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Inflamação: Mecanismos Celulares e Teciduais Prof. Dr. Rafael T. Burtet Patologia Geral Inflamação ou Flogose • Lt. “inflammatia” = incêncio • Gr. “phlogosis” = “phlox” (fofo) + “osis” (estado de) • Presente em locais que sofreram alguma forma de agressão • O processo inflamatório visa compensar essas alterações de forma e de função por intermédio de reações teciduais, principalmente vasculares, que buscam destruir o agente agressor. • Uma reação de defesa local. • Ambos os fenômenos (inflamação-reparação) caminham juntos Inflamação • Cornelius Celsus (30 d.C.): descreve os 4 sinais cardenais da inflamação • Dor • Rubor • Calor • Tumor • Rudolph Virchow (1858): acrescentou o 5º sinal cardeal da inflamação (“Functio lasea” – alterações funcionais) Conceito de Inflamação • “Reação dos vasos sanguíneos, que leva ao acúmulo de líquido e leucócitos nos tecidos extravasculares” • “Resposta local do tecido vascularizado agredido, caracterizada por alterações do sistema vascular, dos componentes líquidos e celulares, bem como por adaptações do tecido conjuntivo vizinho” • Resposta fundamentalmente protetora Mais informações no Material Complementar 17 - Barreiras e tecidos Tudo Muda... • A alterações dos componentes teciduais são resultantes de modificações que ocorrem nas células agredidas • Elas passam a adquirir comportamentos diferentes: – movimentos novos – alterações de forma – liberação de enzimas – liberação de substâncias farmacológicas. • A transformação morfológica e funcional do tecido, característica dos processos inflamatórios, visa destruir, diluir ou isolar o agente lesivo, sendo, portanto, uma reação de defesa e de reparação do dano tecidual Leucodiapedese, mecanismo de migração dos leucócitos (L) para fora da luz vascular. Esta é uma das modificações celulares que ocorrem durante a inflamação. DIAPEDESE Quando um estímulo ou agente lesivo vira um “Agente Inflamatório” • Induzir fenômenos de transformação tecidual • Intensos o suficiente para provocar tais reações e ultrapassar as barreiras de defesa externas (p. ex.: derme) • Qualquer causa de agressão é, potencialmente, um agente flogístico. • O tempo de duração e a intensidade do agente inflamatório determinam diferentes graus ou fases de transformação nos tecidos Momentos ou fases da inflamação • Existem alguns fenômenos básicos comuns a qualquer tipo de inflamação e que independem do agente inflamatório. • Esses momentos ou fases caracterizam a inflamação do tipo aguda, a qual sempre antecede a inflamação do tipo crônica. • A divisão desses momentos em cinco itens, a seguir explicitados, é meramente didática. • Todos eles acontecem como um processo único e concomitante, o que caracteriza a inflamação como um processo dinâmico Fases do processo Inflamatório 1. Fase Irritativa 2. Fase Vascular 3. Fase Exsudativa 4. Fase Degenerativa-necrótica 5. Fase Produtiva-reparativa 1. Fase irritativa • Modificações morfológicas e funcionais dos tecidos agredidos que promovem a liberação de mediadores químicos, estes desencadeantes das demais fases inflamatórias. • Os fenômenos irritativos estão intimamente ligados aos fenômenos vasculares • Envolvem a mediação química de fármacos que agem diretamente sobre a parede vascular, ocasionando as alterações vasculares. Características dos fenômenos irritativos • Característica fundamental, a mediação química • Ocorre a produção e/ou liberação de substâncias químicas diante da ação do agente inflamatório • As substâncias atuam principalmente na circulação do local inflamado, provocando o aumento da permeabilidade vascular. • “Em qualquer fase da inflamação observa-se a fase irritativa; em cada uma delas, há liberação de mediadores químicos diferentes.” Principais grupos de mediadores químicos • Divididos em dois grupos segundo o tempo de contato dos tecidos com o agente inflamatório. a. Mediadores de ação rápida b. Mediadores de ação prolongada a. Mediadores de ação rápida • Liberados imediatamente após a ação do estímulo agressor. • Têm ação principalmente sobre os vasos – Aminas vasoativas: Possuem ação vasodilatadora e ↑ da permeabilidade vascular • Histamina • Serotonina a. Mediadores de ação rápida – Aminas vasoativas: Possuem ação vasodilatadora e ↑ da permeabilidade vascular • Histamina – Sintetizada nos granulócitos basófilos, nas plaquetas e, principalmente, nos mastócitos, que a liberam quando agredidos. – Provoca contração das células endoteliais venulares, com consequente aumento da permeabilidade vascular, e vasodilatação. – Tem destacada participação no mecanismo de formação do edema inflamatório. A HISTAMINA E OS MASTÓCITOS • Os mastócitos são células teciduais (não circulantes) que circundam os vasos e possuem receptores IgE (tipo de anticorpo) na sua membrana externa. • Localizados nas regiões de mucosa que estão em contato com o meio externo. • Quando estimulado ocorre a desgranulação e liberação de histamina. – A histamina também é encontrada em basófilos, porém, os mastócitos são mais sensíveis à modulação farmacológica e por isso mais eficientes na sua liberação A HISTAMINA E OS MASTÓCITOS • Receptores de histamina nas células-alvo: H1, H2 e H3. • Endoteliócitos [> H1] quando estimulado a célula se contrai resultando em um aumento da permeabilidade vascular das vênulas pós-capilares. – Além disso provoca a dilatação das arteríolas, fazendo com que se tenha um maior aporte sanguíneo à região e uma menor velocidade do fluxo (estase sanguínea), – fatos que contribuem para outras fases da inflamação, como a fase exsudativa. a. Mediadores de ação rápida – Aminas vasoativas: Possuem ação vasodilatadora e ↑ da permeabilidade vascular • Serotonina – Encontrada nas plaquetas, na mucosa intestinal e no SNC, – Ação vasodilatadora e de aumento da permeabilidade vascular – Também: neurotransmissor produzido no tronco encefálico regulando o humor, sono, apetite, ritmo cardíaco, temperatura corporal, sensibilidade a dor, movimentos e as funções intelectuais. b. Mediadores de ação prolongada • Liberados mais tardiamente, diante da persistência do agente flogístico. • Atuam nos vasos e, principalmente, nos mecanismos de quimiotaxia celular, contribuindo para a exsudação celular. – Substâncias plasmáticas: • Plasminogênio/Plasmina: protease (fibrina, protrombina, globulina) • Bradicinina: vasodilatadora e ↑ permeabilidade vascular. • Sistema Complemento: ↑ permeabilidade vascular e ação quimiotática • Fibrinopéptides: ↑ permeabilidade vascular e ação quimiotática – Lipídios ácidos • Prostaglandina: provocam contração das células endoteliais e vasodilatação Mais informações no Material Complementar 18 - Mediadores dos fenômenos irritativos 2. Fase vascular • Alterações hemodinâmicas da circulação e de permeabilidade vascular no local da agressão. • Todas as transformações ocorridas na circulação do local inflamado. • Modificações vasculares: alterações no leito vascular e no fluxo sanguíneo • Tríplice resposta de Lewis. – Hiperemia (aumento do volume de sangue em uma região ) – Isquemia – Edema (inchaço ou tumor) • Macroscopicamente – observa-se imediatamente após a agressão, inicialmente uma zona esbranquiçada (isquemia) – a qual é substituída por uma zona avermelhada ou eritema (hiperemia) ao redor do local agredido; – mais tardiamente, surge aumento de volume local (edema) Mais informações no Material Complementar 19 - FENÔMENOS VASCULARES 3. Fase exsudativa • Característica do processo inflamatório • Os fenômenos da exsudação referem-se à migração de líquidos ecélulas para o foco inflamatório vindos de vasos ou dos tecidos vizinhos. – Exsudação plasmática, saída de plasma para fora da luz vascular (água, eletrólitos e proteínas.) – Exsudação celular, passagem de células pela parede vascular em direção ao interstício, ao local atuante do agente inflamatório. Mais informações no material complementar 20 - FENÔMENOS EXSUDATIVOS Parte externa da parede vascular. Fenda aberta e a protuberância na parede (seta) indicando a presença de um corpo celular pronto para sair pela fenda. São momentos dos fenômenos exsudativos da inflamação 4. Fase Degenerativa-Necrótica • Composta por células com alterações degenerativas reversíveis ou não (material necrótico), • Derivadas da ação direta do agente agressor ou das modificações funcionais e anatômicas consequentes das três fases anteriores Mais informações no material complementar 21 sobre FENÔMENOS CELULARES 5. Fase Produtiva-Reparativa • Relacionada à característica de hipermetria da inflamação, ou seja, o aumento em quantidade dos elementos teciduais (principalmente células) resultado das fases anteriores. • Essa hipermetria da reação inflamatória visa destruir o agente agressor e reparar o tecido injuriado. Manifestação Clínica das Fases • SINAIS CARDINAIS, que caracterizam a fase aguda do processo inflamatório. 1. Tumor: fase exsudativa e produtiva-reparativa, ↑ de líquido (edema inflamatório) e de células. • terminologia usual é inchaço ou edema, tumor faz alusão à patologia do câncer 2. Calor: fase vascular, hiperemia arterial e aumento da temperatura local. 3. Rubor: ou vermelhidão também é decorrente do fenômeno acima 4. Dor: mecanismos mais complexos, • compressão das fibras nervosas locais devido ao acúmulo de líquidos e de células • agressão direta às fibras nervosas e ação farmacológicas sobre as terminações nervosas • engloba pelo menos três fases da inflamação (irritativa, vascular e exsudativa). 5. Perda da função: decorrente do tumor (principalmente em articulações) e da própria dor, dificultando as atividades locais. FATORES QUE ALTERAM A INFLAMAÇÃO 1. RELACIONADOS AO AGENTE AGRESSOR – Tipo de agente agressor: de natureza física, química e biológica – Características do agente: fonte (f), o composto ativo (q), família, gênero e espécie (b) – Intensidade do agente: concentração ou quantidade do agente – Tempo de exposição: quanto ↑o tempo de exposição ao agente↑é a resposta inflamatória – Capacidade de invasão – Resistência a fagocitose e à digestão 2. FATORES LIGADOS AO HOSPEDEIRO – Estado de saúde: portadores de outras doenças podem manifestar quadros mais graves – Estado fisiológico: idade, sexo, etnia ... – Estado nutricional: carência de vitaminas e de proteínas – Estado hormonal 3. FATORES LIGADOS AO LOCAL AGREDIDO – Tipo de tecido: as características anatômicas e fisiológicas dos tecidos – Suprimento sangüíneo: tecidos vascularizados são mais resistentes a agressão Mais informações no Material Complementar 22 Fatores que Alteram a Inflamação Diferentes padrões morfológicos de inflamações. Ambos foram causados por agentes biológicos, porém o da esquerda foi originado do bacilo da tuberculose e o da direita, de uma bactéria piogênica. No quadro da esquerda temos uma inflamação granulomatosa, e no da direita, uma inflamação supurativa (HE, 100 e 200X). Inflamação causada por um agente químico, no caso um cimento cirúrgico (CC). Esse cimento é utilizado após cirurgias, como protetor do local, e em geral não provoca reações no paciente. Veja como esse hospedeiro reagiu a esse agente químico: vemos os sinais cardinais da inflamação e um foco de necrose. CLASSIFICAÇÃO DAS INFLAMAÇÕES • Alterações morfológicas teciduais de diferentes características • As inflamações recebem classificações, estas podendo ser: – Quanto ao tempo de duração – Quanto ao tipo de elemento tecidual predominante Quanto ao Tempo de Duração • Inflamações agudas – Entre 1 a 2 semanas – Resposta inflamatória imediata e inespecífica do organismo diante da agressão. – A inflamação aguda é dita imediata por se desenvolver no instante da ação do agente lesivo, e inespecífica por ser sempre qualitativamente a mesma, independentemente da causa que a provoque. • Inflamações crônicas – Superam 3 meses – Reação tecidual caracterizada pelo aumento dos graus de celularidade e de outros elementos teciduais mais próximos da reparação, diante da permanência do agente agressor. – A inflamação crônica é sempre precedida pela inflamação aguda, processo em que se desenvolvem as fases inflamatórias anteriormente citadas com o intuito de eliminar o agente agressor. Dois padrões morfológicos de inflamação: acima, vemos uma inflamação aguda, com predominância de neutrófilos e necrose; Abaixo vemos uma inflamação crônica, com células gigantes (CG), linfócitos (L) e grande quantidade de fibroblastos (F), indicativos da predominância da fase produtivo-reparativa. O critério de agudo ou crônico pode ser morfológico ou cronológico, mas é importante lembrar que nem sempre há coerência entre esses dois critérios Sinais cardinais facilmente reconhecíveis na foto indicam ser este um quadro inflamatório agudo. Drenagem da coleção purulenta de um abscesso em mandíbula. A retirada desse conteúdo, aliada a outras medidas terapêuticas, promove a resolução desse foco inflamatório Aguda Vs Crônica • Clinicamente, nas inflamações crônicas não se observam os sinais cardinais característicos das reações agudas. • Porém, todas as alterações vasculares e exsudativas que originam esses sinais clínicos continuam acontecendo, culminando com o destaque da última fase inflamatória, a fase produtiva-reparativa. Quanto ao Tipo de Elemento Tecidual Predominante • Dependem da quantidade predominante dos seguintes elementos: – Exsudação - (fase vascular e exsudativa da inflamação) – Proliferação de células teciduais - (fase produtivo-reparativa) – Necrose - (fase degenerativo-necrótica) Classificação da Inflamação Aguda Quanto ao Tipo de Elemento Tecidual Predominante 1. Serosa: – predomina a exsudação de líquido amarelo-citrino 2. Fibrinosa: – camada superficial esbranquiçada sobre a área inflamada 3. Hemorrágica: – componente hemorrágico 4. Necrotizante ou ulcerativa: – ulceração levando à perda do revestimento epitelial 5. Purulenta: – composto pelo pus Classificação da Inflamação Crônica • Na maioria das vezes, a inflamação crônica é entendida segundo seu critério cronológico – Perdura por longo tempo, não sendo visíveis os sinais cardinais • Usa-se também o Critério biológico – Segundo elementos teciduais e celulares • Crônica – fibroblastos, linfócitos, plasmócitos, mastócitos, basófilos, macrófagos • Aguda – eosinófilos e neutrófilos Classificação da Inflamação Crônica • O clínico pode classificar uma inflamação como sendo do tipo crônica, mas, ao olharmos no microscópio, poderemos visualizar elementos teciduais que não correspondam a uma inflamação crônica. • A visão microscópica (ou biológica) não necessariamente concorda com a visão clínica • O diagnóstico, nesses casos, deve ser feito considerando-se ambos os critérios. Classificação da Inflamação Crônica • Classicamente é composta por: – Células do sistema mononuclear macrofágico (linfócitos, plasmócitos e macrófagos) – Destruição tecidual, decorrente da permanência do agente agressor (fase degenerativo-necrótica), – Tentativas de reparação (fase produtivo-reparativa), • angiogênese - formação de vasos sangüíneos • substituição do parênquima (a parte funcional do órgão) por fibras (fibrose). Classificaçãoda Inflamação Crônica 1. Inespecífica (ou não-específica) – Composto por células mononucleares associadas a outros tipos celulares 2. Produtiva (ou hiperplásica ou proliferante) – Grande quantidade de fibras colágenas e células, pode manifestar o sinal cardinal de tumor 3. Exsudativas – presença de pus 4. Granulomatosa – formação de granulomas Granuloma: Hiperplasia focal, avascular, do sistema mononuclear macrofágico, como resposta a agentes agressores de baixa virulência. E no fim da Inflamação... • O processo evolui para a cura mediante – o desaparecimento do agente desencadeante, – surgindo cicatrização ou regeneração Mais informações sobre as Classificações da Inflamação aguda e Crônica no Material Complementar 23 Classificação Das Inflamações ESTUDO DIRIGIDO INFLAMAÇÃO • BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo - Patologia geral. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. • KUMAR, V., FAUSTO, N., ABBAS, A. K. Robbins & Cotran – Patologia bases patológicas das doenças. 7ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier. 2005. • RUBIN, EMANUEL; et.al. Patologia: bases clinicopatológicas da medicina. 4ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS “A força de um guerreiro não se encontra no ataque mas sim na resistência” Autor desconhecido - - - - Recado do Geek Monkey - - - -
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