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Teoria da Personalidade

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11
o QUE É PERSONALIDADE?
Robert R. McCrae
INTRODUÇÃO
Nalinguageminformalnorte-americana,
dizemos,àsvezes,queum indivíduocomca-
racterísticassurpreendenteseincomunsé"uma
personalidade".O violoncelista,compositore
educadorHeitorVilla-Loboscertamenteseen-
quadrarianessadescrição(Tarasti,1995).O
violonistaJulianBreamdissequeeleera"maior
doqueavida,bastanteextraordinário.Elenão
pareciasercompositor.Usavacamisasxadrez
emcoresgritantes,fumavacharutoe deixava
sempreo rádioligado,ouvindonotícias,músi-
caleveouqualqueroutracoisa.Villa-Lobosnão
erarefinadointelectualmente,mastinhaum
grandecoração"(ver http://www.rdpl.red-
deer.ab.ca/villa/biog.html#Note4).Emoutros
sitesna intemeteleé caracterizadocomoal-
guémde coraçãoaberto,charmoso,brigão,
apaixonado,extrovertido,aventureiroe dado
ao exagero.Suaobramostraclaramenteque
ele era criativoe enérgico,e a forçade sua
personalidadeaindasefazsentirnoBrasil.
Diantedesseexemplotão contundente,
ficadifícilcrerque,nadécadade1970,amaio-
ria dospsicólogosacreditavaqueostraçosde
personalidadeeramficções- ilusõesquetínha-
mosacercadenósmesmosedeoutrosànossa
volta.UmacríticainfluenteporpartedeWalter
Mischel(1968)haviaapontadoo fatodeque
aspessoasnãoagemde formaconstanteem
todasassituações,equeostestesdepersona-
lidadenão eramfortesfatorespreditivosde
comportamentoemexperimentosde labora-
tório.Ospsicólogospassarama acreditarque
nossoscomportamentoseramtotalmentecon-
troladospeloqueaprendêramosemexperiên-
ciaspassadaseporquaisquersituaçõesemque
estivéssemosinseridosno momento.A idéia
dequeportrásdenossasformasdeagiresta-
vaumanaturezainternapermanenteeracha-
madadeerro deatribuiçãofundamental (Ross,
1977).
O efeitodessascríticassobreo pequeno
grupodepesquisadoresquepermaneciacom-
prometidocoma psicologiadapersonalidade
tradicionalfoi odeforçarumolharmuitorígi-
dosobreabaseempÍricae conceitualdostra-
ços.ComosepodesaberseVilla-Loboserareal-
menteaventureiro?Seostraçoslevavamaum
comportamentoconstante,comoelepoderia
ser charmosoe brigãoa um só tempo?Seu
comportamentocomoumpequenochorãolem-
bravaodocompositoremaestromundialmen-
te famoso?
Daperspectivadapsicologiadapersona-
lidadecontemporânea,podemosfazerinferên-
ciasinformadassobreasrespostasaessasper-
guntas.Comomuitosobservadoresindepen-
dentesconvergiramnojulgamentodequeele
eraaventureiro,éprovávelqueeleofosse,uma
atribuiçãoqueévalidadadeformaconsensual
(McCrae,1982).Comoaspessoassecaracte-
rizampor muitostraços,quevêmà tonaem
diferentessituações,elepodetersidocharmoso
ebrigãoaomesmotempo.E comoosestudos
204 CARMEN FlORES·MENDOZA, ROBERTOCOLOM & COlS,
longitudinaisdemonstraramqueasdiferenças
individuaisemtermosdetraçosdepersonali-
dade são muito estáveis(McCrae e Costa,
2003),é provávelqueo jovemVilla-Lobosse
assemelhasseaovelhoVilla-Lobos.
Tendoestabelecidoarealidadeeaimpor-
tânciadostraçosdepersonalidade,ospesqui-
sadorescontemporâneoscomeçarama tratar
dequestõesmuitomaisfundamentais:qualé
a origemdostraços?A criaçãodeVilla-Lobos
comofilho deum intelectuale escritorgerou
seuamorpelasartes,ou elejá nasceuassim?
Quaisasconseqüênciasdostraços?A música
deVilla-Lobos,suainclinaçãoporviajare sua
dedicaçãoao Brasilrefletemmesmosuaper-
sonalidade?Quala relaçãoentreostraçose a
cultura?O idiomamusicaldeVilla-Lobosfoi
inegavelmentemoldadopelossonsdo Brasil,
massuamúsicateriasidotão"viril,audaciosa
e impetuosa"(M. de Andrade, citado em
Tarasti,1995,p. 53) seeletivessecrescidona
ChinaounoMarrocos?
Estudosdecasonosquaisasvidasdein-
divíduos- reaisou fictícios- sãoestudadas
emprofundidadeformamumapequenaparte
daatualpesquisaempers10nalidadeesãomui-
to desacreditadosperantealgumaspessoas
(Goldberg,1990),massãoúteisparailustrar
os princípiosgeraisderivadosdosestudosde
grupos.A maioriadosartigosdepublicações
científicasrelatapesquisassobreasrespostas
deamostrasautônomas,reduzidasasériesde
números que são submetidas a análise
estatística.Análisefatorial,modeloda curva
de crescimentoe análisepelateoriade res-
postaaoitemsãoferramentasestatísticasso-
fisticadasquenosajudama inferirprincípios
gerais,masnuncasedeveperderdevistaque
o objetivoúltimoda psicologiadapersonali-
dadeé a aplicaçãodessesprincípiosparaen-
tendervidashumanas.
PSICOLOGIAS DA PERSONALIDADE
Estevolumesededicaàsdiferençasindi-
viduaise trataa psicologiadapersonalidade
comoumadasmaioresaplicaçõesdessaabor-
dagem.Os manuaisdedicadosexclusivamen-
te à personalidade- pelomenosnosEstados
Unidos- geralmentetratamas diferençasin-
dividuaisnostraçoscomoapenasumaentre
diversasabordagensteóricassobrepersonali-
dade.Teoriaspsicodinâmicas,daaprendizagem
ehumanistascostumamrecebermaisatenção
do queasteoriasdostraços.Um levantamen-
todeoitolivrosdessetipo(MayereCarlsmith,
1997)concluiuqueFreuderacitadoem856
páginas,ohumanistaCarlRogerserao segun-
do(311citações)eo teóricodaaprendizagem
socialAlbertBanduravinhaemterceiro(277).
Apenastrês psicólogosdos traços- AUpot,
Eysencke CateU- estavamentreos20princi-
paisteóricos.
Diferentementedasteorias,apesquisaso-
brepersonalidadeé dominadapelapsicologia.
dos traços.Por exemplo,o Volume 84 do
Joumal ofPersonalityandSocialPsychologyUa-
neiroa junho de 2003),tinha36 artigosna
partededicadaaprocessosdapersonalidadee
diferençasindividuais,dosquais29 incluíam
medidasdos traços.Em parte,issorefleteo
fatode queos métodosassociadosà psicolo-
giadostraços- escalasdeauto-relatoedeava-
liaçãopor observadores- demonstraramter
umabasecientíficamuitomaissólidado que
osmétodosprojetivosprivilegiadospelosteó-
ricosdapsicodinâmica.Porém,emmuitosas-
pectos,a psicologiados traçosnão é apenas
uma alternativa,maspodeser tambémum
componentedeoutrasabordagensteóricas.A
teoriadovínculoestábaseadaemnoçõespsica-
nalíticas,masovínculoadultoéavaliadocomo
umtraço.A aberturaàexperiênciaéumcons-
tructo central à abordagemhumanistade
Rogers,mastambéméumadasdimensõesbá-
sicasdostraços.
Maddi (1980)afirmaqueas teoriasda
personalidadetêmdoiscomponentes:umcen-
tral,queexplicacomoapersonalidadefuncio-
nano indivíduo,eumperiférico,queespecifi-
cacomoasvariaçõesnonúcleosãoexpressas
emdiferençasindividuais.Porexemplo,segun-
doapsicanálise,todostêmumid eumego,os
quaisestãoinevitavelmenteemconflito- isso
é o núcleoda personalidade.Entretanto,em
funçãodeconstituição,deexperiênciasinfantis
oudetratamentopsicanalítico,algumaspessoas
têmegosmaisbempreparadosparalidarcom
o id, havendo,assim,diferençasemtermosde
força doego.Maisumavez,ospsicólogoshuma-
nistaspodemafirmarquetodasaspessoaslu-
tamparaserealizar,masalgumassãomaisbem
sucedidasdoqueoutras.A motivaçãodeauto-
realizaçãoéonúcleodapersonalidade,aopas-
soqueasdiferençasindividuaisemtermosde
criatividadesãoperiféricas.
Quasetodososmodelosacercadaspes-
soaspermitemvariaçõesno estilode sucesso
oudefuncionamento.Horneyconsideravaque
todostemosde lidar comconflitosinternos,
massepodemadotarrotasalternativaspara
resolvê-Ios,aproximando-nos,indocontra,ou
nos afastandode outros(Horney,1945).Os
teóricosdaaprendizagemsocialacreditamque
nósfuncionamoscombasenasexpectativas,a
partirdenossossucessosoufracassospassados,
e, dessaforma,diferimosemtermosdenosso
lócusdecontrole.Ao longodedécadas,ospsi-
cólogosdapersonalidadepropuseramcentenas,
talvezmilhares,devariáveisdediferençasindi-
viduaisqueexpressamdiferençasnodesenvol-
vimentoounaoperaçãodeprocessosdeperso-
nalidade.Muitasvezes,desenvolveram-sees-
calasparamediressestraços,queassimpude-
ramserusadosparaavaliara teoria.
A vantagemdessaabordageméadeque
ostraçossãoentendidosemtermosdemeca-
nismospsicológicos,osquais,emprincípio,po-
deriamlevara intervenções.Por exemplo,se
quisermosestimularumlócusinternodecon-
trole,a teoriasugerequedeveríamospropor-
cionarexperiênciasnasquaisosesforçospes-
soaisdo indivíduorepetidamentelevamao
sucesso.Sequisermosmelhoraraforçadoego,
devemostrazerà tonaconflitosinconscientes.
Os traçosderivadosdasteoriasdinâmicasda
personalidadetêmbaseteóricaeumcaminhopossívelparaa mudança.
Noentanto,essaabordagemtambémtem
problemas.Paracomeçar,váriasteoriasdife-
rentespodemapresentarexplicaçõesconfli-
tantesparaa mesmavariáveldediferençain-
dividual.Quasetodasasteoriasdapersonali-
dadetentamexplicarporquealgumaspessoas
sãocronicamenteansiosaseoutrasnão,ege-
ralmentenãoficaclaroqualexplicaçãoteóri-
caestácorreta(seé quealgumao está).Em
segundolugar,essaabordagemnãoapresenta
maneirasde garantirquetodasasdiferenças
INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA DAS DIFERENÇAS INDIVIDUAIS 205
individuaisimportantessejamlevadasemcon-
sideração.Pelomenosna maneiraoperacio-
nalizadapelo Myers-BriggsType Indicator
(MBTI;MyerseMcCaulley,1985),a teoriade
Jungacercadostipospsicológicosnãoavaliaa
ansiedade,umavariáveldegrandeimportân-
cia paraa maioriados teóricos.Em terceiro
lugar,a variedadede teoriasconflitantesfaz
comquenãohajaformadeestudarostraços
sistematicamente.Diferentessistemaspoderão
terconjuntosdetraçossemelhantesoudistin-
tos,oupoderãochamarosmesmostraçospor
nomesdiferenciados,ou traçosdistintospelos
mesmosnomes.Em lugarde umapsicologia
dapersonalidade,temosdúziasdepsicologias
dapersonalidadeimpossíveisdesecomparar.
(
A ABORDAGEM EMPíRICA DOS TRAÇOS
Emlugardecomeçarcomumateoriado
núcleodapersonalidadee inferirvariáveisda
diferençaindividualquedevemsurgirseateo-
riaestivercorreta,épossívelcomeçarsimples-
menteavaliandotraçosdepersonalidade.Se
fizermosum esforçosistemáticoparacatalo-
gartodosostraçosdepersonalidade,podemos
criarumataxonomiacapazde sistematizara
pesquisa.Por definição,umataxonomiados
traçosabrangenteteriadeincluirtodasasva-
riáveispreditaspelasteorias- seasteoriases-
tivessemcorretas.Sendoassim,teríamosuma
baseparaagregarresultadosdepesquisaque
seoriginaramemdiferentescontextosteóricos.
Asgeneralizaçõesresultantespoderão,portan-
to,serusadascomobaseparaquesefaçaasele-
çãoentreasteoriasouparaquesecriemnovas.
O problemaresideemseencontraruma
formadelocalizar"todosostraçosdepersona-
lidade"e emtercertezadequenenhumtraço
importantetenhasidoomitido.Pesquisadores
queutilizamo métodopsicoléxico,entreeles
Allporte Odbert(1936)e Cattel(1946),afir-
maramquequalquertraçorealmentesignifi-
cativoteriasidonotadoecodificadonalingua-
gemnatural.Bastaextrairtermosrelativosaos
traçosdeumdicionárioparaquesetenhauma
longalista.Ao combinarsinônimoseobservar
as correlaçõesentreagrupamentostraço-ter-
mo, os pesquisadoresacabarampor concluir
206 CARMEN FlORES-MENDOZA, ROBERTOCOlOM & COlS.
queexistemcincofatoresou dimensõesam-
plos nos termossobretraçosna linguagem
natural(Tupese Christal,1961/1992).Estu-
dos posterioresconfirmaramtal avaliação
(Goldberg,1990)paraalínguainglesa,embo-
ranãoestejaclaroseésempreesseocasoquan-
dosetratadeoutraslínguas(Saucier,Hampson
e Goldberg,2000).Essesfatoresléxicostêm
sidochamadosdeos"CincoGrandes"ecostu-
mamserrotuladosde neuroticismo(N), ex-
troversão(E),abertura(A), cordialidade(C)e
responsabilidade(R).*
Duranteanos,ospsicólogosprestaramre-
lativamentepoucaatençãoaoscincograndes
fatoresléxicos,preferindopermanecercomum
dossistemasconcorrentesdeGuilford,Eysenck
e Cattell,ou utilizandovariáveisqueutilizam
umtraçoúnicocomolócusdecontrole(Rotter,
1966)ou automonitoração(Snyder,1974).
Contudo,na décadade 1980,algunspesqui-
sadoresjá haviamvoltadoao problemadese
construirumataxonomiaadequadadostraços,
eumasériedeestudosdemonstrouquequase
todosos traçospropostospor diferentesteo-
riasdapersonalidadeestavamrelacionadosa
um ou maisdoscincograndesfatoresléxicos
(McCrae,1989).Porexemplo,ateoriadostipos
psicológicosdeJung (1923/1971)levouaode-
senvolvimentodoMBTI,queavaliaintroversão/
extroversão,sensação/intuição,pensamento/
sentimentoe julgamento/percepção.Estudos
empíricosdemonstraramqueestescorrespon-
dema quatrodoscincofatores:E, C, A e R,
respectivamente(McCraee Costa,1989).
A convergênciadasabordagensteóricae
léxicalevouaosurgimentodomodelodoscin-
co fatores(FFM) da personalidade(Digman,
1990),um modelovoltadoa incluirtraçosde
* N.deR.T.NoBrasil,doisdosCincoGrandesFato-
resreceberamdiferentestraduções.Sãoeles:';A.grea-
bleness"e "Conscientiouness".EnquantoHutz,
Nunes,Silveiraecolaboradores(1998)traduziram
respectivamentecomo"Socialização"e"Escrupulo-
sidade",naobradePervineJohn(2004)traduziu-
secomo';A.mabilidade"e"Consciência".Napresenta
obra,escolheu-seostermos"Cordialidade"e"Res-
ponsabilidade"tornando,portanto,o acrônimo
NACER.Umaestratégiaespanholaqueservetam-
bémparao idiomaportuguêse quenãoalterao
significadooriginaldosconstructos.
ambas.O FFM proporcionouumataxonomia
naqualpraticamentetodosostraçosreconhe-
cidospelaspessoasleigasouporpsicólogospo-
demser classificadose levouao desenvolvi-
mentodenovasmedidasprojetadasespecifi-
camenteparaavaliaros fatores(De Raade
Perugini,2002),dasquaisamaisutilizadaéo
Inventáriode PersonalidadeNEO Revisado
(NEO-PI-R;CostaeMcCrae,1992).Combase
emumarevisãobibliográfica,CostaeMcCrae
selecionaramseistraços(oufacetas)parare-
presentarcadaumdoscincofatorese redigi-
ramseisitensparaavaliarcadafaceta.ONEO-
PI-R foiusadoemmaisde1.500estudose tra-
duzidoparamaisde 40 idiomas,proporcio-
nandoumariquezade informaçõessobreas
origens,o desenvolvimentoe o funcionamen-
to dostraçosdepersonalidade.
DOMíNIOS E FACETAS
O FFM éummodelohierárquicodeper-
sonalidade,geralmentemedidoemdoisníveis.
No nívelinferior,estãotraçosmuitoestreitose
bastanteespecíficos;nonívelsuperior,oscin-
co fatoresamplos.Quando se discutemos
constructosdapsicologiadostraços,éútil co-
meçarpelonívelsuperior,paraseterumavi-
sãogeraldo tópico.Damesmaforma,quando
seavaliaumindivíduo,aprimeirainformação
quesequeré a posiçãoemrelaçãoaoscinco
fatores.
O neuroticismosereferea um grupode
traçosrelacionadosa emoçõesnegativase a
suasconseqüências.Os indivíduosde N alto
sãodadosaexperimentarpreocupação,irrita-
ção,melancoliaevergonha.Têmcrençasirra-
cionais,tais comoa noçãoperfeccionistade
quedevemfazertudocorretamente.Também
têmbaixocontrolede seusimpulsos,pois a
frustraçãodeseusdesejososperturbamuito.
IndivíduosdeN baixosecaracterizamporuma
ausênciadessascaracterísticas,tendema ser
calmos,racionaise autocontrolados.Enfren-
tamdeformaeficazoestresse.Otermo"neuro-
ticismo"foi cunhadopararefletirofatodeque
indivíduosdiagnosticadoscom transtornos
neuróticosgeralmentetêmescorealto nessa
dimensão(Eysenck,1947),masmuitosindiví-
duossemqualquertranstornopsiquiátricotam-
bémo têm.Alguns pesquisadorespreferem
chamaressefatorde"instabilidadeemocional".
A "extroversão"éumtermocientíficoque
entrouna linguagempopular,utilizadocorno
sinônimode"sociabilidade".Ospsicólogoshá
muitodebatema definiçãoadequadado ter-
mo (Guilford,1977),masoscontemporâneos
o utilizamparasereferiraumconstructoam-
plo queinclui sociabilidade,domíniosociale
qualidadesdetemperamentocornoaltonível
deenergia.Osextrovertidosbuscamagitação
e têmcaracterísticasalegres.Osintrovertidos,
por suavez, sãosériose inibidose demons-
tramurnanecessidadedesolidão.Nãosãone-
cessariamentetímidos,podendoatéter boas
habilidadessociaise ser livresde ansiedade
social.Simplesmentepreferemevitara com-
panhiadeoutraspessoas.
A aberturaàexperiênciatalvezsejao me-
noscompreendidodoscincofatores.Porvezes,
échamadade intelecto,imaginaçãooucultura,
massecaracterizapor uminteresseintrínseco
na experiênciaem urnaamplavariedadede
áreas.A curiosidadeintelectualeo interessees-
téticosãoelementoscentrais,maspessoasaber-
tastambémsãosensíveisaossentimentos,dis-
postasa experimentarnovasatividadese libe-
raisemtermosdevalorespolíticosesociais.O
fatorA temurnaleveassociaçãocommedidas
deinteligência,maséumconstructomuitodife-
rente.Indivíduosfechadospreferemo conheci-
doe arotinaeprezamosvalorestradicionais.
A cordialidadesereferea traçosquele-
vamaatitudeseacomportamentospró-sociais.
IndivíduoscomaltaC sãocorteses,crédulose
simpáticos.PessoasdeC baixa- ouantagôni-
cas- estãopreocupadascomseusprópriosin-
teressesedesconfiadasem relaçãoa outras.
Pessoascordiaissãoagradáveis,mastambém
háumlugarnasociedadeparapessoaspráti-
casecompetitivas.Naverdade,já seobservou
quemuitospsicólogosdapersonalidadefamo-
sossãobaixosemC, comseuceticismoinato
tornando-osexcelentespensadorescríticos
(CostaeMcCrae,1995b).
Por fim, a responsabilidadesecaracteri-
zaporcontençãoesentidoprático.Indivíduos
dealtaR sãozelosose disciplinados,osdeR
baixasãorelaxadose semambição.Níveisal-
INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA DAS DIFERENÇAS INDIVIDUAIS 207
tosdemaisdeR podemtransformaraspessoas
em"viciadasemtrabalho"einterferemnosre-
lacionamentossociais.OsindivíduosdealtaR
tambémtêmmaisprobabilidadesde serob-
sessivamenteasseados.Porém,namaioriados
aspectos,o altoR conferevantagenssociaise
estárelacionadoa um desempenhoprofissio-
nal superiorem quasetodasas ocupações
(BarrickeMount,1991).
É fácilencontrarexemplosdessestraços
entreasfigurashistóricas,e háevidênciasde
que a classificaçãodessasfiguraspode ser
confiávele válidaquandofeitapor classifica-
doresqualificados(Rubenzer,Faschingbauere
Ones,2000).LeonardodaVinci tinhaA alta;
GeorgeWashington,a R. RichardNixonéum
exemplodeatéondepodechegarurnapessoa
profundamentedescortês(McCrae et aI.,
2001).Jean-JacquesRousseau,quedetalhou
suasindisposições,ansiedadesesuspeiçõesem
suaobraConfissões(Rousseau,1953),certa-
mentetinhaneuroticismoalto(McCrae,1996).
Seriadifícilimaginarumexemplomelhor
deextroversãodoqueHeitorVilla-Lobos.Mui-
tasdescriçõesrelatamqueeletinhaum gran-
de charmee acolhimentointerpessoal,e não
restamdúvidasdequeeramuitogregário:"Ele
adoravatergenteaoseuredor- muitagente,
a qualquerhora"(E. Helm,citadoemTarasti,
1995,p.57).Eraumlídernatural,assumindo
a responsabilidadepelaeducaçãomusicaldo
Brasilcornoumtodo.Suagrandeenergiaapa-
recianão apenasem suaproduçãomusical
prodigiosa,mastambémnoestilodesuafala;
cornolembroucertavez o pianistaArthur
Rubinstein(citadoemTarasti,1995,p. 45):
cadavezmaisanimado,elecomeçavaa me
contarhistóriasdesuajuventude,quesoavam
maiscomoJulio Vernedoquequalquercoisa
emquesepudesseacreditar... tudoisso,ele
mencionavacomabsolutaconvicção,emuma
vozaguda,emseumaufrancês,ajudadopor
umavívidagesticulação
Suagrandenecessidadedeestímuloévis-
tanoscharutos,nocaféenorádiocomqueele
secercavaduranteo trabalho.E seuhumore
suaalegriadeviverpodemservistastantoem
suamúsicaquantoemsuavida.Essascaracte-
rísticasnãosedeviamà sortenascircunstân-
208 CARMEN FLORES-MENDOZA, ROBERTO COLOM & COLS.
ciasdesuavidaouà impetuosidadedajuven-
tude, masrefletiamsuas disposiçõesdura-
douras:"atéo dia de suamorte,ele foi um
filhodanatureza,completamentelivredeini-
bições,possuídopor umavitalidadeenorme,
quaseraivosa"(E. Helm, citadoem Tarasti,
1995,p. 57).
Comoilustradopor esseretrato,a extro-
versãoincluiumconjuntodetraços,oufacetas,
maisespecífico.O NEO-PI-Rmedeseisdessas
facetas:acolhimento,gregarismo,assertividade,
atividade,buscadesensaçõeseemoçõespositi-
vas.As facetassãodistinguíveis:algumaspes-
soassãoacolhedorassemsergregárias,algu-
massãoativas,masnãoalegres.Contudo,em
geral,asquetêmelevadoqualquerdessestra-
çostendema serelevadasemtodososoutros;
comoresultado,elesco-variamemumapopu-
laçãoparadefinirumúnicofator,aextroversão.
A Tabela11.1lista as 30 facetasdas5
escalasmedidaspeloNEO-PI-R,agrupadaspelo
fatorquedefinem.Osrótulosparaasfacetas
dãoumaidéiaclaradecadafator.Por exem-
plo, aspessoascomaltoN sãocaracterizadas
por ansiedadecrônica,raiva/hostilidade,de-
pressão,constrangimento,impulsividadeevul-
nerabilidadeao estresse.No casodaA, osró-
tulosdafacetareferem-seaoaspectodaexpe-
riênciaao qualum indivíduoestáabertoou
fechado,egeralmentesãolidascomo"abertu-
raàfantasia","aberturaàestética"eassimpor
diante.Essas30facetasnãorepresentamuma
listagemexaustivade traçosespecíficosno
FFM, esimumaseleçãodetraçosquecumpri-
ramumpapelimportantenaliteraturadepsi-
cologiaequerepresentamo melhorpossívela
amplitudee o alcancede cadafator (Costae
McCrae,1995a).
ObservamosqueostraçosqueformamE
co-variam,e o mesmoseaplicaa traçosque
definemosoutrosfatores.Pessoasansiosasten-
demaserhostis;pessoasabertasàfantasiaten-
dema serabertasà estética.Por outrolado,
facetasdediferentesfatoresgeralmentesãoin-
dependentes:saberque alguémé altamente
ansiosonãodiz coisaalgumasobrequãoex-
trovertidaa pessoaé.Pessoasfechadasà fan-
tasiatêmtantasprobabilidadesdeseremcor-
tesesquantodeseremdesagradáveis.Poressa
razão,aestruturadepersonalidadeémaisbem
representadapeloscincofatoresoudimensões
independentes.Damesmaformacomosepode
localizarqualquerlugarnaTerraespecificando
latitude,longitudeeelevação,pode-sedescre-
verqualquerpessoaespecificandoapontuação
emcadaumdoscincofatores.Villa-Lobostal-
vezpossaserdescritocomomédioemN, mui-
to altoemE eA, médioemC ealtoemR.
AsevidênciasdoFFMvêmdeestudosnos
quaisumasériedetraçosémedidaeintercorre-
lacionada.A seguir,ascorrelaçõessãofatora-
dasusandoumatécnicaestatísticaqueidenti-
ficaclustersdevariáveisqueco-variam.A Ta-
bela 11.1mostraum exemplo.No caso,219
estudantesuniversitáriosdeMinasGeraisrea-
lizaramo NEO-PI-R, descrevendoalguéma
quemconheciambem(comunicaçãopessoal,
C. E. Flores-Mendoza,29deagostode2003).
Metadedescreveuumindivíduoemidadeuni-
versitária,metade,umadulto,etantohomens
quantomulheresforamclassificados.Cinco
fatoresforamrevezadosparalembraraomá-
ximoa estruturanormativanorte-americana
(McCraeet aI., 1996).Os númerosnatabela
sãocargasfatoriais,quepodemserinterpreta-
dascomocorrelaçõesentreaescaladefacetas
eo fatorsubjacente.Nl: ansiedade,porexem-
plo,estácorrelacionadaem0,83comN, mas
apenasem-0,02comE.
As cargasmaioresestãoimpressasem
negritoedemonstramque,emquasetodosos
casos,amaiorestánofatorpretendido(asex-
ceções,N5, impulsividadeeE3,assertividade,
geralmentedividemsuascargasemváriosfa-
tores,assimcomoo fazemaqui.).Os coefi-
cientesdecongruênciasãomedidasdeseme-
lhançaentreascargasfatoriaisdeduasamos-
trasdiferentes.Nessecaso,os dadosbrasilei-
ros sãocomparadosaosnorte-americanosda
amostranormativade mil adultos(Costae
McCrae,1992).A variávelcoeficientedecon-
gruência(VCCs),apresentadanaúltimacolu-
nadatabela,comparaascargasfatoriaispara
cadafacetaemtodasascincoescalas.Porexem-
plo,aimpulsividadetemcargasde0,39,0,47,
0,12,-0,40e-0,32paraN, E,A, C eR,respec-
tivamente,naprimeiraescala;nosdadosnor-
te-americanos,ascargascorrespondentessão
0,49,0,35,0,02,-0,21 e -0,32. Comoesses
padrõessãosemelhantes,aWC é deO, 94,o
TABELA 11.1 Cargns
deestudantese ae:..
NEO-PI-R
Faceta
N1: Ansiedade
N2: Raiva/Hostilidade
N3: Depressão
N4: Constrangimem
N5: Impulsividade
N6: Vulnerabilidade
E1:Acolhimento
E2: Gregarismo
E3: Assertividade
E4:Atividade
E5: Buscade sensaçê~
E6: EmoçõesPositivc;
A1: Fantasia
A2: Estética
A3: Sentimentos
A4: Ações
A5: Idéias
A6: Valores
C1: Confiança
C2: Retidão
C3: Altruísmo
C4: Complacênci
C5: Modéstia
C6: Sensibilidade
R1: Competência
R2: Ordem
R3:Cumprimento:: =--
R4: Esforçopor re:t:::::;-
R5:Autodisciplinc
R6: Deliberação
Cangruênciab
A replicabilidadedo fatoré notávelem
váriosaspectos.Os dadosnorte-americanos
eramdeauto-relatosfeitosporadultos.Osda-
dosbrasileirossãoclassificaçõesde observa-
dor(deestudantesedeadultos)feitosporuni-
versitáriosquase15 anosmaistarde.Osnor-
te-americanosresponderama um questioná-
rio eminglês;os brasileiros,a umatradução
parao portuguêsdo Brasil.Nema fontedos
- __ o
-- -
R
VCC=
,8J
0,010,220,92*
- •.. -:::
0,59, -0,570,020,96**
0,79
-0,22 O,lS-0,270,96**
0,74
-0,33 0,13-0,030,97**
0,39
0,47 -0,40-0,320,94**
0,77
-O,OS -0,04-0,420,99**
c :
col imento -0,170,720,180,460,060,99**
E2: Gregarismo
-0,060,77O,OS-0,00-0,300,93*
E3: Assertividade
-0,300,360,01-0,420,510,92*
E4: Atividade
O,OS0,630,13-0,410,240,9S**
ES: Buscode sensações
0,070,620,29-0,23-0,340,89*
E6: EmoçõesPositivos
-0,070,730,400,010,040,96**A1: Fantasio
0,130,360,65-0,04-0,260,96**
A2: Estético
0,170,120,810,210,020,98**
A3: Sentimentos
0,200,520,620,080,070,9S**
M: Ações
-0,230,410,52-0,12-0,290,89*
AS: Idéias
-0,03-0,160,770,120,260,93*
A6: Valores
-0,270,200,640,21-0,130,90*
C1: Confiança
-0,190,400,120,64-0,01O,9S**
C2: Retidão
-0,13-0,16-0,100,700,230,99**
C3: Altruísmo
-O,OS0,28O,OS0,770,2S0,92*
C4: Complacência
-0,23-0,12-0,010,810,130,99**
CS: Modéstia
0,06-O,OS-0,110,760,040,9S*
C6: Sensibilidade
0,040,200,320,670,040,96**
R1: Competência
-0,30-0,06O,lS0,200,760,93*
R2: Ordem
0,08-0,06-0,18-0,000,710,97**
R3: Cumprimentodo dever
-O,OS-0,03-0,11O,3S0,800,9S**
R4: Esforçopor realizações
-0,080,2S-0,03-0,2S0,780,97**
RS:Autodisciplina
-0,270,00-0,04O,OS0,840,97**
R6: Deliberação
-0,26-0,33-0,030,410,560,97**
Congruênciab
0,97**0,9S**0,9S**0,9S**0,94**0,9S**
#0/0.#=219. Essessõo componentesprincipaisrotadosparonormasamericanos(Costae McCroe,1992). Cargosmaioresdo que0,50 emmagnitudeabsolutasõoapresentadas
em negrito."Varióvelcoeficientede congruência'Coeficientede congruênciofator/totalcomo motriz-alvo.'Congruênciosuperioro 95% de rotaçõesde dadosaleatórios."Cangruênciasuperioro 99% de rotaçõesdedadosaleatórios.
queé umaconcordânciamuitomaiordo que
seesperariaao acaso.Defato,todasasVCCs
superaramosníveisdeincerteza.
A últimalinhadatabelaapresentaacon-
gruênciaparaoscincofatorese,nocantoinfe-
riordireito,paraamatrizcomoumtodo.Todos
essesvaloressãomuitoaltos,sugerindoquea
estruturadefatoresnaTabela11.1équaseidên-
ticaà estruturadaamostranorte-americana.
210 CARMEN FlORES-MENDOZA, ROBERTOCOLOM & COlS.
dados,nema idadedo alvo,tampoucoa épo-
ca,oua línguae acultura,parecemimportar.
O FFM éumadescriçãoextremamenteconsis-
tentedapersonalidadehumana.
A PESQUISA EMPíRICA SOBRE
OS TRAÇOS DO FFM
Depoisdedécadasnasquaisumaestru-
turapassíveldeserreplicadapareciaconfun-
dir ospsicólogosdostraços(Howarth,1976),
o robustoFFM revigorouo campoe levoua
muitasdescobertasnovasnaspesquisas.Sabe-
seagoramuitomaisacercadostraçosdoque
há20 anos,e novaslinhasdepesquisacome-
çama seabrir.Umresumodessasdescobertas
ofereceomelhorquadro,atéagora,decomoé
a personalidadehumana.
A origem dos traços
Umadasquestõesmaisantigasnapsico-
logiadizrespeitoàorigemdasdiferençasindi-
viduais:porquealgumaspessoassãoansiosas
semqualquerrazãoqueojustifique,aopasso
queoutrasnãodemonstrammedodiantedo
perigo?A psicanáliseidentificaa origemda
maioriadessasdiferençasnasprimeirasexpe-
riênciasde vida,especialmentea relaçãoda
criançacomseuspais.Osteóricosdaaprendi-
zagemsocialapontamas gratificaçõese as
puniçõesqueosindivíduosrecebem(tantodi-
retaquantoindiretamente)comoasforçasque
definemocaráter.Osteóricosdotemperamen-
to (comoBussePlomin,1975)consideramos
fatoresde constituiçãocomoos maisimpor-
tantes,pelomenosparao subconjuntodetra-
çosdetemperamento,comoníveldeativida-
deemedo.
Apesardaamplasuposiçãodequeo am-
bienteinicialé fundamentalparaa personali-
dadee a psicopatologia,há muitopoucapes-
quisaquetenharealmentemedidoaexperiên-
ciainfantileposteriormenteavaliadoaperso-
nalidadeno adultomaduro(Kagane Moss,
1962).Estudosretrospectivos(McCraee Cos-
ta,1988)encontraramalgumasassociaçõespe-
quenas- porexemplo,adultoscomaltacordia-
lidadeinformamqueseuspaiseramamorosos
e nãoosrejeitavam,o queparecesugerirque
o amorparentalcontribuiparaumaorienta-
çãopró-socialnosfilhos.Todavia,a interpre-
taçãodessesresultadosé ambígua.Talvezos
adultoscortesessejamsimplesmentemaisge-
nerososna avaliaçãoquefazemdeseuspais,
lembrando-sedelese os descrevendocomo
sendomaisamorososdo queelesrealmente
eram.Talvezseuspaisfossemmaisamorosos
porsermaisfácildeamarseusfilhoscorteses.
Talvezosmesmosgenesquetornaramseuspais
amorososlhestenhamdadoumaaltaC.
Essaúltimapossibilidadese tornamais
provávelemfunçãodosresultadosdemuitos
estudosgenético-comportamentais.Pesquisa-
doresdo mundotodotêmtentadoestimara
herdabilidadedostraços- atéquepontoeles
sãodefinidospelosgenes- usandoos méto-
dosdagenéticacomportamentaI.Essesméto-
dos são baseadosno fato de que gêmeos
monozigóticos(MZ) ou idênticoscomparti-
lham todosos genes,enquantoos gêmeos
dizigóticos(DZ) ou fraternoscompartilham,
emmédia,apenasmetade,e ascriançasado-
tadasnãotêmqualquergeneemcomumcom
seusirmãosadotivos.Considerando-sequeos
genessãoimportantesnadeterminaçãodostra-
çosdepersonalidade,osgêmeosMZ deveriam
assemelhar-semaisuns aosoutrosdo queos
DZ,os quais,por suavez,deveriamsermais
semelhantesentresi do queos irmãosadoti-
vos.Eéexatamenteissoqueseencontra.Quan-
do sejuntam auto-relatosdos cincofatores
sobreamostrasdegêmeos(porexemplo,Ono
etaI.,2000),osresultadossugeremquecerca
demetadedavariânciaé atribuídaa genes,e
quasenadaaoambiente(osefeitosdesecres-
cernamesmacasa,comosmesmospais,esco-
la, religião,etc.).A outrametadedavariância
aindaé um mistério,masgrandepartedela
parecesererrodemedição.Quandoseacres-
centamaosauto-relatosclassificaçõesde ob-
servadoresparaproporcionaravaliaçõesde
personalidademaisprecisas,chega-sea esti-
mativasdeherdabilidademuitomaiselevadas
(Riemann,Angleitnere Strelau,1997).
Estudosdegenéticacomportamentalfor-
necemindicadorespoderosos,masindiretos,
dosefeitosdosgenessobreos traços.Atual-
Desenvolvimeo•...•_
de personali
mentehámuitointeressenagenéticamolecular
dapersonalidade,comestudospublicadosso-
breváriosgenescandidatosacausadoresdesses
efeitos,eplanosparaumavarreduracompleta
nogenomaempopulaçõesselecionadas,como
asdaIslândiaedaSardenha.Infelizmente,os
resultadosatéagoratêmsidodifíceisderepli-
car (Ball etal., 1997),e pareceprovávelque
os avançossejamlentosnessaárea.Cadatra-
ço provavelmenteseráinfluenciadopor mui-
tosgenes,de modoqueo efeitode qualquer
umdelesindividualmenteserásutiledifícilde
detectar.
Desenvolvimento dos tra~os
de personalidade
Existemdois métodoscomunsusados
paraacompanharo desenvolvimentodostra-
çosduranteavida:osdelineamentostransver-
saise os longitudinais.Nosestudostransver-
sais,pessoasdediferentesidadessãocompa-
radasaomesmotempo;noslongitudinais,os
mesmosindivíduossãoavaliadosemmomen-
tosdiferentes.Cadamétodotemdetermina-
daslimitações.Diferençasetáriastransversais,
por exemplo,podemaconteceremfunçãode
diferençasnoscoortesde nascimento,e não
emmudançasnapersonalidadedesdeainfân-
cia.Asmudançaslongitudinaisparecemavaliar
a transformaçãodeformadireta,masasmu-
dançaspodemserdevidasaalteraçõesnasfor-
masde respondera questionários,e nãoem
umverdadeirodesenvolvimentodetraços.Em
funçãodessetipode limitação,nenhumestu-
do é desprovidode ambigüidade,masjá fo-
ram feitosmuitostrabalhoscom diferentes
pontosfortese fracos,obtendo-seum quadro
relativamenteclaro(McCraee Costa,2003).
Entreos 12e os 18 anos,os indivíduos
muitasvezesapresentammudançasmarcadas,
comalgunsadolescentesapresentandocresci-
mentodealgunsfatores,eoutros,diminuição.
Entretanto,osníveismédiosdostraçospermã-
necem,emmuito,inalterados,comexceçãode
pequenosacréscimosem A (McCraeet aI,
2002).Dos18aos30 anos,hámenosmudan-
çasindividuais,masexistemtendênciasprevi-
síveisnoprocessodeamadurecimento:N, E e
INTRODUÇÃO ÀPSICOLOGIA DAS DIFERENÇAS INDIVIDUAIS 211
A decrescem,enquantoC eR aumentam.Sen-
doassim,osadultossãomenosvoláteisemais
disciplinadosdoqueosadolescentes.Apósos
30 anos,asdiferençasindividuaissãomuitos
estáveiseosníveismédiosmudammuitolen-
tamente.Comoconseqüência,ostraçosqueca-
racterizamalguémcomessaidadetêmmuitas
probabilidadesde aindacaracterizaralguém
de70anos.Issoéverdade,apesardetodasas
mudançasemsaúde,papéissociaise circuns-
tânciasdevidaqueprovavelmenteaconteçam
durantea idadeadulta.
Os estudoslongitudinaisqueavaliama
estabilidadedasdiferençasindividuaistêmsido
conduzidosprincipalmentenosEstadosUni-
dos,masestudostransversaistêmsidodesen-
volvidos em muitos países do mundo, do
Zimbábueà Croáciae à RepúblicaPopulardaChina,verificando-sepadrõesextraordinaria-
mentesemelhantes(McCraee Costa,no pre-
lo). Asdiferençasdeculturaoudehistóriare-
centenãoparecemterimportância.
Correlatos e conseqüências
ComoafirmouMischel(1968),éverda-
dequeostraçospredizemrelativamentepou-
cooscomportamentosespecíficosemsituações
de laboratório,masEpstein(1979)demons-
trou queo poderdasprediçõesaumentaà
medidaqueos comportamentossãoagrega-
dos,e os dadossobrea estabilidadedasdife-
rençasindividuaismostramqueostraçospo-
demexercersuainfluênciadurantedécadas,
demodoqueo efeitocumulativoéenorme.
Muitosestudosdemonstraramosefeitos
poderososqueostraçostêmnasvidasdaspes-
soas.Paraapontarapenasalgunsdeseuscorre-
latos,N é um fatorderiscoparaumaampla
variedadedetranstornospsiquiátricos(Costa
eWidiger,2002;TrulleSher,1994).O fatorE
estárelacionadoa interessesprofissionais,a
procuraeficazdeempregoseaganhosduran-
te a vida (McCraee Costa,2003).O fatorA
afetatudo,depreferênciasmusicais(Rentfrow
e Gosling,2003) à escolhade um cônjuge
(McCrae,1996).BaixosescoresemC predis-
põema pessoaa desenvolverdoençascoro-
narianas(Costa,McCraeeDembroski,1989).
212 CARMEN FLORES-MENDOZA, ROBERTOCOlOM & COlS.
A responsabilidadeestáligadaarealizaçõesaca-
dêmicas(PaunoneneAshton,2001)eadesem-
penhoprofissional(BarrickeMount,1991).Os
traçosnãosãoapenasdisposiçõesduradouras,
elespermeiamquasequetodosos aspectosda
vida.O FFM semostrouútil noestudodareli-
gião (McCrae,1999),da sexualidade(Costa,
Fagan,Piedmont,Ponticase Wise,1992),de
estressese enfrentamento(Kallasmaae Pulver,
2000),de economia(Austin,Dearye Willock,
2001)eopiniõespolíticas(Riemannetal.,1993).
Os traçosdepersonalidadetêminfluên-
ciasimportantesemnossasvidase experiên-
cias,massão igualmenteimportantescomo
determinantesdo comportamentode outras
pessoas.Nossoscônjuges,vizinhos,chefese
filhostêmseusprópriostraços,aosquaispo-
demosaprendera nosadaptar,masquerara-
mentemudam.Pode-seatémesmoargumen-
tar queostraçosdepersonalidadedefinema
história:foiaaltaR deGeorgeWashingtonque
lhe permitiuperseverarduranteasdificulda-
desdaGuerraRevolucionárianosEstadosUni-
dos (Rubenzeret al., 2000)e a elevadaA de
Jean-JacquesRousseauqueinspirouaRevolu-
çãoFrancesa(McCrae,1996).
Pesquisa intercultural
Aoredor·de1990,pesquisadoresnomun-
dotodocomeçaramatraduziroNEO-PI-Rea
avaliá-Iacomomedidade personalidadeem
diferentesculturas.A primeiraquestãodein-
teresseerasabersehaviageneralidadenaes-
truturade fatoresemrelaçãoa outrascultu-
ras.Algunsautoreseramcéticossobreapossi-
bilidadede um modelode personalidadede-
senvolvidocombasenostermosdalínguain-
glesaparaostraços,e estudadopredominan-
tementeemamostrasdenorte-americanosde
classemédia,serrelevanteemoutrosidiomas
e culturas(Juni, 1996).A Tabela11.1mos-
trouclaramentequeaestruturaégeneralizável
aclassificaçõesdebrasileiros,masoportuguês
é, afinal,umalínguaindo-européia,relativa-
mentepróximaaoinglês,eoBrasil,assimcomo
os EstadosUnidos,foi povoadopredominan-
tementepor imigrantesda Europae descen-
dentesdosescravostrazidosdaÁfrica.Seria
possívelencontraramesmaestruturanoLeste
daÁsiaounaÁfricasubsaariana,ounosubcon-
tinenteindiano?
Resumindo,sim.A estruturade fatores
já foi examinadaempaísesquevãodesdea
Turquiaatéa Islândia,e emtodososcasosos
cincofatoresforamresgatados.O instrumento
tendea funcionarumpoucomelhornascultu-
rasocidentais,masmesmonasmaisremotas,
taiscomoBurkinaFaso,os cincofatoressão
inconfundíveis(Rossier,Dahouroue McCrae,
2003).
Comoos cincofatoressãoencontrados
emtodaaparte,é possívelcompararos mes-
mosconstructosemdiferentesculturas.Como
observadoantes,estudosdediferençasetárias
apresentaramefeitosmuitosconstantesemcul-
turasamplamentediferentes(McCraee Cos-
ta, no prelo).Pode-sedizermaisou menosa
mesmacoisaemtermosde diferençasdegê-
nero.Costa,TerraccianoeMcCrae(2001)exa-
minaramamostrasdeuniversitáriose adultos
de26culturas.AsmulherestinhamN eCcons-
tantementemaiselevadosdoqueoshomens.
Emalgunscasos,diferentesfacetasdomesmo
fatortiverampadrõesopostosde efeitosem
termosde gênero.Por exemplo,as mulheres
tinhamaberturaà estéticamaiselevada,en-
quantooshomenserammaisabertosa idéias.
Osmesmostiposdeefeitosforamencontrados
emsociedadescompapéissexuaismuitotra-
dicionais,comoa Coréiado Sul e aÁfricado
Sul negra,e empaísesprogressistas,comoa
NoruegaeaHolanda.Surpreendentemente,a
magnitudedosefeitosfoimaiorempaísespro-
gressistas.Umdospassosmaisimportantesna
reabilitaçãodostraçosapósacríticadeMischel
foi ademonstraçãodequeháumacordosubs-
tancialentreos observadorescomrelaçãoà
avaliaçãodessestraços(Funder,1980).Dife-
rentesobservadorestêmacessoa informações
diferenciadaseasprocessamdeformaumpou-
codistinta,demodoquenãohárazãoparase
esperarumaconcordânciaperfeita,masmui-
tosestudosjá demonstraramqueas correla-
çõesentreclassificadoresúnicos,ouentreauto-
relatoseumúnicoobservador,ficamgeralmen-
te entre0,4e 0,5;correlaçõesmaisaltassão ase=~;-a=-r=:
----------~
obtidassefor feitaamédiadediversosclassi-
ficadores.
Entretanto,a maioriadosestudoscom
váriosobservadoresfoi desenvolvidanosEsta-
dosUnidosounaEuropaOcidental,epsicólo-
gosculturaisjá sugeriramqueostraçospodem
terrelevânciasemelhanteempaísescoletivis-
tas,ondeasrelaçõesinterpessoaissãomaisim-
portantesna orientaçãodo comportamento
(verChurch,2000).Tambémsepodeesperar
queostraçossejamindividualmentemenosim-
portantesem culturasqueatépoucotempo
atrásestavamsobcontrolesoviético,ondeo
indivíduo estavaoficialmentesubjugadoàs
necessidadescoletivas.Seostraçosnãoforem
importantes,ousesuainfluênciasobreocom-
portamentofor limitada,podemosesperardes-
cobrirqueas pessoasnãopercebamprecisa-
menteseusprópriostraçosou os de pessoas
ao seuredor,e, conseqüentemente,deveria
havermuitomenosconcordância.Contudo,um
estudorecentefezumarevisãodosdadosdis-
poníveissobreconcordânciaentreobservado-
reseencontrouníveisigualmenteelevadosem
paísescoletivistase individualistas.Os dados
tambémdemonstraramqueaconcordânciana
Rússiae na RepúblicaTchecaeracomparável
à dosEstadosUnidos(McCraeetaI.,2004).
Todosos estudosmencionadosatéaqui
dizemrespeitoasemelhançasentreculturasnas
propriedadesdostraçosdentrodacultura- por
exemplo,a correlaçãodeR coma idadeé se-
melhanteemPortugale naEstônia.O quedi-
zerdascomparaçõesentreculturas?Podemos
garantirqueosnorueguesessejamextroverti-
dos, enquantochinesesde Hong Kong são
introvertidos?Emborahajacentenasde estu-
dosquetentamrealizaressetipodecompara-
ção,osmetodólogosinterculturaisapontaram
umasériederazõesparasermosbastantecéti-
cos(vandeVijvereLeung,1997).Resultados
maisaltosemumaculturapodemserconse-
qüênciademudançasnaformulaçãodeques-
tõesintroduzidasnoprocessodetradução,ou
dediferençasnoestiloderespostaou estraté-
giade auto-apresentaçãonosdoispaíses,ou
dediferençasdeamostragem.
Contudo,McCrae(2002)reuniuevidên-
ciasemfavordacomparabilidadegeraldosda-
INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA DAS DIFERENÇAS INDIVIDUAIS 213
dosde36culturaserelatouresultadossignifi-
cativos.A médiaemníveldepaísparaN e E
apresentou-sesignificativamentecorrelacio-
nadaà médiaemníveldepaísrelatadaante-
riormenteparadiferentesmedidasde N e E
(LynneMartin,1997).Osresultadosporpaís
tiveramcorrelação,demaneirassignificativas,
com as dimensõesda cultura de Hofstede
(HofstedeeMcCrae,2004)- porexemplo,R e
baixoE estavamrelacionadascomo distan-
ciamentodopoder,quediz respeitoà tendên-
ciaaaceitardiferençasdestatusdeformadó-
cil.Maisalém,ospaísesformaramclustersgeo-
gráficos:os perfisde personalidadeentreas
30facetasdoNEO-PI-Rforammuitosemelhan-
tesna Espanhae emPortugal,no Canadáe
nosEstadosUnidos,e noZimbábueenaÁfri-
cadoSulnegra(AllikeMcCrae,2004).
Todavia,emalgunsaspectos,os resulta-
dosficaramlongedeserclaros.Particularmen-
te, ascomparaçõesdosníveismédiosnãoes-
tão adequadasaosestereótipos.Os paísesdo
LestedaÁsia,porexemplo,tenderamaresul-
tadosmaisbaixosdo queospaísesocidentais
em R, emboraos habitantesdaquelaregiãotenhamumareputaçãodeserdiligentes.Uma
descriçãoantropológica(Margolis,Bezerrae
Fox,2001,p. 286)sugerequeo Brasilé sim-
bolizadopela"exuberantefoliadacelebração
pré-quaresmaldocarnavalepelofutebol...ex-
tremamentepopular",eissosugereque,como
Villa-Lobos,o brasileirotípicoé extrovertido.
Aindanãohá dadosdo NEO-PI-Rdisponíveis
paratestarahipótese,maslogohaverá.*
Um estudomultinacionalde grandees-
calaestáatualmenteemandamento,avalian-
do a personalidadepormeiodeclassificações
de observadorese tambémas percepçõesdo
caráternacional.Comseumétodoalternativo
de mediçãoe sualistaampliadade culturas,.
esseestudodevedarcontribuiçõessubstanciais
anossacompreensãodapersonalidadeemdi-
ferentesculturas.
*N.deR.T.Encontra-seemandamentoo projetode
adaptaçãodoNEO-PI-Rparao Brasil,coordenado
pelaprofaCarmenE. Flores-Mendoza,emparceria
compesquisadoresbrasileirosdediferentesEstados.
214 CARMEN FlORES-MENDOZA, ROBERTOCOlOM & COlS.
UM MODELO DINÂMICO DO
SISTEMA DA PERSONALIDADE
Freude a maioriados teóricosclássicos
I
dapersonalidadebasearamsuasteoriasemob-
servaçõesdepacientesqueelestrataram,ten-
tandoconstruirum modelode personalidade
aplicávela todasaspessoas.Avançaramdeum
casoindividualparaummodelogeral.Ospsicó-
logosqueestudamostraçospodemassumiruma
abordagemdiferente.Elescomeçamcomob-
servaçõessobrepessoasemgeraletentamcriar
ummodeloquesepossaaplicara indivíduos.
McCraee Costa(1999)ofereceramuma
versãodessaabordagem.Elescomeçaramcom
as conclusõesassociadasao FFM e tentaram
construirummodelodecomoosistemadaper-
sonalidadedeveoperarparaproporcionares-
sesresultados.O problemafundamentalque
deveserresolvidoporumateoriadapersona-
lidade, segundoa teoria dos cinco fatores
(FFT), é comoconciliara variaçãodramática
nascircunstânciasde vida e nasadaptações
coma relativaconstânciados fatos.Comoé
possívelqueaspessoasvivam40anos,fazendo
novosamigos,aprendendoidéiasnovas,supor-
tandocrisespessoaisecompartilhandoosdes-
tinosdeseupaísedesuaépoca,semmudarem
suasdisposiçõesbásicas?Comoé possívelque
diferençasprofundasnalinguagem,noscostu-
messociais,na religião,na culturapopulare
nossistemaseconômicosnãotenhamqualquer
efeitosobreaestruturadetraçosouseudesen-
volvimentocomo passardotempo?
A FFT resolveesseproblemapropondo
queostraçosdepersonalidadesãoestrutural-
menteisoladosdasinfluênciasdoambiente.A
maioriadasteoriasda personalidade(Freud,
1933;Rotter,1966)consideraostraçoscomo
o resultadodasexperiênciasde vida; a FFT
reverteessarotacausalepostulaqueostraços
afetamasexperiênciasde vidasemqueeles
própriossejamafetados.É por issoqueeles
nãosãodefinidospelaspráticasdospaisem
relaçãoà educaçãodosfilhos,nemalterados
pelocasamento,pelasmudançasprofissionais
ou pela aposentadoria.Essencialmente,são
imunesa essasinfluências.
Seostraçosnãosãodefinidospelaexpe-
riência,deondeelesvêm?A alternativaóbvia
ao adquiridoé o inato(McCraeet aI.,2000).
- SegundoaFFT,ostraçossãotendênciaspsico-
lógicasbásicasquetêmfundamentobiológi-
co.Essepostuladoé coerentecoma amplali-
teraturasobregenéticacomportamentalque
demonstraumcomponentegenéticoimportan-
te nos traçosde personalidade,masé mais
amplodo queisso.As doençasneurológicas,
comoo maldeAlzheimer,têmefeitosprofun-
dossobreapersonalidade(SiegleretaI.,1991)
easdrogas,aslesõescerebraistraumáticas,o
ambienteintra-uterinoe mesmoa alimenta-
çãopodemafetarostraços.A FFT diz apenas
quedevemosbuscaras causasdos traçosna
biologia,enãonoambiente.
Essaé umaposiçãoradicale provavel-
mentese acabaráprovandoqueestáerrada.
Porexemplo,a experiênciadeperdapodele-
varàdepressãoclínica,quealterao funciona-
mentodocérebroeostraçosdepersonalidade
(Costa,Bagby,Herbst,RydereMcCrae,2003).
Damesmaforma,umabalana cabeçaéuma
experiênciadevidaqueprovavelmenteafeta-
ráapersonalidade.Contudo,apesardessasex-
ceções,a idéiade queos traçossãoindepen-
dentesdo ambienteé umguiapoderosopara
a interpretaçãodasconclusõesdaspesquisas.
Porexemplo,podeexplicarmuitodaspesqui-
sasinterculturais.Porhaverapenasumaespé-
cie humana,as característicasbiológicassão
universais,apenascomvariaçõesmenores.
Todosos sereshumanostêmdoisolhos,em-
boraalgumasvezeselessejamazuise outras,
castanhos.Demodosemelhante,todosos se-
reshumanostêmdisposiçõesa serextroverti-
dosou responsáveis,quediferemapenasem
grau.Oolhosempretemumacórnea,umalen-
te e umaretina;a extroversãosempreinclui
acolhimento,atividadeeemoçõespositivas.A
visãodeclinacoma idadeno Zimbábue,no
JapãoenaEstônia,eomesmoacontececoma
aberturaà experiência.
Essesaspectosuniversaissó foramdes-
cobertosrecentementepor meioda pesquisa
intercultural,mastemsidoóbvioparatodos,
duranteséculos,queexistemdiferençasnafor-
macomoaspessoasdeculturasdistintaspen-
sam,senteme agem.As culturasdiferemno
idioma,no vestuário,nossistemasde paren-
tesco,naalimentação,nascrençasreligiosase
FIGURA 11.
assimpordiante,e tambémessefatodeveser
reconhecidopelaFFT. E o é. Além das"ten-
dênciasbásicas"(incluindoos traços),a FFT
reconheceumacategoriadeadaptaçõespsico-
lógicasquesãoaprendidasapartirdaexperiên-
cia,incluindohábitos,atitudes,habilidadese
osaspectosinternalizadosdospapéisedasre-
lações.Todosessessão categorizadoscomo
"adaptaçõescaracterísticas".Elassãoadapta-
çõesporquesãoadquiridasemrespostaapres-
sõeseaoportunidadesnoambiente,mastam-
bémsãocaracterísticasporquerefletema na-
turezadapessoa.Todososestudantesdeuma
turmapodemassistiràmesmaexposição,mas
o queaprendemdeladependerá,emparte,de
suaprópriaaptidão,deseusinteressesedesua
dedicação.Ostraçosdepersonalidadeajudam
a definira formacomointerpretamosnosso
ambientee respondemosa ele.É porissoque
as pessoasquecompartilhama culturatam-
bémdiferemempensamentos,emsentimen-
tose emcomportamentos.
A essaaltura,seriaútil resumiraFFT em
ummodelo.A Figura11.1apresentaumaver-
sãosimplificadado modelo-padrão.A versão
integral (McCrae e Costa, 1999) inclui o
autoconceitocomosubcomponentede adap-
taçõescaracterísticase algumasoutrassetas
demenorimportância.Especifica,também,que
cadaumadassetasrepresentaum conjunto
deprocessosdinâmicos,comoaprendizagem,
enfrentamentoeplanejamento.A FFTtambém
incluium conjuntode postulados.Por exem-
plo, o postuladodo desenvolvimentodiz que
"ostraçossedesenvolvemduranteainfânciae
atingemaformamadurana idadeadulta;de-
pois disso, ficam estáveisem indivíduos
cognitivamenteintactos",aopassoqueo pos-
tuladodaplasticidadeenunciaque"asadap-
taçõescaracterísticasmudamcomopassardo
INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA DAS DIFERENÇAS INDIVIDUAIS 215
tempoemrespostaà maturaçãobiológica,às
mudançasno ambienteouà intervençãodeli-
berada".Essespostuladossãoprincípiosmui-
toamplosquedescrevemcomoapersonalida-
de funciona.Como demonstradona Figura
11.1,a FFT sustentaquetraçoscombasebio-
lógicainteragemcomo ambientesocialpara
orientarnossocomportamentoacadainstante.
oQUE É PERSONALIDADE?
Estecapítulofoiencarregadodeapresen-
taro tópicodapersonalidade,queseráexplo-
radomaisdetalhadamenteemoutros.Passou-
seporumaintroduçãoaostraçoseporumre-
sumodasconclusõesde pesquisaacercado
tema,chegandoa umateoriaque pretende
explicarcomofuncionaa personalidade.Da
perspectivadaFFT,aquestãocolocadaporeste
capítulopodeserassimrespondida:persona-
lidadeéosistemanoqualastendênciasinatas
da pessoainteragemcomo ambientesocial
paraproduzirasaçõeseasexperiênciasdeuma
vidaindividual.
A maioriadosteóricosdapersonalidade
podeconcordarcom essadeclaraçãomuito
amplaegeral(MischeleShoda,1995),maso
leitornãodeveperderdevistaquediferentes
teóricosaindapoderãodivergirprofundamente
acercadosdetalhes.Algunspesquisadoresafir-
mam que há seis fatoresem vez de cinco
(Ashtonet al., 2004).Algunspreferemcon-
centrar-senoselj,emlugardostraços.Unsacre-
ditamqueateoriadapersonalidadedeveapro-
fundar-senos processosdinâmicosapenas
pinceladosna FFT.Em contrastecomesta,a
maioriadospsicólogospensaqueo ambiente
teminfluênciasimportantessobreo desenvol-
vimentodostraços(Roberts,CaspieMoffitt,
Biologia
Traços Adaptaçõescaracterísticos Cultura
FIGURA 11.1 Modelo simplificadode sistemade personalidade(adaptadode McCrae,no prelo).
216 CARMEN FlORES-MENDOZA, ROBERTOCOLOM & COlS.
2003).Fizemosgrandesprogressosnosúlti-
mos25 anosemmediros traçose em com-
preenderseu funcionamento,masaindahá
muitoa fazerparacompreendercomoelesse
encaixamno sistemamaisamplodapersona-
lidade.Serãonecessáriosnovosdadosenovas
conceituaçõesparaaprofundarnossoentendi-
mentodapersonalidade.
É decertaformainteressanteconsiderar
por quea psicologiadostraçosfloresceunos
últimosanos,apósdécadasnasquaispoucos
avançosforampossíveis.Umarazãoéadispo-
nibilidadedecomputadores,quepossibilitaram
desenvolver,emsegundos,análisesqueteriam
ocupadomesesnaspesquisasdeCattel(1946)
ouFiske(1949).Alémdisso,igualmenteimpor-
tanteéa participaçãodepsicólogosdetodoo
mundo(facilitada,elaprópria,pelocorreioele-
trônico).Dadoscoletadosemdiferentescultu-
raspodemproporcionarinformaçõesvaliosas
sobreos determinantese o desenvolvimento
de diferençasindividuaisna personalidade,
porqueasdiferençasculturaisconstituem"ex-
perimentosnaturais"sobrecomoo ambiente
afetaa personalidade.A longoprazo,contu-
do, é provávelquea maisimportantecontri-
buiçãodeumapsicologiadapersonalidadever-
dadeiramenteinternacionalvenhaaserospró-
prios psicólogos.Profissionaisde diferentes
formaçõesculturaistêmprobabilidadesdetra-
zerperspectivasnovasàinterpretaçãodedados
sobreapersonalidadeedeformularnovasin-
terrogaçõesquepossamlevarocampoaavan-
çaremdireçõescompletamentediferentes.
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300). Boston:Allyn andBacon.
INTRODUÇAO
12
TEORIAS PSICOMÉTRICAS
DA PERSONALIDADE
Luis F.Gorda
INTRODU~ÃO
Pedroé um psicólogode reconhecidoprestí-
gio.Comomuitasvezesantes,nestamanhã,
recebeemseuconsultórioumapessoaquede-
sejasolucionardeterminadosproblemasdecon-
duta.E, comosemprefaz,umdeseusprimei-
rosobjetivosé realizarumacorretaavaliação
dapersonalidadedoclientequetemdiantedesi. Chegadoa esteponto,as perguntasque
Pedrofazparasimesmosãoasseguintes:Que
traçosdevomedir?Paraquê?Quaissãoosmais
importantes?Queinstrumentosdevoutilizar?
Essassãoasmesmasperguntasqueospsicólo-
gossefazemhámaisdeumséculo.E respon-
deraelastemsidoo objetivodasdiversasteo-
riaspsicométricasdapersonalidade.
Maséprovávelqueoutroexemploescla-
reçamelhoro leitorsobrequalé a finalidade
dasteoriaspsicométricasdapersonalidade.Po-
nha-seno lugarde um especialistaemossos.
Esseespecialistarecebeumapessoaquesofre
deumadorconstantenascostas.Suponhaque
essapessoasabequesuasdoressãoprovocadas
pelafraturadeumosso,masnãosabequal.Para
ajudá-Ia,o especialistadevesaberquaissãoos
ossosdascostas,quaispodemprovocaressas
dorese comolocalizá-Iose avaliarseuestado.
Poisbem,o trabalhodo psicólogoquerealiza
umaavaliaçãodapersonalidadeémuitoseme-
lhante.Eleprecisasaberquaissãoostraçosque
configuramnossapersonalidade,comquetipo
decondutasedeproblemaselesestãoassocia-
dose, finalmente,comomedi-Iosdemaneira
adequada.Ou seja,deveconhecerummodelo
(ouvários)depersonalidadequelhedigaquais
traços é necessáriomedir, quais são suas
propriedadese característicase quaissãoos
instrumentosválidoseconfiáveiscomquecon-
tapararealizarumaavaliaçãoprecisaeútil da
personalidade.
Comofoi queos psicólogoschegarama
respondera essasperguntas?A principalfer-
ramentautilizadatemsidoa análisefatorial.
A mesmaqueseutilizanosmodelosdaestrutu-
ra da inteligência?Exatamente.As perguntas
sãoasmesmasnasáreasda personalidadee
dainteligência,e,portanto,aformaderespon-
der a elastambémé a mesma.Vamostomar
comoexemploaferramentamaisutilizadapara
avaliarapersonalidade:osquestionários.Par-
timosdeenunciadosquedescrevemumacon-
duta,ouumaformadeserespecífica:"Eugos-
to deir a festas","Eugostodeconversarcom
aspessoas","Soupontual","Ficonervosocom
facilidade",etc.É intuitivopensarqueaspes-
soasquegostamdeconversartambémgostam
deir afestasoualugaresondehajamuitagen-
te.Encontramosquaissãoascondutasquees-
tãorelacionadas,ou seja,quaissãoasquese
correlacioname,portanto,compartilhamalgo.
Essealgoqueascondutastêmemcomuméo
quechamaremosde fatores(ou traços).Por
220 CARMEN FlORES-MENDOZA, ROBERTOCOLOM & COlS.
exemplo,atendênciadaspessoasmuitosociá-
veisdeserem,também,alegresseriaexplicada
pelofatorcomumdenominado"extroversão."
Voltandoaoutrasperguntasquefazíamos
anteriormente,aspessoasquesãoextroverti-
das,tambémsãopontuais?Sãotranqüilas?Al-
gunsleitoresvãoresponderquesim,eoutros,
quenão,provavelmentedependendodecomo
tenhamsidoaspessoasquetiveremencontra-
dodurantesuasvidas.O queprecisaficarcla-
ro é quea associaçãojá nãoé tãoevidentee,
portanto,intuitivamente,vamosdizerquenão
há relaçãoentrea condutadeconversarcom
freqüência,por exemplo,e a deserumapes-
soatranqüila,quenãosejaagitada,nervosa.A
análisefatorial irá indicar-nosse realmente
existeumaassociaçãoentreambosostiposde
conduta.Sequisermospredizerseumapessoa
gostarádeconversaroudeir a festas,devere-
mosutilizaromesmoconceitoeomesmoins-
trumento,mas,sequisermosindagartambém
seessapessoaserácalma,vamosterdeutili-
zaroutrotraçoe,porconseguinte,umaescala
diferente.
ESTRUTURA DO CAPíTULO
VoltemosaonossoamigoPedro.Seexis-
tisseummodeloúnicodapersonalidade(eape-
nasuminstrumentoparamedirseustraços),as
perguntasqueele sefaziano seuconsultório
encontrariamautomaticamenterespostas.Ele
sequerseriaconscientedessasperguntasoures-
postas:simplesmenteagiria.Masa realidadeé
diferente.Existemmuitasteoriassobrecomoé
ecomoseconfiguranossapersonalidade.Uma
dasprimeirastarefasde um profissionalcon-
sisteemescolheruma(ouvárias)e descartar
outras.No decorrerdestecapítulo,vamosex-
porosprincipaismodelos,aquelesquetêmsus-
citadomaispesquisaeaplicaçõespráticaseque,
porisso,têmmaiorsuporteempírico.Oprimei-
ro deles,aoqualvamosdedicarumaseçãoes-
pecial,seráo modelodos"CincoGrandes".O
fatodeseroprimeiroedeexplicá-Ioseparada-
mentedorestantenãoéumacaso:atualmente
esseéo modelopredominante.
Na próximaparte,vamosexplicaroutros
modelosquetiverametêmumpapeldestaca-
do na pesquisasobrea personalidadehuma-
na.O leitornãodevepensarqueestesperde-
ramtodasuavigência"atropelados"pelomo-
delodos"CincoGrandes".Naverdade,ainda
sãoosmodelosdereferênciaparamuitospsi-
cólogosdomundotodoegeramumaconside-
rávelquantidadedeconhecimentossobrenos-
somododeser.Alémdisso- eesteseráo tema
demaisumaseção- nãosetratademodelos
excludentes.A próximaseçãomostraráprovas
dasintensasrelaçõesentreasdimensõespro-
postaspelasdiferentesteorias.De fato,uma
parteimportantedapesquisadapersonalidade
temsedirigidoa detectarasrelaçõese diver-
gênciasentreelas,como objetivodesabero
queestásendomedidoquandose utilizaum
instrumentodeterminadoe deconhecero que
écomumeo queédiferenteemcadamodelo.
A parteseguinteversarásobrea capaci-
dadedeprediçãodostraçosdepersonalidade,
ou seja,sobresuautilidadeemcontextosprá-
ticos.A posiçãodestaparte,logoapósaexpli-
caçãodosmodelos,daconfiguraçãoe dasre-
lações,temumarazãodeser.Semconheceros
elementos,nãopodemossabersuautilidade.
Semconhecerquaissãoos ossosdascostase
comoelesestãorelacionados,nãopodemossa-
berqualéo queestáprovocandoadore,por-
tanto,sobrequaléprecisoagirparacuraressa
dorouevitá-Ianofuturo.A últimaseçãoestará
dedicadaàslinhasfuturasdasteoriaspsicomé-
tricasdapersonalidade.
Antesdeexplicarosdiferentesmodelos,
é necessáriofazerumamençãoespecialaos
instrumentosdemedição,ouseja,àsferramen-
tasqueserãoutilizadaspeloprofissional,àquilo
queeletocaráe analisarápararesponderàs
perguntassobrealguém.Compreendendoseu
papelfundamentalnaanálisecientíficadaper-
sonalidade,por quenão dedicara issouma
seção,inclusiveum capítulo,à parte?A res-
postaé clara:todasaspartestratamdosins-
trumentosde medição.É claroquecadamo-
delotemdesenvolvidosuasprópriasmedidas
baseando-seno que consideraser os traços
básicoseaspropriedadesfundamentaisdaper-
sonalidadehumana.Portanto,falar de um
modeloconcretosignificafalardo instrumen-
toqueesteproduziuparamedirostraçospro-
postos.Damesmamaneira,defenderavalida-
dedediYel
pontose\.:.:""_-=
O MODELO O
omoce::- -=
10 domina:::::==-
QUADRO 12.1 :-
dedediversostraçosenvolveconheceratéque
pontoseuinstrumentodemedidaéútil.
o MODELO DOS "CINCO GRANDES"
omodelodos"CincoGrandes"éo mode-
lo dominantena atualidade.O queissoquer
QUADRO 12.1 Descriçãodos IICinco Grandesll
INTRODUÇÃOÀ PSICOLOGIADASDIFERENÇASINDIVIDUAIS 221
dizer?Quesevocêqueravaliarostraçosbási-
cosdapersonalidade,semoutrasconsiderações,
deveriamedirosCincoGrandes.Emquecon-
sisteestemodelo?Porquechegouaessaposi-
çãodominante?Vamosrespondera essasper-
guntasnestaparte.Mas,antesdetudo,vamos
dizerquaissãoessescincotraçosdetempera-
mentotãoimportantes:neuroticismo(N), ex-
Neuroticismo ou Instabilidade/Estabilidade Emocional (N)
As pessooscomescorealtoemNeuroticismotendemà hipersensibilidadeemocionale têmdificuldadesparavoltarà norma-
lidadeapósexperiênciasemocionaisfortes.Geralmentesãoansiosas,preocupadas,commudançasfreqüentesde humore
depressões.Tendema sofrerde transtornospsicossomáticase apresentamreaçõesmuitointensasa todotipodeestímulos.
O sujeitoestáveltendea respondera estímulosemocionaisde maneiracontroladae proporcionada.Retornarapidamente
a seuestadonormalapósumaelevaçãoemocional.Normalmenteé equilibrado,calmo,controladoe despreocupado.
Extroversão (E)
As pessoasextrovertidassão socióveis,gostamde lugarescommuitagente,comofestaslotadas.Geralmentetêmmuitos
amigos,comos quaisgostamde conversaro tempotodo.Gostamdesituaçõesexcitantese de searriscar.Tambémadoram
brincadeirase mudanças,sãodespreocupadase otimistas.Gostamde estarsempreativase fazendocoisas.
O introvertidotípicoé socialmentereservado.Mostra-sedistante,excetocomseusamigosmaisíntimos.Costumaserprevi-
dentee desconfiadosimpulsossúbitos.Não gostade diversõesbarulhentase desfrutade umavidaordenada.
Abertura à Experiência (A)
As pessoascomalto nívelde aberturaà experiênciadefinemasi mesmascomoliberais,criativase tolerantes.Tendema
terfantasiase emoçõese sentimentos"não-ortodoxos".Saemdo caminhodemarcadopelosoutrosparaabrirnovasrotas.
Sentempaixão pelas manifestaçõesartísticas.Não ficam incomodadasdiante de idéias e valores novos.Adoram
experimentarcoisasnovaseviajar.
Pelocontrário,a pessoacombaixaaberturaà experiênciaéessencialmenteconservadorae commarcadatendênciaa seguiros
caminhosjádemarcados.Geralmente,tambémé maisreligiosa.Custaaencontrarnovasalternativasparaenfrentarosproble-
mase nãogostade idéiasquepossamprovocarmudançasprofundas,especialmenteseforemradicais.
Cordialidade (C)
A pessoaamáveléagradávele cordialcomosdemais,preocupando-secomsuasnecessidadese comseubem-estar.Tende
a serconfiante.Percebee interpretaadequadamentetantoas própriasemoçõesquantoas dosoutros.É umapessoacom
empatia,capazde sesintonizaremocionalmentecomos outros.
No pólooposto,teremosumapessoafriaeegocêntrica.Nãosepreocupacomo quepossaacontecercomaspessoasao seu
redornemcomo mundoemgeral.Trata-sedeumapessoasemescrúpulos,capazde manipularosdemaisparaconseguiro
quedeseja.Sefor necessário,utilizarámétodosviolentos,poisé incapazde percebera dor quecausa.
Responsabilidade {R)
As pessoascomescorealtoemresponsabilidadesãometódicase reflexivas.Pensambastantenascoisasantesdetomaruma
decisãoe gostamdetertudoplanejado.Respeitamas normassociaise, emgeral,asobrigaçõescontraídas.Possuemforte
sentidodo dever.Emgeral,sãocapazesde controlarseusimpulsoscomsucesso.
Estadimensãoda personalidadepodeser interpretadacomoo pólo opostoda impulsividade.Assim,uma pessoapouco
responsáveltem poucacapacidadede controlarseusimpulsos,é irreflexivae incapazde ser organizada.Emgeral,não
respeitaobrigaçõespessoaisou sociais.
222 CARMEN FLORES-MENDOZA, ROBERTO COLOM & COLS.
troversão(E), aberturaà experiência(A), cor-
dialidade(C) e responsabilidade(R). E como
secaracterizamaspessoassegundoessescinco
traços?O Quadro12.1descrevebrevemente
comosãoaspessoascomescoresaltosebaixos
emcadaumdos"CincoGrandes".
É precisolevaremcontaqueas descri-
çõesdo Quadro12.1estãobaseadasemape-
nasumtraço;contudo,segundoomodelodos
CincoGrandes,éprecisoconhecercomoéuma
pessoanoscincotraçosparaobterum perfil
suficientee adequadoda suapersonalidade.
Duaspessoasextrovertidaspodemcomportar-
se de formamuitodiferentedependendode
que,por exemplo,sejamaltasou baixasem
responsabilidade.As duasadorariamir auma
festacheiadegente,mas,eseessafestaacon-
tecena noiteanteriora umaprovaou a uma
importanteentrevistadetrabalho?É maispro-
vávelqueapessoaresponsável"controle"seu
impulsoefiqueemcasadescansando.Parapre-
dizera condutacomo máximode garantias
possíveis,devemoscontemplaroscincotraços.
Deumaperspectivahistórica,osprimei-
rosautoresqueformulamum modelodecin-
cofatoresclaramentereconhecívelnoatualsão
Tupese Cristal(1961).Contudo,mesmocom
notáveisexceções(Norman,1963),essemo-
delofoi relegadoduranteasdécadasde1960
e 1970,ficandoàmargemdadisputaentreas
teoriasde Eysencke Cattellpelasupremacia
daestruturadapersonalidade.Somenteno fi-
naldosanosde1970e,principalmente,nadé-
cadade 1980,os CincoGrandespassarama
terumpapelrelevantenosdebatessobrequal
eraomodeloquerefletiaasdimensõesbásicas
dapersonalidade.Nofinaldadécadade1970,
aanálisedosdadosprocedentesdoEstudoLon-
gitudinaldeBaltimoregerouummodeloinicial
de trêsfatores(neuroticismo,extroversãoe
aberturaàexperiência;CostaeMcCrae,1976),
e,posteriormente,acrescentaram-seosfatores
decordialidadeeresponsabilidade.O NEO-PI
foi o primeiroinstrumentopublicadopor es-
sesautoresejá incluíaasseisfacetasdeneuro-
ticismo,extroversãoe aberturaà experiência
(NEO;verCostae McCrae,1985e McCraee
Costa,1990,paraumaexplicaçãodasfacetas),
enquantoque apenasse tinha uma medida
geraldostraçoscordialidadeeresponsabilida-
de. As seisfacetasdessestraços(verCosta,
McCraee Dyi, 1991;Costae McCrae,1992b
paraumaexplicaçãodasfacetas)foramincor-
poradasnaversãorevisada:NEO-PI-R.
Duranteaprimeirametadedadécadade
1990,omodelodosCincoGrandesfoi impon-
do-seprogressivamente.Diversosartigospu-
blicadosna revistaPersonalityand Individual
Dijferences,ao longode 1992,mostraramo
debatequesedavaemtornodotema.Nesses
artigos,tantoCostaeMcCrae(1992a)quanto
Eysenck(1992a)expunhamseuscritériospara
considerarumtraçocomodimensãobásicada
personalidadehumanae,portanto,defendiam
seusprópriosmodelos.Poroutrolado,nãofoi
apenaso trabalhodeCostaeMcCraequecon-
tribuiuparao fortalecimentodo modelodos
CincoGrandes:as contribuiçõesde LewisR.
Goldberg(1990)eOliverP.John (1990)sobre
ahipóteseléxicatambémforamdeterminantes.
Comoquerquetenhasido,o fatoéqueatual-
menteháumconsiderávelconsensoemconsi-
deraromodelodosCincoGrandescomoomais
apropriadoparadescreveraestruturadaper-
sonalidade,sobretudodapersonalidadeadul-
ta,do pontodevistapsicométrico(Matthews
eDeary,1998;Brodye Ehrlichman,1998).
O modelodos CincoGrandespartedo
mesmopressupostoquesustentaaabordagem
léxica:"Todosos aspectosda personalidade
humanaquetêmalguminteresse,utilidadeou
importânciaestãoregistradosna linguagem
natural"(Cattell,1943).OstrabalhosdeAllport
(AllporteOdbert,1936)iniciaramodesenvol-
vimentodessaperspectivacomo objetivode
encontrara estruturamaisparcimoniosapos-
síveldapersonalidadeapartirdomaterialque
proporcionamostermosutilizadosnalingua-
gemparadescrevercaracterísticaspessoaisou
diferençasentrepessoas.A idéiaqueestápor
trásdissoéque,aolongodahistória,o serhu-
manoincorporou,emsualinguagem,todasas
dimensõesde personalidadequesãonecessá-
riasparadescreverasi mesmoe aosdemais.A
linguagemcumpririao duploobjetivodepro-
porcionarummodelodapersonalidadequefos-
seexaustivo(abrangeriatodasasdimensões)e
útil (identificariaasdimensõescomvalidade
prática).Contudo,essaabordagemtemdoisin-
convenientes:
1. é fie::::
2. exis:e=
de ç':'=:::J
pres;:-~
QUADRO 12.2 2: -
Neuroticisrr;c
1. émeramentedescritivae
2. existemdimensõesdapersonalida-
dequenãosãoadequadamentere-
presentadasna linguagem.
Devidoàsuaorigem,baseadanaaborda-
gemléxica,estetemsidoqualificadocomoum
modelomeramentedescritivo,comoumataxo-
nomiadapersonalidadehumana.Apesardis-
so,nosúltimosanos,tematraídoumconside-
rávelcorpodepesquisadoresqueestudamas
basesbiológicasecognitivasdostraçosdeper-
sonalidade.Tambémadquiriramrelevância
suashipótesessobreas relaçõesentretraços
quantitativose transtornospsicopatológicose
sobresuavalidadepreditivaemqualquercon-
textoprático(clínico,educacional,organiza-
cional,etc.).Atualmente,o modelodosCinco
Grandespodeserconsideradocomoumateo-
riaexplicativaepreditivadapersonalidadehu-
manae desuasrelaçõescomaconduta.
Essemodeloapresentadiversasversões,
dependendodosautores.Porexemplo,Goldberg
denominaintelectoo fatordeaberturaàexpe-
riência(Goldberg,1990),enquantoCaprara,
Barbaranelli,Borgognie Perugini,(1993)fa-
lamemafabilidadeou forçadevontaderefe-
rindo-seaosfatoresdecordialidadeerespon-
sabilidade,respectivamente.Essasdenomina-
çõesdiferentestambémimplicamalgunsma-
tizesnaspropriedadesdo traço.Masaversão
dosCincoGrandesquedesfrutademaiorpree-
minênciaé a propostapelosdoisautoresnor-
te-americanosquemaisvêmcaracterizando-
sepordesenvolveredefenderestemodelo:Paul
T. Costae RobertR. McCrae.Em 1992,eles
publicarama versãoinglesado instrumento
maisutilizadoemtodoo mundoparaavaliar
osCincoGrandes:O NEO-PI-R.O modeloque
INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA DAS DIFERENÇAS INDIVIDUAIS 223
vamosexplicarnestaparteé o quetemservi-
do debaseparadesenvolvê-Io.
Traços de temperamento
e facetas: O NEO-PI-R
Comojá comentamos,omodelodosCin-
coGrandespostulacincodimensõescomotra-
çosdetemperamentodapersonalidadehuma-
na. Essasseriamas dimensõesbásicas,que
descrevemasdiferençasentreaspessoasenos
permitemexplicaraconduta.Porsuavez,cada
umdoscincotraçosdivide-seem6facetas.Eé
dessemodoqueseorganizaoNEO-PI-R(Cos-
taeMcCrae,1992b;verQuadro12.2).
As facetassãoconsideradascomotraços
detemperamento?Nãoconstituemdimensões

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