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Áreas de Preservação Permanente Consolidadas: Análise do Teorema de Coase

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5 
 
 
FACULDADE SANTO AGOSTINHO 
 
 
 
TÂNIA MARIA SERRA DE JESUS NOLÊTO 
 
 
 
 
 
 
 
ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE CONSOLIDADAS: 
ANÁLISE DO TEOREMA DE COASE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TERESINA (PI) 
 2016 
6 
 
 
TÂNIA MARIA SERRA DE JESUS NOLÊTO 
 
 
 
ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE CONSOLIDADAS: 
 ANÁLISE DO TEOREMA DE COASE 
 
 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de conclusão de curso apresentado 
como requisito parcial para a obtenção do 
grau de Bacharel em Direito junto à 
Faculdade Santo Agostinho. 
Orientadora: Prof.ª Maria Laura Lopes Nunes 
 
 
 
 
 
 
 
 
TERESINA (PI) 
 2016 
 
 
 
 
 
7 
 
TÂNIA MARIA SERRA DE JESUS NOLÊTO 
 
 
 
ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE CONSOLIDADAS: 
ANÁLISE DO TEOREMA DE COASE 
 
 
Este artigo foi julgado adequado para obtenção do Título de Bacharel em Direito e 
aprovado em sua versão final pela Banca Examinadora do Curso de Direito da 
Faculdade Santo Agostinho. 
Teresina (PI), 15/06/2016 
 
 
Banca Examinadora: 
 
 
______________________________________________ 
Orientadora: Prof. Maria Laura Lopes Nunes 
 
 
 
 
______________________________________________ 
Profa. Rochele Firmeza 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE CONSOLIDADAS: 
ANÁLISE DO TEOREMA DE COASE 
 
Tânia Maria Serra de Jesus Nolêto1 
 
RESUMO: a proteção ao meio ambiente sempre foi uma preocupação dos povos, nem 
tanto pela natureza em sim, mas por ser a fonte de riquezas e de sobrevivência do ser 
humano. No caso do Brasil a preocupação com o meio ambiente, ou melhor, com as 
riquezas de terras brasilis já era demonstrada desde que os portugueses chegaram 
em nossas terras. Várias normas sempre foram promulgadas com a finalidade de 
proteger o meio ambiente, desde as Ordenações Portuguesas passando pelas 
Constituições até a edição de normas infralegais como os Códigos Florestais de 1965 
e de 2012 que previram, dentre outras áreas especialmente protegidas, as áreas de 
preservação permanente - APP, definidas por sua localização ou por sua importância. 
Porém, o Código de 2012 trouxe como novidade a consolidação de áreas em APP, 
isto é, a regularização da ocupação antrópica nessas áreas. O Teorema de Coase é 
um instrumento que analisa o direito de propriedade e o direito de vizinhança quando 
permite valorar economicamente o que é mais eficiente. No presente artigo o Teorema 
de Coase é aplicado quando se questiona se é mais viável consolidar a ocupação 
antrópica em APP ou se seria recuperar a área a status quo ante. 
PALAVRAS-CHAVES: Área de preservação permanente. APP. Área consolidada. 
Teorema de Coase. Direito de propriedade. 
 
 
 
 
 
 
1 Geógrafa – UFPI; MSc. em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA/UFC; Bacharel em 
Direito – FSA; Especializanda em Direito Tributário – CERS/Estácio. 
9 
 
Abstract 
10 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
Resumo.................................................................................................... 08 
Abstract..................................................................................................... 09 
1. INTRODUÇÃO....................................................................................... 11 
2. PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE NO BRASIL – REVISÃO 
HISTÓRICA............................................................................................... 
 
13 
2.1 A Constituição Federal de 1988 e o Meio Ambiente ........................... 15 
2.2 O Código Florestal ............................................................................... 21 
3. ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE – APP......................... 24 
3.1 Áreas Consolidadas............................................................................. 29 
4. A ECONOMIA AMBIENTAL E O TEOREMA DE COASE................. 31 
4.1 O Teorema de Coase........................................................................... 33 
5. ANÁLISE DO TEOREMA DE COASE APLICADO ÀS ÁREAS DE 
PRESERVAÇÃO PERMANENTE CONSOLIDADAS.............................. 
 
37 
6. CONCLUSÃO........................................................................................ 42 
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................... 43 
 
 
 
11 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
A proteção ao meio ambiente existe desde as Leis mosaicas e, ao longo 
do tempo, várias civilizações demonstraram preocupação com a sua conservação, 
como os romanos, ao outorgarem o uso da água. Dom Pedro II demonstrou 
preocupação com a falta de água na cidade do Rio de Janeiro e mandou plantar a 
famosa Floresta da Tijuca, além da Floresta das Paineiras, no século XIX, para 
proteger os mananciais, inclusive efetuando desapropriações. 
No Brasil a legislação vigente para proteção ao meio ambiente percorre 
o Código Florestal, a Política Nacional do Meio Ambiente, a Lei de Crimes Ambientais, 
o Decreto de Infrações Ambientais, as Resoluções expedidas pelo Conselho Nacional 
de Meio Ambiente – CONAMA, dentre outros dispositivos não menos importantes, que 
tratam de áreas legalmente protegidas. 
Essas áreas que são consideradas de preservação permanente estão 
localizadas em regiões suscetíveis a intensa degradação ambiental e por isso 
merecem atenção, como: as margens dos corpos d’água e sua mata ciliar, as encostas 
de morros com declividades maiores do que 45°, as restingas como fixadoras de 
dunas, dentre outras, tendo por função preservar os recursos hídricos, a paisagem, a 
estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, a proteção 
do solo. 
Com a proteção dessas áreas pode-se diminuir e até mesmo evitar os 
movimentos de massas, que ocorrem nas encostas, como os sucedidos nos 
municípios de Petrópolis, Teresópolis, Angra dos Reis - todos no Estado do Rio de 
Janeiro - e em vários municípios no Estado de Santa Catarina, ao longo dos últimos 
anos. Essas áreas, também, têm a função de proteger o solo da erosão que tanto 
contribui no assoreamento dos cursos d’água, além de protegerem o fluxo gênico que 
12 
 
se dá especialmente por corredores ecológicos interligando espaços através dos 
cursos d’água possibilitando o fluxo de genes e o movimento da biota provocando a 
dispersão de espécies e a recolonização de áreas degradadas. 
A degradação ambiental no planeta põe em risco a sobrevivência de 
seus habitantes, sendo essencial a manutenção de espaços especialmente protegidos 
para a conservação da biota e a proteção do meio abiótico. Porém, nem todas as 
áreas protegidas são intocáveis e nem é proibida a sua utilização, contudo, existem 
rígidos limites para sua exploração e, por todos os motivos aqui expostos, pretende-
se demonstrar a importância do Teorema de Coase na análise das áreas consolidadas 
em áreas de preservação permanente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
2 PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE NO BRASIL – REVISÃO HISTÓRICA 
 
A visão que temos da época da colonização, contada pelos livros de 
história é de que os portugueses chegaram a terras brasileiras e somente desmataram 
nossas florestas para extração do pau-brasil e plantio da cana-de-açúcar; mas, a 
verdade é que havia uma preocupação da Coroa Portuguesa em proteger, fiscalizar e 
regrar a utilização dos recursos naturais de forma que se evitassem desperdícios e 
assegurassem economicamente o governo (OLIVEIRA, 2005). 
A legislação em vigor no país no século XVII eram as Ordenações 
Manuelinas, editadas em 1521,e já tratavam da proteção aos recursos naturais 
visando a evitar escassez de alimentos em Portugal, proibindo a caça de forma 
permanente ou sazonal, dependendo da região, em solo brasileiro. As Ordenações 
Manuelinas foram substituídas pelas Ordenações Filipinas no ano de 1602 e 
ampliaram a preocupação à proteção ambiental, que antes era apenas com a caça e 
os recursos naturais, para a proteção às águas, à regulamentação da pesca e até a 
sua proibição (OLIVEIRA, 2005). 
A Carta Régia de 1597 declarava de propriedade real as matas e 
arvoredos situados na costa, assim como ao longo dos rios que desembocassem no 
mar pelos quais em jangadas se pudessem conduzir as madeiras ao mar. Durante o 
período imperial, e como consequência do regime de ocupação das sesmarias, houve 
grande derrubada das matas o que levou o Código Criminal a considerar crime a 
derrubada de madeiras de lei, especialmente o pau-brasil. Com o advento da 
República no Brasil as velhas normatizações foram revogadas e, em 1916 o Código 
Civil já tratava da função social da propriedade (OLIVEIRA, 2005). 
A Constituição de 1934 já trazia em seu texto a intervenção do Estado 
no domínio econômico e a noção de função social da propriedade privada. Caso a 
14 
 
propriedade estivesse sem função social teria seu valor vulnerável. Nas Constituições 
de 1937, 1946 e de 1967/69, a evolução do princípio da função social de propriedade 
foi importante para o surgimento de normas protecionistas ao meio ambiente. (SILVA, 
2014). 
No período compreendido pelo denominado Estado Novo foram editados 
e promulgados vários dispositivos legais, muitos dos quais perduram até os dias 
atuais, a saber: Decreto – Lei n° 25 de 30 de novembro de 1937 que trata da Proteção 
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Decreto – Lei n° 58 de 10 de novembro 
de 1937 versando sobre Loteamentos e Decreto n° 24.643 de 10 de julho de 1934 que 
dispõe sobre o Código de Águas além do primeiro Código Florestal (Decreto n° 1.713 
de 14 de junho de 1937), do Código de Pesca (Decreto-Lei n° 794 de 19 de outubro 
de 1938), Decretos-Lei n° 2490 de 16 de agosto de 1940 e n° 3.438 de julho de 1941, 
que dispõem sobre as normas para aforamento de terrenos de marinha. 
No decorrer do período republicano, vários dispositivos legais foram 
promulgados com o propósito de proteger os recursos naturais de forma racional 
como: o Decreto Legislativo n° 03 de 1978 que aprovou a Convenção para a Proteção 
da Flora, da Fauna e das Belezas Cênicas Naturais dos Países da América, o Código 
Florestal com a Lei n° 4.771 de 15 de setembro de 1965, a Lei de Proteção à Fauna 
com a Lei n° 5.197 de 03 de janeiro de 1967, o Decreto-Lei n° 221 dispondo sobre o 
Código de Pesca e também a instituição de reservas indígenas, dos Parques 
Nacionais e de Reservas Ecológicas e a Política Nacional de Meio Ambiente 
(OLIVEIRA, 2005). 
 
 
 
15 
 
2.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E O MEIO AMBIENTE 
 
A Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 1988, 
trás na Parte Especial, Título III, Capítulo VI, um artigo voltado para a proteção ao 
meio ambiente, competindo ao Poder Público e à coletividade a proteção desse bem. 
Dessa forma, atendendo ao fundamento da dignidade da pessoa humana, determina 
que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à 
sadia qualidade de vida. 
Sendo o meio ambiente reconhecido como um direito de terceira 
geração, de titularidade coletiva, com fundamento no Princípio da Solidariedade ou 
Fraternidade, é reconhecido como um direito difuso transindividual (BELTRÃO, 2009). 
O art. 225 da Constituição enuncia que “todos tem direito ao meio 
ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia 
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-
lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (CURIA, 2015, p. 71). Esse 
direito deve ser efetivado pelo Poder Público por meio: 
 
 Da preservação e da restauração dos processos ecológicos 
essenciais e da promoção do manejo ecológico das espécies e 
ecossistemas; 
 Da preservação da diversidade e da integridade do patrimônio 
genético do país e da fiscalização das entidades dedicadas à 
pesquisa e à manipulação de material genético; 
 Da definição, em todas as unidades da Federação de espaço 
territoriais e seus componentes a serem especialmente 
protegidos; 
16 
 
 Da exigência de Estudo de Impacto Ambiental – EIA-RIMA, na 
forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente 
causadora de significativa degradação do meio ambiente; 
 Do controle de produção, da comercialização e do emprego de 
técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a 
vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; 
 Da promoção da educação ambiental e 
 Da proteção da fauna e da flora. 
 
O legislador elencou no art. 225 da Carta Magna sete metas visando à 
proteção do meio ambiente, incumbindo ao Poder Público essa iniciativa. Porém, 
como se dá essa iniciativa? Por meio de normas jurídicas que tem por função 
disciplinar o uso e a restauração do meio ambiente e dos recursos naturais 
(CANOTILHO e LEITE, 2012). Embora possa parecer que o legislador esteja 
preocupado apenas com o meio ambiente, na verdade ele põe em prática o 
antropocentrismo, isto é, a proteção ao meio ambiente ecologicamente equilibrado 
tem por objetivo o bem de uso comum do povo. Ora, o legislador deixa bem claro que 
o ser humano é quem deve ser beneficiado. Embora elenque uma série de 
dispositivos, eles têm por finalidade servir ao ser humano, e não à natureza, que 
traduziria uma opção ecocêntrista. 
De acordo com CANOTILHO e LEITE (2012), as dimensões jurídico-
ambientais e jurídico-ecológicas permitem falar de um Estado de direito ambiental e 
ecológico. Porém, esse Estado de direito só se configura se proteger o meio ambiente, 
impondo o dever de juridicidade à atuação do poder público, como enunciado no art. 
225 da Lei Maior. A proteção constitucional ambiental somente logrará força normativa 
17 
 
se os vários agentes públicos e privados que atuam sobre o meio ambiente o 
colocarem como fim e medida de suas decisões, ou seja, não o utilizando apenas para 
a obtenção de outros benefícios. 
 A finalidade principal é a proteção do ambiente como um todo e não 
apenas um acessório para se atingir outros objetivos. Os autores destacam ainda que 
não pode haver retrocesso na proteção ao meio ambiente e nem tampouco o 
descumprimento de preceitos constitucionais relativos ao meio ambiente. O Estado 
deve proteger esse patrimônio, seja de forma normativa, seja de forma planejada, seja 
de forma executiva ou judicial. O Estado de direito ambiental e ecológico só existirá 
de fato se proteger e garantir o direito ao ambiente. 
A Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente – CNUMAD, 
também conhecida por ECO-92, realizada na cidade do Rio de Janeiro no ano de 
1992, adotou o termo desenvolvimento sustentável como medida de proteção 
ordenada à garantia de sobrevivência da espécie humana e da existência às futuras 
gerações, preocupação essa já trazida no ano de 1988 pela Constituição vigente. 
Portanto, nossa Assembleia Constituinte já demonstrava uma atenção com a 
sustentabilidade, ainda que só uma visão antropocêntrica do tema (CANOTILHO e 
LEITE, 2012). 
Destaque-se que a Constituição não proíbe a intervenção humana no 
meio ambiente, porém, deve-se atender ao que se denomina “Princípio da Proibição 
do Retrocesso” quando as políticas ambientais do Estado são obrigadas a melhorar o 
nível de produção já assegurado pelos vários complexos normativo-ambientaiscom 
os princípios de desenvolvimento sustentável, do aproveitamento racional de 
recursos, da salvaguarda de capacidade de renovação ecológica e do Princípio da 
Solidariedade entre Gerações, isto é, quando da intervenção deve-se justificar 
18 
 
adequadamente, inclusive com alternativas ambientais e ecologicamente sustentáveis 
(CANOTILHO e LEITE, 2012). 
Na Constituição Portuguesa, o termo desenvolvimento sustentável é 
tratado como Princípio da Solidariedade entre Gerações. CANOTILHO e LEITE (2012) 
enumeram as principais problemáticas ambientais como: alterações irreversíveis dos 
ecossistemas, consequência dos efeitos cumulativos antrópicos; esgotamento dos 
recursos, devido à utilização irracional dos recursos sem permitir que eles se renovem; 
e os riscos duradouros. Os autores concordam quanto à insuficiência doutrinária e 
bibliográfica sobre a matéria constitucional no Brasil, pois ainda não existem 
publicações e trabalhos sobre o tema e que, os textos disponíveis, não abordam toda 
a complexidade do tema. 
Para FIORILLO (2005), ao fazer referência ao RE - 300244-9, a 
Constituição Federal não autoriza fazer com o bem ambiental, de forma ampla, geral 
e irrestrita, aquilo que permite fazer com outros bem em face do direito de propriedade. 
O bem ambiental não guarda necessariamente compatibilidade absoluta com o direito 
de propriedade, não exercendo, pois, o ius utendi et abutendi, isto é, o direito de usar 
e abusar da coisa. FIORILLO (2005, p. 67) apud PROUDHON (1975) discorre que “o 
direito romano definiu a propriedade, jus utendi et abutendi re sua, quateus júris ratio 
patitur como o direito de usar e abusar dos bens contanto que a razão do direito o 
permita” e constata que não existe uma definição de propriedade, mas um grande 
número de significados, que varia de acordo com as épocas e com as regiões, justifica 
ainda, a palavra abusar no sentido de domínio absoluto, e não o uso insensato e 
imoral. 
O direito de propriedade, influenciado pelos países europeus, desde a 
Constituição de 1824, revela seu conteúdo ideológico de garantir a economia 
19 
 
capitalista, variando de acordo com o tempo. Na Constituição de 1891, foram 
estabelecidas normas que asseguravam a inviolabilidade da propriedade e a plenitude 
desse direito; porém, esse direito poderia ser restringido em face de desapropriação 
por necessidade ou utilidade pública. As Constituições de 1946 e de 1967, seguindo 
a trajetória da história mantiveram essa linha de pensamento, enquanto a Carta da 
República de 1988 garantiu, pela primeira vez, o direito de propriedade aos brasileiros 
e aos estrangeiros residentes no país, bem como a sua inviolabilidade, desde que 
atendessem a função social da propriedade (FIORILLO, 2005). 
O meio ambiente era tido como recurso econômico inesgotável a serviço 
do homem. As Constituições brasileiras de 1824 e de 1891, influenciadas pelo 
liberalismo econômico, não demonstraram proteção alguma ao meio ambiente. Dessa 
forma o Estado não intervia na propriedade privada. Todavia, devido ao fracasso 
desse liberalismo econômico, surge a noção de função social da propriedade e a 
intervenção no domínio econômico interferindo no valor da propriedade, tornando-a 
vulnerável se estivesse sem função social. Com a intervenção econômica na função 
da propriedade começa a surgir a preocupação com o meio ambiente que passava a 
fazer parte da pauta de discussão internacional e, consequentemente, do arcabouço 
jurídico nacional (SILVA, 2014). Lembrando que a proteção não era bem ao meio 
ambiente, mas às riquezas naturais, relativamente de cunho econômico. 
FIORILLO (2005) destaca que em momento algum a Constituição 
Federal de 1988 define o que seja propriedade, cabendo ao legislador 
infraconstitucional a missão de explicar e delimitar o direito de propriedade. Porém, 
independente desse conceito, não se pode confundir as relações jurídicas que 
envolvem determinados bens vinculados às pessoas humanas em face da 
propriedade com as relações jurídicas que envolvem os bens ambientais, posto que, 
20 
 
a natureza jurídica do bem ambiental, elaborada na ordem econômica do capitalismo 
visando a atender às relações de consumos, mercantis e outras importantes relações 
destinadas à pessoa humana, dentro de uma nova concepção constitucional criada 
em 1988, tem na dignidade da pessoa humana seu mais importante fundamento. 
Para que o bem ambiental atenda à sua estrutura finalística e seja 
tratado como difuso, ou seja, de uso comum do povo tendo como objetivo a tutela do 
ser humano, ele deve atender ao requisito de ser essencial à sadia qualidade de vida 
enunciado pela Constituição Federal vigente satisfazendo as necessidades humanas. 
Um dos princípios fundamentais da República Federativa do Brasil é o da dignidade 
da pessoa humana e interpretando-se o que seja essencial a partir dos art. 6° e 225 
da Magna Carta, entendemos que toda e qualquer pessoa deve ter o direito de 
desfrute aos preceitos elencados nos artigos supracitados desde que se tenha a 
responsabilidade de tutela dos valores ambientais das atuais e futuras gerações 
(FIORILLO, 2005). 
Entretanto, o meio ambiente na CF/88 não foi citado apenas no art. 225, 
mas sim ao longo da Magna Carta: no inciso VII do art. 23 e incisos VI e VII do art. 24 
quando são elencadas as competências comuns e concorrentes dos entes políticos e 
administrativos; ao tratar da poluição (art. 23, VI e 24, VI); da atividade garimpeira (art. 
174, § 3°); da ação civil pública (art. 129, III); dos sítios ecológicos e do patrimônio 
cultural brasileiro (art. 216, V). Lembrando que, antes da promulgação da Magna Carta 
em vigor, já existiam outros dispositivos legais voltados para a proteção ao meio 
ambiente, e alguns foram por ela recepcionados, como a Lei n° 6.938/81, conhecida 
por Política Nacional de Meio Ambiente– PNMA e o Código Florestal de 1965. 
 
 
 
21 
 
2.2 O CÓDIGO FLORESTAL 
 
O primeiro Código Florestal brasileiro foi concebido pela Lei n° 4771/65 
e recepcionado pela CF/88, representando o marco no Brasil que, dentre outros 
avanços, tornou possível a instituição de áreas ambientais a serem protegidas como 
as Áreas de Preservação Permanente – APP e as Áreas de Reserva Legal – ARL 
(SILVA, 2014). 
Enquanto o Código Florestal declarou que as florestas e demais formas 
de vegetações existentes no território brasileiro são bens de interesse comum a todos 
os habitantes do país e que são consideradas de preservação permanente certas 
florestas e demais formas de vegetação natural, dependendo do local onde se situam, 
a Magna Carta declarou como especialmente protegidos os espaços territoriais, 
tomados em sentido amplo, e seus componentes úteis ou necessários à conservação 
ou proteção ambiental. A Constituição determina que a supressão ou alteração 
desses espaços seja feita por lei declarando-se previamente quais são esses espaços 
territoriais especialmente protegidos (OLIVEIRA, 2005; MEDAUAR, 2002; FIORILLO, 
2005). 
Os espaços territoriais especialmente protegidos são instrumentos da 
Política Nacional de Meio Ambiente e podem estar localizados em áreas públicas ou 
privadas. As florestas são bens ambientais de natureza difusa, pois seu titular é o 
povo e, quando situadas em espaços e propriedades privadas, devem suportar 
limitações em seu uso e fruição. 
Estudos científicos concluem que, para a sobrevivência da espécie 
humana, é importante a proteção dos ecossistemas florestais, pois esses são 
responsáveis pela biodiversidade, pela reciclagem de nutrientes dos solos, pela 
proteção dos corpos d’água e suas nascentes, pela manutenção do ciclo hidrológico, 
22 
 
incluindoo equilíbrio das temperaturas. Esse pensamento foi corroborado quando da 
realização da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável – 
Rio + 20, realizada no Rio de Janeiro no ano de 2012 que ressaltou os benefícios 
sociais, econômicos e ambientais que as florestas podem proporcionar aos seres 
humanos. A Agenda 21, documento elaborado durante a ECO – 92, traz em seu texto 
que as florestas são importantes e indispensáveis ao desenvolvimento econômico e à 
manutenção de todas as formas de vida terrestre (FIORILLO, 2005; SILVA, 2014). 
O Novo Código Florestal foi publicado em 25 de maio de 2012, sob a Lei 
nº 12.651/12, mantendo as APPs e as ARL, e tem por função proteger as florestas e 
demais formas de vegetação, de formação natural ou artificial, além de reconhecer a 
função estratégica da produção na manutenção e recuperação de florestas e o 
compromisso do País com um modelo ecologicamente viável de desenvolvimento, 
criando e utilizando incentivos econômicos para a preservação e recuperação da 
vegetação nativa. 
O atual Código Florestal limita o exercício do direito de propriedade 
fundamentado no princípio constitucional da função socioambiental da propriedade, 
utilizando adequadamente os recursos naturais disponíveis, preservando o meio 
ambiente. O cumprimento da função socioambiental legitima o direito de propriedade 
pelo seu titular. A instituição, pela lei supracitada, de Áreas de Preservação 
Permanente ou de Áreas de Reserva Legal, que deverão ser protegidas pelo 
proprietário em razão da relevância ambiental da vegetação ali situada, não 
constituem ofensa ao direito de propriedade (SILVA, 2014). 
O Código de 2012 trouxe algumas novidades, dentre elas o amparo ao 
pequeno produtor, ou posse rural familiar, para o plantio de culturas temporárias e 
sazonais de vazante, desde que sejam de ciclo curto nas áreas que ficam expostas 
23 
 
por ocasião de vazante de rios e lagoas; em outras palavras, durante os períodos de 
cheia desses corpos hídricos a água atinge determinada extensão do terreno e, na 
temporada de estiagem, ou de seca, parte dessa extensão que era anteriormente 
ocupada pela água fica descoberta. 
Porém, aquele solo mantém por determinado período temperatura e 
nutrientes adequados para o plantio de algumas espécies alimentares. Funciona como 
um ciclo, na época de cheia a água vem carregada de nutrientes que são depositados 
no solo e, posteriormente, são aproveitados no plantio de subsistência quando aquele 
leito fica descoberto. 
O legislador, no Código supracitado, tornou-se mais tolerante ao 
pequeno produtor que vive de subsistência, desde que esse não suprima novas áreas 
de vegetação nativa, que conserve a qualidade da água e do solo e proteja a fauna 
silvestre. Para imóveis rurais com até 15 módulos fiscais admite-se a prática da 
aquicultura e respectiva infraestrutura desde que se adotem práticas adequadas de 
manejo do solo e da água, que esteja de acordo com os respectivos planos de bacia 
ou plano de gestão de recursos hídricos, que seja realizado o licenciamento ambiental 
pelo órgão competente e não implique novas supressões de vegetação nativa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
24 
 
3 ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE – APP 
 
O Código de 1965, no art. 2º, considerava APP “as florestas e demais 
formas de vegetação natural", enquanto o Código atual, no art. 4º, retirou-se a questão 
da flora para considerar como APP determinado espaço, em zonas rurais ou urbanas. 
No inciso I do art 4º do Código de 2012 houve os seguintes acréscimos: os termos 
perene e intermitente, excluídos os efêmeros, delimitação da largura desde a borda 
da calha do leito regular. Para a conceituação de Área de Preservação Permanente 
não houve inovações na Lei atual, no art. 3º, II, apenas se retirou “nos termos dos 
artigos 2º e 3º” da norma. Essas áreas, via de regra, são intocáveis, sendo vedado o 
seu uso econômico direto. O art. 2º do antigo Código tornou-se agora o 4º no Código 
vigente, com pequenas modificações e acréscimos. 
Para lagoas, lagos ou reservatórios houve uma distinção e acréscimo 
quanto ao que se refere como natural e artificial. Para os corpos naturais especificou-
se para as zonas rurais uma faixa de largura para uma área de 20 (vinte) hectares e 
uma faixa de 30 (trinta) metros em zonas urbanas. No caso dos reservatórios d’água 
artificiais, sejam decorrentes de barramento ou represamento de curso d’água 
naturais, essa delimitação deve ser definida na licença ambiental do empreendimento, 
ou seja, dependerá de um estudo ambiental indicar essa delimitação e suas 
justificativas ficando a cargo do órgão ambiental competente o seu aceite ou a sua 
modificação, suprimindo ou aumentando, conforme as peculiaridades de cada 
empreendimento (SILVA, 2014). 
No Novo Código Florestal acrescentou-se como APP, no art. 4º, inciso 
VII, os manguezais, em toda a sua extensão. Não se trata de uma nova área, ela já 
havia sido delimitada na Resolução nº 303/02 do Conselho Nacional de Meio 
25 
 
Ambiente – CONAMA, no art. 3º. Quanto aos topos de morros, montes, montanhas, 
serras e veredas essa delimitação também já havia sido feita na Resolução 
supracitada. Observa-se que não houve novidades quanto à definição e localização 
das APPs, o legislador, sabiamente, apenas melhorou as definições e trouxe de outras 
normas infraconstitucionais áreas que não haviam sido contempladas pelo Código 
Florestal de 65, bem como nenhuma dessas áreas foi suprimida ou reduzida (CURIA, 
2015, p. 857-858). 
No Código de 65, somente em casos excepcionais, poder-se-ia 
computar a vegetação nativa existente em APP no cálculo da Reserva Legal. Porém, 
no cálculo da Reserva Legal atual, passou-se a permitir a inclusão da APP na Reserva 
Legal para que se possa alcançar o percentual mínimo exigido. No presente estudo, 
não temos a intenção de discutir acerca da Reserva Legal, no entanto, é impossível 
deixar de ressaltar que, nesse caso, houve uma perda para o meio ambiente, pois se 
priorizou o interesse econômico do proprietário. 
A função da APP é “preservar os recursos hídricos, a paisagem, a 
estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, 
proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas”, (CURIA, 2015, p. 
857) conforme dispõe o art. 3º da Lei em tela, ou seja, proteger as funções ecológicas 
de determinadas áreas. Caso não se protegesse essas áreas, exemplificando com os 
olhos d’águas e margens de cursos d’água, muitos rios nem existiriam mais e muitas 
cidades poderiam ser engolidas pelas margens de alguns, já que não existiria uma 
margem natural para conter a força das águas, sem falar das espécies endêmicas que 
fatalmente iriam à extinção. 
Muito se fala que a proteção ao meio ambiente impede o 
desenvolvimento econômico, o que leva ao legislador a criar exceções naquilo que se 
26 
 
tem como regra, e para as APPs não é diferente. Em determinadas situações, é 
permitido intervir nas APPs. Ao se proteger o meio ambiente não significa que se deva 
barrar o progresso, deve-se apenas fazê-lo de forma sustentável, sendo flexível, mas 
imponente, quando necessário. 
Nos países em desenvolvimento, detentores das maiores florestas 
tropicais do mundo e uma rica biodiversidade, os ecossistemas florestais encontram-
se sob pressão influenciados pelas mais diversas atividades, como: expansão da 
fronteira agrícola que, no Brasil, já se difundiu de norte a sul– Mato Grosso, Goiás, 
Pará, até mesmo o Piauí, na região do Cerrados -, e pela pressão migratória por 
populações marginalizadas para essas áreas, dentre outras (SILVA, 2014). 
As APPs instituídas em função de sua destinação,cobertas ou não com 
outras formas de vegetação devem ser declaradas, por ato do Chefe do Poder 
Executivo, mediante Decreto, como de interesse social, desde que atendam a 
determinada finalidade, tratadas como numerus clausus: 
 
Art. 6° Consideram-se, ainda, de preservação permanente, quando 
declaradas de interesse social por ato do Chefe do Poder Executivo, as áreas 
cobertas com florestas ou outras formas de vegetação destinadas a uma ou 
mais das seguintes finalidades: 
I - conter a erosão do solo e mitigar riscos de enchentes e deslizamentos de 
terra e de rocha; 
II - proteger as restingas ou veredas; 
III - proteger várzeas; 
IV - abrigar exemplares da fauna ou da flora ameaçados de extinção; 
V - proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico, cultural ou 
histórico; 
VI - formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias; 
VII - assegurar condições de bem-estar público; 
VIII - auxiliar a defesa do território nacional, a critério das autoridades 
militares. 
 IX - proteger áreas úmidas, especialmente as de importância internacional 
(CURIA, 2015, p. 860). 
 
 
Para se exercer o direito de propriedade, a Constituição diz que essa 
deverá exercer a função social e o seu art. 186 elenca requisitos para que se atinja a 
sua função sócio ambiental, desde que de forma simultânea: 
27 
 
 
I – aproveitamento racional e adequado; 
II – utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do 
meio ambiente; 
III – observância das disposições que regulam as relações de trabalho; 
IV – exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos 
trabalhadores” (CURIA, 2015, p. 62). 
 
 
A finalidade das APPs é proteger determinadas áreas que tem função 
ambiental relevante, sendo consideradas intocáveis e vedadas ao uso econômico 
direto, mas toda regra tem suas exceções. Dispor de exceções não significa que se 
poderá fazer o que quiser e da forma que quiser, significa que, em determinadas 
situações, essa regra poderá ser flexível, desde que se enquadre e cumpra requisitos 
pré-estabelecidos. 
A presente norma prevê as seguintes intervenções em APP: alteração e 
supressão de APP e supressão de vegetação em APP. Numa leitura rápida pode 
haver um equívoco ao se falar em supressão, mas, numa nova leitura percebemos 
que uma intervenção é na área, na delimitação, no espaço ocupado e a outra está 
relacionada à supressão de vegetação, da flora, ao corte, ao desmatamento. Como já 
fora explanado, as APPs são definidas por localização ou por destinação, devendo as 
últimas serem feitas por ato administrativo – por decreto do Chefe do Poder Executivo 
-, porém, somente mediante lei pode haver supressão. Esse procedimento complexo 
se justifica justamente para que seja maior a possibilidade de manutenção da proteção 
dos recursos naturais. O artigo 225 da Constituição já prevê, no inciso III, que a 
alteração e a supressão de espaços territoriais e seus componentes somente serão 
permitidas mediante lei formal (SILVA, 2015). 
A supressão de cobertura vegetal em APP deve ser uma exceção e só 
poderá ocorrer mediante autorização do órgão ambiental competente, do contrário, o 
agente responderá por crime ambiental conforme dispõe o arts. 38 e 39 da Lei nº 
28 
 
9605/98, conhecida como Lei de Crimes Ambientais (CURIA, 2015, p. 1725), além de 
cometer infração ambiental, de acordo com os artigos 43, 44 e 45 do Decreto nº 
6514/08 (TRENNEPOHL, 2009, p. 491-492). Essa autorização do Poder Executivo 
para suprimir cobertura vegetal somente poderá ocorrer nos casos de utilidade 
pública, interesse social ou em situações de baixo impacto ambiental. 
Os casos de utilidade pública estão definidos no art. 3º, VIII, do Código 
Florestal vigente são: 
 
a) as atividades de segurança nacional e proteção sanitária; 
b) as obras de infraestrutura destinadas às concessões e aos serviços 
públicos de transporte, sistema viário, inclusive aquele necessário aos 
parcelamentos de solo urbano aprovados pelos Municípios, saneamento, 
gestão de resíduos, energia, telecomunicações, radiodifusão, instalações 
necessárias à realização de competições esportivas estaduais, nacionais ou 
internacionais, bem como mineração, exceto, neste último caso, a extração 
de areia, argila, saibro e cascalho; 
c) atividades e obras de defesa civil; 
d) atividades que comprovadamente proporcionem melhorias na proteção 
das funções ambientais referidas no inciso II deste artigo; 
e) outras atividades similares devidamente caracterizadas e motivadas em 
procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e 
locacional ao empreendimento proposto, definidas em ato do Chefe do Poder 
Executivo federal; (CURIA, 2015, p.858). 
 
No caso de supressão de vegetação nativa em APP de mangue só 
poderá ser autorizada, excepcionalmente, onde a função ecológica do mangue esteja 
comprometida e desde que seja inserida em projetos de regularização fundiária de 
interesse, em social em áreas urbanas consolidadas ocupadas por população de 
baixa renda. Quando se tratar de atividades de segurança nacional e obras de 
interesse da defesa civil destinadas à prevenção e mitigação de acidentes em áreas 
urbanas é dispensada a autorização do órgão ambiental competente quando for em 
caráter de urgência (CURIA, 2015, p. 861). 
 
 
 
29 
 
3.1 ÁREAS CONSOLIDADAS 
 
O art. 3°, IV, da Lei n° 12.651/12 define a área rural consolidada como “ 
a área de imóvel rural com ocupação antrópica preexistente a 22 de julho de 2008, 
com edificações, benfeitorias ou atividades agrossilvipastoris, admitida, neste último 
caso, a adoção do regime de pousio” (CURIA, 2015, p. 858). 
A norma supracitada trata apenas das áreas consolidadas em APP, 
localizadas em zona rural, não fazendo referência às APPs em zona urbana, porém, 
neste estudo, para a análise do Teorema de Coase, não foi feita a distinção entre zona 
rural e zona urbana, até porque, a norma não considerou a sua importância na zona 
urbana, onde existe uma forte densidade demográfica que acarreta os mais diversos 
impactos ambientais. 
O texto normativo delimita as áreas ocupadas de 01 (um) até 15 (quinze) 
módulos fiscais, devendo todas elas serem informadas no Cadastro Ambiental Rural 
– CAR para fins de monitoramento, observando-se critérios técnicos de conservação 
do solo e da água indicados no Programa de Regularização Ambiental – PRA, definido 
no Código Florestal, e a recomposição de faixas marginais de acordo com o módulo 
fiscal em que se localiza. As APPs situadas nos limites de Unidades de Conservação 
de Proteção Integral, criadas até a publicação do atual Código, não são passíveis de 
consolidação, exceto o que dispuser o Plano de Manejo, conforme dispõe o art. 6-A, 
§16 dessa norma (CURIA, 2015, p. 871). 
O Código Florestal além de versar sobre a consolidação de áreas em 
APP, também trata da obrigatoriedade de recomposição da vegetação, variável de 
acordo com a extensão do imóvel rural e com o tipo de APP, podendo ser realizada, 
isolada ou conjuntamente por: regeneração natural de espécies nativas; plantio de 
30 
 
espécies nativas; plantio intercalado de espécies lenhosas, perenes ou de ciclo longo, 
exóticas ou nativas (SILVA, 2014). 
PHILIPPI Jr. (2005) pondera que, numa área consolidada, ao se permitir 
que ela continue ocupando a APP deve-se levar em conta os instrumentos 
necessários para o seu uso sustentável de forma que não se maximize os impactos 
na área, devendo sim, mitigá-los, procurar investir em tecnologias que já foram 
indicadas como instrumentos na CF/88 e na PNMA. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
31 
 
4 A ECONOMIA AMBIENTAL E O TEOREMADE COASE 
 
MOTTA (2006) afirma que, ao se valorar economicamente um recurso 
ambiental, é possível determinar o quanto a mudança na quantidade de bens e 
serviços ambientais melhoraram ou pioraram o bem-estar das populações. Porém, 
existe um grau de dificuldade que permite valorar com clareza os valores de uso para 
os valores de não-uso, principalmente para aqueles usos indiretos. 
De acordo com MOTTA (2006), não existe um método perfeito para 
valoração ambiental, pois, cada método dependerá do objetivo da valoração e dos 
seus limites podendo ser classificados em: métodos da função de produção e métodos 
da função de demanda. No primeiro método, estima-se o valor econômico do bem 
ambiental, utilizando-se preço de mercado quando esse é um insumo, um substituto 
de um bem ou um serviço privado, estimando-se os custos ambientais às variações 
de disponibilidade. O segundo método avalia diretamente os valores econômicos e a 
disposição dos indivíduos de pagar por aquele recurso com base em funções de 
demanda. 
O método de valoração econômica do meio ambiente a ser adotado 
depende do objetivo, das hipóteses consideradas, da disponibilidade de dados e do 
conhecimento científico a respeito da dinâmica ecológica do objeto em questão 
MOTTA (2006, p. 16). Ao se estimar a viabilidade econômica de retornar uma área ao 
status quo ante e o quão caro o é, também existem situações nas quais existe a 
disposição para pagar para se conservar uma área, como é o caso do Parque Estadual 
Morro do diabo, localizado no interior de São Paulo, que abriga a última grande área 
de mata atlântica e a maior reserva de árvores de peroba-rosa do Estado. Para avaliar 
essa disposição de pagar foram aplicados questionários com 648 registros para um 
estudo de caso e criaram-se novas variáveis calculadas a partir dos coeficientes dos 
32 
 
modelos finais. “O valor de existência está relacionado ao estoque mínimo crítico que 
os indivíduos consideram necessário à existência de um bioma ou espécie e não fluxo 
de bens e serviços ambientais que determinam os valores de uso” (MOTTA, 2006, p. 
74). 
Para uma política ambiental eficiente não basta apenas conhecer o valor 
econômico dos recursos ambientais, é necessário identificar quais instrumentos 
econômicos serão utilizados para atingir os objetivos ambientais priorizados (MOTTA, 
2006). Esses instrumentos podem ser: 
 De controle - mais usuais, como: regulamentos e sanções; taxas, 
impostos e cobranças, sendo pouco flexíveis a todos os usuários, pois 
não consideram seus custos individuais; 
 Econômicos - criação de mercado de direitos, grau de conhecimento 
técnico para a fiscalização, sendo muitas vezes custoso para os 
órgãos responsáveis, porém, são mais flexíveis porque incentivam 
maior redução do nível de uso daqueles usuários, tornando menor o 
custo total de controle para a sociedade, como exemplo cita-se o 
sistema de reembolso para resíduos sólidos de risco e a implantação 
de estações de tratamento de efluentes em determinadas indústrias 
como curtume e bebidas gaseificadas; 
 Orientadas para o litígio - intervenção de demanda final, como: 
educação para a reciclagem e a reutilização; lista negra dos 
poluidores, dentre outros. 
Os instrumentos indicados por MOTTA (2006) podem auxiliar na 
valoração econômica de um bem ambiental. Podemos destacar que o instrumento 
econômico é relevante para o presente estudo. 
33 
 
4.1 O TEOREMA DE COASE 
 
Ronald Coase é um economista inglês que ganhou o Prêmio Nobel de 
Economia, em 1991, ao questionar o que ele denominou de problema de natureza 
recíproca (PINHEIRO e SADDI, 2005) que, no presente trabalho, pode ser relacionado 
à interferência das áreas consolidadas nas áreas de preservação permanentes 
determinadas pelo atual Código Florestal brasileiro. 
A Teoria de Coase está relacionada ao direito de vizinhança e à restrição 
de uso, o que poderia, economicamente, se opor à função social da propriedade, 
tendo em vista o que já fora explanado anteriormente acerca do que se trata o direito 
de propriedade e a sua função social. PINHEIRO e SADDI (2005) ressaltam que no 
Teorema de Coase os direitos de propriedade foram considerados e que o impacto da 
economia nesse direito seria somente sobre a distribuição de renda. A utilidade do 
Teorema é compreender as soluções que o direito poderia atribuir ao incentivar o 
direito de propriedade com vistas a aumentar a eficiência da economia. Os autores 
constatam que as premissas para a análise econômica do direito corroboram no 
mesmo sentido de que o ser humano procura o que é melhor para si, aquilo que lhe 
dê mais satisfação, reagindo conforme o que o ambiente lhe oferece, inclusive 
vantagens econômicas, tais como: multas, serviços comunitários, benefícios 
trabalhistas e até mesmo reclusão ou detenção penal para os vários tipos de 
comportamento ilegais. 
As escolhas dos agentes econômicos sempre se basearão na 
adequação aos meios disponíveis para gerar os fins que mais interessam e aqueles 
só engajarão quando o benefício auferido for maior que o custo despendido para obtê-
lo. PINHEIRO e SADDI (2005, p. 90) apud Poner {?} entendem que “a função básica 
do direito, numa perspectiva econômica, seja manipular corretamente os incentivos”. 
34 
 
As escolhas são feitas em face da análise dos benefícios auferidos por meio de uma 
comparação qualitativa ou quantitativa, isto é, monetária, aquilo que pesa ou não no 
bolso. 
PINHEIRO e SADDI (2005, p.92) ao discorrerem sobre os grupos que 
criticam e questionam o movimento Direito & Economia, destacam que, na busca pela 
eficiência do sistema, os critérios de natureza mais ética ou até social, são 
desprezados, não se dando, inclusive, a devida atenção aos direito humanos. Os 
autores questionam em Direito, Economia e Mercados, sobre “o quão eficiente é o 
sistema de normas para induzir comportamentos específicos e como uma sanção 
legal afeta esse comportamento” (PINHEIRO e SADDI, 2005, p. 93). As respostas, 
segundo os autores, estariam baseadas em sua totalidade e nos princípios da 
eficiência e racionalidade. 
PINHEIRO e SADDI (2005) também discorrem sobre a Teoria 
Econômica da Propriedade e enfatizam que muitos estudiosos entendem que a 
existência da propriedade é um requisito indispensável para que as trocas possam se 
realizar e que, juridicamente, a propriedade é um direito daquele que possui ou pode 
reivindicar em virtude de uma lei ou de um direito natural. Os autores citam o Código 
Civil francês que define propriedade como o direito de usufruir das coisas de maneira 
absoluta, gozando ou dispondo delas desde que não se faça uso proibido pelas leis 
ou regulamentos. Também fazem referência à definição de propriedade por Barzel, 
que a define de acordo com a visão econômica, quando alguém pode dispor de uma 
propriedade, seja vendendo, seja doando, isto é, por meio de trocas ou até mesmo 
quando sofre restrições econômicas ou legais, inclusive quando não se pode haver 
troca, sendo esse direito apenas parcial e, nesse caso, o direito é determinado pelo 
Estado. 
35 
 
O direito de propriedade, formalizada e assegurada pelo Estado, 
provoca um bem estar na população ao evitar que outros se apropriem ilegalmente de 
algo que pertence a outrem e que, caso isso aconteça, o indivíduo estará passível de 
punição PINHEIRO e SADDI (2005). 
Historicamente o direito de propriedade era citado pelos primeiros povos 
que utilizaram a escrita, com registro de venda de propriedades, há cerca de 3.000 
a.C. O Código de Hamurabi (1792 – 1750 a.C) tratava da aplicação de sanções para 
casos de avanço na propriedade alheia. O Antigo Testamento, no Código da Aliança,conhecido por “Os Dez Mandamentos”, é o resultado do pacto que se realiza com 
Deus para o cumprimento da lei: moral, civil e religiosa, sendo um deles o direito de 
propriedade, quando ordena que não roubarás. O Direito romano intensifica a 
consagração do direito de propriedade privada. O termo proprium significa o que 
pertence a alguém, o que é próprio da pessoa, é o poder absoluto, exclusivo e 
perpétuo que alguém tem sobre uma coisa, podendo dela retirar as utilidades para 
seu benefício. A Constituição brasileira celebra o direito de propriedade e o bem-estar 
como valores supremos da democracia PINHEIRO e SADDI (2005). 
Ubi societas, ibi jus; ubi jus ibi societas é um brocardo que significa onde 
está a sociedade está o direito e onde está o direito a sociedade também está. Tendo 
o Direito surgido da sociedade, todo instituto jurídico está permeado por uma função 
social e, apesar de o direito de propriedade representar o mais amplo poder que se 
tem sobre algo, os romanos já entendiam como justas e procedentes algumas 
limitações ao direito de propriedade como: restrições no interesse de vizinhança e 
restrições ao interesse da coletividade (PINHEIRO e SADDI, 2005). 
De acordo com PINHEIRO e SADDI (2005), a Teoria de Coase viabiliza 
identificar o que é mais eficiente socialmente na ausência de custos de transação e 
36 
 
com direitos de propriedade perfeitamente assinalados. Se a solução encontrada 
entre partes tiver custo de transação igual a zero a solução será tida como eficiente, 
independente dos direitos de propriedade. Os autores destacam que a intenção de 
Coase não é propor a não existência de custos de transação, mas sim, entender que 
medidas legais devem ser adotadas para evitar que a existência desses custos 
prejudique a eficiência econômica em um contexto de competição pelo uso de 
recursos escassos. No estudo em tela, os direitos de propriedade estão assinalados 
nas áreas consolidadas em APP, não se destacando aqui se são de domínio público 
ou privado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
37 
 
5 ANÁLISE DO TEOREMA DE COASE APLICADO ÀS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO 
PERMANENTE CONSOLIDADAS 
 
A função, ou a vocação social, não é uma restrição à propriedade, mas 
sim ao seu uso indevido. Até mesmo PINHEIRO e SADDI (2005, p. 97) demonstram 
sua visão antropocêntrica ao explanarem que qualquer terra improdutiva afronta o 
conceito de função social da propriedade, pois, a terra, segundo os autores, existe 
para ser explorada e para produzir alimentos para a sociedade que dela depende. Os 
autores não exaltam a importância de proteger a propriedade para resguardar o que 
ela abriga, a sua riqueza natural, os meios bióticos e os abióticos. O bem estar da 
coletividade está ligado apenas à visão capitalista. 
PINHEIRO e SADDI (2005, 99) concluem que a definição e a garantia 
dos direitos de propriedade começam e terminam com sua assinalação pelo Estado, 
porém esses direitos podem ser desrespeitados, tanto por agentes privados como 
pelo próprio Estado. Os autores ainda discorrem que a lei e a estrutura jurídica 
determinam o comportamento e que, quando direitos de propriedade são assinalados 
corretamente e são respeitados, é possível definir o desempenho econômico pelo que 
se denomina segurança jurídica, ao tornar definitiva uma decisão jurisdicional. 
Os direitos de propriedade só existem se existir lei e só existe lei se 
existir Estado, contrario sensu às comunidades primitivas que foram conhecidas 
como: sem fé, sem lei, sem rei. A lei permite estabelecer um sistema de regras de 
conduta, e a participação do Estado para garantir a propriedade assume uma parcela 
importante no domínio econômico, que passa a intervir de forma direta ou indireta, e 
essa proteção demanda custos. 
Ao se aplicar o Teorema de Coase para identificar o que é mais viável 
no caso de APP consolidadas podemos indagar os seguintes aspectos: 
38 
 
a. Que impactos ambientais foram causados na APP para que tal 
área seja considerada consolidada? 
b. Que benefícios houve ao se considerar determinada área como 
consolidada? 
c. Que impactos, tanto ambientais, quanto econômicos e sociais, 
poderiam ocorrer caso fosse determinado que aquela área 
consolidada fosse recuperada para status quo ante? 
d. Se em determinada área consolidada tiver se edificado uma 
cidade e seja definido que aquela APP deve ser recuperada status 
quo ante, para onde os moradores serão deslocados? A possível 
nova área para recebimento dessa população sofrerá que tipos 
de impactos ambientais? Quão dispendioso será recuperar essa 
área e de onde virá o material para a sua recuperação? Que 
impactos serão causados para a retirada desse material de uma 
nova área? Quanto tempo será necessário para essa 
recuperação? 
e. O que é financeira e ambientalmente viável determinar que se 
recupere a APP status quo ante ou que se invista em medidas e 
tecnologias ambientalmente sustentáveis? 
f. Como fazer a mensuração dos impactos que foram causados ao 
longo de tanto tempo? 
Para finalizar a presente discussão, trouxemos três jurisprudências 
acerca da ocupação ou construção em Áreas de Preservação Permanente, vejamos 
o que colaciona nossos tribunais: 
 
39 
 
APELAÇÃO CÍVEL - TUTELA ESPECÍFICA DE OBRIGAÇÃO DE FAZER - 
DEMOLIÇÃO DE EDIFICAÇÃO EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO 
PERMANENTE - DUNAS - JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE - 
CERCEAMENTO DE DEFESA AFASTADO - INOCORRÊNCIA DE 
ILEGITIMIDADE ATIVA - AUSÊNCIA DE COISA JULGADA - CONSTRUÇÃO 
JÁ EXISTENTE - IRRELEVÂNCIA - INFRINGÊNCIA DE LEGISLAÇÃO 
MUNICIPAL - APELO DESPROVIDO. "Havendo limitação ao direito de 
construir em área de preservação permanente e declarada non edificandi, 
qualquer obra clandestina (entendendo-se por tal a que for feita sem prévia 
aprovação do projeto ou sem alvará de licença) deve ser imediata e 
sumariamente embargada pela Administração que pode, na esfera de seu 
poder de polícia, efetivar sua demolição. 'A tolerância com edificações 
clandestinas em áreas de preservação permanente fará com que, 
estimulados pelo uso de meios retardatários da execução da liminar 
demolitória, nas violências contra o meio ambiente sejam perpetradas, em 
prejuízo de toda a comunidade' (AI n. 96.001089-0, Capital, Des. Eder Graf)" 
(Ap. cív. , da Capital, Des. Jaime Ramos). 
(TJ-SC - AC: 24995 SC 2005.002499-5, Relator: Francisco Oliveira Filho, 
Data de Julgamento: 19/04/2005, Segunda Câmara de Direito Público, Data 
de Publicação: Apelação cível n., da Capital.) 
 
APELAÇÃO CÍVEL E REMESSA NECESSÁRIA. MANDADO DE 
SEGURANÇA. CONSTRUÇÃO EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO (PRÓXIMA 
A LEITO DE RIBEIRÃO). DEDUÇÃO DE NULIDADE DA SENTENÇA, POR 
RECONHECER FATO NÃO COMPROVADO, A DEMANDAR DILAÇÃO 
PROBATÓRIA (AUSÊNCIA DE SUPRESSÃO DA VEGETAÇÃO CILIAR). 
IMPROPRIEDADE. CONSTATAÇÃO DE FATO SEM RELAÇÃO COM O 
ATO COATOR. ÁREA URBANA CONSOLIDADA. EXISTÊNCIA, ADEMAIS, 
DE IMÓVEL NO LOCAL. EDIFICAÇÃO ERIGIDA COM AUTORIZAÇÃO 
MUNICIPAL. CASO EM QUE A LEGISLAÇÃO MUNICIPAL DEVE 
PREVALECER SOBRE A FEDERAL. PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE. 
RECURSO DESPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA EM SEDE DE 
REMESSA. Firmando-se o ato coator na premissa de que a área em que se 
erige a construção é tida não edificável, por marginar ribeirão, é indiferente 
que a sentença conclua pela ausência de supressão da mata ciliar sem prova 
técnica. As notificações deduzem apenas a falta de observação da reserva 
de distância prescrita na legislação federal, não implicando vício a conclusão 
de que a vegetação ribeirinha se mantém intacta, havendo ou não prova 
disso. Em se tratando de área urbana consolidada, sem quebra da ordem 
jurídica, pode o Município, no que couber, completar normas gerais, 
observando-seainda o primado da razoabilidade. 
(TJ-SC - MS: 325164 SC 2011.032516-4, Relator: Ricardo Roesler, Data de 
Julgamento: 31/08/2011, Segunda Câmara de Direito Público, Data de 
Publicação: Apelação Cível em Mandado de Segurança n. , de Blumenau) 
 
ACÓRDAO APELAÇAO CÍVEL MANDADO DE SEGURANÇA - 
CONSTRUÇAO DE MURO EM ÁREA URBANA CONSOLIDADA - NAO 
COMPROVAÇAO DE ÁREA DE RESTINGA - RECURSO DESPROVIDO. 1) 
estando os lotes em questão situados em área onde existam casas, comércio, 
transporte público, rede de esgoto, recolhimento de lixo, abastecimento de 
água, bem como os proprietários dos imóveis recolham IPTU tratar-se de 
área urbana consolidada, preenchendo os referidos requisitos da Resolução 
do CONAMA nº 303/02, especialmente o inciso XIII, do artigo 2º. 
40 
 
(TJ-ES - Remessa Ex-officio: 48070064406 ES 048070064406, Relator: 
ELPÍDIO JOSÉ DUQUE, Data de Julgamento: 18/03/2008, SEGUNDA 
CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 28/05/2008). 
 
A intenção ao se apresentar três jurisprudências de nossos tribunais foi 
demonstrar julgamentos diferentes para cada situação. Nas duas primeiras citações 
observamos que o Tribunal de Justiça de Santa Catarina é pacífico quanto a não 
ocupação de APP, uma delas situada em área urbana, inclusive com a obrigação de 
demolir obras em solos non edificandi. Já a terceira citação, do Tribunal de Justiça do 
Espírito Santo reconhece a consolidação em área urbana por falta de comprovação 
de que a área em tese seria uma APP, já que estaria provida de toda uma 
infraestrutura urbana, que é promovida pelo Poder Público. 
Abaixo se tem duas imagens de uma APP consolidada em zona urbana 
após uma noite chuvosa, bem como a sua localização na imagem de satélite. O local 
está situado às margens do Lago Jacareí na cidade de Fortaleza-CE. 
 
Fonte: LIMA, 2016 
 
41 
 
 
Fonte: Google (2016) 
 
Observando as fotos e a imagem de satélite vê-se que não houve 
preservação das várzeas de inundação do lago Jacareí para possíveis cheias no 
período chuvoso, o que acarreta na invasão do excedente hídrico nos imóveis e nas 
vias adjacentes, que se tornou, em décadas passadas, uma área consolidada pelo 
forte e agressivo mercado imobiliário nas terras alencarinas, que acaba provocando 
transtornos à população. 
 
 
 
 
 
 
 
42 
 
6 CONCLUSÃO 
 
Não se pretende aqui incentivar o uso indiscriminado e a ocupação das 
APPs para que se tornem consolidadas. Mas se a Lei, a partir da sua promulgação, 
ao invés de ter criado o termo área consolidada, fosse mais intervencionista e 
obrigasse a recuperar a área? Procuramos evidenciar que a cada caso se aplicam 
peculiaridades ambientais, econômicas e sociais. 
Neste estudo tem-se como objeto apenas o que se denominou áreas 
consolidadas pelo Código Florestal de 2012, mas, se quisermos imaginar o quão 
complexo é recuperar uma área status quo ante, basta imaginarmos o desastre 
ocorrido no ano de 2015 em Minas Gerais, que ficou mundialmente conhecido como 
Desastre de Mariana. Quanto tempo será necessário para recuperar todo aquele 
ecossistema? Quantos bilhões ou trilhões de Reais serão necessários? O quanto se 
perdeu em biodiversidade? Que impactos sociais foram causados e como recuperar, 
se é que seja possível? 
Para Coase “enquanto assinalar direitos de propriedade é essencial para 
a realização de transações de mercado, o resultado último (em termos de valor de 
maximização do valor da produção) independe de como a lei os assinala, desde que 
não existam custos de transação” (PINHEIRO e SADDI, 2005, p. 105). 
 
 
 
 
 
 
 
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
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Lumen Juris. 2005. 
 
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normas infralegais). Vade Mecum Saraiva. 19.ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 
2015. p. ISBN 978-85-02-61659-2. 
 
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Ampl. São Paulo: Saraiva, 2005. 
 
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https://www.google.com/earth/>. Acesso em: 04/06/2016. 
 
LIMA. Eliomar de. Blog do Eliomar [internet]. Fortaleza. Disponível em: 
<http://blog.opovo.com.br/blogdoeliomar/chove-em-61-dos-184-municipios-
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MOTTA, Ronaldo Seroa da. Economia ambiental. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. 
 
OLIVEIRA, Antônio Inagê de. Introdução à Legislação Ambiental Brasileira e 
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Salvador: Ed. Juspodivm. 2014. 
TRENNEPOHL, Curt. Infrações contra o meio ambiente: multas, sanções e 
processo administrativo: comentários ao Decreto n° 6.514, de 22 de julho de 2008. 2. 
Ed. Belo Horizonte: Fórum, 2009. 
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