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Escuta pedagógica O termo escuta pedagógica provém da psicanálise e diferencia-se do ato mecânico da audição. Enquanto a audição se refere a apreensão/compreensão de vozes e sons audíveis, a escuta aponta para a apreensão e compreensão de expectativas e sentidos. ouvindo expressões, percebendo gestos, condutas e posturas. A escuta não se limita ao campo da fala ou do falado ( mais que isso), busca perscrutar os mundos interpessoais que constituem nossa subjetividade, para mapear os movimentos que identificam nossa singularidade. ( Ceccim, 1997) A pedagogia tradicional, conforme definição de Cipriano C. Luckesi ( livro Filosofia da Educação – Ed.Cortez- 1994), baseia-se na exposição verbal, centrada na autoridade da figura do professor, em forma de conteúdos, de conhecimentos historicamente acumulados pela humanidade e repassados como dogmas, para as gerações mais novas. A metodologia da expressão verbal e o uso de técnicas de assimilação de conteúdos nem sempre satisfazem a curiosidade das experiências infantis, daí a necessidade de uma escuta/sondagem permanente, para, se necessário realizar uma mudança de atitude e metodologia de ensino. A pedagogia hospitalar, busca construir conhecimento sobre este novo contexto de aprendizagem, contribuindo assim , para o bem estar da criança e adolescentes hospitalizados. A contribuição da Escuta Pedagógica para os Processos de Aprendizagem: Aciona a possibilidade da utilização do “canal lúdico”, como canal de comunicação da criança hospitalizada, procurando fazê-la esquecer, durante alguns instantes , o ambiente agressivo , no qual se encontra, resgatando sensações boas vividas anteriormente à entrada no hospital. Procura desmistificar o ambiente hospitalar ressignificando suas práticas e rotinas .Dessa forma o medo da criança , que paralisa as ações e cria resistências, tende a desaparecer, surgindo em seu lugar, uma curiosa intimidade com o Espaço Hospitalar e confiança naqueles que ali atuam. Paula Teixeira ( Anais do encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino 2009 – crianças e professores em hospitais), Aponta que existem basicamente 3 grupos de crianças hospitalizadas e a Escuta Pedagógica deve ser realizada considerando essas realidades. Crianças com graves comprometimentos físicos, sociais, afetivos e cognitivos que permanecem durante longo período de internação no hospital. 1ª 2ª Crianças com comprometimento moderados Permanência em média cerca de 15 dias em internação hospitalar. 3ª Crianças internadas com comprometimentos leves breve permanência no hospital – dentro desta realidade multifacetada e tão distinta, cabe o professor no hospital: Assumir posturas: Política; Pedagógica; Social; Ideológica; Humanizadora. Esta dimensão “humanizadora” refere-se à disponibilidade de estar com o outro e para o outro, visando tornar menos traumático o percurso da dor e do sofrimento. Estas ”novas” posturas baseiam-se no resultado da prática e da Escuta Pedagógica, com características bem distintas: Escuta Pedagógica Humanizada Escuta que brota do diálogo; Escuta que fundamenta-se em um olhar atento aos detalhes; “Escuta “ dos gestos e olhares; Escuta que agencia conexões, percebe necessidades; É aberta às emoções e aos pensamentos. A escuta pedagógica pode ser útil na formação de nossos discentes. A escuta pedagógica não é uma escuta sem eco, pois ela faz brotar o diálogo, esse é a essência para uma educação de qualidade. Será por meio dela que o educador desenvolverá em seu aluno o aprender a conviver e o aprender a ser. Não podemos ignorar a cultura, os problemas e os anseios de nosso educando, visto que o efetivo e o cognitivo não se excluem, mas coexistem, e faz-se necessário irmos contra o pensamento de que nossos alunos são como uma folha em branco, prontos para serem escritas e/ou preenchidas. A função do educador não é padronizar homens nem adestrá-los, mas educá-los, torná-los cidadãos ativos, críticos e humanizados. O educador que inclui em sua prática docente a habilidade de ouvir alcançará êxito na educação de seus alunos. Pois a escuta pedagógica tem a função de fazer com que as pessoas se sintam vivas, expressando verbalmente suas ideias e trocando informações dentro de um diálogo contínuo e afetuoso. Precisamos construir conhecimentos com nossos alunos, e não engessarmos a capacidade deles. Essa construção se dá por meio dos relacionamentos interpessoais. Devemos respeitar as diferenças de nosso educando e aprender com elas, fazendo todo esforço necessário para não padronizá-los. Depende de nós, educadores, uma educação igualitária e não padronizada. A hospitalização infantil mexe com o íntimo e transforma a rotina da criança, assim, compromete o desenvolvimento desta importante etapa da vida, ou seja, a infância. É importante destacar, que mesmo doente a sua essência infantil não é perdida, necessita, porém, de ações e práticas para suprir as carências advindas no processo de hospitalização, ainda que sejam elas, afetivas, sociais, cognitivas e psicológicas. Para o atendimento de tais necessidades, a criança alcançou direitos, dentre eles o que está descrito na Resolução nº 41/95, no item 9, ao dispor sobre o direito de desfrutar de alguma forma de recreação e acompanhamento do currículo escolar enquanto estiver internada em um hospital. Autores como Matos e Mugiatti (2009), Fonseca (2008) e Fontes (2005a,b) fortalecem o debate sobre o papel que o professor/pedagogo tem em realizar a prática pedagógica nesse ambiente, visto a necessidade da escuta para essa criança, que muitas vezes sinalizam o seu falar apenas por gestos, portanto, Questiona-se o papel da escuta pedagógica na criança hospitalizada em conhecer as representações que a mesma faz do espaço hospitalar em que está inserida por meio das atividades desenvolvidas . O percurso do período da infância, a criança sofre mudanças, sendo vista, como uma etapa da vida que remete ao “observar” a criança, bem como, as particularidades e singularidades presentes na fase infantil. . Mediante tais acontecimentos, a infância, vai sendo conhecida, como um período, alegre e “seguro” da vida, nesta fase, a criança se sente amparada, vive em um mundo de fantasias, constrói sonhos, tem como atividade a brincadeira e através dela faz descobertas. Nesse processo, a linguagem é um fator importante e fundamental para que o ser humano possa se desenvolver, visto que, é por meio dela que desde o nascimento, o indivíduo manifesta sua necessidade em se comunicar. Desta forma, a linguagem surge como uma característica e habilidade própria do ser humano e é através dela que é possível manifestar às outras pessoas, os sentimentos, pensamentos e emoções. A linguagem é utilizada pela criança para comunicar seus estados emocionais, podendo ser representados por meio do choro, de pequenas palavras e de expressões faciais, tudo isso, segundo a autora acima citada é desenvolvido por meio de uma relação de interação. Na medida em que a criança entra em contato com a língua falada, se desenvolve e vai adquirindo a fala, fruto de sua interação com o meio e com as pessoas que a cercam, nesta fase, a criança “ouve melhor” e passa a compreender falas inteiras e então, passa a se comunicar através de palavras. Todavia, o olhar e principalmente a escuta, transformam-se em pontos importantes e fundamentais para o outro e, no caso da criança que está em formação, essencial é para sua subjetividade. A maneira como se olha e as palavras que se pronunciam perante uma criança ou para ela, chegam aos seus ouvidos carregados de significação, e de acordo com a situação e do meio em que se encontram, podem ser compostas, recebidas e interpretadas de diversos sentidos. Esse diálogo é mais do que o simples ouvir, é a escuta, nesta, o conhecer a criança se torna necessário e fundamental no papel da construção do sujeito. A expressão escuta não se limita apenas à capacidade do aparelho auditivo de perceber,decodificar e dar inteligibilidade a sons. Mais do que isso, a escuta capta as entrelinhas do discurso e entra em contato com as peculiaridades de cada indivíduo. A escuta é importante, pois valoriza o ser criança em seu momento próprio. Tomando como questão a criança hospitalizada, sua doença, sua rotina interrompida, o ambiente em que está inserida e os danos que podem ser acarretados mediante uma enfermidade, esta escuta assume caráter fundamental, atuando como auxílio, apoio, conforto e estabelecendo conexões, emoções e necessidades intelectuais. Essa prática pedagógica busca o escutar seus medos e anseios, avançando além das lágrimas e das vozes, interpretando a vontade, o sofrimento e o olhar de cada criança hospitalizada. Deste modo, esta escuta, não se trata de uma escuta qualquer, como afirma Fontes (2005b, p. 124), não se refere a uma “escuta sem eco. É uma escuta da qual brota o diálogo, que é a base de toda a educação”. Logo, atenta-se para a importância da ação pedagógica e seu ato educativo e social, através da comunicação e do diálogo oferecido à criança hospitalizada, uma vez que: “imerso na situação negativa que atravessa no momento, possa se desenvolver em suas dimensões possíveis de educação continuada, como uma proposta de enriquecimento pessoal”. Nesse contexto, depreende-se que o pedagogo é agente de mudança, ao proporcionar através de suas práticas, o restabelecendo do equilíbrio, da imaginação e da motivação da criança enferma, contribuindo assim, para sua adaptação e integração ao ambiente hospitalar, interferindo diretamente e positivamente em seu comportamento e recuperação. Fim