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42 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 05 /1 7 Unidade III Unidade III 5 DEFINIÇÕES E CONCEITOS DE QUALIDADE Silva (2002) destaca que a definição da qualidade continua a envolver bens e serviços. A falta de um conceito claro torna difícil para as organizações medir, controlar e gerenciar a qualidade. Por outro lado, Paladini (2009) coloca que selecionar quais princípios serão usados para definir qualidade é a primeira grande decisão da Gestão da Qualidade. Isso porque, escolhidos os conceitos, começam a ser designados quais deles determinarão as características gerais e as formas de atuação da Gestão da Qualidade. Segundo o autor, pouca coisa muda tanto, e tão rapidamente, quanto o conceito da qualidade. Paladini (2009) destaca que a dependência do conceito da qualidade em relação ao momento presente aflige quem atua em setores produtivos (sobretudo os mais competitivos) e gera uma importante prioridade em suas ações: o empenho pelas inovações em produtos, processos ou métodos de ação. Como a inovação não decorre da intuição, do improviso ou de tentativas a esmo, a dinamicidade do conceito da qualidade exige, de todos aqueles que a priorizam em suas ações e em seus resultados, extrema competência, tenaz persistência, movimentação constante, certa dose de agressividade e busca incessante pela originalidade. Ainda, conforme destaca Paladini (2009), adotar conceitos equivocados da qualidade conduz o processo gerencial associado à sua produção para situações que podem comprometer ações e resultados, com prejuízos cruciais em termos de competitividade. Vejamos um exemplo citado pelo autor: Há quem pense que qualidade seja o mesmo que perfeição. Efeito deste entendimento: a qualidade atingiu um estágio que não comporta mais mudanças. Implicações nas diretrizes e ações da Gestão da Qualidade: o que é perfeito não pode melhorar mais. Foi atingido o valor máximo, não podendo mais ser alterado. O produto, nestas condições, dispõe de tudo o que é possível, aceitável, viável ou admissível em termos de atributos de funcionamento. Qualidade, nestas condições, adquire contornos estáticos, limitantes, restritivos (PALADINI, 2009, p. 13). Vamos abordar os conceitos de qualidade, produtividade e competitividade, além de sua importância nas decisões estratégicas para a gestão da qualidade nas organizações. 43 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 05 /1 7 FUNDAMENTOS DA QUALIDADE 5.1 Qualidade, produtividade e competitividade Segundo Costa Neto e Canuto (2010), o conceito de qualidade foi objeto de muita discussão ao longo do tempo e ainda hoje suscita controvérsias. Entretanto, chegou‑se a um certo consenso em admitir cinco abordagens principais para qualidade. Por outro lado, Marshall Junior et al. (2012) também destaca que há uma grande variedade de conceitos e definições da qualidade na literatura especializada e em áreas afins. Segundo Garvin (2002, p. 48) apud Marshall Junior et al. (2012), existem cinco abordagens principais para a definição de qualidade, são elas: Abordagens da qualidade • transcendental • baseada no produto • baseada no usuário • baseada na produção • baseada no valor Figura 17 O quadro a seguir sintetiza a definição de qualidade sob o prisma de cada uma destas abordagens: Quadro 10 – Abordagem da qualidade Abordagens Definição Frases Transcendental Qualidade é sinônimo de excelência inata. É absoluta e universalmente reconhecível. Dificuldade: pouca orientação prática. A qualidade não é nem pensamento, nem matéria, mas uma terceira entidade independente das duas [...] Ainda que qualidade não possa ser definida, sabe‑se que ela existe (PIRSIG, 1974). Baseada no produto Qualidade é uma variável precisa e mensurável, oriunda dos atributos do produto. Corolários: melhor qualidade só com maior custo. Dificuldade: nem sempre existe uma correspondência nítida entre os atributos do produto e a qualidade. Diferenças na qualidade equivalem a diferenças na quantidade de alguns elementos ou atributos desejados (ABBOUT, 1955). Baseada no usuário Qualidade é uma variável subjetiva. Produtos de melhor qualidade atendem melhor aos desejos do consumidor. Dificuldade: agregar preferências e distinguir atributos que maximizam a satisfação. A qualidade consiste na capacidade de satisfazer desejos [...] (EDWARDS, 1968). Qualidade é a satisfação das necessidades do consumidor [...] Qualidade é adequação ao uso (JURAN, 1974). 44 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 05 /1 7 Unidade III Baseada na produção Qualidade é uma variável precisa e mensurável, oriunda do grau de conformidade do planejado com o executado. Esta abordagem dá ênfase a ferramentas estatísticas (controle do processo). Qualidade é a conformidade às especificações.” [...] Prevenir não conformidade é mais barato que corrigir ou refazer o trabalho (CROSBY, 1979). Baseada no valor Abordagem de difícil aplicação, pois mistura dois conceitos distintos: excelência e valor, destacando os trade‑off qualidade x preço. Esta abordagem dá ênfase à engenharia/análise de valor (EAV). Qualidade é o grau de excelência a um preço aceitável (BROH, 1974). Fonte: Carvalho; Paladini (2012, p. 9). Observação O termo trade‑off é uma expressão em inglês que significa o ato de escolher uma coisa em detrimento de outra, muitas vezes traduzido como perde e ganha. De acordo com Costa Neto e Canuto (2010), as cinco abordagens clássicas da qualidade, vistas e consagradas na literatura: transcendental (T), baseada no produto (Pd), baseada no usuário (U), baseada no processo (Pc) e baseada no valor (V), embutem diferentes graus de objetividade e subjetividade, aproximadamente, conforme mostrado a seguir: U Pd V T Pc (100:0) (0:100) Subjetividade (%) Objetividade (%) Figura 18 – Graus de objetividade e subjetividade das abordagens da qualidade Analisando a figura mencionada, Costa Neto e Canuto (2010) verificam que a única abordagem 100% objetiva é aquela fundamentada no processo (Pc), pois há um conjunto objetivo de especificações de projeto que deve ser seguido à risca pelos que executam o produto ou o serviço. A abordagem transcendental (T) se aproxima da completa objetividade, uma vez que se busca criar produtos ou serviços de excelência, mas tal conceito admite a possibilidade de alguma interpretação subjetiva, pois a concepção de excelência não é absoluta. Por outro lado, Oliveira (2012) destaca que, sob a visão transcendente, a qualidade é sinônimo de excelência absoluta e universalmente reconhecível, marca de padrões irretorquíveis e de alto nível de realização. Há algo de intemporal e duradouro nas obras de alta qualidade. Segundo o autor, percebe‑se com essa visão que a qualidade não é passível de análise e que aprendemos a reconhecê‑la apenas pela experiência. 45 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 05 /1 7 FUNDAMENTOS DA QUALIDADE Quanto à abordagem fundamentada no valor (V), é mais objetiva do que subjetiva pela sua própria natureza, pois o valor tende a ser uma característica objetivamente atribuída por um mercado atuante, mas embute um componente subjetivo considerável, pois os clientes podem ter variações próprias quanto ao valor de uso que atribuem ao produto ou serviço oferecido, dentro de uma certa faixa razoável de dispersão. Segundo Oliveira (2012), a visão da qualidade fundamentada no valor define qualidade em termos de custo e preço. Dessa forma, um produto de qualidade oferece desempenho ou conformidadea preço ou custo aceitável. Podemos observar que a abordagem fundamentada no produto (Pd) está colocada aproximadamente no centro do espectro, pois tem características objetivas, no que diz respeito aos itens de satisfação de necessidades que o produto ou serviço oferece, e subjetivas, no que concerne ao real interesse dos clientes por esses objetos, na sua totalidade ou parcialmente. Com relação à abordagem fundamentada no produto, Oliveira (2012) coloca que a qualidade é uma variável precisa e mensurável. As diferenças de qualidade refletem nas diferenças da quantidade de algum ingrediente ou atributo do produto. Essa abordagem, segundo o autor, confere uma dimensão vertical ou hierárquica à qualidade, pois os produtos podem ser classificados de acordo com a quantia do atributo desejado. Por último, a abordagem fundamentada no usuário (U) é bastante subjetiva por motivos óbvios. A objetividade, nesse caso, depende do conhecimento dos desejos dos clientes que demandam produtos e/ou serviços pelos fabricantes que ofertam esses produtos e/ou serviços. Sobre o tratamento fundamentado no usuário, Oliveira (2012) diz que a premissa básica é a de que a qualidade está diante dos olhos de quem a observa. Assim, admite‑se que cada consumidor tenha diferentes desejos e necessidades e que o produto que atende melhor às suas preferências seja o que ele considera como o de melhor qualidade. Trata‑se do grande desafio das empresas, ou seja, a satisfação do cliente. Outro ponto salientado por Costa Neto e Canuto (2010), referente às cinco abordagens da qualidade, diz respeito aos aspectos: perfil dos clientes que as priorizam, quais aspectos devem ser privilegiados pelos responsáveis pela qualidade e quais deles não são tão importantes. Quadro 11 – Prioridades às abordagens da qualidade Abordagem A quem prioriza O que prioriza O que não prioriza Transcendental Público rico Status Excelência Marca Custo Produto Público tecnicamente esclarecido Utilidade do produto Atendimento às necessidades Supérfluos 46 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 05 /1 7 Unidade III Usuário Público majoritário Apelo do produto Conhecimento do mercado Custo O que escapa à visão majoritária Produção Mercado em geral Engenharia Processo Conformidade Conhecimento do mercado Valor Público economicamente esclarecido Itens que valorizam sem onerar Supérfluos Fonte: Costa Neto; Canuto (2010, p. 164). Conforme destaca Marshall Junior et al. (2012), outras definições podem ser enquadradas nas citadas a partir de seus aspectos preponderantes, mas, eventualmente, é possível perceber algum conflito entre elas. Dependendo da área considerada – marketing, vendas, produção –, uma ou outra acepção aplica‑se melhor. Ainda, segundo o autor, o caminho mais seguro para definir qualidade em uma empresa é sua política da qualidade, que pode incluir mais de uma das abordagens citadas. Nesse contexto, a integração e o trabalho em equipe são fundamentais para atingir os objetivos da organização em relação à definição de uma política da qualidade que engloba a organização como um todo. De acordo com a Norma ISO 9001:2015 – requisito 5.2.1, temos a seguinte definição para Política da Qualidade: [...] 5.2.1 Política da Qualidade A Alta Direção deve estabelecer, implementar e manter uma política da qualidade que: a) Seja apropriada ao propósito e ao contexto da organização e apoie seu direcionamento estratégico; b) Proveja uma estrutura para o estabelecimento dos objetivos da qualidade; c) Inclua um comprometimento em satisfazer requisitos aplicáveis; d) Inclua um comprometimento com a melhoria continua do sistema de gestão da qualidade (ABNT, 2015, p. 15). 47 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 05 /1 7 FUNDAMENTOS DA QUALIDADE Saiba mais Para conhecer a Política da Qualidade da Nestlé, leia: NESTLÉ. Princípios Nestlé de Gestão Empresarial. Vevey, jun. 2010. Disponível em: <http://www.nestle.com/asset‑library/documents/library/ documents/corporate_social_responsibility/nestle_corporate_business_ principles__brazilianportuguese.pdf>. Acesso em: 3 mai. 2017. Exemplo de aplicação Faça uma pesquisa nas empresas da sua região, ou naquela em que você atua, e descreva a sua Política da Qualidade. Reflita a respeito das abordagens que identificar. Segundo Silva (2002), quando os clientes avaliam a qualidade, eles levam em consideração vários aspectos diferentes dos produtos e serviços. Outra forma interessante de abordar a questão da caracterização do conceito da qualidade é por meio de suas dimensões. As dimensões de qualidade têm implicações importantes, pois as empresas precisam procurar os clientes para definir os padrões de medida de qualidade. Lembrete A Política da Qualidade demonstra comprometimento da alta liderança com a organização e as partes interessadas. Todavia, como obter tais informações? As empresas utilizam pesquisas e sugestões de clientes, cujos dados podem ser usados para medir a qualidade. As expectativas dos clientes em relação à qualidade são afetadas por vários fatores, incluindo produtos concorrentes, e mudam com o decorrer do tempo. Em razão dessas alterações, os produtos e serviços devem, portanto, ser melhorados para atender às novas demandas dos consumidores. Vejamos esses conceitos de qualidade que podem ser desdobrados em elementos básicos, como os elencados por Garvin (2002, p. 59‑60) apud Marshall Junior et al. (2012). 48 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 05 /1 7 Unidade III Quadro 12 – Dimensões da qualidade Atributos Descrição Desempenho Refere‑se às características operacionais básicas do produto. Características São as funções secundárias do produto, que suplementam seu funcionamento básico. Confiabilidade Reflete a probabilidade de mau funcionamento de um produto. Conformidade Refere‑se ao grau em que o produto e as características operacionais de um produto estão de acordo com padrões preestabelecidos. Durabilidade Refere‑se à vida útil de um produto, considerando suas dimensões econômicas e técnicas. Atendimento Refere‑se à rapidez, cortesia, facilidade de reparo ou substituição. Estética Refere‑se ao julgamento pessoal e ao reflexo das preferências individuais. Qualidade percebida Refere‑se à opinião subjetiva do usuário acerca do produto. Fonte: Marshall (2012, p. 33‑34). Nesse sentido, Silva (2002) coloca que uma questão‑chave é como obter a qualidade. São necessárias várias atividades ou realizações, tais como: • qualidade do design: após a identificação de quem são seus clientes, a empresa tem de determinar o que seus clientes querem dos seus produtos e serviços. Depois seus produtos e serviços são elaborados para exibir os atributos necessários para atender às expectativas dos clientes; • capacidade de qualidade dos processos: os processos de produção têm de ser elaborados e desenvolvidos para ter capacidade de produzir produtos com os atributos desejados pelos clientes; • qualidade de conformidade: os locais de produção devem então ser operados para produzir produtos e serviços que atendam às especificações de design e desempenho voltadas para as expectativas de qualidade dos clientes; • qualidade do atendimento ao cliente: todos os contatos entre os clientes e as empresas têm de ser administrados de forma que os clientes sintam que foram tratados de forma justa e educada com suas necessidades sendo atendidas imediatamente e com interesse; • cultura de qualidade da organização: toda organização terá que ser energizada para fazer o que é necessáriopara projetar, produzir e dar assistência técnica aos produtos e serviços que atendam às expectativas dos clientes. Dessa forma, o conceito de administração da qualidade começa na administração superior, de onde vem a inspiração e a coordenação. O papel da administração da qualidade é procurar garantir a satisfação do cliente e, ao mesmo tempo, assegurar os interesses econômicos da empresa. Todo produto ou serviço é realizado por um par de mãos humanas; portanto, a obtenção da qualidade depende de participação e do apoio das pessoas. 49 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 05 /1 7 FUNDAMENTOS DA QUALIDADE Lembrete Qualidade é um problema de todos e envolve cada aspecto da operação da empresa. Paladini (2009) nos traz, no quadro a seguir, uma excelente reflexão sobre a visão particularizada do que os consumidores entendem que seja qualidade. Quadro 13 – Visão da qualidade – Consumidor 1. Qualidade pode ser identificada com perfeição. De fato, a perfeição pode ser vista como a ausência de defeitos no produto ou no serviço prestado. 2. Qualidade pode ser identificada com aspectos subjetivos, inerentes a cada consumidor. De fato, a qualidade varia de pessoa para pessoa, em função das especificidades de cada uma, gostos, desejos, expectativas e exigências. 3. Qualidade pode ser identificada com um bom processo produtivo. Ou seja: a qualidade pode ser a capacidade de fabricar, a competência de produzir ou a aptidão para fazer. Bons processos são capazes de gerar produtos de pleno acordo com o projeto. 4. A qualidade, às vezes, parece eterna. Ela nunca se altera para certos produtos, como é o caso da confiabilidade em serviços automatizados ou mesmo da torta da vovó (que hoje pode ser encontrada em certas confeitarias). 5. Há algo de abstrato no conceito de qualidade. De fato, nem sempre os clientes definem, com clareza e precisão, quais são suas preferências e necessidades. 6. Qualidade pode ser identificada com padrões de funcionamento. Sobretudo, no caso de produtos muito simples, como lâmpadas. 7. Qualidade pode ser identificada com as pessoas que gerenciam sua produção. Porque delas podem partir estímulos, métodos e ações que geram qualidade. E, além disso, quem entende de qualidade investe em ações que não excluem ninguém. 8. Há um toque de diversidade na definição da qualidade. De fato, em muitos casos, essa variedade resulta em aumento de conveniência para o consumidor, como o hotel que oferece apartamentos individuais para famílias pequenas ou grandes, além dos aposentos simples, luxo, superluxo etc. 9. Qualidade pode ser identificada com sofisticação. Porque, no fundo, certo grau de requinte pode se constituir em certo grau de diferenciação. 10. Qualidade pode ser identificada com marcas reconhecidas no mercado. Porque esse reconhecimento costuma decorrer, quase exclusivamente, da qualidade. 11. Qualidade pode ser identificada com preços elevados. Porque pode derivar de produtos feitos com matérias‑primas muito selecionadas, em processos produtivos dedicados, com alto nível de tecnologia. Fonte: Paladini (2009, p. 17). Exemplo de aplicação Qual a sua visão sobre qualidade, após a leitura dessas constatações, no que se refere à visão do consumidor sobre qualidade? Reflita e descreva a sua opinião sobre o tema. 50 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 05 /1 7 Unidade III Observação A partir da realização de inspeções e testes nos serviços ou produtos acabados, o conceito de controle da qualidade sofreu mudanças significativas com a Revolução Industrial, momento no qual passou a ter maior importância. Até o momento, observamos o conceito de qualidade, então, vamos dar continuidade à análise sobre o conceito de produtividade. Costa Neto e Canuto (2010) destacam que o conceito de Produtividade é menos controverso, pois está ligado ao bom aproveitamento dos recursos, com o mínimo de desperdício, para se conseguir os resultados desejados. Em termos gerais, pode ser encarado como: Produtividade = Resultados Insumos De acordo com os autores, essa relação pode se apresentar sob diversas formas e em variados contextos e níveis, como para uma empresa, um departamento ou um setor, mas em um aspecto ela é sempre igual: a melhoria da produtividade é obtida com a melhoria da eficiência dos processos que levam aos resultados, produzindo mais resultados com os mesmos insumos, conseguindo os mesmos resultados com menos insumos ou, ainda, com uma combinação dos dois casos (COSTA NETO; CANUTO, 2010). Com a globalização e o avanço tecnológico, as informações estão disponíveis em qualquer parte da web. Com o crescimento das empresas multinacionais e a busca pela excelência na gestão dos negócios, torna‑se obrigatória a preocupação com a qualidade, fator primordial para alavancar a competitividade das empresas. Caro(a) aluno(a), destacamos o conceito de qualidade e produtividade e, agora, abordaremos o conceito de competitividade. Mas, o que é competitividade para uma empresa? De acordo com Costa Neto e Canuto (2010), diversas conceituações podem ser encontradas para competitividade, mas, em essência, uma empresa é competitiva se tem, conserva ou amplia, a fatia do mercado de produtos ou serviços, estando apta a enfrentar a atuação dos seus concorrentes. Para a empresa ser competitiva, deve poder oferecer seus produtos ou serviços com a qualidade esperada pelos clientes e com preços aceitáveis pelo mercado. Para ter preços competitivos, a empresa deve ter custos compatíveis, o que exige produtividade no uso dos recursos de que dispõe. 51 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 05 /1 7 FUNDAMENTOS DA QUALIDADE Na figura a seguir, Costa Neto e Canuto (2010) situam a qualidade e a produtividade como elementos constituintes da competitividade. Fazer as coisas certas Fazer as coisas certas Produtividade Competitividade Excelência Qu al id ad e Figura 19 – Qualidade, produtividade e competitividade Ainda nessa linha de pensamento, Costa Neto e Canuto (2010) procuram ilustrar o mecanismo pelo qual a qualidade e a produtividade resultam na competitividade, como podemos observar na figura a seguir. Eficiência dos processos Menores custos Menores preços Maior interesse dos clientes Competitividade Possibilidade de ajuste no preço Maior margem de lucro Menos refugos, retrabalhos etc. Qualidade Produtividade Melhor conceito do produto ou serviço Figura 20 – Qualidade, produtividade e competitividade Observa‑se que os três conceitos abordados estão interligados, ou seja, com qualidade temos melhor conceito de produto ou serviço, que desperta o interesse dos clientes, culminando com o aumento da competitividade. Ainda pela ótica da qualidade, podemos reduzir os refugos e o retrabalho, levando à eficiência dos processos. 52 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 05 /1 7 Unidade III Ainda, podemos perceber que a produtividade leva à eficiência dos processos, gerando menores custos e preços, o que tem ligação direta com a qualidade e a redução de refugos e retrabalho, bem como com a lucratividade da empresa. 5.2 Sistema de gestão da qualidade Na segunda metade do século XX, a complexidade tecnológica, o aumento do volume de investimentos e a necessidade de segurança concorreram para a ampliação do controle da qualidade. Tornou‑se absolutamente fundamental assegurar, previamente, a qualidade dos produtos, serviços,instalações e equipamentos, o que deu origem ao TQC. Os Sistemas de Garantia da Qualidade resultam da aplicação da abordagem sistêmica ao TQC. São métodos gerenciais que preconizam o esforço globalizado e sistêmico da empresa na busca da qualidade e se baseiam, resumidamente, nas seguintes premissas: • a qualidade é o resultado do trabalho de cada um e, portanto, todos são responsáveis por ela, inclusive a alta administração da empresa; • a qualidade está baseada na tecnologia, que se fundamenta no desenvolvimento de recursos humanos; • a qualidade deve ser explicitada para que possa ser controlada e desenvolvida. Um Sistema de Garantia da Qualidade é um conjunto de medidas que permite implementar na empresa essas premissas. É fundamental, em virtude da mudança de hábitos que representa, que a introdução dos Sistemas de Garantia da Qualidade se faça de modo planejado e gradual. A globalização da economia tornou necessária a padronização dos requisitos de Sistemas de Garantia da Qualidade. Em 1987, foram editadas as normas internacionais, mundialmente conhecidas como Normas da Série ISO 9000, que possibilitaram a padronização desses requisitos em todo o mundo. As Normas da Série ISO 9000:1987 foram revisadas pela primeira vez em 1994 e deram origem às Normas da Série ISO 9000:1994. Um princípio de Gestão da Qualidade é uma regra ou crença compreensiva e fundamental, para liderar e operar uma organização, objetivando melhorar a performance em longo prazo, focando nos clientes enquanto as necessidades de todas as partes interessadas são tratadas (ABNT, 2008). Para que uma organização seja conduzida com sucesso, é necessário dirigi‑la e controlá‑la de maneira transparente e sistemática. O sucesso pode resultar da implementação e da manutenção de um sistema de gestão concebido para melhorar continuamente o desempenho, levando em consideração, ao mesmo tempo, as necessidades de todas as partes interessadas. 53 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 05 /1 7 FUNDAMENTOS DA QUALIDADE A utilização dos oito princípios da gestão da qualidade pode ser feita pela alta direção para conduzir a organização à melhoria do seu desempenho. 8. Benefícios mútuos nas relações com fornecedores 6. Melhoria contínua 5. Abordagem sistêmica para a gestão 1. Foco no cliente Príncipios da gestão da qualidade 2. Liderança 4. Abordagem por processo 3. Envolvimento das pessoas 7. Abordagem factual para tomada de decisões Figura 21 Vamos verificar o que são os fundamentos para melhor entender a Gestão da Qualidade. • Foco no cliente As organizações devem atender às necessidades atuais e futuras de seus clientes, procurando exceder suas expectativas. Figura 22 – Foco no cliente 54 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 05 /1 7 Unidade III Esse princípio leva as organizações a reverem suas estratégias, pois devem preocupar‑se não só em satisfazer as exigências de seus clientes, mas principalmente exceder suas expectativas. As empresas dependem de seus clientes e, portanto, faz‑se necessário entender todas as necessidades e expectativas dos clientes em relação ao preço, ao produto, ao prazo de entrega, à confiabilidade etc. Para isso, as organizações devem gerar mecanismos de comunicação entre cliente e organização, proporcionando a mensuração da satisfação dos clientes e gerenciando, dessa forma, o relacionamento entre ambos. Com o foco no cliente, a empresa poderá formular suas estratégias e políticas para gerir o relacionamento com os clientes, adequando os objetivos e metas da qualidade, a fim de conseguir atender suas necessidades atuais e futuras, seus requisitos e procurem, até mesmo, ultrapassar suas expectativas, melhorando assim o gerenciamento operacional e o capital humano. • Liderança Os líderes estabelecem a unidade de propósitos e o rumo que a organização deve tomar. Portanto, precisam despertar em seus liderados o envolvimento com os objetivos da organização para que possam alcançar seus ideais. Figura 23 – Liderança Mello (2009) destaca que o líder precisa envolver seus liderados para que os propósitos e objetivos da organização possam ser alcançados. Dessa forma, deve apresentar características proativas e ser exemplo de liderança. Também precisa ser conhecedor do ambiente externo para conseguir responder às mudanças. O líder, como gestor de pessoas, tem de saber entender suas necessidades, gerando comprometimento de seus liderados e construindo um relacionamento de confiança, o que levará ao alcance dos objetivos e das metas da organização através da implementação de estratégias. É importante que o líder crie e mantenha um ambiente interno no qual as pessoas possam estar totalmente envolvidas no propósito de atingir os intuitos da organização. 55 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 05 /1 7 FUNDAMENTOS DA QUALIDADE • Envolvimento das pessoas Pessoas representam a essência da organização, e suas habilidades deverão ser usadas em benefício próprio através de seu total envolvimento. Figura 24 – Pessoas Segundo Mello (2009), os indivíduos são o cerne da organização e suas habilidades contribuem para o desenvolvimento dela. Portanto, as pessoas de todos os níveis são a essência de uma organização, e seu total envolvimento possibilita que suas habilidades sejam usadas para o benefício da organização. Nesse sentido, os cidadãos devem se envolver com os problemas da organização, contribuindo para sua melhoria através do desenvolvimento de seu potencial. Todos precisamos buscar a oportunidade de aperfeiçoarmos nossas competências e habilidades e compartilhá‑las com a equipe, contribuindo efetivamente para o aprimoramento da organização. • Abordagem de processo As atividades e os recursos semelhantes deverão ser gerenciados como um processo para que o resultado desejado seja alcançado com maior eficiência. Figura 25 – Processos 56 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 05 /1 7 Unidade III De acordo com Mello (2009), o gerenciamento eficiente do processo trará benefícios para a organização, mas para isso deverão ser muito bem definidos através do controle de suas entradas e saídas e sua interação com os outros departamentos da organização. É preciso estabelecer claramente os responsáveis pelos processos, levando em conta tanto o cliente interno como o externo, os fornecedores e as outras partes interessadas no processo. O autor coloca que, quando uma organização possui seus procedimentos muito bem definidos, isso gera resultados mais precisos, pois utiliza eficazmente seus recursos, o que leva a ciclos mais curtos de produção e, consequentemente, a uma redução de custos através da prevenção de erros e variabilidade no processo. Entretanto, para isso, devemos conhecer a capacidade do processo e usá‑la a nosso favor, determinando objetivos e metas desafiadoras. Outro fator importante é a gestão dos recursos humanos, que deverá apresentar um sistema eficaz de contratação, educação e treinamento de pessoas, considerando as necessidades da organização, o que gerará uma força de trabalho mais comprometida. • Abordagem sistêmica para a gestão Os processos inter‑relacionados deverão ser identificados, compreendidos e gerenciados como um sistema, o que gerará eficiência e eficácia organizacional, contribuindo para o alcance dos objetivos. Figura 26 É importante saber que os processos interagem entre si, gerando o resultado do sistema como um todo. Portanto, os processos inter‑relacionados deverão seridentificados e gerenciados como um sistema, levando‑se em consideração todos os seus aspectos que também contribuirão para a eficácia e a eficiência organizacional. Segundo Mello (2009), a abordagem sistêmica proporciona a definição do sistema que irá gerenciar o processo e afetar o objetivo da organização, através da estruturação do sistema, de forma mais eficiente, da avaliação e da mensuração, controlando, assim, os recursos necessários ao procedimento. 57 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 05 /1 7 FUNDAMENTOS DA QUALIDADE A gestão da abordagem do sistema cria planos desafiadores que alinham objetivos e metas individuais aos ideais globais da organização, permitindo uma melhor visão da eficácia dos processos através do entendimento das causas dos problemas encontrados, o que gerará ações de melhoria, além de reduzir as barreiras funcionais e aprimorar o trabalho em equipe. • Melhoria contínua Relaciona‑se ao desempenho global da organização e aos processos de melhoria que devem ser constantes. Figura 27 A melhoria contínua deve sempre prevalecer na organização e estar vinculada a seus produtos, processos e sistemas; seus conceitos básicos devem estar relacionados à melhoria incremental e à ruptura de barreiras que impeçam o desenvolvimento. Observação A melhoria contínua promove atividades de prevenção, estabelecendo objetivos e medidas para novas oportunidades de aperfeiçoamento. Um dos benefícios da melhoria contínua é a criação do planejamento, tanto estratégico como dos negócios, adequando os objetivos de melhoria com os recursos para alcançá‑los através do envolvimento e da motivação das pessoas, o que fará com que a organização se torne mais competitiva e gere melhores resultados. • Abordagem factual para a tomada de decisão Para que as decisões sejam eficazes, elas devem estar focadas na análise de dados e informações. 58 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 05 /1 7 Unidade III Figura 28 Segundo Mello (2009), esse princípio baseia‑se na análise de informações e dados antes da decisão, tomando o cuidado de que sejam confiáveis e acessíveis, ou seja, de fácil entendimento. Isso levará a escolhas feitas através da experiência e da intuição. Dessa forma, o objetivo está fundamentado na estratégia definida a partir de dados e informações levantados, o que ocasionará uma melhor compreensão do desempenho do processo, proporcionando melhorias e a prevenção de futuros problemas. • Benefícios mútuos nas relações com os fornecedores Manter uma relação consistente entre organização e fornecedores gera benefícios e agrega valor para ambos. Figura 29 59 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 05 /1 7 FUNDAMENTOS DA QUALIDADE Nesse princípio, a organização e o fornecedor precisam apresentar uma relação consistente de parceria, gerando a confiabilidade que um deverá ter no outro. Um ponto importante para a organização é identificar seus fornecedores‑chave, estabelecendo com eles um comprometimento de ambas as partes. Assim, poderão ajudar‑se mutuamente através de projetos de melhorias ou de ideias inovadoras. A palavra‑chave nesse contexto é parceria, que deve ocorrer entre a empresa e o fornecedor. A parceria gera vantagem competitiva devido ao fato de que o comprometimento de ambos é traduzido na qualidade dos produtos, no prazo de entrega e, consequentemente, na satisfação do cliente. De acordo com Carvalho e Paladini (2012), a Gestão da Qualidade consiste no conjunto de atividades coordenadas para dirigir e controlar uma organização com relação à qualidade, englobando planejamento, controle, garantia e melhoria da qualidade. Conforme demonstrado por Carvalho e Paladini (2012) na figura a seguir, podemos observar a inter‑relação entre o conceito de qualidade, gestão da qualidade e os elementos que a compõem. Planejamento da qualidade Gestão da qualidade Qualidade Estabelecer os objetivos, processos e recursos para cumprir os objetivos da qualidade Controle da qualidade Cumprir os objetivos e requisitos da qualidade Garantia da qualidade Melhoria da qualidade Aumentar a eficácia e eficiência Prover confiança que os requisitos da qualidade são cumpridos Habilidade de um conjunto de características de um produto, processo ou sistema em entender aos quisitos dos clientes e outras partes interessadas Atividades coordenadas para controlar uma organização com relação à qualidade Figura 30 – Inter‑relação entre o conceito de qualidade, Gestão da Qualidade e os elementos que a compõem Para os autores, a partir dos conceitos da gestão da qualidade e das inter‑relações mostradas, a questão que surge é o que vem a ser então a qualidade total. 5.3 Gestão da Qualidade Total (TQM) Carvalho e Paladini (2012) destacam que a origem da qualidade total remonta à década de 1950, desencadeando o conceito do que viria a tornar‑se duas correntes similares, porém diferenciadas, do TQC: a visão japonesa, conhecida como Company‑wide Quality Control (CWQC) – Controle da Qualidade por toda a empresa, ou Controle da Qualidade Amplo Empresarial – e a visão norte‑americana do TQC, estabelecida principalmente por Armand Feigenbaum. 60 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 05 /1 7 Unidade III Por outro lado, Silva (2002) enfatiza que a administração da qualidade total, também denominada Liderança pela qualidade (Xerox) ou Controle da qualidade total (empresas japonesas), segue, sob qualquer denominação, os mesmos princípios, que, segundo Daniel Hunt apud Silva (2002), são: • as melhorias da qualidade criam ganhos de produtividade; • a qualidade é definida como conformidade aos requisitos para satisfação das necessidades dos usuários; • a qualidade é medida por um processo contínuo e por melhorias do produto; • a qualidade é determinada pelo projeto do produto e alcançada por controles eficazes de processo; • as técnicas de controle de processo são usadas para prevenir defeito; • a qualidade é parte de cada função em todas as fases do ciclo de vida do produto; • a administração é responsável pela qualidade; • as relações com fornecedores são formadas em longo prazo e orientadas para a qualidade. Lembrete O TQC requer que todos os colaboradores, ou seja, desde o presidente da organização, até os operários, bem como os fornecedores, os clientes e a comunidade, participem das atividades de melhoria da qualidade. Figura 31 Vamos verificar o que dizem as duas correntes de pensamentos citadas anteriormente. 61 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 05 /1 7 FUNDAMENTOS DA QUALIDADE Segundo Carvalho e Paladini (2012), na visão japonesa do CWQC, as atividades relacionadas ao controle da qualidade no Japão podem ser divididas em quatro períodos distintos: de 1945 a 1955, de 1955 a 1965, de 1965 a 1975, e de 1975 a 1988. Deve‑se incluir, ainda, um período que vai de 1988 até os dias de hoje. A seguir, observaremos em detalhes tais períodos. Quadro 14 – Evolução do controle da qualidade no Japão Período Cenário Práticas de controle da qualidade 1945‑1955 Japão pós‑Guerra, revitalização da indústria (produção de 10% do nível antes da guerra). Busca de uma inspeção mais eficiente, seleção de produtos aceitáveis do restante, introdução dos princípios do controle de qualidade e aprendizado sobre os métodos estatísticos disseminados por Deming. 1945‑1965 Esforços de reconstrução da indústria.Inserção de qualidade nos processos (prevenção); introdução dos círculos de controle da qualidade (CCQ) e de procedimentos para especificação da produção e padrões operacionais, além de capacitação dos funcionários. 1965‑1975 Crescimento industrial moderado, desacelerado pela crise do petróleo na década de 1970. Melhora da qualidade, promoção da conscientização ambiental e contribuição com responsabilidade social; desenvolvimento de métodos para redução de custos; surgimento do CWQC, parte vital do TQC e introdução do gerenciamento pelas diretrizes. 1975‑1988 Crescimento industrial acentuado (como ameaça para a indústria americana e europeia em vários setores). Disseminação dos princípios do TQC, advindos da indústria manufatureira para outros setores industriais; disseminação no mundo por meio de conferências; introdução de diversos cursos de capacitação (pela Union of Japanese scientists and Engineers – JUSE), destacando‑se cursos básicos e avançados sobre tqc e outros métodos e técnicas. 1988 até os dias de hoje Busca de maior competitividade em face das respostas de outras nações, particularmente os Estados Unidos. As normas internacionais de garantia da qualidade (série ISO 9000) e normas setoriais (TL 9000, do setor de telecomunicações, QS 9000 e ISO TS 16949 do segmento automotivo); introdução do prêmio japonês da qualidade (Japan Quality Award) em 1995. Fonte: Carvalho; Paladini (2012, p. 92). Para entendermos melhor as visões sobre qualidade, pela ótica japonesa e americana, é importante, segundo Carvalho e Paladini (2012), destacar a contribuição do autor Kaoru Ishikawa. Esse autor considera o controle da qualidade como o desenvolvimento, o projeto, a produção, o marketing e os serviços com o melhor custo‑benefício para que os clientes venham a adquirir os produtos com satisfação. Segundo Carvalho e Paladini (2012), muitos autores traduzem o TQC japonês como o compromisso para a qualidade total, enaltecendo o envolvimento e o comprometimento dos funcionários com essa prática, aliados ao apoio da alta direção da empresa. Por outro lado, na visão americana do TQC, há outra ênfase dada por Armand Feigenbaum, que foi o primeiro autor nos Estados Unidos a utilizar o termo TQC. 62 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 05 /1 7 Unidade III Os conceitos de Feigenbaum, que preconizavam a criação de um Departamento de Engenharia da Qualidade para cuidar, exclusivamente, da função qualidade, continuaram evoluindo e, em 1961, foi lançada uma versão atualizada do seu primeiro livro, publicado em 1951, com um novo título: Total Quality Control: Engineering and Management. Nessa segunda obra, Feigenbaum já defendia o conceito do TQC, que envolve de maneira sistêmica todos os órgãos da empresa, passando por marketing, projeto, desenvolvimento, aquisição, fabricação, inspeção e testes, expedição, instalação e assistência técnica. O TQC de Feigenbaum tem como pedra fundamental uma definição de qualidade em que o interesse do cliente é o ponto de partida: quem estabelece a qualidade é o cliente, e não os engenheiros, nem o pessoal de marketing ou a alta administração. A qualidade de um produto ou serviço pode ser definida como o conjunto total das características de marketing, engenharia, fabricação e manutenção do produto ou serviço que satisfaça às expectativas do cliente. Assim, para o autor, qualidade não é simplesmente a conformidade com as especificações, a ser verificada apenas por meio de inspeção. Ela tem de ser embutida no produto ou serviço desde o começo, a partir dos desejos e interesses do cliente. Segundo o princípio básico do TQC, não é cada fase isoladamente que contribuirá para a qualidade e o custo final do produto, mas a contribuição parcial de cada uma delas. A qualidade do produto final depende, então, de um esforço gerencial conjunto muito grande, em função das complexidades multidisciplinares existentes em cada empresa. É necessário que seja desenvolvida uma mentalidade voltada para a qualidade do produto ou serviço em todos os níveis organizacionais e em todas as disciplinas e especialidades, de um modo amplo e participativo. É fundamental que essa nova mentalidade seja adotada de modo que cada membro da empresa, desde a gerência de alto nível até o funcionário que trabalha na linha de produção, esteja pessoalmente envolvido com o controle da qualidade. Nada mais natural, então, que o começo de tudo seja emanado da alta administração, que, em última análise, decide os rumos que a empresa deve tomar. Zelar pela qualidade de um produto ou serviço é função de todos na empresa. Portanto, é necessário definir, de forma clara e objetiva, a participação de cada funcionário no que diz respeito à qualidade. Caso contrário, corre‑se o risco de haver diluição de responsabilidade – como a qualidade é função de todos, ela poderá rapidamente tornar‑se uma função de ninguém. De acordo com Carvalho e Paladini (2012), a evolução do TQC resultou no TQM. Segundo os autores, o termo TQM surgiu em meados da década de 1980, e a sua ideia central é que a qualidade esteja presente na função de gerenciamento organizacional, em uma tentativa de ampliar seu foco, não se limitando às atividades inerentes ao controle. 63 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 05 /1 7 FUNDAMENTOS DA QUALIDADE Figura 32 – TQM Quadro 15 – Elementos de TQM Elemento Descrição Liderança e apoio da alta direção Prover liderança no processo de mudança, exemplaridade e motivação da força de trabalho da organização. Deve também promover e estimular as práticas e abordagens direcionadas ao TQM. Relacionamento com os clientes Concentrar as atividades com foco nos clientes e estabelecer canais de comunicação, visando levantar suas necessidades e níveis de satisfação, promovendo um entendimento sobre os clientes. Gestão da força de trabalho Aplicar os princípios da gestão de recursos humanos, com base em um sistema de trabalho em equipe e com empowerment, processos de recrutamento e seleção e capacitação e treinamento. Relação com os fornecedores Utilizar práticas de seleção e qualificação de fornecedores, bem como meio de medição de desempenho. Estabelecer relação em longo prazo com os fornecedores, visando à colaboração mútua, além de buscar melhoria da qualidade dos produtos. Gestão por processos Definir os processos‑chave da organização, promover práticas preventivas, autoinspeção, utilizando planos de controle e métodos estatísticos na produção. Projeto de produto Envolver todas as áreas funcionais no processo de desenvolvimento de produto, visando a desenvolver um produto que venha a satisfazer aos requisitos dos clientes. Fatos e dados da qualidade Disponibilizar os dados e informações relativas à qualidade como parte de um sistema de gestão transparente e de fácil visualização. Registros sobre indicadores da qualidade, incluindo índices de refugo, retrabalho, dados de garantia e custos da qualidade. Fonte: Carvalho; Paladini (2012, p. 95). 64 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 05 /1 7 Unidade III Saiba mais Para complementar o aprendizado sobre a investigação da comunicação interna em um ambiente de TQM, enfocando nos procedimentos adotados na transmissão das informações e no processo de comunicação estabelecido com os diversos públicos relacionados à organização estudada, leia: CARDIA, A. N. Comunicação interna e gestão da qualidade total: o caso Volkswagen – unidade Resende. Revista Produção, São Paulo, v. 14, n. 2, p. 6‑17, 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/prod/v14n2/ prodv14n2a1.pdf>. Acesso em 3 mai.2017. 5.4 Processo de melhoria contínua (Kaizen) O que é melhoria contínua? Costa Neto e Canuto (2010) colocam que a busca pela melhoria dos processos tem conotação absolutamente ampla no contexto das organizações em geral e está na essência da Administração da Qualidade. Melhorar sempre é a ordem, pois a perfeição, embora deva ser sempre buscada, é inatingível. Nesse contexto, Paladini (2009) esclarece que melhoria é o aumento do grau de ajuste do produto à demanda. Esse aumento considera referenciais estabelecidos pelo próprio consumidor, como o atendimento às suas necessidades, às expectativas, às preferências, às conveniências etc. Assim, quem define o que é (o que não é) melhoria é o consumidor. No âmbito interno, um esforço de produção pode ser considerado um aperfeiçoamento se dele resulta maior ajuste do produto ao uso requerido. Ainda, Costa Neto e Canuto (2010) enfatizam que a melhoria pode ser contínua ou incremental: a primeira se dá por meio das análises dos processos como eles estão operando, podendo‑se chegar a melhores formas de operação. Em relação às melhorias incrementais, elas se dão por mudanças mais drásticas, representadas por modificações mais profundas nos processos ou pelo surgimento de inovações. Podemos observar na figura a seguir que o seu efeito é tipicamente pontual e de maior intensidade. 65 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 05 /1 7 FUNDAMENTOS DA QUALIDADE Efeito das melhorias incrementadas Efeito das melhorias contínuas Qualidade do processo Tempo Figura 33 – Melhorias contínuas e incrementais É importante observar que as melhorias contínuas, em geral, podem ser obtidas usando‑se ferramentas simples de análise, como as que veremos mais adiante. O uso de técnicas mais sofisticadas, envolvendo uma estatística mais avançada, pode resultar em melhorias incrementais. Segundo Paladini (2010), ao propor a noção de melhoria contínua, a TQM caracterizou o processo de envolvimento de pessoas (gradativo, crescente, constante) e o ajuste do produto ao uso (gradativo, crescente, constante). Não é possível (ou, pelo menos, é muito difícil) atingir valores máximos nesses dois caminhos, mas sempre se pode melhorar, avançar, progredir e evoluir. Saiba mais Para aumentar o entendimento sobre o significado do processo de melhoria contínua, acesse: TOYOTA. Kaizen: mudança para melhor. 2013. Disponível em: <http:// www.toyotaempilhadeiras.com.br/sobrenos‑kaizen.html>. Acesso em: 3 mai. 2017. Outra prática interessante originária do Japão é o programa 5S. De acordo com Costa Neto e Canuto (2010), o programa é assim denominado, pois envolve cinco atitudes, ou sensos, que, antes de tudo, objetivam colocar ordem e dar boas condições ao local de trabalho. Ele contribui para a melhoria da qualidade e da produtividade, do trabalho em equipe e favorece a melhoria contínua no processo de produção. 66 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 05 /1 7 Unidade III Ainda, segundo o autor, são 5 os Ss tradicionais, que vamos apresentar a seguir: Quadro 16 – Programa 5s Senso Significado Seiri Sendo de utilização, promovendo principalmente a proximidade do operador dos objetos e ferramentas mais utilizados e levando ao descarte os que não têm utilidade. Seiton Senso de ordem ou arrumação, referente ao correto posicionamento dos itens necessários conforme a sua utilização, de modo a facilitar o acesso e reduzir o cansaço físico. Seiso Senso de limpeza, eliminando as causas de poluição do local de trabalho e seu entorno, tendo inclusive o cuidado de deixar o posto de trabalho limpo e organizado para o trabalhador seguinte. Seiketsu Senso de saúde e higiene, inclusive mental, englobando também o clima e as relações de trabalho, além das preocupações com a segurança e a prevenção de acidentes. Shitsuke Senso de autodisciplina, garantindo a manutenção da implementação dos ss anteriores, bem como de comportamento ético e comprometimento com as diretrizes da empresa. Fonte: Costa Neto; Canuto (2010, p. 136). 5.5 Importância das ferramentas da qualidade Comentaremos aqui a importância das ferramentas da qualidade, no entanto, não apresentaremos todas elas, já que serão objeto de material específico no decorrer do seu aprendizado. De acordo com Seleme e Stadler (2010), a importância das ferramentas para a qualidade está em sua efetiva utilização no desenvolvimento das metodologias de identificação e eliminação das falhas de processo. Ainda, segundo os autores, encontramos diversas ferramentas da qualidade, como os cinco sensos (5Ss) que vimos anteriormente, os 5Ws e 2Hs, os cinco “porquês” e, entre as mais conhecidas, as sete ferramentas básicas do controle da qualidade: a estratificação, as cartas de controle, as folhas de verificação, os gráficos de dispersão, os diagramas de causa e efeito, os diagramas de Pareto e os histogramas. Seleme e Stadler (2010), outrossim, destacam outras ferramentas que podem levar as organizações a uma melhoria considerável da qualidade, são elas: brainstorming, brainwriting e Nominal Group Technique (NGT), ou técnica de grupo nominal. Para exemplificar as ferramentas da qualidade, vamos abordar os cinco sensos e a técnica dos cinco porquês. 5.5.1 Cinco sensos (5 Ss) Segundo Seleme e Stadler (2010), os cinco sensos desempenham um papel fundamental nas organizações, mas não somente nelas. Sua aplicação transforma e educa o funcionário para o trabalho e também em sua vida pessoal. 67 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 05 /1 7 FUNDAMENTOS DA QUALIDADE Seus conceitos são muito utilizados nas fábricas, nos escritórios e em outros sistemas produtivos, pois, além de implementar a ordem organizacional, elevam a capacidade de discernimento do indivíduo. Seleme e Stadler (2010) enfatizam que o sucesso na implementação dos cinco sensos depende de um programa de manutenção das ações propostas, por isso não devem ser realizados uma única vez, sob pena de se perderem no tempo. Outra consideração fundamental é que o programa seja apoiado e incentivado pelas instâncias superiores como parte de uma abordagem estratégica implantada pela organização. 5.5.2 Técnica dos cinco porquês De acordo com Seleme e Stadler (2010), essa técnica faz parte do processo de realização da análise do problema para identificar uma causa. É uma técnica simples de ser utilizada, pois propõe sistematicamente a pergunta (por quê?) em busca da verdadeira causa do problema. Vejamos no quadro a seguir, um exemplo em que foi realizada a busca pela verdadeira causa do problema. Problema: qual o verdadeiro motivo da não entrega do produto? Quadro 17 – Modelo conceitual dos cinco porquês Perguntas (por quê?) Respostas encontradas Por que o produto não foi entregue? Porque não tinha embalagem. Por que não tinha embalagem? Porque a produção não entregou. Por que a produção não entregou? Porque não tinha a matéria‑prima. Por que não tinha a matéria‑prima? Porque o fornecedor não entregou. Por que o fornecedor não entregou? Porque houve atraso no pagamento. Fonte: Seleme; Stadler (2010, p. 44). Observa‑se pelas respostas apresentadas que a verdadeira causa do problema foi o atraso no pagamento ao fornecedor. Exemplo de aplicação Faça uma pesquisa na internet e verifique quais as empresas que adotam a filosofia Kaizen nos seus processos. Escolha uma atividade que você precisa organizar, pode ser na sua casa, trabalho etc., reflita a respeito e aplique o programa 5S. 68 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 05 /1 7 UnidadeIII Saiba mais Para entender melhor o programa 5S, acesse: SEBRAE. Qualidade. D‑Olho na Qualidade: 5S para os pequenos negócios. Brasília, jun. 2016. Disponível em: <https://www.sebrae.com.br/ sites/PortalSebrae/artigos/d‑olho‑na‑qualidade‑5s‑para‑os‑pequenos‑ne gocios,1985438af1c92410VgnVCM100000b272010aRCRD>. Acesso em: 3 mai. 2017. 6 NORMAS ISO – CONCEITOS BÁSICOS Segundo Silva (2002), a família de normas da ISO 9000 define os padrões de sistema de qualidade que orientam o desempenho de uma empresa em requisitos específicos nas áreas de projeto/desenvolvimento, produção, instalação e serviço. São baseadas na premissa de que certas características genéricas de práticas administrativas podem ser padronizadas. Vale salientar que as normas prescrevem documentação para todos os processos que afetam a qualidade e sugerem que a obediência através de auditorias leva à melhoria contínua. Costa Neto e Canuto (2010) ressaltam que a norma é um documento estabelecido por consenso e aprovado por um organismo reconhecido que fornece, para uso comum e repetitivo, regras, diretrizes ou características para atividades ou seus resultados, visando à obtenção de um grau ótimo de ordenação em um dado contexto. 6.1 Abrangências das normas De acordo com a ABNT, as normas podem ser divididas por níveis. O nível é o alcance geográfico, político ou econômico de envolvimento na normalização, que pode ser realizado no âmbito de: • um país específico: denominada Normalização Nacional; • uma única região geográfica, econômica ou política do mundo: denominada Normalização Regional; • vários países do mundo: denominada Normalização Internacional. De forma sistematizada, a normalização é executada por organismos que contam com a participação das partes interessadas no assunto objeto da normalização e que têm como principal função elaboração, aprovação e divulgação de normas. Os níveis da normalização costumam ser representados por uma pirâmide, que tem em sua base a normalização empresarial, seguida da nacional e da regional, ficando no topo a normalização internacional. 69 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 05 /1 7 FUNDAMENTOS DA QUALIDADE Empresarial Associação (ASTM, API, ...) M ais exigente (restritiva) M en os ex ig en te (g en ér ica ) Nacional (ABNT, AFNOR, IRAM, IPQ ...) Regional sub‑regional (COPANT, AMN, CEN, ...) Internacional (ISO, IEC, ITU, ...) Figura 34 – Níveis de normalização Conforme consta na página da ABNT, disponível na web, a pirâmide anterior poderia conter outros níveis de normalização situados entre o empresarial e o nacional, que seriam: a) O das Normas Setoriais ou de Associações, compostas de entidades de classe, representativas de setores produtivos, que são válidas para o conjunto de empresas a elas associadas. As normas do American Petroleum Institute (API) são um exemplo clássico. b) O dos grupos de empresas que formam consórcios que elaboram normas para determinados empreendimentos (ABNT, [s.d.]). A seguir, conheceremos o que diz a ABNT, bem como a visão de Costa Neto e Canuto (2010) sobre o tema. Nível internacional (ABNT): normas técnicas, de abrangência mundial, estabelecidas por um Organismo Internacional de Normalização. São reconhecidas pela Organização Mundial do Comércio (OMC) como a base para o comércio internacional. Exemplo: International Organization for Standardization (ISO) (ABNT, [s.d.]). Costa Neto e Canuto (2010) também destacam que a norma internacional é adotada por uma organização internacional com atividades de normalização e colocada à disposição do público, por exemplo, ISO (International Organization for Standardization), IEC (International Electrotechnical Commission) e ITU (International Telecommunication Union). Nível regional (ABNT): normas técnicas estabelecidas por um Organismo Regional de Normalização para aplicação em um conjunto de países (uma 70 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 05 /1 7 Unidade III região, como a Europa ou o Mercosul). São denominadas Normas Regionais e aplicáveis ao conjunto de países representados no Organismo Regional. Exemplo: Normas da Associação Mercosul de normalização (AMN) ou Comitê Europeu de Normalização (CEN) (ABNT, [s.d.]). Embora assim considerada, a Associação Mercosul de Normalização (AMN) não é uma organização regional de normalização, pois o seu âmbito é o de um bloco econômico. Ela é uma associação civil reconhecida como foro responsável pela gestão da normalização voluntária do Mercosul, sendo composta atualmente de organismos nacionais de normalização dos quatro países membros, que são: Iram (Argentina), ABNT (Brasil), INTN (Paraguai) e Unit (Uruguai). As normas elaboradas nesse âmbito são identificadas com a sigla NM. De acordo com Costa Neto e Canuto (2010), a norma regional é aquela adotada por uma organização regional com atividades de normalização ou por uma organização regional de normalização e colocada à disposição do público. Exemplos: NM (normas do Mercosul), EM (normas da Comunidade Europeia). Nível nacional (ABNT): normas elaboradas pelas partes interessadas (governo, indústrias, consumidores e comunidade científica de um país) e emitidas por um Organismo Nacional de Normalização, reconhecido como autoridade para torná‑las públicas. Aplicam‑se ao mercado de um país e, frequentemente, são reconhecidas pelo seu ordenamento jurídico como a referência para as transações comerciais. Normalmente são voluntárias, isto é, cabe aos agentes econômicos decidirem se as usam ou não como referência técnica para uma transação. Exemplo: Normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) ou Associação Alemã de Normas Técnicas (DIN) (ABNT, [s.d.]). Segundo Costa Neto e Canuto (2010), a norma nacional é aquela adotada por um organismo nacional de normalização e colocada à disposição do público, por exemplo, NBR (Brasil), DIN (Alemanha), ANS (Estados Unidos), JIS (Japão), Iram (Argentina). Nível empresarial (ABNT): normas elaboradas por uma empresa ou grupo de empresas com a finalidade de orientar as compras, a fabricação, as vendas e outras operações. Exemplo: Normas Petrobras ou procedimentos de gestão da qualidade. Nível de associação (ABNT): normas desenvolvidas no âmbito de entidades associativas e técnicas para o uso de seus associados. Mas, também, chegam a ser utilizadas de forma mais ampla, podendo se tornar referências importantes no comércio em geral. Exemplo: American Society for Testing and Materials (ASTM) (ABNT, [s.d.]). 71 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 05 /1 7 FUNDAMENTOS DA QUALIDADE Saiba mais Para conhecer as normas da ABNT, visite: <http://www.abnt.org.br/>. 6.2 Normas série ISO 9000 As normas ABNT NBR ISO 9000 são a versão brasileira das normas internacionais ISO 9000, que constam de três documentos, conforme mostrado a seguir: Quadro 18 – Normas da série ISO 9000 Norma Identificação Escopo principal ISO 9000:2005 Sistemas de Administração da Qualidade – Fundamentos e vocabulário Fornece um ponto de partida para compreender os padrões e define os termos e conceitos fundamentais usados na família ISO 9000, necessários para evitar seu emprego incorreto. ISO 9001:2008 Sistemas de Administração da Qualidade – Requisitos Padrão dos requisitos usados para avaliar a capacidade de atendimento aos requisitos estabelecidos pelo cliente e pela legislação, de forma a obter a satisfação do cliente. ISO 9004:2000 Sistemas de Administração da Qualidade – Diretrizes para o aprimoramento do desempenho Padrão de diretrizesque fornece orientação para o aprimoramento contínuo de seu sistema de administração da qualidade, de forma a atender a todas as partes interessadas por meio da satisfação permanente do consumidor. Fonte: Costa Neto; Canuto (2010, p. 208). A série de normas ISO 9000 teve forte aceitação mundial, havendo mais de um milhão de empresas certificadas nos cinco continentes. O gráfico a seguir demonstra o histórico dos certificados válidos, de empresas nacionais e estrangeiras, dentro e fora do Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade (SBAC). 72 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 05 /1 7 Unidade III 6000 5000 3000 1000 4000 Qu an tid ad e 2000 3.093 2012 2014 20162013 2015 2017 1.214 4.383 5.501 3.539 525 Dentro SBAC Fora SBAC Emitidos no ano 517 3.444 5.056 3.618 1.629 509 0 Figura 35 – Certificados válidos – ISO 9001 Saiba mais A Coordenação Geral de Acreditação do Inmetro é responsável pela acreditação de Organismos de Avaliação da Conformidade (OAC). Esta base de dados disponibiliza informações sobre Organismos e escopos concedidos. Para exibir a listagem, basta informar o tipo de Organismo a ser consultado. Conheça mais sobre esse tema em: INMETRO. Organismos acreditados. [s.d.]. Disponível em: <http://www. inmetro.gov.br/organismos/index.asp>. Acesso em: 3 mai. 2017. Todas as normas ABNT são avaliadas a cada cinco anos e, se necessário, revisadas. Isso ajuda a garantir que elas continuem sendo ferramentas importantes para o mercado. Os desafios enfrentados atualmente por empresas e negócios são bem diferentes do que eram há algumas décadas. Pensando nisso, a ABNT NBR ISO 9001 foi atualizada para levar em consideração esse novo cenário. O aumento da globalização, por exemplo, mudou a forma como as empresas fazem negócios, e hoje as instituições operam cadeias de abastecimento cada vez mais complexas do que faziam no passado. Além disso, existe um aumento na expectativa de clientes e outras partes interessadas, e, com mais acesso à informação, a sociedade em geral tem hoje uma voz mais forte do que nunca. A ABNT NBR ISO 9001 deve refletir tais mudanças para que permaneça relevante. A alteração mais evidente na norma é a sua nova estrutura. A ABNT NBR ISO 9001:2015 segue agora a estrutura geral das outras normas de sistemas de gestão, tornando mais fácil para qualquer um o uso de diversos sistemas de gestão. 73 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 05 /1 7 FUNDAMENTOS DA QUALIDADE Outra diferença importante é o foco dado ao pensamento baseado no risco. Apesar disso sempre ter feito parte da norma, a nova versão aborda esse ponto com mais atenção. A nova versão da norma oferece ao usuário uma série de benefícios. Por exemplo: • coloca grande ênfase no envolvimento das lideranças; • ajuda a lidar com riscos e oportunidades corporativas de forma estruturada; • usa linguagem simplificada, com estrutura e termos informais, que são especialmente úteis para empresas que utilizam diversos sistemas de gestão, por exemplo, os de Segurança e Saúde no Trabalho, ou continuidade de negócios; • aborda a gestão da cadeia de suprimentos de forma mais efetiva; • tem uma utilização mais fácil para empresas de serviços e de tecnologia. Na esteira da ISO 9000 vieram outras normas que complementam as necessidades das empresas, vamos verificar de forma sucinta a norma que trata das questões ambientais. 6.3 Normas ISO 14001 – Gestão Ambiental De acordo com Costa Neto e Canuto (2010), temos a Norma ISO 14001:2004 (ABNT, 2004a) para o sistema de gestão ambiental, que incorpora várias exigências comuns com a ISO 9001 e acrescenta outras referentes à sua função específica. O principal objetivo da ISO 14000 e de suas normas é garantir o equilíbrio e a proteção ambiental, prevenindo a poluição e os potenciais problemas que ela poderia trazer para a sociedade e a economia. Da mesma forma, a ABNT NBR ISO 14001:2015 passa a exigir: • que a gestão ambiental seja mais importante no posicionamento estratégico da empresa; • maior comprometimento da liderança; • a implementação de iniciativas proativas que visem proteger o meio ambiente contra danos e degradação, como o uso sustentável dos recursos e a mitigação das alterações climáticas; • enfoque no conceito de ciclo de vida, a fim de garantir que aspectos ambientais sejam levados em consideração desde o desenvolvimento até o fim da vida útil do produto; • a adoção de uma estratégia de comunicação com foco nas partes interessadas. Além disso, ela possibilita uma integração mais fácil a outros sistemas de gestão, visto que têm a mesma estrutura e os mesmos termos e definições. 74 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 05 /1 7 Unidade III O gráfico a seguir demonstra o histórico dos certificados válidos, de empresas nacionais e estrangeiras, dentro e fora do SBAC, da ISO 14001. 800 400 600 Qu an tid ad e 200 353 2012 2014 20162013 2015 2017 83 528 658 417 59 Dentro SBAC Fora SBAC Emitidos no ano 58 409 604 463 206 390 Figura 36 – Certificados válidos – ISO 14001 Saiba mais O Sebrae disponibiliza um guia que ilustra fatores de gestão pela qualidade, diminuição dos custos, situações que demandam investimentos, análise de resultados destes investimentos, padronização de processos, para que a empresa melhore seus resultados. Para acessá‑lo, visite: MESSIAS, R. M. Saiba mais: atenção com a qualidade. São Paulo, 2011. Disponível em: <http://www.bibliotecas.sebrae.com.br/chronus/ ARQUIVOS_CHRONUS/bds/bds.nsf/c25572797c350149a3d8306659fa04bc /$File/SP_atencaocomaqualidade_16.pdf.pdf>. Acesso em: 3 mai. 2017. Resumo Vimos que a abordagem básica para a definição da qualidade enfatiza o pleno atendimento às necessidades, aos desejos, às expectativas e às preferências do consumidor. Observamos as ferramentas básicas que podem ser utilizadas na melhoria dos processos de qualidade. Destacamos, no entanto, que existem várias outras ferramentas gerenciais que poderão ser usadas de acordo com a necessidade do processo a ser analisado. 75 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 05 /1 7 FUNDAMENTOS DA QUALIDADE Na conceituação moderna do termo, qualidade significa adequação ao uso. É o atendimento aos desejos e às aspirações dos consumidores, incluindo os aspectos econômicos, de segurança e de desempenho. O conceito refere‑se ao mais apropriado e não ao melhor ou ao mais caro. A preocupação com a qualidade existe desde os primórdios das civilizações. A Gestão da Qualidade tem como objetivo o atendimento de requisitos e redução de desperdícios, que dependem de: racionalização e padronização do trabalho; comprometimento de todos; gestão de recursos; e melhoria contínua. Dessa forma, a ampliação do conceito de qualidade se dá: • pela cadeia de valor, que é a gestão da qualidade de todas as atividades que de alguma forma influem na satisfação do cliente; • pelo surgimento dos primeiros sistemas de garantia da qualidade (setor militar, energia, indústria petrolífera); • pela ampliação do foco e de questões puramente técnicas para questões gerenciais. Analisamos, ainda, os conceitos básicos sobre as Normas ISO e os níveis de abrangência, segundo a ABNT. Por fim, falamos sobre a nova versão da norma ISO 9001:2015 e ISO 14001:2015. Exercícios Questão 1. (Enade 2006) O Banco Solidariedade & Amigos S.A., com o objetivo de melhorar a qualidade de produtos e serviçosoferecidos, além de aumentar sua competitividade no mercado, recém‑adquiriu uma empresa de software, a SB Sistemas Bancários Ltda., que detinha 25% do mercado de programas de segurança bancária. Após uma análise organizacional, percebeu‑se que a expansão desejada não ocorria devido à falta de agressividade da empresa e da sua estrutura extremamente verticalizada, pesada e inflexível. O banco decidiu implementar uma transformação radical na nova empresa, redesenhando‑a como uma organização adaptativa. Assim, será necessário desenvolver na companhia uma cultura organizacional que: I – Seja voltada para o cliente. II – Valorize a inovação e a criatividade. 76 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 05 /1 7 Unidade III III – Mantenha as crenças existentes. IV – Promova o aprender a aprender. V – Baseie‑se em metas e na implantação de um plano de incentivos. Estão corretas as afirmativas: A) I, II e III. B) I, II e IV. C) III, IV e V. D) I, II, III e V. E) I, II, IV e V. Resposta correta: alternativa E. Análise das afirmativas I – Afirmativa correta. Justificativa: a estrutura tradicional baseia‑se no modelo burocrático tradicional, com hierarquia rígida e regras bem definidas, contextualizadas em um ambiente estável e pouco competitivo. As estruturas inovativas e adaptativas representam um paradigma baseado na nova realidade ambiental. O ambiente empresarial é mais complexo, turbulento e em constantes mudanças: políticas, econômicas, sociais e mercadológicas. É um ambiente que exige estruturas flexíveis, que preparem a organização para o enfrentamento de problemas e de mudanças inesperadas, considerando‑as oportunidades mercadológicas e de melhorias dos seus processos de negócios para aproveitar as oportunidades, de acordo com as mudanças mercadológicas, deve‑se agir tendo em vista o principal stakeholder localizado no ambiente empresarial, o cliente. II – Afirmativa correta. Justificativa: para enfrentar as mudanças constantes e potencializar a competitividade empresarial, deve‑se adotar um desenho organizacional que tenha a transformação como parte integrante de sua funcionalidade. Nessas estruturas inovativas ou adaptativas, é necessário valorizar a inovação e a criatividade com o objetivo principal de aumentar a competitividade do negócio. III – Afirmativa incorreta. Justificativa: de acordo com os preceitos da cultura inovativa, os pressupostos de mudança e de flexibilidade incluem diversos fatores de motivação dos colaboradores e dos líderes, como: o estímulo, 77 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 05 /1 7 FUNDAMENTOS DA QUALIDADE a diversificação e a criatividade na tarefa. Esses fatores contrastam com uma postura calcada na manutenção das crenças. IV – Afirmativa correta. Justificativa: as estruturas adaptativas são norteadas pela competitividade empresarial e estão em constante mudança, de acordo com as novas situações apresentadas pelo ambiente empresarial externo. A nova situação exige que as organizações e as pessoas estejam preparadas para o enfrentamento de problemas e de mudanças inesperadas, de forma a aproveitá‑las como oportunidades mercadológicas e de melhorias dos seus processos de negócios. V – Afirmativa correta. Justificativa: por serem voltadas para resultados e para o melhor atendimento aos clientes, internos e externos, as metas devem estar em constante adaptação às estratégias empresariais, de acordo com as mudanças ambientais. Havendo transformações nos objetivos organizacionais, exige‑se uma definição clara de metas individuais para os colaboradores. Para que se obtenha sucesso, é imprescindível um sistema de incentivos baseado na consecução de metas individuais e coletivas. Esse alinhamento entre objetivos organizacionais e metas individuais sustentará o necessário processo de adaptação constante. Questão 2. (Enade 2009, adaptada) Saiu o resultado da pesquisa de clima organizacional da Bom Tempo S.A., entretanto os resultados relativos ao item Responsabilidade e Motivação com o Trabalho são os que mais preocupam Jorge, o diretor de recursos humanos. Seguem os resultados da pesquisa: Responsabilidade e motivação com o trabalho Índice de 5 a 1* Grau de importância** 1. Satisfação com o conteúdo e a variedade do trabalho 2,2 Muito importante 2. Satisfação com o nível de responsabilidade sobre o trabalho 2,1 Importante 3. Satisfação coma autonomia para realizar o trabalho 4,5 Muito importante 4. Satisfação com a influência na tomada de decisão para realizar o trabalho 4,2 Importante 5. Satisfação com o feedback no trabalho e nos seus resultados 4,0 Muito importante *Índice de 1 a 5, sendo 5 muito bom; 4 bom; 3 regular; 2 ruim; 1 muito ruim. **Escala de 4 opções: muito importante; importante; pouco importante; não importante. Alguns funcionários relataram, no campo do questionário reservado para comentários adicionais, que as atividades não utilizavam plenamente o seu potencial. Com base nas informações e nos dados apresentados, Jorge solicitou à sua equipe preparar algumas opções de planos voltados para gerar motivação com o trabalho, e naturalmente maior produtividade. Por qual das alternativas Jorge deverá optar? A) Abertura dos canais de comunicação e feedback. 78 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 05 /1 7 Unidade III B) Aumento do trabalho em grupo. C) Enriquecimento de cargo lateral e vertical. D) Participação dos funcionários no processo decisório. E) Simplificação das atividades. Resolução desta questão na plataforma.