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Autores: Prof. Eizo Edson Kato Prof. Valdice Neves Pólvora Colaboradoras: Profa. Angela Maria Pizzo Profa. Christiane Mazur Doi Ferramentas da Qualidade Professores conteudistas: Eizo Edson Kato / Valdice Neves Pólvora Eizo Edson Kato Doutorando em Engenharia Biomédica pela Universidade de Mogi das Cruzes, mestre em Biotecnologia, na área de concentração ambiental, fez pós-graduação lato sensu em Matemática Aplicada, é graduado em Engenharia da Computação e em Ciências Físicas e bacharel em Genética Humana. É professor da Universidade Paulista. Também é avaliador sênior do Prêmio Nacional de Qualidade em Saneamento, da Associação Brasileira de Engenharia de Saneamento (ABES), diretor ambiental da Organização Nacional de Assistência aos Municípios (ORNAM), de São Paulo e diretor executivo da empresa Valor Sustentável Consultoria e Assessoria Socioambiental. Valdice Neves Pólvora Cursa doutorado em Engenharia da Produção na UNIP (2018), mestre em Administração e Valores Humanos Unicapital (2001), graduada em Ciências Econômicas pelo Centro Universitário Capital (1994). Especialista em Administração Hospitalar pela UNIP (2018), Especialista em Saúde Pública pela Universidade Paulista (2020) e em Ética (Eticista). Também é coordenadora de cursos e docente universitária de graduação e pós-graduação. Atuou como docente das escolas de governo: Esaf, Enap, Fundap e Fazesp para os cursos de Educação Fiscal, Fundamentos de Licitação e Gestão de Contratos, Pregão Eletrônico, Formação de Preços, Técnicas de Negociação, entre outros. Integrou a equipe de docentes do Ibegesp (Instituto Brasileiro de Educação em Gestão Pública) ministrando vários cursos para servidores públicos e demais interessados em diversos temas, entre eles: Gestão da Qualidade no Serviço Público. Foi auditora interna do Sistema de Gestão da Qualidade – BEC/SP, avaliadora do IPEG (Instituto Paulista de Excelência da Gestão) – Ciclo 2011-2012 e do IPEG – Prêmio MPE – Ciclo 2013, além de membro da Rede de Escritoras Brasileiras (Rebra), com livros de poesia publicados no Brasil e na Itália. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) K19f Kato, Eizo Edson. Ferramentas da Qualidade / Eizo Edson Kato, Valdice Neves Pólvora. – São Paulo: Editora Sol, 2022. 200 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Qualidade. 2. Controle. 3. Aplicação. I. Kato, Eizo Edson. II. Pólvora, Valdice Neves. III. Título. CDU 658.56 U514.06 – 22 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Profa. Sandra Miessa Reitora em Exercício Profa. Dra. Marilia Ancona Lopez Vice-Reitora de Graduação Profa. Dra. Marina Ancona Lopez Soligo Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Claudia Meucci Andreatini Vice-Reitora de Administração Prof. Dr. Paschoal Laercio Armonia Vice- Reitor de Extensão Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades do Interior Unip Interativa Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático Comissão editorial: Profa. Dra. Christiane Mazur Doi Profa. Dra. Angélica L. Carlini Profa. Dra. Ronilda Ribeiro Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista Profa. Deise Alcantara Carreiro Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Kleber Souza Bruno Barros Sumário Ferramentas da Qualidade APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8 Unidade I 1 CONCEITOS E OBJETIVOS DA QUALIDADE ............................................................................................. 11 1.1 Evolução da qualidade ....................................................................................................................... 13 1.2 O que é qualidade ................................................................................................................................ 17 1.3 Gestão da qualidade ........................................................................................................................... 23 1.4 Qualidade como fator de competição ......................................................................................... 27 1.5 Atributos da qualidade ....................................................................................................................... 29 1.5.1 Moral ............................................................................................................................................................ 30 1.5.2 Qualidade intrínseca .............................................................................................................................. 30 1.5.3 Entrega ........................................................................................................................................................ 31 1.5.4 Custo ............................................................................................................................................................ 31 1.5.5 Segurança .................................................................................................................................................. 32 2 TIPOS DE FERRAMENTAS DA QUALIDADE ............................................................................................. 35 2.1 Gerenciais ................................................................................................................................................ 37 2.2 Controle .................................................................................................................................................... 38 Unidade II 3 FERRAMENTAS DA QUALIDADE: USOS GERENCIAIS ........................................................................ 43 3.1 Ferramentas para gerenciamento e tomada de decisão ...................................................... 43 3.1.1 5W2H, 5W3H, 3L5W .............................................................................................................................. 43 3.1.2 Fluxograma ................................................................................................................................................ 47 3.1.3 Metodologia 5S ....................................................................................................................................... 53 3.1.4 Matriz GUT ................................................................................................................................................. 59 3.2 Ferramentas para geração de ideias ............................................................................................. 63 3.2.1 Brainstorming........................................................................................................................................... 63 3.2.2 Brainwriting .............................................................................................................................................. 69 3.2.3 Matriz Swot ............................................................................................................................................... 71 3.2.4 Benchmarking .......................................................................................................................................... 73 4 FERRAMENTAS DA QUALIDADE: ANÁLISE E CONTROLE ..................................................................80 4.1 As sete ferramentas da qualidade ................................................................................................. 80 4.1.1 Gráfico de controle de processos ..................................................................................................... 81 4.1.2 Diagrama de causa e efeito ou diagrama de Ishikawa ............................................................ 84 4.1.3 Diagrama de dispersão ......................................................................................................................... 87 4.1.4 Estratificação ............................................................................................................................................ 90 4.1.5 Folha ou lista de verificação ............................................................................................................... 91 4.1.6 Diagrama de Pareto ............................................................................................................................... 94 4.1.7 Histograma ................................................................................................................................................ 97 Unidade III 5 CONTROLE ESTATÍSTICO DA QUALIDADE .............................................................................................106 5.1 O ciclo PDCA .........................................................................................................................................108 5.2 Metodologia Seis Sigma (Six Sigma) ..........................................................................................114 5.2.1 FMEA ......................................................................................................................................................... 120 5.2.2 DMAIC ...................................................................................................................................................... 126 6 CONTROLE ESTATÍSTICO DO PROCESSO (CEP) ...................................................................................128 6.1 Sistema de controle do processo .................................................................................................130 6.1.1 Processo ....................................................................................................................................................131 6.1.2 Informação sobre o desempenho ................................................................................................. 132 6.1.3 Ação sobre o processo ....................................................................................................................... 132 6.1.4 Ação sobre o resultado ...................................................................................................................... 132 6.2 Processo previsível e imprevisível ................................................................................................133 6.2.1 Variabilidade .......................................................................................................................................... 133 6.2.2 Gráfico CEP ............................................................................................................................................. 136 Unidade IV 7 APLICAÇÕES DA QUALIDADE ....................................................................................................................145 7.1 Metodologia de solução de problemas (Masp) ......................................................................146 7.1.1 Falando sobre o Masp ........................................................................................................................ 147 7.1.2 Ciclo PDCA/Masp ................................................................................................................................. 148 7.1.3 Lean manufacturing ........................................................................................................................... 156 7.1.4 Poka Yoke ................................................................................................................................................ 158 8 OPERACIONALIZAÇÃO DA QUALIDADE ................................................................................................161 8.1 Metrologia .............................................................................................................................................161 8.1.1 Metrologia Aplicada às Ciências da Vida ................................................................................... 165 8.1.2 Metrologia Científica e Metrologia Industrial.......................................................................... 165 8.1.3 Metrologia Legal .................................................................................................................................. 167 8.2 Inspeção e testes ................................................................................................................................168 8.3 Tipos de inspeção ...............................................................................................................................171 8.4 Padrões de rastreabilidade, exatidão, aferição, instrumentos de medição .................176 8.4.1 Rastreabilidade metrológica ............................................................................................................ 176 8.4.2 Sistema Internacional de Unidades (SI) ...................................................................................... 180 8.5 Estrutura da Metrologia Internacional e Nacional ...............................................................182 8.5.1 Estrutura metrológica internacional ............................................................................................ 182 8.5.2 Estrutura metrológica nacional ..................................................................................................... 183 8.6 A confiabilidade metrológica como ferramenta estratégica para inovação ..............185 7 APRESENTAÇÃO Caro(a) aluno(a), Na era da tecnologia da informação, falar de qualidade é essencial para a competitividade das organizações. Assim, esta disciplina tem como objetivo transmitir os conhecimentos e as informações relacionados às ferramentas e às técnicas a serem utilizadas na gestão da qualidade, além de permitir que esses saberes possam interagir com os conceitos e as aplicabilidades das ferramentas aos processos de gestão nas empresas e organizações. Para que esses conceitos tenham maior aproveitamento, dividimos o conteúdo da seguinte forma: Na unidade I, descreveremos os principais conceitos da qualidade e da gestão da qualidade, como fator competitivo para a atuação das empresas que possuem, na administração e no gerenciamento, as ferramentas da qualidade, como diferencial no aprimoramento dos seus processos, com ênfase nos atributos da qualidade, tais como: moral, qualidade intrínseca, entrega, custo e segurança. Na unidade II, focaremos nas principais ferramentas para o gerenciamento e a tomada de decisão, nas ferramentas de geração de ideias, de maneira geral, abrangendo as mais conceituadas ferramentas e os métodos utilizados nas maiores empresas do mundo. Vamos, também, abordar as ferramentas de análise e controle, especificamente, as sete ferramentas da qualidade, sua origem, atuação e importância estratégica. Elas podem, através dos seus princípios e funcionalidades, possibilitar maior desempenho e eficácia nas organizações. Na unidade III, relataremos as ferramentas que utilizam os controles estatísticos do processo, que são sistemas de inspeção por amostragem e operam com o objetivo de verificar a presença de causas especiais, ou seja, aquelas que não são naturais ao meio e que podem prejudicar a qualidade do produto manufaturado. Também exibiremos os processos previsíveis e imprevisíveis, cujas ações possibilitam demonstrar o crescimentoda empresa, assim como detectar possíveis problemas envolvendo a administração da organização. Por fim, na unidade IV, abordaremos as metodologias de soluções de problemas através das quais as organizações ganham mais possibilidades para solucionar diversos inconvenientes encontrados, inclusive os de maior complexidade e de difícil resolução. Falaremos ainda da estrutura da metrologia internacional e nacional e do aspecto da confiabilidade metrológica como ferramenta estratégica para inovação. Assim, neste material, procuramos desenvolver uma linguagem técnica e, ao mesmo tempo, de simples entendimento, para que possamos desenvolver as competências necessárias ao desenvolvimento 8 de programas de melhoria contínua, elaborar e analisar as ferramentas para minimizar a incidência de falhas, bem como compreender e utilizar as ferramentas da qualidade na gestão organizacional. INTRODUÇÃO Iniciarei a nossa conversa com um questionamento: o que as organizações estão fazendo para melhorar a qualidade dos seus produtos? Certamente, as respostas serão diversas, pois a questão da qualidade está inserida em todos os processos da organização, sejam eles fins ou meios, portanto, requerem atenção especial dos gestores. Há algumas décadas, o nosso planeta vem sofrendo alterações profundas e aceleradas transformações ambientais, econômicas, políticas e sociais — que têm levado as nações e seus governos a adotarem estratégias diferenciadas e criativas para elevar a qualidade de vida de suas populações. Assim, existe a necessidade de mudanças de comportamentos e paradigmas para que não ocorram situações que possam paralisar o fluxo natural do crescimento tecnológico, social e econômico. Essas transformações exigem mudanças político-institucionais, técnico-econômicas e culturais de grande envergadura e profundidade, demandando tempo, vontade e competência por parte de todos. A busca por alterações estruturais com mudanças revolucionárias que descentralizam a autoridade, reduzindo a hierarquia, estimulando parcerias e privilegiando a qualidade com foco nos clientes tem sido mais intensa em vários segmentos da sociedade, como nas empresas e nas organizações de produção e de serviços, que visam a elevar a competitividade nos novos mercados globais, procurando se tornar mais flexíveis, inovadoras e empreendedoras para fazer frente aos desafios da modernidade. Historicamente, sempre houve preocupação com a qualidade de bens e de serviços. Os consumidores costumam ter o cuidado de analisar e inspecionar os produtos e serviços que recebem em uma relação de troca. Dessa maneira, essas ações, de forma indireta, caracterizam a chamada era da inspeção, que possui como meta o produto acabado, não relacionando, assim, o objetivo da qualidade, apenas encontrando itens defeituosos na razão direta da intensidade da inspeção. Ao longo do tempo, as indústrias passaram de uma produção simples e manual para o processo de substituição das tarefas repetitivas por máquinas, dispositivos e sistemas automatizados. Essa substituição gerou aceleração dos processos de fabricação, disponibilizando para a sociedade produtos em alta escala. Novos projetos de itens mais adequados às atuais expectativas dos consumidores são lançados cada vez mais rápido e em maiores quantidades (BASSAN, 2020, p. 9). Bassan (2020) diz que durante o processo, hoje globalizado, é preciso entender que os concorrentes também trabalham depressa. As distâncias e os prazos de entrega foram rapidamente encurtados pelas tecnologias e estratégias logísticas mais avançadas, possibilitando a aquisição de produtos e materiais de locais mais distantes, ou melhor, pode-se comprar praticamente de qualquer lugar do mundo. 9 Desta forma, respondendo ao nosso questionamento inicial, podemos dizer que é preciso dar mais importância para a qualidade dos produtos e serviços, não há mais espaço para itens de má qualidade, principalmente para quem quer estar à frente da concorrência, ou mesmo entre os primeiros colocados, o que significa que as organizações devem garantir que todas as suas manufaturas estejam de acordo com o esperado pelo cliente em relação ao uso e, sobretudo, que elas não apresentem defeitos ou falhas durante a sua vida útil. Como vamos observar posteriormente, as ferramentas da qualidade, os controles, as inspeções e os ensaios são métodos essenciais para evitar as não conformidades e perdas de produtividade, contribuindo, assim, para ajudar a garantir a qualidade dos produtos fabricados e consequentemente a satisfação e fidelização dos clientes finais. Bons estudos! 10 11 FERRAMENTAS DA QUALIDADE Unidade I Abordaremos, nesta unidade, os conceitos e objetivos da qualidade, a gestão da qualidade, os tributos da qualidade e a conceituação de ferramentas da qualidade. 1 CONCEITOS E OBJETIVOS DA QUALIDADE Lobo (2019) coloca que o conceito de qualidade tem evoluído e torna-se mais compreensível se analisarmos a maneira como ele tem sido compreendido e aplicado ao longo dos tempos nas empresas consideradas líderes mundiais em seus segmentos de atuação. Já Pezzato (2018) destaca que a preocupação com a qualidade se intensificou nos últimos anos, exigindo das empresas a utilização de técnicas mais modernas e eficientes de gestão. O aumento da competitividade faz com que as companhias foquem cada vez mais no cliente e na melhoria contínua, conduzindo seus processos com base nos conceitos da qualidade. Assim, a qualidade tem de evoluir sempre e os produtos precisam atrair cada vez mais clientes. Como diz Bassan (2020), os concorrentes podem estar bem ao seu lado, mas também em qualquer outro lugar ou mesmo em outros países, e os itens fabricados por eles podem absorver uma fatia de mercado significativa de consumidores, portanto, pensar em qualidade é fator imprescindível para as organizações que querem ser competitivas no mercado. Podemos encontrar a definição de qualidade em diferentes vertentes, vamos agora apresentar alguns conceitos acerca do tema. Dando continuidade ao conceito de qualidade, verificaremos a abordagem sobre o desenvolvimento dela como sistema administrativo e sua origem. Segundo Seleme e Stadler (2010), o controle da qualidade emergiu nos Estados Unidos. A história do desenvolvimento da qualidade como sistema administrativo, ou seja, integrante dos objetivos e metas das organizações, permitiu que elas obtivessem diferenciais competitivos, dada a utilização desse controle. Observe na figura a seguir o desenvolvimento da qualidade como sistema administrativo. 12 Unidade I Taylor 1900 1939 1943 1980 Shewhart Juse Deming Juran Feigenbaum Maslow McGregor Herzberg Círculos de Controle da Qualidade (CCQ) Início da Administração Científica Segunda Guerra Mundial Concentração do Controle da Qualidade Total (CQT) Figura 1 – Desenvolvimento da qualidade como sistema administrativo Adaptada de: Seleme e Stadler (2010). Segundo Limeira, Lobo e Marques (2015), o Controle de Qualidade é um processo pelo qual as organizações analisam a qualidade de todos os fatores e etapas envolvidos na produção. Ele é realizado internamente por uma equipe, ou externamente por consultores ou um órgão do governo, para se descobrir defeitos em produtos. Ainda, segundo os autores, o Círculo de Controle de Qualidade (CCQ) é composto de um pequeno grupo de trabalhadores que se reúne para discutir formas de identificação, análise, resolução das questões relacionadas ao processo e produto. Mais de 95% dos problemas relacionados a esses itens pode ser resolvido usando-se as várias ferramentas de Controle da Qualidade. Por outro lado, Limeira, Lobo e Marques (2015) destacam que para um CCQ ser implementado, a gestão tem de ser informada sobre as intenções do grupo de trabalhadores que planejam as reuniões a respeito da solução de problemas e a aprovação deve ser concedida pela administração. Uma comissão será configurada e os funcionários serão selecionados para preencheras posições principais do Círculo. Os membros escolhidos exercerão os seguintes papéis: o facilitador, o líder da equipe, o secretário e os membros. Após o processo de seleção, o escopo do foco será definido e o esforço canalizado para a resolução de problemas no setor. A seguir estão as funções de cada parte da equipe: • Os Círculos de Qualidade são grupos pequenos. Deles podem participar de 4 a 15 membros, sendo oito o número ideal. Eles se reúnem em intervalos fixos, normalmente uma vez por semana, com um líder, para identificar e resolver problemas relacionados com o seu trabalho diário. • Todos os membros devem trabalhar na mesma fábrica ou área de trabalho, pois o Círculo dá identidade e sentido a seus integrantes em relação a seu novo trabalho. Eles precisam estar sob as orientações do mesmo chefe ou supervisor, que, por sua vez, também é membro do Círculo. • Normalmente, o chefe ou supervisor também é chefe do Círculo, mas isso não exige que as decisões sejam somente dele, pois são os participantes que decidem em conjunto a solução. 13 FERRAMENTAS DA QUALIDADE • A participação é voluntária, tanto para o líder quanto para os colaboradores. Por isso, a existência dos Círculos depende da decisão de cada um. • O ideal é que as reuniões sejam realizadas em lugares especiais, longe do ambiente de trabalho. • Preferencialmente, o processo de seleção não é realizado por votação democrática, mas por consenso; desse modo, todos os participantes concordam sobre os problemas que devem ser resolvidos. • Os Círculos devem receber assistência ou aconselhamento para analisar um problema e decidir. • A alta gestão precisa se comprometer a fornecer ajuda para Círculos de Qualidade. • A empresa tem deve realizar revisões periódicas para ver se os materiais necessários ao funcionamento dos Círculos de Qualidade foram entregues e para a implementação das propostas que surgem. • Os Círculos de Qualidade não são temporários, devem ser mantidos constantemente em operação, sempre em busca de aperfeiçoamento. O objetivo do CCQ é discutir os problemas da empresa e chegar a possíveis soluções. Por isso, os contratempos são discutidos e resolvidos de forma sistemática. É importante que as soluções práticas sejam analisadas pela administração da empresa e implementadas sem demora. 1.1 Evolução da qualidade Por outro lado, Paladini e Carvalho (2012) destacam que, na década de 1930, o controle da qualidade evoluiu bastante com o desenvolvimento do sistema de medidas, das ferramentas de controle estatístico do processo e do surgimento de normas específicas para essa área. Surgiram técnicas de amostragem, o que permitiu a introdução da inspeção por amostragem, e redução das inspeções que geravam elevados custos indiretos. Segundo os autores, foi nessa época que os experimentos de Elton Mayo e a Escola das Relações Humanas começaram a questionar a alienação no trabalho e a importância da participação do trabalhador. Esse trabalho pioneiro, aliado aos estudos de Maslow, McGregor e Herzberg, nas décadas seguintes, sobre motivação humana, teve grande influência nos programas de qualidade no período pós-guerra, em especial na composição do modelo japonês. Observação A Escola das Relações Humanas surgiu nos Estados Unidos como consequência das conclusões da experiência de Hawthorne, desenvolvida por Elton Mayo e colaboradores. 14 Unidade I No período da Segunda Guerra Mundial, as conquistas do controle estatístico da qualidade se difundiram, mas foi no pós-guerra que novos elementos surgiram na gestão da qualidade. Nesse sentido, Seleme e Adler (2010) destacam que, após a Segunda Guerra Mundial, o Japão se encontrava em estado de destruição, principalmente nas áreas de infraestrutura, como telecomunicações, energia e estradas. O país, preocupado com a reestruturação da sua economia, estabeleceu uma relação de colaboração com os Estados Unidos. A troca de informações entre os japoneses, por meio da União Japonesa de Cientistas e Engenheiros (Juse, sigla em inglês), e os americanos ocorreu por intermédio de Deming e Juran, e, posteriormente, Feigenbaum, que são conhecidos como gurus da qualidade. A qualidade pode indicar as percepções dos indivíduos e dos diversos fatores, como cultura, produto ou serviço prestado. Assim, o termo pode ser usado para determinar diversas situações, como: a qualidade de vida das pessoas de uma comunidade; da água utilizada para beber ou do ar; considerado próprio ou impróprio em uma cidade; do serviço prestado por uma determinada empresa; ou ainda de um produto. Por outro lado, Berssaneti e Bouer (2013) destacam que todos os conceitos da qualidade podem ser encontrados em uma mesma organização. Cada empresa deverá identificar quais deles são os mais importantes e priorizá-los para o seu negócio, em particular. Juntamente a tal ideia, as ferramentas da qualidade também evoluíram, sendo que novas delas foram desenvolvidas e incorporadas às já existentes, ao longo dos anos, para melhor aplicação dos novos conceitos. O quadro seguinte resume a evolução do conceito de qualidade. Quadro 1 – Evolução do conceito de qualidade Conceitos Período Foco Princípios Pontos fracos Ferramentas Adequação ao padrão Anos 1950 Controle do produto Avaliar produto com padrão (gabarito). Corrigir eventuais desvios. Inspeção não melhora qualidade. Retrabalho e rejeições. Inspeção 100%. Adequação ao uso Anos 1960 Controle do produto Evitar insatisfação dos clientes. Rejeitar produtos fora do padrão. Riscos para o cliente final. Conflitos entre áreas funcionais. Inspeção por amostragem. Adequação ao custo Anos 1970 e 1980 Controle do processo Processos estáveis. Redução da variabilidade. Pode ser copiada por empresas com custos mais baixos. Controle estatístico de processo. Ferramentas básicas da qualidade. Adequação às necessidades latentes Anos 1980 e 1990 Qualidade no projeto do produto e do processo Satisfação de todos os interessados. Ênfase no projeto do produto e do processo. Exige muita rapidez e alta flexibilidade. Desdobramento da função qualidade. Delineamento de experimentos. Método de Taguchi. Fidelização dos clientes Anos 2000 aos dias atuais Qualidade no projeto do produto e do processo Satisfação do cliente final. Conquista da fidelidade. A expectativa criada deve ser igual à qualidade percebida. Exige comunicação rápida, sistemática e eficiente. Necessita de disposição para planejar. Ferramentas de análise de riscos. (Fmea, APP, Hazop, Matriz de Risco). Fonte: Berssaneti e Bouer (2013, p. 24). 15 FERRAMENTAS DA QUALIDADE Para Toledo et al. (2012), a partir da década de 1970, observam-se três vertentes de definição da qualidade de produto. A primeira tem como principal expoente a caracterização da qualidade de Juran (1991 apud TOLEDO et al., 2012), como adequação ao uso (fitness for use). Essa, talvez, seja a definição mais difundida e empregada até os dias atuais. A segunda segue a definição de Crosby (1994 apud TOLEDO et al., 2012), que associa qualidade à conformidade com requisitos (conformance to requirements). A terceira é representada pela descrição de Taguchi (1986 apud TOLEDO et al., 2012, p. 3), que conceitua qualidade como “a perda, mensurável e imensurável, que um produto impõe à sociedade após o seu embarque (após deixar a empresa), com exceção das perdas causadas por sua função intrínseca”. Uma quarta vertente, que poderíamos considerar, é a visão da qualidade de produto como satisfação total do cliente, apregoada pela filosofia japonesa da Gerência da Qualidade Total. Segundo Toledo et al. (2012), a primeira vertente, ou seja, a noção de qualidade como adequação ao uso, sugere que qualidade é o grau com que o produto atende satisfatoriamente às necessidades do usuário durante o uso. Ela caracteriza a sua propriedade de ser adequada ao uso. A qualidade passa a ser propriedade da relação do objeto com o usuário e o uso pretendido,descrevendo a capacidade de um dado item satisfazer uma dada necessidade e não uma propriedade inerente que se afirma ou se nega de um bem. Ainda de acordo com Toledo et al. (2012), a segunda vertente supõe que somente é possível pensar a qualidade de produto de um ponto de vista prático se houver um conjunto de especificações previamente definidas. Ela seria avaliada pelo grau de conformidade do produto real com suas especificações de projeto. Andreoli e Bastos (2017) também apresentam o quadro seguinte, demonstrando as eras da qualidade. Quadro 2 – Eras da qualidade Era Foco Consequência Inspeção Produto Erros não revertidos Controle estatístico Processo Reversão do erro, amostragem Garantia Sistema Diferencial competitivo Qualidade total Negócio Cadeia de valor Adaptado de: Andreoli e Bastos (2017, p. 24). Na sequência, vamos analisar essas eras para melhor entendê-las. Andreoli e Bastos (2017) alegam que, na era da Inspeção, a qualidade começou a ser implantada no ambiente organizacional com base nas ideias do engenheiro mecânico norte-americano Frederick Taylor, que foi responsável pelo desenvolvimento da primeira teoria da administração, conhecida como 16 Unidade I administração científica, que com a teoria clássica, do francês Jules Henri Fayol, deram origem a primeira escola do pensamento administrativo, denominada de abordagem clássica. Por sua vez, Barros e Bonafini (2014) colocam que a inspeção dos produtos acabados foi uma das primeiras preocupações formais com a qualidade. Antes mesmo do aparecimento das grandes indústrias, quando ainda predominava a manufatura, essa inspeção já era feita individualmente nos produtos por quem os produzia. No entanto, o principal foco era a detecção de eventuais defeitos de fabricação, sem metodologia para executá-la. Taylor propôs um método de organização científica do trabalho, o que configurou a primeira abordagem sistemática de organização racional da produção. Na visão dele, o primeiro passo a ser seguido deveria ser separar o trabalho intelectual do trabalho de massa. Observação Entende-se por trabalho intelectual aquele ligado à concepção, elaboração e organização das ideias, bem como o trabalho em massa diz respeito à execução das atividades previamente traçadas. Essa divisão foi o primeiro esforço para uma hierarquização da produção, na qual os trabalhadores braçais estão subordinados aos seus supervisores, geralmente engenheiros. Dessa forma, segundo Andreotti e Bastos (2017), o objetivo de Taylor aplicando as noções científicas de tempo e movimento ao trabalho humano era quantificá-lo em termos de produtividade e para fazê-lo, Taylor acreditava que o melhor recurso seria a divisão racional do trabalho, de acordo com a qual cada trabalhador desempenharia uma função específica e limitada, fragmentando-se as diversas etapas do processo de produção tanto quando possível (ANDREOLI; BASTOS, 2017, p. 21). Saiba mais A fim de observar o modelo de produção mencionado, assista ao seguinte filme: TEMPOS MODERNOS. Direção: Charles Chaplin. EUA: United Artists, 1936. 87 min. Por sua vez, a era do Controle estatístico, conforme abordado por Andreoli e Bastos (2017), teve início nos anos de 1930, direcionava-se o foco da atenção ao processo produtivo, e não mais especificamente ao produto final. 17 FERRAMENTAS DA QUALIDADE Assim, a verificação de qualidade dos produtos passou a ser auferida durante as diferentes etapas desse processo e não somente ao seu término, o que possibilitava reverter os erros observados, fazendo a correção dos itens defeituosos e isso diminuiu o desperdício de forma substancial. Nesse período, a análise da qualidade era realizada por meio de amostras que fossem significativas para representar o todo, ou seja, não era necessário avaliar a totalidade dos produtos acabados em todas as etapas da produção, pois bastava verificar uma pequena porcentagem desse montante, desde que ela representasse o total (ANDREOLI; BASTOS, 2017, p. 22). Daí a origem do reconhecimento de que a variabilidade é inerente aos processos produtivos e da adoção de técnicas estatísticas para sua identificação e controle. Andreoli e Bastos (2017) enfatizam que essa constatação possibilitou a adoção de um estilo de gestão corretiva, voltada à identificação das causas dos erros, com a finalidade de empreender uma posterior ação corretiva. A era da Garantia, por sua vez, tem como foco o acirramento da competitividade, e com a globalização e a consequente abertura de mercados, ocorreram mudanças no cenário empresarial. Segundo Andreoli e Bastos (2017), nesse novo cenário, que teve o início nos anos 1950, ganhou importância a oferta de atributos ou garantias que diferenciassem as organizações em relação aos seus concorrentes. Portanto, a terceira fase da gestão da qualidade, cujo foco se concentrava no sistema, isto é, na organização como um todo, firma um acordo explícito e público de qualidade perante seu mercado consumidor. A partir dessa era que se propôs a concepção de controle da qualidade e o uso de ferramentas da qualidade para melhoria dos processos. Vamos conhecê-las na unidade II do presente livro-texto. Por último, abordaremos a era da Qualidade total, que se inicia nos anos 1970. O controle tem início na elaboração do projeto, desenvolve-se ao longo de todas as etapas envolvidas na produção e termina quando o produto está finalizado. De acordo com Andreoli e Bastos (2017), o objetivo da Qualidade total consiste não apenas em identificar as causas potenciais de possíveis falhas, mas na prevenção, ou seja, reconhecer possíveis falhas antes que de fato elas aconteçam. Vimos até o presente momento o conceito de qualidade e a sua evolução, mas o que ela é, afinal? 1.2 O que é qualidade Conforme Andreoli e Bastos (2017), existem duas perspectivas distintas para se conceituar qualidade, ou seja, do ponto de vista da organização (produção), que caracteriza a qualidade intrínseca e do ponto de vista do consumidor, que configura a qualidade extrínseca. 18 Unidade I Visão da organização Visão do consumidor Qualidade Qualidade intríseca Qualidade extrínseca Figura 2 – Qualidade Vamos analisar essas duas visões: Na visão da organização, quando considerada em termos de produção, a qualidade se refere à conformidade, ou seja, os produtos devem estar de acordo com o projeto previamente planejado. De acordo com Andreoli e Bastos (2017), a qualidade, nesse sentido, pode ser pensada como a capacidade da organização de cumprir seus padrões pré-estipulados, minimizando ou mesmo evitando possíveis desvios em relação ao planejamento. Em razão disso falamos de qualidade intrínseca, pois ela é inerente ao produto, portanto, existe de forma objetiva e concreta e pode ser facilmente mensurada, avaliada e comprada. Lembrete A qualidade intrínseca é inerente ao produto. Dando continuidade, vamos verificar a visão do consumidor: Conforme Andreoli e Bastos (2017), outra perspectiva com base na qual se pode analisar a construção da qualidade é a do consumidor, que trata do julgamento que ele faz do bem adquirido, do serviço prestado ou da atuação da organização como um todo. Nesse sentido, esse ponto de vista se refere à qualidade extrínseca, ou seja, ao que é percebido, subjetivamente pelo consumidor. Lembrete Qualidade extrínseca diz respeito à percepção do consumidor. Paladini e Carvalho (2012) destacam que, na década de 1930, o controle da qualidade evoluiu bastante, com o desenvolvimento do sistema de medidas, das ferramentas de controle estatístico do processo e do surgimento de normas específicas para a área. Apareceram técnicas de amostragem, o 19 FERRAMENTAS DA QUALIDADE que permitiu a introdução da inspeção por amostragem e redução das inspeções que geravam elevados custos indiretos. Segundo os autores, foi nessa época que os experimentos de Elton Mayo e a Escola das Relações Humanas começaram a questionar a alienação no trabalho e a importânciada participação do trabalhador. Esse conceito pioneiro, aliado aos estudos de Maslow, McGregor e Herzberg, nas décadas seguintes, sobre motivação humana, teve grande influência nos programas de qualidade no período pós-guerra, em especial na composição do modelo japonês. Observação A Escola das Relações Humanas surgiu nos Estados Unidos, como consequência das conclusões da experiência de Hawthorne, desenvolvida por Elton Mayo e colaboradores. No período da Segunda Guerra Mundial, as conquistas do controle estatístico da qualidade se difundiram, mas foi no pós-guerra que novos elementos surgiram na gestão da qualidade. Por sua vez, Ballestero-Alvarez (2019, p. 117) contribuiu com o que os principais objetivos da qualidade contemplam, vejamos: Como o CCQ é formado pelas pessoas que trabalham diretamente na produção, seus principais objetivos dizem respeito a: • incrementar a motivação e a realização das pessoas envolvidas, oferecendo a oportunidade de participar na solução de problemas da área e da empresa; • incentivar o desenvolvimento do autocontrole, da prevenção de erros e falhas dentro da filosofia da qualidade total; • envolver todas as pessoas da empresa na garantia total da qualidade do produto; • incentivar a criatividade, a inventividade, a geração de novas ideias, a participação de todos; • aumentar a produtividade das pessoas no trabalho com satisfação, envolvimento e participação; • promover a redução de custos, a diminuição de perdas, de falhas, de erros, de retrabalho; 20 Unidade I • promover e enaltecer a comunicação, a participação, o relacionamento entre as pessoas, tanto entre os pares no sentido horizontal quanto com os demais níveis no sentido vertical na estrutura organizacional. Já Pezzato (2018) coloca que a existência de diferentes perspectivas dificulta definir qualidade. Inicialmente, ela associava a conformidade às especificações, ou seja, a adequação aos padrões, passando em seguida para o atendimento às necessidades dos clientes. Ainda, para ele (2018), atualmente, a qualidade representa não somente a busca da satisfação dos clientes, mas de todo o público de uma empresa, bem como a excelência de seus processos organizacionais. Nesse sentido, Pezzato (2018) cita definições de qualidade sob o olhar de alguns de seus especialistas: Quadro 3 – Definições de qualidade Juran Feigenbaum Deming Crosby Ishikawa Qualidade consiste nas características dos produtos que atendem as necessidades dos clientes, proporcionando satisfação em relação ao produto. “A qualidade é a ausência de falhas” (JURAN; GRYNA, 1991, p. 11). Em Juran’s Quality Handbook (1951), Juran define qualidade como “apto a ser usado”. Qualidade é a correção dos problemas e de suas causas ao longo de toda série de fatores relacionados com marketing, projetos, engenharia, produção e manutenção, que exercem influência sobre a satisfação do usuário (FEIGENBAUM, 1994). Qualidade é um grau previsível de uniformidade, dependência, baixo custo, satisfação do mercado, ou seja, é aquilo que sempre o cliente necessita e quer (DEMING, 1990). Qualidade é a conformidade do produto às suas especificações (CROSBY, 1986). Qualidade é desenvolver, projetar, produzir e comercializar um produto que seja sempre mais econômico, mais útil, e que satisfaça ao consumidor (ISHIKAWA, 1993) Adaptado de: Pezzato (2018, p. 16). Como vimos no quadro anterior, pode-se ter várias percepções em relação aos conceitos sobre qualidade. Elas dependem da situação e do contexto em que esse conteúdo está sendo inserido, uma vez que a qualidade pode ser vista como algo subjetivo. De acordo com Barros e Bonafini (2014), pensamos em qualidade quando compramos roupas, produtos de limpeza, eletrodomésticos, automóveis etc. Ao adquirir um item, procuramos por produtos ou serviços de qualidade, queremos consumir de acordo com nossas necessidades e expectativas, por mais diferentes que elas sejam. No entanto, nem sempre as necessidades e expectativas dos consumidores são atendidas, pois qualidade também envolve a questão da percepção do consumidor. Vejamos no quadro seguinte os exemplos citados por Barros e Bonafini (2014), que tratam de necessidades e expectativas de clientes. 21 FERRAMENTAS DA QUALIDADE Quadro 4 – Exemplos de necessidades e expectativas de clientes Organização Necessidades e expectativas de clientes Hotel Precisão dos dados de reserva Cortesia e rapidez no registro de entrada Atitude profissional e cordialidade dos colaboradores Limpeza Boa conservação de mobiliários, instalações e equipamentos Área e ambiente para trabalho nos apartamentos Variedade de opções e qualidade da comida nos restaurantes Segurança Áreas para recreação Cordialidade e rapidez no registro de saída Operadora de transporte urbano Pequeno tempo de espera Rapidez na viagem Segurança Conforto Acessibilidade Cortesia no atendimento Adaptado de: Barros e Bonafini (2014, p. 3). As autoras destacam que as necessidades e expectativas, na coluna da direita, são o que o consumidor considera qualidade. Já na ótica dos produtos, trata-se dos requisitos do cliente. Dessa forma, segundo Barros e Bonafini (2014), o conceito de qualidade é muito amplo, e, como pode ser aplicado a muitos aspectos, são diversas as definições, dependendo do meio a que ele se refere, conforme observaremos no decorrer desse tópico. Contribuindo com o tema, podemos observar na figura seguinte que o conceito de qualidade está diretamente ligado a três fatores, segundo Barros e Bonafini (2014). Redução de custos Aumento de produtividade Conceito básico de qualidade Satisfação do cliente Figura 3 – Conceito básico de qualidade Adaptada de: Barros e Bonafini (2014, p. 4). 22 Unidade I Pelo que vimos até o momento, em relação ao conceito de qualidade, podemos dizer que o que é excelente agora, daqui a pouco tempo pode ser substituído pelo cliente por outra coisa. Vamos fazer uma atividade para assimilar esse conceito. Exemplo de aplicação Relacione e reflita a respeito de quantas vezes você substituiu um determinado produto por outro levando em consideração a qualidade. Podemos observar que a qualidade tem um significado complexo, pois além da conformidade aos requisitos especificados, leva-se também em consideração sentimentos e interpretações mais individuais de cada consumidor. Dessa forma, dizemos que ainda não há total consenso sobre o conceito de qualidade. Vários especialistas no Brasil e no mundo defendem as suas próprias visões. Entretanto, pode-se partir de uma premissa básica e universal da qualidade. Vejamos o que diz Bassan (2020, p. 11-12) sobre qualidade. A qualidade pode ser definida como fazer corretamente todas as atividades, desenvolver projetos sem falhas, fabricar produtos ou realizar serviços isentos de defeitos ou erros, atender aos padrões, normas, leis e especificações, assegurando que as expectativas dos clientes sejam totalmente atendidas ou até superadas em relação à confiança e ao uso do produto ou da prestação do serviço, buscando um grau de posicionamento em relação aos seus concorrentes. Bassan (2020) ainda destaca que fazer corretamente todas as atividades, dentro do conceito de qualidade, não significa fazer somente o básico, ou cumprir apenas com a obrigação, mas fazer o melhor. Executar o que realmente precisa ser feito para bater metas, eficiência e eficácia. Lembrete Eficiência diz respeito a um trabalho bem-feito, enquanto eficácia significa fazer o que precisa ser feito. Importante salientar que a qualidade tem relação com tomadas de decisão, e envolve as atitudes de todos os profissionais que atuam na organização, sejam nas funções operacionais, administrativas ou ainda nos níveis estratégicos e da alta gestão. 23 FERRAMENTAS DA QUALIDADE 1.3 Gestão da qualidade De acordo com Sanches (2019), em razão da importância da qualidade no desenvolvimento das atividades, torna-semais claro compreender os desafios existentes na gestão da qualidade. Isso ocorre em razão da necessidade de se atingir ou até mesmo manter o nível exigido de excelência nas atividades empresariais, o que demanda planejamento, controles e coordenação constantes. Sanches (2019) destaca as pesquisas realizadas em grandes empresas, como Coca-Cola, McDonald’s, IBM e HP, por alguns autores como Peters e Waterman, com foco nas características básicas que perpetuam a excelência. Ao final, oito pontos foram destacados, sendo eles: Propensão à ação Produtividade por meio das pessoas Proximidade do cliente Orientação para valores Forma simples e staff enxuto Autonomia e espírito empreendedor Focalização nos negócios Propriedade simultaneamente solta e apertada Figura 4 – Características básicas Adaptada de: Sanches (2019, p. 25-27). Vamos analisar esses oito pontos, segundo Sanches (2019, p. 24-27): • Propensão à ação: compreende as empresas que obtêm êxito em suas atividades e valorizam as ações, fazendo a implementação de ideias. • Proximidade do cliente: são as empresas orientadas para o cliente, buscam a satisfação dele por meio da excelência dos serviços e inovações nos produtos. Os gerentes costumam entrar em contato direto com os clientes para conhecer suas necessidades, além de valorizarem os processos de venda e pós-vendas. • Autonomia e o espírito empreendedor: as empresas de sucesso tendem a possuir uma estrutura voltada à mudança e inovação, o que permite constituir suas unidades organizacionais de maneira reduzida, criando um senso de adaptabilidade, o que permite a liberdade plena às equipes para a geração de produtos criativos. • Produtividade por meio das pessoas: os recursos humanos são colocados como as raízes da qualidade e produtividade nas empresas de sucesso, de maneira que eles são encorajados a participar das decisões, marketing, produção e desenvolvimento de novos produtos. 24 Unidade I • Orientação para valores: as empresas de sucesso possuem sistemas de valores muito explícitos, de forma que os funcionários, principalmente da média e alta administração sabem, exatamente, os objetivos e as metas das companhias. • Focalização nos negócios: as empresas se vinculam a negócios que compreendem bem, fazendo o que sabem melhor que os outros. • Forma simples e staff enxuto: a estrutura e os sistemas destas empresas tendem a ser elegantes, simples, e com poucas pessoas de composição da equipe, sendo subdivididas em pequenas unidades de negócios e divisões estratégias, de maneira que a hierarquia vertical fica reduzida. • Propriedades simultaneamente soltas e apertadas: fazer uso de controles apertados em algumas ocasiões e controles soltos em outras, mantém códigos de ética que auxiliem a organização a atingir seus objetivos da melhor forma possível. Sanches (2019) destaca que muitos dos processos e atividades vinculados à gestão da qualidade, e mesmo à compreensão de como a qualidade se coloca nas ações empresariais, estão associados à gestão dos conhecimentos e informações, além do entendimento completo da necessidade de inovações. A preocupação com a qualidade se intensificou nos últimos anos, exigindo das empresas a utilização de técnicas mais modernas e eficientes de gestão. O aumento da competitividade faz com que as companhias foquem cada vez mais no cliente e na melhoria contínua, conduzindo seus processos com base nos conceitos da qualidade. Diante do exposto, vamos analisar algumas abordagens sobre qualidade, segundo Shigunov Neto e Campos (2016). Abordagem transcedente Abordagem baseada no produto Abordagem baseada no usuário Abordagem baseada no valor Abordagem baseada na produção Qualidade Figura 5 – Abordagens da qualidade Adaptada de: Shigunov Neto e Campos (2016, p. 51). 25 FERRAMENTAS DA QUALIDADE Shigunov Neto e Campos (2016) alegam que a abordagem transcendente significa que qualidade é sinônimo de excelência inata, portanto, não pode ser medida com precisão, sendo reconhecida pela experiência do indivíduo que a analisa. Por sua vez, a abordagem baseada no produto quer dizer que qualidade é sinônimo de maior número e melhores características de um produto. Trata-se de uma variável precisa e mensurável surgida com base na literatura econômica, enfatizando a durabilidade dos produtos, o que implica que alta qualidade somente pode ser obtida com alto custo (SHIGUNOV NETO; CAMPOS, 2016, p. 51). Ainda, conforme os autores (2016), a abordagem baseada no usuário significa que a qualidade é o atendimento às necessidades e preferências do consumidor. A avaliação dos usuários em relação às especificações é o único padrão confiável. Em relação à abordagem baseada na produção, Shigunov Neto e Campos (2016) dizem que qualidade é sinônimo de conformidade com as especificações. Assim, as definições dela estão calcadas na ideia da adequação da fabricação às exigências do projeto e de que as melhorias da qualidade, equivalentes a reduções do número de desvios, levam a menores custos. Por fim, temos a abordagem baseada no valor, na qual os mesmos autores (2016) afirmam que qualidade é o desempenho ou a conformidade a um preço ou um custo aceitável. Conforme Pezzato (2018), a gestão da qualidade baseia-se em oito princípios, conforme destacado na figura seguinte: Foco no cliente Abordagem da gestão como um sistema Envolvimento das pessoas Abordagem dos fatos Benefícios mútos Liderança Melhoria contínua Abordagem dos processos Princípios da gestão da qualidade Figura 6 – Princípios da gestão da qualidade Adaptada de: Pezzato (2018, p. 19). 26 Unidade I Vamos detalhar esses princípios, conforme Pezzato (2018, p. 19): • Foco no cliente: as organizações precisam compreender as necessidades atuais e futuras de seus clientes e se esforçar para superar as expectativas deles. • Liderança: deve estar presente na organização e ser responsável pela manutenção de um ambiente interno motivador, que envolva as pessoas em torno do alcance de objetivos comuns. • Envolvimento das pessoas: como principal patrimônio de uma organização, os indivíduos necessitam estar envolvidos e utilizar suas aptidões em benefício da organização. • Abordagem dos processos: para que os resultados desejados sejam alcançados com eficiência, atividades e recursos devem ser geridos por processos. • Abordagem da gestão como um sistema: os processos inter-relacionados devem ser geridos como um sistema, para que a organização atinja os seus objetivos com eficácia. • Melhoria contínua: deve ser uma preocupação constante, com avaliação sistemática do desempenho global da organização. • Abordagem dos fatos: as decisões, para serem eficazes, devem se basear na análise de fatos, dados, informações etc. • Benefícios mútuos com fornecedores: as relações precisam ser mutuamente benéficas, criando valor para ambas as partes. Para o melhor entendimento, observe na figura seguinte a inter-relação existente entre o conceito de qualidade, gestão da qualidade e elementos que a compõem. Planejamento da qualidade Controle Garantia Melhoria Estabelecer os objetivos, processos e recursos para cumprir os objetivos da qualidade. Cumprir os objetivos e requisitos da qualidade. Prover confiança que os requisitos da qualidade são cumpridos. Aumentar a eficácia e eficiência. Gestão da qualidade Atividades coordenadas para dirigir e controlar uma organização com relação à qualidade. Habilidade de um conjunto de características de um produto, processo ou sistema para atender aos requisitos dos clientes e de outras partes interessadas. Qualidade Figura 7 – Inter-relação entre qualidade e gestão da qualidade Adaptada de: Pezzato (2018, p. 20). 27 FERRAMENTAS DA QUALIDADE Existem também o controle da qualidade, a garantia da qualidade e a gestão da qualidade, que são conceitos relacionados com o desempenho da qualidade na indústria e serviços. Eles são usados em váriasáreas através de certificações e indicadores de qualidade e normas, como a ISO 9001, ISO 14000, NBR, entre outras. Observação ISO é a sigla de International Organization for Standardization, ou, em português, Organização Internacional para Padronização. Trata-se de uma entidade de padronização e normatização criada em Genebra, na Suíça, em 1947. NBR significa Norma Brasileira. As NBRs são aprovadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). A gestão da qualidade não necessariamente precisa implicar a adoção de certificações de qualidade ou de indicadores, embora, atualmente, seja o meio mais comum e difundido. Mas, de uma forma ou de outra, sempre envolve a observância de conceitos básicos, ou de princípios de gestão da qualidade, que citamos anteriormente, que podem e devem ser observados por qualquer organização. Lembrete A qualidade de um produto ou serviço é a percepção do cliente, ou seja, o grau que o objeto atende às expectativas. 1.4 Qualidade como fator de competição Segundo Oliveira (2014), a competitividade pode ser analisada pela sua capacidade de garantir a movimentação comentada. Manter-se competitivo com durabilidade propõe às organizações uma nova forma de estruturação, de uso de tecnologias, de produtos e serviços novos, de negociação com as pessoas e com as outras organizações existentes na sociedade e até novas formas de poder. Para obter vantagem competitiva, segundo o autor (2014), a empresa se vê obrigada a encontrar meios de ensinar as pessoas que dela fazem parte a gerarem informações e conhecimentos. Ela obriga, de maneira estudada e aprovada, que seus recursos humanos passem a operacionalizar o que antes poderia ser tratado como impreciso. Passa a existir na instituição a formalização do saber, a partir de uma dinâmica mais ampla. A fim de poder agir, há que se dispor do conhecimento. Aliás, todo o esforço colocado para a aquisição de informações e saber somente passa a ser válido se permitir a ação. Oliveira (2014) ressalta que a ação, para ser competitiva, necessita, na organização contemporânea, do comprometimento total. Os recursos humanos devem estar comprometidos com os objetivos, planos e outros recursos utilizados para que, juntos, alcancem o intento desejado. Um único ponto em desvantagem levará ao não alcance do esperado e impossibilitará a manutenção da competitividade. 28 Unidade I Com o cenário competitivo pelas aberturas de mercados, a globalização e o crescimento emergente dos países produtores, a competição está cada vez mais intensa e acirrada. A abertura das fronteiras geográficas permite que bens, serviços, pessoas, habilidades e ideias cruzem livremente de um lado para outro e que muitas empresas de âmbito nacional e internacional ofereçam seus produtos ou serviços diversificados, às vezes, de forma não tão ética, levando grandes riscos para as organizações. Figura 8 – Homem Disponível em: https://bit.ly/3mlnYWQ. Acesso em: 4 out. 2021. Observação A globalização é o processo de aprofundamento internacional da integração econômica, social, cultural e política que tem estado em uso crescente desde a década de 1980 e, especialmente, a partir da década de 1990. Dessa forma, é crucial para a organização buscar meios e investimentos a fim de entrar na competição em escala global e poder enfrentar essa disputa mercadológica. É preciso aderir e adotar novas mentalidades e práticas que valorizam a flexibilidade, a velocidade, a inovação, a integração e os desafios que surgem como resultados das constantes mudanças. Portanto, a utilização das ferramentas da qualidade auxilia as empresas no monitoramento dos seus processos e projetos, o que permite a adoção de ações preventivas e corretivas. A qualidade passou a ser um diferencial para a permanência das organizações no mercado global. Cada vez mais as instituições aderem às ferramentas da qualidade e, com as novas tecnologias e as grandes inovações, aumentam o poder de atuação e, atualmente, causam grande preocupação entre empresas de diversas áreas que não estão se adequando a esse novo modelo, em razão do nivelamento de alto grau. O tema da qualidade reveste-se, a cada dia que passa, de uma importância crescente aos olhos dos gestores das empresas, tornando-se uma palavra comum na linguagem da administração. 29 FERRAMENTAS DA QUALIDADE A gestão da qualidade é, cada vez mais, procurada por diversas empresas e organizações devido ao seu reconhecimento internacional na credibilidade de produtos ou serviços. As corporações que possuem certificações (ISO) e normas de qualidade têm um grande diferencial competitivo, além de possuírem imagem positiva perante os seus clientes e fornecedores. Saiba mais Para conhecer mais sobre as certificações de avaliação da conformidade, acesse: INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA, QUALIDADE E TECNOLOGIA (INMETRO). Avaliação da conformidade. Brasília: Inmetro, [s.d.]. Disponível em: https://bit.ly/3n3nYuS. Acesso em: 5 out. 2021. 1.5 Atributos da qualidade De acordo com Seleme e Stadler (2010), o desejo de qualquer organização é a sobrevivência e, para tanto, é preciso atuar de forma a atender aos requisitos dos consumidores no que tange à qualidade dos seus produtos e serviços. Dellaretti Filho e Drumond (1994 apud SELEME; STADLER, 2010) destacam cinco atributos da qualidade, conforme a figura a seguir: Qualidade intrínseca Entrega Custo Segurança Moral Satisfazer as pessoas Sobrevivência da organização Figura 9 – Os cinco atributos da qualidade Adaptada de: Seleme e Stadler (2010). 30 Unidade I Vamos analisar cada um deles. 1.5.1 Moral Seleme e Stadler (2010) destacam que ao se tratar da moral, que denota o estado de espírito do trabalhador, consideramos que o colaborador deve estar inserido em um clima de motivação e boa vontade. A moral é o atributo mais importante de uma organização, já que se configura como o alicerce para que os outros quatro possam existir. Observe que, na figura anterior, esse atributo é a base de sustentação dos pilares, ele precisa ser considerado antes dos outros, de modo a preparar o trabalhador para o desenvolvimento de suas tarefas dentro dos critérios de qualidade intrínseca, entrega, custo e segurança. De acordo com Sanches (2019), a moral está associada às necessidades de os funcionários da organização serem motivados e estarem clientes da sua importância no conjunto de papéis desempenhados dentro da empresa. 1.5.2 Qualidade intrínseca Esse atributo refere-se à qualidade dos produtos e/ou serviços da organização. O cliente deseja receber um produto e/ou serviço de acordo com as especificações, ou seja, nos parâmetros prometidos. A qualidade intrínseca diz respeito às características inerentes aos produtos e/ou serviços prometidos para os clientes que os adquirem. Por exemplo, observe uma bula de medicamentos ou manual que acompanha determinado produto que você adquiriu nos últimos tempos. É preciso verificar, no caso dos medicamentos, que há a identificação do medicamento, sua composição e suas características, a apresentação do produto, a forma de uso, as informações ao paciente (descrevendo para que ele serve), como o medicamento funciona, quando não deve ser utilizado etc. Figura 10 – Medicamento Disponível em: https://bit.ly/308KECt. Acesso em: 22 out. 2021. 31 FERRAMENTAS DA QUALIDADE Se o paciente adquiriu um medicamento indicado para tratamento de hipertensão arterial (pressão alta), por exemplo, ele espera que, ao tomar a dosagem indicada, o remédio fará o efeito esperado. Portanto, como destaca Sanches (2019), a qualidade intrínseca é a capacidade que o produto e/ou serviço possui de cumprir o objetivo ao qual está destinado. 1.5.3 Entrega Entrega é um dos grandes desafios da empresa e um fator de não satisfação, pois todo cliente espera que o seu produto seja entregue no local, na hora e com a qualidade certos. Figura 11 – Entrega Disponível em: https://bit.ly/3B9HuM8. Acesso em: 4 out. 2021. De acordocom Seleme e Stadler (2010), a não observância e o não cumprimento desse atributo, em todos os seus estágios, têm vitimado dezenas de organizações em todo o mundo. Logo, a empresa precisa se preocupar com o processo logístico, possibilitando atender aos seus clientes, observando os três parâmetros principais – local, prazo e quantidade, conforme estipulados em contrato. 1.5.4 Custo Segundo Sanches (2019), custo possui dois focos principais: o custo para a organização e o preço para o cliente final, ou seja, atentar para o valor que o produto possui, de forma que ser ou não barato não deve ser o principal a se discutir, mas se o preço cobrado é justo em comparação com o valor daquele bem. Conforme destacam Seleme e Stadler (2010), os custos podem possibilitar a sobrevivência da empresa no mercado, garantir o retorno aos investidores e fazer com que os produtos e/ou serviços sejam percebidos pelos clientes como algo com custo justo. 32 Unidade I Por outro lado, Paladini e Carvalho (2012) colocam que a relação entre qualidade e custo é muito importante nos dias de hoje, particularmente, na busca de maior competitividade nas organizações. Te m po Custo Qualidade Figura 12 – Triângulo Adaptada de: https://bit.ly/3a3i86r. Acesso em: 4 out. 2021. Os autores apresentam algumas afirmações, baseadas em diversas pesquisas conduzidas nos Estados Unidos e na Alemanha, que destacam essa inter-relação, as quais destacamos a seguir: • Os custos de não conformidade podem chegar a 20% das vendas, enquanto aqueles de conformidade são da ordem de 2,5% das vendas em empresas relativamente bem gerenciadas. • Cada erro acima da média de aceitação no mercado pode resultar em uma redução no volume de vendas de pelo menos 3%. • É muito mais fácil fazer com que os clientes existentes comprem mais 10% do que aumentar a base de clientes em 10%. • Atrair um novo cliente custa, em média, seis vezes mais do que manter um já existente. Como vimos, os custos de não qualidade são elevados, portanto, as empresas precisam adotar estratégias para chegar no ponto de equilíbrio entre essas variáveis, ou seja, qualidade, custos e tempo de entrega, eliminando as lacunas identificadas nesses processos. 1.5.5 Segurança Seleme e Stadler (2010) afirmam que o atributo segurança deve ser entendido tanto como segurança interna, no processo produtivo, quanto como segurança externa, traduzida como a garantia de segurança aos usuários dos produtos e serviços. A primeira diz respeito ao modo como os bens e serviços são produzidos internamente na organização. A segunda refere-se aos potenciais perigos do uso dos itens. Destacamos, ainda, as questões ambientais, que vêm sendo um forte apelo dos consumidores, independentemente da legislação. 33 FERRAMENTAS DA QUALIDADE Sanches (2019) acredita que a segurança esteja associada à segurança física também no que tange aos impactos causados ao meio ambiente. Para ele, a ética é outro aspecto muito importante, por meio da existência de códigos e regras de conduta, além de valores que devem permear todas as pessoas e processos nas empresas que visam à sobrevivência nos mercados. Podemos utilizar como exemplo as recomendações nas embalagens para brinquedos, medicamentos e equipamentos em geral, nas quais precisam constar informações referentes à forma de utilização, idade adequada, riscos etc. Figura 13 – Cartilha Brinquedos Fonte: Inmetro (2020a, capa). Acesso em: 4 out. 2021. Saiba mais Para conhecer mais sobre segurança de produtos, acesse. INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA, QUALIDADE E TECNOLOGIA (INMETRO). Cartilhas. Brasília: Inmetro, 2021. Disponível em: https://bit.ly/2Z38Fu0. Acesso em: 5 out. 2021. Vamos destacar ainda a relação entre os modos de produção fordismo e japonês, assim teremos a oportunidade de refletir sobre a importância da qualidade para as organizações e o uso das ferramentas que possibilitam adquirir conhecimento e competitividade no mundo dos negócios. 34 Unidade I O fordismo foi um sistema de produção criado pelo empresário norte-americano Henry Ford (1863-1947), cuja principal característica é a fabricação em massa. Ele desenvolveu esse sistema em 1914 para sua indústria de automóvel, projetando-o com base em uma linha de montagem. Ford tinha como principal preocupação a produção da sua indústria, ele visava o lucro nas produções em massa, característica observada na produção única de carros na cor preta, pois eles secavam mais rápido e possibilitavam a montagem de mais automóveis em menos tempo. Não há dúvidas de que seu modelo mecânico inovou o segmento industrial, mas não havia preocupação com a qualificação e a supervisão em toda a sua linha de manufatura. Figura 14 – Carro modelo Ford Disponível em: https://bit.ly/3Ad7Rj1. Acesso em: 4 out. 2021. Saiba mais Para se aprofundar no assunto, assista ao vídeo a seguir: MODELO Toyota de Produção – Just In Time & Kanban. 2012. 1 vídeo. (17:39 min). Publicado por Everton Farias. Disponível em: https://bit.ly/3H3TQZp. Acesso em: 22 out. 2021 Por outro lado, o modo de produção japonês buscava e desenvolvia técnicas de gestão da qualidade, realizava o planejamento e a Garantia da Qualidade, e utilizava equipamentos específicos e necessários para cada tipo de serviço. Os funcionários da Toyota eram treinados e estudavam os modelos norte-americanos, procedimentos que fazem parte das ferramentas e técnicas de gestão da qualidade nas empresas. Além disso, não havia pressa na produção. Antes, verificava-se todo o material recebido, em todos os níveis, desde a primeira peça até o processo de montagem. Havia fiscalização por meio de auditores 35 FERRAMENTAS DA QUALIDADE para certificar que a fabricação estava funcionando satisfatoriamente. Também havia inspeção dos equipamentos utilizados em cada etapa, bem como a avaliação dos fornecedores. O modelo japonês da Toyota, com seu novo sistema de gestão flexível e inteligente, procurava investir na fiscalização de possíveis falhas internas e externas. As falhas internas são os desperdícios originados com os trabalhos desnecessários, os problemas na comunicação e nos materiais, além das possíveis despesas com produtos inservíveis. Já as falhas externas estão relacionadas a produtos que não agradaram o cliente e a retroagem; que apresentam defeitos e têm o custo da garantia, custos com reclamações, alterações contratuais e impactos na reputação da empresa. Exemplo de aplicação Faça uma análise sobre a influência da globalização na qualidade dos produtos e serviços ofertados para os consumidores brasileiros. Considere os cinco atributos da qualidade destacados anteriormente. 2 TIPOS DE FERRAMENTAS DA QUALIDADE Como já dito, a necessidade de aprimorar e adquirir novas práticas de ações nas organizações para vislumbrar a manutenção e o crescimento da sua produção e da fidelização dos clientes tem como objetivo auxiliar nos processos e conceitos da qualidade, que possibilitarão todo o andamento dos métodos desejados. A motivação necessária para a melhoria da qualidade é decorrente da necessidade de prover valores e satisfação aos clientes. Qualquer organização deve ser consciente de que as práticas podem ser executadas com mais eficiência e eficácia, com isso, todos se beneficiam, desde os clientes, a organização, os seus membros e a sociedade. A melhoria contínua da qualidade aumenta a capacidade de os membros da organização contribuir, crescer e superar-se. Essa busca incessante pela primazia da qualidade nem sempre é simples, devido à variedade e complexidade dos elementos que estão presentes e devem ser considerados. É preciso ter um compromisso intenso de aprimoramento constante da competência profissional. Torna-se necessário, portanto, sustentar esse esforço com técnicas que possam facilitar a análise e o processo de tomada de decisão. Nesse ambiente se enquadram as ferramentas da qualidade, como meio de facilitar o trabalho daqueles que são responsáveis pela condução de umprocesso de planejamento ou de análise e solução de problemas, visando à qualidade. 36 Unidade I Figura 15 – Caixa de ferramentas Disponível em: https://bit.ly/2WIe88t. Acesso em: 4 out. 2021. Um dos precursores das ferramentas da qualidade foi Walter Andrew Shewhart (1891-1967), idealizador da técnica conhecida como PDCA (Plan, Do, Check, Act) ou traduzindo para o português: PFVA (Planejar, Fazer, Verificar, Agir). Figura 16 – PDCA Disponível em: https://bit.ly/3DcNO5V. Acesso em: 4 out. 2021. Na análise das ferramentas da qualidade é importante perceber que, embora algumas possam ser consideradas de simples ação, todas elas têm os seguintes objetivos: • Tornar fácil a visualização e o entendimento dos problemas. • Sintetizar o conhecimento e as conclusões. • Possibilitar o desenvolvimento da criatividade. • Tornar possível o conhecimento do processo. • Fornecer elementos para o monitoramento dos processos. 37 FERRAMENTAS DA QUALIDADE • Permitir a melhoria dos processos. • Facilitar o planejamento e a tomada de ações preventivas. O conhecimento e o uso das técnicas e das ferramentas da qualidade são importantes e essenciais para a implantação do sistema de gestão da qualidade, tais ferramentas são necessárias para analisar fatos e auxiliar na tomada de decisão. A fundamentação e o objetivo de utilizá-las é chegar a um grau de eficiência/eficácia em determinada atividade ou processo, permitindo à organização o sucesso na sua vida futura. Existem várias ferramentas e técnicas que podem ser utilizadas para auxiliar a organização durante o processo. São elas: Diagrama de dispersãoMatriz GUT Diagrama de causa e efeito5W2H Carta de controleCiclo PDCA Brainstorming EstratificaçãoHistograma FluxogramaGráfico de Pareto Folha de verificação Ferramentas Figura 17 – Ferramentas da qualidade 2.1 Gerenciais De acordo com Seleme e Stadler (2010), a importância das ferramentas para qualidade está na sua efetiva utilização no desenvolvimento das metodologias utilizadas para a identificação e a eliminação das falhas de processo. Abordaremos algumas delas, tais como: 5S, 5W2H, fluxograma, entre outras. Há ferramentas de geração de ideias, como brainstorming, brainwriting e benchmarking. E outras para análise e tomada de decisão, que englobam a matriz de decisão ou matriz GUT e matriz Swot. 38 Unidade I Essas ferramentas, segundo Carpinetti (2016), podem ser classificadas de acordo com suas finalidades, conforme quadro a seguir: Quadro 5 – Principais finalidades das ferramentas da qualidade Finalidade Ferramenta Identificação e priorização de problemas Amostragem e estratificação Folha de verificação Histograma, medidas de locação e variância Diagrama de Pareto Gráfico de tendência, gráfico de controle Mapeamento de processo Matriz de priorização Estratificação Diagrama espinha de peixe Diagrama de afinidades Diagrama de relações Relatório das três gerações (passado, presente, futuro) Elaboração e implementação de soluções Diagrama árvore Diagrama de processo decisório 5W2H 5S Verificação de resultados Amostragem e estratificação Folha de verificação Histograma, medidas de locação e variância Diagrama de Pareto Gráfico de tendência, gráfico de controle Fonte: Carpinetti (2016, p. 75). Você irá conhecer essas ferramentas e sua utilização adiante. 2.2 Controle As ferramentas da qualidade também são utilizadas para análise e controle. Elas são muito empregadas pelas organizações, pois possibilitam identificar falhas nos processos e consequentemente adotar ações de melhoria. Assim, segundo Sanches (2019), as diversas ferramentas de gestão da qualidade são desenvolvidas diariamente, de acordo com as necessidades específicas de cada empresa. No entanto, algumas delas se tornaram tão famosas, e replicadas em diversos cantos do mundo, que acabaram virando modelos de referência para o surgimento de novas técnicas. Mais adiante, vamos apresentar algumas dessas ferramentas, destacando os seus objetivos e como devem ser utilizadas para gerar o máximo de resultado para a organização. 39 FERRAMENTAS DA QUALIDADE Resumo Nesta unidade procuramos descrever os conceitos de gestão da qualidade e a relação deles com as organizações. Apresentamos um breve histórico dela, abordamos a atualidade com as inovações desenvolvidas no tema e a importância da disciplina no momento econômico vivido pela globalização e pela abertura de novos mercados econômicos, principalmente nos países emergentes. Destacamos um panorama sobre o desenvolvimento da qualidade como sistema administrativo, desde o início da administração científica, passando pela Segunda Guerra Mundial e pelos Círculos de Controle de Qualidade (CCQ). Vimos que, para garantir a sobrevivência das organizações, é preciso satisfazer os clientes, logo, o atendimento das necessidades e dos desejos deles deve ser garantido, observando os cinco atributos da qualidade em seus processos, produtos e serviços. Salientamos, ainda, a questão da ética, na manutenção dos valores que envolvem todos os colaboradores da organização. Observamos também a relação entre os modos de produção fordista e japonês. Por fim, exibimos os tipos de ferramentas da qualidade, com ênfase nas ferramentas de gerenciamento e controle, as quais são utilizadas pelas organizações para a obtenção de resultados e elaboração de planos de ação para alinhamento das estratégias organizacionais. 40 Unidade I Exercícios Questão 1. Leia o texto a seguir. Controle de qualidade: o que é e como funciona? Figura 18 O controle de qualidade é um sistema adotado para medir a qualidade de serviços e de produtos de acordo com as especificações técnicas. Essas medidas eram controladas a partir da ausência de defeitos e qualidade em seu produto final. O sistema considera, acima de tudo, o cliente e o consumidor final do produto, preocupando-se com a relação compra e venda, e inclui o grau de satisfação dos funcionários, dos fornecedores e do consumidor. Em 1956, Armand Feigenbaum propôs o uso do termo “controle da qualidade total”, cujo envolvimento em conjunto das pessoas com o trabalho influenciava, segundo ele, muito no produto final. Esse conceito alocado por Feigenbaum faz referência aos itens a seguir. • Orientação ao cliente. • Qualidade no serviço, atendimento e produto. 41 FERRAMENTAS DA QUALIDADE • Controle de processos. • Investigação das causas. • Identificação das necessidades do cliente. • Prevenção de erros já cometidos anteriormente. Adaptado de: https://bit.ly/3a87r2F. Acesso em: 4 out. 2021. Com base na leitura, avalie as afirmativas. I – O controle de qualidade é um sistema desvinculado do cliente e do consumidor final. porque II – No controle de qualidade, temos um sistema que considera aspectos técnicos, destinado a medir a qualidade de serviços e de produtos segundo especificações. De acordo com Feigenbaum, o controle da qualidade total visa, entre outros, a controlar processos e a evitar a ocorrência de erros. Assinale a alternativa correta. A) As asserções I e II são verdadeiras, e a asserção II justifica a asserção I. B) As asserções I e II são verdadeiras, e a asserção II não justifica a asserção I. C) As asserções I e II são falsas. D) A asserção I é verdadeira, e a asserção II é falsa. E) A asserção I é falsa, e a asserção II é verdadeira. Resposta correta: alternativa E. Análise das asserções I – Asserção falsa. Justificativa: segundo o texto, o sistema relativo ao controle de qualidade “considera, acima de tudo o cliente e o consumidor final do produto, preocupando-se com a relação compra e venda, e inclui o grau de satisfação dos funcionários, dos fornecedores e do consumidor”. 42 Unidade I II – Asserção verdadeira. Justificativa: segundo o texto, “o controle de qualidade é um sistema adotado para medir a qualidade de serviços e de produtos de acordo com as especificações técnicas”. Além disso, Feigenbaum alocou o conceito de controle
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