção Segundo o site da BBC Brasil, o núme- ro de ingleses veteranos na Guerra das Malvinas, ou Falklands, como eles as chamam, mortos por suicídio supera o número de baixas em combate. Para a informação completa, consulte o site: http://www.bbc.co.uk/portuguese/no- ticias/2002/020313_malvveteranoscg. shtml. 4.2 Resumo do Capítulo Resumindo nosso percurso neste capítulo, destacamos a fragilidade das fronteiras entre diversos Estados latino-americanos, a exemplo da Bolívia, Peru e Chile, que travaram a Guerra do Salitre, entre 1879 e 1883, e a Guerra do Chaco (1932-1935), que envolveu o Paraguai e novamente a Bolívia. Finalmen- te, vimos a tentativa frustrada da Argentina em conquistar a soberania sobre as Ilhas Malvinas, entrando em guerra com a Inglaterra (1982). Mais uma vez, vamos dar uma conferida nos nossos estudos! 4.3 Atividades Propostas 1. Aponte algumas consequências da Guerra do Chaco para os países nela envolvidos. 2. Relacione a Guerra das Malvinas (1982) com a ditadura militar na Argentina (1976-1983). Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 29 5 ESTADOS UNIDOS NO SÉCULO XIX Narrar a história dos EUA equivale a descre- ver a efetivação, pelo menos até o momento, da concretização do espírito do “Destino Manifesto” (1845). Queremos dizer com isso que a história dos EUA pode ser encarada pelo prisma de uma gradual expansão do seu sistema econômico e do estilo de vida dele decorrente, primeiramente para os territórios circunvizinhos norte-americanos, em seguida, para a América Central e, fi nalmente, para todo o globo. É mais do que evidente a hegemonia econômica e política da rica nação norte-america- na sobre as demais áreas do continente e, por que não dizer, também do mundo. Saiba maisSaiba mais A crença de que os EUA foram eleitos por Deus para comandar o mundo e im- por a ele seus valores tratar-se-ia de algo inevitável, uma vez que era da dimen- são do destino, e irrefutável, pois estava manifestando-se. Serviu como justifi ca- tiva para o expansionismo estaduniden- se durante o século XIX e foi formulada pela primeira vez pelo jornalista de Nova Iorque, John L. O’Sullivan, em sua revista Democratic Review, em um ensaio inti- tulado Annexation, no qual defendia a anexação da então República do Texas à União. Fonte: http://estrondo.org/wp-content/uploads/2008/08/eua-no-mundo.jpg. Celso Ramos Figueiredo Filho Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 30 Evidentemente, essa expansão se deu à custa do trabalho, num primeiro momento, de milhões de escravos negros e, num segundo momento, dos trabalhadores assalariados pobres, entre os quais, se incluem os imigrantes e os próprios negros, li- bertos em 1862. A construção dessa hegemonia se deu, também, pelo extermínio das nações indíge- nas, pela usurpação de territórios mexicanos e, por fim, pela brutal exploração dos povos latino-ame- ricanos. No quadro reproduzido anteriormente, se vê, à esquerda, índios e animais selvagens sendo empurrados pelos colonos norte-americanos, que avançam pelas planícies do Centro-Oeste em dire- ção ao Pacífico. Note-se também que os peregrinos são secundados pelos “avanços” da civilização, ilus- trados pelo telégrafo e pela ferrovia. Ressalta, na composição do quadro, a imagem de uma mulher angelical, tal qual uma ninfa grega, que carrega em seus braços uma tábua de leis, tal qual Moisés. No plano das ideias, há quem acredite que se tratou da concretização do American Dream e da vitória do estilo de vida do self made man. Esse ide- ário supõe que os EUA são o “reino das oportunida- des” e quem souber “fazer a vida” obterá fama e for- tuna. Qualquer olhar mais atento a essa trajetória poderá perceber o quanto há de falso nessa ideo- logia – malgrado sua indiscutível permanência. Foi um “sonho” construído à base da violência contra outros povos e nações, da manipulação do Estado pelos grandes conglomerados. Hoje, ele ainda se sustenta através desses mesmos instrumentos e mantém sua aparência de virtuosismo em shows pirotécnicos e artificialismos. Mas, igualmente ao seu indiscutível poderio econômico, suas contradições sociais e políticas também remontam à colonização, basta lembrar que essas contradições, num dado momento da história nacional estadunidense, assumiram a di- mensão trágica de uma guerra fratricida, e até hoje são evidenciadas pela real condição de inferiorida- de à qual os negros e os nativos americanos são submetidos. Vejamos, então, como se deu o processo de independência das treze colônias inglesas da Amé- rica do Norte.3 3 As colônias do Norte eram as seguintes: New Hampshire (1624), que incluía o atual estado do Maine; Massachusetts (1691); New York (1664); Rhode Island (1663); Connecticut (1662); New Jersey (1664); Pensilvânia (1681); Delaware (1682); e Maryland (1632). As colônias do Sul eram: Virginia (1624); Carolina do Sul (1713); Carolina do Norte (1713); e Geórgia (1732). John Gast, Progresso Americano (1872). História da América Independente Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 31 O modelo de colonização entre as colônias do Norte e as do Sul foi radicalmente diferente e engendrou sociedades também diferentes. Se, no Norte, prevaleceu a pequena agricultura familiar, secundada por prósperas oficinas de manufaturas e um eficiente comércio, no Sul a atividade predo- minante foi a plantation. O I Congresso de Filadélfia (1774), que reuniu delegados das treze colônias, exigia a “taxação com representação”, quer dizer, as colônias concorda- vam em pagar tributos à Coroa desde que tivessem direito a ocupar assentos no Parlamento Britânico. O II Congresso das colônias, reunido igual- mente em Filadélfia, no ano seguinte, diante das recusas britânicas em conceder assentos aos colo- nos, deu corpo à ideia de separação. Importante lembrar que o ambiente interna- cional levou à participação da Espanha e da França, principalmente desta, na guerra, ao lado dos ame- ricanos. O Tratado de 1783 encerrou as hostilidades entre britânicos e sua ex-colônia. O que ocorreu não foi uma Revolução propriamente dita, pois o status quo das camadas socialmente dominantes e dominadas permaneceu absolutamente inaltera- do. Exemplo disso é a manutenção da instituição da escravidão. A Guerra de Independência foi um processo político, cuja resolução teve que ser atra- vés da medida de força, conduzido em todos os seus detalhes pelas elites locais das treze colônias e que objetivava essencialmente a ruptura do pacto colonial recém-apertado. Agricultores, artesãos,comerciantes, enfim, se opunham àqueles que se beneficiavam com o pacto. A guerra unificou sob um só comando mi- litar as treze colônias. Essa unificação – os “nacio- nalistas” – prevaleceu no pós-guerra frente às pro- postas antifederalistas. Isso porque se reconheceu que alguns assuntos, sobretudo aqueles de fórum internacional, deveriam ser tratados por um gover- no central devidamente autorizado para tal, como, por exemplo, a expansão para o oeste, defesa, co- mércio ultramarino, tributação federal e a criação de um Banco Central, que unificaria a moeda. Os que eram contrários à federação, que reunia par- ticularmente os pequenos e médios agricultores e comerciantes, quer dizer, aqueles cujas atividades alcançavam o âmbito meramente local, não dese- javam a criação de mais impostos, ou seja, aque- les que seriam usados na criação do poder central. O projeto federalista era fato consumado para as elites economicamente mais poderosas. Diante da sua inevitabilidade, os antifederalistas consegui- ram que certos impostos não fossem criados ao se responsabilizarem pela construção de estradas e pontes locais, escolas e igrejas para a comunidade. A centralização foi, por fim, adotada, visan- do a proteger os interesses principalmente dos comerciantes de ultramar e de âmbito nacional. Todavia, a soberania popular, tal como foi sacra- mentada pela Constituição de 1786, retificada em 1790, repousava na propriedade privada, ou seja, só tinha cidadania política o proprietário. Estava consagrado o princípio liberal proposto por John Locke. Segundo os historiadores especializados na história social norte-americana, esse princípio de cidadania, por si só excludente, remonta aos pri- meiros pioneiros. No Sul, as raízes sociais eram menos profun- das, predominando a figura do grande proprietário rural, devido à economia estar fundamentada nas plantations (arroz, milho, trigo e algodão, sendo que este irá prevalecer a partir da segunda metade do XVIII). O tráfico de escravos – que havia sido in- troduzido na colônia em 1630 – foi legalmente in- terrompido, por lei federal, em 1808. O contraban- do das Antilhas e a compra de escravos de outras áreas do país foram alternativas encontradas pelos grandes fazendeiros para o fornecimento de mão de obra. Além disso, diga-se de passagem, o trata- mento dado aos escravos era bem menos severo AtençãoAtenção As colônias do Norte eram as seguintes: New Hampshire (1624), que incluía o atu- al estado do Maine; Massachusetts (1691); New York (1664); Rhode Island (1663); Connecticut (1662); New Jersey (1664); Pensilvânia (1681); Delaware (1682); e Maryland (1632). As colônias do Sul eram: Virginia (1624), Carolina do Sul (1713); Ca- rolina do Norte (1713); e Geórgia (1732). Celso Ramos Figueiredo Filho Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 32 que o verificado nas colônias portuguesas e france- sas, por exemplo, aumentando significativamente a longevidade do escravo norte-americano. A explosão da produção algodoeira ocorreria no início do XIX. Se, em 1790, o Sul havia produzido 3.000 fardas do produto, em 1860 esse número sal- tou para espantosos 4,5 milhões. A produção havia se ampliado pelos estados do Alabama, Texas, Ca- rolina do Sul, Carolina do Norte, Mississipi, Louisia- na e Geórgia. No Norte, a economia era mais diversificada, incluindo, além da pequena e média agricultura, o artesanato e a pequena indústria. Ao lado dessas atividades, trabalhadas por famílias, havia também a grande indústria, especialmente a naval, além de um mercado financeiro bastante ativo, responsável pelo financiamento das plantações sulistas. A so- ciedade era predominantemente urbana, a exem- plo de Nova Iorque, que, em 1860, contava com 1 milhão de habitantes. No início do século XIX, os EUA estavam em franca expansão para o Oeste. Logo, o Centro-Oes- te, devido aos seus rios navegáveis em longo curso, se tornaria o celeiro do país e, até o final desse sécu- lo, se tornaria o maior produtor mundial de alimen- tos, exportando-os para vários países do globo. No Oeste, conquistado após a expulsão ou extermínio dos indígenas ou ainda pela anexação de territó- rios mexicanos, predominava uma vida comunal, no “espírito dos pioneiros”. A vida pródiga, laborio- sa, despojada das comodidades dos centros urba- nos, aliada à fraca presença dos poderes estatais – uma espécie de “terra sem lei” –, fez do Oeste uma terra bravia e cheia de oportunidades aos espíritos mais aventureiros ou para as famílias sem alternati- vas nas outras regiões do país. A “marcha para o Oeste” começou, informal- mente, ainda no período colonial. A fronteira natu- ral entre os territórios espanhol e inglês na América era os Montes Apalaches. Caçadores ou mesmo pe- quenos agricultores já se embrenhavam para além dessa cadeia montanhosa, que servia como fron- teira natural entre os territórios coloniais ingleses e espanhóis. Com a independência, esse processo se acentuou, levando os EUA a comprar, seja da Espanha, França (Louisiana) ou mesmo do México, todos os territórios até o Pacífico, até meados do século XIX. Os territórios que não foram adquiridos legalmente foram anexados após guerras de con- quista, a exemplo dos estados do Novo México, Colorado e Arizona, que pertenciam ao México até a guerra entre os dois países no ano de 1846. O re- sultado foi a perda de 40% do território mexicano, aproximadamente 2,5 milhões de km². Quanto ao Texas, uma curiosidade. Mesmo sendo território mexicano, desde os anos 1820, a presença de norte-americanos, que o adentravam em busca de áreas para o plantio de algodão, viveu um crescente. Em 1829, com a abolição da escra- vatura pelo governo mexicano, os colonos norte- -americanos, cujas relações com o governo do Mé- xico eram naturalmente tensas – inclusive já tendo sido pedida a anexação do território pelos colonos para o governo dos EUA – declaram a independên- cia do estado em 1836. Uma nova solicitação de anexação pelos texanos aos EUA, em 1845, dessa vez aceita, levou o México a declarar guerra contra os EUA em 1846. Outro fator que levou os dois paí- ses à guerra foi a descoberta do ouro na Califórnia, que atraiu milhares de americanos. A guerra se pro- longou até 1848 e trouxe como resultado a perda de vastos territórios pelo México: Califórnia, Utah, Nevada, partes do Arizona e do Novo México, Co- lorado, Wyoming, além do Texas. Mais detalhes da expansão norte-americana em direção ao Pacífico você tem na nossa aula web. Historiadores consideram que o “espírito co- munal” deixa, gradativamente, de prevalecer entre os norte-americanos e, já no início do século XIX, passa a predominar o individualismo. A política comercial protecionista adotada pelos EUA desde o início do século XIX fez com que os mercados europeus, em represália, evitas- sem a importação de produtos norte-americanos. Duas consequências desse fato: a América Latina tornou-se o mercado substituto ao europeu em DicionárioDicionário Plantation: conceito da historiografia e da eco- nomia política que designa as unidades agríco- las coloniais, cuja produção monocultora era destinada ao mercado metropolitano e traba- lhada pela mão de obra do escravo. História da América Independente Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 33 potencial e o sul, maior exportador para a Europa, reacendeu suas antigas rivalidades tarifárias em relação ao Norte. O maior argumento usado pelos sulistas era os states rights, ou seja, o direito de cada estado tarifar seus próprios produtos. O ingresso de imigrantes europeus passou a ser expressivo a partir da década de 1840; eles provinham, sobretudo, da Inglaterra, Irlanda, Ho- landa, Alemanha, Itália e França. O sonho comum era tornar-se proprietário rural, aproveitando a ex- pansão para o Oeste, mas muitos desses imigran- tes acabaram se tornando trabalhadores urbanos. Entre 1880 e 1910, era frequente o número de imi- grantes ultrapassar a cifra anual do milhão, mas
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