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11 o QUE É PERSONALIDADE? Robert R. McCrae INTRODUÇÃO Nalinguageminformalnorte-americana, dizemos,àsvezes,queum indivíduocomca- racterísticassurpreendenteseincomunsé"uma personalidade".O violoncelista,compositore educadorHeitorVilla-Loboscertamenteseen- quadrarianessadescrição(Tarasti,1995).O violonistaJulianBreamdissequeeleera"maior doqueavida,bastanteextraordinário.Elenão pareciasercompositor.Usavacamisasxadrez emcoresgritantes,fumavacharutoe deixava sempreo rádioligado,ouvindonotícias,músi- caleveouqualqueroutracoisa.Villa-Lobosnão erarefinadointelectualmente,mastinhaum grandecoração"(ver http://www.rdpl.red- deer.ab.ca/villa/biog.html#Note4).Emoutros sitesna intemeteleé caracterizadocomoal- guémde coraçãoaberto,charmoso,brigão, apaixonado,extrovertido,aventureiroe dado ao exagero.Suaobramostraclaramenteque ele era criativoe enérgico,e a forçade sua personalidadeaindasefazsentirnoBrasil. Diantedesseexemplotão contundente, ficadifícilcrerque,nadécadade1970,amaio- ria dospsicólogosacreditavaqueostraçosde personalidadeeramficções- ilusõesquetínha- mosacercadenósmesmosedeoutrosànossa volta.UmacríticainfluenteporpartedeWalter Mischel(1968)haviaapontadoo fatodeque aspessoasnãoagemde formaconstanteem todasassituações,equeostestesdepersona- lidadenão eramfortesfatorespreditivosde comportamentoemexperimentosde labora- tório.Ospsicólogospassarama acreditarque nossoscomportamentoseramtotalmentecon- troladospeloqueaprendêramosemexperiên- ciaspassadaseporquaisquersituaçõesemque estivéssemosinseridosno momento.A idéia dequeportrásdenossasformasdeagiresta- vaumanaturezainternapermanenteeracha- madadeerro deatribuiçãofundamental (Ross, 1977). O efeitodessascríticassobreo pequeno grupodepesquisadoresquepermaneciacom- prometidocoma psicologiadapersonalidade tradicionalfoi odeforçarumolharmuitorígi- dosobreabaseempÍricae conceitualdostra- ços.ComosepodesaberseVilla-Loboserareal- menteaventureiro?Seostraçoslevavamaum comportamentoconstante,comoelepoderia ser charmosoe brigãoa um só tempo?Seu comportamentocomoumpequenochorãolem- bravaodocompositoremaestromundialmen- te famoso? Daperspectivadapsicologiadapersona- lidadecontemporânea,podemosfazerinferên- ciasinformadassobreasrespostasaessasper- guntas.Comomuitosobservadoresindepen- dentesconvergiramnojulgamentodequeele eraaventureiro,éprovávelqueeleofosse,uma atribuiçãoqueévalidadadeformaconsensual (McCrae,1982).Comoaspessoassecaracte- rizampor muitostraços,quevêmà tonaem diferentessituações,elepodetersidocharmoso ebrigãoaomesmotempo.E comoosestudos 204 CARMEN FlORES·MENDOZA, ROBERTOCOLOM & COlS, longitudinaisdemonstraramqueasdiferenças individuaisemtermosdetraçosdepersonali- dade são muito estáveis(McCrae e Costa, 2003),é provávelqueo jovemVilla-Lobosse assemelhasseaovelhoVilla-Lobos. Tendoestabelecidoarealidadeeaimpor- tânciadostraçosdepersonalidade,ospesqui- sadorescontemporâneoscomeçarama tratar dequestõesmuitomaisfundamentais:qualé a origemdostraços?A criaçãodeVilla-Lobos comofilho deum intelectuale escritorgerou seuamorpelasartes,ou elejá nasceuassim? Quaisasconseqüênciasdostraços?A música deVilla-Lobos,suainclinaçãoporviajare sua dedicaçãoao Brasilrefletemmesmosuaper- sonalidade?Quala relaçãoentreostraçose a cultura?O idiomamusicaldeVilla-Lobosfoi inegavelmentemoldadopelossonsdo Brasil, massuamúsicateriasidotão"viril,audaciosa e impetuosa"(M. de Andrade, citado em Tarasti,1995,p. 53) seeletivessecrescidona ChinaounoMarrocos? Estudosdecasonosquaisasvidasdein- divíduos- reaisou fictícios- sãoestudadas emprofundidadeformamumapequenaparte daatualpesquisaempers10nalidadeesãomui- to desacreditadosperantealgumaspessoas (Goldberg,1990),massãoúteisparailustrar os princípiosgeraisderivadosdosestudosde grupos.A maioriadosartigosdepublicações científicasrelatapesquisassobreasrespostas deamostrasautônomas,reduzidasasériesde números que são submetidas a análise estatística.Análisefatorial,modeloda curva de crescimentoe análisepelateoriade res- postaaoitemsãoferramentasestatísticasso- fisticadasquenosajudama inferirprincípios gerais,masnuncasedeveperderdevistaque o objetivoúltimoda psicologiadapersonali- dadeé a aplicaçãodessesprincípiosparaen- tendervidashumanas. PSICOLOGIAS DA PERSONALIDADE Estevolumesededicaàsdiferençasindi- viduaise trataa psicologiadapersonalidade comoumadasmaioresaplicaçõesdessaabor- dagem.Os manuaisdedicadosexclusivamen- te à personalidade- pelomenosnosEstados Unidos- geralmentetratamas diferençasin- dividuaisnostraçoscomoapenasumaentre diversasabordagensteóricassobrepersonali- dade.Teoriaspsicodinâmicas,daaprendizagem ehumanistascostumamrecebermaisatenção do queasteoriasdostraços.Um levantamen- todeoitolivrosdessetipo(MayereCarlsmith, 1997)concluiuqueFreuderacitadoem856 páginas,ohumanistaCarlRogerserao segun- do(311citações)eo teóricodaaprendizagem socialAlbertBanduravinhaemterceiro(277). Apenastrês psicólogosdos traços- AUpot, Eysencke CateU- estavamentreos20princi- paisteóricos. Diferentementedasteorias,apesquisaso- brepersonalidadeé dominadapelapsicologia. dos traços.Por exemplo,o Volume 84 do Joumal ofPersonalityandSocialPsychologyUa- neiroa junho de 2003),tinha36 artigosna partededicadaaprocessosdapersonalidadee diferençasindividuais,dosquais29 incluíam medidasdos traços.Em parte,issorefleteo fatode queos métodosassociadosà psicolo- giadostraços- escalasdeauto-relatoedeava- liaçãopor observadores- demonstraramter umabasecientíficamuitomaissólidado que osmétodosprojetivosprivilegiadospelosteó- ricosdapsicodinâmica.Porém,emmuitosas- pectos,a psicologiados traçosnão é apenas uma alternativa,maspodeser tambémum componentedeoutrasabordagensteóricas.A teoriadovínculoestábaseadaemnoçõespsica- nalíticas,masovínculoadultoéavaliadocomo umtraço.A aberturaàexperiênciaéumcons- tructo central à abordagemhumanistade Rogers,mastambéméumadasdimensõesbá- sicasdostraços. Maddi (1980)afirmaqueas teoriasda personalidadetêmdoiscomponentes:umcen- tral,queexplicacomoapersonalidadefuncio- nano indivíduo,eumperiférico,queespecifi- cacomoasvariaçõesnonúcleosãoexpressas emdiferençasindividuais.Porexemplo,segun- doapsicanálise,todostêmumid eumego,os quaisestãoinevitavelmenteemconflito- isso é o núcleoda personalidade.Entretanto,em funçãodeconstituição,deexperiênciasinfantis oudetratamentopsicanalítico,algumaspessoas têmegosmaisbempreparadosparalidarcom o id, havendo,assim,diferençasemtermosde força doego.Maisumavez,ospsicólogoshuma- nistaspodemafirmarquetodasaspessoaslu- tamparaserealizar,masalgumassãomaisbem sucedidasdoqueoutras.A motivaçãodeauto- realizaçãoéonúcleodapersonalidade,aopas- soqueasdiferençasindividuaisemtermosde criatividadesãoperiféricas. Quasetodososmodelosacercadaspes- soaspermitemvariaçõesno estilode sucesso oudefuncionamento.Horneyconsideravaque todostemosde lidar comconflitosinternos, massepodemadotarrotasalternativaspara resolvê-Ios,aproximando-nos,indocontra,ou nos afastandode outros(Horney,1945).Os teóricosdaaprendizagemsocialacreditamque nósfuncionamoscombasenasexpectativas,a partirdenossossucessosoufracassospassados, e, dessaforma,diferimosemtermosdenosso lócusdecontrole.Ao longodedécadas,ospsi- cólogosdapersonalidadepropuseramcentenas, talvezmilhares,devariáveisdediferençasindi- viduaisqueexpressamdiferençasnodesenvol- vimentoounaoperaçãodeprocessosdeperso- nalidade.Muitasvezes,desenvolveram-sees- calasparamediressestraços,queassimpude- ramserusadosparaavaliara teoria. A vantagemdessaabordageméadeque ostraçossãoentendidosemtermosdemeca- nismospsicológicos,osquais,emprincípio,po- deriamlevara intervenções.Por exemplo,se quisermosestimularumlócusinternodecon- trole,a teoriasugerequedeveríamospropor- cionarexperiênciasnasquaisosesforçospes- soaisdo indivíduorepetidamentelevamao sucesso.Sequisermosmelhoraraforçadoego, devemostrazerà tonaconflitosinconscientes. Os traçosderivadosdasteoriasdinâmicasda personalidadetêmbaseteóricaeumcaminhopossívelparaa mudança. Noentanto,essaabordagemtambémtem problemas.Paracomeçar,váriasteoriasdife- rentespodemapresentarexplicaçõesconfli- tantesparaa mesmavariáveldediferençain- dividual.Quasetodasasteoriasdapersonali- dadetentamexplicarporquealgumaspessoas sãocronicamenteansiosaseoutrasnão,ege- ralmentenãoficaclaroqualexplicaçãoteóri- caestácorreta(seé quealgumao está).Em segundolugar,essaabordagemnãoapresenta maneirasde garantirquetodasasdiferenças INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA DAS DIFERENÇAS INDIVIDUAIS 205 individuaisimportantessejamlevadasemcon- sideração.Pelomenosna maneiraoperacio- nalizadapelo Myers-BriggsType Indicator (MBTI;MyerseMcCaulley,1985),a teoriade Jungacercadostipospsicológicosnãoavaliaa ansiedade,umavariáveldegrandeimportân- cia paraa maioriados teóricos.Em terceiro lugar,a variedadede teoriasconflitantesfaz comquenãohajaformadeestudarostraços sistematicamente.Diferentessistemaspoderão terconjuntosdetraçossemelhantesoudistin- tos,oupoderãochamarosmesmostraçospor nomesdiferenciados,ou traçosdistintospelos mesmosnomes.Em lugarde umapsicologia dapersonalidade,temosdúziasdepsicologias dapersonalidadeimpossíveisdesecomparar. ( A ABORDAGEM EMPíRICA DOS TRAÇOS Emlugardecomeçarcomumateoriado núcleodapersonalidadee inferirvariáveisda diferençaindividualquedevemsurgirseateo- riaestivercorreta,épossívelcomeçarsimples- menteavaliandotraçosdepersonalidade.Se fizermosum esforçosistemáticoparacatalo- gartodosostraçosdepersonalidade,podemos criarumataxonomiacapazde sistematizara pesquisa.Por definição,umataxonomiados traçosabrangenteteriadeincluirtodasasva- riáveispreditaspelasteorias- seasteoriases- tivessemcorretas.Sendoassim,teríamosuma baseparaagregarresultadosdepesquisaque seoriginaramemdiferentescontextosteóricos. Asgeneralizaçõesresultantespoderão,portan- to,serusadascomobaseparaquesefaçaasele- çãoentreasteoriasouparaquesecriemnovas. O problemaresideemseencontraruma formadelocalizar"todosostraçosdepersona- lidade"e emtercertezadequenenhumtraço importantetenhasidoomitido.Pesquisadores queutilizamo métodopsicoléxico,entreeles Allporte Odbert(1936)e Cattel(1946),afir- maramquequalquertraçorealmentesignifi- cativoteriasidonotadoecodificadonalingua- gemnatural.Bastaextrairtermosrelativosaos traçosdeumdicionárioparaquesetenhauma longalista.Ao combinarsinônimoseobservar as correlaçõesentreagrupamentostraço-ter- mo, os pesquisadoresacabarampor concluir 206 CARMEN FlORES-MENDOZA, ROBERTOCOlOM & COlS. queexistemcincofatoresou dimensõesam- plos nos termossobretraçosna linguagem natural(Tupese Christal,1961/1992).Estu- dos posterioresconfirmaramtal avaliação (Goldberg,1990)paraalínguainglesa,embo- ranãoestejaclaroseésempreesseocasoquan- dosetratadeoutraslínguas(Saucier,Hampson e Goldberg,2000).Essesfatoresléxicostêm sidochamadosdeos"CincoGrandes"ecostu- mamserrotuladosde neuroticismo(N), ex- troversão(E),abertura(A), cordialidade(C)e responsabilidade(R).* Duranteanos,ospsicólogosprestaramre- lativamentepoucaatençãoaoscincograndes fatoresléxicos,preferindopermanecercomum dossistemasconcorrentesdeGuilford,Eysenck e Cattell,ou utilizandovariáveisqueutilizam umtraçoúnicocomolócusdecontrole(Rotter, 1966)ou automonitoração(Snyder,1974). Contudo,na décadade 1980,algunspesqui- sadoresjá haviamvoltadoao problemadese construirumataxonomiaadequadadostraços, eumasériedeestudosdemonstrouquequase todosos traçospropostospor diferentesteo- riasdapersonalidadeestavamrelacionadosa um ou maisdoscincograndesfatoresléxicos (McCrae,1989).Porexemplo,ateoriadostipos psicológicosdeJung (1923/1971)levouaode- senvolvimentodoMBTI,queavaliaintroversão/ extroversão,sensação/intuição,pensamento/ sentimentoe julgamento/percepção.Estudos empíricosdemonstraramqueestescorrespon- dema quatrodoscincofatores:E, C, A e R, respectivamente(McCraee Costa,1989). A convergênciadasabordagensteóricae léxicalevouaosurgimentodomodelodoscin- co fatores(FFM) da personalidade(Digman, 1990),um modelovoltadoa incluirtraçosde * N.deR.T.NoBrasil,doisdosCincoGrandesFato- resreceberamdiferentestraduções.Sãoeles:';A.grea- bleness"e "Conscientiouness".EnquantoHutz, Nunes,Silveiraecolaboradores(1998)traduziram respectivamentecomo"Socialização"e"Escrupulo- sidade",naobradePervineJohn(2004)traduziu- secomo';A.mabilidade"e"Consciência".Napresenta obra,escolheu-seostermos"Cordialidade"e"Res- ponsabilidade"tornando,portanto,o acrônimo NACER.Umaestratégiaespanholaqueservetam- bémparao idiomaportuguêse quenãoalterao significadooriginaldosconstructos. ambas.O FFM proporcionouumataxonomia naqualpraticamentetodosostraçosreconhe- cidospelaspessoasleigasouporpsicólogospo- demser classificadose levouao desenvolvi- mentodenovasmedidasprojetadasespecifi- camenteparaavaliaros fatores(De Raade Perugini,2002),dasquaisamaisutilizadaéo Inventáriode PersonalidadeNEO Revisado (NEO-PI-R;CostaeMcCrae,1992).Combase emumarevisãobibliográfica,CostaeMcCrae selecionaramseistraços(oufacetas)parare- presentarcadaumdoscincofatorese redigi- ramseisitensparaavaliarcadafaceta.ONEO- PI-R foiusadoemmaisde1.500estudose tra- duzidoparamaisde 40 idiomas,proporcio- nandoumariquezade informaçõessobreas origens,o desenvolvimentoe o funcionamen- to dostraçosdepersonalidade. DOMíNIOS E FACETAS O FFM éummodelohierárquicodeper- sonalidade,geralmentemedidoemdoisníveis. No nívelinferior,estãotraçosmuitoestreitose bastanteespecíficos;nonívelsuperior,oscin- co fatoresamplos.Quando se discutemos constructosdapsicologiadostraços,éútil co- meçarpelonívelsuperior,paraseterumavi- sãogeraldo tópico.Damesmaforma,quando seavaliaumindivíduo,aprimeirainformação quesequeré a posiçãoemrelaçãoaoscinco fatores. O neuroticismosereferea um grupode traçosrelacionadosa emoçõesnegativase a suasconseqüências.Os indivíduosde N alto sãodadosaexperimentarpreocupação,irrita- ção,melancoliaevergonha.Têmcrençasirra- cionais,tais comoa noçãoperfeccionistade quedevemfazertudocorretamente.Também têmbaixocontrolede seusimpulsos,pois a frustraçãodeseusdesejososperturbamuito. IndivíduosdeN baixosecaracterizamporuma ausênciadessascaracterísticas,tendema ser calmos,racionaise autocontrolados.Enfren- tamdeformaeficazoestresse.Otermo"neuro- ticismo"foi cunhadopararefletirofatodeque indivíduosdiagnosticadoscom transtornos neuróticosgeralmentetêmescorealto nessa dimensão(Eysenck,1947),masmuitosindiví- duossemqualquertranstornopsiquiátricotam- bémo têm.Alguns pesquisadorespreferem chamaressefatorde"instabilidadeemocional". A "extroversão"éumtermocientíficoque entrouna linguagempopular,utilizadocorno sinônimode"sociabilidade".Ospsicólogoshá muitodebatema definiçãoadequadado ter- mo (Guilford,1977),masoscontemporâneos o utilizamparasereferiraumconstructoam- plo queinclui sociabilidade,domíniosociale qualidadesdetemperamentocornoaltonível deenergia.Osextrovertidosbuscamagitação e têmcaracterísticasalegres.Osintrovertidos, por suavez, sãosériose inibidose demons- tramurnanecessidadedesolidão.Nãosãone- cessariamentetímidos,podendoatéter boas habilidadessociaise ser livresde ansiedade social.Simplesmentepreferemevitara com- panhiadeoutraspessoas. A aberturaàexperiênciatalvezsejao me- noscompreendidodoscincofatores.Porvezes, échamadade intelecto,imaginaçãooucultura, massecaracterizapor uminteresseintrínseco na experiênciaem urnaamplavariedadede áreas.A curiosidadeintelectualeo interessees- téticosãoelementoscentrais,maspessoasaber- tastambémsãosensíveisaossentimentos,dis- postasa experimentarnovasatividadese libe- raisemtermosdevalorespolíticosesociais.O fatorA temurnaleveassociaçãocommedidas deinteligência,maséumconstructomuitodife- rente.Indivíduosfechadospreferemo conheci- doe arotinaeprezamosvalorestradicionais. A cordialidadesereferea traçosquele- vamaatitudeseacomportamentospró-sociais. IndivíduoscomaltaC sãocorteses,crédulose simpáticos.PessoasdeC baixa- ouantagôni- cas- estãopreocupadascomseusprópriosin- teressesedesconfiadasem relaçãoa outras. Pessoascordiaissãoagradáveis,mastambém háumlugarnasociedadeparapessoaspráti- casecompetitivas.Naverdade,já seobservou quemuitospsicólogosdapersonalidadefamo- sossãobaixosemC, comseuceticismoinato tornando-osexcelentespensadorescríticos (CostaeMcCrae,1995b). Por fim, a responsabilidadesecaracteri- zaporcontençãoesentidoprático.Indivíduos dealtaR sãozelosose disciplinados,osdeR baixasãorelaxadose semambição.Níveisal- INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA DAS DIFERENÇAS INDIVIDUAIS 207 tosdemaisdeR podemtransformaraspessoas em"viciadasemtrabalho"einterferemnosre- lacionamentossociais.OsindivíduosdealtaR tambémtêmmaisprobabilidadesde serob- sessivamenteasseados.Porém,namaioriados aspectos,o altoR conferevantagenssociaise estárelacionadoa um desempenhoprofissio- nal superiorem quasetodasas ocupações (BarrickeMount,1991). É fácilencontrarexemplosdessestraços entreasfigurashistóricas,e háevidênciasde que a classificaçãodessasfiguraspode ser confiávele válidaquandofeitapor classifica- doresqualificados(Rubenzer,Faschingbauere Ones,2000).LeonardodaVinci tinhaA alta; GeorgeWashington,a R. RichardNixonéum exemplodeatéondepodechegarurnapessoa profundamentedescortês(McCrae et aI., 2001).Jean-JacquesRousseau,quedetalhou suasindisposições,ansiedadesesuspeiçõesem suaobraConfissões(Rousseau,1953),certa- mentetinhaneuroticismoalto(McCrae,1996). Seriadifícilimaginarumexemplomelhor deextroversãodoqueHeitorVilla-Lobos.Mui- tasdescriçõesrelatamqueeletinhaum gran- de charmee acolhimentointerpessoal,e não restamdúvidasdequeeramuitogregário:"Ele adoravatergenteaoseuredor- muitagente, a qualquerhora"(E. Helm,citadoemTarasti, 1995,p.57).Eraumlídernatural,assumindo a responsabilidadepelaeducaçãomusicaldo Brasilcornoumtodo.Suagrandeenergiaapa- recianão apenasem suaproduçãomusical prodigiosa,mastambémnoestilodesuafala; cornolembroucertavez o pianistaArthur Rubinstein(citadoemTarasti,1995,p. 45): cadavezmaisanimado,elecomeçavaa me contarhistóriasdesuajuventude,quesoavam maiscomoJulio Vernedoquequalquercoisa emquesepudesseacreditar... tudoisso,ele mencionavacomabsolutaconvicção,emuma vozaguda,emseumaufrancês,ajudadopor umavívidagesticulação Suagrandenecessidadedeestímuloévis- tanoscharutos,nocaféenorádiocomqueele secercavaduranteo trabalho.E seuhumore suaalegriadeviverpodemservistastantoem suamúsicaquantoemsuavida.Essascaracte- rísticasnãosedeviamà sortenascircunstân- 208 CARMEN FLORES-MENDOZA, ROBERTO COLOM & COLS. ciasdesuavidaouà impetuosidadedajuven- tude, masrefletiamsuas disposiçõesdura- douras:"atéo dia de suamorte,ele foi um filhodanatureza,completamentelivredeini- bições,possuídopor umavitalidadeenorme, quaseraivosa"(E. Helm, citadoem Tarasti, 1995,p. 57). Comoilustradopor esseretrato,a extro- versãoincluiumconjuntodetraços,oufacetas, maisespecífico.O NEO-PI-Rmedeseisdessas facetas:acolhimento,gregarismo,assertividade, atividade,buscadesensaçõeseemoçõespositi- vas.As facetassãodistinguíveis:algumaspes- soassãoacolhedorassemsergregárias,algu- massãoativas,masnãoalegres.Contudo,em geral,asquetêmelevadoqualquerdessestra- çostendema serelevadasemtodososoutros; comoresultado,elesco-variamemumapopu- laçãoparadefinirumúnicofator,aextroversão. A Tabela11.1lista as 30 facetasdas5 escalasmedidaspeloNEO-PI-R,agrupadaspelo fatorquedefinem.Osrótulosparaasfacetas dãoumaidéiaclaradecadafator.Por exem- plo, aspessoascomaltoN sãocaracterizadas por ansiedadecrônica,raiva/hostilidade,de- pressão,constrangimento,impulsividadeevul- nerabilidadeao estresse.No casodaA, osró- tulosdafacetareferem-seaoaspectodaexpe- riênciaao qualum indivíduoestáabertoou fechado,egeralmentesãolidascomo"abertu- raàfantasia","aberturaàestética"eassimpor diante.Essas30facetasnãorepresentamuma listagemexaustivade traçosespecíficosno FFM, esimumaseleçãodetraçosquecumpri- ramumpapelimportantenaliteraturadepsi- cologiaequerepresentamo melhorpossívela amplitudee o alcancede cadafator (Costae McCrae,1995a). ObservamosqueostraçosqueformamE co-variam,e o mesmoseaplicaa traçosque definemosoutrosfatores.Pessoasansiosasten- demaserhostis;pessoasabertasàfantasiaten- dema serabertasà estética.Por outrolado, facetasdediferentesfatoresgeralmentesãoin- dependentes:saberque alguémé altamente ansiosonãodiz coisaalgumasobrequãoex- trovertidaa pessoaé.Pessoasfechadasà fan- tasiatêmtantasprobabilidadesdeseremcor- tesesquantodeseremdesagradáveis.Poressa razão,aestruturadepersonalidadeémaisbem representadapeloscincofatoresoudimensões independentes.Damesmaformacomosepode localizarqualquerlugarnaTerraespecificando latitude,longitudeeelevação,pode-sedescre- verqualquerpessoaespecificandoapontuação emcadaumdoscincofatores.Villa-Lobostal- vezpossaserdescritocomomédioemN, mui- to altoemE eA, médioemC ealtoemR. AsevidênciasdoFFMvêmdeestudosnos quaisumasériedetraçosémedidaeintercorre- lacionada.A seguir,ascorrelaçõessãofatora- dasusandoumatécnicaestatísticaqueidenti- ficaclustersdevariáveisqueco-variam.A Ta- bela 11.1mostraum exemplo.No caso,219 estudantesuniversitáriosdeMinasGeraisrea- lizaramo NEO-PI-R, descrevendoalguéma quemconheciambem(comunicaçãopessoal, C. E. Flores-Mendoza,29deagostode2003). Metadedescreveuumindivíduoemidadeuni- versitária,metade,umadulto,etantohomens quantomulheresforamclassificados.Cinco fatoresforamrevezadosparalembraraomá- ximoa estruturanormativanorte-americana (McCraeet aI., 1996).Os númerosnatabela sãocargasfatoriais,quepodemserinterpreta- dascomocorrelaçõesentreaescaladefacetas eo fatorsubjacente.Nl: ansiedade,porexem- plo,estácorrelacionadaem0,83comN, mas apenasem-0,02comE. As cargasmaioresestãoimpressasem negritoedemonstramque,emquasetodosos casos,amaiorestánofatorpretendido(asex- ceções,N5, impulsividadeeE3,assertividade, geralmentedividemsuascargasemváriosfa- tores,assimcomoo fazemaqui.).Os coefi- cientesdecongruênciasãomedidasdeseme- lhançaentreascargasfatoriaisdeduasamos- trasdiferentes.Nessecaso,os dadosbrasilei- ros sãocomparadosaosnorte-americanosda amostranormativade mil adultos(Costae McCrae,1992).A variávelcoeficientedecon- gruência(VCCs),apresentadanaúltimacolu- nadatabela,comparaascargasfatoriaispara cadafacetaemtodasascincoescalas.Porexem- plo,aimpulsividadetemcargasde0,39,0,47, 0,12,-0,40e-0,32paraN, E,A, C eR,respec- tivamente,naprimeiraescala;nosdadosnor- te-americanos,ascargascorrespondentessão 0,49,0,35,0,02,-0,21 e -0,32. Comoesses padrõessãosemelhantes,aWC é deO, 94,o TABELA 11.1 Cargns deestudantese ae:.. NEO-PI-R Faceta N1: Ansiedade N2: Raiva/Hostilidade N3: Depressão N4: Constrangimem N5: Impulsividade N6: Vulnerabilidade E1:Acolhimento E2: Gregarismo E3: Assertividade E4:Atividade E5: Buscade sensaçê~ E6: EmoçõesPositivc; A1: Fantasia A2: Estética A3: Sentimentos A4: Ações A5: Idéias A6: Valores C1: Confiança C2: Retidão C3: Altruísmo C4: Complacênci C5: Modéstia C6: Sensibilidade R1: Competência R2: Ordem R3:Cumprimento:: =-- R4: Esforçopor re:t:::::;- R5:Autodisciplinc R6: Deliberação Cangruênciab A replicabilidadedo fatoré notávelem váriosaspectos.Os dadosnorte-americanos eramdeauto-relatosfeitosporadultos.Osda- dosbrasileirossãoclassificaçõesde observa- dor(deestudantesedeadultos)feitosporuni- versitáriosquase15 anosmaistarde.Osnor- te-americanosresponderama um questioná- rio eminglês;os brasileiros,a umatradução parao portuguêsdo Brasil.Nema fontedos - __ o -- - R VCC= ,8J 0,010,220,92* - •.. -::: 0,59, -0,570,020,96** 0,79 -0,22 O,lS-0,270,96** 0,74 -0,33 0,13-0,030,97** 0,39 0,47 -0,40-0,320,94** 0,77 -O,OS -0,04-0,420,99** c : col imento -0,170,720,180,460,060,99** E2: Gregarismo -0,060,77O,OS-0,00-0,300,93* E3: Assertividade -0,300,360,01-0,420,510,92* E4: Atividade O,OS0,630,13-0,410,240,9S** ES: Buscode sensações 0,070,620,29-0,23-0,340,89* E6: EmoçõesPositivos -0,070,730,400,010,040,96**A1: Fantasio 0,130,360,65-0,04-0,260,96** A2: Estético 0,170,120,810,210,020,98** A3: Sentimentos 0,200,520,620,080,070,9S** M: Ações -0,230,410,52-0,12-0,290,89* AS: Idéias -0,03-0,160,770,120,260,93* A6: Valores -0,270,200,640,21-0,130,90* C1: Confiança -0,190,400,120,64-0,01O,9S** C2: Retidão -0,13-0,16-0,100,700,230,99** C3: Altruísmo -O,OS0,28O,OS0,770,2S0,92* C4: Complacência -0,23-0,12-0,010,810,130,99** CS: Modéstia 0,06-O,OS-0,110,760,040,9S* C6: Sensibilidade 0,040,200,320,670,040,96** R1: Competência -0,30-0,06O,lS0,200,760,93* R2: Ordem 0,08-0,06-0,18-0,000,710,97** R3: Cumprimentodo dever -O,OS-0,03-0,11O,3S0,800,9S** R4: Esforçopor realizações -0,080,2S-0,03-0,2S0,780,97** RS:Autodisciplina -0,270,00-0,04O,OS0,840,97** R6: Deliberação -0,26-0,33-0,030,410,560,97** Congruênciab 0,97**0,9S**0,9S**0,9S**0,94**0,9S** #0/0.#=219. Essessõo componentesprincipaisrotadosparonormasamericanos(Costae McCroe,1992). Cargosmaioresdo que0,50 emmagnitudeabsolutasõoapresentadas em negrito."Varióvelcoeficientede congruência'Coeficientede congruênciofator/totalcomo motriz-alvo.'Congruênciosuperioro 95% de rotaçõesde dadosaleatórios."Cangruênciasuperioro 99% de rotaçõesdedadosaleatórios. queé umaconcordânciamuitomaiordo que seesperariaao acaso.Defato,todasasVCCs superaramosníveisdeincerteza. A últimalinhadatabelaapresentaacon- gruênciaparaoscincofatorese,nocantoinfe- riordireito,paraamatrizcomoumtodo.Todos essesvaloressãomuitoaltos,sugerindoquea estruturadefatoresnaTabela11.1équaseidên- ticaà estruturadaamostranorte-americana. 210 CARMEN FlORES-MENDOZA, ROBERTOCOLOM & COlS. dados,nema idadedo alvo,tampoucoa épo- ca,oua línguae acultura,parecemimportar. O FFM éumadescriçãoextremamenteconsis- tentedapersonalidadehumana. A PESQUISA EMPíRICA SOBRE OS TRAÇOS DO FFM Depoisdedécadasnasquaisumaestru- turapassíveldeserreplicadapareciaconfun- dir ospsicólogosdostraços(Howarth,1976), o robustoFFM revigorouo campoe levoua muitasdescobertasnovasnaspesquisas.Sabe- seagoramuitomaisacercadostraçosdoque há20 anos,e novaslinhasdepesquisacome- çama seabrir.Umresumodessasdescobertas ofereceomelhorquadro,atéagora,decomoé a personalidadehumana. A origem dos traços Umadasquestõesmaisantigasnapsico- logiadizrespeitoàorigemdasdiferençasindi- viduais:porquealgumaspessoassãoansiosas semqualquerrazãoqueojustifique,aopasso queoutrasnãodemonstrammedodiantedo perigo?A psicanáliseidentificaa origemda maioriadessasdiferençasnasprimeirasexpe- riênciasde vida,especialmentea relaçãoda criançacomseuspais.Osteóricosdaaprendi- zagemsocialapontamas gratificaçõese as puniçõesqueosindivíduosrecebem(tantodi- retaquantoindiretamente)comoasforçasque definemocaráter.Osteóricosdotemperamen- to (comoBussePlomin,1975)consideramos fatoresde constituiçãocomoos maisimpor- tantes,pelomenosparao subconjuntodetra- çosdetemperamento,comoníveldeativida- deemedo. Apesardaamplasuposiçãodequeo am- bienteinicialé fundamentalparaa personali- dadee a psicopatologia,há muitopoucapes- quisaquetenharealmentemedidoaexperiên- ciainfantileposteriormenteavaliadoaperso- nalidadeno adultomaduro(Kagane Moss, 1962).Estudosretrospectivos(McCraee Cos- ta,1988)encontraramalgumasassociaçõespe- quenas- porexemplo,adultoscomaltacordia- lidadeinformamqueseuspaiseramamorosos e nãoosrejeitavam,o queparecesugerirque o amorparentalcontribuiparaumaorienta- çãopró-socialnosfilhos.Todavia,a interpre- taçãodessesresultadosé ambígua.Talvezos adultoscortesessejamsimplesmentemaisge- nerososna avaliaçãoquefazemdeseuspais, lembrando-sedelese os descrevendocomo sendomaisamorososdo queelesrealmente eram.Talvezseuspaisfossemmaisamorosos porsermaisfácildeamarseusfilhoscorteses. Talvezosmesmosgenesquetornaramseuspais amorososlhestenhamdadoumaaltaC. Essaúltimapossibilidadese tornamais provávelemfunçãodosresultadosdemuitos estudosgenético-comportamentais.Pesquisa- doresdo mundotodotêmtentadoestimara herdabilidadedostraços- atéquepontoeles sãodefinidospelosgenes- usandoos méto- dosdagenéticacomportamentaI.Essesméto- dos são baseadosno fato de que gêmeos monozigóticos(MZ) ou idênticoscomparti- lham todosos genes,enquantoos gêmeos dizigóticos(DZ) ou fraternoscompartilham, emmédia,apenasmetade,e ascriançasado- tadasnãotêmqualquergeneemcomumcom seusirmãosadotivos.Considerando-sequeos genessãoimportantesnadeterminaçãodostra- çosdepersonalidade,osgêmeosMZ deveriam assemelhar-semaisuns aosoutrosdo queos DZ,os quais,por suavez,deveriamsermais semelhantesentresi do queos irmãosadoti- vos.Eéexatamenteissoqueseencontra.Quan- do sejuntam auto-relatosdos cincofatores sobreamostrasdegêmeos(porexemplo,Ono etaI.,2000),osresultadossugeremquecerca demetadedavariânciaé atribuídaa genes,e quasenadaaoambiente(osefeitosdesecres- cernamesmacasa,comosmesmospais,esco- la, religião,etc.).A outrametadedavariância aindaé um mistério,masgrandepartedela parecesererrodemedição.Quandoseacres- centamaosauto-relatosclassificaçõesde ob- servadoresparaproporcionaravaliaçõesde personalidademaisprecisas,chega-sea esti- mativasdeherdabilidademuitomaiselevadas (Riemann,Angleitnere Strelau,1997). Estudosdegenéticacomportamentalfor- necemindicadorespoderosos,masindiretos, dosefeitosdosgenessobreos traços.Atual- Desenvolvimeo•...•_ de personali mentehámuitointeressenagenéticamolecular dapersonalidade,comestudospublicadosso- breváriosgenescandidatosacausadoresdesses efeitos,eplanosparaumavarreduracompleta nogenomaempopulaçõesselecionadas,como asdaIslândiaedaSardenha.Infelizmente,os resultadosatéagoratêmsidodifíceisderepli- car (Ball etal., 1997),e pareceprovávelque os avançossejamlentosnessaárea.Cadatra- ço provavelmenteseráinfluenciadopor mui- tosgenes,de modoqueo efeitode qualquer umdelesindividualmenteserásutiledifícilde detectar. Desenvolvimento dos tra~os de personalidade Existemdois métodoscomunsusados paraacompanharo desenvolvimentodostra- çosduranteavida:osdelineamentostransver- saise os longitudinais.Nosestudostransver- sais,pessoasdediferentesidadessãocompa- radasaomesmotempo;noslongitudinais,os mesmosindivíduossãoavaliadosemmomen- tosdiferentes.Cadamétodotemdetermina- daslimitações.Diferençasetáriastransversais, por exemplo,podemaconteceremfunçãode diferençasnoscoortesde nascimento,e não emmudançasnapersonalidadedesdeainfân- cia.Asmudançaslongitudinaisparecemavaliar a transformaçãodeformadireta,masasmu- dançaspodemserdevidasaalteraçõesnasfor- masde respondera questionários,e nãoem umverdadeirodesenvolvimentodetraços.Em funçãodessetipode limitação,nenhumestu- do é desprovidode ambigüidade,masjá fo- ram feitosmuitostrabalhoscom diferentes pontosfortese fracos,obtendo-seum quadro relativamenteclaro(McCraee Costa,2003). Entreos 12e os 18 anos,os indivíduos muitasvezesapresentammudançasmarcadas, comalgunsadolescentesapresentandocresci- mentodealgunsfatores,eoutros,diminuição. Entretanto,osníveismédiosdostraçospermã- necem,emmuito,inalterados,comexceçãode pequenosacréscimosem A (McCraeet aI, 2002).Dos18aos30 anos,hámenosmudan- çasindividuais,masexistemtendênciasprevi- síveisnoprocessodeamadurecimento:N, E e INTRODUÇÃO ÀPSICOLOGIA DAS DIFERENÇAS INDIVIDUAIS 211 A decrescem,enquantoC eR aumentam.Sen- doassim,osadultossãomenosvoláteisemais disciplinadosdoqueosadolescentes.Apósos 30 anos,asdiferençasindividuaissãomuitos estáveiseosníveismédiosmudammuitolen- tamente.Comoconseqüência,ostraçosqueca- racterizamalguémcomessaidadetêmmuitas probabilidadesde aindacaracterizaralguém de70anos.Issoéverdade,apesardetodasas mudançasemsaúde,papéissociaise circuns- tânciasdevidaqueprovavelmenteaconteçam durantea idadeadulta. Os estudoslongitudinaisqueavaliama estabilidadedasdiferençasindividuaistêmsido conduzidosprincipalmentenosEstadosUni- dos,masestudostransversaistêmsidodesen- volvidos em muitos países do mundo, do Zimbábueà Croáciae à RepúblicaPopulardaChina,verificando-sepadrõesextraordinaria- mentesemelhantes(McCraee Costa,no pre- lo). Asdiferençasdeculturaoudehistóriare- centenãoparecemterimportância. Correlatos e conseqüências ComoafirmouMischel(1968),éverda- dequeostraçospredizemrelativamentepou- cooscomportamentosespecíficosemsituações de laboratório,masEpstein(1979)demons- trou queo poderdasprediçõesaumentaà medidaqueos comportamentossãoagrega- dos,e os dadossobrea estabilidadedasdife- rençasindividuaismostramqueostraçospo- demexercersuainfluênciadurantedécadas, demodoqueo efeitocumulativoéenorme. Muitosestudosdemonstraramosefeitos poderososqueostraçostêmnasvidasdaspes- soas.Paraapontarapenasalgunsdeseuscorre- latos,N é um fatorderiscoparaumaampla variedadedetranstornospsiquiátricos(Costa eWidiger,2002;TrulleSher,1994).O fatorE estárelacionadoa interessesprofissionais,a procuraeficazdeempregoseaganhosduran- te a vida (McCraee Costa,2003).O fatorA afetatudo,depreferênciasmusicais(Rentfrow e Gosling,2003) à escolhade um cônjuge (McCrae,1996).BaixosescoresemC predis- põema pessoaa desenvolverdoençascoro- narianas(Costa,McCraeeDembroski,1989). 212 CARMEN FLORES-MENDOZA, ROBERTOCOlOM & COlS. A responsabilidadeestáligadaarealizaçõesaca- dêmicas(PaunoneneAshton,2001)eadesem- penhoprofissional(BarrickeMount,1991).Os traçosnãosãoapenasdisposiçõesduradouras, elespermeiamquasequetodosos aspectosda vida.O FFM semostrouútil noestudodareli- gião (McCrae,1999),da sexualidade(Costa, Fagan,Piedmont,Ponticase Wise,1992),de estressese enfrentamento(Kallasmaae Pulver, 2000),de economia(Austin,Dearye Willock, 2001)eopiniõespolíticas(Riemannetal.,1993). Os traçosdepersonalidadetêminfluên- ciasimportantesemnossasvidase experiên- cias,massão igualmenteimportantescomo determinantesdo comportamentode outras pessoas.Nossoscônjuges,vizinhos,chefese filhostêmseusprópriostraços,aosquaispo- demosaprendera nosadaptar,masquerara- mentemudam.Pode-seatémesmoargumen- tar queostraçosdepersonalidadedefinema história:foiaaltaR deGeorgeWashingtonque lhe permitiuperseverarduranteasdificulda- desdaGuerraRevolucionárianosEstadosUni- dos (Rubenzeret al., 2000)e a elevadaA de Jean-JacquesRousseauqueinspirouaRevolu- çãoFrancesa(McCrae,1996). Pesquisa intercultural Aoredor·de1990,pesquisadoresnomun- dotodocomeçaramatraduziroNEO-PI-Rea avaliá-Iacomomedidade personalidadeem diferentesculturas.A primeiraquestãodein- teresseerasabersehaviageneralidadenaes- truturade fatoresemrelaçãoa outrascultu- ras.Algunsautoreseramcéticossobreapossi- bilidadede um modelode personalidadede- senvolvidocombasenostermosdalínguain- glesaparaostraços,e estudadopredominan- tementeemamostrasdenorte-americanosde classemédia,serrelevanteemoutrosidiomas e culturas(Juni, 1996).A Tabela11.1mos- trouclaramentequeaestruturaégeneralizável aclassificaçõesdebrasileiros,masoportuguês é, afinal,umalínguaindo-européia,relativa- mentepróximaaoinglês,eoBrasil,assimcomo os EstadosUnidos,foi povoadopredominan- tementepor imigrantesda Europae descen- dentesdosescravostrazidosdaÁfrica.Seria possívelencontraramesmaestruturanoLeste daÁsiaounaÁfricasubsaariana,ounosubcon- tinenteindiano? Resumindo,sim.A estruturade fatores já foi examinadaempaísesquevãodesdea Turquiaatéa Islândia,e emtodososcasosos cincofatoresforamresgatados.O instrumento tendea funcionarumpoucomelhornascultu- rasocidentais,masmesmonasmaisremotas, taiscomoBurkinaFaso,os cincofatoressão inconfundíveis(Rossier,Dahouroue McCrae, 2003). Comoos cincofatoressãoencontrados emtodaaparte,é possívelcompararos mes- mosconstructosemdiferentesculturas.Como observadoantes,estudosdediferençasetárias apresentaramefeitosmuitosconstantesemcul- turasamplamentediferentes(McCraee Cos- ta, no prelo).Pode-sedizermaisou menosa mesmacoisaemtermosde diferençasdegê- nero.Costa,TerraccianoeMcCrae(2001)exa- minaramamostrasdeuniversitáriose adultos de26culturas.AsmulherestinhamN eCcons- tantementemaiselevadosdoqueoshomens. Emalgunscasos,diferentesfacetasdomesmo fatortiverampadrõesopostosde efeitosem termosde gênero.Por exemplo,as mulheres tinhamaberturaà estéticamaiselevada,en- quantooshomenserammaisabertosa idéias. Osmesmostiposdeefeitosforamencontrados emsociedadescompapéissexuaismuitotra- dicionais,comoa Coréiado Sul e aÁfricado Sul negra,e empaísesprogressistas,comoa NoruegaeaHolanda.Surpreendentemente,a magnitudedosefeitosfoimaiorempaísespro- gressistas.Umdospassosmaisimportantesna reabilitaçãodostraçosapósacríticadeMischel foi ademonstraçãodequeháumacordosubs- tancialentreos observadorescomrelaçãoà avaliaçãodessestraços(Funder,1980).Dife- rentesobservadorestêmacessoa informações diferenciadaseasprocessamdeformaumpou- codistinta,demodoquenãohárazãoparase esperarumaconcordânciaperfeita,masmui- tosestudosjá demonstraramqueas correla- çõesentreclassificadoresúnicos,ouentreauto- relatoseumúnicoobservador,ficamgeralmen- te entre0,4e 0,5;correlaçõesmaisaltassão ase=~;-a=-r=: ----------~ obtidassefor feitaamédiadediversosclassi- ficadores. Entretanto,a maioriadosestudoscom váriosobservadoresfoi desenvolvidanosEsta- dosUnidosounaEuropaOcidental,epsicólo- gosculturaisjá sugeriramqueostraçospodem terrelevânciasemelhanteempaísescoletivis- tas,ondeasrelaçõesinterpessoaissãomaisim- portantesna orientaçãodo comportamento (verChurch,2000).Tambémsepodeesperar queostraçossejamindividualmentemenosim- portantesem culturasqueatépoucotempo atrásestavamsobcontrolesoviético,ondeo indivíduo estavaoficialmentesubjugadoàs necessidadescoletivas.Seostraçosnãoforem importantes,ousesuainfluênciasobreocom- portamentofor limitada,podemosesperardes- cobrirqueas pessoasnãopercebamprecisa- menteseusprópriostraçosou os de pessoas ao seuredor,e, conseqüentemente,deveria havermuitomenosconcordância.Contudo,um estudorecentefezumarevisãodosdadosdis- poníveissobreconcordânciaentreobservado- reseencontrouníveisigualmenteelevadosem paísescoletivistase individualistas.Os dados tambémdemonstraramqueaconcordânciana Rússiae na RepúblicaTchecaeracomparável à dosEstadosUnidos(McCraeetaI.,2004). Todosos estudosmencionadosatéaqui dizemrespeitoasemelhançasentreculturasnas propriedadesdostraçosdentrodacultura- por exemplo,a correlaçãodeR coma idadeé se- melhanteemPortugale naEstônia.O quedi- zerdascomparaçõesentreculturas?Podemos garantirqueosnorueguesessejamextroverti- dos, enquantochinesesde Hong Kong são introvertidos?Emborahajacentenasde estu- dosquetentamrealizaressetipodecompara- ção,osmetodólogosinterculturaisapontaram umasériederazõesparasermosbastantecéti- cos(vandeVijvereLeung,1997).Resultados maisaltosemumaculturapodemserconse- qüênciademudançasnaformulaçãodeques- tõesintroduzidasnoprocessodetradução,ou dediferençasnoestiloderespostaou estraté- giade auto-apresentaçãonosdoispaíses,ou dediferençasdeamostragem. Contudo,McCrae(2002)reuniuevidên- ciasemfavordacomparabilidadegeraldosda- INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA DAS DIFERENÇAS INDIVIDUAIS 213 dosde36culturaserelatouresultadossignifi- cativos.A médiaemníveldepaísparaN e E apresentou-sesignificativamentecorrelacio- nadaà médiaemníveldepaísrelatadaante- riormenteparadiferentesmedidasde N e E (LynneMartin,1997).Osresultadosporpaís tiveramcorrelação,demaneirassignificativas, com as dimensõesda cultura de Hofstede (HofstedeeMcCrae,2004)- porexemplo,R e baixoE estavamrelacionadascomo distan- ciamentodopoder,quediz respeitoà tendên- ciaaaceitardiferençasdestatusdeformadó- cil.Maisalém,ospaísesformaramclustersgeo- gráficos:os perfisde personalidadeentreas 30facetasdoNEO-PI-Rforammuitosemelhan- tesna Espanhae emPortugal,no Canadáe nosEstadosUnidos,e noZimbábueenaÁfri- cadoSulnegra(AllikeMcCrae,2004). Todavia,emalgunsaspectos,os resulta- dosficaramlongedeserclaros.Particularmen- te, ascomparaçõesdosníveismédiosnãoes- tão adequadasaosestereótipos.Os paísesdo LestedaÁsia,porexemplo,tenderamaresul- tadosmaisbaixosdo queospaísesocidentais em R, emboraos habitantesdaquelaregiãotenhamumareputaçãodeserdiligentes.Uma descriçãoantropológica(Margolis,Bezerrae Fox,2001,p. 286)sugerequeo Brasilé sim- bolizadopela"exuberantefoliadacelebração pré-quaresmaldocarnavalepelofutebol...ex- tremamentepopular",eissosugereque,como Villa-Lobos,o brasileirotípicoé extrovertido. Aindanãohá dadosdo NEO-PI-Rdisponíveis paratestarahipótese,maslogohaverá.* Um estudomultinacionalde grandees- calaestáatualmenteemandamento,avalian- do a personalidadepormeiodeclassificações de observadorese tambémas percepçõesdo caráternacional.Comseumétodoalternativo de mediçãoe sualistaampliadade culturas,. esseestudodevedarcontribuiçõessubstanciais anossacompreensãodapersonalidadeemdi- ferentesculturas. *N.deR.T.Encontra-seemandamentoo projetode adaptaçãodoNEO-PI-Rparao Brasil,coordenado pelaprofaCarmenE. Flores-Mendoza,emparceria compesquisadoresbrasileirosdediferentesEstados. 214 CARMEN FlORES-MENDOZA, ROBERTOCOlOM & COlS. UM MODELO DINÂMICO DO SISTEMA DA PERSONALIDADE Freude a maioriados teóricosclássicos I dapersonalidadebasearamsuasteoriasemob- servaçõesdepacientesqueelestrataram,ten- tandoconstruirum modelode personalidade aplicávela todasaspessoas.Avançaramdeum casoindividualparaummodelogeral.Ospsicó- logosqueestudamostraçospodemassumiruma abordagemdiferente.Elescomeçamcomob- servaçõessobrepessoasemgeraletentamcriar ummodeloquesepossaaplicara indivíduos. McCraee Costa(1999)ofereceramuma versãodessaabordagem.Elescomeçaramcom as conclusõesassociadasao FFM e tentaram construirummodelodecomoosistemadaper- sonalidadedeveoperarparaproporcionares- sesresultados.O problemafundamentalque deveserresolvidoporumateoriadapersona- lidade, segundoa teoria dos cinco fatores (FFT), é comoconciliara variaçãodramática nascircunstânciasde vida e nasadaptações coma relativaconstânciados fatos.Comoé possívelqueaspessoasvivam40anos,fazendo novosamigos,aprendendoidéiasnovas,supor- tandocrisespessoaisecompartilhandoosdes- tinosdeseupaísedesuaépoca,semmudarem suasdisposiçõesbásicas?Comoé possívelque diferençasprofundasnalinguagem,noscostu- messociais,na religião,na culturapopulare nossistemaseconômicosnãotenhamqualquer efeitosobreaestruturadetraçosouseudesen- volvimentocomo passardotempo? A FFT resolveesseproblemapropondo queostraçosdepersonalidadesãoestrutural- menteisoladosdasinfluênciasdoambiente.A maioriadasteoriasda personalidade(Freud, 1933;Rotter,1966)consideraostraçoscomo o resultadodasexperiênciasde vida; a FFT reverteessarotacausalepostulaqueostraços afetamasexperiênciasde vidasemqueeles própriossejamafetados.É por issoqueeles nãosãodefinidospelaspráticasdospaisem relaçãoà educaçãodosfilhos,nemalterados pelocasamento,pelasmudançasprofissionais ou pela aposentadoria.Essencialmente,são imunesa essasinfluências. Seostraçosnãosãodefinidospelaexpe- riência,deondeelesvêm?A alternativaóbvia ao adquiridoé o inato(McCraeet aI.,2000). - SegundoaFFT,ostraçossãotendênciaspsico- lógicasbásicasquetêmfundamentobiológi- co.Essepostuladoé coerentecoma amplali- teraturasobregenéticacomportamentalque demonstraumcomponentegenéticoimportan- te nos traçosde personalidade,masé mais amplodo queisso.As doençasneurológicas, comoo maldeAlzheimer,têmefeitosprofun- dossobreapersonalidade(SiegleretaI.,1991) easdrogas,aslesõescerebraistraumáticas,o ambienteintra-uterinoe mesmoa alimenta- çãopodemafetarostraços.A FFT diz apenas quedevemosbuscaras causasdos traçosna biologia,enãonoambiente. Essaé umaposiçãoradicale provavel- mentese acabaráprovandoqueestáerrada. Porexemplo,a experiênciadeperdapodele- varàdepressãoclínica,quealterao funciona- mentodocérebroeostraçosdepersonalidade (Costa,Bagby,Herbst,RydereMcCrae,2003). Damesmaforma,umabalana cabeçaéuma experiênciadevidaqueprovavelmenteafeta- ráapersonalidade.Contudo,apesardessasex- ceções,a idéiade queos traçossãoindepen- dentesdo ambienteé umguiapoderosopara a interpretaçãodasconclusõesdaspesquisas. Porexemplo,podeexplicarmuitodaspesqui- sasinterculturais.Porhaverapenasumaespé- cie humana,as característicasbiológicassão universais,apenascomvariaçõesmenores. Todosos sereshumanostêmdoisolhos,em- boraalgumasvezeselessejamazuise outras, castanhos.Demodosemelhante,todosos se- reshumanostêmdisposiçõesa serextroverti- dosou responsáveis,quediferemapenasem grau.Oolhosempretemumacórnea,umalen- te e umaretina;a extroversãosempreinclui acolhimento,atividadeeemoçõespositivas.A visãodeclinacoma idadeno Zimbábue,no JapãoenaEstônia,eomesmoacontececoma aberturaà experiência. Essesaspectosuniversaissó foramdes- cobertosrecentementepor meioda pesquisa intercultural,mastemsidoóbvioparatodos, duranteséculos,queexistemdiferençasnafor- macomoaspessoasdeculturasdistintaspen- sam,senteme agem.As culturasdiferemno idioma,no vestuário,nossistemasde paren- tesco,naalimentação,nascrençasreligiosase FIGURA 11. assimpordiante,e tambémessefatodeveser reconhecidopelaFFT. E o é. Além das"ten- dênciasbásicas"(incluindoos traços),a FFT reconheceumacategoriadeadaptaçõespsico- lógicasquesãoaprendidasapartirdaexperiên- cia,incluindohábitos,atitudes,habilidadese osaspectosinternalizadosdospapéisedasre- lações.Todosessessão categorizadoscomo "adaptaçõescaracterísticas".Elassãoadapta- çõesporquesãoadquiridasemrespostaapres- sõeseaoportunidadesnoambiente,mastam- bémsãocaracterísticasporquerefletema na- turezadapessoa.Todososestudantesdeuma turmapodemassistiràmesmaexposição,mas o queaprendemdeladependerá,emparte,de suaprópriaaptidão,deseusinteressesedesua dedicação.Ostraçosdepersonalidadeajudam a definira formacomointerpretamosnosso ambientee respondemosa ele.É porissoque as pessoasquecompartilhama culturatam- bémdiferemempensamentos,emsentimen- tose emcomportamentos. A essaaltura,seriaútil resumiraFFT em ummodelo.A Figura11.1apresentaumaver- sãosimplificadado modelo-padrão.A versão integral (McCrae e Costa, 1999) inclui o autoconceitocomosubcomponentede adap- taçõescaracterísticase algumasoutrassetas demenorimportância.Especifica,também,que cadaumadassetasrepresentaum conjunto deprocessosdinâmicos,comoaprendizagem, enfrentamentoeplanejamento.A FFTtambém incluium conjuntode postulados.Por exem- plo, o postuladodo desenvolvimentodiz que "ostraçossedesenvolvemduranteainfânciae atingemaformamadurana idadeadulta;de- pois disso, ficam estáveisem indivíduos cognitivamenteintactos",aopassoqueo pos- tuladodaplasticidadeenunciaque"asadap- taçõescaracterísticasmudamcomopassardo INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA DAS DIFERENÇAS INDIVIDUAIS 215 tempoemrespostaà maturaçãobiológica,às mudançasno ambienteouà intervençãodeli- berada".Essespostuladossãoprincípiosmui- toamplosquedescrevemcomoapersonalida- de funciona.Como demonstradona Figura 11.1,a FFT sustentaquetraçoscombasebio- lógicainteragemcomo ambientesocialpara orientarnossocomportamentoacadainstante. oQUE É PERSONALIDADE? Estecapítulofoiencarregadodeapresen- taro tópicodapersonalidade,queseráexplo- radomaisdetalhadamenteemoutros.Passou- seporumaintroduçãoaostraçoseporumre- sumodasconclusõesde pesquisaacercado tema,chegandoa umateoriaque pretende explicarcomofuncionaa personalidade.Da perspectivadaFFT,aquestãocolocadaporeste capítulopodeserassimrespondida:persona- lidadeéosistemanoqualastendênciasinatas da pessoainteragemcomo ambientesocial paraproduzirasaçõeseasexperiênciasdeuma vidaindividual. A maioriadosteóricosdapersonalidade podeconcordarcom essadeclaraçãomuito amplaegeral(MischeleShoda,1995),maso leitornãodeveperderdevistaquediferentes teóricosaindapoderãodivergirprofundamente acercadosdetalhes.Algunspesquisadoresafir- mam que há seis fatoresem vez de cinco (Ashtonet al., 2004).Algunspreferemcon- centrar-senoselj,emlugardostraços.Unsacre- ditamqueateoriadapersonalidadedeveapro- fundar-senos processosdinâmicosapenas pinceladosna FFT.Em contrastecomesta,a maioriadospsicólogospensaqueo ambiente teminfluênciasimportantessobreo desenvol- vimentodostraços(Roberts,CaspieMoffitt, Biologia Traços Adaptaçõescaracterísticos Cultura FIGURA 11.1 Modelo simplificadode sistemade personalidade(adaptadode McCrae,no prelo). 216 CARMEN FlORES-MENDOZA, ROBERTOCOLOM & COlS. 2003).Fizemosgrandesprogressosnosúlti- mos25 anosemmediros traçose em com- preenderseu funcionamento,masaindahá muitoa fazerparacompreendercomoelesse encaixamno sistemamaisamplodapersona- lidade.Serãonecessáriosnovosdadosenovas conceituaçõesparaaprofundarnossoentendi- mentodapersonalidade. É decertaformainteressanteconsiderar por quea psicologiadostraçosfloresceunos últimosanos,apósdécadasnasquaispoucos avançosforampossíveis.Umarazãoéadispo- nibilidadedecomputadores,quepossibilitaram desenvolver,emsegundos,análisesqueteriam ocupadomesesnaspesquisasdeCattel(1946) ouFiske(1949).Alémdisso,igualmenteimpor- tanteéa participaçãodepsicólogosdetodoo mundo(facilitada,elaprópria,pelocorreioele- trônico).Dadoscoletadosemdiferentescultu- raspodemproporcionarinformaçõesvaliosas sobreos determinantese o desenvolvimento de diferençasindividuaisna personalidade, porqueasdiferençasculturaisconstituem"ex- perimentosnaturais"sobrecomoo ambiente afetaa personalidade.A longoprazo,contu- do, é provávelquea maisimportantecontri- buiçãodeumapsicologiadapersonalidadever- dadeiramenteinternacionalvenhaaserospró- prios psicólogos.Profissionaisde diferentes formaçõesculturaistêmprobabilidadesdetra- zerperspectivasnovasàinterpretaçãodedados sobreapersonalidadeedeformularnovasin- terrogaçõesquepossamlevarocampoaavan- çaremdireçõescompletamentediferentes. 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Esseespecialistarecebeumapessoaquesofre deumadorconstantenascostas.Suponhaque essapessoasabequesuasdoressãoprovocadas pelafraturadeumosso,masnãosabequal.Para ajudá-Ia,o especialistadevesaberquaissãoos ossosdascostas,quaispodemprovocaressas dorese comolocalizá-Iose avaliarseuestado. Poisbem,o trabalhodo psicólogoquerealiza umaavaliaçãodapersonalidadeémuitoseme- lhante.Eleprecisasaberquaissãoostraçosque configuramnossapersonalidade,comquetipo decondutasedeproblemaselesestãoassocia- dose, finalmente,comomedi-Iosdemaneira adequada.Ou seja,deveconhecerummodelo (ouvários)depersonalidadequelhedigaquais traços é necessáriomedir, quais são suas propriedadese característicase quaissãoos instrumentosválidoseconfiáveiscomquecon- tapararealizarumaavaliaçãoprecisaeútil da personalidade. Comofoi queos psicólogoschegarama respondera essasperguntas?A principalfer- ramentautilizadatemsidoa análisefatorial. A mesmaqueseutilizanosmodelosdaestrutu- ra da inteligência?Exatamente.As perguntas sãoasmesmasnasáreasda personalidadee dainteligência,e,portanto,aformaderespon- der a elastambémé a mesma.Vamostomar comoexemploaferramentamaisutilizadapara avaliarapersonalidade:osquestionários.Par- timosdeenunciadosquedescrevemumacon- duta,ouumaformadeserespecífica:"Eugos- to deir a festas","Eugostodeconversarcom aspessoas","Soupontual","Ficonervosocom facilidade",etc.É intuitivopensarqueaspes- soasquegostamdeconversartambémgostam deir afestasoualugaresondehajamuitagen- te.Encontramosquaissãoascondutasquees- tãorelacionadas,ou seja,quaissãoasquese correlacioname,portanto,compartilhamalgo. Essealgoqueascondutastêmemcomuméo quechamaremosde fatores(ou traços).Por 220 CARMEN FlORES-MENDOZA, ROBERTOCOLOM & COlS. exemplo,atendênciadaspessoasmuitosociá- veisdeserem,também,alegresseriaexplicada pelofatorcomumdenominado"extroversão." Voltandoaoutrasperguntasquefazíamos anteriormente,aspessoasquesãoextroverti- das,tambémsãopontuais?Sãotranqüilas?Al- gunsleitoresvãoresponderquesim,eoutros, quenão,provavelmentedependendodecomo tenhamsidoaspessoasquetiveremencontra- dodurantesuasvidas.O queprecisaficarcla- ro é quea associaçãojá nãoé tãoevidentee, portanto,intuitivamente,vamosdizerquenão há relaçãoentrea condutadeconversarcom freqüência,por exemplo,e a deserumapes- soatranqüila,quenãosejaagitada,nervosa.A análisefatorial irá indicar-nosse realmente existeumaassociaçãoentreambosostiposde conduta.Sequisermospredizerseumapessoa gostarádeconversaroudeir a festas,devere- mosutilizaromesmoconceitoeomesmoins- trumento,mas,sequisermosindagartambém seessapessoaserácalma,vamosterdeutili- zaroutrotraçoe,porconseguinte,umaescala diferente. ESTRUTURA DO CAPíTULO VoltemosaonossoamigoPedro.Seexis- tisseummodeloúnicodapersonalidade(eape- nasuminstrumentoparamedirseustraços),as perguntasqueele sefaziano seuconsultório encontrariamautomaticamenterespostas.Ele sequerseriaconscientedessasperguntasoures- postas:simplesmenteagiria.Masa realidadeé diferente.Existemmuitasteoriassobrecomoé ecomoseconfiguranossapersonalidade.Uma dasprimeirastarefasde um profissionalcon- sisteemescolheruma(ouvárias)e descartar outras.No decorrerdestecapítulo,vamosex- porosprincipaismodelos,aquelesquetêmsus- citadomaispesquisaeaplicaçõespráticaseque, porisso,têmmaiorsuporteempírico.Oprimei- ro deles,aoqualvamosdedicarumaseçãoes- pecial,seráo modelodos"CincoGrandes".O fatodeseroprimeiroedeexplicá-Ioseparada- mentedorestantenãoéumacaso:atualmente esseéo modelopredominante. Na próximaparte,vamosexplicaroutros modelosquetiverametêmumpapeldestaca- do na pesquisasobrea personalidadehuma- na.O leitornãodevepensarqueestesperde- ramtodasuavigência"atropelados"pelomo- delodos"CincoGrandes".Naverdade,ainda sãoosmodelosdereferênciaparamuitospsi- cólogosdomundotodoegeramumaconside- rávelquantidadedeconhecimentossobrenos- somododeser.Alémdisso- eesteseráo tema demaisumaseção- nãosetratademodelos excludentes.A próximaseçãomostraráprovas dasintensasrelaçõesentreasdimensõespro- postaspelasdiferentesteorias.De fato,uma parteimportantedapesquisadapersonalidade temsedirigidoa detectarasrelaçõese diver- gênciasentreelas,como objetivodesabero queestásendomedidoquandose utilizaum instrumentodeterminadoe deconhecero que écomumeo queédiferenteemcadamodelo. A parteseguinteversarásobrea capaci- dadedeprediçãodostraçosdepersonalidade, ou seja,sobresuautilidadeemcontextosprá- ticos.A posiçãodestaparte,logoapósaexpli- caçãodosmodelos,daconfiguraçãoe dasre- lações,temumarazãodeser.Semconheceros elementos,nãopodemossabersuautilidade. Semconhecerquaissãoos ossosdascostase comoelesestãorelacionados,nãopodemossa- berqualéo queestáprovocandoadore,por- tanto,sobrequaléprecisoagirparacuraressa dorouevitá-Ianofuturo.A últimaseçãoestará dedicadaàslinhasfuturasdasteoriaspsicomé- tricasdapersonalidade. Antesdeexplicarosdiferentesmodelos, é necessáriofazerumamençãoespecialaos instrumentosdemedição,ouseja,àsferramen- tasqueserãoutilizadaspeloprofissional,àquilo queeletocaráe analisarápararesponderàs perguntassobrealguém.Compreendendoseu papelfundamentalnaanálisecientíficadaper- sonalidade,por quenão dedicara issouma seção,inclusiveum capítulo,à parte?A res- postaé clara:todasaspartestratamdosins- trumentosde medição.É claroquecadamo- delotemdesenvolvidosuasprópriasmedidas baseando-seno que consideraser os traços básicoseaspropriedadesfundamentaisdaper- sonalidadehumana.Portanto,falar de um modeloconcretosignificafalardo instrumen- toqueesteproduziuparamedirostraçospro- postos.Damesmamaneira,defenderavalida- dedediYel pontose\.:.:""_-= O MODELO O omoce::- -= 10 domina:::::==- QUADRO 12.1 :- dedediversostraçosenvolveconheceratéque pontoseuinstrumentodemedidaéútil. o MODELO DOS "CINCO GRANDES" omodelodos"CincoGrandes"éo mode- lo dominantena atualidade.O queissoquer QUADRO 12.1 Descriçãodos IICinco Grandesll INTRODUÇÃOÀ PSICOLOGIADASDIFERENÇASINDIVIDUAIS 221 dizer?Quesevocêqueravaliarostraçosbási- cosdapersonalidade,semoutrasconsiderações, deveriamedirosCincoGrandes.Emquecon- sisteestemodelo?Porquechegouaessaposi- çãodominante?Vamosrespondera essasper- guntasnestaparte.Mas,antesdetudo,vamos dizerquaissãoessescincotraçosdetempera- mentotãoimportantes:neuroticismo(N), ex- Neuroticismo ou Instabilidade/Estabilidade Emocional (N) As pessooscomescorealtoemNeuroticismotendemà hipersensibilidadeemocionale têmdificuldadesparavoltarà norma- lidadeapósexperiênciasemocionaisfortes.Geralmentesãoansiosas,preocupadas,commudançasfreqüentesde humore depressões.Tendema sofrerde transtornospsicossomáticase apresentamreaçõesmuitointensasa todotipodeestímulos. O sujeitoestáveltendea respondera estímulosemocionaisde maneiracontroladae proporcionada.Retornarapidamente a seuestadonormalapósumaelevaçãoemocional.Normalmenteé equilibrado,calmo,controladoe despreocupado. Extroversão (E) As pessoasextrovertidassão socióveis,gostamde lugarescommuitagente,comofestaslotadas.Geralmentetêmmuitos amigos,comos quaisgostamde conversaro tempotodo.Gostamdesituaçõesexcitantese de searriscar.Tambémadoram brincadeirase mudanças,sãodespreocupadase otimistas.Gostamde estarsempreativase fazendocoisas. O introvertidotípicoé socialmentereservado.Mostra-sedistante,excetocomseusamigosmaisíntimos.Costumaserprevi- dentee desconfiadosimpulsossúbitos.Não gostade diversõesbarulhentase desfrutade umavidaordenada. Abertura à Experiência (A) As pessoascomalto nívelde aberturaà experiênciadefinemasi mesmascomoliberais,criativase tolerantes.Tendema terfantasiase emoçõese sentimentos"não-ortodoxos".Saemdo caminhodemarcadopelosoutrosparaabrirnovasrotas. Sentempaixão pelas manifestaçõesartísticas.Não ficam incomodadasdiante de idéias e valores novos.Adoram experimentarcoisasnovaseviajar. Pelocontrário,a pessoacombaixaaberturaà experiênciaéessencialmenteconservadorae commarcadatendênciaa seguiros caminhosjádemarcados.Geralmente,tambémé maisreligiosa.Custaaencontrarnovasalternativasparaenfrentarosproble- mase nãogostade idéiasquepossamprovocarmudançasprofundas,especialmenteseforemradicais. Cordialidade (C) A pessoaamáveléagradávele cordialcomosdemais,preocupando-secomsuasnecessidadese comseubem-estar.Tende a serconfiante.Percebee interpretaadequadamentetantoas própriasemoçõesquantoas dosoutros.É umapessoacom empatia,capazde sesintonizaremocionalmentecomos outros. No pólooposto,teremosumapessoafriaeegocêntrica.Nãosepreocupacomo quepossaacontecercomaspessoasao seu redornemcomo mundoemgeral.Trata-sedeumapessoasemescrúpulos,capazde manipularosdemaisparaconseguiro quedeseja.Sefor necessário,utilizarámétodosviolentos,poisé incapazde percebera dor quecausa. Responsabilidade {R) As pessoascomescorealtoemresponsabilidadesãometódicase reflexivas.Pensambastantenascoisasantesdetomaruma decisãoe gostamdetertudoplanejado.Respeitamas normassociaise, emgeral,asobrigaçõescontraídas.Possuemforte sentidodo dever.Emgeral,sãocapazesde controlarseusimpulsoscomsucesso. Estadimensãoda personalidadepodeser interpretadacomoo pólo opostoda impulsividade.Assim,uma pessoapouco responsáveltem poucacapacidadede controlarseusimpulsos,é irreflexivae incapazde ser organizada.Emgeral,não respeitaobrigaçõespessoaisou sociais. 222 CARMEN FLORES-MENDOZA, ROBERTO COLOM & COLS. troversão(E), aberturaà experiência(A), cor- dialidade(C) e responsabilidade(R). E como secaracterizamaspessoassegundoessescinco traços?O Quadro12.1descrevebrevemente comosãoaspessoascomescoresaltosebaixos emcadaumdos"CincoGrandes". É precisolevaremcontaqueas descri- çõesdo Quadro12.1estãobaseadasemape- nasumtraço;contudo,segundoomodelodos CincoGrandes,éprecisoconhecercomoéuma pessoanoscincotraçosparaobterum perfil suficientee adequadoda suapersonalidade. Duaspessoasextrovertidaspodemcomportar- se de formamuitodiferentedependendode que,por exemplo,sejamaltasou baixasem responsabilidade.As duasadorariamir auma festacheiadegente,mas,eseessafestaacon- tecena noiteanteriora umaprovaou a uma importanteentrevistadetrabalho?É maispro- vávelqueapessoaresponsável"controle"seu impulsoefiqueemcasadescansando.Parapre- dizera condutacomo máximode garantias possíveis,devemoscontemplaroscincotraços. Deumaperspectivahistórica,osprimei- rosautoresqueformulamum modelodecin- cofatoresclaramentereconhecívelnoatualsão Tupese Cristal(1961).Contudo,mesmocom notáveisexceções(Norman,1963),essemo- delofoi relegadoduranteasdécadasde1960 e 1970,ficandoàmargemdadisputaentreas teoriasde Eysencke Cattellpelasupremacia daestruturadapersonalidade.Somenteno fi- naldosanosde1970e,principalmente,nadé- cadade 1980,os CincoGrandespassarama terumpapelrelevantenosdebatessobrequal eraomodeloquerefletiaasdimensõesbásicas dapersonalidade.Nofinaldadécadade1970, aanálisedosdadosprocedentesdoEstudoLon- gitudinaldeBaltimoregerouummodeloinicial de trêsfatores(neuroticismo,extroversãoe aberturaàexperiência;CostaeMcCrae,1976), e,posteriormente,acrescentaram-seosfatores decordialidadeeresponsabilidade.O NEO-PI foi o primeiroinstrumentopublicadopor es- sesautoresejá incluíaasseisfacetasdeneuro- ticismo,extroversãoe aberturaà experiência (NEO;verCostae McCrae,1985e McCraee Costa,1990,paraumaexplicaçãodasfacetas), enquantoque apenasse tinha uma medida geraldostraçoscordialidadeeresponsabilida- de. As seisfacetasdessestraços(verCosta, McCraee Dyi, 1991;Costae McCrae,1992b paraumaexplicaçãodasfacetas)foramincor- poradasnaversãorevisada:NEO-PI-R. Duranteaprimeirametadedadécadade 1990,omodelodosCincoGrandesfoi impon- do-seprogressivamente.Diversosartigospu- blicadosna revistaPersonalityand Individual Dijferences,ao longode 1992,mostraramo debatequesedavaemtornodotema.Nesses artigos,tantoCostaeMcCrae(1992a)quanto Eysenck(1992a)expunhamseuscritériospara considerarumtraçocomodimensãobásicada personalidadehumanae,portanto,defendiam seusprópriosmodelos.Poroutrolado,nãofoi apenaso trabalhodeCostaeMcCraequecon- tribuiuparao fortalecimentodo modelodos CincoGrandes:as contribuiçõesde LewisR. Goldberg(1990)eOliverP.John (1990)sobre ahipóteseléxicatambémforamdeterminantes. Comoquerquetenhasido,o fatoéqueatual- menteháumconsiderávelconsensoemconsi- deraromodelodosCincoGrandescomoomais apropriadoparadescreveraestruturadaper- sonalidade,sobretudodapersonalidadeadul- ta,do pontodevistapsicométrico(Matthews eDeary,1998;Brodye Ehrlichman,1998). O modelodos CincoGrandespartedo mesmopressupostoquesustentaaabordagem léxica:"Todosos aspectosda personalidade humanaquetêmalguminteresse,utilidadeou importânciaestãoregistradosna linguagem natural"(Cattell,1943).OstrabalhosdeAllport (AllporteOdbert,1936)iniciaramodesenvol- vimentodessaperspectivacomo objetivode encontrara estruturamaisparcimoniosapos- síveldapersonalidadeapartirdomaterialque proporcionamostermosutilizadosnalingua- gemparadescrevercaracterísticaspessoaisou diferençasentrepessoas.A idéiaqueestápor trásdissoéque,aolongodahistória,o serhu- manoincorporou,emsualinguagem,todasas dimensõesde personalidadequesãonecessá- riasparadescreverasi mesmoe aosdemais.A linguagemcumpririao duploobjetivodepro- porcionarummodelodapersonalidadequefos- seexaustivo(abrangeriatodasasdimensões)e útil (identificariaasdimensõescomvalidade prática).Contudo,essaabordagemtemdoisin- convenientes: 1. é fie:::: 2. exis:e= de ç':'=:::J pres;:-~ QUADRO 12.2 2: - Neuroticisrr;c 1. émeramentedescritivae 2. existemdimensõesdapersonalida- dequenãosãoadequadamentere- presentadasna linguagem. Devidoàsuaorigem,baseadanaaborda- gemléxica,estetemsidoqualificadocomoum modelomeramentedescritivo,comoumataxo- nomiadapersonalidadehumana.Apesardis- so,nosúltimosanos,tematraídoumconside- rávelcorpodepesquisadoresqueestudamas basesbiológicasecognitivasdostraçosdeper- sonalidade.Tambémadquiriramrelevância suashipótesessobreas relaçõesentretraços quantitativose transtornospsicopatológicose sobresuavalidadepreditivaemqualquercon- textoprático(clínico,educacional,organiza- cional,etc.).Atualmente,o modelodosCinco Grandespodeserconsideradocomoumateo- riaexplicativaepreditivadapersonalidadehu- manae desuasrelaçõescomaconduta. Essemodeloapresentadiversasversões, dependendodosautores.Porexemplo,Goldberg denominaintelectoo fatordeaberturaàexpe- riência(Goldberg,1990),enquantoCaprara, Barbaranelli,Borgognie Perugini,(1993)fa- lamemafabilidadeou forçadevontaderefe- rindo-seaosfatoresdecordialidadeerespon- sabilidade,respectivamente.Essasdenomina- çõesdiferentestambémimplicamalgunsma- tizesnaspropriedadesdo traço.Masaversão dosCincoGrandesquedesfrutademaiorpree- minênciaé a propostapelosdoisautoresnor- te-americanosquemaisvêmcaracterizando- sepordesenvolveredefenderestemodelo:Paul T. Costae RobertR. McCrae.Em 1992,eles publicarama versãoinglesado instrumento maisutilizadoemtodoo mundoparaavaliar osCincoGrandes:O NEO-PI-R.O modeloque INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA DAS DIFERENÇAS INDIVIDUAIS 223 vamosexplicarnestaparteé o quetemservi- do debaseparadesenvolvê-Io. Traços de temperamento e facetas: O NEO-PI-R Comojá comentamos,omodelodosCin- coGrandespostulacincodimensõescomotra- çosdetemperamentodapersonalidadehuma- na. Essasseriamas dimensõesbásicas,que descrevemasdiferençasentreaspessoasenos permitemexplicaraconduta.Porsuavez,cada umdoscincotraçosdivide-seem6facetas.Eé dessemodoqueseorganizaoNEO-PI-R(Cos- taeMcCrae,1992b;verQuadro12.2). As facetassãoconsideradascomotraços detemperamento?Nãoconstituemdimensões
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