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D. Civil trabalho

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O comportamento compulsivo desenvolvido por Dr. Serapião Pajuaba não pode ser motivo para a interdição do mesmo haja vista o seu objetivo com o consumo, a forma como foi realizado, o laudo médico e, principalmente, a sua vontade e o seu bem-estar. A esses fatores, adicionam-se questões pertinentes como o momento pós-traumático pelo qual o homem está passando, levando em conta o recente falecimento de sua esposa, cujo casamento perdurava mais de 60 anos e, também, um possível interesse de seu filho com o patrimônio da família, uma vez que este, muito embora já tenha passado dos 40 anos, ainda dependa da renda dos pais por não exercer nenhuma atividade remunerada.
	Diante disso, torna-se de extrema importância considerar que no caso descrito, o objetivo de Dr. Pajuaba tem uma finalidade precisa – concretizar o antigo sonho de montar uma coleção de cachaças – e que o montante gasto consiste, estritamente, no propósito de expandir o seu repertório de bebidas etílicas provindas do Norte de Minas Gerais. Nesse sentido, é necessária a colocação de argumentos jurídicos que visem defender o homem de ser vítima de uma medida tão extrema como a sua iminente interdição. Assim, de acordo com o art.1 da Constituição da República Federativa do Brasil e segundo o escritor e Bacharel em Direito Alexandre de Moraes, “a dignidade, valor espiritual e moral inerente à pessoa, se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas, constituindo-se um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar, de modo que, somente excepcionalmente, possam ser feitas limitações ao exercício dos direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem todas as pessoas enquanto seres humanos e a busca ao Direito à Felicidade”. Esse princípio constitucional seria atacado ao se retirar a liberdade desse homem de administrar o seu dinheiro como lhe convier, colocando-o, dessa maneira, em uma situação de incapacidade e de dependência desnecessária e, de certa maneira, humilhante.
	Ademais, a curatela de pródigos – pessoa que apresenta uma compulsão por gastos, muitas vezes, irresponsáveis, colocando em perigo o seu patrimônio – consiste em uma determinação jurídica que divide opiniões uma vez que “nem todos concordam em considerar o pródigo relativamente incapaz e sujeitá-lo à interdição, alegando que a nomeação de curador, privando-o de gerir seus próprios bens como lhe convier, constitui violência à liberdade individual” (Gonçalves, 2012, p. 125 “Direito Civil Brasileiro Vol.1”). Deve-se, ainda, ser levada em conta para a aplicação da medida a vontade da pessoa. Isso porque, o Dr. Serapião Pajuaba é claro no que diz respeito a seus gastos, sendo eles voltados não só para uma natureza específica, mas também como prática de uma atividade que lhe gera satisfação, prazer e felicidade.
	Além disso, o diagnóstico médico do paciente não faz referência à sua capacidade de discernimento e entendimento, mas apenas de uma compulsão que foi desenvolvida recentemente. Para tanto, lhe foi receitado um medicamento que embora tivesse efeitos positivos no que condiz ao fim do seu distúrbio, ascendeu no paciente sintomas como sofrimento, ansiedade e angústia. Nesse contexto, o próprio Dr Serapião, valendo-se de Direitos Fundamentais previstos na Constituição, recusou o tratamento, visando garantir sua felicidade, bem como a sua integridade física. Vale ressaltar que não seria justo retirar a autonomia de uma pessoa com evidente capacidade plena de escolha para, talvez, beneficiar um descendente adulto (seu filho,de 42 anos), de conduta duvidosa (não exercia nenhum tipo de trabalho), que poderia vir a se aproveitar do patrimônio e da condição do pai. Esse fato ainda é evidenciado no Código Civil que “ não permite a interdição do pródigo para favorecer seu cônjuge, ascendentes ou descendentes, mas sim para protegê-lo” (Gonçalves, 2012, p.126 “Direito Civil Brasileiro Vol.1”).
	Há, ainda, o Estatuto do Idoso o qual reforça a garantia do direito de liberdade e de dignidade e a proteção contra abusos cometidos à essa parcela mais velha da sociedade. Diante dessas circunstâncias, segundo o art.10 desse regulamento é assegurado “à pessoa idosa a liberdade, o respeito e a dignidade, como pessoa humana e sujeito de direitos civis, políticos, individuais e sociais, garantidos na Constituição e nas leis.” E nos § 2º e 3º do mesmo é explicitado, respectivamente: “o direito ao respeito, que consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, de valores, ideias e crenças, dos espaços e dos objetos pessoais” e “o dever de todos de zelar pela dignidade do idoso, colocando-o a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.” Já no art.17 do regimento
, é resguardado “ao idoso que esteja no domínio de suas faculdades mentais o direito de optar pelo tratamento de saúde que lhe for reputado mais favorável.” 
	Portanto, a justiça deve ser conivente com a felicidade, e visar sempre defendê-la. Diante disso, a realização de um sonho, que traz felicidade e autorrealização, direitos defendidos pela Constituição brasileira, são relevantes para a tomada da decisão, juntamente com a questão da inerente liberdade das pessoas em gerenciar, da forma que achar mais conveniente, a sua fortuna. Essa conclusão é tida uma vez que não é evidente um caso de grave compulsão que ameaça o patrimônio, a própria pessoa ou até mesmo o Estado, sendo excluída a hipótese de interdição do Dr. Serapião Pajuaba.

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