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A antecipação de tutela e as eficácias das sentenças

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A ANTECIPAÇÃO DE TUTELA E AS EFICÁCIAS DAS SENTENÇAS 
Autores: 
MEZZOMO, Marcelo Colombelli 
 
A antecipação de tutela e as eficácias das sentenças 
Marcelo Colombelli Mezzomo 
Bacharel em Ciências Sociais e Jurídicas pela Universidade Federal de Santa Maria-RS. 
Assessor Jurídico do Ministério Público do Rio Grande do Sul. 
 Sumário: 1- Ainda uma questão controvertida. 2- Eficácias das sentenças e 
sua classificação. 3- Antecipação de tutela e eficácias. 4-Conclusões 
 1- Ainda uma questão controvertida 
Passados dez anos de vigência da antecipação de tutela em nosso direito, observamos que 
remanescem vivas algumas questões de suma importância. Dentre as questões identificáveis, 
podemos mencionar o relacionamento das tutelas cautelares e satisfativas no âmbito da 
tutela liminar[1] e a questão da antecipação de tutela em face das eficácias da sentença. 
A questão da antecipação de tutela frente às eficácias das sentenças surge na medida em 
que se questiona, na doutrina e na jurisprudência, acerca da possibilidade de antecipação em 
ações constitutivas e declaratórias. Diz-se, então, que a natureza destas eficácias é 
incompatível com a provisoriedade intrínseca da antecipação de tutela. 
De par disso, há a infindável discussão doutrinária sobre a classificação das ações, ou seja, se 
seria trinária ou quinária. A resolução desta questão na verdade é não chega a ser prejudicial 
ao cabimento da antecipação de tutela nas ações constitutivas e declaratórias, o que não 
invalida uma abordagem do tema. 
 
2- Eficácias das sentenças e sua classificação 
A eficácia da sentença é a aptidão da decisão de produzir efeitos fáticos e jurídicos, no 
mundo empírico e na ordem jurídica. A ciência dogmática do Direito conformou estes efeitos 
em gabaritos conforme suas características, daí surgindo uma classificação das ações a partir 
da eficácia. 
É preciso, no entanto, considerar, a partir dos estudos de Pontes de Miranda, 
principalmente, que as ações não apresentam eficácias singulares. Por outras palavras, as 
decisões em regra são híbridas, apresentando-se como feixes de eficácias onde prepondera 
uma. 
De fato, para condenar ou constituir, é preciso, em certa medida declarar, sendo 
absolutamente correta a ponderação de Ovídio Baptista da Silva quando afirma que “toda e 
qualquer ação, e pois, todas as sentenças proferidas em processo contencioso, ou em 
procedimento de jurisdição voluntária, contém eficácia declaratória em grau de intensidade 
mais ou menos acentuado.”[2] 
A declaração ou a constituição, por outro lado, sempre apresentam carga condenatória na 
verba honorária, quando cabível. Genericamente, as ações são classificadas de acordo com 
esta carga predominante. 
O extremo desse hibridismo é a teoria “quinária de constante quinze”, de Pontes de Miranda, 
segundo a qual em qualquer sentença estariam sempre presentes todas as eficácias, com 
valor de 1 a 5 conforme a intensidade, de modo que a soma seria sempre quinze. 
Mas tal “concepção, de inspiração pitagórica, que busca a redução ontológica da realidade 
social a uma simples expressão numérica, é artificiosa, sem dúvida, e destituída de 
fundamentação científica.”[3] 
O certo, portanto, é que como regra as sentenças sempre apresentam mais de uma eficácia, 
e não necessariamente todas elas, mormente se considerarmos a classificação quinária. 
A partir desta eficácia principal, que reflete a pretensão vertida na demanda, procedeu-se a 
estruturação de uma classificação das ações que pode conter três ou cinco categorias. 
As três categorias iniciais são: condenatória, declaratória e constitutiva. A estas, a 
classificação quinária acresce as executivas e mandamentais. 
No caso da sentença condenatória, à declaração da existência da obrigação se acresce uma 
sanção consistente na possibilidade de o “credor” valer-se do processo de execução forçada 
para ver cumprir a obrigação em caso de inadimplência, ou, “em outras palavras, a sentença 
condenatória atribui ao vencedor ‘um título executivo’, possibilitando-lhe recorrer ao 
processo de execução, caso o vencido não cumpra a prestação a que foi condenado”[4]. A 
execução, faz-se assim, em demanda autônoma, de modo que a sentença condenatória 
“prepara a execução, mas não executa imediatamente na mesma relação processual 
condenatória.”[5] 
O que impede que a sentença possa ser executada imediatamente, sem necessidade de nova 
demanda? Não seria muito mais prático e fácil que assim fosse? 
Sem dúvida. A exortação ao adimplemento da obrigação encetada na sentença condenatória 
raramente conduz o agora devedor ao cumprimento. A regra é o ajuizamento de nova 
demanda, vale dizer, mais uma petição, mais custas, mais uma atuação e registro etc... 
Ademais, os embargos à execução implicam a possibilidade de submissão da obrigação ao 
trâmite de um novo processo de conhecimento.[6] 
As razões para que assim seja são históricas e se fundam no dogma da cognição exauriente-
execução forçada, de ancestral tradição. 
Diz-se, comumente, que a sentença condenatória opera ex tunc. Data maxima venia, a 
criação do título executivo é ex nunc, embora tome por conteúdo obrigação preexistente. A 
eficácia condenatória, opera-se, assim, somente a partir do ponto em que há sentença de tal 
conteúdo.[7] 
A fórmula do dispositivo é ”condeno”. 
A sentença declaratória espelha a pretensão de esclarecimento sobre uma relação jurídica, 
ou seja, se ela existe ou não, e caso positivo, qual sua conformação. Somente por exceção se 
contempla a possibilidade de pedido de acertamento sobre fato (artigo 4º, inc. II, do CPC). 
Deste conceito, porém, não se pode extrair a ilação de que o Poder Judiciário possa 
transforma-se em consultor de teses jurídicas ou de interpretação de normas ou cláusulas 
contratuais, sendo, por isso, “condição para o ajuizamento da ação a necessidade de se ir a 
juízo pleitear a tutela jurisdicional, com força de coisa julgada, sobre a existência ou 
inexistência de relação jurídica ou sobre a autenticidade ou falsidade de documento.”[8] 
Qual o critério para medir-se o interesse processual nesta demanda em vista desta premissa? 
Ora, a declaração acerca de relação jurídica ou falsidade de documento deverá repercutir 
objetivamente sobre a esfera de direitos do indivíduo. Implica dizer que o efeito do 
acertamento deve transcender ao mero interesse individual na mera declaração, carecendo 
ser objetivamente aferível no caso concreto. 
Além de relações jurídicas, também, situações de estado podem ser objeto de declaração. 
Processualmente, o pedido declaratório poderá tomar, também, a feição de ação 
declaratória incidental (para o autor e réu, ex vi dos artigos 5º e 325 do CPC) ou de 
reconvenção (do réu, embasada no artigo 315 do CPC). 
Todas as ações podem ter um efeito reflexo como ações declaratórias negativas, o que se dá 
no julgamento de improcedência. 
A declaração opera, salvo regra específica em contrário, ex tunc. 
A fórmula do dispositivo é “declaro”. 
A sentença constitutiva diz com a criação, extinção ou modificação de relação jurídica ou 
estado. Tal qual as sentenças declaratórias, “exaurem a atividade jurisdicional, tornando 
impossível ou desnecessária qualquer atividade subseqüente tendente à realização de seu 
propósito.”[9] Operam, assim, exclusivamente na ordem jurídica e ex nunc. 
A fórmula é “decreto”. 
As sentenças mandamentais apresentam como característica diferenciadora a “de conter a 
respectiva demanda de que ela é conseqüência, uma virtualidade especial, para por si só e 
independentemente de uma futura demanda, realizar transformações no mundo exterior, no 
mundo dos fatos. E, ainda, diversamente do que acontece com as ações executivas, sejam 
estas execuções forçadas, por créditos, sejam ações executivas lato sensu, por consistir o 
resultado final da ação mandamental num mandadoque se caracteriza por sua estatalidade 
e não, como acontece com os atos de execução, que são atos privados da parte, praticados 
pelo juiz que, para tanto, se substitui à atividade dos particulares.”[10] 
Assim sendo, enquanto a condenação e a execução forçada sub-rogam o Estado na posição 
de credor, a sentença mandamental opera mutação no mundo empírico sem a nota da 
substituição do obrigado pelo Estado. 
A sentença mandamental opera ex nunc. 
A fórmula do dispositivo é “determino”. 
A sentença executiva é “aquela que contém, imanente em si mesma, como eficácia interna 
que lhe é própria, o poder de operar uma mudança no mundo exterior”[11], através de um 
ato executivo, o qual “é um ato jurisdicional de incursão no mundo dos fatos, de 
transformação da realidade, por meio do qual o juiz, substituindo-se ao condenado, realiza 
uma atividade essencial originariamente privada.”[12] 
Mas a sentença executiva prescinde de nova demanda de execução para operar seus efeitos, 
o que se dá no âmbito do mesmo processo. 
O efeito é ex nunc, valendo o mesmo raciocínio expedido para a sentença condenatória. 
A fórmula é “determino”. 
Feita esta breve digressão acerca das eficácias, surge a questão: as eficácias são somente 
três, sendo as sentenças mandamentais e executivas penas espécies do gênero 
condenatório? A doutrina é notoriamente dividida a respeito. Humberto Theodoro Júnior, 
por exemplo, manifesta-se favorável à classificação trinária nos seguintes termos: 
 
Há quem advogue a existência, também, de sentenças executivas e 
mandamentais, que seriam diferentes das condenatórias porque não 
preparariam a execução futura a ser realizada em outra relação processual, 
mas importariam comandos a serem cumpridos dentro do mesmo processo 
em que a sentença foi proferida, dispensando, dessa maneira, a actio iudicati 
(v.g. ações possessórias, de despejo, mandado de segurança etc.). Nas 
mandamentais, outrossim, o desrespeito à ordem judicial, além das medidas 
executivas usuais, acarretaria responsabilidade penal para a parte que não a 
cumprisse voluntariamente. Essas peculiaridades, a meu ver, não são 
suficientes para criar sentenças essencialmente diversas, no plano processual, 
das três categorias clássicas. Tanto as que se dizem executivas como as 
mandamentais realizam a essência das condenatórias, isto é, declaram a 
situação jurídicados litigantes e ordenam uma prestação de uma parte em 
favor da outra. A forma de realizar processualmente esta prestação, isto é, de 
executá-la, é que diverge. A diferença reside, pois, na execução e respectivo 
procedimento. Sendo assim, não há razão para atribuir uma natureza 
diferente a tais sentenças. O procedimento em que a sentença se profere é 
que foge dos padrões comuns. Esse sim deve ser arrolado entre os especiais, 
pelo fato de permitir que numa só relação processual se reúnam os atos do 
processo de conhecimento e os do processo de execução. O procedimento é 
que merece a classificação de executivo lato sensu ou mandamental.[13] 
Tal entendimento, que encontra acolhida de outros insignes processualistas, não se afigura, 
data venia, o que conduz a melhores resultados. É que a eficácia mandamental apresenta 
características nítidas que a diferenciam, ontologicamente da condenação. A condenação 
está intimamente relacionada ao conteúdo obrigacional, e baseia-se no primado da sub-
rogação no processo de execução. A mandamentalidade não comporta sub-rogação. Dir-se-á, 
então, que há obrigações nas quais a sub-rogação do Estado é inviável, como é o caso das 
personalíssimas. 
Ora, ainda neste caso há a possibilidade de execução indireta pela utilização, por exemplo 
das astreintes. Diversa é a situação das ações mandamentais, onde a execução por sub-
rogação não é cabível nem mesmo em tese, seja ela direta ou indireta. Há uma ordem e não 
meramente uma exortação sancionada. 
Já no que diz respeito às demandas executivas lato sensu, embora muito se aproximem da 
demanda condenatória em seu conteúdo, a classificação de uma eficácia executiva distinta 
da condenatória de par com não trazer prejuízo algum, colabora efetivamente para uma 
melhor sistematização das eficácias. 
A valia de uma determinada forma de estruturação e classificação das eficácias deve ser 
medida pelos resultados concretos que é apta a produzir, e a classificação quinária apresenta 
melhores resultados de sistematização por ter maior precisão em diferenciar as diversas 
eficácias. 
Desta forma, a adoção da classificação trinária implica em termos de fazer um esforço de 
adaptação e sem melhoria nos resultados, ao passo que a classificação quinária não só não 
traz prejuízo algum como, ainda, é mais precisa em identificar as diferenças entre as 
eficácias. A respeito desta vantagem, manifesta-se Eduardo Talamini, verbis: 
Não se combate o puro e simples uso do termo ‘condenatório’ para a 
denominação de toda e qualquer tutela com ‘repercussão física’. Tenta-se, 
isso sim, afastar a idéia de que a estrutura condenatória, tal como 
tradicionalmente concebida (mera sub-rogação; ausência de ordens ao 
executado; necessidade de outro processo) seria suficidente para todas ‘as 
situações carentes de tutela’ e conseqüentemente, nas situações em que 
mecanismo sub-rogatórios não tivessem como evitar ou interromper a 
violação do direito, bastaria o mero ressarcimento pecuniário[14]. 
 
3- Antecipação de tutela e eficácias 
A problemática da antecipação de tutela no que se refere às ações declaratórias e 
constitutivas é identificada como uma da mais graves oriundas das reformas processuais 
encetadas no processo civil brasileiro.[15] 
A polêmica surge pelo fato da premissa que de “a antecipação de efeitos da tutela somente 
contribuirá para a efetividade do processo quando, pela sua natureza, se tratar de efeitos (a) 
que provoquem mudanças ou (b) que impeçam mudanças mo plano da realidade fática, ou 
seja, quando a tutela comportar, de alguma forma, execução.”[16] 
A propósito, Ovídio Baptista da Silva, após asseverar que os efeitos antecipados devem ser 
executivos ou mandamentais, explica o porquê desta conclusão, afirmando que: “A 
explicação é simples. Os outros possíveis efeitos da sentença, sejam eles declaratórios, 
constitutivos ou condenatórios, são, enquanto tais, incompatíveis com a idéia de antecipação 
provisórias”[17]. Segundo o processualista gaúcho, a antecipação seria, nestes casos, inócua 
sob o ponto de vista processual. 
Quanto às ações declaratórias, especificamente, lembra João Batista Lopes que “é princípio 
lógico que uma coisa não pode ser e deixar de ser ao mesmo tempo”[18], de modo que “a 
eficácia declaratória (juízo de segurança) ou certeza (na linha da doutrina majoritária) é 
contemporânea ao trânsito em julgado, não podendo, pois, ser antecipada. A declaração, 
para conferir segurança ou certeza, não pode ser provisória, revogável ao longo do 
procedimento.”[19] 
Mas é preciso que façamos uma indispensável distinção entre ações declaratórias e 
constitutivas e eficácias constitutiva e declaratória. 
De fato, a incompatibilidade ontológica é entre as eficácias declaratória e constitutiva e não 
entre as ações declaratórias e constitutivas. A partir do ponto em que estabelecemos esta 
dicotomia, verificamos que eficácias executivas e mandamentais eventualmente presentes 
nas ações declaratórias e constitutivas podem ser antecipadas, pois tais ações assim se 
caracterizam porque a sentença que lhes acolher terá eficácia preponderante declaratória ou 
constitutiva, o que não inviabiliza que outras eficácias (antecipáveis) estejam presentes. 
Desta forma, não há impossibilidade de antecipação nas ações declaratórias e constitutivas, 
desde que a eficácia correspondente à antecipação não seja declaratória ou constitutiva. 
Tem-se, então, que no caso de uma ação declaratória, “não pode o juiz declararexistente 
provisoriamenteuma relação jurídica, conquanto lhe seja lícito antecipar, em favor do autor, 
alguns efeitos práticos decorrentes do pedido de declaração.”[20] 
Athos Gusmão Carneiro, após mencionar exaustivamente as posições doutrinárias acerca da 
matéria, assevera, quanto às ações declaratórias, que “não pode ser adiantado o elemento 
nuclear da tutela, ou seja, a certeza jurídica, que não se compadece com a ‘provisoriedade’ 
da AT; todavia, são eminentemente passíveis de adiantamento os efeitos que decorrerão do 
‘preceito’ contido na (provável) futura sentença de procedência. Assim, o autor postula ação 
de declaração da nulidade do ato que o excluiu de uma sociedade recreativa, e pode obter 
em AT a permissão para continuar freqüentando provisoriamente as dependências sociais, 
com as prerrogativas que normalmente cabem aos associados.”[21] 
Diverso não é o escólio de Nelson Nery Júnior, que após grafar que “em toda a ação de 
conhecimento, em tese, é admissível a antecipação de tutela, seja ação declaratória, 
constitutiva (positiva ou negativa), condenatória, mandamental etc..”, afirma: 
Definida acima a tutela antecipatória como medida executiva em sentido lato, 
poder-se-ia pensar, à primeira vista, ser ela incabível nas ações declaratórias. 
Entretanto, tendo em vista que o adiantamento nem sempre respeita ao 
mérito considerado em seu sentido estrito, pode ser que os efeitosde uma 
sentença declaratória comporte execução, tendo cabimento o adiantamento 
desses efeitos. É o caso da ação declaratória de inexistência de relação 
jurídica, tendo como causa de pedir o pagamento de dívida. O autor pode 
pedir, a título de antecipação de tutela, a sustação liminar do protesto da 
cambial já paga. O bem da vida por ele pretendida é a declaração judicial de 
inexistência da relação jurídica (sentença declaratória), mas o efeito 
pretendido é o de obstaculizar o protesto e a cobrança do título já pago 
(execução lato sensu).”[22] 
 
Teori Albino Zavascki, escudando-se na doutrina de Pontes de Miranda, assevera: 
 
Realmente, a carga de declaração – que consta de todas as sentenças e que é 
preponderante nas ações declaratórias e bem significativa nas ações 
constitutivas – tem eficácia de preceito. Daí dizer-se que a ação declaratória é 
uma ação de preceito, e que a sentençanela proferida é uma sentença com 
efeito de preceito. Preceito é norma, é prescrição, é regra de conduta, 
obrigatória a seus destinatários. Como tal tema eficácia (positiva) de 
estabelecer certeza sobre o conteúdo da relação jurídica litigiosa, do que 
decorrem conseqüências práticas, refletidas no plano do comportamento das 
partes a quem foi dada. Uma destas conseqüências é a de impedir, de proibir, 
de vedar, futuros atos ou comportamentos do réu contrários ou 
incompatíveis com o conteúdo do preceito emitido. É uma espécie de eficácia 
negativa, de cunho marcadamente inibitório (...) Ora, esta eficácia negativa é, 
certamente, passível de antecipação, o que se dá, necessariamente, mediante 
ordens de não fazer contra o preceito, ou seja, ordens de abstenção, de 
sustação, de suspensão, de atos ou comportamentos. Isto explica o que para 
muitos é um contra-senso: a concessão de medias ‘cautelares’ em ações 
declaratórias, e explica tambémcertas medidas ‘cautelares’ em ações 
constitutivas. Na verdade, tais medias não têm natureza cautelar, mas sim 
antecipatória.[23] 
Raciocínio idêntico vale para as ações constitutivas, onde “o elemento nuclear do pedido 
poderá ser adiantado se compatível com a provisoriedade ínsita ao AT; assim, não cabe 
adiantar a alteração de estado civil ou a anulação de um contrato, mas não repugna ao 
sistema a constituição provisória de uma servidão de trânsito.”[24] 
 
4- Conclusões 
É fato praticamente incontroverso na doutrina que as sentenças apresentam sempre pelo 
menos mais de uma eficácia. É em vista da eficácia preponderante que deve ser classificada a 
demanda quanto a sua natureza. 
Divergência há, ainda, quanto as classificações das eficácias em trinária ou quinária. Na 
primeira hipótese, as eficácias mandamental e executiva lato sensu são englobadas pela 
condenatória. 
Particularmente acredito que a classificação quinária evita que tenhamos que condensar sob 
a fórmula da condenação elementos heterogêneos, além de possibilitar uma classificação 
mais precisa funcionalmente das eficácias sentenciais, com plena observância do rigor 
científico. 
Observando o cabimento da antecipação de tutela nas ações declaratórias e constitutivas, 
conclui-se que devemos inicialmente estabelecer a distinção entre eficácias constitutivas e 
declaratórias e as respectivas ações, assim caracterizadas pela preponderância destas 
eficácias. 
Há incompatibilidade na certeza jurídica requerida pelas eficácias declaratórias e 
constitutivas com a provisoriedade imanente à antecipação. Istocontudo, não inviabiliza a 
antecipação de outras eficácias presentes nas ações desta natureza. 
Podem igualmente ser antecipados efeitos que representem irradiação da denominada 
“eficácia negativa” presente nas ações declaratórias. 
A conclusão, assim, encaminha-se para a possibilidade de tutela nas ações declaratórias e 
constitutivas, observadas as limitações lógicas decorrentes de sua natureza e da necessidade 
de certeza jurídica. 
 
[1]Matéria já tratada em dois textos de minha autoria: “Cautelares Satisfativas” e 
“Fungibilidade cautela-antecipação e o § 7º do artigo 273 do CPC. Reflexões e 
Condicionantes”. 
[2]Curso de Processo Civil. Sérgio Antônio Fabris Editor, 3a ed., 1996, p. 135. O Autor ainda 
complementa que: “O juiz não poderá, por exemplo, condenar o réu a indenizar sem antes, 
na própria sentença, reconhecer que o autor tem direito de ser indenizado, tendo em vista a 
existência de alguma norma legal que faz o réu responsável, perante ele, por indenização. A 
afirmação de tal direito, de onde o magistrado haverá de extrair a conseqüência 
condenatória –geralmente expressa na sentença com a fórmula ‘julgo procedente a ação’- é 
um juízo sobre a existência de um preceito legal que incidiu na espécie sob julgamento, e 
que ele aplica como pressuposto para a condenação”(Op. et loc. cit.). 
[3]SILVA, Ovídio Baptista da. Curso de Processo Civil. Sérgio Antônio Fabris Editor, 3a ed., 
1996, p. 136. 
[4]THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, Editora Forense, Rio de 
Janeiro, 39a ed. 1999, p. 469. 
[5]SILVA, Ovídio Baptista da. Curso de Processo Civil. cit. p. 143. A partir deste pressuposto, 
assertoa o processualista gaúcho: “A sentença condenatória, portanto, fica demarcada por 
estas duas fronteiras, no que diz respeito à eficácia executiva: ela há de conter alguma dose 
de eficácia executiva em quantidade capaz de possibilitar a subseqüente demandade 
execução de sentença; mas não deve tê-la com tal intensidade que a execução –ao invés de 
ser diferida para uma demanda autônoma posterior- desde logo se faça, na mesma relação 
processual, como ato próprio e inerente à demanda condenatória. Noutras palavras deve 
haver uma dose de eficácia executiva nem tão rarefeita que seja insuficiente para a criação 
do ‘título executivo’, que irá fundamentar a segunda ação executória; e nem tão intensa que 
a atividade executória faça parte da demanda condenatória, tornando-se possível realizá-la 
no ’processo de conhecimento’” (Op. et loc. cit). 
[6]A propósito, em meu “A Antecipação da Tutela no Processo de execução e a Supressão do 
Efeito Suspensivo dos Embargos”, já defendi a possibilidade de que possa o magistrado à 
instâncias do exeqüente e de forma motivada, subtrair dos embargos o efeito suspensivo, 
pois é fato notório que a maioria do embargos ostenta nítido caráter protelatório a fim de 
conduzir o autor-exequënte à exaustão. 
[7]Não podemos confundir a eficácia condenatória com seus fundamentos. Oconteúdo 
obrigacional preexiste, mas a sentença é que constitui título, definitivo ou provisório. 
[8]NERY JÚNIOR, Nelson; e NERY, Rosa Maria Andrade. Código de Processo Civil comentado e 
legislação processual civil extravagante em vigor, 4a ed., 1999, p. 379. 
[9]SILVA, Ovídio Baptista da. Curso de Processo Civil. cit., p. 151. 
[10]SILVA, Ovídio Baptista. Sentença e Coisa Julgada. Sérgio Antônio Fabris Editor, 3a ed. 
1995, p. 87. A propósito, menciona o citado autor: “Ora, enquanto o ato executivo é, na 
essência, ato da parte praticado pelo juiz em seu lugar, portanto, ato essencialmente 
privado, as ordens e comandos emanados pelo magistrado de que resultam também 
transformações da realidade fática, provém de uma função tipicamente estatal, o que 
significa dizer que, ainda que se possa conceber ato executivo fora e antes do Estado, os 
provimentos daquela outra espécie pressupõe, por definição, a existência do Estado. Ao 
contrário da afirmação de Chiovenda, de que toda a sentença, historicamente, surgiu como 
ato preparatório e legitimador da execução forçada, a precedência histórica é do ato 
executivo puro, a execução privada pelo credor, depois jurisdicionalizada. As ações, 
primitivamente, foram ações dos réus contra credores, para que o juiz, como na moderna 
ação de embargos do executado, os livrasse da constrição arbitrária praticada pelo credor” 
(Op. cit. p. 80). 
[11]Op. cit. p. 101. 
[12]Idem ibidem. 
[13]Curso de Direito Processual Civil cit., p. 470. 
[14]Tutelas Mandamental e Executiva lato sensu e a Antecipação de Tutela ex vi do artigo 
461, § 3º do CPC, in Aspectos Polêmicos da Antecipação de Tutela, coordenação de Tereza 
Arruda Alvim Wambier, Editora Revista dos Tribunais, 1997, p. 151. 
[15]É o que lembra Luiz Guilherme Marinoni. A Tutela Antecipatória nas Ações Declaratória e 
Constitutiva, in Aspectos Polêmicos da Antecipação de Tutela, coordenação de Tereza Arruda 
Alvim Wambier, Editora Revista dos Tribunais, 1997, p. 268. 
[16]ZAVASCKI, Teori Albino. Antecipação da Tutela. Editora Saraiva, 3a edição, 2000, p. 83. 
Para o autor, execução, na hipótese, deve ser entendida ”em sentido mais amplo possível: 
pela via executiva lato sensu, pela via mandamental ou pela ação de execução propriamente 
dita” (Op. et loc. cit.). 
[17]Curso de Processo Civil. cit. p. 114. 
[18]A Tutela Antecipada no Processo Civil Brasileiro. Editora Saraiva, 200, p. 46. 
[19]Op. et loc. cit. 
[20]LOPES, João Batista. A Tutela Antecipada no Processo Civil Brasileiro. Editora Saraiva, 
200, p. 46. 
[21]Da Antecipação de Tutela. Editora Forense, 5a ed. 2004, p. 48. 
[22]Código de Processo Civil Comentado e Legislação Processual Civilextravagante em vigor. 
Editora RT, 4a ed., 1999, p. 750. 
[23]Antecipação da Tutela cit. p. 84-85. 
[24]CARNEIRO, Athos Gusmão. Da Antecipação de Tutela cit. p. 49.

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