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AULA 04 Esponsais/Noivado. Condições de validade e regularidade do casamento. Dos impedimentos matrimoniais. Arts. 1.521 e 1.522, CC. Das causas suspensivas. Arts. 1.523 e 1.524, CC. Aula 04 1 “Ficada” O simples “ficar” pode sim repercutir no Direito de Família, como já decidiu o STJ ao reconhecer no “ficar” ou “curtir” indício de presunção de paternidade. STJ - RECURSO ESPECIAL REsp 557365 RO 2003/0105996-8 (STJ) Data de publicação: 03/10/2005 Ementa: Direito civil. Recurso especial. Ação de investigação de paternidade. Exame pericial (teste de DNA). Recusa. Inversão do ônus da prova. Relacionamento amoroso e relacionamento casual. Paternidade reconhecida. - A recusa do investigado em se submeter ao teste de DNA implica a inversão do ônus da prova e consequente presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor. - Verificada a recusa, o reconhecimento da paternidade decorrerá de outras provas, estas suficientes a demonstrar ou a existência de relacionamento amoroso à época da concepção ou, ao menos, a existência de relacionamento casual, hábito hodierno que parte do simples 'ficar', relação fugaz, de apenas um encontro, mas que pode garantir a concepção, dada a forte dissolução que opera entre o envolvimento amoroso e o contato sexual. Recurso especial provido. 2 Namoro O namoro, diferentemente do encontro casual, não se notabiliza simplesmente pelo envolvimento sexual, mas também pelo comprometimento afetivo. Porém, tal não serve para conferir-lhe roupagem jurídica familiar; A jurisprudência tem entendido que a ruptura de um namoro, não reverbera na seara jurídica: EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. INEXISTÊNCIA DE UNIÃO ESTÁVEL. Na inicial a autora afirmou que manteve com o demandado namoro que perdurou por dez anos. Os namoros, mesmo prolongados e privando as partes de vida íntima como sói ocorrer atualmente, são fatos da vida não recepcionados pela legislação civil e, por isso, não ensejam efeitos jurídicos, seja durante ou após o fim do relacionamento. Somente as relações jurídicas que surgem pelo casamento ou pela constituição de uma união estável asseguram direitos pessoais e patrimoniais. SOCIEDADE DE FATO. Não caracterizada também qualquer contribuição para a formação do patrimônio, descabida indenização sob tal fundamento. IMPOSSIBILIDADE DE INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL DECORRENTE DO ROMPIMENTO DA RELAÇÃO. Os sentimentos que aproximam e vinculam homem e mulher por vezes se transformam e até mesmo acabam, nem sempre havendo um justo motivo para explicar seu fim. A dor da ruptura das relações pessoais, a mágoa, a sensação de perda e abandono, entre outros sentimentos, são custos da seara do humano. Fazendo parte da existência pessoal não constituem suporte fático a autorizar a incidência de normas que dispõe sobre a reparação.... 3 pecuniária. Possibilidade de indenização somente surgiria se restasse caracterizado um ato ilícito de extrema gravidade, cuja indenizabilidade seria cabível independentemente do contexto da relação afetiva entretida pelas partes. A simples dor moral resultante da ruptura, entretanto, não é indenizável. Ao fim, não estando caracterizado qualquer instituto jurídico reconhecido pelas normas de direito de família, o pedido indenizatório para recomposição patrimonial de eventuais gastos feitos pela autora deverá ser analisado em ação própria, a partir das regras e princípios gerais da Teoria da Responsabilidade Civil. NEGARAM PROVIMENTO, À UNANIMIDADE. (Apelação Cível Nº 70008220634, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luiz Felipe Brasil Santos, Julgado em 14/04/2004) 4 Esponsais ou promessa de casamento: Não existe formalidade a ser cumprida Não tem previsão legal Não gera efeito no Direito de Família Não há obrigação legal de ser cumprida a promessa, não há vínculo de parentesco. É negócio preliminar. Para a responsabilidade civil (art.186, CC) precisa: Promessa livre, recusa no cumprimento da promessa, ausência de motivo justo* (nexo causal) e dano Efeitos comuns: devolução dos presentes, cartas e fotos e indenização material ou moral, conforme o caso. Aula 04 5 “Entretanto, não se pode perder de vista que o noivado pode gerar conseqüências jurídicas, sobretudo, no campo do Direito Obrigacional. Cabe ressaltar que o objetivo desta tutela não resulta na busca de meios, diretos ou indiretos, para que o casamento seja celebrado; ao contrário, restringe-se àquelas situações em que o rompimento do noivado pode ensejar danos materiais e/ou morais ao nubente prejudicado. Por conseguinte, sua inserção se dá na seara da responsabilidade civil”. (Eduardo Cambi) “EMENTA: DANO MORAL. INDENIZAÇÃO. ROMPIMENTO DE NOIVADO PROLONGADO. 1. Não se pode desconhecer que inúmeros fatos da vida são suscetíveis de provocar dor, de impor sofrimento, nem se olvida que qualquer sentimento não correspondido pode produzir mágoas e decepção. E nada impede que as pessoas, livremente, possam alterar suas rotas de vida, quer antes, quer mesmo depois de casadas. 2. Descabe indenização por dano moral decorrente da ruptura, quando o fato não é marcado por episódio de violência física ou moral e também não houve ofensa contra a honra ou a dignidade da pessoa. 3. Não tem maior relevância o fato do namoro ter sido prolongado, sério, ter havido relacionamento próximo com a família e a ruptura ter causado abalo emocional, pois são fatos próprios da vida. Recurso desprovido. (TJRS, Ap. C. Nº 70012349718, 7ª Câmara Cível, Rel. Des.: Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, j. 07/12/2005)”. Aula 04 6 Em outros casos, porém, a jurisprudência brasileira tem reconhecido, em determinadas situações, a responsabilidade civil pelo fim do noivado: “Apelação cível - responsabilidade civil - dano moral - promessa de casamento - ruptura injustificada de noivado às vésperas da realização da cerimônia - ausência de motivo justo - lesão as honras objetiva e subjetiva configuradas - responsabilidade - culpa do réu pelo rompimento - imprudência verificada - dano moral configurado - desrespeito ao princípio da boa-fé - valor da indenização fixado exageradamente - necessidade de readequação - agravo retido não conhecido e apelo parcialmente provido. Em que pese a possibilidade de rompimento de noivado até o momento da celebração das núpcias, existindo evidente promessa de casamento e ruptura injustificada do compromisso, que acarreta dano às honras objetiva e subjetiva da noiva, certa é a incidência do instituto da responsabilidade civil, com a consequente imposição de indenização”. (TJPR - 18ª C. Cível - AC 0282469-5 - Londrina - Relator: Des. Luiz Sérgio Neiva de L. Vieira - Por maioria - J. 16.08.2006). 7 Noivado X União Estável Firmar a promessa de casamento, ou seja, noivar não significa que passou a viver em união estável. Observemos a jurisprudência: “União estável. Configuração. Para a configuração da união estável faz-se necessária cabal demonstração de que o casal mantém relacionamento nos moldes preconizados no art. 1.723 do Código Civil, não bastando para tanto a mera formalização de noivado. Apelo provido em parte (Segredo de justiça)” (TJRS, AC n. 70020877122, 7.a Câm. Cív. rel. Maria Berenice Dias, julgado em 26-9-2007). Apelação cível. União estável. Namoro e posterior noivado que não caracterizam a entidade familiar. Improcedência. Se os litigantes namoraram, noivaram e depois tiveram convivência marital por apenas seis meses, não se configura a união estável, ante a ausência de um dos requisitos legais que é a entidade familiar duradoura. E não demonstrada a participação da autora na edificação da casa objeto de partilha, não se configura também sociedade de fato. Improcedentea ação de reconhecimento da união estável, descabe no juízo da família o pedido de indenização por danos morais. Apelação desprovida. (Segredo de Justiça)” (TJRS, AC n. 70017790668, 8ª. Câm. Cív. rel. José Ataides Siqueira Trindade, julgado em 18-1-2007) 8 CUIDADO! “No entanto, se durante o período do noivado, os partícipes da relação passam a agir como se casados fossem, alongando o período de promessa, e atuando como se estivessem integrando um núcleo familiar, a situação poderá, logicamente, ser outra e as regras da união estável poderão se fazer incidir” 9 Plano de Validade do Casamento Casamento NULO – impedimentos art.1521, CC Casamento ANULÁVEL – causas de anulação do casamento 1550, CC; Casamento PUTATIVO – NULO ou ANULÁVEL – art. 1561, CC 10 Plano de Eficácia do Casamento Causas Suspensivas do casamento – Art. 1523 – casamento irregular (imposição de sanção de natureza patrimonial, estritamente no plano da eficácia) IMPEDIMENTOS MATRIMONIAIS Arts. 1.521 e 1.522, CC Plano de validade do casamento Previsão taxativa (numerus clausus): art. 1.521, CC Resguardo à ordem pública. Medida preventiva contra anomalias. Maior gravidade. Proteção à família. PEF arts. 23 e 24 (só exclui a referência a adoção) Aula 04 11 Conceito: Situações de fato ou de direito que proíbem o casamento de pessoas determinadas (Gama). Justificativa: Tentar evitar uniões que afetem a prole, a moral e a ordem pública. Legitimidade: Podem ser levantados por qualquer interessado e pelo MP, arts. 1.522 e 1.549, CC. Conseqüência: Acarreta a nulidade (absoluta) do casamento, art. 1.548, II, CC. Não se convalida, não prescreve. A violação poderá acarretar a prática dos seguintes crimes: arts. 235 (bigamia), 236 (induzir em erro) ou 237 (conhecer o erro), Código Penal. Aula 04 12 Três categorias de impedimentos: Impedimento resultante de parentesco: Art. 1.521, I a V, CC Incisos I e IV - consangüinidade: razões morais e biológicas. Abrange todo e qualquer grau em linha reta. Irmãos e demais colaterais até o 3º Grau. 2º Grau é absoluto, já no caso de 3º Grau é relativo - ver Dec-Lei nº 3.200/1.941, art. 2º. Inciso II – afinidade em linha reta: Ex: genro e sogra ou nora e sogro. Tal não desaparece com o fim do casamento. Ex-cunhado pode. Tem fundamento moral. Ver art. 14, § 2º do EF. Incisos III e V - adoção: É decorrência natural. Princípio da igualdade. Excesso de zêlo. Registre-se que o impedimento de adoção, tal como considerado no sistema do CC/1.916, não pode ser tratado à parte do impedimento de parentesco, eis que a adoção, na atualidade, estabelece vínculos de parentesco, com absoluta igualdade do filho adotado a todos os outros filhos do adotante. (Gama) Aula 04 13 Comentários acerca da vigência do Decreto-Lei nº 3.200/1941: Enunciado 98 – CJF: “O inciso IV do art. 1.521 do Novo Código Civil deve ser interpretado à luz do Decreto-Lei nº 3.200/41 no que se refere à possibilidade de casamento entre colaterais de 3º Grau.” Maria Helena Diniz: “Todavia, impedimento entre colaterais de 3º grau, isto é, entre tios e sobrinhas, não é mais invencível ante os termos dos arts. 1º a 3º do Decreto-Lei nº 3.200/1941,...” in Curso de Direito Civil Brasileiro, 5º volume, 22ª Ed, p. 69. Venosa: “De fato, o impedimento entre colaterais de terceiro grau, isto é, entre tios e sobrinhos, não é mais insuperável em face da alteração introduzida na Legislação (Decreto-Lei nº 3.200/41).” in direito civil, volume VI, 4ª Ed. P. 855. PL nº 470/2013. Estatuto das Famílias: Revoga expressamente o Dec-lei. Aula 04 14 Impedimento de vínculo: Inciso VI - proibição da bigamia: Princípio do casamento monogâmico. O segundo casamento não é convalidado se o primeiro for anulado. Persiste o crime (art. 235, CP). Os separados não podem casar, somente os divorciados. Presunção de morte na ausência libera para o segundo casamento. Casamento religioso sem inscrição no cartório não tem validade, pode casar novamente. Impedimento de crime: Inciso VII - tentativa ou homicídio doloso: O cônjuge sobrevivente (viúvo) não pode casar com quem tentou contra a vida de seu cônjuge ou que o matou. Se for absolvido ou prescrever o crime, pode casar. Perdão, anistia ou graça não extingue o impedimento. Aula 04 15 CAUSAS SUSPENSIVAS Arts. 1.523 e 1.524, CC Serão revogadas pelo PEF Menor gravidade, protege interesse particular. Mera recomendação (Rosenvald) Previsão exemplificativa Não são aplicáveis à União Estável (art. 1.723, § 2º, CC) Não proíbe o casamento, não torna o casamento nulo nem anulável, apenas adverte e prevê sanções econômicas: Ver art. 1.641, I, CC. Atenção: Ver Súmula 377/STF. “Súm. 377/STF: “No regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do casamento.” Aula 04 16 Conceito: “... A nomenclatura utilizada não é das melhores, uma vez que não implicam suspensão de qualquer ato matrimonial e, tampouco, obsta a fluência de efeitos do casamento”. (Rosenvald) Justificativa: Proteger interesse da prole anterior, evitar a confusio sanguinis, evitar a confusão de patrimônios, interesse do nubente. Previsão legal: Art. 1.523, CC. Conseqüência: Regime da separação obrigatória de bens, ver art. 1.641, I, CC e Súm. 377/STF. Legitimidade: Ver art. 1.524, CC. Enunciado 330 - CJF: “Art. 1.524: as causas suspensivas da celebração do casamento poderão ser argüidas inclusive pelos parentes em linha reta de um dos nubentes e pelos colaterais em segundo grau, por vínculo decorrente de parentesco civil.” Aula 04 17 Outras previsões legais acerca de restrições ao casamento: Menor entre 16 e 18 anos sem consentimento dos pais ou representantes ou suprimento judicial: 1517/1520, CC Impedir o casamento sem autorização dos superiores: Lei 6.880/80 (militares da ativa ou da reserva convocados) Lei 7.501/86 (funcionários diplomáticos ou consulares) * Veja acórdão recente (no material de apoio ou no site do STJ) do entendimento do C.STJ acerca da aplicação da Súmula 377/STF (Resp nº 1199790 – j. 14/12/2010). Aula 04 18 Existe forma de afastar a sanção econômica ?? Sim, art. 1.523, § único, CC. Mudança de regime de bens: art. 1.639, § 2º, CC. Aula 04 19 Estatuto das Famílias e as causas suspensivas – justificativa : “Foram suprimidas as causas suspensivas do casamento, previstas no código civil, porque não suspendem o casamento, representando, ao contrário, restrições à liberdade de escolha de regime de bens.” Textos recomendados: PRETEL, Mariana. A responsabilidade civil pelo rompimento de noivado avaliada sob a ótica da boa-fé objetiva. Disponível em http://www.webartigos.com/articles/21883/1/a-responsabilidade-civil-pelo- rompimento-de-noivado-avaliada-sob-a-otica-da-boa-fe- objetiva/pagina1.html CARVALHO, Newton Teixeira. Direito Pessoal no Direito de Família. Disponível em http://www.gontijo- familia.adv.br/2008/artigos_pdf/Newton_Teixeira/(DireitoPEssoaDireitoFam _355lia).pdf LYCURGO, Tassos. Das teorias das nulidades e das anulabilidades em face do direito matrimonial. Disponível em http://www.ambito- juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=103 4 CARVALHO NETO, Inácio de. A Súmula 377 do Supremo Tribunal Federal e o novo Código Civil. Disponível em: http://www.professorchristiano.com.br/artigo_inacio_sumula.pdf Aula 04 20 Bibliografia desta aula: CÓDIGO CIVIL/2002 CONSTITUIÇÃO FEDERAL DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. v. 5. São Paulo: Saraiva. FARIAS, Cristiano Chaves; ROSENVALD, Nelson. Direito das Famílias. Rio de Janeiro: Lúmen Juris. GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. Direito Civil: Família. São Paulo: Atlas. VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. v. VI. São Paulo: Atlas. Exercícios Aula 04 21
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