Buscar

Nulidades no Processo Penal (1)

Prévia do material em texto

GOVERNO DO ESTADO DE MATO GROSSO
SECRETARIA DE ESTADO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA
UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE BARRA DO BUGRES
FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO
NULIDADES NO PROCESSO PENAL
Docente: Gustavo Queiroz Rodrigues
Discente: Luclécio Ferreira de Araújo
Denise – MT, 25/04/2018
Introdução
	Podemos considerar as nulidades no processo penal como sendo defeitos jurídicos que possuem aptidão para tornar inválido ou sem valor um ato processual ou até mesmo o processo, total ou parcialmente.
	O processo demanda determinadas solenidades para que possa produzir efeitos jurídicos, logo, a inobservância dessas formalidades pode suceder a invalidação do mesmo, na medida em que se deu essa inobservância. O presente trabalho busca discorrer de forma sucinta e objetiva acerca das principais características das nulidades no processo penal.
	Ademais, é imprescindível destacar que, todo o conteúdo aqui exposto foi extraído do livro “CURSO DE PROCESSO PENAL – Fernando Capez”, mais precisamente do capítulo referente às nulidades, sendo este a fonte única de pesquisa. 
Nulidades no processo penal
	As nulidades são vícios que, se existente em algum processo ou ato processual, são capazes de torna-los inválidos, por inteiro ou em parte. Para uma melhor compreensão acerca dos vícios processuais, que levam a nulidade, podemos classifica-los em:
irregularidade: Aqui, a formalidade violada está estabelecida em norma infraconstitucional, não visando resguardar o interessa de nenhuma das partes. Logo, desatende a exigências formais sem qualquer relevância.
Nulidade relativa: Neste, a exigência violada está no ordenamento legal (infraconstitucional), estabelecida no interesse predominante das partes.
Nulidade absoluta: Nesse caso, viola-se formalidade que ofende diretamente a Constituição, mais precisamente os princípios constitucionais.
Inexistência: São atos que não possuem o mínimo para existirem como negócio jurídico.
Princípios básicos das nulidades
Princípio do prejuízo
O artigo 563 dispõe que “nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não resultar prejuízo para a acusação ou para a defesa”, desta forma, o magistrado somente vislumbrara a nulidade quando esta for prejudicial a uma das partes.
Princípio da instrumentalidade das formas ou da economia processual
Esse princípio encontra respaldo do art. 566 do CPP, segundo este, “não será declarada a nulidade de ato processual que não houver influído na apuração da verdade substancial ou na decisão da causa”.
Princípio da causalidade ou da sequencialidade
O princípio da causalidade ou da sequencialidade versa notoriamente sobre os atos que, quando anulados, causarão o mesmo efeito em outros que dele dependem.
Princípio do interesse
Segundo o princípio do interesse, a própria parte que deu causa à irregularidade não poderá pleitear a decretação da anulação do ato. O fundamento está no art. 565 do CPP, que dispõe: “Art. 565. Nenhuma das partes poderá argüir nulidade a que haja dado causa, ou para que tenha concorrido, ou referente a formalidade cuja observância só à parte contrária interesse”.
Princípio da convalidação
De acordo com esse princípio tem-se que, não se declara a nulidade quando for possível suprir o defeito. O princípio é aplicável apenas às nulidades relativas, em regra, pois o ato absolutamente nulo não pode ser saneado ou convalidado, a qualquer tempo, porém existem exceções.
O art. 571 estabelece o momento em que as nulidades relativas devam ser alegadas, sob pena de convalidação do ato viciado.
Princípio da não preclusão e do pronunciamento “ex officio”
Segundo esse princípio, que em regra é aplicado apenas às nulidades absolutas e podem ser reconhecidos de ofício, pelo juiz ou tribunal, a qualquer tempo, enquanto a decisão não transitar em julgado, as nulidades não precluem e podem ser reconhecidas independentemente de arguição pela outra parte.
Nulidades em espécie
	As espécies de nulidades estão elencadas no art. 564 do Código de Processo Penal, são eles:
“I – por incompetência, suspeição ou suborno do juiz;”
Incompetência
A incompetência consiste na incapacidade ou inaptidão do juiz, por força da matéria, da função ou de hierarquia para julgar a ação penal, sendo ignorado esse preceito caberá ao juiz declarar-se incompetente de ofício ou ao Tribunal reconhecê-la.
A incompetência pode ser dividida em: I) incompetência absoluta: o juiz fica privado totalmente de seu poder jurisdicional, deixando de ser o juiz natural da causa. Na incompetência absoluta, todos os atos serão anulados, mesmo os não decisórios; e II) incompetência relativa: serão anulados somente os atos decisórios, que são aqueles em que há decisão de mérito, aproveitando-se os atos instrutórios (CPP, art. 567).
A incompetência territorial traz nulidade relativa, anulando-seapenas os atos decisórios. Nos demais casos de incompetência (em razão da matéria e de função) constituem causas de nulidade absoluta.
Suspeição e suborno do juiz
O caso da suspeição, no processo penal é perfeitamente distinguida de impedimento. No processo penal o impedimento é causa de inexistência dos atos praticados pelo magistrado impedido, a suspeição culmina o ato de nulidade absoluta, o impedimento acarreta a sua inexistência não existindo nenhuma capacidade jurisdicional.
De acordo com o art. 112 do CPP “O juiz deve proclamar-se suspeito ou impedido, quando for o caso. Se não o fizer, poderá ser arguido o vício por qualquer das partes”. 
O suborno, segundo Bento de Faria “é a expressão de desonestidade funcional, por corrupção passiva ou por prevaricação. Além de afastar o juiz sem dignidade, sujeita-o a sanção penal”. O suborno, se constatado, constitui causa geradora de nulidade absoluta de nulidade.
“II – por ilegitimidade de parte;”
	Neste caso, a ilegitimidade da parte pode ser ad causam e ad processum. 
Na ilegitimidade ad causam a nulidade é absoluta, uma vez que, segundo a lição de Buzaid, “ocorre a impertinência subjetiva da ação, em razão de o autor não ser o titular da ação ajuizada, ou de o réu não poder integrar a relação jurídica processual, quer por não ser imputável, quer por não ter evidentemente concorrido para a prática do fato típico e ilícito.”
Já a ilegitimidade ad processum provém da ausência da capacidade postulatória do autor da ação ou incapacidade deste para estar em juízo.
“III – por falta das fórmulas ou dos termos seguintes:”
	O inciso III do art. 564 do CPP, elenca casos em que poderá ocorrer esse vício processual, são elas:
Denúncia ou queixa e representação. Não há processo sem denúncia ou queixa, bem como se faltar a condição da representação. Se faltar requisito essencial a uma delas, também haverá nulidade.
Exame de corpo de delito, direto ou indireto, nos crimes que deixam vestígios, se essa falta não for suprida pela prova testemunhal. Como já visto, nos crimes não-transeuntes, o exame pericial é indispensável, podendo ser suprido, em caso de desaparecimento de vestígios, pela prova testemunhal. Não realizado o exame, tem-se nulidade.
Nomeação de defensor ao réu presente, que não o tiver, ou ao ausente. Devido à regra da ampla defesa, constitui nulidade absoluta a não nomeação de defensor ao acusado. Lembre-se que, primeiramente, deve-se abrir oportunidade para que o acusado escolha seu defensor. Não o fazendo, deverá o juiz nomear-lhe um. O Código de Processo estipulava também a necessidade de nomeação de curador ao menor de 21 anos, mas é entendimento quase unânime de que o dispositivo foi derrogado.
Intervenção do Ministério Público em todos os termos da ação penal pública ou privada subsidiária da pública. Decorre da indisponibilidade da ação pelo Ministério Público. A não intervenção na ação privada subsidiária da pública se estende, na verdade, a todas modalidades de ação privada, pois em todas ele exerce a função de custos legis. Nestas, a não intervenção é nulidade relativa, justamente por não ser o órgão ministerialparte.
Citação do réu para ver-se processar, seu interrogatório, quando presente, e prazos concedidos às partes. A falta de citação constitui nulidade absoluta, mas ela poderá ser suprida pelo comparecimento espontâneo do réu no processo (art. 570, CPP), conforme estudado anteriormente. Os demais atos, da mesma forma, consistem em nulidade absoluta.
Sentença de pronúncia, libelo e respectiva cópia, com o rol de testemunhas, nos processos do júri. Todos os atos dizem respeito à nulidade absoluta, com exceção da entrega de cópia do libelo ao acusado, em que há divergência doutrinária.
Intimação do réu para a sessão de julgamento no júri, quando a lei não permitir o julgamento à revelia. Se o crime for inafiançável, a presença do réu em plenário do júri é obrigatória. Se afiançável, só não haverá nulidade se ele for devidamente intimado.
Intimação das testemunhas arroladas no libelo e na contrariedade, nos termos estabelecidos pela lei. Tal ausência de intimação constitui nulidade relativa, ou seja, a parte deve demonstrar o prejuízo dela decorrente.
Presença de pelo menos 15 jurados para a constituição do júri. Tal regra existe para que se possa garantir o número de 7 componentes do conselho de sentença, levando-se em conta as recusas imotivadas e motivadas, se houver.
Sorteio dos jurados do Conselho de Sentença em número legal e sua incomunicabilidade. São causas de nulidade absoluta.
Quesitos e respectivas respostas. São causas de nulidade absoluta.
Acusação e defesa, na sessão de julgamento. Aqui não se trata apenas do júri, mas de qualquer audiência, em deva haver debates.
Sentença. A ausência de sentença, bem como de qualquer requisito que nela seja essencial traduz nulidade absoluta. 
Recurso de ofício, nos casos em que a lei o tenha estabelecido. A ausência do reexame obrigatório não só anula o processo, como também impede o trânsito em julgado da decisão.
Intimação, nas decisões estabelecidas pela lei, para ciência de sentenças e despachos de que caiba recurso. A nulidade, nesses casos, se dará em relação aos atos que decorrem da decisão e não dela propriamente. Trata-se de nulidade absoluta.
 Nos tribunais, o quorum legal para o julgamento. Os órgãos colegiados devem atender ao número mínimo para sua composição. Sem ele, haverá nulidade absoluta.
“IV – por omissão de formalidade que constitua elemento essencial do ato.”
Se o ato é revestido de alguns requisitos essenciais para a sua validade, a inobservância ou ausência de um desses requisitos vai resultar na nulidade do mesmo.
Momento oportuno para a arguição das nulidades relativas
	Diferentemente das nulidades absolutas, as relativas consideram-se sanadas “se não alegadas no momento processual oportuno (princípio da convalidação)”. 
	As nulidades relativas, devem ser arguidas, nos termos do art. 571 e incisos:
as da instrução criminal, na fase das alegações finais orais ou da apresentação de memoriais, conforme ocorra ou não a cisão da audiência de instrução e julgamento (CPP, art. 403, caput e § 3º);
 no processo sumário, no prazo da defesa inicial (CPP, art. 396), as ocorridas após o oferecimento dessa defesa e antes da realização da audiência de instrução e julgamento devem ser arguidas logo após a sua abertura, depois de feito o pregão das partes;
as posteriores à pronúncia, logo após a instalação da sessão, depois de feito o anúncio do julgamento e o pregão das partes;
as que ocorrerem durante o julgamento em plenário, logo em seguida à sua ocorrência;
após surgidas na sentença definitiva, devem ser alegadas, em preliminar, nas razões de recurso. Convém mencionar que no prazo de resposta à acusação (defesa inicial do art. 396 do CPP), poderá ser arguida, além das matérias que levem à absolvição sumária do acusado, a nulidade por incompetência relativa do juízo, pois a absoluta poderá sê-lo em qualquer tempo e grau de jurisdição.
Conclusão
	As nulidades são essenciais para que o processo não seja maculado por vícios e consequentemente vindo a prejudicar qualquer dos litigantes em face disso. Além disso, garantem a efetividade da ampla defesa e do contraditório, bem como os demais princípios constitucionais inerentes ao processo.
Referências
CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 23. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2016.

Mais conteúdos dessa disciplina