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Disciplina: Estudos Sócio-Antropológicos 2º Período – 2017 ÉMILE DURKHEIM (1858-1917) Francês, é considerado por muitos estudiosos o fundador da Sociologia como ciência independente das demais Ciências Sociais. Ao preconizar o estudo do fatos sociais como "coisas", através de regras de rigor científico, determinou seu objeto, próprio dos estudos sociológicos e sua metodologia. A ESPECIFICIDADE DO OBJETO SOCIOLÓGICO A Sociologia pode ser definida, segundo Durkheim, como a ciência “das instituições, da sua gênese e do seu funcionamento”, ou seja, de “toda crença, todo comportamento instituído pela coletividade”. Na fase positivista que marca o início de sua produção, considera que, para tornar-se uma ciência autônoma, essa esfera do conhecimento precisava delimitar seu objeto próprio: os fatos sociais. Tais fenômenos compreendem “toda maneira de agir fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou então ainda, que é geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando uma existência própria, independente das manifestações individuais que possa ter”, as “maneiras de agir, de pensar e de sentir exteriores ao indivíduo, dotadas de um poder de coerção em virtude do qual se lhe impõem”, ou ainda “maneiras de fazer ou de pensar, reconhecíveis pela particularidade de serem suscetíveis de exercer influência coercitiva sobre as consciências particulares”. De sua definição podemos tirar as características específicas do fato social: • exterioridade, em relação às consciências Individuais; • coercitividade, a coerção que o fato social exerce ou é suscetível de exercer sobre os indivíduos; • generalidade, em virtude de ser comum ao grupo ou à sociedade. Assim, pois, o fato social é algo dotado de vida própria, externo aos membros da sociedade e que exerce sobre seus corações e mentes uma autoridade que os leva a agir, a pensar e a sentir de determinadas maneiras. É por isto que o “reino social” está sujeito a leis específicas e necessita de um método próprio para ser conhecido, diferentemente do que acontece no “reino psicológico” que pode ser entendido através da introspecção. Da perspectiva do autor, a sociedade não é o resultado de um somatório dos indivíduos vivos que a compõem ou de uma mera justaposição de suas consciências. Ações e sentimentos particulares, ao serem associados, combinados e fundidos, fazem nascer algo novo e exterior àquelas consciências e às suas manifestações. E ainda que o todo só se forme pelo agrupamento das partes, a associação “dá origem ao nascimento de fenômenos que não provêm diretamente da natureza dos elementos associados”. A sociedade, então, mais do que uma soma, é uma síntese e, por isso, não se encontra em cada um desses elementos, assim como os diferentes aspectos da vida não se acham decompostos nos átomos contidos na célula: a vida está no todo e não nas partes. As almas individuais agregadas geram um fenômeno sui generis, uma “vida psíquica de um novo gênero”. Os sentimentos que caracterizam este ser têm uma força e uma peculiaridade que aqueles puramente individuais não possuem. Ele é a sociedade. O grupo possui, portanto, uma mentalidade que não é idêntica à dos indivíduos, e os estados de consciência coletiva são distintos dos estados de consciência individual. Assim, “um pensamento encontrado em todas as consciências particulares ou um movimento que todos repetem não são por isso fatos sociais” mas suas encarnações individuais. Os fenômenos que constituem a sociedade têm sua origem na coletividade e não em cada um dos seus participantes. É nela que se deve buscar as explicações para os fatos sociais e não nas unidades que a compõem. Os fatos sociais podem ser menos consolidados, mais fluidos, são as maneiras de agir. É o caso das correntes sociais, dos movimentos coletivos, das correntes de opinião “que nos impelem com intensidade desigual, segundo as épocas e os países, ao casamento, por exemplo, ao suicídio, a uma natalidade mais ou menos forte etc.” Outros fatos têm uma forma já cristalizada na sociedade, constituem suas maneiras de ser: as regras jurídicas, morais, dogmas religiosos e sistemas financeiros, o sentido das vias de comunicação, a maneira como se constroem as casas, as vestimentas de um povo e suas inúmeras formas de expressão. Eles são, por exemplo, os modos de circulação de pessoas e de mercadorias, de comunicar-se, vestir-se, dançar, negociar, rir, cantar, conversar etc. que vão sendo estabelecidos pelas sucessivas gerações. Apesar de seu caráter ser mais ou menos cristalizado, tanto as maneiras de ser quanto de agir são igualmente imperativas, coagem os membros das sociedades a adotar 1 determinadas condutas e formas de sentir. Por encontrar-se fora dos indivíduos e possuir ascendência sobre eles, consistem em uma realidade objetiva, são fatos sociais. Para tentar comprovar o caráter externo desses modos de agir, de pensar ou de sentir, Durkheim argumenta que eles têm que ser internalizados por meio de um processo educativo. Desde muito pequenas, lembra, as crianças são constrangidas (ou educadas) a seguir horários, a desenvolver certos comportamentos e maneiras de ser e, mais tarde, a trabalhar. Elas passam por uma socialização metódica e “é uma ilusão pensar que educamos nossos filhos como queremos. Somos forçados a seguir regras estabelecidas no meio social em que vivemos.” Com o tempo, as crianças vão adquirindo os hábitos que lhes são ensinados e deixando de sentir-lhes a coação, aprendem comportamentos e modos de sentir dos membros dos grupos dos quais participam. Por isso a educação “cria no homem um ser novo”, insere-o em uma sociedade, leva- o a compartilhar com outros de uma certa escala de valores, sentimentos, comportamentos. Mais do que isso, nasce daí um ser superior àquele puramente natural. E se as maneiras de agir e sentir próprias de uma sociedade precisam ser transmitidas por meio da aprendizagem é porque são externas ao indivíduo. As representações coletivas são uma das expressões do fato social. Elas compreendem os modos “como a sociedade vê a si mesma e ao mundo que a rodeia” como, por exemplo, a massa de indivíduos que a compõem, as coisas de que se utilizam e o solo que ocupam, representando-os através de suas lendas, mitos, concepções religiosas, ideais de bondade ou de beleza, crenças morais etc. Como se produzem as representações coletivas? Através de uma imensa cooperação que se estende não apenas no espaço mas no tempo também; para constituí-las, espíritos diversos associaram-se, misturaram e combinaram suas idéias e sentimentos; longas séries de gerações acumularam nelas sua experiência e sabedoria. Uma intelectualidade muito particular, infinitamente mais rica e mais complexa do que a do indivíduo está aí concentrada. Por serem mais estáveis do que as representações individuais, são a base em que se originam os conceitos, traduzidos nas palavras do vocabulário de uma comunidade, de um grupo ou de uma nação. Outro componente fundamental do conjunto dos fatos sociais são os valores de uma sociedade. Eles também possuem uma realidade objetiva, independente do sentimento ou da importância que alguém individualmente lhes dá; não necessitam expressar-se por meio de uma pessoa em particular ou que esta esteja de acordo com eles. Como demonstração de que os fatos sociais são coercitivos e externos aos indivíduos, e de que exercem sobre todos uma autoridade específica, Durkheim refere-se aos obstáculos que deverá enfrentar quem se aventura a não atender a uma convenção mundana, a resistir a uma lei, a violar uma regra moral, a não usar o idioma ou a moeda nacional. Ele tropeçará com os demais membros da sociedade que tentarão impedi-lo, convencê-lo ou restringir sua ação, usarão de punições, da censura, do riso, do opróbrio e de outras sanções, incluindoa violência, advertindo-o de que está diante de algo que não depende dele. Quando optamos pela não-submissão, “as forças morais contra as quais nos insurgimos reagem contra nós e é difícil, em virtude de sua superioridade, que não sejamos vencidos. (...) Estamos mergulhados numa atmosfera de idéias e sentimentos coletivos que não podemos modificar. à vontade.” Mas isso não significa que a única alternativa para o indivíduo seja prostrar-se impotente diante das regras sociais ou viver permanentemente consciente da pressão dos fatos sociais. Apesar da existência de dificuldades impostas por um poder contrário de origem social, apresentam-se comportamentos inovadores, e as instituições são passíveis de mudança desde que “vários indivíduos tenham, pelo menos, combinado a sua ação e que desta combinação se tenha desprendido um produto novo” que vem a constituir um fato social. Assim, por exemplo, uma proposta pedagógica que esteja em conflito com a concepção de educação de seu tempo por conter “tendências do futuro, aspirações de um novo ideal”, pode vencer os obstáculos e impor-se, tomando o lugar das idéias aceitas. A ação transformadora é tanto mais difícil quanto maior o peso ou a centralidade que a regra, a crença ou a prática social que se quer modificar possuam para a coesão social. Enquanto nas sociedades modernas, até mesmo os valores relativos à vida - o aborto, a clonagem humana, a pena de morte ou a eutanásia - podem ser postos em questão, em sociedades tradicionais, os inovadores enfrentam maiores e às vezes insuperáveis resistências. 2 FATO SOCIAL Segundo Durkheim (1974: 1 a 3), há em toda sociedade um grupo determinado de fenômenos com caracteres nítidos que se distingue daqueles estudados pelas ciências da natureza. Assim, quando uma pessoa desempenha seus deveres de cidadão, de esposo ou de irmão ou quando se desincumbe de encargos que contraiu, essa pessoa pratica deveres que estão definidos no direito. Esse direito, entretanto, não foi à pessoa que o criou, portanto, existe fora dela. Assim também o devoto, ao nascer, encontra prontas as crenças e as práticas da vida religiosa, portanto, essas coisas existem fora dele. O mesmo ocorre com o sistema de sinais que a pessoa utiliza para exprimir seus pensamentos, o sistema de moeda que emprega para pagar as dívidas, os instrumentos de crédito que utiliza nas relações comerciais, as práticas a seguir na profissão, enfim, todas essas coisas funcionam independentemente do uso que a pessoa delas faça. Para Durkheim, esses tipos de conduta ou de pensamentos não são apenas exteriores ao indivíduo; são também dotados de um poder imperativo e coercitivo, em virtude do qual se lhe impõem, quer queira, quer não. O indivíduo encontra- se, pois, diante de uma ordem de fatos que apresenta caracteres muitos especiais. São os fatos sociais, os quais consistem na maneira de agir, de pensar e de sentir exterior ao indivíduo, dotados de um poder de coerção em virtude do qual se lhe impõe. Por conseguinte, não podem ser confundidos com os fenômenos orgânicos, pois consistem em representações e em ações; nem com os fenômenos psíquicos, que não existem senão na consciência individual e por meio dela. O fato social, portanto: a) é exterior às consciências individuais; b) exerce coerção sobre os indivíduos; c) apresenta generalidade no meio do grupo; d) constitui o objeto de estudo da sociologia. Conforme Durkheim (1974: 5, 6), essa definição de fato social pode ser confirmada por meio de uma experiência singela: basta que se observe a maneira pela qual são educadas as crianças. Toda educação consiste num esforço contínuo para impor às crianças maneiras de ver, de sentir e de agir às quais elas não chegariam espontaneamente. A pressão de todos os instantes que sofre a criança é a própria pressão do meio social tendendo a moldá-la à sua imagem, pressão de que tanto os pais quanto os mestres não são senão representantes e intermediários. Também são transmitidos pela educação outros fatos sociais, como as regras jurídicas, morais, religiosas etc. O estudo sociológico do fato social implica a observação de três regras básicas: a) os fatos sociais são coisas que só podem ser explicadas sendo relacionadas a outros fatos sociais; b) na explicação dos fatos sociais devem ser afastados todos os preconceitos e pré-noções; c) é preciso definir com precisão o objeto da investigação, procurando agrupar aqueles que manifestam características comuns. FORÇA DOS FATOS SOCIAIS Para Durkheim (1974: 6, 7), existem certas correntes de opinião que nos impelem com intensidade desigual, segundo as épocas e os países, ao casamento, ao suicídio ou então a uma natalidade maior ou menor. Tais correntes são fatos sociais. À primeira vista, parecem inseparáveis das formas que tomam nos casos particulares. Mas a estatística oferece-nos o meio de isolá-las. São, com efeito, expressas – e não sem exatidão – pelas taxas de nascimento, casamento, suicídios, isto é, pelo algarismo que se obtém dividindo-se o total médio anual dos casamentos, dos nascimentos, das mortes voluntárias pelo total médio dos homens em idade de casar, de procriar, de se suicidar. Como cada um desses números compreende todos os casos particulares indistintamente, as circunstâncias individuais que podem desempenhar qualquer papel na produção do fenômeno se neutralizam mutuamente e, por conseguinte, não contribuem para determiná-lo. O que cada número exprime é certo estado de alma coletiva. Durkheim interessou-se pelo estudo das taxas de suicídio por julgar que um estudo dessa natureza seria suficiente para testar a sua teoria e elevar a sociologia à categoria de disciplina científica. Assim, em uma obra intitulada O suicídio: um estudo sociológico, cuja síntese elaborada por Joel Charon (2000: 33 a 36) expomos na sequência. Durkheim analisa a força que os fatos sociais exercem sobre o suicida. Com essa análise pretende demonstrar a importância dos fatos sociais na determinação da probabilidade de suicídios. ESTUDO DO SUICÍDIO O suicídio, segundo Durkheim, sempre será uma escolha pessoal, e há todo tipo de razões psicológicas que levarão uma pessoa e não outra a decidir suicidar-se. Contudo, até mesmo nessa escolha extremamente individual atuam fatos sociais, ou seja, a taxa (alta ou baixa) de suicídio numa sociedade influencia a probabilidade de suicídio de um indivíduo. Para Durkheim, a causa determinante da 3 taxa (alta ou baixa) de suicídio é outro fato social que ele denomina solidariedade social. Assim, em comunidades com alta solidariedade social a taxa de suicídio deve ser menor do que nas comunidades com baixa solidariedade social. Para testar sua teoria, Durkheim analisou os registros sobre suicídio de várias províncias europeias. Durkheim dividiu as províncias em católicas e protestantes. Como o protestantismo ressalta a relação individual com Deus (baixa solidariedade) e o catolicismo salienta a Igreja como uma comunidade integrada que reverencia Deus em conjunto (alta solidariedade), as províncias protestantes deveria apresentar taxa de suicídio maior do que as províncias católicas. De fato, os registros apontaram que a taxa de suicídio era maior entre os protestantes. Assim, pode-se afirmar que a probabilidade de suicídio é maior entre protestantes do que entre católicos. De acordo com a teoria, nas pequenas cidades (alta solidariedade) a taxa de suicídio seria menor do que nas grandes cidades (baixa solidariedade), porque nestas impera a impessoalidade ou individualismo. Examinando os registros, constatou-se que efetivamente era o que ocorria. De acordo com a teoria de Durkheim, as pessoas casadas devem ser mais integradas na comunidade do que as solteiras, as mulheres mais do que os homens, as pessoas com filhos mais do que as sem filhos, as pessoas seminstrução universitária mais do que as com formação superior. Assim, segundo ele, casamento, família e ausência de educação superior integram mais a pessoa na comunidade, portanto, implica alta solidariedade. Ao passo que ser solteiro, do sexo masculino, sem filhos e ter educação superior implica baixa solidariedade. Os registros apontaram que a taxa de suicídio, de fato, era maior entre as pessoas solteiras, do sexo masculino, as sem filhos e as com instrução superior. Durkheim também verificou que em comunidades com altíssima solidariedade a taxa de suicídio aumentava, portanto, demonstrou que a relação entre solidariedade social e taxas de suicídios é curvilinear, isto é, as taxas são mais elevadas nos dois extremos. Também verificou que as taxas de suicídios aumentam em épocas de mudanças sociais e também em épocas de depressão econômica ou períodos de rápida prosperidade. Com base nos resultados do seu estudo, Durkheim classificou os seguintes tipos de suicídio: a) egoístas: ocorrem em virtude da baixa solidariedade social; b) altruístas: ocorrem em virtude da altíssima solidariedade social; c) anômicos: ocorrem em virtude de mudanças sociais, que levam o indivíduo a um estado de anomia (ausência de regras); d) fatalistas: ocorrem em virtude de mudança súbita na vida da pessoa: aumento ou diminuição repentina do status. A teoria de Durkheim influenciou todo tipo de análise de estatísticas: taxas de natalidade, mortalidade, aborto, divórcio, casamento etc. O procedimento com as pesquisas estatísticas mostrou que as representações coletivas são fatos de natureza específica, portanto, diferentes dos fenômenos psicológicos individuais; mostrou também que é possível determiná-las de maneira direta e não apenas através dos pensamentos e emoções individuais. Outro método para conhecimento direto das representações coletivas seria o exame das expressões permanentes dessas representações. Nesse sentido, a análise da religião e dos sistemas jurídicos, por exemplo, permitiria captar as representações coletivas, tendo em vista que a religião e os sistemas jurídicos consistem em expressões permanentes dessas representações. O MÉTODO DE ESTUDO DA SOCIOLOGIA SEGUNDO DURKHEIM No estudo da vida social, uma das preocupações de Durkheim era avaliar qual método permitiria fazê-lo de maneira científica, superando as deficiências do senso comum. Conclui que ele deveria assemelhar-se ao adotado pelas ciências naturais, mas nem por isso ser o seu decalque, porque os fatos que a Sociologia examina pertencem ao reino social e têm peculiaridades que os distinguem dos fenômenos da natureza. Tal método deveria ser estritamente sociológico. Com base nele, os cientistas sociais investigariam possíveis relações de causa e efeito e regularidades com vistas à descoberta de leis e mesmo de “regras de ação para o futuro”, observando fenômenos rigorosamente definidos. Os fenômenos sociais devem ser tratados como coisas, segundo Durkheim. "A coisa se opõe à ideia como se opõe entre si tudo o que conhecemos a partir do exterior e tudo o que conhecemos a partir do interior. É coisa todo objeto do conhecimento que a inteligência não penetra de maneira natural, tudo aquilo de que não podemos formular uma noção adequada por simples processo de análise mental, tudo o que o espírito não pode chegar a compreender, senão sob condição de sair de si mesmo, por meio da observação e da experimentação, passando, progressivamente, dos caracteres mais exteriores e mais imediatamente acessíveis para os menos visíveis e mais profundos" (1966: 19). Assim, se é da natureza dos fatos sociais serem tratados como coisas, eles podem e devem ser estudados objetiva e cientificamente. 4 QUESTÃO DA SOLIDARIEDADE Quando os homens possuem pouca divisão do trabalho em sua vida em comum, existe entre eles um tipo de solidariedade baseado na semelhança entre as pessoas. Numa tribo de índios, por exemplo, todas as pessoas fazem praticamente as mesmas tarefas: caçam, pescam, fazem cestos de vime, participam de rituais religiosos, etc. A única divisão que geralmente existe - além da presença de indivíduos destacados, como o chefe ou o curandeiro – é a divisão sexual de tarefas entre homens e mulheres. O tipo de solidariedade que se estabelece entre essas pessoas e o que Durkheim chama de solidariedade mecânica. As pessoas estão juntas porque fazem juntas as mesmas coisas. Mas no caso radicalmente oposto, ou seja, na moderna sociedade industrial, as tarefas são extremamente divididas. Com a divisão do trabalho social, cada vez mais, os indivíduos desempenham funções diferentes umas das outras. Tal processo se radicalizou com o capitalismo, que levou a uma superespecialização das tarefas. O tipo de solidariedade que se estabelece entre os indivíduos com este elevado grau de divisão do trabalho não pode ser a mesma solidariedade dos índios na tribo. Na sociedade industrial moderna há uma solidariedade por diferença e não mais por semelhança. E o que Durkheim chama de solidariedade orgânica. As pessoas não estão juntas porque fazem juntas as mesmas coisas, mas o contrário: estão juntas porque fazem coisas diferentes e, portanto, para viver dependem das outras, que fazem coisas que elas não querem ou não são mais capazes de fazer. Se em Comte a Teoria da História pressupunha a passagem contínua das sociedades por etapas, ou estágios de desenvolvimento, que iriam do teológico ao positivo, findando a marcha histórica da humanidade neste, em Durkheim a postura finalista quanto ao devir do processo histórico não muda, apenas sofistica-se, uma vez que sua compreensão continuou sendo etapista e fatalista, ou seja, seguiu prescrevendo para as civilizações o percurso único e inevitável que as levaria dos estágios inferiores aos superiores de cultura e organização social, que findariam, necessariamente, com o advento da sociedade capitalista industrial. A visão de História dos positivistas padeceu de seu fascínio pela modernidade burguesa, a ponto de admitir que, além dela, restava para o homem apenas o aperfeiçoamento da ordem que ela fundou, por meio das revoluções liberais. OS INDICADORES DOS TIPOS DE SOLIDARIEDADE Durkheim utiliza-se da predominância de certas normas do Direito como indicador da presença de um ou do outro tipo de solidariedade, já que esta, por ser um fenômeno moral, não pode ser diretamente observada. Não obstante se sustente nos costumes difusos, o Direito é uma forma estável e precisa, e serve, portanto, de fator externo e objetivo que simboliza os elementos mais essenciais da solidariedade social. Por outro lado, as sanções que são aplicadas aos preceitos do Direito mudam de acordo com a gravidade destes, sendo assim possível estudar suas variações. O papel do Direito seria, nas sociedades complexas, análogo ao do sistema nervoso: regular as funções do corpo. Por isso expressa também o grau de concentração da sociedade devido à divisão do trabalho social, tanto quanto o sistema nervoso exprime o estado de concentração do organismo gerado pela divisão do trabalho fisiológico, isto é, sua complexidade e desenvolvimento. Enquanto as sanções impostas pelo costume são difusas, as que se impõem através do Direito são organizadas. Elas constituem duas classes: as repressivas - que infligem ao culpado uma dor, uma diminuição, uma privação; e as restitutivas - que fazem com que as coisas e relações perturbadas sejam restabelecidas à sua situação anterior, levando o culpado a reparar o dano causado. A maior ou menor presença de regras repressivas pode ser atestada através da fração ocupada pelo Direito Penal ou Repressivo no sistema jurídico da sociedade. Naquelas sociedades onde as similitudes entre seus componentes são o principal traço, ou seja, na solidariedade mecânica, um comportamento desviante é punido por meio deações que têm profundas raízes nos costumes. Os membros dessas coletividades participam conjuntamente de uma espécie de vingança contra aqueles que violaram algum forte sentimento compartilhado que tenha para a sociedade a função central de assegurar sua unidade. Sendo a consciência coletiva tão significativa e disseminada, feri-la é uma violência que atinge a todos aqueles que se sentem parte dessa totalidade. O crime provoca uma ruptura dos elos de solidariedade, e sua incontestável reprovação serve, do ponto de vista da sociedade em questão, para confirmar e vivificar valores e sentimentos comuns e, desde uma perspectiva sociológica, permite demonstrar que alguns valores possuem a função de assegurar a existência da própria associação. A vingança é exercida contra o agressor na mesma intensidade com que a violação por ele perpetrada atingiu uma crença, uma tradição, uma prática coletiva, um mito ou qualquer outro componente mais ou menos essencial para a garantia da continuidade daquela 5 sociedade. Nas sociedades primitivas é a assembléia do povo que faz justiça sem intermediários. Os sentimentos coletivos estão profundamente gravados em todas as consciências, são enérgicos e incontestes, e assim também sua punição. Já numa sociedade onde se desenvolveu uma divisão do trabalho, ou seja, na solidariedade orgânica, as tarefas específicas a certos setores já não são comuns a todos, e tampouco poderiam sê-lo os sentimentos que seu descumprimento gera. Aquele que é acusado de não observar um contrato não é humilhado, nem aviltado, nem revolta a opinião pública, a qual, às vezes, até desconhece as razões para a condenação. Embora possa haver entre as regras específicas de cada um desses setores originados com a divisão do trabalho algumas relações sujeitas ao Direito Penal, elas em geral são estranhas ou atingem debilmente a consciência comum. Elas constituem o Direito Civil, Comercial, Processual, Administrativo e Constitucional. Este conjunto de regras é tão especializado que é necessário criar a cada vez novos órgãos para executá-las. Ao contrário do Direito Penal ou Repressivo, que corresponde ao “coração” da sociedade, o Direito Cooperativo e as sanções restitutivas que dele derivam aplicam-se a círculos especiais nas sociedades onde impera a divisão do trabalho social. Eles sobrepujam a consciência coletiva. Diante da ocorrência de uma perturbação nessas funções divididas, o Direito Cooperativo ou Restitutivo é chamado a contribuir para o pronto restabelecimento do anterior estado de coisas. DIREITO E SOLIDARIEDADE Para Durkheim (1978a), a sociedade não é uma simples soma de indivíduos; ela representa uma realidade específica que tem suas características próprias. Segundo ele, nada se poderia produzir de coletivo se as consciências individuais não existissem, mas essa condição, apesar de necessária, não é suficiente. É preciso, portanto, que essas consciências individuais estejam associadas e combinadas; é dessa combinação que resulta a vida social. Em suma, a sociedade ultrapassa o indivíduo, motivo pelo qual está em condições de impor maneiras de agir e de pensar. Mas a vida geral da sociedade não pode ser ampliada sem vida jurídica que, simultaneamente, abranja os mesmos limites e relações, refletindo-se necessariamente no direito todas as modalidades essenciais da solidariedade social. “Quanto mais os membros de uma sociedade são solidários, tanto mais mantêm relações diversas, seja uns com os outros, seja com o grupo tomado coletivamente; pois, se seus encontros fossem raros, dependeriam uns dos outros apenas de uma maneira intermitente e fraca. Por outro lado, o número destas relações é necessariamente proporcional àquele das regras jurídicas que as determinam. Com efeito, a vida social, em todas as partes em que ela existe de uma maneira durável, tende inevitavelmente a tomar uma forma definida e a organizar-se; o direito não é outra coisa senão esta organização mesma, no que ela tem de mais estável e de mais preciso. A vida geral da sociedade não pode se desenvolver num ponto sem que a vida jurídica se estenda ao mesmo tempo e na mesma proporção. Portanto, podemos estar certos de encontrar refletidas no direito todas as variedades essenciais da solidariedade social” (1978a: 32). Solidariedade social é, portanto, uma estrutura de relações e de vínculos recíprocos; ela cria entre os homens um sistema de direitos e deveres que os ligam uns aos outros de maneira durável. Solidariedade é forma de integração social; nesse sentido, o direito é um símbolo visível da solidariedade social. Durkheim distingue dois tipos de solidariedade social: a) solidariedade mecânica: ocorre nas sociedades simples (primitivas ou arcaicas), cuja estrutura social é formada de segmentos similares e elementos homogêneos, fundados na semelhança, ou seja, na uniformidade de comportamento; nessas sociedades os indivíduos partilham dos mesmos valores e sentimentos e o direito preponderante é o penal, que se faz acompanhar de sanções repressivas; b) solidariedade orgânica: ocorre nas sociedades complexas (civilizadas ou modernas), constituídas por um sistema de órgãos diferentes, dos quais cada um tem um papel especial, sendo eles próprios formados de partes diferenciadas; fundamenta-se na divisão do trabalho, no qual o direito preponderante é o dos contratos, que se faz acompanhar de sanções restitutivas. DIREITO E SOCIEDADE COMPLEXA Segundo Durkheim (1978a), as sociedades mais complexas não podem formar-se sem que a divisão do trabalho se desenvolva, motivo pelo qual se pode formular a seguinte proposição: o ideal de fraternidade humana não pode realizar-se senão na medida em que a divisão do trabalho progride. A divisão do trabalho produz solidariedade porque cria entre os homens um sistema de direitos e deveres que os liga uns aos outros de maneira durável. A divisão do trabalho dá origem a regras que asseguram o 6 concurso pacífico e regular das funções divididas. Assim, formam-se as regras cujo número cresce à medida que o trabalho se divide e cuja ausência torna a solidariedade orgânica impossível ou imperfeita. Na solidariedade orgânica os indivíduos são agrupados segundo a natureza particular da atividade social a que se dedicam. Seu meio natural e necessário é o meio profissional. O que marca o lugar de cada um na sociedade é a função que preenche. O direito repressivo é típico de sociedades primitivas ou arcaicas nas quais o indivíduo dificilmente é distinguido do grupo a que pertence, ao passo que o direito Restitutivo é típico das sociedades complexas ou modernas nas quais o indivíduo se tornou uma pessoa capaz de estabelecer livremente relações contratuais com outros indivíduos. Desse modo, o desenvolvimento paralelo do Contrato e do Estado, ambos acompanhados de sanções restituitórias, é a manifestação mais exata do fortalecimento da solidariedade orgânica e do direito que lhe corresponde. Assim, à medida que a solidariedade mecânica, pelo influxo da divisão do trabalho, vai sendo transformada em solidariedade orgânica, o direito vai abandonando o seu caráter repressivo (direito penal), para assumir predominantemente a sanção restitutiva, característica do direito civil, comercial, administrativo e tributário. O SIGNIFICADO SOCIAL DO CRIME Dentre as numerosas páginas dedicadas à discussão do crime em diferentes textos, talvez o mais interessante a reter seja o argumento de que a essência do crime não reside no ato em si, mas no fato de que constitui uma ofensa grave à consciência coletiva, ou seja, "não se deve dizer que um ato ofenda a consciência comum por ser criminoso, mas que é criminoso porque ofende a consciência comum" (DURKHEIM, 1999a, p. 52). Portanto, é na própria consciência coletiva que se deve buscar as explicações para, aquilo que éconsiderado um crime em determinada sociedade, afinal o crime é aquilo que coloca em risco a validade dessas representações que constituem essa consciência, que é a maior fonte de autoridade moral e a condição de possibilidade da própria sociedade. Dessa forma, segundo o autor, "o crime não é apenas a lesão de interesses, inclusive consideráveis, é uma ofensa a uma autoridade de certa forma transcendente" e, acrescenta, "experimentalmente, não há força moral superior ao indivíduo, salvo a consciência coletiva” (DURKHEIM, 1999a, p. 56). Vejamos agora como esse tema aparece na última seção do terceiro capítulo do livro As regras do método sociológico, onde encontramos uma afirmação que é possivelmente a mais controversa a esse respeito, qual seja, a de que o crime é entendido como um “fato normal”. Em primeiro lugar, é preciso mencionar que o autor afirma que um fato social é "normal" quando ele é o que deveria ser e é considerado patológico quando deveria ser de outro modo. Portanto, o próprio critério de normal tem seu sentido e sua validade determinados na relação com um fim - o que deveria ser - previamente estabelecido. Que fim é este? Durkheim o apresenta diretamente a partir da famosa metáfora biológica: "Com efeito, tanto para as sociedades quanto para os indivíduos, a saúde é boa e desejável, enquanto a doença é algo ruim, que deve ser evitado” (DURKHEIM, 1999b, p. 51). Nesse sentido, a saúde da sociedade é esse fim superior que deveria servir como parâmetro para o estabelecimento do normal e do patológico. Na verdade, há dois sentidos implicados no conceito de normal. No primeiro, o normal é aquilo que é geral na extensão de uma dada sociedade, ou que ocorre em todas as sociedades de um mesmo “tipo”. No segundo, refere-se àquilo que está implicado na lógica subjacente ao real, mesmo que não seja compartilhado pela “média'' dos indivíduos. Do mesmo modo, um comportamento que não corresponde ao normal pode ser patológico, quando ameaça a existência da vida social enquanto um organismo minimamente integrado, ou pode ser simplesmente desviante. Nesse caso, ele não corresponde ao comportamento “normal”, mas não tem um impacto prejudicial; ao contrário, pode até ter uma função útil, na medida em que explicita essa lógica subjacente do real, que ainda não foi incorporada pela maioria dos indivíduos. Vejamos como isso se relaciona com a questão do crime. Vamos inicialmente relembrar que Durkheim define o crime como qualquer forma de violação ou ofensa, por menor que seja, da consciência moral. Ao afirmar que se trata de um fenômeno normal, não quer dizer que o crime seja uma prática generalizada em todas as sociedades, pois uma prática generalizada sequer poderia ser considerada crime; mas quer antes dizer que se trata de um fato presente em todas as sociedades, isto é, generalizado em uma “espécie" determinada, para não dizer em todas as espécies. Nesse sentido, o crime nos ajuda a ver a diferença entre um fato social normal qualquer e um fato social moral. O crime, dentro de determinadas taxas, faz parte do funcionamento normal da sociedade, o que o torna um fato social normal. No entanto, a própria definição de crime é a de um ato imoral, enquanto 7 ofensa à consciência pública, o que nos faz perceber que nem tudo o que é "normal" é moral. Mas o autor vai mais além, afirmando que o crime, ao menos certo tipo de crime, não é apenas algo inevitável, mas também desejável. Porém, como é possível que o crime possa ser um fato desejável? Ora, para Durkheim, uma sociedade sem crime, isto é, sem desvios da consciência moral média, seria uma sociedade de santos, uma sociedade impossível, baseada sobre uma consciência social absolutamente homogênea e inflexível. Não quer dizer que o crime não possa ter formas anormais, como no caso de uma taxa de criminalidade excessiva, que inviabilizaria _ a própria convivência social, incutindo medo e insegurança. No entanto, a existência de alguns crimes é inevitável, enquanto a existência de outros é até mesmo profundamente desejável. Segundo o autor, o crime está ligado às condições fundamentais de toda e qualquer vida social e representa o elemento que torna possível a dinâmica, ou melhor, a própria evolução da moral e do direito que devem mesmo ser dinâmicos. Esse tipo particular de crime, que antecipa a consciência moral do futuro e justamente por isso desvia daquela existente no presente, está na base de uma ideia quase paradoxal da teoria durkheimiana que pode ser resumida da seguinte maneira: aquilo que é considerado a moral normal de um determinado período em uma sociedade determinada é a moral encarnada na consciência dessa sociedade; portanto, um comportamento ou ideia que desafie essa consciência moral será sempre considerado imoral. Podemos, por exemplo, pensar no caso do divórcio, ou até mesmo das relações homo afetivas até a primeira metade do século XX. Eram comportamentos ou ideias repudiados pela ampla maioria dos indivíduos e, nesse sentido, constituíam um crime, seja ele do ponto de vista da moral, seja do ponto de vista do direito, ou de ambos. Contudo, se esse tipo de crime for considerado um movimento de pressão por transformação da moral existente e que antecipe as mudanças que estão por vir, que estão inscritas na própria dinâmica da sociedade, a sociologia da moral e do direito deverá considerá-lo não apenas normal, como desejável. Aliás, de um ponto de vista estritamente ético, esse tipo de crime será tão ou mais desejável do que as próprias regras atualmente consideradas morais. Vejamos a seguir como Durkheim descreve essa função transformadora e desejável do crime: "Não é mais possível hoje contestar que não apenas a moral e o direito variam de um tipo social a outro, como também mudam em relação a um mesmo tipo, se as condições da existência coletiva se modificam. Mas, para que essas transformações sejam possíveis, é preciso que os sentimentos coletivos que estão na base da moral não sejam refratários à mudança, que tenham, portanto, apenas uma energia moderada. Se fossem demasiado fortes, deixariam de ser plásticos. Todo arranjo, com efeito, é um obstáculo para um novo arranjo, e isso tanto mais quanto mais sólido for o arranjo primitivo. [...] Ora, se não houvesse crimes, essa condição não seria preenchida; pois tal hipótese supõe que os sentimentos coletivos teriam chegado a um grau de intensidade sem exemplo na história. Nada é bom indefinidamente e sem medida. É preciso que a autoridade que a consciência moral possui não seja excessiva; caso contrário, ninguém ousaria contestá-la, e muito facilmente ela se cristalizaria numa forma imutável. Para que ela possa evoluir, é preciso que a originalidade individual possa vir à luz; ora, para que a do idealista que sonha superar seu século possa se manifestar, é preciso que a do criminoso, que está abaixo do seu século, seja possível. Uma não existe sem a outra'' (DURKHEIM, 1999b, p. 71). Portanto, talvez isso resuma uma das ideias mais intrigantes da teoria de Durkheim, que pode ser considerada uma das tarefas mais importantes da sociologia do direito de matriz durkheimiana. Ou seja, essa matriz sociológica que nos apareceu a princípio como fundamentalmente positiva mostra que é possível ser investida de uma intenção crítica, na medida em que o direito não é considerado simplesmente um epifenômeno dos costumes e a sociologia não precisa ser apenas uma descrição das regras jurídicas que sintetizam esses costumes na forma da lei. Referência bibliográfica: Lakatos, Eva Maria. Sociologia geral I Eva Maria Lakatos, Marina de Andrade Marconi, colaboradora. 6. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 1990. Ferreira, Delson. Manual de Sociologia: dos clássicos à Sociologia da informação. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2003. SILVA, Felipe Gonçalves e RODRIGUEZ, José Rodrigo. Manual de SociologiaJurídica. São Paulo: Saraiva, 2013. QUINTANEIRO, Tânia. Um toque de clássicos: Marx, Durkheim e Weber. 2 ed. rev. amp. - Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002. ASSIS, Olney Queiroz; KUMPEL, Vitor Frederico. Manual de antropologia jurídica. São Paulo: Saraiva, 2011. 8 A ESPECIFICIDADE DO OBJETO SOCIOLÓGICO O MÉTODO DE ESTUDO DA SOCIOLOGIA SEGUNDO DURKHEIM
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