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A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS E AS CONQUISTAS DA CF

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A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS E AS CONQUISTAS DA CF /88
Hoje, 5 de outubro de 1988, no que tange à Constituição, a Nação mudou. A Constituição mudou na sua elaboração, mudou na definição dos poderes, mudou restaurando a Federação, mudou quando quer mudar o homem em cidadão, e só é cidadão quem ganha justo e suficiente salário, lê e escreve, mora, tem hospital e remédio, lazer quando descansa. 
A Constituição promulgada em 05/10/1988 é conhecida como a “Constituição Cidadã”. Surgiu como uma resposta às reivindicações da sociedade por mudanças estruturais após 20 anos de governos militares.
Historicamente o Brasil teve 8 Constituições – 4 Outorgadas (1824/1937/1967/1969), e 4 decorrentes de processo democrático, sendo votadas (1891/1934/1946/1988).
Ulysses Guimaraes refere-se a transição de um governo ditatorial para uma democracia. Mudou a forma, mudou o foco para assegurar diversas garantias constitucionais, com o objetivo de dar maior efetividade aos direitos fundamentais e aos anseios da sociedade.
I - A Constituição Política do Império do Brasil, 1824:
Tipo semirrígido, semiflexível
O governo era uma monarquia unitária e hereditária;
A existência de 4 poderes: o Legislativo, o Executivo, o Judiciário e o Poder Moderador, este acima dos demais poderes, exercido pelo Imperador;
O Estado adotava o catolicismo apostólico romano como religião oficial. As outras religiões eram permitidas com seus cultos domésticos, sendo proibida a construção de templos com aspecto exterior diferenciado;
Define quem é considerado cidadão brasileiro;
As eleições eram censitárias e indiretas;
Submissão da Igreja ao Estado, inclusive com o direito do Imperador de conceder cargos eclesiásticos na Igreja Católica (padroado);
Foi uma das primeiras do mundo a incluir em seu texto (artigo 179) um rol de direitos e garantias individuais;
O Imperador era inimputável (não respondia judicialmente por seus atos).
Por meio do Poder Moderador o imperador nomeava os membros vitalícios do Conselho de Estado, os presidentes de província, as autoridades eclesiásticas da Igreja Católica Apostólica Romana e os membros do Senado vitalício. Também nomeava e suspendia os magistrados do Poder Judiciário, assim como nomeava e destituía os ministros do Poder Executivo.
A constituição de 1824 é, até os dias atuais, a constituição brasileira que teve a vigência mais longa, de 65 anos, tendo seu artigo 3º, o qual estabelecia a forma monárquica hereditária de governo, violado pelo Marechal Deodoro da Fonseca com a proclamação da república no Brasil, em 15 de novembro de 1889.
Muito embora o planejado para época era uma Assembleia Constituinte para elaborar a referida Constituição, ela foi dissolvida pelo Imperador Dom Pedro I. A elaboração da constituição do Brasil de 1824 foi um processo desgastante, amplo e muito conturbado, decorrente de um conflito entre radicais e conservadores na Assembleia Constituinte.
Os deputados que se encontravam na Constituinte eram em sua grande maioria liberais moderados, reunindo "o que havia de melhor e de mais representativo no Brasil”. Foram eleitos de maneira indireta e por voto censitário e não pertenciam a partidos, que ainda não existiam no país. 
Uma parte dos constituintes tinha orientação liberal-democrata: queriam uma monarquia que delimitasse os poderes do imperador ao uma figura decorativa. 
D. Pedro I, por outro lado, queria manter o controle político e executivo através do veto, iniciando uma desavença entre os constituintes com diferente ponto de vista. D. Pedro I ordenou ao exército a invasão do congresso em 12 de novembro de 1823, prendendo e exilando diversos deputados, esse ato ficou conhecido como "noite da agonia".
O esboço da Constituição de 1823 foi escrito por Antônio Carlos de Andrada, que sofreu forte influência das Cartas francesa e norueguesa. Em seguida foi remetido à Constituinte, onde os deputados iniciaram os trabalhos para a realização da carta. Existiam diversas diferenças entre o projeto de 1823 e a posterior Constituição de 1824.
A Constituição de 1824 delegava ao imperador o exercido precípuo do controle todos os demais poderes - chamado “Poder Moderador”, reconhecido com “um quarto poder” influente e muito ativo no controle dos demais. Centralizava decisões nas mãos do Imperador. As prerrogativas decorrentes deste poder eram convocar a Assembleia Geral (Parlamento) extraordinariamente nos intervalos das sessões; sancionar os decretos e resoluções da Assembleia Geral, para que tenham força de lei; prorrogar ou adiar a Assembleia Geral e dissolver a Câmara de Deputados, convocando outra imediatamente para substituir a anterior; nomear e demitir livremente os ministros de Estado; perdoar e moderar penas impostas aos réus condenados por sentença e conceder anistia.
II Constituição de 1891:
Sua elaboração começou em novembro de 1890, com a instalação da Constituinte na cidade do RJ. Ela foi promulgada em 24/02/1891. A primeira constituição republicana teve como função principal estabelecer no país os princípios do regime republicano, SEGUINDO O SISTEMA DE GOVERNO PRESIDENCIALISTA.
A Constituição de 1891 determinava:
A criação de três poderes Executivo, Legislativo e Judiciário ficando extinto o Poder Moderador;
A separação entre o Estado e a Igreja Católica. O Estado seria o responsável pela emissão de certidões e certificados e o clero católico deixaria de receber subvenção do Estado;
A liberdade de culto para todas as religiões;
A garantia do ensino primário obrigatório, laico e gratuito;
A proibição do uso de brasões ou títulos nobiliárquicos;
A instituição do voto universal para cidadãos alfabetizados;
A criação do Poder Legislativo bicameral. Os deputados tinha um mandado de três anos e os senadores nove anos. Isto pôs fim ao Senado vitalício;
O surgimento do Poder Legislativo provincial. Assim, as províncias poderiam criar suas próprias leis e impostos, tendo mais autonomia em relação ao poder central.
 
Apesar do avanço inegável em relação ao texto de 1824 a conjuntura política da “República Velha” entrou em colapso após a revolução de 1930, resultando na Constituição de 1934.
Em 1934 foi promulgada Nova Constituição , em 06/07/1934 pela Assembleia Nacional Constituinte, redigida "para organizar um regime democrático, que assegure à Nação, a unidade, a liberdade, a justiça e o bem-estar social e econômico", segundo o próprio preâmbulo
III Constituição de 1934:
O Brasil passou, durante quatro anos, por um governo provisório quando terminou a Revolução de 30. 
A constituição de 1891 e a República Velha foram extintas, e tenentes buscavam construir uma nova república. 
Júlio Prestes, presidente eleito em 1930, foi impedido de tomar posse, tornando em 3/11/1930 Getúlio Vargas o Presidente do Brasil.
Houve uma Revolução Constitucionalista em 1932.
O estado exigiu, diante da preocupação com a questão do regime político, as eleições para a Assembleia Constituinte. Em maio de 1933 Getúlio Vargas elegeu a assembleia, e foi ela que aprovou a nova constituição, que vinha para substituir a estipulada no ano de 1891.
A assembleia Nacional Constituinte redigiu e promulgou a segunda constituição republicana no Brasil em 1934, reformando a República Velha com mudanças progressistas. Apesar de ser inovadora, a constituição em 1934 foi a que menos durou no Brasil, apenas três anos. Promulgada em 16 de julho de 1934, a Constituição foi redigida “para organizar um regime democrático que assegure à Nação a unidade, a liberdade, a justiça e o bem-estar social e econômico”. A constituição, no entanto, não foi cumprida à risca, mas mesmo assim teve grande importância, uma vez que institucionalizou a reforma da organização político-social brasileira incluindo os militares, a classe média urbana e industrial no jogo de poder.
Características da Constituição de 1934:
Instituiu o MANDADO DE SEGURANÇA
Possibilidade de nacionalização das empresas estrangeiras, e o estabelecimento do monopólioestatal sobre determinadas indústrias;
Previu a criação da Justiça do Trabalho e da Justiça Eleitoral;
Instituição do voto secreto e obrigatório para maiores de 18 anos, além de estipular o voto feminino;
Proibição da distinção salarial devido ao sexo, idade, nacionalidade ou estado civil;
O primeiro presidente da República, de acordo com a determinação de disposições transitórias, seria eleito pelo voto indireto da Assembleia Constituinte;
Direito de educação para todos;
Obrigatoriedade e gratuidade do ensino primário – mesmo que para adultos;
O ensino religioso facultativo, sendo respeitada a confissão do aluno;
Liberdade de ensino e garantia da cátedra.
A Constituição de 1934 acabou sendo substituída de forma autoritária, dando lugar ao estado Novo
IV – O Estado Novo e a Carta de 1937 (Constituição Polaca):
A Constituição de 34 era liberal e descentralizadora, e parecia que a democracia havia voltado ao Brasil. Ao tomar posse como presidente, Vargas jurou sobre este texto constitucional, mas no dia seguinte, pronunciaria sua famosa frase “Eu serei o revisor desta Constituição”.
A Constituição de 1937 foi a 4ª Constituição brasileira e a 3ª do período republicano. Ficou conhecida como a Constituição “Polaca” por ter leis de inspiração fascista, tal qual a Carta Magna polonesa de 1935. O texto foi elaborado pelo jurista Francisco Campos e outorgada em 10/11/1937.
Na década de 30, a democracia liberal estava cada vez mais desacreditada e o mundo se voltava para ideologias totalitárias como o nazismo alemão ou o fascismo italiano. Igualmente, o socialismo pregado por Stalin se revelava cada vez mais autoritário e centralista. No Brasil, essas correntes políticas eram representadas pelo Partido Comunista Brasileiro, alinhado com a União Soviética e a Ação Integralista Brasileira, de inspiração fascista. 
O presidente Getúlio Vargas também já havia dado mostras que preferia um regime político mais centralizado.
Demorou a convocar eleições para a Constituinte de 1934, e desagradava a vários adversários por concentrar o poder cada vez mais em suas mãos. No ano seguinte, Getúlio Vargas sofre uma tentativa de golpe armado pelos comunistas liderados por Luís Carlos Prestes. O episódio, conhecido por Intentona Comunista.
Em 1937, foi descoberta outra tentativa de golpe que seria supostamente tramada pelos comunistas, o Plano Cohen. Diante desta ameaça, Getúlio Vargas declara a criação do Estado Novo. De uma só vez, dissolve a Câmara dos Deputados e o Senado e outorga uma nova Constituição ao país. Esta deveria passar por um referendo, mas tal nunca aconteceu.
Características da Constituição de 1937
Cunho fortemente estatizante
Caberia ao presidente nomear os interventores (governadores estaduais) e estes deveriam nomear as autoridades municipais,
a Justiça Eleitoral e os partidos políticos foram extintos,
suspenso o direito de Mandado de Segurança ou Ação Popular,
instituição da censura prévia aos meios de comunicação,
os meios de comunicação estavam obrigados a publicar e/ou transmitir os comunicados do governo,
proibição do direito de greve,
previsão de pena de morte para crimes políticos.
o poder Legislativo, em todos os níveis, foi extinto. Assim não existiam mais as Câmaras de Vereadores ou de Deputados Estaduais.
A Carta de 1937 não entrou sequer em vigor porque previa no seu art 187 a necessidade de aprovação em Plebiscito – que nunca veio a ocorrer.
V – A Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 1946:
Durante a vigência da Constituição de 1946, ocorreu o Golpe militar de 1964, quando governava o presidente João Goulart. A partir de então, a carta-magna passou a receber uma série de emendas, que a descaracterizaram. Foi suspensa por seis meses pelo Ato Institucional Número Um e finalmente substituída pela Constituição de 1967, proposta oficialmente pelo Ato Institucional Número Quatro.
A mesa da Assembleia Constituinte, elaborada por Eurico Gaspar Dutra, então presidente (1946-1951), promulgou Constituição dos Estados Unidos do Brasil e o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias no dia 18 de setembro de 1946, consagrando as liberdades expressas na Constituição de 1934, que haviam sido retiradas em 1937. 
Características da Constituição de 1946
- A igualdade de todos perante a lei;
- A liberdade de manifestação de pensamento, sem censura, a não ser em espetáculos e diversões públicas; 
- A inviolabilidade do sigilo de correspondência; 
- A liberdade de consciência, de crença e de exercício de cultos religiosos; 
- A liberdade de associação para fins lícitos; 
- A inviolabilidade da casa como asilo do indivíduo; 
- A prisão só em flagrante delito ou por ordem escrita de autoridade competente e a garantia 
ampla de defesa do acusado; 
- Extinção da pena de morte; 
- Separação dos três poderes. 
A Constituição Brasileira de 1946, bastante avançada para a época, foi notadamente um avanço da democracia e das liberdades individuais do cidadão. A Carta seguinte significou um retrocesso nos direitos civis e políticos. Foi a primeira constituição a possuir uma bancada comunista no seu processo constituinte. Depois de seis meses da promulgação da constituição a bancada comunista cai. 
V – A Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 1967 e EC 1/1969: 
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1967, ou Constituição de 1967, foi a sexta constituição do Brasil e quinta de sua república, bem como sua segunda e última constituição republicana de caráter autoritário. Elaborada sob supervisão dos militares no poder, esta Carta legitimava o regime iniciado pelo Golpe de 1964, abandonando sua fachada democrática e formalizando a ditadura militar.
Os atos institucionais foram a ela incorporados na Emenda Constitucional no. 1, de 1969, praticamente uma atualização mais radical do já autoritário texto de 1967.
O Brasil experiementou entre 1964 a 1988 um processo complexo de ruptura, ascensão, auge e distensão de uma DITADURA seguida de uma RECONSTITUCIONALIZAÇÃO democrática e pacífica.
Talvez a mais repressiva de todas as constituições, ela desfazia boa parte dos preceitos democráticos da Constituição de 1946, servindo, na prática, de mero pretexto para a ação do governo militar sobre a vida pública. 
Por si só muito autocrática, concentrando poderes no Executivo e autorizando a extinção de partidos políticos, ela foi suplementada por diversas emendas, decretos-lei e, mais famosamente, atos institucionais, que foram incorporados ao seu texto na Emenda Constitucional de 1969.
Sua vigência seguiu até a promulgação da Constituição de 1988, símbolo da Nova República (1985 - atual) e da redemocratização do país.
Atos institucionais e Emenda de 1969
Decretados logo após o golpe, os atos institucionais eram instrumentos legais hierarquicamente superiores à Constituição (até então, a de 1946). Se o Ato Institucional no. 1 (1964) permitia que o governo alterasse a Constituição e o Ato no. 3 revertia a derrota do regime no breve período eleitoral que ele permitiu (as eleições estaduais de 1965), o Ato no. 5 (AI-5, de 1968) foi o mais infame, permitindo ao presidente, sem qualquer impedimento do Judiciário, extinguir o Congresso Nacional, cassar mandatos, intervir nos Estados, surtar habeas corpus e suspender os direitos políticos de qualquer cidadão por até dez anos. De modo a restaurar a Constituição como lei máxima, os atos institucionais foram a ela incorporados na Emenda Constitucional no. 1, de 1969, praticamente uma atualização mais radical do já autoritário texto de 1967.
Considerando esta Emenda, a Constituição de 1967 instituía, além do já mencionado no AI-5, o fim das eleições diretas para o Executivo federal (na prática, o AI-3 anulou qualquer possibilidade de pleitos justos), a capacidade do Executivo de legislar por decretos, a extinção dos partidos políticos existentes (AI-2), o fim da liberdade de expressão e do direito à greve. Embora previsse os direitos básicos de liberdade, segurança individual e propriedade,além do direito de reunião e associação para fins lícitos, nenhuma dessas prerrogativas era assegurada, visto que decretos e emendas podiam ser (e foram) usados para anulá-los. Uma das áreas pouco (ou menos) afetadas pela arbitrariedade estatal foram os direitos trabalhistas, que mantiveram muito do previsto nas constituições anteriores: salário mínimo, jornada diária de oito horas, proibição da diferença salarial em mesmo ofício e do trabalho infantil (doze anos), etc.
VI – Breves notas sobre a CF da República Federativa do Brasil de 1988: 
As origens do movimento que culminou na edição doa EC 26/1985 e a correlata convocação da Assembleia Nacional Constituinte de 1987/1988, remontam a transição do regime ditatorial de 1964 em direção a abertura política iniciada por Ernesto Geisel e consolidada por Figueiredo.
A Constituição Federal Brasil de 1988, também conhecida como a Constituição Cidadã. Elaborada por 558 constituintes durante 20 meses, ela foi promulgada no dia 5/10/1988. Possui 245 artigos, dividida em nove títulos. Esta Constituição é considerada a mais completa, principalmente, no sentido de garantir os direitos à cidadania para o povo brasileiro.
 
Títulos da Constituição de 1988
 
- Título I - Princípios Fundamentais
- Título II - Direitos e Garantias Fundamentais
- Título III - Organização do Estado
- Título IV - Organização dos Poderes
- Título V - Defesa do Estado e das Instituições
- Título VI - Tributação e Orçamento
- Título VII - Ordem Econômica e Financeira
- Título VIII - Ordem Social
- Título IX - Disposições Gerais
 
Principais características:
 
- Restabeleceu eleições diretas para os cargos de presidente da República, governadores de estados e prefeitos municipais;
 
- Definiu o mandato presidencial de 5 anos sem reeleição (uma emenda constitucional de 1997 passou para quatro anos com reeleição);
 
- Estabeleceu o direito de voto para os analfabetos;
 
- Definiu o voto facultativo para os jovens de 16 a 18 anos de idade;
 
- Sistema pluripartidário;
 
- Colocou fim a censura aos meios de comunicação, obras de arte, músicas, filmes, teatro, etc.
 
Emenda da reeleição
 
- Em 1997, foi elaborada uma emenda constitucional que abriu a possibilidade de reeleição para os principais cargos do poder executivo (presidente da República, governadores de estados e prefeitos municipais).
 
1. Escrita. Ao contrário das costumeiras, a Constituição brasileira é escrita. Apresenta-se em forma de livro e divide-se em três partes: o Preâmbulo; o Corpo, com 250 artigos; e as Disposições Transitórias, com 94 artigos (por enquanto). Ela é a soma de preâmbulo, corpo e disposições transitórias. Portanto, o corpo é uma parte que se distingue do preâmbulo e das disposições transitórias.
2. Unitextual. Está sistematizada em um texto único, específico. Nela pretendeu-se inserir todo o conteúdo necessário à edificação de um texto constitucional apto a regrar a vida do Estado e da sociedade. Não se pode ignorar, entretanto, que existem normas materialmente constitucionais localizadas em outros textos normativos, como, por exemplo, o Código Eleitoral.
3. Democrática. Elaborada por uma Assembléia Nacional Constituinte cujos representantes foram escolhidos pelo voto popular (com exceção dos chamados senadores biônicos), a Constituição de 1988 é profundamente comprometida com a democracia. Além do mais, ela é o resultado de longos debates dos quais participaram os mais variados segmentos da sociedade brasileira. Esse conteúdo democrático permeia toda a Constituição.
4. Rígida. Prevê um procedimento especial para alterá-la. A rigidez está relacionada, de modo direto, à exigência de três quintos de votos favoráveis. Tal votação deve ocorrer duas vezes em cada uma das Casas Legislativas do Congreso Nacional. Além disso, limita o direito de apresentar Projeto de Emenda Constitucional a (I) um terço dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, (II) ao Presidente da República ou (III) a mais da metade das Assembléias Legislativas das Unidades da Federação.
5. Ideológica. Adveio de uma espécie de torvelinho ideológico: consagra a idéia liberal (ordem econômica) e, ao mesmo tempo, o princípio da igualdade (ordem social). Em idêntico sentido, no campo dos direitos fundamentais consagra os direitos civis e políticos (liberalismo) e os direitos sociais, econômicos e culturais (socialismo). Nota-se, portanto, que tanto o ideário liberal quanto o socialista estão presentes no texto constitucional.
6. Humanista. Tem compromisso induvidoso com a pessoa humana. Nesse campo, trata-se de um dos documentos constitucionais mais avançados já produzidos no mundo. A pessoa humana, um dos fundamentos do Estado brasileiro (art. 1.º, III), é objeto de proteção em diversos dispositivos constitucionais. Pode-se identificar na Constituição o ideário kantiano: as coisas têm preço; o homem, dignidade.
7. Principiológica. Reúnem-se nela princípios relativos aos mais variados campos do conhecimento jurídico. Podem-se encontrar na Constituição os princípios gerais (relativos à República, à Federação, ao Estado Democrático de Direito, à chamada separação de poderes etc.), além de princípios setoriais relativos a diversos campos específicos do Direito.
8. Multidisciplinar. A Constituição de 1988 não se limitou a regrar o poder e a garantir direitos individuais e coletivos. Preocupou-se, também, com matérias relativas a vários campos do Direito: do consumidor, tributário, administrativo, processual, internacional, ambiental etc. Além disso, regrou conteúdos pertencentes a outras ciências, tais como Biologia, Medicina, Física, História, Economia, Filosofia, Ciência Política, Sociologia e Antropologia.
9. Analítica. A Constituição de 1988 é detalhista, minuciosa. O constituinte foi conscientemente pleonástico, repetitivo. Trata, por exemplo, de forma expressa ou implícita, do princípio da igualdade em dezenas de dispositivos.
10. Normativa. Embora muitas normas constitucionais ainda careçam de concretude, não se pode renegar a normatividade da Constituição brasileira. Suas normas (regras e princípios) estão vinculadas à realidade à qual são dirigidas. Todos os dispositivos constitucionais têm força normativa, inclusive os que são classificados como programáticos.
11. Formal. Estabelece procedimentos formais para sua alteração. Faz isso tanto no que se refere à revisão constitucional (ADCT, art. 3.º) e à elaboração de emendas constitucionais (art. 60) quanto à feitura das leis infraconstitucionais (art. 47). Nessas hipóteses, estão previstos procedimentos formais específicos que devem ser observados sob pena de serem praticadas inconstitucionalidades.
12. Federativa. Prevê a forma federativa de Estado. O Brasil é uma Federação composta por várias entidades dotadas de autonomia, quais sejam, União, Estados, Distrito Federal e Municípios (art. 18). Rejeitando o Estado Unitário, a Constituição não apenas consagrou a Federação, mas também a tornou cláusula pétrea, vedada a qualquer poder constituído a pretensão de aboli-la (art. 60, § 4.º, inciso I).
13. Republicana. Consagra a República como forma de governo. Isso implica que os governantes devem ser eleitos pelo voto popular e exercer o respectivo mandato por tempo determinado para possibilitar a alternância no poder. Rechaçada, portanto, a hereditariedade como critério de sucessão do principal mandatário.
14. Presidencialista. Adotou o presidencialismo como sistema de governo. Isso quer dizer que a chefia do Estado e a chefia do governo estão concentradas nas mãos de uma só pessoa. O Presidente da República, no plano interno, exerce o governo e, externamente, representa o Estado brasileiro.
15. Inovadora. Embora tenha repetido significativo número de conteúdos já previstos em Constituições anteriores, a Constituição de 1988 é, em relação a elas, bastante inovadora. Como exemplos, podem-se mencionar os objetivos fundamentais do Estado brasileiro (art. 3.º), a união estável (art. 226, § 3.º) e a família monoparental (art. 226,§ 4.º). Por outro lado, não deixa de ser inovadora também em relação a algumas matérias já conhecidas do Direito Internacional (proibição da tortura, prevalência dos direitos humanos) ou do Direito Constitucional de outros países (dignidade da pessoa humana, habeas data, mandado de injunção), eis que tais matérias foram tratadas pela primeira vez no Direito Constitucional brasileiro.
16. Igualitária. Poder-se-ia afirmar que estamos diante da Constituição da igualdade. Vedou tratamentos jurídicos desiguais, preconceituosos e discriminatórios Fez isso em diversas matérias, assegurando o princípio da igualdade material: igualdade entre homens e mulheres; igualdade de direitos entre trabalhadores urbanos e rurais; igualdade de salários, de exercício de funções e de critérios para admissão, independentemente da condição de sexo, idade, cor ou estado civil; igualdade entre o trabalhador portador e o não-portador de deficiência; igualdade de acesso aos serviços de saúde; igualdade de acesso à educação.
EM PARTICULAR MERECE DESTAQUE O TÍTULO DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS:
 
É o termo referente a um conjunto de dispositivos contidos na Constituição brasileira de 1988 destinados a estabelecer direitos, garantias e deveres aos cidadãos da República Federativa do Brasil. Estes dispositivos sistematizam as noções básicas e centrais que regulam a vida social, política e jurídica de todo o cidadão brasileiro. Os Direitos e Garantias Fundamentais encontram-se regulados entre os artigos 5º ao 17º, e segundo o doutrinador José Afonso da Silva, estão reunidas em três gerações ou dimensões:  
1. individuais, civis e políticos
2. sociais, econômicos e culturais
3. difusos e coletivos

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