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UNIGRANRIO UNIVERSIDADE DO GRANDE RIO CEPEFER CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA METROFERROVIÁRIA FERNANDA LACERDA DE PÁDUA ARAÚJO DESENVOLVIMENTO DA MANUTENÇÃO NA BUSCA DA EXCELENCIA ATRAVÉS DA IDENTIFICAÇÃO DAS MELHORES PRÁTICAS ESTUDO DE CASO NO SETOR DE BILHETAGEM NA EMRESA METRÔ RIO Rio de Janeiro 2017 FERNANDA LACERDA DE PÁDUA ARAÚJO DESENVOLVIMENTO DA MANUTENÇÃO NA BUSCA DA EXCELENCIA ATRAVÉS DA IDENTIFICAÇÃO DAS MELHORES PRÁTICAS ESTUDO DE CASO NO SETOR DE BILHETAGEM NA EMRESA METRÔ RIO Trabalho de conclusão de curso de Pós Graduação de Engenharia Metroferroviária apresentado a Universidade Unigranrio - CEPEFER Orientador: Prof. Dr Newton Ferro Rio de Janeiro 2017 FERNANDA LACERDA DE PÁDUA ARAÚJO DESENVOLVIMENTO DA MANUTENÇÃO NA BUSCA DA EXCELENCIA ATRAVÉS DA IDENTIFICAÇÃO DAS MELHORES PRÁTICAS ESTUDO DE CASO NO SETOR DE BILHETAGEM NA EMRESA METRÔ RIO Trabalho de conclusão de curso de Pós Graduação de Engenharia Metroferroviária apresentado a Universidade Unigranrio - CEPEFER Aprovado em: ____ de _______ de _____. BANCA EXAMINADORA Orientador Prof. Dr. Newton Ferro Tutor Eng. Filipe de Araújo Serpa 1° Examinador Prof. 2° Examinador Prof. Dedicatória Dedico este trabalho ao meu esposo, Sillas Araújo, luz da minha vida, ao qual me ensina a cada minuto um novo conceito da palavra AMOR. AGRADECIMENTOS Primeiramente a Deus por me conceder sabedoria, por ser quem me indica e quem abre as portas certas fechando as erradas. Sou grata a Deus por ser minha inspiração e todo o motivo da minha existência, todo meu ser, todo meu viver é para adorar e glorificar a Ele. Ao meu esposo Sillas Araújo pelas noites mal dormidas, pelos fins de semana e feriados em que dediquei exclusivamente a este projeto. Agradeço a ele por cuidar de mim fisicamente, emocionalmente e espiritualmente durante estes dias. À Empresa Metrô Rio que proporcionou este curso de especialização único no Brasil, investindo e depositando em mim esta grande oportunidade profissional. A minha mãe Laudicea Leite e ao meu padrasto Eber Leite pelo conforto proporcionado ao diminuírem a distancia me enchendo de felicidade em tê-los presente, por depositarem confiança e esperança em mim, por todo amor, carinho e dedicação. Ao meu pai Afonso Pádua, à minha madrasta Hulda Martins, à minha querida e amada irmã Maria Vitória Pádua, a minha amiga querida e avó paterna Helenice Soares e aos meus avós maternos Djalma Lacerda e Lázara Lacerda por se orgulharem de mim, depositarem confiança e esperança, por todos os incentivos e palavras de carinho e principalmente por todo amor mesmo a longa distância. Agradeço a minha queria tia e sobretudo amiga Laudiene Lacerda que me incentivou, me deu palavras de inspiração e apoio sempre confiando e acreditando em mim. À minha querida sogra Silvana Miranda pelas orações, por todo carinho e compreensão. Às minhas amigas Pâmela Domingos, Lilian Miranda e Vanessa Vargas por estarem sempre presentes virtualmente não permitindo que a distância diminua a nossa amizade e sendo sempre meu ponto de apoio mesmo longe. Aos meus familiares, parentes e amigos que compreenderam minha ausência e que me apoiaram nesta jornada. Ao meu tutor Felipe Serpa, sempre atento aos detalhes e sempre amigo, dando suporte com muita disposição. Aos mestres da Unigranrio, que me proporcionaram o aprendizado. Aos meus colegas do Metrô Rio, que contribuem para meu amadurecimento profissional e relacionamento interpessoal. “Cada sonho que você abandona é uma parte do seu futuro que deixa de existir” Steve Jobs RESUMO Com a globalização da economia e o aumento na competitividade do mercado mundial, as organizações vêm sofrendo mudanças drásticas em suas práticas operacionais e estratégicas. Estas mudanças ocorrem em alta velocidade, de forma que as empresas são forçadas a introduzir novas ferramentas e metodologias no gerenciamento de seus processos para garantir o aumento de competitividade e a sobrevivência do seu negócio. Estes processos produtivos estão se tornando cada vez mais complexos, tanto pelo desenvolvimento de novas tecnologias de comunicação e informação, como pelo incremento do nível de automação. Além disso, a busca pela excelência em termos de qualidade, segurança, preservação do meio ambiente e custos, são requisitos básicos para a geração destas forças competitivas. Para gerenciar esta complexidade organizacional, a manutenção é evidenciada, como um dos setores mais importantes nas empresas. A partir da aplicação de técnicas e soluções inovadoras, a manutenção atua como elo entre a estratégia e a operação dos processos, garantindo o atingimento dos objetivos e metas, em termos de serviços e produtos mais confiáveis e de maior valor agregado. Para que estes resultados sejam conquistados, o setor de manutenção deve estabelecer e sistematizar um Programa de Gestão da Manutenção para possibilitar a aplicação de metodologias de apoio a melhoria da confiabilidade e disponibilidade de seus equipamentos. Hoje existe uma ampla gama de ferramentas de gerenciamento disponíveis para apoiar a administração da manutenção. As melhores ferramentas, técnicas e metodologias aplicadas a manutenção são conhecidas como as Melhores Práticas de Manutenção ou Best Practices. Estas práticas permitem que uma empresa se torne líder em seu mercado respectivo. ABSTRACT With the globalization of the economy and the increase in the competitiveness of the world market, organizations have undergone drastic changes in their operational and strategic practices. These changes occur at high speed, so companies are forced to introduce new tools and methodologies to manage their processes to ensure increased competitiveness and the survival of their business. These productive processes are becoming increasingly complex, both by the development of new communication and information technologies, and by the increase of the level of automation. In addition, the pursuit of excellence in terms of quality, safety, preservation of the environment and costs are basic requirements for the generation of these competitive forces. To manage this organizational complexity, maintenance is evidenced as one of the most important sectors in the companies. From the application of techniques and innovative solutions, maintenance acts as a link between the strategy and operation of processes, ensuring the achievement of goals and objectives in terms of services and more reliable products with higher added value. For these results to be achieved, the maintenance sector shall establish and systematize one Maintenance Management Program to enable the application of methodologies to support improved reliability and availability of their equipment. Today there is a wide range of management tools available to support the administration of maintenance. The best tools, techniques and methodologies applied tomaintenance are known as Best Practices of Maintenance or Best Practices. These practices allow a company to become a leader in its respective market. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Evolução das estratégias de manutenção ................................................................... 19 Figura 2 - A interação entre as fases do Ativo ............................................................................... 23 Figura 3 - Operações de "Pior Prática" ........................................................................................... 32 Figura 4 - Pirâmide do sistema de Gestão em Manutenção ....................................................... 36 Figura 5 - Arco da gestão da manutenção ..................................................................................... 39 Figura 6 - Fatores determinantes observados na literatura ......................................................... 40 Figura 7 - Custo de Manutenção em Relação ao Faturamento Bruto - Brasil ........................ 136 Figura 8- Relacionamento WCMM x Pirâmide de Gestão em Manutenção ........................... 143 Figura 9 - Gráfico Questionário WCMM Média EUA .................................................................. 144 Figura 10 - Gráfico Questionário WCMM Média Setor de Bilhetagem Metrô Rio .................. 145 Figura 11 - Gráfico Questionário WCMM comparação média EUA x Bilhetagem Metrô Rio146 Figura 12 - Aderência a Pirâmide de Gestão de Manutenção do Setor de Bilhetagem Metrô Rio ....................................................................................................................................................... 147 Figura 13 - Tabela resultados médios por bloco e estágios da pirâmide ................................ 148 Figura 14 - Aderência Pirâmide de Gestão de Manutenção dos Setor de Bilhetagem x EUA ............................................................................................................................................................. 148 Figura 15 - Melhorias identificadas para o setor de bilhetagem no Metrô RIo ....................... 152 Figura 16 - Tabela resultados médios por bloco e estágios da pirâmide após proposta de melhorias ........................................................................................................................................... 153 Figura 17 - Aderência a Pirâmide do setor de bilhetagem no Metrô Rio Antes x Depois das Melhores Práticas ............................................................................................................................. 154 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO COMPREENSIVA .................................................................................. 11 1.1JUSTIFICATIVA ............................................................................................................... 13 1.2 OBJETIVOS ..................................................................................................................... 16 1.3 MÉTODO DE PESQUISA E TRABALHO ................................................................... 16 1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO ..................................................................................... 17 1.5 DELIMITAÇÕES .............................................................................................................. 17 2 REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................... 18 2.1 EVOLUÇÃO DA FUNÇÃO MANUTENÇÃO ............................................................... 18 2.1.1 Evolução das Técnicas e Estratégias .................................................................. 18 2.1.2 Evolução das Funções e Expectativas da Manutenção .................................. 20 2.1.2 A Interação entre as Fases do Ativo .................................................................... 21 2.2 IMPORTÂNCIA ESTRATÉGICA DA MANUTENÇÃO .............................................. 23 2.3 MANUTENÇÃO CLASSE MUNDIAL ........................................................................... 25 2.3.1 O Mercado Internacional ......................................................................................... 26 2.3.2 Classe Mundial e Melhores Práticas .................................................................... 27 2.3.2.1 Qualidade ................................................................................................................. 28 2.3.2.2 Atitude para a competição ................................................................................... 29 2.3.2.3 Tecnologia de automação .................................................................................... 32 2.4 FATORES DE SUCESSO NA GESTÃO DA MANUTENÇÃO ................................. 34 2.4.1 Organizações de manutenção ............................................................................... 41 2.4.1.1 Estruturas organizacionais geográficas .......................................................... 42 2.4.1.2 Estruturas de comunicação ................................................................................ 45 2.4.1.3 Papéis e responsabilidades ................................................................................ 47 2.4.1.4 Organização de Equipe de Manutenção .......................................................... 58 2.4.1.5 Metas e objetivos das organizações de manutenção .................................. 61 2.4.1.6 Gestão e Manutenção ........................................................................................... 67 2.4.1.7 Nível de serviço do equipamento ...................................................................... 67 2.4.2 Treinamento e Desenvolvimento (T&D) de Manutenção ................................ 70 2.4.2.1 Programas de treinamento .................................................................................. 73 2.4.3 Sistema de Ordem de serviços .............................................................................. 80 2.4.4 Planejamento e Programação da Manutenção .................................................. 89 2.4.4.1 Planejadores de manutenção e supervisores ................................................ 91 2.4.4.2 Agendamento de manutenção ............................................................................ 99 2.4.5 Manutenção Preventiva ......................................................................................... 101 2.4.5.1 Tipos de Manutenção Preventiva ..................................................................... 104 2.4.5.2 Tipos de falha de equipamento ........................................................................ 107 2.4.5.3 Desenvolvimento de Programas de Manutenção Preventiva .................. 108 2.4.6 Estoque de Manutenção e Compras .................................................................. 110 2.4.6.1 Requisitos do sistema de estoque .................................................................. 113 2.4.6.2 Organização de estoques de Manutenção .................................................... 115 2.4.7 Sistemas Computadorizados e Relatórios de Manutenção ......................... 115 2.4.7.1 Relatórios de Manutenção ................................................................................. 120 2.4.8 Custos da Manutenção .......................................................................................... 135 2.4.9 Engenharia da manutenção .................................................................................. 140 3 ESTUDO DE CASO NO SETOR DE BILHETAGEM DA EMPRESA METRÔ RIO ................................................................................................................................................142 3.1 IDENTIFICAÇÃO DE MELHORIAS NO SISTEMA DE GESTÃO DE MANUTENÇÃO. ................................................................................................................... 142 4 CONCLUSÃO ................................................................................................................... 155 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 156 ANEXO A – QUESTIOMÁRIO WCMM ............................................................................ 169 11 1 INTRODUÇÃO COMPREENSIVA O desafio permanente de qualquer organização, no contexto de pressão competitiva verificado nas últimas três décadas, tem sido produzir produtos e serviços cada vez melhores, mais rápidos, com menor custo e com melhor aceitação possível por parte do mercado consumidor. Frente a essa realidade surge a Manufatura de Classe Mundial (World-Class Manufacturing), conceito originalmente introduzido por Hayes and Wheelwright (1984) caracterizada, entre outras coisas, por se superar nos quesitos qualidade, tecnologia e atitude para a competição. Trata-se de organizações produtivas que apresentam alto grau de competitividade em sua área de atuação e habilitam a corporação para a concorrência em qualquer mercado internacional (WIREMAN, 1990; CHIAVENTATO, 1999, IDHAMMAR, 2003b) Para que o alcance e superação das metas que se desejam alcançar sejam viabilizadas, é fundamental, entre outras coisas, que os recursos e meios de produção estejam disponíveis, em atendimento ao planejamento operacional realizado, com alto nível de confiabilidade (PUN et al., 2002). A manutenção industrial é uma das atividades de apoio a produção chave neste processo, ainda que nem sempre lembrada. Ela afeta diretamente a capacidade e habilidade dos processos produtivos das empresas de responderem rápida e eficazmente ás demandas do mercado. A manutenção Industrial deve ser adaptada ao ambiente de competição global, neste contexto propõe-se a Manutenção Classe Mundial (MCM), definida por Wireman (1990), como sendo aquela capaz de atender satisfatoriamente as necessidades dos sistemas produtivos em uma economia globalizada. Num sistema de gestão MCM os objetivos da manutenção e da operação são compatibilizados e harmonizados, pois a manutenção tem um papel decisivo para eliminar perdas, assegurar o funcionamento ininterrupto do processo aumentando a confiabilidade dos equipamentos e estabilidade das variáveis do processo com custos otimizados. Para gerenciar esta complexidade organizacional, a manutenção é evidenciada, como um dos setores mais importantes nas empresas. A partir da aplicação de técnicas e soluções inovadoras, a manutenção atua como elo entre a estratégia e a operação dos processos, garantindo o atingimento dos objetivos e metas, em termos de serviços e produtos mais confiáveis e de maior valor agregado. 12 Para que estes resultados sejam conquistados, o setor de manutenção deve estabelecer e sistematizar um Programa de Gestão da Manutenção para possibilitar a aplicação de metodologias de apoio a melhoria da confiabilidade e disponibilidade de seus equipamentos. Hoje existe uma grande variedade de instrumentos gerenciais disponíveis para apoiar a administração da manutenção. As melhores ferramentas, técnicas e metodologias aplicadas a manutenção são conhecidas como as Melhores Práticas de Manutenção ou Best Practices. Estas práticas permitem que uma empresa se torne líder em seu mercado respectivo. Destacam-se a RCM (Reliability-Centered Maintenance, ou Manutenção Centrada em Confiabilidade - MCC), TPM (Total Productive Maintenance, ou Manutenção Produtiva Total - MPT) e RBI (Risk-Based Inspection, ou Inspeção Baseada no Risco - IBR), com o objetivo de reduzir os custos de manutenção e melhorar a confiabilidade. De uma forma geral, segundo Yamashina (2000), Murthy et al., (2002) e Dunn (1999) os resultados têm sido positivos para as empresas que implementaram tais processos. Ao realizar pesquisa sobre os resultados da implementação de Programas de Manutenção em três importantes empresas japonesas, CHEN (1997) constata que as organizações estão continuamente avaliando a efetividade não só das instalações de seus equipamentos, como também a estrutura organizacional e dos processos. Mesmo tendo utilizado os mesmos princípios, as três empresas analisadas vêm adaptando o modelo original, conforme suas necessidades internas e conveniências. Percebe-se, assim que não parece existir um único modelo que possa ser utilizado como referência universal, com a certeza que os resultados serão sempre satisfatórios. Segundo CHEN (1997,p.16): “Elementos como moral dos empregados, eficiência, efetividade e todos os custos associados devem ser considerados. Os efeitos na estrutura organizacional, a forma de implementação e mesmo o processo de obtenção de informações junto ao “chão de fábrica” podem afetar significamente os resultados finais” Também há a necessidade de se considerar os aspectos culturais e estruturais vigentes na organização, para definição do modelo e da estratégia de implantação a ser adotado. Modelos de sucesso têm fracassado em empresas diferentes pelo fato desses aspectos terem sido desconsiderados ou subestimados, com resultados muito aquém do esperado e, principalmente, com impacto negativo sobre a ambiência organizacional. Assim sendo, as organizações exigem estratégias funcionais 13 adequadas e especificas para sua realidade, com roteiros de implementação que respeitem a cultura vigente ou que estejam preparados para promover as mudanças necessárias. Segundo Hirilaus Xenos (1998), a manutenção deve ter um escopo muito mais abrangente do que simplesmente manter as condições originais dos equipamentos. Muitas vezes, somente manter estas condições é insuficiente e a introdução de melhorias que visam aumentar a produtividade também deve fazer parte do trabalho dos departamentos de manutenção. Segundo Kardec e Nascif (2002), a nova postura da manutenção é fruto dos desafios que se apresentam para as empresas neste novo cenário de economia globalizada e altamente competitiva, onde as mudanças se sucedem em alta velocidade e a manutenção como uma das atividades fundamentais do processo produtivo, precisa ser um agente pró-ativo. Isto é, na visão atual deve-se atuar preventivamente e as equipes devem estar qualificadas e equipadas para evitarem falhas e não apenas corrigi-las. Esta mudança estratégica da manutenção tem reflexo direto no resultado da empresa. Tsang (1998) argumenta que considerar a manutenção como uma questão puramente tática é equivocada. A manutenção também tem uma dimensão estratégica, abrangendo assuntos como o projeto das instalações e seus programas de manutenção, aprimoramento do conhecimento e das habilidades da força de trabalho, e desenvolvimento de ferramentas para realizar o serviço da manutenção. 1.1JUSTIFICATIVA Mobilidade urbana é um tema que vem ganhando destaque na atualidade devido a uma tendência que tem se mantido e até se acentuado: a crescente concentração populacional nos centros urbanos. Diante desta realidade as empresas de diversos modais vêm sendo desafiados a proporcionar e manter um serviço de qualidade e seguro. Uma vez que a qualidade de vida nestes grandes centros é significativamente influenciada pelas condições as quais as pessoas se deslocam para atender as necessidades de trabalho, estudo e lazer, faz-se assim a escolha pelo modal que lhe proporcione maior previsibilidade, segurança e conforto. 14 Entre os modaisexistentes desponta o metroferroviário como alternativa de alta capacidade que vem sendo aplicada em todo mundo. O crescente aumento da demanda de transporte urbano nas capitais e grandes metrópoles brasileiras leva os sistemas que integram o modal de transporte metroferroviário (Energia, Material Rodante, Sinalização, Bilhetagem Eletrônica, Sistema de Controle Centralizado, etc.) muitas vezes aos seus limites operacionais ou mesmo a trabalharem sobrecarregados em determinados horários durante o intervalo de pico operacional. Neste contexto, quaisquer falhas em equipamentos chave que mantêm o serviço de transporte em funcionamento podem gerar uma situação de perturbação operacional. Esta instabilidade pode provocar um efeito em cascata no sistema de transporte levando-o a um cenário crítico operacional provocando, até mesmo, a uma interrupção completa de seus serviços afetando diretamente a qualidade do serviço de transporte ou podendo gerar inclusive uma condição de risco operacional por conta da logística necessária para contornar a interrupção do serviço e realizar com segurança o procedimento de evacuação dos usuários do sistema inoperante. Com isso, o papel da manutenção ganha destaque especial quando se fala em transporte metroferroviário, nas quais as condições físicas das instalações e seus equipamentos tem um papel fundamental na operacionalidade do sistema, de modo estável e seguro. Além do fator crítico da operacionalidade do sistema metroferroviário por ser complexo e integrado por vários sistemas, existe ainda a competitividade entre os modais em busca de novos e o mantenimento dos usuários atuais. Neste contexto existem várias formas de marketing que ajudam na captação dos mesmos, porém é a experiência que o usuário tem desde o momento que acessa uma estação, compra o bilhete, passa pelos bloqueis eletrônicos, anda pelas escadas rolantes, aguardam o trem na plataforma e viajam até o seu destino, o qual também passam por experiências até a saída da estação, é que vai determinar a escolha para qual modal de sua preferência. Para que tudo esteja em ótimas condições de funcionamento, todos os equipamentos envolvidos demandam ações de manutenção como uma das suas atividades relevantes, que é de grande importância da mesma para o sucesso e a sobrevivência dos negócios. Com esse cenário evidencia-se a necessidade de mudar o contexto no qual a função da manutenção é vista dentro das organizações, deixando de ser apenas uma despesa necessária, para ser enfatizada como uma ferramenta estratégica para o sucesso da organização. 15 Em um ambiente de negócios altamente competitivo, melhorar a utilização dos ativos é fundamental para se alcançar a produtividade necessária à sobrevivência e sucesso da empresa. A Manutenção, como função estratégica nas organizações é responsável direta pela disponibilidade dos ativos tendo, portanto, uma importância capital nos resultados da empresa. Esses resultados serão tanto melhores quanto mais eficaz for a Gestão da Manutenção Considerando a relevância da Manutenção para o sistema metroferroviário, como discutido anteriormente, a complexidade dos sistemas e equipamentos utilizados para manter o sistema em plena operação além do risco presente para as pessoas, sejam os próprios funcionários ou usuários, meio-ambiente e para as próprias instalações, é de vital importância um Sistema de Gerenciamento que otimize as instalações físicas disponíveis e os recursos aplicados para este fim. Conforme MARITINS & LAUGENI (1998), os processos produtivos das empresas dependem muito da confiabilidade e disponibilidade de seus equipamentos e instalações, podendo uma instalação bem mantida significar expressiva vantagem competitiva sobre a concorrência. Exige-se, portanto, dentro deste enfoque, cada vez mais atenção e esforço para a melhoria dos processos de manutenção. Segundo CAMPBELL (1995,p. 4): “A Gestão da Manutenção é importante para todos os segmentos de negócios, mas “crítica” para aqueles de capital intensivo”. Ao mesmo tempo que se constata no cenário mundial certa diversidade de metodologias e de programas de Gestão da Manutenção (alguns deles bem- sucedidos), depara-se, em âmbito nacional, com literatura restrita e escassa para suporte na implementação de um sistema similar, ou mesmo, para o aprofundamento do estudo sobre o tema. Neste contexto, este trabalho analisa o que há disponível no mercado em termos das melhores práticas gerenciais e programas de gestão da manutenção em uso na indústria a partir daí, sugere fundamentos que habilitam um sistema de manutenção aplicável ao contexto atual do setor de Bilhetagem Eletrônica do Metro Rio. Imprescindível nesse trabalho é a identificação e escolha de elementos que efetivamente permitam a construção, adaptação e a implementação de um sistema de manutenção que proporcione alta taxa de confiabilidade e disponibilidade dos sistemas produtivos a um custo otimizado. Na verdade, um sistema de gerenciamento deve ser o mais amplo e completo possível, abrangendo todos os aspectos relevantes que possam afetar os resultados 16 finais e os meios escolhidos para alcança-los. Costumeiramente, gerentes traçam objetivos e estabelecem as metas na atividade da manutenção sem que haja uma definição muito clara sobre os meios para alcança-los. Estes nem sempre são simples de serem identificados, escolhidos e utilizados. Neste trabalho procurar-se-á apresentar algumas alternativas estratégicas que podem ser utilizadas diretamente como referência para um programa próprio de manutenção a ser desenvolvido para outros setores da empresa. 1.2 OBJETIVOS O objetivo geral deste trabalho é identificar as melhores práticas que são utilizadas atualmente, para a implementação e desenvolvimento dos sistemas de Gerenciamento da Manutenção que proporcione a otimização da planta e de seus sistemas e equipamentos, de forma sustentável e integrada com o processo produtivo da organização. Como objetivos específicos têm-se: - Apresentar um estudo bibliográfica atualizada sobre o tema, que possa servir como um referencial teórico no desenvolvimento de trabalhos similares; - Apresentar um estudo de caso no setor de Bilhetagem do Metrô Rio, identificando o nível de aderência da pirâmide de gestão da manutenção. - Propor as melhorias identificadas e necessárias para se obter um nível de aderência maior que o atual considerando baixo custo de investimento inicial. 1.3 MÉTODO DE PESQUISA E TRABALHO A metodologia proposta consiste em uma pesquisa aplicada, voltada para o estudo de caso das características do processo de manutenção industrial no setor de bilhetagem na empresa Metrô Rio. O trabalho é suportado por abordagem quantitativa e qualitativa. Quanto a análise dos processos, a pesquisa caracteriza-se como quantitativa, pois o trabalho apoia-se a partir da análise baseada nas respostas obtidas através de um questionário sugerido por Wireman (2015). Seguindo a linha qualitativa, o trabalho apoia-se principalmente em conceitos apresentados na 17 literatura. Foi realizado um estudo bibliográfico com o objetivo de se identificar fatores de sucesso na gestão da manutenção aceitos na literatura. 1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO O presente trabalho está dividido em quatro capítulos, seguindo o método de trabalho proposto no item 1.3, cujos conteúdos são apresentados a seguir: No segundo capítulo, apresenta-se uma revisão bibliográfica traçando brevemente a evolução da manutenção, posteriormente é destacado a importância do planejamento estratégico de uma empresa, é feito um esclarecimento sobre o temaClasse Mundial, e finalmente é apresentado os fatores de sucesso para a gestão da manutenção. No terceiro capítulo apresenta-se um estudo de caso no setor de bilhetagem no Metrô Rio para aplicação do estudo realizado deste trabalho. No quarto capítulo é apresentado a conclusão do estudo de caso apresentado no trabalho. 1.5 DELIMITAÇÕES O modelo enfoca apenas no levantamento das melhores práticas, ou best practice, encontradas na literatura que elevam a manutenção a um patamar de excelência, ou Classe Mundial. O estudo de caso limita-se ao setor de bilhetagem da empresa Metrô Rio e na identificação das melhores práticas, não fazendo parte deste trabalho detalhar e explicar ferramentas, métodos ou cálculos dos assuntos relacionados. 18 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 EVOLUÇÃO DA FUNÇÃO MANUTENÇÃO A evolução da manutenção, ao longo dos últimos 50 anos, tem vindo a acontecer de forma consistente e exponencial em virtude de projetos muito mais complexos, da crescente diversidade e quantidade de itens físicos (instalações, equipamentos e edificações) que têm que ser mantidos, das novas técnicas e estratégias de manutenção utilizadas e a respectiva interação, dos novos enfoques sobre a organização da manutenção e suas responsabilidades. 2.1.1 Evolução das Técnicas e Estratégias Até meados do século XX, “avaria” significava “paragem dos equipamentos”. Nessa altura, surge o conceito de “manutenção” para designar a operação associada à reparação das avarias. Por outro lado, os equipamentos funcionavam a baixa velocidade e em condições deficientes provocadas por elevado desgaste. A manutenção não estava organizada e, em caso de avaria cabia os operadores fazer a sua reparação. Entretanto, as companhias de seguros, tendo em conta o elevado número de avarias que então ocorria, exerceram crescentes pressões sobre as empresas, no sentido de as obrigarem a incorporar elementos dedicados as tarefas de manutenção. Assim, desde o início do século XX, assistimos a uma evolução da função manutenção, que conduziu à sua autonomia no interior das empresas. Nos Estados Unidos da América (EUA), a década de 1920 foi marcada por uma intensa atividade industrial devido ao início da produção em série na indústria de automóveis. Nesse contexto a manutenção foi levada a pensar de forma mais organizada, surgindo então a ideia de planejamento da manutenção, e mais tarde, o conceito “prevenção”. Foi o planejamento da manutenção que, durante a Segunda Guerra Mundial, ajudou os países envolvidos a manter níveis de produção mais elevados. Foi também durante esse conflito que, nomeadamente, nos EUA, se deu o início à investigação sobre as causas das avarias e ao seu tratamento estatístico. Essas ações levaram ao surgimento da manutenção preventiva sistemática (MPS), que se baseia na substituição periódica de componentes de desgaste baseado no 19 Emergência Inspeção MPS TPM RCM RCA Sistema GMAC MPC Análise de Confiabilidade Análise de Risco 1930 1950 1970 1990 2000 conhecimento da sua lei de degradação. Com o passar do tempo esta prática veio a revelar-se pouco eficaz, porque muitas vezes, durante as intervenções, se constatava que os órgãos intervencionados estavam em perfeitas condições e, portanto, longe do seu final de vida. Por outro lado, nas intervenções realizadas ao abrigo deste tipo de manutenção, podem ocorrer defeitos que poderão determinar a ruína prematura dos componentes intervencionados. Por estas razões, na década de 1970, durante congressos e conferencias sobre manutenção, muitos participantes defenderam que a MPS, na maioria dos casos, não garantia a confiabilidade e disponibilidade dos equipamentos. Entretanto tendo em conta a nova crise mundial, houve que encontrar formas mais econômicas e eficientes de gerir a manutenção. Surge assim a manutenção preventiva condicionada (MPC), que se baseia na avaliação do estado de condição operacional dos equipamentos, através do conhecimento da evolução de alguns parâmetros que caracterizam seu funcionamento. Desde os anos 30 do século XX que assistimos a uma evolução nas estratégias de manutenção, prosseguindo sempre para o aumento da confiabilidade dos equipamentos. A figura 1.1 pretende mostrar como as diferentes estratégias de manutenção, então surgidas, influenciaram a melhoria da confiabilidade. Figura 1 - Evolução das estratégias de manutenção 20 Analisando a figura 1, verificamos que nos anos 30 do século XX se praticava manutenção de “emergência”. Nessa altura, os equipamentos tinham uma concepção robusta e sobredimencionada, operavam a velocidades muito reduzidas e não existia preocupação com o ambiente. Na década de 50, privilegiou-se a prevenção sistemática, a utilização de redundâncias, emergindo as preocupações com o meio ambiente. Surgem também, nessa altura, a gestão informatizada, a RCM, a TPM e a MPC. Além das metodologias referidas interessa mencionar também a terotecnologia (o estudo integrado de gestão, dos meios financeiros, da engenharia, dos estudos de viabilidade e de outras práticas no sentido de perseguir a otimização do ciclo de vida dos equipamentos), estratégia de origem anglo-saxônica que aparece no princípio da década de 1980. Outro conceito importante é conhecido como RAMS (reliability, availability, maintainability and safty). O objetivo de um projeto RAMS passa por promover sinergias entre os utilizadores e os fornecedores de modo a alcançar combinações otimizadas. Entretanto, outras metodologias foram aparecendo. Salientamos, entre elas, as seguintes: FMEA (análise de nodo de falhas e seus efeitos, do inglês failure mode effects analysis) FMECA (análise de nodo de falhas e seus efeitos e criticidade, do inglês failure mode effects and criticality analysis) RCA (análise de causa raiz, do inglês root cause analysis) Análise de risco; Análise de valor; Análise de Pareto; Diagrama de causa e efeito. Mais adiante voltaremos a abordar essas metodologias. 2.1.2 Evolução das Funções e Expectativas da Manutenção Paralelamente, ocorreu um aumento crescente das tarefas atribuídas à função manutenção. É possivel afirmar que as tarefas da manutenção, que de início se 21 resumiam a manter ou repor as instalações em funcionamento em determinadas condições, foram sendo ampliadas ao longo do tempo, passando, hoje, a intervir nas seguintes áreas: Gestão de ativos físicos: o Controle e gestão do ciclo de vida; o Custos de manutenção/custos de operação. Função de suporte; Colaboração com o projeto na escolha e na especificação de novos equipamentos; Colaboração nas tarefas relacionadas com peças de reserva, níveis de estoque e recepção de materiais e equipamentos; Colaboração no projeto de novas instalações, acompanhamento e fiscalização da sua montagem e colocação em serviço; Papel determinante na segurança das pessoas e bens; Parceiro fundamental na maximização de resultados. Com a crescente necessidade de maximizar o desempenho de todo o sistema produtivo, a função manutenção torna-se, cada vez mais, um setor chave para o sucesso competitivo das empresas. Por essa razão, o significado da palavra “manutenção” evoluiu de um modo muito significativo. O dicionário define manutenção como sendo “ato ou efeito de manter”. De acordo com a norma brasileira NBR5462 e a norma europeia EM 13306:2010 (CEN, 2010, p.5), “manutenção é a combinação de todas as técnicas, administrativas e de gestãoaplicadas durante o ciclo de vida de um bem destinadas a mantê-lo ou repô-lo num estado em que pode desempenhar a função requerida”. Na realidade, todas as definições tendem a apresentar esta função como sendo a garantia de disponibilidade dos equipamentos para a produção. 2.1.2 A Interação entre as Fases do Ativo Segundo KARDEC & NASCIF (2009), as fases de um ativo se resumem em projeto, fabricação, instalação, operação e manutenção, as quais dependem da confiabilidade e disponibilidade. A fase de projeto é o momento onde devem ser identificadas as necessidades, dados específicos para sua elaboração, nível de detalhamento, entre outros que são de 22 fundamental importância, pois irão impactar nas demais fases, com consequências no desempenho e na economia. Esta é a fase onde a operação, manutenção devem ser envolvidos. Como desempenho é possível citar as questões ligadas a confiabilidade, produtividade, qualidade do produto final, segurança e preservação ambiental e as econômicas se referem ao custo-eficiência obtido. A escolha dos equipamentos deverá considerar a sua adequação ao projeto (correto dimensionamento), a capacidade inerente esperada (através dos dados técnicos MTBF – Mean Time Between Failures), qualidade, manutenabilidade, além do custo- eficiencia. É importante considerar, também, a padronização com outros equipamentos do mesmo projeto e com equipamentos já existentes na instalação, objetivando redução de estoque de sobressalentes e facilidades de manutenção e operação. A fabricação deve ser devidamente acompanhada e incorporada a requisitos de modernidade e aumento da confiabilidade dos equipamentos, além de sugestões oriundas da pratica de manutenção. Todos esses dados, aliados ao histórico de desempenho de equipamentos semelhantes, dados esses subsidiados pelo grupo de Manutenção, compõem o valor histórico do equipamento, elemento importante para uma decisão em compras e futura política de peças de reposição. A fase de instalação deve prever cuidados com a qualidade da implantação do projeto e as técnicas utilizadas para esta finalidade. Quando a qualidade não é apurada, muitas vezes são inseridos pontos potenciais de falhas que se mantêm ocultos por vários períodos e vêm a se manifestar muitas vezes quando o sistema é fortemente solicitado, ou seja, quando o processo produtivo assim o exige e quando normalmente se necessita de maior confiabilidade. As fases de manutenção e operação terão por objetivo garantir a função dos equipamentos, sistemas e instalações no decorrer de sua vida útil e a não degeneração do desempenho. Nesta fase da existência, normalmente são detectadas deficiências geradas no projeto, seleção de equipamentos e instalação. Da não interação entre as fazes anteriores, percebe-se que a Manutenção encontrará dificuldades de desempenhar suas atividades, mesmo que apliquem nelas as mais modernas técnicas. A confiabilidade estará num patamar inferior ao inicialmente previsto. 23 Figura 2 - A interação entre as fases do Ativo 2.2 IMPORTÂNCIA ESTRATÉGICA DA MANUTENÇÃO Manutenção, muitas vezes a palavra é vista como uma atitude negativa. Em quase todas organizações, a função da manutenção é vista como: Um mal necessário Um custo Uma garantia Uma função de reparação de desastres Autossuficiente Ao longo da história da manutenção, as empresas que conseguiram liderar o mercado foram aquelas que entenderam quão crucial a manutenção está para sobrevivência, competitividade e despontamento no mercado, tornando assim a manutenção como ponto estratégico dentro da organização. Kardec & Nascif (2009), afirmam que para a manutenção ser estratégica, ela precisa estar voltada para os resultados empresariais da organização. É preciso sobretudo deixar de ser eficiente para se tornar eficaz, ou seja, não basta reparar o equipamento ou instalação tão rápido quanto possível, mas é preciso principalmente, manter a função do equipamento disponível, reduzindo a probabilidade de uma parada de produção não planejada. Hendry (1998), Tsang (1998), Bond (1999), Liyanage e Kumar (2003), Dunn (2003) destacam a importância estratégica da manutenção tanto para o processo produtivo quanto para o sucesso da organização como um todo, como por exemplo: aspectos PROJETO FABRCAÇÃO INSTALAÇÃO OPERAÇÃO MANUTENÇÃO CONFIABILIDADE DISPONIBILIDADE 24 relacionados à confiabilidade das instalações, qualidade dos produtos, custo/lucro para o ciclo de vida dos ativos (LCC – Life-cycle cost e LCP – Life-cycle profit) e integração com as demais atividades da organização, entre outros. A função estratégica da manutenção é uma atividade vista hoje como crítica para a lucratividade da empresa, tendo sido tratada, no passado, como um “mal necessário” (SHERWIN, 2000). Segundo KARDEC & NASCIF (2009), para que a manutenção se integre de maneira eficaz no processo produtivo, contribuindo efetivamente para que a empresa caminhe rumo à excelência operacional é importante “pensar e agir estrategicamente”. Esta nova postura é fruto dos novos desafios que se apresentam para as empresas neste novo cenário de uma economia globalizada e altamente competitiva, onde as mudanças se sucedem em alta velocidade e a manutenção como uma das atividades fundamentais do processo produtivo, precisa ser um agente proativo. Nesse cenário não mais existem espaços para improvisos e arranjos: competência, criatividade, flexibilidade, velocidade, cultura de mudança e de tralhado em equipe são as características básicas das empresas e das organizações que têm a competitividade como razão de ser e de sobrevivência. Para as pessoas, estas características são essenciais para garantir a empregabilidade. O cenário atual dos negócios requer uma mudança profunda de mentalidades e posturas. A gerencia moderna deve estar sustentada na visão do futuro e regida por processos de gestão onde a satisfação dos clientes seja resultante da qualidade intrínseca dos seus produtos e serviços e a qualidade total dos seus processos produtivos seja o balizador fundamental. Slack (1999) comenta sobre os benefícios que a gerência de produção experimenta como decorrência do desempenho satisfatório das atividades de manutenção nos equipamentos e instalações: i. Segurança melhorada, na medida em que o comportamento das instalações é mais previsível, oferecendo menor risco para as operações; ii. Confiabilidade aumentada, pois conduz a menores tempos perdidos de produção e menos tempo gasto em consertos; iii. Maior qualidade, considerando que equipamentos bem conservados permitem padrões de qualidade elevada, com baixa variância; iv. Custos de operação mais baixos, como consequência das vantagens anteriormente citadas; e 25 v. Tempo de vida mais longo pela preservação dos equipamentos. Campbell (1995) considera que muitas organizações “sofrem” por negligenciarem elementos essenciais para o sucesso, como por exemplo, a manutenção industrial. Destaca ainda que a manutenção industrial tem a função de manter os ativos físicos nas suas melhores condições, de modo a garantir a capacidade de produzir e prover bens e serviços. Permite desta forma, a expansão da capacidade do processo produtivo, proporciona a satisfação dos consumidores, mantém o processo produtivo em regime controlado e seguro, e mantém sob controle os riscos para o meio ambiente e segurança das pessoas. A manutenção tem influência direta sobre a lucratividade da empresa. Os ganhos decorrentes do adequado gerenciamento da manutenção,traduzidos na forma de aumento da confiabilidade dos equipamentos, redução dos custos e melhoria da qualidade dos produtos associados à atuação da manutenção, podem proporcionar preços mais competitivos e conquista de mercados. Os ganhos potenciais podem ser bastante expressivos, o que numa economia altamente competitiva, não deve ser desprezado. Por outro lado, deficiências de atuação da manutenção podem colocar em risco a competitividade da empresa, e, por conseguinte, a sua sobrevivência (XENOS, 1998; MURTHY et al., 2002). KARDEC & NASCIF (2009) afirmam que ao invés de se falar em “mudança de cultura, que é um processo lento não condizente com as necessidades atuais, é preciso que a gestão implemente uma “cultura de mudanças”, onde o inconformismo com a perpetuação de paradigmas e de práticas seja uma constante. 2.3 MANUTENÇÃO CLASSE MUNDIAL O que é manufatura classe mundial? É um status ou um chavão? O que significa o conceito? Outros países alcançaram esse status? A manutenção afeta a capacidade de uma organização de alcançar esse patamar? Como uma empresa pode obter status de classe mundial para sua organização de manutenção? 26 2.3.1 O Mercado Internacional O termo classe mundial evoluiu a partir de mudanças no mercado ao longo das últimas décadas. Em 1965, os Estados Unidos tinham uma participação de 30% no mercado mundial de bens manufaturados, apesar de ter menos de um décimo da população mundial. No final dos anos 1960 e início dos anos 1970, desenvolveu-se uma atitude de "gato gordo". A noção de que a indústria americana não poderia fazer nada errado. Podiam vender o que quer que fosse feito, independentemente do custo, não importa a qualidade. Embora os Estados Unidos estivessem vivendo esse sonho, outros países tornaram-se invejosos. Os governos, em um esforço para estimular suas economias, encorajaram o desenvolvimento econômico e esses países concorrentes começaram uma série de mudanças de atitude. Eles analisaram o que os Estados Unidos estavam fazendo, e decidiram fazer o mesmo. Enquanto trabalhavam 16 a 20 horas por dia para reequipar, reconstruir, e crescer o seu potencial econômico, uma coisa estranha aconteceu. Considere os corredores que treinaram; eles surpreendem a si mesmos, adverso aos competidores confiantes que não treinaram pensando que não tinham nenhum adversário no campo. Da mesma forma, o mercado inverteu. Agora, os europeus e os países asiáticos estavam fazendo incursões, não só em seu próprio mercado, mas nos mercados dos EUA, bem como as empresas dos EUA foram colocados em um estado de indecisão. A recessão de meados da década de 1970 reduziu sua capacidade de recuperação e reinvestimento. Eles começaram a sacrificar ganhos de longo prazo para lucros de curto prazo para sobreviver. O final dos anos 1970 e início dos anos 80 foi o momento de boom para concorrentes estrangeiros. Sua nova vantagem se transformou em uma oportunidade para conquistar participação de mercado de empresas norte-americanas. Eles continuaram a aumentar a qualidade, a baixar os preços e a entregar produtos a tempo. Eles desenvolveram uma vantagem competitiva que seria difícil de superar. A demanda por bens estrangeiros nos Estados Unidos continuaria a aumentar até o ponto em que em 1999 os Estados Unidos tinham um déficit comercial de $ 390 bilhões de dólares em bens manufaturados. Em 1987, os concorrentes estrangeiros tinham conseguido reduzir a participação de mercado dos EUA para o seu nível mais baixo, 10%, do mercado mundial. 27 Em 1999, o nível tinha aumentado para 13%; ainda assim, não estava perto da quota de 30% de 1965. Em 2011 aumentou para 19,4% - mesmo com essa melhora, foi superada pela China com 19,8%. Esta foi a primeira vez na história que os Estados Unidos não tiveram a porcentagem principal. 2.3.2 Classe Mundial e Melhores Práticas O verdadeiro significado da manufatura de classe mundial agora se torna claro. É a capacidade de competir em qualquer lugar do mundo e ser capaz de atender e vencer qualquer concorrente em qualquer lugar do mundo com o preço do produto, qualidade e entrega no prazo ou ser o líder de mercado em seu segmento. Como alcançar este nível é o verdadeiro desafio. Para que uma empresa seja Classe Mundial, ela precisa implementar Melhores Práticas. No entanto, as Melhores Práticas não são universais; elas não são as mesmas em todos os mercados de negócios. Diferentes mercados e condições de negócios ditam o que é melhor em um determinado momento. Por exemplo, em um mercado onde a concorrência dita o preço, o controle de custos é imperativo; Margens são críticas para o controle. Em outro mercado, onde todo o produto que pode ser produzido pode ser vendido, a capacidade torna-se a principal preocupação. As Melhores Práticas também são diferentes para uma nova planta ou instalação do que para uma planta ou instalação que vai ser desativada nos próximos dois anos. Hayes e Wheewright em 1984 desenvolveram o conceito da World Class Manufacturing (WCM), ou Manufatura de Classe Mundial. Para Flynn et al (1999), este novo paradigma foi construído baseado em uma profunda análise das práticas implementadas por empresas japonesas e alemãs, bem como empresas norte americanas, as quais apresentavam desempenho notável em suas indústrias. Daí vem o termo Manufatura de Classe Mundial. Hayes e Wheewright (1984) apud Flynn et al (1999), em seu estudo encontraram muitos pontos em comum entre estas empresas de sucesso e sumarizaram estes pontos em seis princípios: i. Melhoria na capacidade e nas competências da força de trabalho; ii. Competência técnica e gerencial. iii. Competição através da qualidade; 28 iv. Participação (envolvimento) da força de trabalho; v. Desenvolvimento de máquinas únicas (difíceis de serem copiadas) com ênfase na manutenção; vi. Melhoria contínua incremental. Para Slack et al. (2009), existem cinco objetivos básicos para as operações produtivas, os quais podem ser todos diretamente relacionados com a Função Manutenção: a) Qualidade, significando a redução a zero do chamado "retrabalho", onde há uma nova intervenção para correção de falhas ocorridas na primeira; b) Rapidez, buscando a minimização dos tempos de parada da produção, gerando assim um menor MTTR no caso das conetivas, e menores tempos de intervenções preventivas, aumentando assim a Disponibilidade operacional dos sistemas e equipamentos. c) Credibilidade, ou Dependability, em Inglês, o que se pode assumir como sendo a aderência da manutenção ao seu programa pré-definido de intervenções, demonstrando assim a saúde do planejamento da atividade, na busca de variações, as quais carregam problemas na operação das plantas; d) Flexibilidade, relacionada à habilidade de lidar com as características dos diversos sistemas existentes e também à capacidade de atender situações imprevistas em termos de volume e tempo de entrega; e) Menores custos de suas atividades nas mais variadas contas, dos custos fixos aos variáveis. Segundo WIREMAN (2015) independentemente do ambiente de negócios, existem várias Best Practices universais que podem ajudar qualquer empresa a melhorar sua posição competitiva. Estes podem ser divididos em três áreas: qualidade, atitude em relação à concorrência e tecnologia de automação. 2.3.2.1 Qualidade Uma apresentação na conferência nacional de AIPE (American Institute of Park Executives) observou que 20 a 25% do orçamento operacional médio de uma empresa de produção é para encontrar e corrigir erros. Se os custos de reparação ou 29 substituiçãode produtos defeituosos estão incluídos, este nível pode ser tão alto quanto 30%. Qual seria o montante se ele incluísse o custo de vendas futuras perdidas devido a uma má reputação de qualidade? As estimativas sugerem que o custo da má qualidade é tão alto quanto 10% das vendas por ano. Embora as empresas dos EUA tenham feito incursões nesta área, a etiqueta "Made in the U.S." ainda não ganhou o seu apelo total, especialmente quando comparado com padrões internacionais de qualidade. Todo o conceito de Melhores Práticas em qualidade é prevenir defeitos, não corrigi-los. Infelizmente, corrigir defeitos é muitas vezes a filosofia comum. Se o equipamento é operado em um ambiente onde nada é feito se ele estiver em execução, então o equipamento estará em má forma. Todo equipamento requer atividades de manutenção; A frequência varia com a idade. Se o equipamento não receber manutenção adequada no intervalo correto, não poderá manter os padrões. Equipamentos mal conservados raramente produzem consistentemente bons produtos. Se programas de qualidade são instituídos em uma empresa, a manutenção deve ser uma parte dela. Um programa de manutenção preventiva tem vários componentes. O operador do equipamento pode realizar inspeções de equipamentos em uma organização de classe mundial. Se devidamente documentadas, estas inspeções podem ajudar a ativar substituições de componentes defeituosos ou ajustes necessários. Essa abordagem alivia parte do trabalho menos técnico da organização de manutenção. Ela ajuda a promover boas relações entre manutenção e operações, além de ajudar a aumentar a qualidade do produto. Os sistemas de manutenção baseados em previsões e condições ajudam a garantir produtos de qualidade superior. A condição do equipamento nunca deve deteriorar-se até à condição em que estará produzindo um produto defeituoso ou serviço de má qualidade. Também é importante mudar a mentalidade atual do gerenciamento da manutenção como "executar tudo o que você pode" ou "executar até quebrar", como discutido na próxima seção. 2.3.2.2 Atitude para a competição Atitude da empresa em relação aos seus concorrentes é uma das ações mais difíceis de ajustar. Passando de um mercado interno para um mercado internacional, a perspectiva muda. Para que as empresas permaneçam no mercado, elas devem se 30 concentrar em melhorias internas. Deve-se considerar cada situação competitiva como grave. Os clientes irão escolher o produto ou serviço onde o preço e qualidade são os melhores. Uma das atitudes que as empresas devem abordar é aquela que favorece sacrificar o planejamento de longo prazo para ganhos de curto prazo. Esta atitude tem um significado para o mercado mundial e os produtos ou serviços que uma empresa planeja promover. Também tem significado para manutenção. Se a atitude da administração favorecer metas de curto prazo, a organização de manutenção será afetada nas áreas de: Manutenção preventiva Planejamento do trabalho Estoque A manutenção preventiva sofre porque ninguém vai dar o equipamento para o departamento de manutenção realizar o serviço de rotina. Este serviço pode exigir alguma perda de produção, afetando metas de curto prazo. Mas a empresa precisa ver as questões a longo prazo. Manter o equipamento de capital em bom estado e produzir produtos de alta qualidade deve ser o objetivo da manutenção e operações. Se cooperarem, resultará em poupanças a longo prazo e maior qualidade do produto. Por exemplo, uma empresa, após instituir um sistema de manutenção preventiva / preditiva, estimou suas economias em 1,2% da produção total da planta. Entretanto, os custos para a partida do programa PM empurraram os custos de manutenção para cima por seis meses antes que as economias pudessem ser vistas. Se a empresa tivesse insistido em manter os custos baixos no curto prazo, nunca teria conseguido maiores economias a longo prazo. Outra atitude que muitas vezes requer ajuste é a da gestão para a posição de manutenção na organização. As organizações que foram bem sucedidas em incutir melhores práticas em suas organizações de manutenção foram empenhados em levar gestão de manutenção ao nível de outros cargos de gestão na organização. Sem esse compromisso, a manutenção não pode melhorar. Os concorrentes estrangeiros aprenderam isso há algum tempo. Suas organizações respeitam a manutenção para as contribuições que fazem à rentabilidade total. Ainda outra atitude que pode precisar de ajuste é a atitude da gerência em relação aos recursos de manutenção. Esses incluem: Trabalho 31 Materiais Ferramentas Suprimentos e diversos Examine o orçamento de manutenção para sua organização. Quanto é gasto anualmente com salários de manutenção? Quanto é gasto em peças de manutenção? É provável que esses números sejam surpreendentemente baixos. No entanto, uma empresa provavelmente nunca começaria a produção sem considerar: O material necessário O equipamento necessário O trabalho necessário O tempo necessário para produzir o produto acabado Agora imagine o cenário apresentado na Figura 3. Este cenário é tão distante de Melhores Práticas que se qualifica para Piores Práticas. A maioria das pessoas não gostaria de possuir, investir ou trabalhar para tal empresa. Qualquer empresa operando neste tipo de modo, com essa atitude, nunca seria rentável. Seria extremamente desperdício e criaria um ambiente de trabalho frustrante. O mesmo sentimento sobre uma empresa que opera a produção desta maneira deve se traduzir no mau uso das organizações de manutenção. Muitas organizações operam suas organizações de manutenção de uma forma consistente com a Figura 3. A razão é devido à gestão míope, que não dão importância à manutenção. Sem uma mudança de atitude, esses tipos de organizações de manutenção têm pouca ou nenhuma chance de melhorar. Cada mantenedor espera que alguém lhes diga qual equipamento deve reparar? -Ou o gestor deve dizer qual produto eles vão fazer hoje? Cada mantenedor vai para o almoxarifado para obter o material necessário para realizar o traballho? Cada mantenedor encomenda o seu próprio material para fazer o seu trabalho atribuído e, em seguida, espera que ele seja entregue? Cada mantenedor espera na fila para usar uma ferramenta para fazer o seu serviço designado porque outros mantenedores precisavam da mesma ferramenta ao mesmo tempo? 32 Mantenedores em pé ao redor, assistindo o trabalho de um outro, porque ninguém sabia que gastaria apenas um mantenedor para executar a máquina, e vários mantenedores foram agendados para o equipamento? Figura 3 - Operações de "Pior Prática" Planejamento de manutenção é a parte mais essencial do esforço de qualquer empresa para melhorar permanentemente a eficiência e a eficácia da organização de manutenção. Em resumo, a gerência deve entender a gestão da manutenção se quiser melhorar. Se o fizerem, eles podem colher os seguintes benefícios: Melhorias de qualidade Melhorias na utilização e disponibilidade Redução da mão-de-obra de manutenção e custos de material Eles também terão uma organização que está preparada para ser referência em seu segmento, não importa quão grave a concorrência. 2.3.2.3 Tecnologia de automação As fábricas automatizadas dão às empresas grandes vantagens de preço em relação aos seus concorrentes menos automatizados. Apesar de algumas incursões terem sido feitas nesta área, é comumente conhecido que as plantas no Brasil ainda são projetadas sem entrada completa das operações e funções de manutenção. Esta falta deentrada condiciona o custo do ciclo de vida da instalação ou instalação superior ao necessário. Ao longo do ciclo de vida da planta ou da instalação, a fábrica é forçada a pagar maiores custos operacionais e de manutenção. Se estas plantas estão focando na redução dos custos e aumento da qualidade, então design de qualidade e automação são a solução. As empresas internacionais têm muitas indústrias que são totalmente automatizadas desde a entrada de pedidos até a entrega, desde a concepção do produto até a produção do produto. Um aviso às empresas que começam neste esforço é que, enquanto a automação é a resposta, a automatização dos resíduos não é. A manufatura de classe mundial exige a eliminação da complexidade. Exige simplicidade nos processos de projeto e fabricação. A simplicidade é a chave para 33 eliminar o desperdício. As empresas que querem alcançar status de Classe Mundial seriam sábias ao examinar como a manutenção está envolvida nas áreas de qualidade, atitudes e automação. Para a organização de manutenção, a tecnologia de automação significa ser capaz de aproveitar todos os avanços tecnológicos em ferramentas e equipamentos de manutenção para manter os custos de manutenção em um nível ótimo. Por exemplo, considere a análise de vibração. Quando começou, era estritamente uma função de engenharia. Como a tecnologia amadureceu, as ferramentas se tornaram mais fáceis de usar. Logo, os técnicos de manutenção foram regularmente envolvidos na realização e tendência das leituras. Software complementar foi então desenvolvido que fez o mapeamento, tendências e interpretação dos dados se tornarem ainda mais fácil. Atualmente outra ferramenta mais avançada é a manutenção baseada em condições, na qual as entradas em tempo real são alimentadas à manutenção para que os parâmetros possam ser analisados e as medidas apropriadas serem tomadas, algumas empresas têm indicadores "go / no-go" montados no equipamento e os operadores podem rapidamente detectar problemas e retransmitir a informação para a organização de manutenção para resolução. É uma exceção encontrar uma empresa de fabricação hoje que não está envolvido em alguma forma de análise de vibração. Esta técnica preditiva sozinha proporcionou às empresas inúmeras economias. Outras áreas da tecnologia de automação incluem técnicas de manutenção preditivas adicionais, como a varredura infravermelha e a análise espectral de partículas de desgaste. Embora estas técnicas estejam apenas recentemente em grande uso, elas têm o mesmo potencial que a análise de vibração para melhorar o desempenho e a utilização da manutenção. A informatização das informações de manutenção é outro exemplo de tecnologia de automação. Sistemas de Gerenciamento de Manutenção Computadorizada (CMMS) ou Enterprise Asset Management (EAM) automatizam o fluxo de papel usado por toda a organização de manutenção. Estes sistemas consistem em vários subsistemas, incluindo: Dados do equipamento Manutenção preventiva Ordens de serviço Estoque 34 Compras Pessoal Relatórios O uso de computadores para automatizar as informações de manutenção fornece acesso de gerenciamento a dados históricos, relatórios resumidos concisos e, na maioria dos casos, exibição gráfica dos dados. No entanto, algumas empresas enterram-se com a quantidade de dados que produzem com seus sistemas CMMS ou EAM. A informação deve apoiar a gestão, não a sobrecarregar. Sistemas de CMMS ou EAM são muitas vezes a chave final que permite a manutenção tirar pleno partido da tecnologia de automação. Fornecedores, consultores e especialistas em software puxam informações de sistemas de manutenção preditiva, sistemas de treinamento baseados em computador e outros pacotes reescritos no Sistema CMMS / EAM. Um exemplo usa a informação de manutenção preditiva para disparar ordens de serviço de reparo no Sistema CMMS / EAM; O sistema planeja e agenda as ordens de serviço de acordo com sua prioridade. Todas essas possibilidades são importantes porque refletem novamente o impacto que a manutenção tem sobre o lucro corporativo. 2.4 FATORES DE SUCESSO NA GESTÃO DA MANUTENÇÃO Como visto no item anterior, as melhores práticas vêm sendo estudadas e levantadas ao longo dos anos por diversos países com o propósito de serem aplicadas na manutenção com a finalidade de se obter a excelência operacional garantindo assim a sua competitividade e sobrevivência em seu segmento ou no mercado a nível mundial. Existem atualmente uma gama de autores conhecidos que defendem vários fatores que compreendem o sucesso na gestão da manutenção. A pesquisa nacional da ABRAMAN realizada em 2013 demonstra através de amostragem de dados o retrato do panorama nacional da gestão de manutenção. Observa-se na pesquisa grande valorização de dados como formação educacional dos profissionais da manutenção e resultados da função, expostos através de indicadores como disponibilidade operacional e indisponibilidade por manutenção. Além destes verifica-se a abordagem com maior ênfase aos valores relativos aos custos de manutenção. 35 Observa-se que a pesquisa está direcionada a alguns fatores determinantes para a gestão da manutenção, tais como: estrutura organizacional da manutenção, custos do setor, qualificação pessoal, política da terceirização e as ferramentas de qualidade para análise da falha. Outras fontes indicam fatores distintos ou complementares. Segundo Tsang (2002), são quatro os fatores de sucesso para o gerenciamento da manutenção: a) Modelo de serviço, se interno com pessoal próprio ou externo com contratação de trabalhos terceirizados em fornecedores especializados; b) Organização da manutenção em seu organograma; c) Metodologia da manutenção com a definição das políticas a serem adotadas; d) Infraestrutura de suporte à função manutenção. Tais fatores são considerados os direcionadores da gestão, envolvendo entradas como mão-de-obra, materiais, almoxarifado, ferramental, sistema de informações e custeio, capazes de gerar as saídas de tal processo, as quais podem ser avaliadas através de indicadores como disponibilidade dos equipamentos, segurança no trabalho e lucros do negócio. Wireman (1990) no livro Manutenção de Classe Mundial propõe um sistema completo para o gerenciamento da manutenção. O sistema foi organizado para minimizar e combater os custos da falta de eficácia da manutenção e dos próprios sistemas de apoio, constituindo-se desta forma, em valiosa contribuição para o potencial competitivo dos produtos fabricados pela empresa. A base originalmente proposta como da excelência em manutenção era constituída de oito aspectos, considerados críticos, onde se podiam detectar grandes potenciais para melhoria. Estes aspectos são: i. Aspectos Organizacionais da Manutenção; ii. Programas de Treinamento; iii. Ordem de Serviço; iv. Planejamento e Programação; v. Manutenção Preventiva; vi. Compras e Estoques; vii. Relatórios Gerenciais; viii. Automação na Manutenção. Como já citado anteriormente, o modelo de organização da manutenção depende de cada organização e deve ser influenciado pelas metas e objetivos por ela 36 estabelecidos. O gerenciamento da manutenção visa, entretanto, garantir que a organização estabelecida, com sua estrutura e recursos, alcance essas metas e objetivos. Posteriormente, Wireman (1998) revisa sua proposta original e incorpora outros temas que considera comporem um conjunto fundamental para o gerenciamento da manutenção, como por exemplo, um sistema de gerenciamento de manutenção computadorizado, envolvimentooperacional, RCM, TPM e melhoria contínua, entre outros. Os fatores que influenciam a gestão de manutenção foram identificados e organizados em camadas numa pirâmide, representando o crescimento da organização no sistema de gestão a partir da melhoria contínua, buscando gerar valor econômico e a excelência em manutenção, lançando a noção da necessidade de se ter uma base solida para suportar pontos mais avançados, que conforme Wireman (2003) consiste em atingir um nível onde torna-se possível competir com empresas em todo o mundo além de poder se tornar benchmarking mundial no gerenciamento de ativos. O autor hierarquiza os fatores de manutenção, estipulando aqueles que formam a base, e os de fases mais avançadas que serão suportados pelos mais básicos, conforme ilustra a Figura 4. Figura 4 - Pirâmide do sistema de Gestão em Manutenção 37 Marquez e Gupta (2006) observam que a gestão determina os objetivos da manutenção ou prioridades, bem como a definição e implementação de métodos de melhoria, incluindo aspectos econômicos da organização. WIREMAN (1989) e INGALLS (2001) apresentam uma visão sobre o que vem a ser uma Manutenção Classe Mundial. Segundo o último, a mesma repousa nas melhores práticas de manutenção observadas em doze fatores: a) Liderança e Política; b) Estrutura Organizacional; c) Controle de Inventários; d) Sistemas Computadorizados de Administração; e) Manutenção Preventiva; f) Manutenção Preditiva; g) Planejamento e Programação; h) Fluxo de Trabalho; i) Controle Financeiro; j) Envolvimento das Pessoas; k) Recursos Humanos e Treinamento; l) Melhoramento Contínuo. Nota-se na exposição de Ingalls o estabelecimento de fatores determinantes para o sucesso da gestão da manutenção, os doze fatores trabalhados em seu artigo, segundo o mesmo, são determinantes para o sucesso na gestão da manutenção. Hatakeyama et al. (2006) observam que os fatores de sucesso para a implantação de uma manutenção de qualidade total, são: a) Produtividade; b) Custos; 38 c) Suprimentos; d) Qualidade de serviços para o atendimento do retrabalho zero; e) Segurança no trabalho; f) Moral da equipe através da participação de todos. Além dos pontos citados, os autores reconhecem a importância de um sistema de auditoria dos processos de manutenção, que garanta um correto feedback para a equipe, capaz de visualizar melhorias que possam reforçar o desempenho das gerências de manutenção, que não faz parte do instrumento deste trabalho, contudo abrindo oportunidades para futuros estudos a cerca deste assunto. Nyman e Levitt (2001) organizam os fatores de sucesso da gestão da manutenção na forma de um arco, semelhante à pirâmide de Wireman. A Figura 5 ilustra a lógica defendida por esses autores. Percebe-se que a pedra fundamental que sustenta o arco de Nyman e Levitt (2001) são os fatores "manutenção preventiva" e "manutenção preditiva", para Wireman (1998) a base da sua pirâmide é o fator "manutenção preventiva", constate-se a preocupação dos autores em alicerçar a gestão da manutenção em seu processo básico de realização de serviços antes da ocorrência da falha. Esta abordagem é relevante, na medida em que sugere que nenhum avanço na função manutenção terá sustentabilidade, caso não se tenha um fundamento sólido nas atividades básicas da manutenção, como aquelas que garantem a adequada aplicação de uma manutenção preventiva. 39 Figura 5 - Arco da gestão da manutenção Fonte: Nyman e Levitt (2001) Calligaro (2003) avalia que os fatores de sucesso na gestão da manutenção repousam naquilo que o mesmo chama de fundamentos, sendo eles: a) Planejamento e programação da manutenção; b) Otimização da demanda de serviços de manutenção; c) Engenharia de manutenção; d) Qualidade na execução dos serviços de manutenção. O autor também destaca como fatores importantes na construção de um sistema de manutenção, o suprimento de materiais e sobressalentes e a gestão da segurança, meio-ambiente e saúde ocupacional do ambiente de trabalho e da sua equipe. A revisão da literatura sobre os fatores determinantes para gestão da manutenção indicou uma lista dos mesmos, onde existe uma variação de nomenclatura, bem como, 40 entre um fator e outro, mas observa-se uma recorrência na maioria dos autores em torno dos fatores listados na Figura 6. FATORES DETERMINANTES REFERENCIAS Organização da Manutenção WIREMAN, 2015; ABRAMAN, 2011; TSANG, 2002; INGALLS, 2001; NYMAN; LEVITT, 2001 Treinamento em Manutenção ABRAMAN, 2011; WIREMAN, 1989; WIREMAN, 1998; WIREMAN, 2015; INGALLS, 2001; NYMAN; LEVITT, 2001; XAVIER, 2005; GONZALES et al., 2012; SALERMO, 2005; KARDEC; NASCIF, 2001 Ordens de Serviços WIREMAN, 2015;KARDEC &NASCIF, 2009; AMARAL 2016 Planejamento e Programação da Manutenção WIREMAN, 2015; INGALLS, 2001; NYMAN; LEVITT, 2001; CALLIGARO, 2003;BRANCO FILHO, 2008; MACEDO et al., 2008; GURSKI et al., 2008; HAARMAN; DELAHAY, 2004; KARDEC &NASCIF, 2009 Manutenção Preventiva WIREMAN, 1989; WIREMAN, 1998; WIREMAN, 2015; INGALLS, 2001; NYMAN; LEVITT, 2001;KARDEC &NASCIF, 2009 Inventário de Materiais HATAKEYAMA et al., 2006; WIREMAN, 1998; WIREMAN, 2015; NYMAN; LEVITT, 2001; CALLIGARO, 2003; MALLMANN, 2000; AMARAL 2016 Sistemas Computadorizados e Relatórios de Manutenção WIREMAN, 1989; WIREMAN, 1998; WIREMAN, 2015;INGALLS, 2001; NYMAN;LEVITT, 2001; KARDEC &NASCIF, 2009 Custos da manutenção ABRAMAN, 2011; INGALLS, 2001; HATAKEYAMA et al., 2006; WIREMAN, 1998;WIREMAN, 2015; NYMAN; LEVITT, 2001; HAARMAN; DELAHAY, 2004; AMARAL 2016 Engenharia da manutenção WIREMAN, 2015; NYMAN; LEVITT, 2001; CALLIGARO, 2003; HAARMAN; DELAHAY, 2004; MÁRQUEZ; GUPTA, 2006; VIANA, 2002, AMARAL 2016. Figura 6 - Fatores determinantes observados na literatura É importante explorar os nove fatores listados na Figura 6, observando o posicionamento dos diversos autores em relação aos mesmos, subsidiando assim o entendimento para uso em capítulos futuros. Desta forma, a revisão da literatura irá se concentrar no estudo de tais fatores, o qual é apresentado a seguir nos itens de 2.4.1 a 2.4.9. 41 Cabe ressaltar que a nomenclatura utilizada na Figura 6 corresponde a uma compilação dos vários estudos pesquisados. Percebem-se pequenas diferenças na terminologia dos fatores determinantes reportados na literatura. 2.4.1 Organizações de manutenção As metas e objetivos da organização de manutenção determinam o tipo de organização de manutenção que é estabelecida. Se as metas e os objetivos forem progressivos e a organização de manutenção for reconhecida como contribuinte para a linha de fundo corporativa, podem ser usadas variações em algumas das estruturas organizacionais mais convencionais. Não havendo assim um padrão único a ser seguido em todas as empresas. Sendo assim observa-se consenso na literatura em não haver um modelo fechado para a função manutenção, que permita distribuir em um organograma os recursos humanos de um departamento de manutenção, visto que cada empresa possui sua especificidade, por exemplo, para Campbell (1995) não existe uma estrutura organizacional que possa ser considerada correta e que possa ser implantada em qualquer organização sem ajustes e adaptações, para o autor, o que existe são estratégias que podem ser utilizadas em situações específicas. Para Ingalls (2001), a Estrutura Organizacional é um dos fatores determinantes na gestão da manutenção. KARDEC e JULIO NASCIF (2010) consideram da mesma forma que tanto a subordinação
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