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4. Ação penal - resumo

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Direito Processual Penal I – Prof. Renato Fanin
AÇÃO PENAL (art. 24 a 62 do CPP)
1. Conceito de ação penal
Ação penal é o direito de se provocar a atividade jurisdicional do Estado para que a norma penal seja aplicada no caso concreto.
O direito de ação tem sua base no direito fundamental de acesso ao Poder Judiciário, previsto no art. 5º, XXXV, da Constituição Federal: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”, assegurando ao titular do direito de ação provocar o Estado-Juiz para a obtenção da prestação jurisdicional.
O texto constitucional também consagra o direito de ação penal do ofendido ou seu representante legal no caso de omissão do órgão estatal incumbido de promover a ação penal pública (Ministério Público, cf. art. 129, I, da CF). Dessa forma, o art. 5º, LIX, da CF, estabelece que: “será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal”, o que se denomina de ação penal privada subsidiária da pública (art. 29, CPP).
2. Condições da ação penal
Condições da ação são requisitos necessários e indispensáveis para o regular exercício do direito de ação, a formação da relação jurídica processual penal e a obtenção da prestação jurisdicional.
As condições da ação classificam-se em condições gerais e condições específicas.
2.1 Condições gerais da ação
São condições que devem ser obrigatoriamente preenchidas em todas as espécies de ação penal, sob pena de rejeição da denúncia ou da queixa (art. 395, II, CPP). São elas:
Possibilidade jurídica do pedido: na ação penal o pedido é juridicamente possível se o fato narrado encontrar correspondência na norma penal incriminadora, ou seja, consistir numa infração penal.
A causa de pedir deve existir, em abstrato, no ordenamento jurídico.
A ausência de pedido juridicamente possível (e.g., fato atípico) enseja a rejeição da inicial por falta de condição para o exercício da ação penal (art. 395, II, CPP).
Ressalte-se que, mesmo superada a fase de recebimento da denúncia ou queixa, depois de oferecida a resposta à acusação, o juiz poderá absolver sumariamente o acusado quando verificar a existência manifesta de causa excludente de ilicitude e de culpabilidade, salvo, nessa última, a imputabilidade (art. 397, I e II, CPP), bem como quando verificar que o fato evidentemente não constituir crime (art. 397, III, CPP).
Interesse de agir
O interesse de agir é formado pelo trinômio necessidade, adequação e utilidade.
O interesse-necessidade é inerente ao processo penal, pois não pode ser imposta sanção sem o devido processo legal, sem a ação penal, ou seja, a lide penal não pode ser resolvida na seara extrajudicial.
O interesse-adequação consiste na adequação da via eleita pelo titular da ação penal. O procedimento deve ser adequado para a solução do litígio. 
O interesse-utilidade significa que o provimento jurisdicional deve ser útil e eficaz para o autor da ação penal, ou seja, para a realização do jus puniendi. No caso de se verificar a existência de causa extintiva da punibilidade, como a prescrição, é evidente que a ação penal não terá utilidade. 
A falta de interesse de agir é causa de rejeição da inicial por falta de condição para o exercício da ação penal (art. 395, II, CPP).
Legitimidade ad causam
Legitimidade ad causam é a legitimação para figurar no polo ativo e no polo passivo da ação penal.
No polo ativo deve figurar o titular da ação penal. Não ação penal pública a legitimidade ativa pertence privativamente ao Ministério Público (art. 129, I, CF) e, subsidiariamente, no caso de inércia do promotor de justiça, ao ofendido ou seus representantes legais, que poderão propor a ação penal privada subsidiária da pública (art. 5º, LIX, CF e art. 29 CPP). Na ação penal privada a legitimidade para a propositura será do ofendido ou de seus representantes legais (art. 30, CPP) ou dos sucessores, no caso de sua morte ou ausência (art. 31, CPP).
No polo passivo da ação penal figurará a pessoa a qual se imputa a infração penal. A legitimidade passiva tem relação direta com a imputabilidade, portanto, será parte ilegítima o menor de 18 anos de idade (art. 27, CP), que ficará sujeito às normas estabelecidas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.
Há divergência com relação à legitimidade passiva da pessoa jurídica, diante do disposto no art. 225, § 3º, da CF, que expressamente prevê que: “as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas e jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparas os danos causados” e do art. 3º da Lei 9.605/98, estabelecendo que as pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente.
A primeira posição sustenta que a pessoa jurídica só poder responder na seara cível e administrativa, não na penal.
A segunda posição admite a responsabilidade penal da pessoa jurídica, pois respaldada no art. 225, § 3º, da CF e no art. 3º da Lei 9.605/98. 
2.2 Condições especiais da ação penal
Além das condições gerais comuns a todas espécies de ação penal, algumas delas exigem a presença de condições específicas, também denominadas de condições de procedibilidade, previstas expressamente na legislação, sob pena rejeição da inicial (art. 395, II, CPP).
Nesse contexto, nas ações penais públicas condicionadas, são condições especiais ou condições de procedibilidade a representação do ofendido (e.g., art. 147, parágrafo único, CP) ou a requisição do Ministro da Justiça (art. 145, parágrafo único, CP).
Existem, ainda, as condições de prosseguibilidade, que condicionam o prosseguimento da ação penal já iniciada, e configuram a chamada crise de instância. Como exemplo, se deflagrada a ação penal e sobrevier doença mental do acusado, o processo ficará suspenso e somente poderá prosseguir se o acusado se restabelecer (art. 152, caput, CPP). Suspende-se o processo, mas não a prescrição.
3. Classificação das ações penais
As ações penais são tradicionalmente classificadas pela titularidade para seu exercício e são de duas espécies: ação penal pública (art. 100, caput, primeira parte, e § 1º, CP e art. 24, primeira parte, do CPP) e ação penal privada (art. 100, caput, segunda parte, e § 2º, CP e art. 30 do CPP).
A ação penal pública é subdividida em mais duas espécies: incondicionada e condicionada.
Por sua vez, a ação penal privada é subdividida em três espécies: exclusiva, personalíssima e subsidiária da pública.
A ação penal pública incondicionada é a regra geral no processo penal. As exceções estão previstas expressamente na lei. 
Para se definir a espécie de ação é necessário analisar a norma incriminadora do Código Penal ou da Legislação Especial.
Se houver referência à necessidade de representação do ofendido ou de requisição do Ministro da Justiça estaremos diante da ação penal pública condicionada, como é o caso do crime de ameaça, que “somente se procede mediante representação” (art. 147, parágrafo único, CP) ou do crime contra a honra do Presidente da República ou chefe de governo estrangeiro, que “procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça” (art. 145, parágrafo único, CP).
De outro vértice, se a norma declarar que “somente se procede mediante queixa”, o crime será de ação penal privada, como ocorre no art. 145, caput, e art. 345, parágrafo único, do CP.
No mais, se não existir referência expressa sobre a necessidade de representação, requisição ou queixa, a ação penal será pública incondicionada, posto que é a regra geral adotada pelo sistema processual penal brasileiro.
4. Ação penal pública
A ação penal pública é de titularidade do Ministério Público que a promoverá privativamente (art. 129, I, CF), salvo no caso de inércia, que ensejará a propositura da ação penal privada subsidiária da pública pelo ofendido (art. 5º, LIX, CF).
A ação penal pública será de duasespécies: incondicionada e condicionada.
4.1 Ação penal pública incondicionada
4.1.1 Titularidade
A titularidade para propositura é o Ministério Público (art. 129, I, CF; art. 24, primeira parte, e art. 257, I, do CPP) e independe da vontade do ofendido ou de qualquer outra pessoa, prevalecendo o interesse público sobre o particular. A ação penal inicia-se com a denúncia.
4.1.2 Princípios
A ação penal pública incondicionada e, em regra, a ação penal pública condicionada, são norteadas pelos seguintes princípios:
a) obrigatoriedade: consiste no dever do Ministério Público em promover a ação penal quando houver prova da materialidade e indícios de autoria de um crime (fato típico, antijurídico e culpável), salvo nas situações que inviabilizam a ação penal, como, por exemplo, as causas de extinção de punibilidade.
A obrigatoriedade é diametralmente oposta ao princípio da oportunidade, não sendo permitido um juízo de conveniência ao Ministério Público.
b) indisponibilidade: depois de proposta a ação penal, o Ministério Público não poderá dela desistir (art. 42, CPP). Também é vedado ao parquet desistir do recurso interposto (art. 576, CPP). Entretanto, o Ministério Público não é obrigado a recorrer das decisões, pode pedir a absolvição e inclusive recorrer ou impetrar habeas corpus em favor do acusado.
O princípio da indisponibidade é flexibilizado pela Lei 9.099/95, que permite a proposta de transação penal mesmo depois de ajuizada a ação penal (art. 79) e a proposta de suspensão condicional do processo (art. 89).
c) divisibilidade: quando existir mais de um autor da infração penal, o Ministério Público pode ajuizar a ação contra um ou alguns deles, relegando para outro momento a propositura da ação contra os demais, diante, por exemplo, da necessidade de colheita de outras provas com relação a estes. Essa opção do promotor de justiça não importa em arquivamento implícito do inquérito policial, que depende de decisão expressa judicial.
Parte da doutrina sustenta que a ação penal pública é regida pelo princípio da indivisibilidade, ou seja, o Ministério Público deverá propor a ação penal contra todos aqueles que praticaram a infração penal.
No entanto, o princípio da divisibilidade é acolhido pela doutrina majoritária e pela jurisprudência. Ademais, a indivisibilidade, prevista no art. 48 do CPP, somente é aplicada à ação penal privada.
d) oficialidade: a propositura da ação penal pública é de incumbência do órgão oficial, no caso, o Ministério Público. A exceção a esse princípio ocorre no caso de inércia do parquet e o ofendido poderá propor a ação privada subsidiária (art. 5º. LIX, CF; art. 29, CPP, e art. 100, § 3º, CP). A inércia não retira do Ministério Público a titularidade para propor a ação penal. Durante o período no qual é possível o ajuizamento da ação privada (seis meses a contar do término do prazo de oferecimento da denúncia) a legitimidade será concorrente.
e) oficiosidade: o Ministério Público, como titular da ação penal pública incondicionada, deve agir de ofício, independente de qualquer provocação, exceto na ação penal pública condicionada à representação do ofendido ou requisição do Ministro da Justiça.
f) autoritariedade: o encarregado da persecução penal em juízo é uma autoridade pública, o promotor de justiça na esfera estadual e o procurador da república na esfera federal.
g) intranscendência: conhecido também como princípio da personalidade, a intranscendência significa que a ação penal somente deve ser proposta contra quem se imputa a prática da infração penal, não podendo atingir terceiros que não tenham concorrido para o cometimento do crime (art. 29, CP).
4.2 Ação penal pública condicionada
4.2.1 Titularidade
A ação penal pública condicionada, assim como a incondicionada, é de titularidade privativa do Ministério Público, salvo na hipótese da ação privada subsidiária. A ação também se inicia com a denúncia.
No entanto, além do interesse público inerente à ação penal pública, certos crimes tem influência na esfera privada da vítima, atingindo sua intimidade.
Por essa razão o legislador optou pela necessidade de manifestação da vontade da vítima ou de quem a represente para que a ação penal seja deflagrada, o que se denomina de representação (delatio criminis postulatória) e se constitui em condição de procedibilidade.
Ainda, por uma opção de natureza política, a ação penal pode ser condicionada à requisição do Ministro da Justiça, como ocorre nos crimes contra a honra do Presidente da República ou de chefe de governo estrangeiro.
4.2.2 Representação
4.2.2.1 Conceito
Representação é manifestação de vontade da vítima ou de seu representante legal no sentido de solicitar a instauração do inquérito e autorizar o Ministério Público a propor a ação penal. Constitui condição de procedibilidade para a ação penal pública condicionada.
Não é exigida uma representação para cada fase da persecução penal. A manifestação na fase policial preserva seu efeito de condição de procedibilidade para a fase judicial, salvo se houver a retratação.
A representação do ofendido não vincula o Ministério Público, que, como titular da ação penal, pode pedir o arquivamento do inquérito policial ou oferecer denúncia por crime com classificação jurídica diversa da indicada na representação.
A propositura da ação penal condicionada sem a representação da vítima importar em rejeição da denúncia (art. 395, II, 2ª parte, CPP). Porém, se recebida a denúncia, a ausência da representação é causa de nulidade do processo (art. 564, III, a, CPP). 
4.2.2.2 Aspectos formais
Não se exige rigor formal na representação, que poder ser escrita ou oral, feita pessoalmente ou por procurador com poderes especiais. A representação oral deverá ser reduzida a termo para constar dos autos (art. 39, CPP).
Destarte, o rigor formal é desnecessário, basta que se evidencie a vontade inequívoca do ofendido em responsabilizar penalmente o autor do crime.
Nos termos do art. 39 do CPP, a representação poderá ser feita ao juiz, ao órgão do Ministério Público ou à autoridade policial, que são seus destinatários.
4.2.2.3 Eficácia objetiva da representação
É predominante na doutrina o entendimento de que a representação tem eficácia objetiva, ou seja, se houver mais de um autor da infração penal e o ofendido representar nominalmente somente quanto a um ou parte deles, o efeito da representação se estenderá quanto aos demais, autorizando o Ministério Público a propor a ação penal quanto a todos que praticaram o crime. 
Há posição minoritária de que a representação está restrita aos autores indicados pelo ofendido e que pretende sejam responsabilizadas criminalmente.
4.2.2.4 Titular do direito de representação
O titular do direito de representação é o ofendido maior de 18 anos de idade e capaz, que decidirá pela conveniência de autorizar ou não a persecução penal (art. 24, 2ª parte, CPP).
Se o ofendido for menor de 18 anos de idade ou incapaz em virtude enfermidade mental, o direito de representação será exercido por seu representante legal (pais, tutor, curador ou guardião legal).
No entanto, se o ofendido menor ou incapaz não possuir representante legal ou os interesses deste colidirem com o daquele, deverá o juiz, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, nomear curador especial (art. 33, CPP). O curador especial é um substituto processual. A doutrina majoritária entende que o curador não está obrigado a representar, cabendo-lhe avaliar a conveniência da persecução penal diante dos interesses do incapaz (art. 33, CPP).
No caso de morte ou declaração judicial de ausência do ofendido, o direito de representação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão – CADI – (art. 24, § 1º, CPP). Esse rol é taxativo e não permite ampliação. Embora haja divergência na doutrina, o companheiro deve integrar esse rol, pois a união estável é equiparada ao casamento pela ConstituiçãoFederal (art. 226, § 3º, CF).
A ordem de preferência para o exercício da representação é a disposta no art. 24, § 1º, CPP (CADI), assim, se o primeiro deles representar a persecução penal estará autorizada. Contudo, no caso de discordância entre os legitimados, deve prevalecer a vontade daquele que ofereceu a representação.
Em se tratando de pessoa jurídica legalmente constituída, a representação deve ser exercida pela pessoa indicada em seus respectivos contratos ou estatutos, ou no silêncio destes, pelos seus diretores ou sócios-gerentes (art. 37, CPP). A título de exemplo, a pessoa jurídica pode ser vítima de furto de coisa comum (art. 156, CP), que depende de representação.
4.2.2.5 Prazo
Nos termos do art. 38 do CPP, salvo disposição em contrário, o prazo para a representação será de 06 (seis) meses a contar do dia em que o ofendido vier a saber quem é o autor do crime (art. 103 do CP). Saliente-se que o dies a quo será o do conhecimento da autoria e não a data do fato.
Se o ofendido for menor de 18 anos de idade ou mentalmente incapaz o prazo decadencial flui somente para o representante legal. Se a vítima atingir a maioridade ou recuperar-se da enfermidade o prazo de seis meses passará a fluir para ele.
No caso de morte do ofendido antes do decurso do prazo decadencial, o prazo começará a fluir para o cônjuge, ascendente, descendente ou irmão a partir da data que tiverem conhecimento da autoria da infração (art. 38, parágrafo único, CPP).
O prazo para o oferecimento da representação é decadencial, portanto, não suspende, interrompe ou prorroga, devendo ser contado na forma do art. 10 do CP (prazo material), quer dizer, inclui-se o dia do começa e exclui-se o dia do final. Decorrido o prazo, sem a representação, estará extinta a punibilidade do autor da infração penal (art. 107, IV, CP).
O prazo do art. 38 do CPP é a regra geral, porém, ressalva disposição em contrário. A título de exemplo, na Lei de Imprensa, o prazo para representação era de 3 meses (art. 41, § 1º, da Lei nº 5.250/67), contudo essa lei foi declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal.
Nos crimes continuados o prazo decadencial deve ser contado individualmente para cada crime, como ocorre com o prazo prescricional (art. 119, CP).
4.2.2.6 Retratação e irretratabilidade
Dispõe o art. 25 do CPP que a representação será irretratável depois do oferecimento da denúncia (mesmo sentido do art. 102 do CP), portanto, a retratação é possível até esse momento processual.
Para a doutrina majoritária é possível a retratação da retratação, desde que dentro do prazo decadencial.
Nos crimes de violência doméstica e familiar contra a mulher, conhecida como Lei Maria da Penha, a renúncia da representação somente poderá ocorrer na presença do juiz, em audiência designada para essa finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público (art. 16 da Lei 11.340/06). Essa disposição legal em o objetivo de verificar a existência de coação à mulher para que se retrate da representação anteriormente oferecida contra o agressor.
4.2.3 Requisição do Ministro da Justiça
A requisição do Ministro da Justiça é condição de procedibilidade da ação penal pública condicionada nos crimes que exigem, expressamente na lei, essa condição especial. Trata-se de um ato de conveniência política. É o caso do crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil (art. 7º, § 3º, b, do CP) e os crimes contra a honra do Presidente da República ou chefe de governo estrangeiro (art. 145, parágrafo único, CP).
A lei não prevê prazo para a requisição, diversamente do que ocorre com a representação. Destarte, a requisição poderá ocorrer até a prescrição do crime praticado ou a ocorrência de qualquer causa de extinção da punibilidade.
No que tange à retratabilidade da requisição, a doutrina é divergente. Parte da doutrina sustenta que a requisição, por ser ato de natureza política do Ministro da Justiça e, portanto, do Estado brasileiro, deve se revestir de seriedade, não sendo possível a retratação. No entanto, para a outra corrente doutrinária, justamente por ser um ato político, de conveniência e discricionariedade, o Ministro da Justiça poderá se retratar até o ajuizamento da ação penal, não havendo óbice de se aplicar, por analogia, o art. 25 do CPP.
A requisição tem como destinatário o Ministério Público, que, no entanto, não está vinculado ao ato do Ministro da Justiça. Assim, o Ministério Público pode promover o arquivamento do inquérito policial ou dar definição jurídica diversa da indicada na requisição.
Da mesma forma como ocorre na representação, é majoritário o entendimento de que a requisição também tem eficácia objetiva. Dessa forma, o Ministério Público poderá propor a ação penal mesmo contra as pessoas não nominadas na requisição.
5. Ação penal privada
Certos crimes afetam profundamente a intimidade da vítima e, por vezes, o processo criminal pode expô-la a constrangimentos maiores do que a própria vitimização direta decorrente da infração penal. Por essa razão o legislador transferiu ao ofendido o direito de ingressar com a ação penal ou permanecer inerte (art. 30, CPP e art. 100, § 2º, CP).
O jus puniendi permanece com o Estado, que somente delega ao ofendido o direito de propor a ação, pois o interesse particular se sobrepõe ao interesse coletivo.
A ação penal privada inicia-se com a queixa-crime. A autora da ação é denominada de querelante e o réu de querelado.
São espécies de ação penal privada: a) ação penal privada exclusiva; b) ação penal privada personalíssima, c) ação penal privada subsidiária da pública.
5.1 Ação penal privada exclusiva
5.1.1 Titularidade
A titularidade do direito de ação pena privada exclusiva é do ofendido ou seu representante legal (art. 30, CPP).
O direito de queixa, no caso do ofendido menor de 18 anos de idade ou incapaz por enfermidade mental, será exercido por seu representante legal (pais, tutor, curador ou guardião legal).
No entanto, se o ofendido menor ou incapaz não possuir representante legal ou os interesses deste colidirem com o daquele, deverá o juiz, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, nomear curador especial (art. 33, CPP), que aturará como substituto processual (atua em nome próprio na defesa de interesse alheio). Para a doutrina majoritária o curador não está obrigado a exercer o direito de queixa, devendo sopesar a conveniência da persecução penal diante dos interesses do incapaz (art. 33, CPP).
No caso de morte ou declaração judicial de ausência do ofendido, o direito de queixa passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão – CADI – (art. 31, CPP). O rol é taxativo e não permite ampliação. Embora haja divergência na doutrina, o companheiro deve integrar o rol de legitimados, na medida em que a união estável é equiparada ao casamento pela Constituição Federal (art. 226, § 3º, CF). A ordem de preferência para o exercício do direito de queixa é a disposta no art. 31 do CPP (CADI). Havendo divergência entre os legitimados, deve prevalecer aquele que exerceu o direito de queixa.
Em se tratando de pessoa jurídica legalmente constituída, o direito de queixa deve ser exercido pela pessoa indicada em seus respectivos contratos ou estatutos, ou no silêncio destes, pelos seus diretores ou sócios-gerentes (art. 37, CPP).
5.1.2 Princípios
A ação penal privada exclusiva é regida pelos seguintes princípios:
a) oportunidade ou conveniência: consiste na faculdade do ofendido (seu representante legal ou sucessores) de iniciar ou não a ação penal privada, como titular do direito de queixa.
Na hipótese de não exercer esse direito, o ofendido poderá deixar transcorrer o prazo decadencial de seis meses sem oferecer a queixa (art. 38, CPP e art. 107, IV, CP) ou renunciá-lo de forma expressa ou tácita (art. 49 e 50, CPP). Nesses casos teremos a decadência ou a renúncia.
b) disponibilidade: a disponibilidade decorre do princípioda oportunidade e consiste na faculdade de não prosseguir com a ação proposta, perdoando de forma expressa ou tácita o querelado (art. 51 e seguintes do CPP) ou se omitindo nos atos processuais, evidenciando o seu desinteresse no prosseguimento da ação (art. 60, CPP). Ocorrerá, nessas hipóteses, o perdão ou a perempção.
indivisibilidade: consiste na obrigação do ofendido de ajuizar a ação penal contra todos os autores da infração penal, incidindo, portanto, no caso do concurso de pessoas (coautoria ou participação). Dessa forma, se duas ou mais pessoas praticaram o crime, o ofendido deverá processar todos os autores ou não processar nenhum deles.
A indivisibilidade vem expressa no art. 48 do CPP ao dispor que: “A queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará ao processo de todos, e o Ministério Público velará pela sua indivisibilidade”.
A fiscalização da indivisibilidade incumbe ao Ministério Público, que atua como custos legis na ação penal privada, devendo zelar pela sua regularidade. 
Constatando o parquet que o ofendido, voluntariamente, se omitiu quanto a um dos autores do crime, deverá requerer a extinção da punibilidade de todos eles, pois a omissão voluntária configura renúncia tácita, cujos efeitos se estendem a todos os que praticaram a infração penal. Prevê o art. 49 do CPP que: “a renúncia ao exercício do direito de queixa, em relação a um dos autores do crime, a todos se estenderá”.
Porém, se verificar o Ministério Público que a omissão foi involuntária, deverá provocar o querelante para que, se quiser, adite a queixa para a inclusão do autor faltante. Caso o querelante deixe de realizar o aditamento, deverá ser reconhecida a renúncia tácita e a conseqüente extinção da punibilidade de todos os autores do crime.
Não é permitido ao Ministério Público adiar a queixa-crime para incluir os co-querelados omitidos pelo ofendido. O aditamento deve ser restrito a questões formais da queixa-crime (art. 45, CPP). O aditamento previsto no art. 46, § 2º, do CPP, refere-se somente à ação penal privada subsidiária da pública.
 
e) intranscendência: conhecido também como princípio da personalidade, a intranscendência significa que a ação penal somente deve ser proposta contra quem se imputa a prática da infração penal, não podendo atingir terceiros que não tenham concorrido para o cometimento do crime (art. 29, CP).
5.1.3 Prazo
Como regra geral, o direito de queixa deverá ser exercido no prazo de seis meses a contar do conhecimento da autoria da infração penal (art. 38, 1ª parte, CPP e art. 103, 1ª parte, CP).
No entanto, o art. 38 do CPP admite a existência de exceções, que ocorre:
a) Crime de induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento: a queixa-crime deverá ser oferecida no prazo de seis meses a partir do trânsito em julgado da sentença que, na esfera cível, anulou o casamento (art. 236, parágrafo único, CP).
c) Crimes contra a propriedade imaterial: no crime contra a propriedade material que deixar vestígios, a ação penal privada deverá ser intentada no prazo de 30 dias contados da homologação do laudo pericial (art. 529, caput, CPP). Porém, se o autor do crime estiver preso em flagrante delito, o prazo será de 8 dias da homologação do laudo pericial (art. 530, CPP). 
Por se tratar de prazo decadencial, não suspende, não interrompe e nem prorroga. Cuida-se de prazo de direito material e não processual (art. 10, CP), portanto, inclui-se o dia do começo e exclui-se o do final. 
Se o ofendido for menor de 18 anos de idade, o prazo de seis meses deverá ser contado para seu representante legal, quando teve ciência da autoria delitiva. Ainda que o representante legal não promova a ação penal, o ofendido, quando atingir a maioridade, poderá exercer o direito de queixa e seu prazo decadencial contará desse momento e não de quando tomou conhecimento da autoria.
No caso de morte do ofendido, seus sucessores poderão exercer o direito de queixa no prazo de seis a contar da data que tiveram conhecimento da autoria, salvo se já tenha ocorrido a decadência antes do ofendido morrer.
5.1.4 Decadência
O titular do direito de queixa deve exercê-lo no prazo estabelecido em lei, em regra geral, de seis meses (art. 38, CPP), ressalvando as exceções acima indicadas.
A decadência consiste na perda do direito de agir pelo decurso do lapso temporal, provocando a extinção da punibilidade do autor da infração penal (art. 107, IV, CP).
5.1.5 Renúncia
A renúncia consiste na abdicação pelo ofendido do direito de exercer a queixa-crime, diante do princípio da oportunidade da ação penal privada. A renúncia poderá ser expressa, em declaração assinada pelo ofendido, seu representante legal ou procurador com poderes especiais (art. 50, CPP) ou tácita, que se evidencia na prática de atos incompatíveis com a vontade de processar o autor da infração penal (art. 104, parágrafo único, do CP).
O recebimento de indenização do dano causado pelo crime não importa em renúncia tácita (art. 104, parágrafo único, CP). A exceção ocorre com a composição civil de danos homologada pelo juiz do Juizado Especial Criminal, que acarreta a renúncia ao direito de queixa ou representação (art. 74, parágrafo único, da Lei 9.099/95).
Para a comprovação da renúncia tácita são admitidos todos os meios de prova (art. 57, CPP).
A renúncia é um ato unilateral, porque independe da aceitação do autor do delito. É um ato extraprocessual ou pré-processual, pois ocorre antes do recebimento da queixa-crime e é irretratável, na medida em que o direito de ação não poderá mais ser exercido por ser conseqüência legal a extinção da punibilidade do autor da infração penal (art. 107, IV, CP).
Quando houver mais de um autor da infração penal, a renúncia com relação a um ou parte deles se estende a todos (art. 49, CPP), o que decorre do princípio da indivisibilidade da ação penal privada.
Se houver dois ou mais ofendidos, a renúncia de um não afeta o direito de queixa do outro, que poderá intentar a ação penal.
5.1.6 Perdão
O perdão consiste na desistência do ofendido no prosseguimento da ação penal privada e constitui causa de extinção da punibilidade (art. 58, parágrafo único, e art. 107, IV, CP). Decorre do princípio da disponibilidade da ação penal e obsta o prosseguimento da ação penal (art. 105, CP)
O perdão pode ser expresso em declaração apresentada nos autos da ação penal privada ou, fora do processo, em declaração assinada. Poderá também ser tácito, que deriva de ato incompatível com a vontade de prosseguir com a ação penal (art. 106, § 1º, CP), como, e.g., o casamento do ofendido com o autor do delito. Para a comprovação do perdão tácito são admitidos todos os meios de prova (art. 57, CPP).
O perdão é um ato bilateral, portanto, para surtir efeito, deverá ser aceito pelo querelado, inclusive no caso do perdão tácito.
Concedido o perdão, o querelado será intimado para dizer se o aceita no prazo de três dias. O silêncio do querelado importa em aceitação (art. 58, CPP).
O perdão concedido fora do processo também deverá ser aceito pelo querelado, em declaração por ele assinada, por seu representante legal ou procurador com poderes especiais (art. 59, CPP). Se o querelado for mentalmente enfermo ou retardado mental e não tiver representante legal, ou colidirem os interesses deste com os do querelado, a aceitação do perdão caberá ao curador especial nomeado pelo juiz (art. 53, CP).
O querelado pode ter interesse em prosseguir com a ação penal e não aceitar o perdão, buscando uma sentença absolutória ao invés da decisão que declare extinta a punibilidade, podendo, em tese, atribuir ao querelante o crime de denunciação caluniosa (art. 339, CP) ou objetivar uma ação indenizatória.
Quando houve mais de um querelado, o perdão concedido a uma deles aproveitará a todos (decorrência do princípio da indivisibilidade da ação penal privada), no entanto, não produzirá efeito com relação àquele que o recusar. (art. 51, CP),Se houver dois ou mais ofendidos, o perdão de um não afeta o direito do outro em prosseguir com a ação penal (art. 106, II, CP).
O perdão ocorre no curso da ação penal e até o trânsito em julgado (art. 106, § 2º, CP).
Não se aplica à ação penal privada subsidiária da pública.
5.1.7 Perempção
Perempção é uma sanção processual aplicada ao querelante que gera a perda do direito em prosseguir com a ação penal privada em razão de sua desídia ou desinteresse no processo, portanto, ocorre depois de recebida a queixa-crime.
É causa de extinção da punibilidade (art. 107, IV, CP) e não se aplica à ação penal privada subsidiária da pública.
As hipóteses de perempção estão descritas no art. 60 do CPP :
quando iniciada a ação, o querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30 dias seguidos: cuida-se de inércia do querelante e seu advogado, que, notificados para impulsionar o processo não o fazem, assim, ambos devem ser notificados para agir. Não configura a perempção a somatória de prazos isolados de inércia, pois os 30 dias devem ser ininterruptos. A desídia no andamento do processo deve ser injustificada, se houver justificativa para a paralisação não incide a sanção processual. 
no caso de falecimento ou superveniência de incapacidade do querelante não ocorrer a substituição processual no prazo de 60 dias pelas pessoas enumeradas no art. 31 do CPP: a perempção será reconhecida se o cônjuge (ou companheiro), ascendentes, descendentes ou irmãos, notificados, não substituírem o querelante falecido, declarado ausente ou que se tornou incapaz. O prazo de 60 dias inicia-se da morte (incluída a ausência) e da incapacidade.
Deixar de comparecer, sem justificativa, a ato do processo a que deva estar presente ou não formular pedido de condenação nas alegações finais: será considerada perempta a ação se o querelante não comparecer em ato do qual sua presença é indispensável, como, por exemplo, na audiência em que deva prestar depoimento. Quando a presença do querelante puder ser substituída pelo advogado não há perempção. A ausência do pedido de condenação nas alegações orais ou no memorial escrito gera a perempção, desde que dessas manifestações não se possa extrair a vontade do querelante em ver o querelado condenado, não justificando a extinção da punibilidade o simples fato de não existir ao final da peça o pedido expresso de condenação. A não apresentação de alegação final ou memorial escrito equivale a ausência do pedido de condenação.
Extinção da pessoa jurídica sem deixar sucessor: no caso de extinção da pessoa jurídica, por qualquer causa, se não houver sucessor para integrar o polo ativo, a ação será perempta. Por analogia ao art. 60, III, o prazo para o sucessor prosseguir com a ação penal deverá ser de 60 dias.
5.2 Ação penal privada personalíssima
A ação penal privada personalíssima é regida pelas mesmas regras e princípios da ação penal privada exclusiva, diferenciado, porém, no que tange à titularidade para o exercício do direito de queixa.
A queixa-crime na ação privada personalíssima somente poderá ser oferecida pelo ofendido. O exercício do direito de queixa é vedado ao representante legal (pais, tutor, curador) e aos sucessores (art. 31, CPP).
Nesse contexto, se o ofendido for menor de 18 anos, o direito de queixa somente poderá ser exercido por ele quando completar a maioridade e, nesse período, o prazo decadencial ficará suspenso. Se o ofendido falecer, deverá ser declarada extinta a punibilidade do autor da infração penal.
Se o ofendido for incapaz por enfermidade mental o direito de queixa não poderá ser exercido pelo representante legal ou curador nomeado pelo juiz. O prazo decadencial ficará suspenso e a ação somente será proposta se o ofendido se restabelecer da incapacidade.
A única hipótese de ação penal privada personalíssima no direito brasileiro é o crime de induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento (art. 236, CP), cuja ação penal depende de queixa do contraente enganado e não pode ser intentada senão depois de transitar em julgado a sentença que, por motivo de erro ou impedimento, anule o casamento.
5.3 O Ministério Público na ação penal privada exclusiva ou personalíssima
Na ação penal privada exclusiva ou personalíssima o Ministério Público não atua como parte, mas como custos legis (fiscal da lei), zelando pela regularidade do processo, devendo nele intervir em todos seus termos (art. 45, CPP).
A ausência de intervenção pode gerar nulidade processual (relativa), conforme disposto no art. 564, III, “d”, 2ª parte, do CPP.
Nos termos do art. 46, § 2º, do CPP, o parquet poderá aditar a queixar no prazo de 3 (três) dias a contar da data quem que recebeu os autos. Transcorrido o tríduo sem qualquer pronunciamento, entende-se que não há o que se aditar e o processo seguirá nos demais termos.
Não é permitido ao Ministério Público aditar a queixa-crime para incluir os coquerelados omitidos pelo ofendido. O aditamento deve ser restrito a questões formais da queixa-crime (art. 45, CPP).
5.4 Ação penal privada subsidiária da pública
A ação penal privada subsidiária da pública, prevista no art. 29 do CPP, art. 100, § 3º, do CP, e art. 5º, LIX, da CF, constitui exceção à regra de que a titularidade da ação penal pública é privativa do Ministério Público (art. 129, I, CF). Por ter previsão constitucional, não há afronta ao art. 129, I, da CF.
É cabível a ação privada subsidiária da pública quando da inércia do Ministério Público em não intentar a ação pública no prazo legal.
O Ministério Público deve ajuizar a ação pública, como regra geral, no prazo de 5 (cinco) dias, se o investigado estiver preso, ou, no prazo de 15 (quinze) dias, se estiver em liberdade, a contar da data em que o parquet receber os autos do inquérito policial ou da data em que tiver recebido as peças de informação ou a representação (art. 46, caput, e § 1º, CPP). 
Não se aplica à ação privada subsidiária da pública os princípios regentes da ação penal privada, pois, apesar de não intentada pelo Ministério Público, mantém sua natureza de ação pública.
5.4.1 Titularidade
A titularidade da ação privada subsidiária será do ofendido, seu representante legal ou dos sucessores enumerados no art. 31 do CPP.
Nos crimes que envolvam relações de consumo (Lei 8.078/90 – Código do Consumidor) poderão propor a ação subsidiária as entidades e órgãos da administração pública direta ou indireta e as associações constituídas há pelo menos 1 (um) ano (art. 80 c.c. art. 82, III e IV).
5.4.2 Prazo
Conforme disposto no art. 38 do CPP, o prazo para a propositura da ação privada subsidiária da pública será de 6 (seis) meses a contar da data em que se esgotar o prazo para o oferecimento da denúncia.
Ressalte-se que o prazo para o oferecimento de denúncia pelo Ministério Público é considerado prazo impróprio, não sujeito à preclusão, assim, no período de seis meses depois de ter expirado o prazo para o ajuizamento da ação pública, haverá legitimidade concorrente do parquet e do ofendido.
Se o ofendido não intentar a ação privada subsidiária no prazo de seis meses (art. 38, CPP), ocorrerá a decadência do direito de exercício da queixa-subsidiária, e a legitimidade para ação penal voltará a ser exclusiva do Ministério Público.
5.4.3 Hipóteses de não cabimento
A ação privada subsidiária encontra fundamento na inércia injustificada do Ministério Público, que não ingressa com a ação pública no prazo legal. Destarte, a queixa-crime subsidiária não será cabível quando:
O Ministério Público requerer diligências ao juiz (art. 16, CPP) ou quando requisitá-las diretamente à autoridade policial ou outros órgãos que tem o dever fornecer (art. 129, VIII, CF e art. 47, CPP): nessas situações não há omissão do parquet, mas providências necessárias para o melhor aparelhamento do inquérito policial ou peças de informação para a formação da opinio delicti.
Promovido oarquivamento do inquérito policial: o pedido de arquivamento do inquérito policial ou das peças de informação pelo Ministério Público, quando não existirem elementos para embasar a propositura da ação penal (art. 28, CPP), não equivale à inércia e não autorizam a ação subsidiária.
5.4.4 O Ministério Público na ação privada subsidiária
Nos termos do art. 29 do CPP, na ação privada subsidiária caberá ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar a ação como parte principal.
Nessa espécie de ação o parquet atuará, portanto, como um assistente litisconsorcial. Há entendimento de que se trata de interveniente adesivo obrigatório. 
O prazo para aditamento será de 3 (três) dias a contar da data em que o Ministério Público receber os autos (art. 46, § 2º, CPP), podendo o parquet promover, inclusive, incluir sujeito passivo.
O repúdio e o oferecimento de denúncia substitutiva deve ser fundado em motivo justificado, como, por exemplo, a inépcia da queixa-crime subsidiária.
Não poderá o Ministério Público arquivar o inquérito policial depois de intentada a ação privada subsidiária.
Se o querelante negligenciar ou abandonar a ação privada subsidiária, o Ministério Público a retomará como autor principal da ação, não se aplicando a essa espécie de ação a sanção jurídica da perempção.
6. Denúncia e queixa
Denúncia é a denominação da peça que instaura a ação penal pública e queixa é o nome da exordial da ação penal privada, que serão dirigidas ao Poder Judiciário com o fim de se aplicar a norma penal material ao caso concreto.
6.1 Requisitos formais
A denúncia ou a queixa devem preencher os requisitos formais previstos no art. 41 do CPP, caso contrário estarão sujeitas à rejeição por inépcia (art. 395, I, CPP) ou, se tiveram sido recebidas, acarretar a nulidade do processo (art. 564. III, “a”, CPP).
São requisitos formais do art. 41 do CPP:
a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias: o réu se defende dos fatos descritos na denúncia ou queixa, portanto, a exposição dos fatos que lhe são imputados é um elemento essencial da peça inicial da ação penal. A descrição pode ser sucinta, mas não vaga ou imprecisa, a ponto de inviabilizar ao imputado entender do que está sendo acusado e exercer sua defesa.
Na ação penal pública o Ministério Público não está obrigado a descrever as agravantes, que são genéricas e incidem sobre qualquer crime (art. 61 e 62, CP), como, e.g., a reincidência, que poderá ser reconhecida pelo magistrado por força do art. 385 do CPP.
No caso de concurso de pessoas (coautoria ou participação) a inicial deverá descrever a conduta de cada agente, de forma individualizada, garantido a ampla defesa. Em casos excepcionais, como nos crimes societários e multitudinários (praticados em multidão) tem-se admitido a denominada denúncia genérica. 
Porém a descrição dos fatos não deve ser tão generalizada a ponto de se inviabilizar o exercício do direito de defesa, devendo haver minimamente a descrição da participação de cada agente. 
a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo: a qualificação inclui o prenome, nome, filiação, data de nascimento etc. No entanto, mesmo que não existam esses dados, a lei processual penal permite o ajuizamento da ação penal com os “esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo”, como altura, idade, cor da pele, sexo, características físicas etc. Nesse sentido dispõe o art. 259, 1ª parte, do CPP: “a impossibilidade de identificação do acusado com o seu verdadeiro nome ou outros qualificativos não retardará a ação penal, quando certa sua identidade física”, assim, a qualquer tempo, quando descoberta sua qualificação, será procedida a retificação sem prejuízo dos atos praticados.
a classificação do crime: o autor da ação penal deve indicar a definição jurídica do crime, ou seja, o artigo da sua adequação típica, não bastando o nomen iuris da infração penal. Esse elemento permite verificar se a norma incriminadora prevista na lei se enquadra, ao menos em tese, à conduta do imputado. O erro na classificação jurídica não gera a nulidade da denúncia ou queixa, pois, em primeiro, o réu se defende dos fatos descritos e não da definição jurídica indicada na inicial. De outro lado, esse erro poderá ser corrigido a qualquer tempo, até a sentença final (art. 569, CPP). Por fim, o magistrado também poderá, diante da constatação do erro na definição jurídica, proceder sua correção quando proferir a sentença, por meio da emendatio libelli (art. 383, CPP). 
o rol de testemunhas, quando necessário: é elemento facultativo, até porque, determinados crimes são demonstrados necessariamente por outros meios de prova, como a documental ou pericial. No entanto, se houver necessidade de produzir a prova testemunhal, deve o autor da ação indicá-las na denúncia ou queixa, sob pena de preclusão.
Além dos requisitos formais expressos no art. 41 do CPP, existem outros que são necessários para a regularidade da denúncia ou queixa.
endereçamento ao juiz ou tribunal: a denúncia ou queixa devem ser dirigidas ao juiz ou tribunal competente para o julgamento da ação penal. O erro no endereçamento não invalida a denúncia ou queixa.
pedido de condenação ou de pronúncia: não se trata de requisito essencial, que poderá ser extraído do conteúdo da inicial, como a indicação dos artigos da norma incriminadora que se imputa ao denunciado ou querelado.
nome e assinatura do órgão acusador: a inicial deve indicar o nome e conter a assinatura daquele que ajuíza a ação penal.
6.2. Requisitos específicos da queixa
A queixa-crime, além de atender aos requisitos formais do art. 41 do CPP, também possui requisitos específicos.
Se o ofendido for advogado com capacidade postulatória, ou seja, inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil, poderá subscrever a queixa, caso contrário deverá outorgar procuração com poderes especiais a um advogado.
Não basta a procuração com poderes genéricos (cláusula ad judicia). Determina o art. 44 do CPP que “a queixa poderá ser dada por procuração com poderes especiais, devendo constar do instrumento de mandato o nome do querelante (querelado) e a menção do fato criminoso, salvo quando tais esclarecimentos dependerem de diligências que devem ser previamente requeridas no juízo criminal”.
As irregularidades da queixa ou procuração poderão ser sanadas enquanto não decorrer o prazo decadencial. No entanto, o Supremo Tribunal Federal já decidiu que a irregularidade pode ser sanada a todo tempo, mediante ratificação dos atos processuais, nos termos do art. 568 do CPP.
Se o ofendido assinar a queixa-crime juntamente com o advogado é dispensada a procuração do art. 44 do CPP.
6.3 Prazo de oferecimento da denúncia
Estabelece o art. 46 do CPP que o prazo, com regra geral, para o oferecimento da denúncia será de 5 (dias) se o denunciado estiver preso ou de 15 (quinze) dias se o denunciado estiver solto, contado da data do recebimento dos autos de inquérito policial. 
Caso dispensado o inquérito policial, o prazo será contado do recebimento das peças de informação ou da representação (art. 46, § 1º, CPP). Note-se que nesses casos o denunciado sempre estará solto.
A lei extravagante prevê prazos especiais para o oferecimento da denúncia.
No crime de tráfico de drogas o prazo para oferecer a denúncia será de 10 dias, independente de se tratar de denunciado preso ou solto (art. 54, III, da Lei 11.343/06).
No crime de abuso de autoridade o prazo será de 48 horas (art. 13 da Lei 4.898/65). No entanto, em razão da pena máxima cominada em abstrato, o crime de abuso de autoridade é considerado infração de menor potencial ofendido, estando sujeito aos procedimentos da Lei 9.099/95, que prevê o oferecimento da denúncia oral na audiênciapreliminar, salvo se houver necessidade de diligências imprescindíveis (Art. 77).
No crime contra a economia popular o prazo será de 2 dias, independente do denunciado estar preso ou solto (art. 10, § 2º, da Lei 1.521/51).
Na hipótese de crime eleitoral a denúncia deverá ser oferecida no prazo de 10 dias (art. 357 da Lei 4.737/65 – Código Eleitoral).
6.4 Contagem do prazo
O prazo para o oferecimento da denúncia é contado a partir do recebimento dos autos do inquérito policial, das peças de informação ou da representação (art. 46, caput, e § 1º, CPP).
Trata-se prazo processual (art. 798, § 1º, CPP), no qual não se computa o dia do começo e se inclui o dia do vencimento. O prazo que terminar em final de semana ou feriado será prorrogado para o próximo dia útil (§ 3º).
O oferecimento da denúncia fora do prazo não impede a instauração da ação penal, mas autoriza:
a propositura da ação penal privada subsidiária pelo ofendido (art. 100, § 3º, CP; 29, CPP e 5º, LIX, CF).
o relaxamento da prisão cautelar se o excesso de prazo configurar constrangimento ilegal. Cabe a impetração do habeas corpus (art. 5º, LXV, CF).
6.5 Rejeição da denúncia ou queixa
O processo se inicia com o recebimento da denúncia ou queixa, contudo, além dos requisitos formais do art. 41 do CPP, é necessário que não estejam presentes as hipóteses do art. 395 do CPP, que constituem as causas de rejeição da peça inauguradora da ação penal.
Dessa forma, a denúncia ou a queixa será rejeitada quando:
I – for manifestamente inepta: inepta é a denúncia ou queixa que não contiver seus requisitos essenciais (art. 41, CPP), como a descrição do fato ou a identificação do imputado.
II – faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal:
Pressupostos processuais são os que condicionam a existência e validade da relação processual. Os pressupostos podem ser subjetivos ou objetivos.
Os pressupostos subjetivos relativos às partes são capacidade de ser parte e a capacidade postulatória.
A capacidade de ser parte é a capacidade de figurar no polo ativo e no polo passivo do processo penal. Na ação penal pública a parte ativa é o Ministério Público, salvo no caso da ação privada subsidiária, na qual a parte ativa será o ofendido. Na ação penal privada a parte ativa será o ofendido, seu representante legal ou sucessores (art. 31, CPP), com exceção da ação privada personalíssima que somente o primeiro poderá ser parte ativa. No que tange ao polo passivo, a capacidade diz respeito à imputabilidade penal, ou seja, aos maiores de 18 anos. 
A capacidade postulatória consiste na necessidade da parte estar representada em juízo por advogado legalmente habilitado, salvo no caso do habeas corpus.
Os pressupostos objetivos classificam-se em intrínsecos e extrínsecos. Pressupostos instrínsecos dizem respeito à regularidade formal, como a presença dos requisitos do art. 41 do CPP, que são causa da inépcia da denúncia ou queixa, que já foi considerada como motivo autônomo de rejeição no art. 395, I, do CPP, bem como a presença de instrumento de mandato outorgado pelo acusado, salvo no caso do defensor dativo e do ad hoc. Pressuposto extrínseco diz respeito a fatos impeditivos para o processo, como a coisa julgada e a litispendência.
Condição para o exercício da ação são as condições especiais para a ação penal, que devem estar presentes para o regular desenvolvimento, como a representação do ofendido ou a requisição do Ministro da Justiça nas ações penais públicas condicionadas.
III – faltar justa causa para o exercício da ação penal: a peça inicial da ação penal deve estar acompanhamento de elementos probatórios mínimos que demonstrem a sua viabilidade, como indícios de materialidade e autoria. Portanto, justa causa consiste no lastro probatório mínimo para embasar a acusação em juízo.
Superados os defeitos ou irregularidades que ensejaram a rejeição, nada impede que a ação penal seja reproposta, apesar de não haver disposição expressa nesse sentido.
6.6 Rejeição parcial
Parte da doutrina entende viável o recebimento ou rejeição parcial da denúncia ou queixa, desde que o magistrado não antecipe indevidamente o mérito, bem como, com a rejeição parcial torne a peça inicial ininteligível. 
Fundamentação da rejeição e recorribilidade
A denúncia ou queixa poderá ser rejeitada por ausência de seus requisitos formais e materiais (art. 41 e 395, CPP) e a decisão terá de ser fundamentada (art. 93, IX, da CF).
Como regra geral, contra a decisão de rejeição da denúncia ou queixa cabe o recurso em sentido estrito (art. 581, I, CPP).
A exceção ocorre com a rejeição da peça inicial acusatória nos Juizados Especiais Criminais, no qual o recurso cabível é a apelação (art. 82 da Lei nº 9.099/95).
 
6.8 Decisão de recebimento
Presentes os requisitos formais do art. 41 do CPP e ausentes as hipóteses de rejeição, o magistrado receberá a denúncia ou queixa.
É majoritário o entendimento jurisprudencial de que o magistrado não é obrigado a fundamentar o recebimento, não se aplicando o disposto no art. 93, IX, da CF, por se tratar de mero despacho sem carga decisória. Ademais, se exigida a fundamentação, ocorreria uma antecipação indevida da análise do mérito.
No entanto, há na doutrina entendimento diverso, no sentido da necessidade de fundamentação da decisão de recebimento, desde que de forma objetiva e não aprofundada, do modo a não ingressar indevidamente no mérito e antecipá-lo. 
Vislumbra a doutrina, ainda, a necessidade de fundamentação nos procedimento nos quais há a defesa preliminar oferecida pelo imputado antes da decisão de recebimento, como no Juizado Especial Criminal, no procedimento da Lei de Drogas e nos crimes funcionais, pois, nesses casos há um contraditório pré-processual. 
A decisão de recebimento da denúncia ou queixa é irrecorrível, porém, poderá ser impugnada por meio do habeas corpus.
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