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CARDIOLOGIA 1 INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO COM SUPRA DE ST MENSAGENS RELEVANTES – Quadro Clínico o Desconforto ou dor em aperto, peso, opressão, sensação de “asfixia”, esmagamento ou constrição. o Pode iniciar em repouso ou ser desencadeada por estresse, exercício ou doença médica aguda. o Diferentemente da síndrome coronariana aguda (SCA) sem supra, a dor ou desconforto é de duração prolongada e não costuma ser al iviada com repouso ou com nitrato. o Sintomas atípicos ou equivalentes isquêmicos devem sempre ser lembrados e podem ser a apresentação do infarto agudo do miocárdio (IAM) com supra em cerca de um terço dos casos. – Exame físico o O paciente se apresenta com ansiedade, sudorese profusa, palidez e mãos frias, quase sempre associados a dor torácica contínua e persistente; o Turgência jugular, cianose e má-perfusão periférica indicam maior gravidade e pior prognóstico. – O emergencista deve buscar imediatamente a pronta recanalização da artéria obstruída, seja pelo uso de fibrinolíticos, seja pela intervenção coronariana percutânea (ICP), constituindo-se na mais importante atitude, associada a melhor prognóstico e melhor sobrevida. – Terapia Antitrombótica o Em centros com ICP: (1) AAS; (2) associar um antagonista do ADP: clopidogrel, prasugrel ou ticagrelor; (3) iniciar um anticoagulante: heparina não fracionada ou bivalirudina. o Em centros sem ICP: (1) AAS; (2) associar o clopidogrel; (3) iniciar um anticoagulante: preferência pela enoxaparina ou pelo fondaparinux; heparina não fracionada é uma alternativa. – Se não houver contraindicação e se o paciente não tiver risco de evoluir com choque cardiogênico, os β-bloqueadores devem ser prescritos nas primeiras 24 horas do IAM, preferencialmente pela via oral. – O IECA ou o ARA-II são recomendados para o paciente com infarto de parede anterior, insuficiência cardíaca ou fração de ejeção < 40%. o É razoável, entretanto, prescrevê-los para todos os pacientes, de baixo ou de alto risco. – Recomenda-se iniciar estatina nas primeiras 24 horas, com doses altas, se não houver contraindicação. o A preferência é pela atorvastatina, 80 mg/dia ou pela rosuvastatina (20 a 40 mg/dia). – Nitroglicerina deve ser considerada se (1) dor anginosa persistente; (2) hipertensão persistente; (3) edema pulmonar ou insuficiência cardíaca. – Morfina não deve mais ser usada de rotina, pois pode se associar a maior chance de eventos adversos e deve ser usada em casos selecionados. IAMCST | BATBOOK 2 INTRODUÇÃO E DEFINIÇÕES – A SCA com elevação de ST representa cerca de 29 a 38% dos casos de infarto agudo do miocárdio (IAM). – A mortalidade hospitalar média gira em torno de 5 a 6%. – IAM pode ser classificado de acordo com o mecanismo fisiopatológico predominante (Tabela 1). – Na ausência de bloqueio de ramo esquerdo (BRE), IAM é diagnosticado por nova elevação de segmento ST em duas ou mais derivações contíguas (Tabela 2). TABELA 1 | CLASSIFICAÇÃO DOS TIPOS DE INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO Tipo 1 – Espontâneo – IAM espontâneo (primário) – Isquemia decorrente de erosão, fissura ou ruptura de placa aterosclerótica Tipo 2 – Desequilíbrio oferta/demanda – IAM secundário associado a maior demanda de O2 e/ou redução da sua oferta – Exemplos: anemia. arritmia, hipertensão ou hipotensão, entre outros Tipo 3 – Óbito na ausência de marcadores de necrose – Sintomas sugestivos de isquemia e/ou ECG sugestivo de IAM (elevação de segmento ST, novo bloqueio de ramo esquerdo) ou trombo recente em coronária na angiografia ou na autópsia – Óbito ocorreu antes da coleta de troponina ou não houve tempo hábil para sua elevação Tipo 4a – ICP – IAM associado à intervenção coronariana percutânea (ICP) Tipo 4b – Trombose de stent – IAM associado à trombose de stent Tipo 5 – Cirurgia – IAM associado à cirurgia de revascularização do miocárdio TABELA 2 | IAM COM ELEVAÇÃO DE SEGMENTO ST, NA AUSÊNCIA DE BRE NOVA ELEVAÇÃO DE SEGMENTO ST NO PONTO J, EM DUAS OU MAIS DERIVAÇÕES CONTIGUAS – V2 e V3: o Elevação ≥ 0,2 mV em homens (≥ 40 anos) o Elevação ≥ 0,25 mV em homens < 40 anos o Elevação ≥ 0, 15 mV em mulheres – Demais derivações: o Elevação ≥ 0,1 mV – Infarto de parede posterior de VE: pode se apresentar com infra ST de V1 a V3; confirmar com V7, V8 e V9 – Elevação ≥ 0,1 mV em precordiais direitas (V3R e V6R): acometimento de ventrículo direito CARDIOLOGIA 3 ETIOLOGIAS – Doença coronariana aterosclerótica é a principal causa do IAM-ESST: ○ A placa aterosclerótica sofre uma ruptura ou erosão e forma-se um trombo oclusivo. ○ O fluxo sanguíneo diminui de forma aguda, causando isquemia do leito arterial afetado. – Outras causas de oclusão de artérias coronarianas (muito menos frequentes): ○ Espasmo coronariano (angina de Prinzmetal); pode causar elevação de ST, que pode se reverter com nitrato. ○ Embolia para coronárias: trombo intracavitário (átrio ou ventrículo), trombo em cateter intracardíaco, endocardite, êmbolo de prótese valvar, embolia paradoxal, mixoma cardíaco. ○ Oclusão de óstio coronariano: dissecção de aorta ou dissecção de coronária. ○ Arterite: sífilis, lúpus, doença reumatoide, poliarterite nodosa, Takayasu, Kawasaki. ○ Trombose in situ: anemia falciforme, doenças mieloproliferativas, síndrome do anticorpo antifosfolípide. ○ Cocaína, anfetamina e derivados: vasoconstrição coronariana, hipertensão, efeitos cronotrópicos positivos, trombose e efeito tóxico direto no miocárdio. ANTECEDENTES CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS – Pacientes com antecedentes de IAM ou de revascularização coronariana têm alto risco de evoluir com uma SCA com supra. – Diabetes, hipertensão, doença vascular arterial extracardíaca (carótida, aorta ou vasos periféricos), doença renal crônica ou idade avançada são importantes preditores de doença arterial coronariana, muitos deles se associando a pior prognóstico. – SCA é mais frequente no sexo masculino (taxa de 3:2). – Tabagismo atual: associado com menor risco de óbito precoce. ○ Esse paradoxo representa uma tendência dos fumantes a terem doença menos extensa, placas menos complexas e idade mais jovem à apresentação. ○ Todavia, comparados com não fumantes, a mortalidade de longo prazo é muito maior. – Obesos têm menor mortalidade de curto prazo ("paradoxo da obesidade") por vários fatores, que incluem: idade mais jovem na apresentação, realizam angiografia mais precocemente e são tratados de forma mais agressiva quando comparados com os não obesos. ○ Semelhante ao tabagismo, em longo prazo, a mortalidade é significativamente maior. – Uso atual de aspirina: associa-se a maior risco de complicações comparados com os que não usam, principalmente porque o uso de aspirina indica que o paciente já tinha doença vascular cardíaca ou extracardíaca. Questionar todas as medicações em uso, inclusive se usou recentemente medicamentos para disfunção erétil pelo risco de grave hipotensão, se nitrato for prescrito. História de asma ou broncoespasmo, o que contraindica o β-bloqueador. Cirurgia recente, história de sangramento, coagulopatia, plaquetopenia, doença estrutural no sistema nervoso central ou câncer ativo, entre outros. IAMCST | BATBOOK 4 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS – Até metade dos pacientes com uma SCA com elevação de segmento ST (SCA com supra) têm um fator precipitante identificável ou sintomas prodrômicos. ○ Atividade física intensa não habitual e forte estresse emocional são precipitantes clássicos. – Pico de incidência pela manhã, provavelmente pelo aumento da agregabilidade plaquetária, de catecolaminas e de cortisol que ocorre pela manhã. CARACTERÍSTICAS DA DOR OU DO DESCONFORTO – A dor ou desconforto precordial variade característica e intensidade. – Pode ser leve a moderada, embora, em muitos pacientes, ela seja intensa ou mesmo intolerável. – Ela é prolongada, com duração de mais de 30 minutos, frequentemente durando horas. – O paciente descreve o desconforto como um aperto, peso, opressão, sensação de "asfixia”: esmagamento ou constrição. Quando o paciente tem história prévia de angina, a dor ou desconforto de uma SCA com supra geralmente lembra os episódios prévios de angina, embora ela se tome mais intensa, de duração mais prolongada, não sendo aliviada por repouso ou nitrato sublingual. LOCALIZAÇÃO E IRRADIAÇÃO – O desconforto geralmente se localiza na região retroesternal e muitas vezes se espalha para ambos os lados do tórax anterior, com predileção para o lado esquerdo. – Frequentemente, o desconforto/dor se irradia para a parte ulnar do braço esquerdo, produzindo muitas vezes uma sensação de formigamento, peso ou mesmo dormência no punho, na mão e nos dedos. – A dor pode se irradiar para os ombros, membros superiores, pescoço, mandíbula ou região interescapular, novamente com predileção pelo lado esquerdo do corpo. – Alguns pacientes relatam início da dor ou desconforto na região epigástrica, com indigestão, simulando patologias abdominais altas (colecistopatia, pancreatite, dispepsia, úlcera). NÁUSEAS E VÔMITOS – Náuseas e vômitos podem ocorrer, provavelmente, por ativação do reflexo vagal ou estímulo de receptores no ventrículo esquerdo (VE) como parte do reflexo de Bezold-Jarisch. – São mais frequentes nos IAM de parede inferior. EQUIVALENTES ISQUÊMICOS OU ACHADOS ATÍPICOS – Estima-se que 1/4 a 1/3 dos pacientes evoluem com IAM-ESST sem as manifestações clássicas ou tradicionais. – Diaforese, dispneia ou síncope podem ser a apresentação da SCA, assim como fadiga intensa de início agudo, mal-estar, náusea, vômitos e sudorese fria. CARDIOLOGIA 5 – Dor ou desconforto epigástrico, indigestão, mal-estar e diaforese podem ser manifestações predominantes e podem facilmente confundir o emergencista. – Início súbito de hipotensão e edema pulmonar agudo. – Início de delirium em pacientes mais idosos. Equivalentes isquêmicos ou achados atípicos são mais frequentes: 1. Idade > 75 anos. 2. Diabéticos. 3. Pacientes em diálise ou com doença renal crônica avançada. 4. História de demência, doenças neurológicas ou psiquiátricas. 5. Mulheres. EXAME FÍSICO GERAL – Ansiedade, inquietação e expressão facial de medo ou angústia são frequentes. – Diferentemente de pacientes com SCA sem supra, que muitas vezes ficam parados (sentados ou deitados) para não desencadear a dor anginosa, pacientes com SCA com supra muitas vezes ficam inquietos, massageiam ou apertam o tórax e se movem frequentemente, em uma tentativa de encontrar uma posição mais confortável. FREQUÊNCIA CARDÍACA – A frequência cardíaca pode variar de marcada bradicardia a taquicardia intensa, com pulso regular ou irregular, dependendo do ritmo de base e do grau de disfunção de VE. – Comumente, o pulso é rápido e regular inicialmente (sinusal, entre 100 a 110 bpm), lentificando assim que a ansiedade e a dor sejam aliviadas. HIPERATIVIDADE SIMPÁTICA E PARASSIMPÁTICA • Mais da metade dos pacientes com IAM de parede inferior manifestam hiperatividade parassimpática durante a avaliação inicial no DE, o que pode levar a bradicardia, hipotensão ou ambos. • Aproximadamente metade dos pacientes com IAM de parede anterior apresentam hiperatividade adrenérgica, com hipertensão, taquicardia ou ambos. AUSCULTA CARDÍACA – Uma 4ª bulha cardíaca (B4) está presente na grande maioria dos pacientes, embora tenha valor diagnóstico limitado, uma vez que também é audível nos pacientes com doenças cardíacas crônicas. – Já uma 3ª bulha (B3) geralmente indica grave disfunção de VE. – Sopro sistólico de regurgitação mitral, persistente ou transitório, pode ocorrer como resultado de isquemia do músculo papilar ou por conta da dilatação de VE na insuficiência cardíaca. – No infarto de VD com grave disfunção, um sopro sistólico de regurgitação tricúspide também pode ser auscultado na borda esternal esquerda. ○ Nesse caso, o sopro se torna bem mais intenso com a inspiração. IAMCST | BATBOOK 6 PULSOS E EXTREMIDADES – Além de importantes dados semiológicos para o diagnóstico de choque, o exame das extremidades também pode demonstrar achados de doença arterial de vasos periféricos, como pulsos diminuídos, perda de pelos, atrofia da pele ou mesmo úlceras. – Marcante assimetria ou ausência de pulsos de grandes vasos pode sugerir uma síndrome aórtica aguda. – Edema periférico (e hepatomegalia dolo- rosa) não é frequente no contexto de uma disfunção cardíaca aguda, mas pode estar presente se houver antecedentes de IC. Hipotensão + hipoperfusão periférica apontam para choque cardiogênico. Elevação da pressão venosa jugular: por causa da disfunção de VE ou por infarto de ventrículo direito (VD). Crepitações pulmonares, expectoração rosada ou franco edema pulmonar agudo apontam para grave disfunção de VE. RISCO DE COMPLICAÇÕES, KILLIP, FORRESTER E TIMI – Duas classificações podem facilmente identificar pacientes de maior risco, denominadas Killip (Tabela 3) e Forrester (Tabela 4). – Ambos são validados e bastante úteis na avaliação do risco de complicações ou de morte: ○ Escore TIMI: mais simples (Tabela 5 e Figura 1). ○ Modelo de risco GRACE: melhor que o escore TIMI (GRACE 2.0 ACS Risk Calculator: http://www.gracescore.org/website/WebVersion.aspx). TABELA 3 | CLASSIFICAÇÃO DE KILLIP ESTIMATIVA CLÍNICA DA GRAVIDADE DO IAM I – Não há IC – Nenhum sinal de IC II – IC presente – Estertores (menos da metade do tórax), B3, turgência jugular III – IC grave – Edema pulmonar franco com crepitações em todo tórax IV – Choque cardiogênico – Hipotensão, oligúria, cianose e extremidades frias TABELA 4 | CLASSIFICAÇÃO DE FORRESTER ESTIMATIVA CLÍNICA E HEMODINÂMICA DO IAM 1 – Perfusão* normal – Pressão capilar pulmonar (wedge) normal** 2 – Perfusão* ruim – Pressão capilar pulmonar (wedge) normal** – Paciente hipovolêmico 3 – Perfusão* praticamente normal – Pressão capilar pulmonar (wedge) aumentada** – Paciente com congestão pulmonar 4 – Perfusão* ruim – Pressão capilar pulmonar (wedge) aumentada** – Choque cardiogênico *Em geral. o índice cardíaco é maior que 2.2 L/min/m2 quando há boa perfusão e menor que 2.2 L/min/m2 na hipoperfusão periférica. ** A pressão capi lar pulmonar "normal" é de 18 mmHg. FIGURA 1 | ESCORES TIMI E MORTALIDADE EM 30 DIAS CARDIOLOGIA 7 TABELA 5 | ESCORE TIMI PARA SÍNDROME CORONARIANA AGUDA COM ELEVAÇÃO DE ST VARIÁVEL PONTUAÇÃO – Idade ○ < 65 anos Zero ○ 65 – 74 anos 2 ○ ≥ 75 anos 3 – Diabetes ou hipertensão ou angina 1 – Pressão sistólica < 100 mmHg 3 – Frequência cardíaca > 100 bpm 2 – Killip II, III ou IV 2 – Peso < 67 kg 1 – Elevação de ST de parede anterior ou bloqueio de ramo esquerdo 1 – Início do tratamento > 4 horas do início dos sintomas 1 EXAMES COMPLEMENTARES ELETROCARDIOGRAMA – Elevação do segmento ST (Tabela 6): A. Elevação do segmento ST > 0,1 mV (acima do ponto J), em duas ou mais derivações contiguas. B. Em V2 e V3, a elevação deve ser ■ > 0,2 mV em homens > 40 anos; ■ > 0,25 mV em homens < 40 anos; ■ ≥ a 0,15 mV em mulheres; DERIVAÇÕES PRECORDIAIS DIREITAS – Sempre que houver elevação de ST em derivações periféricas, deve-se rotineiramente obter o traçado de derivações precordiais direitas, V3R aV6R. – Elevação de ST ≥ 1 mm em qualquer derivação precordial direita ou uma combinação delas (V3R a V6R) indica acometimento de ventrículo direito. – Elevação de ST ≥ 1 mm em V4R ocorre na maioria dos pacientes com IAM de VD. – Cerca de 1/3 dos pacientes com infarto inferior (de coronária direita) pode evoluir com infarto de ventrículo direito (até 50% em alguns estudos). – O IAM pode ser apenas eletrocardiográfico ou associado a manifestações clínicas (hipotensão, turgência venosa jugular e ausculta pulmonar limpa, sem estertores significativos). TABELA 6 | ECG NO IAM COM SUPRA D ST LOCALIZAÇÃO ELETROCARDIOGRAMA – Anterosseptal V1, V2, eventualmente V3 – Anterior V1 a V4 – Anterolateral V5-V6, I e aVL – Lateral alta I e aVL – Inferior II, III e aVF – Inferolateral II, III e aVF + V5-V6 – Posterior de VE Infra ST em V1-V2-V3 Supra ST em V7-V8-V9 – Ventrículo direito II, III e aVF Supra ST em V3R e V4R IAMCST | BATBOOK 8 IAM POSTERIOR E DERIVAÇÕES V7 A V9 – Infradesnivelamento (≥ 1 mm) de V1 a V3 pode ser uma imagem recíproca ("em espelho") de IAM de parede posterior de ventrículo esquerdo. – Nesses casos, deve-se realizar ECG com as derivações V7, V8 e V9, que pode demonstrar elevação de ST, caracterizando o IAM posterior ou dorsal. SUSPEITA DE ISQUEMIA MIOCÁRDICA E BRE – Quando o paciente se apresenta com quadro sugestivo de isquemia miocárdica aguda e o ECG inicial demonstra bloqueio de ramo esquerdo (BRE), novo ou presumivelmente novo, a interpretação tradicional do ECG fica prejudicada. – Nessa circunstância, sugerem oclusão coronariana aguda (IAM-ESST): ○ ECG recente sem bloqueio de ramo. ○ Critérios de Sgarbossa modificados (Tabela 7): basta um deles para confirmar IAM-ESST. ○ Ultrassom POC ou ecocardiograma com hipocinesia ou acinesia segmentar. TABELA 7 | CRITÉRIOS DE SGARBOSSA MODIFICADOS CRITÉRIOS ACHADOS ECG Critério 1 – Elevação de segmento ST ≥ 1 mm e concordante com o QRS Critério 2 – Depressão de segmento ST ≥ 1 mm em V1, V2 ou V3 Critério 3 – Razão entre o infra ST/onda R ou supra ST/onda S ○ Positivo se ≤ – 0,25; ou seja, valor mais negativo que – 0,25 → por exemplo, – 0,33 ou – 0,29 TROPONINA – O diagnóstico de IAM-ESST deve ser feito antes do resultado da troponina. Não se deve esperar o resultado da troponina para indicar trombólise ou intervenção corona- riana percutânea. – O marcador de escolha é a dosagem de troponina sérica (TnT ou TnI). – Se troponina não estiver disponível, a melhor alternativa é a CKMB massa. – Dosagens de CK total, CKMB por outro método que não o de massa, desidrogenase lática ou aspartato-aminotransferase (TGO) não devem ser mais utilizados como marcadores de necrose do miocárdio. CARDIOLOGIA 9 EXAMES GERAIS E PERFIL LIPÍDICO – Hemograma, sódio, potássio, magnésio, glicemia, função renal e exames de coagulação devem ser coletados junto à primeira dosagem de troponina. – Deve-se solicitar em todos os pacientes um perfil lipídico (colesterol total, triglicérides, HDL e LDL) na manhã seguinte à internação, em jejum (com menos de 24 horas do evento). Não é custo-eficaz solicitar troponina e também CKMB. Radiografia de tórax (aparelho portátil) é recomendada, mas não deve retardar a trombólise (exceto se um diagnóstico diferencial for suspeitado, por exemplo, síndrome aórtica aguda). DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL – Pericardite aguda costuma ocasionar dor do tipo pleurítica (intensa, localizada, muitas vezes "em facada”: que piora com a respiração e tosse), frequentemente envolvendo o ombro, pescoço e parte superior do trapézio. – Embolia pulmonar pode causar dor em qualquer dos lados do hemitórax, frequentemente na parte lateral, podendo ser do tipo pleurítica ou em aperto. Dor mais prolongada, muitas vezes súbita, dispneia, taquipneia, hipoxemia significativa e hemoptise sugerem embolia. – A dor nas síndromes aórticas agudas costuma ser muito intensa, atinge o pico muito rapidamente, e muitas vezes é descrita como se algo estivesse “rasgando”. A dor é localizada no centro do tórax e frequentemente se irradia para o dorso ou membros inferiores. Um ou mais pulsos de grandes artérias podem estar ausentes ou francamente assimétricos. – Desconforto retroesternal ocasionado por patologia esofágica (espasmo, refluxo) pode causar sintomas muito parecidos com os de uma SCA com supra. Da mesma forma, quando o paciente se apresenta com desconforto epigástrico, náuseas, vômitos, sensação de “gases” ou indigestão, sempre considere SCA como um diagnóstico diferencial. TRATAMENTO INICIAL – O manuseio inicial do paciente deve ser feito obrigatoriamente na sala de emergência, com imediato acesso ao desfibrilador (Tabela 8). – Deve-se monitorizá-lo; oferecer oxigênio se saturação < 90%, dispneia ou insuficiência cardíaca; pegar dois acessos periféricos antecubitais (MSD e MSE) e enviar o sangue para o laboratório imediatamente. – O emergencista deve buscar imediatamente a pronta recanalização da artéria obstruída, seja pelo uso de fibrinolíti- cos, seja pela intervenção coronariana percutânea (ICP), constituindo-se na mais importante atitude, associada a melhor prognóstico e melhor sobrevida (Algoritmo 1). Não se deve prescrever oxigênio como rotina, pois além de não ter benefício, pode ser maléfico. Todo departamento de emergência que não dispõe de hemodinâmica, obrigatoriamente, deve dispor de um trombolítico. Centros sem ICP: é obrigatório ter um sistema já organizado e preparado para transferir para um centro intervencionista. IAMCST | BATBOOK 10 TABELA 8 | IAM COM ELEVAÇÃO DO SEGMENTO ST – MANUSEIO INICIAL – Sala de emergência com monitorização e desfibrilador imediatamente disponível – Medidas gerais: repouso, oxigênio por cateter nasal S/N. oximetria, monitor cardíaco, acesso venoso. coleta de exames complementares (hemograma, estudos de coagulação, sódio, potássio, magnésio, ureia, creatinina, glicemia, radiografia de tórax) – Aspirina: solicitar ao paciente para mastigar 165 a 325 mg – Antagonista do ADP ○ Trombólise farmacológica: clopidogrel (ataque de 300 mg, manutenção: 75 mg, 1 x/dia) (classe I/evidência A). ○ ICP: as opções são (classe I/evidência B para todos): ■ Clopidogrel (ataque de 600 mg, manutenção: 75 mg, 1 x/dia). ■ Prasugrel (ataque de 60 mg, manutenção: 10 mg, 1 x/dia). ■ Ticagrelor (ataque de 180 mg. manutenção: 90 mg, 2 x/dia). – Anticoagulação: heparina não fracionada. enoxaparina. fondaparinux ou bivalirudina: ○ Para ICP: ■ heparina não fracionada (classe I/evidência C) ou ■ bivalirudina (classe I, nível de evidência: B). ○ Para pacientes tratados com fibrinolíticos: ■ enoxaparina é escolha (classe I/evidência A), mas ■ fondaparinux causa menos sangramento (classe I/evidência B). ■ Heparina não fracionada é uma opção (classe I/evidência C). – Reperfusão coronariana: ○ ICP primária: melhor tratamento se o tempo entre o primeiro contato médico e o procedimento for < 90 minutos (classe I/evidência A). ○ No pré-hospitalar ou em centros sem hemodinâmica, considere levar ou transferir o paciente para um centro com ICP se o tempo entre o primeiro contato médico e o início da intervenção for < 120 minutos (classe I/evidência B). ○ Trombolíticos: estreptoquinase, alteplase (t-PA). reteplase (rt-PA) ou TNK e devem ser prescritos em < 30 min da chegada do paciente ao DE (classe I/evidência A). ALGORITMO 1 TEMPOS PORTA-BALÃO (ICP) E PORTA-AGULHA (FIBRINOLÍTICOS).CARDIOLOGIA 11 FIBRINÓLISE SISTÊMICA → TROMBOLÍTICOS – O trombolítico é efetivo nas primeiras 12 horas do início dos sintomas, especialmente nas primeiras 3 horas (Algoritmo 2). – Indicações: 1. Sintomas isquêmicos iniciados há < 12 horas. 2. Entre 12 e 24 horas do início dos sintomas, se houver isquemia persistente ("ocorrendo”) e uma grande área do miocárdio em risco ou instabilidade hemodinâmica. – Antes de iniciar um trombolítico, deve-se sempre checar se não há contraindicação (Tabelas 9 e 10). – O melhor critério de sucesso da reperfusão é o alívio completo e súbito da dor precordial associado a redução da elevação de ST em > 50%. – Completa ou quase completa resolução da elevação de ST em 60 a 90 minutos após a fibrinólise é um útil marcador de reca- nalização da artéria envolvida (Tabela 11). TABELA 9 | CONTRAINDICAÇÕES ABSOLUTAS* – Acidente vascular hemorrágico prévio – AVCI nos últimos 3 meses, exceto se concomitante ao IAM e com início do AVC < 4,5 horas – Presença de lesão estrutural do SNC (malformação, câncer primário ou metastático) – Cirurgia do SNC ou medular nos últimos 2 meses – Suspeita de dissecação de aorta – Diátese hemorrágica ou sangramento ativo (exceto menstruação) – Trauma facial ou TCE grave nos últimos 3 meses – Hipertensão arterial grave e não controlada do departamento de emergência – Para estreptoquinase: história de grave alergia ou uso nos últimos 6 meses *2013 ACCF/AHA Guidel ine for the Management of ST-Elevation Myocardial lnfarction. TABELA 10 | CONTRAINDICAÇÕES RELATIVAS* – AVC isquêmico com > 3 meses de evento – Hipertensão arterial grave à chegada na emergência (PAS > 180 mmHg ou PAD > 110 mmHg) – História de hipertensão grave e pouco controlada no ambulatório – Uso atual de anticoagulantes orais (quanto maior o RNI, maior o risco) – Ressuscitação cardiopulmonar prolongada (>10min) ou traumática – Sangramento interno nas últimas 2 a 4 semanas, mas não atual – Cirurgia de grande porte nas últimas 3 semanas – Gravidez – Úlcera péptica ativa – Demência – Doença do SNC não incluída nas contraindicações absolutas – Punção lombar em locais não compressíveis *2013 ACCF/AHA Guidel ine for the Management of ST-Elevation Myocardial lnfarction. TABELA 11 | CRITÉRIOS PARA REPERFUSÃO OU NÃO DA TROMBÓLISE FARMACOLÓGICA DURANTE E APÓS A INFUSÃO DO FIBRINOLÍTICO – Monitorização do segmento ST e dos sinais por 60 a 180 minutos TROMBÓLISE COM SUCESSO (HOUVE REPERFUSÃO) – Alívio dos sintomas – Manutenção ou restauração do equilíbrio elétrico e hemodinâmico – ECG após 60 a 90 minutos do início da trombólise: redução de mais de 50% do tamanho da elevação do segmento ST TROMBÓLISE NÃO EFICAZ – Persistência dos sintomas isquêmicos; ou – ECG após 60 a 90 minutos do início da trombólise: não houve redução de mais de 50% do tamanho da elevação do segmento ST IAMCST | BATBOOK 12 ALGORITMO 2 | MANUSEIO INICIAL DA SCA COM ELEVAÇÃO DE SEGMENTO ST CARDIOLOGIA 13 ESTREPTOQUINASE – Dose: 1.500.000 U; infusão em 30-60 minutos. – Alguns problemas durante a infusão e o tratamento: ○ Vômitos: metoclopramida ou ondansetrom IV; evitar a morfina. ○ Hipotensão: evitar morfina, reduzir temporariamente a infusão da SK e usar cristaloide. Em geral, a hipotensão cede rapidamente. Logo após ceder, aumentar a velocidade de infusão da SK e observar. ○ Reações alérgicas leves a moderadas (ausência de edema de glote ou choque anafilático), como prurido, lesões cutâneas: deve-se reduzir a infusão da SK, prescrever anti-histamínico e corticoides IV: Logo após a melhora, retornar a velocidade de infusão da SK e observar de perto, em razão do risco de anafilaxia e edema de glote. ○ Edema de glote e choque anafilático: suspender imediatamente a SK, tratar o episódio e não mais usá-la. Nesse caso, se houver outro trombolítico (t-PA, rt-PA ou TNK), deve-se usá-lo; se não, tentar transferir para centro com hemodinâmica urgente. ATIVADOR DO PLASMINOGÊNIO TECIDUAL T-PA (ALTEPLASE) – Dose máxima de 100 mg, da seguinte forma: ○ Bolus de 15 mg. ○ 0,75 mg/kg durante 30 minutos (máximo de 50 mg). ○ 0,50 mg/kg durante 60 minutos (máximo de 35 mg). ATIVADOR DO PLASMINOGÊNIO TECIDUAL RECOMBINANTE/RT-PA (RETEPLASE) – Dose inicial: 10 U infundida em 2 minutos. – Após 30 minutos, prescrever mais 10 U (duas doses de 10 U com intervalo de 30 minutos). TNK (TENECTEPLASE) – Dose única, em bolus, com base no peso corpóreo: ○ Menor que 60 kg: 30 mg. ○ 60 - 69,9 kg: 35 mg. ○ 70 - 79,9 kg: 40 mg. ○ 80 - 89,9 kg: 45 mg. ○ Acima de 90 kg: 50 mg. Situações de maior gravidade e que necessitam de transferência para ICP são: 1. Pacientes com contraindicação à fibrinólise farmacológica, independentemente do tempo que eventualmente seja perdido (> 120 min). É óbvio que todo esforço deve ser feito para que essa transferência seja a mais rápida possível. 2. Fibrinólise farmacológica ineficaz. 3. Complicações do IAM, sobretudo recidiva da dor precordial, sinais de insuficiência cardíaca, instabilidade elétrica ou hemodinâmica. IAMCST | BATBOOK 14 INTERVENÇÃO CORONARIANA PERCUTÂNEA – Reperfusão mecânica primária (angioplastia primária): recanalização da artéria ocluída por meio da intervenção coronariana percutânea (ICP). – ICP de resgate: realizada após uma trombólise farmacológica ineficaz ou no paciente que evolui de forma insatisfatória (Tabela 12). – A ICP primária é a modalidade que consegue melhores resultados no IAM com supra, que incluem: ○ Redução de complicações isquêmicas ou das complicações do próprio IAM. ○ Redução da mortalidade. ○ Menor incidência de sangramento, inclusive no SNC. – Quanto menor o tempo entre a identificação do paciente com IAM-ESST e a efetiva realização do procedimento (tempo porta-balão), melhor o prognóstico. ○ O tempo porta-balão deve ser de até 90 minutos. ○ Em centros que não têm ICP ou quando um IAM com supra é identificado no serviço pré-hospitalar, a ICP deve ser realizada em até 120 minutos (tempo porta-balão). TABELA 12 | INTERVENÇÃO CORONARIANA PERCUTÂNEA (ICP) ICP PRIMÁRIA RECOMENDAÇÃO/EVIDÊNCIA 1. Sintomas isquêmicos iniciados há < 12 horas I/A 2. Sintomas isquêmicos iniciados há < 12 horas e contraindicação ao fibrinolítico, independentemente do tempo do primeiro contato médico ao início da intervenção I/B 3. Entre 12 e 24 horas do início dos sintomas, se houver isquemia persistente (“ocorrendo”) IIa/B 4. Paciente com choque cardiogênico ou grave IC aguda, independentemente do tempo do primeiro contato médico ao início da intervenção I/B ICP DE RESGATE 5. Paciente evoluiu com choque cardiogênico ou grave IC aguda I/B 6. Fibrinólise ineficaz ou se houver reoclusão IIa/B ICP APÓS FIBRINÓLISE EFICAZ (HOUVE REPERFUSÃO) 7. Paciente estável hemodinamicamente e reperfusão farmacológica de sucesso: realizar a ICP entre 3 a 24 horas após o fibrinolítico IIa/B Independentemente do tempo de atraso, pacientes com IAM e contraindicação à trombólise devem ser imediatamente transferidos para centro com ICP disponível. É óbvio que todo esforço deve ser feito para que o tempo total seja o menor possível.CARDIOLOGIA 15 TERAPIA ANTITROMBÓTICA ADJUVANTE ASPIRINA – Pedir ao paciente que mastigue 160 a 325 mg via oral, exceto se houver história de alergia grave. – Aspirina faz parte do tratamento na ICP ou na fibrinólise sistêmica. ANTAGONISTA DO ADP NA TROMBÓLISE FARMACOLÓGICA – Clopidogrel deve ser associado a aspirina + trombolítico. – A dose de ataque é de 300 mg, via oral, e a manutenção é de 75 mg/dia. – Em pacientes com mais de 75 anos, a dose inicial (de ataque) é de apenas 75 mg. ANTAGONISTA DO ADP NA ICP – OPÇÕES – Clopidogrel: 600 mg em bolus; manutenção de 75 mg/dia. – Ticagrelor: bolus de 180 mg, seguido de 90 mg de 12/12 horas. No mais importante estudo (PLATO), comparado com clopidogrel, ticagrelor foi melhor (menos trombose de stent e menor mortalidade). – Prasugrel: 60 mg em bolus; manutenção de 10 mg/dia. NÃO DEVE ser prescrito nas seguintes condições: ○ Antecedente de ataque isquêmico transitório ou AVC. ○ Idade > 75 anos. ○ Peso < 60 kg. ANTICOAGULANTES – A anticoagulação é de grande importância em todos os pacientes, independentemente do tipo de terapia escolhida (Tabela 13). TABELA 13 | ESQUEMA ANTITROMBÓTICO NO IAM COM ELEVAÇÃO DO SEGMENTO ST TIPO DE REPERFUSÃO RECOMENDAÇÃO/EVIDÊNCIA INTERVENÇÃO CORONARIANA PERCUTÂNEA 1. Heparina não fracionada: preferência para paciente com clearance de creatinina < 30mL/min I/C 2. Bivalirudina: opção à heparina não fracionada I/B FIBRINOLÍTICOS OU PACIENTES NÃO REPERFUNDIDOS 1. Enoxaparina é melhor que heparina não fracionada I/A 2. Fondaparinux (deve se tornar a droga de escolha); causa menos sangramento I/B 3. Heparina não fracionada I/C IAMCST | BATBOOK 16 ENOXAPARINA – Uma metanálise demonstrou que enoxaparina foi melhor que heparina comum (redução de complicações isquêmicas e tendência à redução de mortalidade). – Idade < 75 anos e homens com creatinina < 2,5 mg/dL ou mulheres com creatinina < 2 mg/dL: ○ Bolus IV de 30 mg. ○ Seguido de 1 mg/kg, subcutâneo, de 12/12h. ○ Nas primeiras 24 horas, a dose SC não deve ser maior que 100 mg/dose. – Idade acima de 75 anos: ○ Não prescrever a dose IV em bolus. ○ Reduzir a dose para 0,75 mg/kg, SC, de 12/12 h. ○ Nas primeiras 24 horas, a dose SC não deve ser maior que 75 mg/dose. – Pacientes com clearance de creatinina entre 15 e 30 mL/min: ○ Usar metade da dose (1 mg/kg, SC, 1 x/dia). Não usar enoxaparina nas seguintes condições: 1. Clearance < 15 mL/min ou paciente em diálise. 2. Paciente hipotenso/chocado. 3. Antecedente de plaquetopenia induzida por heparina. HEPARINA NÃO FRACIONADA HNF → COMUM – Na trombólise farmacológica: ○ Bolus de 60 U/kg de peso (máximo: 4.000U). ○ Manutenção de 12 U/kg de peso (máximo inicialmente de 1.000 U/h). ○ Ajustar para manter o TTPA em 1,5-2,0 vezes o controle (50-70 segundos). – A heparina não fracionada é a escolha em pacientes tratados com a estratégia invasiva (ICP primária). Deve ser administrada da seguinte forma: ○ Bolus de 100 U/kg de peso (se IIb-IIIa for usado, baixar para 60 U/kg). ○ Manter o tempo de coagulação ativado entre 250-300 segundos (se IIb-IIIa for usado, manter entre 200-250 segundos). ○ Parar a infusão após o procedimento. FONDAPARINUX – Fondaparinux é um inibidor direto do fator Xa, sendo especialmente útil em pacientes tratados com fibrinolíticos. – Em pacientes trombolizados (estudo OASIS- 6), comparado com a heparina comum, o fondaparinux reduziu mortalidade + reinfarto em 30 dias (10,9% versus 13,6%). – Contraindicado se clearance de creatinina < 30 mL/minuto. – Dose: bolus IV de 2,5 mg, seguido de 2,5 mg, subcutâneo, 1 x/dia. BIVALIRUDINA – Inibidor direto da trombina, sendo uma opção à heparina comum em pacientes submetidos a ICP ou no paciente com antecedente de plaquetopenia induzida por heparina. – As doses recomendadas na ICP são: ○ Bolus de 0,75 mg/kg de peso. ○ Manutenção de 1,75 mg/kg/hora; se clearance de creatinina < 30 mL/min, reduzir a dose para 1 mg/kg/hora. ○ Desligar a droga após o procedimento. NITROGLICERINA E DINITRATO DE ISOSSORBIDA – Pode ser particularmente útil em (Tabela 14): ○ Dor precordial ocorrendo (em curso). ○ Hipertensão arterial persistente. ○ Achados de insuficiência cardíaca: dispneia, taquipneia, estertores pulmonares, turgência venosa jugular, B3. SCA associada a vasoespasmo, como na angina de Prinzmetal ou toxicidade por cocaína. CARDIOLOGIA 17 TABELA 14 | TRATAMENTO ADJUVANTE NO IAM COM ELEVAÇÃO DE ST TRATAMENTO INDICAÇÕES DOSE INICIAL CONTRAINDICAÇÕES 1. Oxigênio – Oximetria: saturação artéria ≤ 90% – Dispneia e/ou taquipneia, como IC ou DPOC – Cateter O2, 2 a 4 L/min – Hipoxemia moderada: máscara de O2, 5 a 10 L/min – Considere ventilação não invasiva se hipoxemia refratária ou congestão pulmonar – Cuidado no paciente com doença pulmonar obstrutiva crônica – Não indicar oxigênio como rotina, pode ser deletério 2. Morfina – Dor anginosa persistente e refratária a nitrato e β- bloqueador – Dose: 2 a 4 mg, IV – Repetir a cada 5-15 minutos, se necessário – Hipotensão – Bradicardia – Hipersensibilidade à droga 3. Nitroglicerina – Dor anginosa persistente – Hipertensão – Insuficiência Cardíaca/Congestão – Dose: 2 a 4 ug/minuto, IV, em bomba de infusão contínua – Aumentar 5 a 10 ug/min a cada 3-5 minutos, se necessário – PA sistólica < 100 mmHg – Infarto de VD – Uso recente de sildenafila, tadalafila 4. β-bloqueador – Oral → em todos os pacientes, se não houver contraindicação ou risco de choque cardiogênico – IV → hipertensão refratária ou isquemia persistente, se não houver contraindicação – Atenolol: 25 mg VO, 1 ou 2 x/dia – Carvedilol: 6,25 mg VO, 2 x/dia – Metoprolol: 25 a 50 mg VO, 3 x/dia – Propranolol: 10 a 20 mg VO, 3 x/dia – Metoprolol IV: 5 mg, em 2 minutos; até 3 ampolas, a cada 5-10 minutos – Sinais de IC – Baixo débito – PR > 0,24s – BAV 2º e 3º graus – Broncoespasmo – Risco de choque cardiogênico 5. IECA – IAM de parede anterior – Insuficiência Cardíaca – FE ≤ 40% – Razoável prescrever para todos os pacientes – Captopril: 6,25-12,5 mg VO, 3 x/dia – Lisinopril: 2,5-5 mg VO, 1 x/dia – Ramipril: 2,5 mg VO, 2 x/dia – Trandolapril: 0,5 mg VO, 1 x /dia – Hipotensão – Baixo débito – DRC avançada – Hipercalemia 6. ARAII/BRA – Mesma do que IECA, mas o paciente tem ou deve ter intolerância ao IECA – Valsartan: 20 mg VO, 2 x/dia – Hipotensão – Baixo débito – DRC avançada – Hipercalemia 7. Estatina – Todos os pacientes, se não houver contraindicações – Atorvastatina: 80 mg VO, 1 x/dia, à noite – Rosuvastatina: 20 a 40 mg, VO, 1 x/dia, à noite – História de hepatopatia ou miopatia – Monitorizar enzimas musculares e função hepática IAMCST | BATBOOK 18 CONTRAINDICAÇÕES E PRECAUÇÕES – Nitrato é contraindicado se PA sistólica < 90-100 mmHg ou indícios de hipovolemia. – Não se deve prescrever nitrato no paciente com elevação de ST em parede inferior (DII, DIII e aVF), pois pode haver infarto de ventrículo direito associado. Nessa situação, a venodilatação pode reduzir a pré-carga e causar hipotensão e choque, aumentando a mortalidade. – Caso o paciente tenha usado medicação pa- ra disfunção erétil, nitrato é contraindicado pelo risco de grave hipotensão. DINITRATO DE ISOSSORBIDA – Comprimido sublingual de 5 mg: uma vez realizado o ECG, na ausência de contra- indicação,pode-se prescrever 1 comprimido sublingual. – Se PA sistólica permitir (> 100 mmHg), pode-se repetir a dose de 5/5 minutos (total de 3 comprimidos), se dor persistente. – A resolução do supra ST sugere angina vasoespástica. NITROGLICERINA – Diluir 1 ampola (25 mg) + 245 mL de SG5% (1 mL = 100 mcg); (alternativa: ampola de 50 mg + 490 mL de SG5%). – Dose inicial: 10 mcg/min, ou seja, 6 mL/h em bomba de infusão contínua (BIC). ○ Aumentar a dose em 5 a 10 mcg/kg, de 5/5 minutos, até que a dor passe, o paciente chegue a PA sistólica de 100 mmHg ou apresente sintomas ou sinais de hipoperfusão. – Dose máxima: até 150 a 300 mcg/minuto (90 a 180 mL/h). ○ Se for necessário usar altas doses, usar solução concentrada com 2 ampolas de 25 mg + 240 mL de SG5% (1mL=200 mcg). Infusão de 3 mL/h é igual a 10 mcg/min. Nitrato não deve ser prescrito como uma rotina, pois não altera o prognóstico do paciente, além do seu potencial de causar hipotensão. MORFINA – Morfina não reduz desfechos clínicos relevantes e talvez possa ser prejudicial. Por isso, se possível, deve-se evitá-la. – Talvez se deva prescrever morfina no paciente com dor muito intensa e refratária a outros agentes anti-isquemia (nitrato e ~- bloqueador). – Ampolas: 1 mL com 1 O mg ou 2 mL com 2 mg. ○ Dose inicial: 2 a 5 mg, IV (pode-se diluir 1 ampola de 10 mg + 9 mL de SF; 1 mL = 1 mg). ○ Pode-se repetir a dose a cada 5 a 30 minutos, se dor intensa e persistente. CONTRAINDICAÇÕES E PRECAUÇÕES – Não prescrever morfina no paciente com PA sistólica limítrofe ou indícios de hipovolemia. – No infarto inferior (DII, DIU e aVF), pois pode levar a hipotensão e choque, se houver infarto de ventrículo direito associado. – História de hipersensibilidade à droga. – Paciente com náuseas ou vômitos. – Bradicardia. A morfina tem efeitos teoricamente desejáveis no IAM-ESST: alívio da dor e da ansiedade; redução da pré-carga, o que favorece o trabalho de ventrículo esquerdo; alívio da dispneia e redução do trabalho da musculatura respiratória. Todavia, estudos não randomizados têm associado o uso de morfina a maior chance de eventos adversos, inclusive maior risco de morte. Estudos recentes mostraram que a morfina reduz a absorção intestinal dos antiplaquetários, mas não se sabe a importância clínica desse achado. CARDIOLOGIA 19 β-BLOQUEADOR – Reduz a frequência cardíaca, a contrati- lidade e a pressão arterial, diminuindo o trabalho cardíaco e o consumo de oxigênio. O prolongamento da diástole pode melhorar a perfusão do miocárdio isquêmico. – Ainda é urna medicação importante na SCA, reduz alguns desfechos relevantes, como fibrilação ventricular (5 casos para 1.000 tratados) ou reinfarto (5 casos para 1.000 tratados), embora haja dúvida se eles realmente se associam à redução de mortalidade na era atual. – Em geral, β-bloqueador é indicado no IAM- ESST desde que: ○ Não existam contraindicações. ○ E o paciente não tenha risco de evoluir para choque cardiogênico. CONTRAINDICAÇÕES 1. BAV de 2° e 3° graus ou intervalo PR> 0,24 segundo. 2. Broncoespasmo prévio. 3. Sinais de IC (na fase aguda da SCA). 4. Evidência de baixo débito (má perfusão, sonolência, hipotensão). RISCO DE CHOQUE CARDIOGÊNICO – Deve-se evitar o uso de β-bloqueador se o paciente tiver maior risco de evoluir para choque cardiogênico, em geral na presença de um ou mais dos seguintes: ○ Idade > 70 anos. ○ Pressão sistólica < 120 mmHg. ○ FC > 110 bpm ou < 60 bpm. ○ Longo tempo entre o início dos sintomas e a procura ao hospital. DOSES E MODO DE USAR – É razoável iniciar β-bloqueador após estabilização do paciente. – A escolha é pela via oral, iniciando-se com doses baixas. Algumas opções: ○ Propranolol: 10 a 20 mg, VO, de 8/8 h. ○ Atenolol: 25 a 50 mg, VO, 1 x/dia. ○ Metoprolol: 25 a 50 mg, VO, de 12/12 h. ○ Carvedilol: 6,25 a 12,5 mg, VO, 2 x/dia. ○ Bisoprolol: 2,5 a 5 mg, VO, 1 x/dia. – Metoprolol intravenoso (ampola de 5 mg) pode ser indicado na presença de hipertensão arterial significativa e/ou em pacientes com arritmias ventriculares graves. ○ Dose inicial: 5 mg, IV; lentamente (1 a 2 minutos), com monitorização eletrocardio- gráfica. ○ Se PA e FC permitirem, pode-se repetir mais duas doses (total de 15 mg), com intervalos de 5 minutos. ○ Prescrever o β-bloqueador via oral após. BLOQUEADORES DOS CANAIS DE CÁLCIO – Podem ser úteis quando houver indicação de um β-bloqueador, mas o paciente tem antecedente de broncoespasmo. Isso inclui isquemia miocárdica ocorrendo, hipertensão ou para reduzir a resposta ventricular na fibrilação atrial – Deve-se lembrar que não se deve prescrever o antagonista do cálcio na presença das mesmas contraindicações ou achados de risco para choque cardiogênico dos β-bloqueadores, exceto a história de broncoespasmo. – Diltiazem é a escolha, embora verapamil também possa ser usado. IAMCST | BATBOOK 20 DILTIAZEM: DOSES E MODO DE USAR – Dose inicial oral: 30 mg, 6/6 a 8/8 h. – Uso intravenoso (ampolas de 25 mg e 50 mg; reconstituir com diluente e aplicar IV): ○ Dose inicial: 0,25 mg/kg, IV; em 2-3 minutos; após 15 minutos, se necessário, prescrever outra dose de 0,35 mg, IV. ○ Se for necessária a infusão contínua, a dose é de 5 a 15 mg/h: ■ Duas ampolas de 25 mg + 200 mL de SG 5% ou SF 0,9% (50 mg/200mL). ■ Iniciar com 20 mL/hora (5 mg/h). ○ Prescrever diltiazem oral em seguida. IECA E ARAII/BRA – Recomenda-se o IECA ou o ARA-II no paciente com infarto de parede anterior, insuficiência cardíaca ou fração de ejeção < 40%. – É razoável, entretanto, prescrevê-los para todos os pacientes, de baixo ou de alto risco. – O IECA deve ser iniciado nas primeiras 24 horas do IAM, se não houver contraindicação. – É importante ressaltar que deve-se evitar tanto o IECA quanto o antagonista da angiotensina II nas primeiras 24 horas, se houver hipotensão, choque ou hipercalemia. – IECA: doses iniciais, todas pela via oral: ○ Captopril: 6,25 a 12,5 mg, de 8/8 h (chegar a 150 mg/dia nos dias seguintes, se tolerado). ○ Lisinopril: 2,5 a 5 mg, 1 x/dia (chegar a 10 mg/dia nos dias seguintes, se tolerado). ○ Ramipril: 2,5 mg, 12/12 h (chegar a 10 mg/dia nos dias seguintes, se tolerado). ○ Trandolapril: 0,5 mg, 1 x/dia (chegar a 4 mg/dia nos dias seguintes, se tolerado). – ARA-II: ○ Valsartan: 20 mg, VO, de 12/12 h (chegar a 320 mg/dia nos dias seguintes, se tolerado). ESTATINAS – Ação anti-inflamatória, estabilização de placas ateroscleróticas, melhora da função endotelial, aumento de HDL, diminuição da tendência protrombótica e redução de LDL. – Terapia com estatina reduz a chance de IAM recorrente, mortalidade por doença coronariana, revascularização do miocárdio e AVC. – Maior benefício com as estatinas chamadas de “alta potência” com a meta de reduzir o LDL em mais de 50% do valor de base. ○ Atorvastatina: 80 mg, 1 x/dia, à noite. A dose pode ser reduzida para 40 mg/dia, se intolerância com dose maior. ○ Rosuvastatina: 20 a 40 mg, 1 x/dia, à noite. CARDIOLOGIA 21 COMPLICAÇÕES DO IAM COM SUPRA DE ST INFARTO DE VENTRÍCULO DIREITO – De um terço a metade dos infartos de coronária direita (geralmente infarto inferior) cursam com infarto de ventrículo direito (IAM de VD). – Os autores classificam esse infarto em: ○ IAM de VD eletrocardiográfico: as derivações precordiais direitas (V3R a V6R) mostram uma elevação do segmento ST > 1 mm, mas não há hipotensão ou turgênciavenosa jugular. ○ IAM de VD clínico: além dos achados do ECG, surgem sintomas: hipotensão ou choque, cursando com turgência jugular importante e campos pulmonares limpos (diferentemente do choque por acometimento do VE). – Estima-se que o VD clínico ocorra em 25% a 35% dos pacientes que manifestam VD eletrocardiográfico, com mortalidade de até 30%. – Manuseio geral: ○ Evitar usar nitratos, morfina ou furosemida. ○ Acompanhar o paciente com ultrassom POC ou ecocardiograma para avaliar repercussão hemodinâmica em VD. ○ Caso haja bradicardia ou BAV: corrigir prontamente. – Hipotensão ou choque: 1. Deve-se fornecer solução cristaloide em dois acessos calibrosos. 2. Após 1 a 2 litros de soro infundidos rapidamente, deve-se indicar droga vasopressora, se o paciente persistir hipotenso. 3. A melhor droga para infarto de VD é dobutamina (com ou sem noradrenalina, dependendo da pressão arterial), pois melhora a fração de ejeção de VD. 4. A preferência, nesse caso (choque), é indicar imediatamente a intervenção coronariana percutânea. ARRITMIAS VENTRICULARES – Até 6% dos pacientes desenvolvem taqui- cardia ventricular ou fibrilação ventricular dentro das primeiras 48 horas do IAM, na maioria das vezes, antes ou durante a reperfusão. – Cardioversão elétrica (100 J do monofásico ou bifásico) após leve analgesia e sedação (fentanil 1 mcg/kg de peso + propofol 0,05 mg/kg) é o tratamento de escolha para arritmias ventriculares persistentes. Obviamente, na FV, deve-se desfibrilar (Tabela 15). – Administração precoce de β-bloqueadores (intravenoso inicialmente, se não houver contraindicação) pode ajudar a prevenir TV sustentada recorrente, sobretudo quando polimórficas (Tabela 16). – Amiodarona: deve ser considerada apenas se os episódios de VT ou VF são frequentes e já não podem ser controlados por sucessivas cardioversões ou desfibrilações. ○ Dose inicial: 150 mg, IV, em 5 a 10 min (1 ampola de 150 mg/3 mL diluída em 150 mL de SG 5%). ○ Se necessário, repetir mais 150 mg em 10 minutos. ○ Considere bomba de infusão contínua após: ■ 1 mg/minuto por 6 horas. ■ 0,5 mg/minuto por mais 18 horas. – Lidocaína intravenosa pode ser considerada para TV /FV recorrentes não responsivas aos β-bloqueadores ou amiodarona, ou no caso de contraindicações para a amiodarona. – TV sustentada recorrente, especialmente quando polimórfica, pode ser um indicador de reperfusão incompleta ou de recorrência da isquemia aguda. Portanto, angiografia coronariana imediata deve ser considerada. IAMCST | BATBOOK 22 TABELA 15 | MANEJO DAS ARRITMIAS NA FASE AGUDA DO IAM COM SUPRA DE ST* CONDIÇÃO RECOMENDAÇÃO CLASSE/EVIDÊNCIA Taquiarritmia com instabilidade (FA, flutter, TV) – Cardioversão imediata – I/C TV monomórfica sustentada refratária à cardioversão – Amiodarona IV – Alternativa: lidocaína – IIa/B – IIb/C Extrassístoles ventriculares, TV não sustentada assintomática ou ritmo idioventricular – Não se recomenda antiarrítmico TV polimórfica com QT de base normal – β-bloqueador – Amiodarona – Lidocaína – I/B – I/C – IIb/C TV polimórfica com QT de base prolongada – Corrigir eletrólitos e considerar magnésio – I/C Controle da FC na fibrilação atrial na ausência de IC ou de hipotensão – β-bloqueador (preferência) ou diltiazem – I/C Controle da FC da fibrilação atrial em pacientes com IC – Digitálicos e/ou amiodarona – IIb/C Hipotensão ou IC associados a: bradicardia sinusal com hipotensão BAV Mobitz II ou BAV de 3º grau – Atropina – Marca-passo não pode responder a atropina – I/C – I/C *2015 ESC Guidel ines for the management of patients with ventricular arrhythmias and the prevention of sudden cardiac death. Eur Heart J. 2015;36:2793-867. TABELA 16 | DOSES INTRAVENOSAS DAS PRINCIPAIS DROGAS ANTIARRÍTMICAS DROGA DOSE DE ATAQUE IV MANUTENÇÃO Amiodarona – 150 mg em 10 minutos (pode ser repetido) – 1 mg/min por 6 horas, seguido de 0,5 mg/min por mais 19 horas Atropina – 0,5mg a cada 3 a 5 minutos, máximo de 0,04 mg/kg Digoxina – 0,25 a 0,5 mg a cada 2 horas (máximo de 1,5 mg) Diltiazem – 0,25 mg/kg em 2 min – 0,25 mg/kg após 15 min se necessário – 5 a 15 mg/hora Esmolol – 500 ug/kg em 1 minuto – 6 – 200 ug/kg/minuto Lidocaína – 0,5 a 0,75 mg/kg – 1 a 2 mg/minuto Metoprolol – 5mg a cada 5 minutos, se necessário (máximo de 15 mg) CARDIOLOGIA 23 FIBRILAÇÃO ATRIAL E FLUTTER – Das taquiarritmias de QRS estreito, a mais frequente é a FA e pode ocorrer em até 10- 20% dos pacientes com IAM, geralmente nas primeiras 24 horas. – O risco de FA é maior em pacientes com idade avançada, extenso IAM, distúrbio eletrolítico associado, hipóxia, doença pulmonar prévia, IC e hiperatividade adrenérgica. A recanalização diminui essa chance. – O tratamento depende da situação: ○ Comprometimento hemodinâmico, dor anginosa ocorrendo ou inadequado controle da frequência cardíaca: deve-se proceder à cardioversão elétrica imediata com leve analgesia e sedação (FA com 200 J; flutter com 50 J). ○ Na ausência de insuficiência cardíaca, instabilidade hemodinâmico ou história de broncoespasmo, metoprolol IV ou esmolo! IV são recomendados para lentificar uma rápida resposta ventricular. Diltiazem é uma alternativa se história de broncoespasmo. ○ Amiodarona ou digoxina podem ser considerados para lentificar uma rápida resposta ventricular no paciente com IC grave. BRADIARRITMIAS IAM DE PAREDE INFERIOR – Bloqueio AV de alto grau ocorre em 5-9% dos pacientes com IAM inferior trombolizados. Aproximadamente metade ocorre nas primeiras horas e o restante nas primeiras 24 horas. – A isquemia é intranodal, o QRS é estreito e a bradiarritmia se desenvolve de uma forma progressiva: BAV de 1º grau, Mobitz I e BAV total. – Geralmente a bradicardia é assintomática (40 a 60 bpm) e se resolve dentro de 5-7 dias. – BAV total é 3 a 4 vezes mais frequente no IAM inferior, comparado com o IAM anterior, sendo de muito melhor prognóstico. IAM DE PAREDE ANTERIOR – Bloqueio AV de alto grau (Mobitz II ou de 3º grau) ocorre < 3% dos pacientes com IAM anterior que recebem terapia trombolítica. – O curso clínico pode ser imprevisível, com o desenvolvimento de BAV total subitamente nas primeiras 24 horas. – Algumas vezes, o BAV pode ser precedido por bloqueio de ramo direito e bloqueio fascicular anterior esquerdo ou bloqueio fascicular posterior esquerdo (bifascicular e trifascicular) – O ritmo de escape é instável e se associa a alta mortalidade em razão da necrose extensa de VE. IAMCST | BATBOOK 24 TRATAMENTO INICIAL DAS BRADIARRITMIAS NO IAM – Não há necessidade de tratamento do BAV 1º grau, bradicardia sinusal ou BAV Mobitz I assintomáticos. – Bradicardia sinusal associada a hipotensão, baixo débito ou isquemia miocárdica é rara. O tratamento é: 1. Atropina: 0,5 mg, IV; pode-se repetir após 3- 5 minutos, até dose de 3mg. 2. Marca-passo transvenoso temporário se ausência de resposta. – IAM de parede inferior com BAV total: habitualmente tem ritmo de escape de QRS estreito e frequência > 40 bpm. ○ Geralmente resolve de forma espontânea e raramente necessita de intervenção. – IAM de parede anterior com BAV Mobitz II ou BAV 3º grau: associado com escape instável, de baixa frequência, e QRS alargado. Tratamento: 1. Marca-passo transvenoso temporário deve ser inserido de imediato, se houver sintomas (hipotensão, isquemia miocárdica, achados de hipoperfusãosistêmica, insuficiência cardíaca). 2. Deve-se considerar marca-passo transve- noso temporário na presença de: ■ Bloqueio de ramo direito e ramo esquerdo alternantes. ■ Bloqueio bifascicular ou trifascicular. ■ Períodos de assistolia. – Angiografia urgente é recomendada para pacientes com bloqueio AV de alto grau sintomáticos que não receberam reperfusão. TABELA 17 | TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA E DO CHOQUE CARDIOGÊNICO NO IAM RECOMENDAÇÃO GERAL – IAM-ESST e choque cardiogênico ou insuficiência cardíaca aguda e grave: revascularização do miocárdio de urgência (cirúrgica ou pela intervenção coronariana percutânea) KILLIP II – Oxigênio – Furosemida: 20 a 40 mg IV; pode ser repetida a cada 4 horas, se necessário – Nitrato se não houver hipotensão – IECA (se não tolerado, ARAII), se não houver hipovolemia, hipercalemia ou hipotensão KILLIP III – Oxigênio e ventilação não invasiva – Furosemida: 20 a 40 mg IV; pode ser repetida a cada 1-4 horas, se necessário – Nitrato se não houver hipotensão – Inotrópico e/ou vasopressor, se necessário: noradrenalina e/ou dobutamina ou milrinona KILLIP IV – Oxigênio e suporte ventilatório – Inotrópico e vasopressor: noradrenalina e dobutamina ou mil rinona – Balão intra-aórtico não reduziu desfechos significativos no maior estudo (IABP-SHOCK II Trial; NEJM 2012). Uma metanálise recente também não mostrou benefícios. CARDIOLOGIA 25 DISFUNÇÃO VENTRICULAR ESQUERDA GRAVE – Pacientes que apresentam ou evoluem com grave disfunção ventricular esquerda ou choque cardiogênico: 1. Revascularização de emergência (pela ICP ou cirurgia cardíaca) é recomendada, independentemente do tempo do início do IAM. 2. Fibrinolíticos podem ser administrados se o paciente não for candidato à revascularização por ICP ou cirurgia (razões técnicas, anatômicas ou impossibilidade de acesso) e com menos de 24 horas do início do IAM. – Os principais pontos do tratamento estão descritos na Tabela 17. Infarto Agudo do miocárdio com Supra de ST Mensagens Relevantes Introdução e Definições Etiologias Antecedentes clínicos e epidemiológicos Manifestações Clínicas Características da dor ou do desconforto Localização e Irradiação Náuseas e Vômitos Equivalentes isquêmicos ou achados atípicos Exame Físico Geral Frequência Cardíaca Hiperatividade simpática e parassimpática Ausculta cardíaca Pulsos e Extremidades Risco de Complicações, Killip, Forrester e TIMI Figura 1 | Escores TIMI e mortalidade em 30 dias Exames Complementares Eletrocardiograma Derivações precordiais direitas IAM posterior e derivações V7 a V9 Suspeita de isquemia miocárdica e BRE Troponina Exames Gerais e Perfil Lipídico Diagnóstico Diferencial Tratamento Inicial Algoritmo 1 Tempos porta-balão (ICP) e porta-agulha (fibrinolíticos). Fibrinólise Sistêmica → Trombolíticos Algoritmo 2 | Manuseio inicial da SCA com elevação de segmento ST Estreptoquinase Ativador do plasminogênio tecidual t-PA (alteplase) Ativador do plasminogênio tecidual recombinante/rt-PA (reteplase) TNK (tenecteplase) Intervenção Coronariana Percutânea Terapia Antitrombótica Adjuvante Aspirina Antagonista do ADP na trombólise farmacológica Antagonista do ADP na ICP – opções Anticoagulantes Enoxaparina Heparina não fracionada HNF → comum Fondaparinux Bivalirudina Nitroglicerina e Dinitrato de Isossorbida Contraindicações e precauções Dinitrato de isossorbida Nitroglicerina Morfina Contraindicações e precauções β-Bloqueador Contraindicações Risco de choque cardiogênico Doses e modo de usar Bloqueadores dos Canais de Cálcio Diltiazem: doses e modo de usar IECA e ARAII/BRA Estatinas Complicações do IAM com supra de ST Infarto de Ventrículo Direito Arritmias Ventriculares Fibrilação Atrial e Flutter Bradiarritmias IAM de parede inferior IAM de parede anterior Tratamento inicial das bradiarritmias no IAM Disfunção Ventricular Esquerda Grave Tabela 1 | Classificação dos tipos de infarto agudo do miocárdio Tabela 2 | IAM com elevação de segmento ST, na ausência de BRE Tabela 4 | Classificação de Forrester Tabela 3 | Classificação de Killip Tabela 5 | Escore TIMI para síndrome coronariana aguda com elevação de ST Tabela 6 | ECG no IAM com supra d ST Tabela 7 | Critérios de Sgarbossa modificados Tabela 8 | IAM com elevação do segmento ST – Manuseio Inicial