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1 Outro dia, após a aula, Isabela encontrou Miguel na área de estudo da biblioteca. Ele parecia um pouco perdido e chateado. “O que aconteceu, Miguel?”, perguntou Isabela, preocupada. “Ah, Isabela... assim que comecei a sentir que meu pensamento crítico estava mais desenvolvido, um professor me passou um trabalho que é de tirar o sono! Acho que não dá para resolver o que ele pede usando meu pensamento crítico”, respondeu Miguel, desanimado. “Sinto que depois de todo esse esforço que tenho feito ainda tenho dificuldade para tomar decisões mais difíceis”. “Me dê um exemplo, para eu poder te ajudar,” respondeu Isabela. “O professor passou um estudo de caso e pediu para eu explicar como eu lidaria com a situação”, explicou Miguel, entregando a folha do trabalho para Isabela, que vinha com o seguinte enunciado: ESTUDO DE CASO Como fundador de uma empresa inovadora de biotecnologia, sua meta é criar produtos inéditos que tenham o potencial de salvar vidas, ao mesmo tempo em que maximiza os lucros para os seus interessados. Sua empresa recentemente inventou um produto novo que tem uma forte promessa de salvar vidas em grande escala, mas se o produto não for inserido logo no mercado, você e a sua empresa provavelmente vão falir e serão alvo de inúmeros processos movidos por investidores revoltados com a possibilidade de perderem boa parte do dinheiro que pouparam a vida toda. Infelizmente, as despesas com a produção do produto são extremamente altas, em grande parte devido às exigências regulamentares rigorosas, que provavelmente não vão mudar. Depois de muito procurar, você descobriu uma fábrica em um país estrangeiro que pode produzir legalmente o novo produto seguindo exatamente as suas especificações. Essa fábrica cobra menos que todas as outras, viabilizando a entrada do produto no mercado enquanto gera bons lucros para a sua empresa e seus investidores e, de quebra, o deixa rico como você nunca sonhou. Isabela & Miguel ALÉM DA LÓGICA 2 Porém, o processo de fabricação adotado pela fábrica gera subprodutos que, de acordo com muitos cientistas, causam prejuízos ao meio ambiente. Além disso, a fábrica emprega centenas de trabalhadores locais desesperados por uma fonte de renda, incluindo mulheres e crianças, que precisam trabalhar durante horas em condições desconfortáveis, muitas vezes inseguras, em troca de uma remuneração baixa. Muitos dizem que a conduta da fábrica é uma violação dos direitos humanos. Por fim, há suspeitas de que o governo do país em que a fábrica se localiza tenha vínculos com um grupo terrorista internacional. Portanto, existe a possibilidade de que parte dos lucros operacionais da fábrica sejam usados para financiar operações terroristas. Usando suas habilidades de pensamento crítico, o que você faria nessa situação? “Acho que entendi o seu dilema!”, exclamou Isabela. “Embora pensar criticamente exija a lógica formal, esse tipo de problema não pode ser resolvido apenas usando a lógica. Porém, você pode e deve encarar esse dilema usando o Pensamento Crítico! Ele e a moralidade estão intrinsecamente ligados de um jeito muito profundo. Na verdade, é impossível pensar de forma crítica sem levar em consideração as implicações éticas e morais de cada decisão e ação tomada!”. “Como assim, Isabela?”, respondeu Miguel, confuso. “Se eu não consigo chegar a uma solução usando a lógica, e já que não existe uma resposta simples para esse dilema moral, basta eu resolver tudo no cara ou coroa?”. “Claro que não, Miguel!”, revidou Isabela. “O Pensamento Crítico busca a verdade, e a verdade só pode ser descoberta através do raciocínio lógico. Assim como a lógica formal, o raciocínio moral também tem seus próprios princípios de análise”. “Ótimo! Então me diz quais são os princípios que devo usar nesse caso”, apressou-se Miguel. “Dessa vez eu não posso fazer nada por você, Miguel. Todo mundo tem que desenvolver seu próprio código moral para se orientar nesse tipo de situação. Apesar de não poder te dizer quais princípios você deve usar, posso te passar umas dicas e orientações sobre como se preparar para situações desse tipo, já que elas acontecem muitas vezes na vida real”, sugeriu Isabela. “Isso, por favor! Aceito todo tipo de orientação, Isabela!”, respondeu Miguel, esperançoso. “Eu quero fazer a coisa certa, mas não faço ideia de como começar!”