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PROBLEMA CARCERÁRIO BRASILEIRO E A MOROSIDADE NOS JULGAMENTOS

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PROBLEMA CARCERÁRIO BRASILEIRO E A MOROSIDADE NOS JULGAMENTOS 
JACUBOVSKI, Gabriel Gonçalves[2: Acadêmico do Curso de Direito, 2º período do Centro Universitário Campo Real.]
RESUMO: Esse resumo visa discutir acerca dos problemas do sistema carcerário brasileiro, tanto como da demora dos julgamentos em primeira instância, que ocasionam um elevado número de presos provisórios. Tais embaraços levam o Brasil a ocupar um dos piores lugares no ranking que diz respeito ao assunto. O trabalho segue ordem metodológica bibliográfica, fazendo a analise em dados oficiais e tenta dar uma solução ao problema discutido.
Palavras-chave: Presídios. Presos. Prisão provisória. Superlotação. 
1 INTRODUÇÃO 
Não fora do comum, ora ou outra a sociedade tem cada vez mais noticiado a situação de calamidade pública vivenciada nos meios prisionais brasileiros. Celas com superlotação e outros problemas traduzem-se em confrontos violentos no embate diário pela busca de um meio mais adequado para retirar as liberdades e privilégios dos indivíduos delinquentes.
O objetivo desse trabalho foi trazer uma maior explanação da realidade carcerária brasileira, buscando informações bibliográficas e dados demográficos para que possamos buscar uma maior compreensão do papel do Estado perante o que hoje é mais do que um problema social, tornando-se também um problema de saúde e bem-estar público.
2 DESENVOLVIMENTO 
É certo que o Brasil é um dos países com maior população carcerária do mundo e, segundo mostra as estatísticas, este número vem aumentando cada vez mais. Muito se tem discutido a respeito de quais foram os motivos que expandiram esses números, sendo cogitado problemas sociais refletidos pela ineficácia da legislação e a morosidade na efetuação do julgamento, tendo sido a prisão preventiva usada como uma regra e não como uma exceção.
Dados levantados pelo Levantamento Nacional de Informações Penitenciarias (Infopen), elaborado pelo Departamento Penitenciário Nacional (Depen), mostram que o número de presos no Brasil, que no ano de 2000 era de 232.755, no ano de 2014 passa a ser de 622.202. Ou seja, houve um acréscimo de 168% na população prisional num período de 14 anos, o que nos leva a ocupar o cargo de quarto país do mundo com maior número de presos.
Tal índice elevadíssimo de detentos não pode ser comportado dentro dos presídios, portando passa a operar em permanente superlotação, visto que o Brasil dispõe de 407 mil vagas, tendo um déficit de 279 mil vagas. A maioria desses presos estão encarcerados por motivo de envolvimento com droga, chegando a uma cifra de 148 mil, tendo uma dilatação a partir do ano de 2006, depois de vigorar a Lei 13.343/06 (Lei de drogas). Outra grande parte ainda nem passou por julgamento, correspondendo a cerca de 40% do número total, o que deixa evidente uma deficiência no sistema judiciário. 
Como consequência da superlotação, é possível analisar que a vida atrás das grades se torna muito mais difícil, pois os encarcerados passam a viver em condições precárias (pode-se dizer que até desumanas) e a margem do descaso, levando a pena a não ser efetiva e não conseguindo cumprir seu objetivo, que segundo o art. 1º da Lei nº 7.210/84: “A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado”. Desta forma, indivíduos que foram aprisionados com a intenção de ressocialização acabam integrando facções criminosas que agem dentro dos presídios, principalmente para adquirir respeito, bens materiais e até mesmo segurança, o que gera um impacto na sociedade e a chance de retorno para a prisão é alta. 
Essas circunstâncias vivenciadas nas prisões brasileiras leva a pensar o sistema prisional do país como retrógrado, em razão de que a pena desvia-se de sua função legitima e passa agir como em tempos mais remotos, onde a condenação tinha caráter opressor:
...quando as prisões já não forem a horrível mansão do desespero e da fome, quando a piedade e a humanidade penetrarem nas masmorras, quando enfim os executores impiedosos dos rigores da justiça abrirem os corações à compaixão, as leis poderão contentar-se com indícios mais fracos para ordenar a prisão.(BECCARIA, 2013, p.30).
Como já dito anteriormente, um dos problemas que mais assola o sistema carcerário brasileiro é a prisão de indivíduos por estarem de alguma forma ligados às drogas. A legislação atual que trata das drogas esta em vigor desde 2006, e desde então o número de presos por tal motivo só vem expandindo. Essa Lei traz a distinção entre usuário e traficante: o último cumpre pena em regime fechado e o primeiro não. Quem fica incumbido de decidir a diferença entre os dois é o juiz (Lei 11.343/06, art. 28, §2º) e, o fato de que diversas pessoas têm sido presas portando uma pequena quantidade de drogas, baseadas unicamente no relato de um policial acentua o receio de que indivíduos presos como traficantes possam ser, na verdade, apenas usuários. Um dos casos que mais repercutiu nesse âmbito foi do catador de lixo Rafael Braga:
RELATÓRIO: O Ministério Público ofereceu denúncia contra RAFAEL BRAGA VIEIRA, como incurso nas penas dos artigos 33 e 35, ambos da Lei nº 11.343/06, pelos seguintes comportamentos ilícitos descritos na denúncia de fls. 02/02B, a saber: ´(...) No dia 12 de janeiro de 2016 [...] o denunciado, com consciência e vontade, trazia consigo, com finalidade de tráfico, 0,6g (seis decigramas) da substância entorpecente Cannabis Sativa L., acondicionados em uma embalagem plástica fechada por nó, bem como 9,3g (nove gramas e três decigramas) de Cocaína (pó), distribuídos em 06 cápsulas plásticas incolores e 02 embalagens plásticas fechadas por grampo [...]Policiais militares lotados na 07ª UPP do 16º BPMERJ estavam em operação no interior da comunidade, quando foram informados por um morador acerca da presença de um homem portando entorpecente com a intenção de comercializá-lo [...] III) CONCLUSÃO: Ex positis, julgo procedente a denúncia para condenar como ora CONDENO o réu RAFAEL BRAGA VIEIRA, como incurso nas sanções dos artigos art. 33 e 35, ambos da Lei nº 11.343/06, na forma do art. 69 do CP, às penas de 11 (onze) anos e 03 (três) meses de reclusão e ao pagamento de 1.687 (um mil seiscentos e oitenta e sete) dias-multa, à razão unitária mínima. Condeno, ainda, o réu ao pagamento das custas e da taxa judiciária com fundamento no artigo 804 do CPP. O regime inicial para o cumprimento da reprimenda é o fechado. O que se justifica não só pelo quantum da pena aplicada, mas pelo fato de que esse regime se afigura o mais adequado para atender a finalidade da pena, cujos aspectos repressivos e preventivos ficariam sem efeitos na hipótese de um regime mais brando, ante a possibilidade do réu não ser suficientemente intimidado a não mais delinquir. (TRIBUNAL JUDICIÁRIO, 2016).
Dentre esses indivíduos encarcerados pelo envolvimento com droga e diversos outros crimes, muitos ainda nem passaram por julgamento, ou seja, são presos provisórios. Dados do Infopen mostram que cerca de 26% desses ficam detidos por mais de três meses. Fica, desta forma, inequívoco uma deficiência dentro do Poder judiciário, que não consegue desempenhar sua função com êxito. Uma saída para esse déficit seria a audiência de custódia, projeto lançado pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça), que consiste na apresentação do preso em flagrante a uma autoridade judicial num prazo de 24 horas, para saber se há necessidade da continuidade da prisão ou se é concedido a liberdade ao acusado. 
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Conforme exposto no trabalho, o sistema carcerário brasileiro se encontra em crise, não conseguindo atingir seu objetivo e, em muitas situações, se torna um local responsável por expandir as facções criminosas, pois pessoas que cometeram um leve delito acabam sendo recrutadas para pratica de crimes de maior relevância.
A expansão da população carcerária traz à tona a necessidade de soluções emergentes por meiode políticas públicas e também necessita de mudanças no modo do Poder judiciário desempenhar sua função, tento em vista o alto número de presos provisórios que na grande maioria dos casos ficam presos durante meses até conseguir seu julgamento em 1ª instância. Importante ressaltar que o número de presos provisórios é equivalente ao déficit de vagas, portanto a implementação de projetos como a audiência de custodia poderia tanto evitar que pessoas passassem dias esperando um julgamento atrás das grades como também decrescer a escassez de vagas. 
4 REFERÊNCIAS
BECCARIA, Cesare Bonesana. Dos delitos e das penas. 1. ed. Tradução de Paulo M. Oliveira. São Paulo: EDIPRO, 2013, 127 p. 
BLUME, Bruno André. 4 Causas para a crise do sistema prisional brasileiro. 31/01/2017. Disponível em: http://www.politize.com.br/crise-do-sistema-prisional-brasileiro-causas/#top> Acesso em: 01/09/2018.
BRASIL. LEI Nº 11.343, 23 DE AGOSTO DE 2007. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11343.htm> Acesso em: 29/08/2018.
BRASIL. LEI Nº 7.210, DE 11 DE JULHO DE 1984. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L7210.htm> Acesso em: 01/09/2018.
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Audiência de Custódia. Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/sistema-carcerario-e-execucao-penal/audiencia-de-custodia>Acesso em: 02/09/2018. 
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Prisões provisórias são regra e contrariam a legislação penal, conclui estudo. 08 de junho de 2016. Disponível em:< http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/82535-prisoes-provisorias-sao-regra-e-contrariam-legislacao-penal-conclui-estudo> Acesso em: 01/09/2018.
FIGUEIREDO NETO, Manoel Valente; MESQUITA, Yasnaya Polyanna Victor Oliveira de; TEIXEIRA, Renan Pinto; ROSA, Lúcia Cristina dos Santos. A ressocialização do preso na realidade brasileira: perspectivas para as políticas públicas. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XII, n. 65, jun 2009. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=6301%3E>. Acesso em: 01/09/2018.
TRIBUNAL JUDICIÁRIO. Processo No 0008566-71.2016.8.19.0001. 2016. Disponível em: <http://www4.tjrj.jus.br/consultaProcessoWebV2/consultaMov.do?v=2&numProcesso=2016.900.001792-4&acessoIP=internet&tipoUsuario> Acesso em: 01/09/2019.

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