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Clínica Médica I – M5 Hematologia 2018.2 - Paula Hissi Página 1 Introdução: As síndromes falciformes são causadas por uma mutação no gene da beta-globina, com modificação do sexto aminoácido, substituindo o ácido glutâmico pela valina. As células falcêmicas perdem a flexibilidade necessária para atravessar os pequenos capilares. Além disso, possuem membranas viscosas alteradas, que aderem anormalmente ao endotélio das pequenas vênulas. Tais anormalidades provocam episódios de vasoclusão microvascular e destruição prematura dos eritrócitos (anemia hemolítica). As células aderentes rígidas causam obstrução dos pequenos capilares e das vênulas, provocando isquemia tecidual, dor aguda e lesão gradual dos órgãos-alvo. As manifestações clínicas só aparecem após o nascimento, uma vez que a hemoglobina fetal não possui cadeia beta. Após o nascimento, quando a hemoglobina fetal começa a ser substituída pela hemoglobina A1, inicia-se o quadro. Fisiopatologia A substituição do ácido glutâmico pela valina tem como consequência final a polimerização das moléculas de hemoglobina anormal (HbS) quando desoxigenadas. Essa polimerização depende de diversos fatores, como concentração de oxigênio, pH, concentração de hemoglobina S, temperatura, pressão e presença de hemoglobinas normais. Essa polimerização resulta na alteração da forma do eritrócito e na acentuada redução da sua deformabilidade. Todas as hemácias contendo predominantemente hemoglobina S podem adquirir a forma falciforme clássica após a sua desoxigenação, esse processo pode ser revertido após a reoxigenação. No entanto, a repetição frequente desse fenômeno provica lesão de membrana em algumas células, fazendo com que a rigidez e a configuração em forma de foice persistam mesmo apóis a reoxigenação. Assim, esses células vão sofrer hemólise. Além do processo de hemólise, essas células anormais também provocam um processo vaso-oclusivo que geralmente ocorre na microcirculação. A liberação intravascular de hemoglobina pelas hemácias fragilizadas, além da vaso- oclusão recorrente e dos processos de isquemia e reperfusão, leva a dano e ativação das células endoteliais da parede do vaso. Como consequência, há indução de uma resposta inflamatória vascular e a adesão de células brancas e vermelhas à parede dos vasos sanguíneos. Tal fato, associado a uma redução na biodisponibilidade de Óxido Nítrico (NO) no interior do vaso e ao estresse oxidativo, pode ocasionar, em alguns casos, uma redução no fluxo sanguíneo e, finalmente, a vaso-oclusão. Clínica Médica I – M5 Hematologia 2018.2 - Paula Hissi Página 2 Manifestações Clínicas A maioria dos pacientes apresentam anemia hemolítica, com hematócrito de 15-30% e reticulocitose significativa A granulocitose é comum. A contagem dos leucócitos pode flutuar de forma significativa A vasoclusão resulta em múltiplas manifestações o Provocam isquemia que se manifesta como dor aguda e hipersensibilidade, febre, taquicardia e ansiedade >> CRISES ÁLGICAS << o Esses episódios estão associados a acúmulo de lesão no órgão alvo o Fatores desencadeantes: Infecção Febre Exercício físico excessivo Ansiedade Mudanças abruptas de temperatura Hipóxia Corantes hipertônicos o A oclusão dos vasos da retina podem causar hemorragia, neovascularização e descolamento subsequente o A isquemia óssea e articular podem resultar em necrose asséptica, artropatia crônica e maior susceptibilidade à osteomielite o Síndrome da mão e pé Inchaço das extremidades o O AVE é particularmente comum em crianças o Microinfartos renais A necrose renal mais disseminada pode acarretar em insuficiência renal o Microinfartos miocárdicos >> miocardiopatia o Priapismo: ereção peniana permanente por trombose dos ductos cavernosos A impotência permanente é uma consequência frequente o Úlceras crônicas das pernas (úlcera perimaleolar bilateral) Surgem por isquemia na circulação distal seguida de infecção o Síndrome torácica aguda Dor torácica, taquipneia, febre, tosse e dessaturação da oxigenação arterial Infarto pulmonar e pneumonia são as afecções subjacentes ou concomitantes mais frequentes As crises pulmonares causam hipertensão pulmonar e cor pulmonale o Lesões subagudas e crônicas do SNC são comuns e começam no início da infância Clínica Médica I – M5 Hematologia 2018.2 - Paula Hissi Página 3 o Infecções: Baço realiza piquinose, crianças falcemicas desenvolvem auto- esplenectomia por microinfartos, por isso as crianças com anemia falciforme têm muitas infecções e sepse por pneumococo, streptococo e hemofilo Diagnóstico Eletroforese de hemoglobina Teste de afoiçamento Tratamento Hidratação o Importante para o controle das crises álgicas. Hidroxiureia (hydrea) o Aumenta a hemoglobina fetal e também pode exercer efeitos benéficos sobre a hidratação dos eritrócitos, aderência à parede vascular e supressão das contagens de granulócitos e reticulócitos Antibioticoterapia Vacinação para hemofilo, pneumococo e Antibiótico oral até os 15 anos Analgésico Opiáceos Anti-inflamatório (tomar cuidado porque é nefrotóxico) Transfusão sanguínea Transplante de medula óssea: o Pode propiciar a cura definitiva, mas só é eficaz em crianças Traço falcêmico: Geralmente é assintomático. Recomenda-se evitar a desidratação ou o estresse físico intenso. Os pacientes com síndromes falciformes necessitam de assistência contínua. Medidas preventivas incluem exames regulares para monitorar o desenvolvimento de retinopatia, profilaxia apropriada com antibióticos para pacientes esplenectomizados durante procedimentos invasivos e hidratação oral vigorosa durante os períodos de exercício extremo ou sua antecipação, exposição ao calor e ao frio, estresse emocional ou infecção. As vacinas contra pneumococos e heamophilus são menos eficazes nos indivíduos esplenectomizados, por isso devem ser administradas logo no início da vida.
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