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Direito Internacional Publico e Privado

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Direito Internacional 
Público e Privado
Renata Campettí Amaral
Editora
Verbo Jurídico
Porto Alegre
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
A485d Amaral, Renata Campetti,
O direito internacional: público e privado / Renata
Campetti Amaral. 6a edição — Porto Alegre : Verbo
Jurídico, 2010. 248 p.
ISBN: 978-85-7699-244-8
1. Direito Internacional Público. 2. Direito
Internacional Privado. 3. Tratados Internacionais. 4.
Conflitos Internacionais I Titulo.
CDU: 341.124
Bibliotecária Responsável 
Ginamara Lima Jacques Pinto 
CRB 10/1204
Editora Verbo Jurídico Ltda> 
Matriz: Rua Prof, Cristiano Fischer, 2012 
Porto Alegre, RS 
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www.verbojuridico.com.br
Direito Internacional
Colaboração de 
Rodrigo TeUectaea Silva
Direito Internacional
ÍNDICE
CAPÍTULO I - DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO
1 .Introdução à Disciplina................................................................................... 11
1.1.Origens e Evolução Histórica.... ............................................................... 11
1.2. Conceito................................................ ........... .........................................14
2. Objeto..............................................................................................................15
3.Fonte s..........................................................................................................16
3.1.Tratado s.................................................................................................... 18
3.2. Costume............. ......................................................................... 20
3.3.Princfpios Gerais do Direito...................................................................... 22
3.4.Jurisprudência e Doutrina..........................................................................22
CAPÍTULO II - PERSONALIDADE INTERNACIONAL
1 .Conceito.......................................................................................................... 25
2.Capacidade de Ação..................................................................................... 25
3.Pessoas Internacionais............................................................................ 27
3.1.Estado s ..........................................................................................................,........ ..............27
3.2.0rganismos Internacionais....................................................................... 35
3.2.1. Organização das Nações Unidas - O NU...................................37
3.2.2. Organização dos Estados Americanos - OEA............. ...................... 42
3.3.Indivíduos e Empresas ............................................ ................................44
4. Santa-Sé.......................................................................................... 45
5.Organizações Não-Governamentais - ONGs............................................45
CAPÍTULO III - TRATADOS INTERNACIONAIS
1 .Teoria Geral dos Tratados........................................................................... 47
1.1. Princípios e Classificação dos Tratados................................................49
1.2. Interpretação........................................................ .................................... 51
1.3. Validade, Vigência, Execução e Aplicação............................................ 51
1.4. Relações e Conflitos com o Direito interno ..........................................54
1.5. O Sistema Brasileiro de Incorporação de Tratados..............................55
2. Tratados em Espécie...................................................................................58
2.1. Sistema Internacional de Proteção dos Direitos Humanos..................58
2.2. Estatuto de Roma e Tribunal Penal internacional................................62
7
2.3. Proteção Internacional do Meio Ambiente....................................... ;... 65
2.4. Outras Convenções Internacionais.......................................................70
2.4.1. Convenção para repressão ao Genocídio........................................70
2.4.2. Convenção contra o crime organizado transnacionai..................... 71
2.4.3. Convenção contra o tráfico ilícito de entorpecentes....................... 75
2.4.4 Convenção contra o tráfico de armas................................................ 77
2.4.5. Convenção sobre o combate à corrupção de funcionários 
públicos estrangeiros em transações comerciais internacionais..............78
CAPÍTULO IV - REPRESENTAÇÃO DIPLOMÁTICA
1. Missões Diplomáticas................................................................................81
1.1 Convenções de Viena de 1961 ............................................................. 82
1.2. Privilégios e Imunidades........................................................................83
2. Convenção sobre Relações Consulares de 1963.................................. 86
CAPÍTULO V - RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL DOS 
ESTADOS
1. Direitos Fundamentais dos Estados........................................................89
2. Deveres dos Estados............................ ................................................... .91
2.1. Dever de Não-lntervenção.....................................................................91
2.2. Responsabilidade por Danos Internacionais.................................... 92
2.2.1. Proteção Diplomática...................................... ....................................95
CAPÍTULO VI - MEIOS DE COMPOSIÇÃO DE CONFLITOS 
INTERNACIONAIS
1. Solução Pacífica de Conflitos.................................................................. 99
1.1. Arbitragem Internacional..................................................................... 100
1.2. Corte Internacional de Justiça .............................................................. 101
2. Sanções e Soluções Coercitivas de Controvérsias...............................102
2.1. Rompimento de Relações Diplomáticas..............................................103
2.2. Retorsão..................................................................................................104
2.3. Represálias.............................................................................................104
2.3.1. Embargo.............................................................................................. 104
2.3.2. Bloqueio Pacífico................................................................................ 105
2.3.3. Boicotagem..... .................................................................................... 105
CAPÍTULO VII - DIREITO INTERNACIONAL ECONÔMICO
1. Princípios do Comércio Internacional - GATT e OM C.......................... 107
Direito Internacional
2. Processo de Integração Econômica Internacional................. .............. 112
3. Blocos Regionais.......................................................................................113
3.1. MERCOSUL..................................................................... .........................113
3.2. União Européia................... .......................................................................121
3.3. NAFTA eALCA.......................................................................................... 126
4. Nomenclatura Utilizada no Comércio Internacional .............................128
CAPÍTULO VIÜ - DOMÍNIO PÚBLICO INTERNACIONAL 
MARÍTIMO - Conceitos Fundamentais
1. Mar, Águas Interiores, Mar Territoriai, Zona Contígua e Zona
Econômica............................................... .................... ..............................131
2. Plataforma Continental............... ..............................................................1363. Alto-Mar,..... ............................. .................................................................137
4. Rios Internacionais..... .............................................................................. 137
CAPÍTULO IX - DOMÍNIO PÚBLICO INTERNACIONAL AÉREO
1. Espaço Aéreo............................................................................................ 139
2. Princípios Elementares..... ....................................................................... 139
3. Normas Convencionais................................................................................ 140
4. Nacionalidade das Aeronaves.................................................................... 143
5. Espaço extra-atmosférico......................................................... .................. 143
6. Código Brasileiro de Aeronáutica - Lei n° 7.565/86.............. ..................143
CAPÍTULO X - DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
1. Conceito e Objeto.................... ..................... ..............................................145
2. Relação Típica e Relação Atípica...............................................................146
3. Fontes............................................................................................................146
4. Origens e Evolução Histórica.......................................... ............................146
5. Conflitos de Leis no Espaço e Reenvio.....................................................149
6. Elemento de Estraneidade e Fato Jusprivatista Internacional ............... 150
7. Elementos de Conexão do Direito Brasileiro........................... ................. 151
7.1. Família e Direitos Pessoais.............................. ................... ...................153
7.2. Adoção Internacional...................................................................... .......154
7.3. Bens................ ...........................................................................................155
7.4. Obrigações e Contratos Internacionais.................................................. 156
9
7.5. Pessoa Jurídica............... ......................................................................... 157
7.6, Sucessão................................................. ........................ ........................ 158
8. Teoria das Qualificações......................................................................... 159
CAPÍTULO XI - NACIONALIDADE
1. População e Comunidade Nacional.................. .........................................161
2. Aquisição, Mudança e Perda da Nacionalidade - Opção e Prazos............. 162
3. Naturalização................................................................................................ 167
4. Posição da Justiça Federai - Jurisprudência............................................ 169
CAPÍTULO XII - REGIME JURÍDICO DO ESTRANGEIRO
1. Estatuto dos Estrangeiros e Vistos............................................................ 175
2. Extradição, Expulsão e Deportação................... ....................................... 178
3. Asilo Político.......................... .......................................................................183
4. Refugio..................................... ................................................... ............... .184
5. Pessoas Jurídicas Estrangeiras................. ................................................185
CAPÍTULO XIII - PROCESSO CIVIL INTERNACIONAL
1. Aplicação da Lei Estrangeira .....................................................................187
2. Competência Internacional no Brasil.............................................. ....... 188
2.1. Competência Concorrente......................................................... ........... 188
2.2. Competência Absoluta.................................................... ...................... . 189
3. Sentença Estrangeira e Cooperação Internacional..................................191
3.1. Cartas Rogatórias.............................................. .......................... ......... 191
3.2. Homologação de Sentenças Estrangeiras e Exequatur...................... 193
3.3. Precedentes Jurisprudenciais envolvendo Homologação de
Sentenças Estrangeiras pelo STJ.......................... ........................................ 195
CAPÍTULO XIV - PRESTAÇÃO DE ALIMENTOS E 
CONVENÇÃO DE NOVA IORQUE
1. Noções Gerais segundo o Decreto Legislativo n 10/58 e o
Decreto n 56.826/65. Hipóteses de Procedimento.......................................201
2. Competência da Justiça Federal.............. ........................ ........................203
Resolução STJ n. 9/2005............................. ............................................... 205
Questões......................................................................................................... 209
10
Direito Internacional
Capítulo I
DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO
1 introdução à disciplina
1.1 Origens e evolução histórica
A origem do Direito Internacional Público (DIP) é contem­
porânea ao nascimento do próprio Estado. O Direito das Gentes, como era 
chamado o DIP, nasceu no século XV com a formação dos Estados 
Nacionais, de cunho absolutista. Todavia, foi a partir do século XVI, com 
o lançamento dos ensaios do holandês Hugo Grotius (De Jure Belli ac 
Pacis e De Jure Praedae) que a disciplina conquistou espaço no universo 
jurídico5.
A doutrina especializada distingue 2 (dois) diferentes 
períodos na evolução do Direito Internacional Público: o sistema clássico 
(1648-1918) e o moderno (após o término da Primeira Guerra Mundial)2.
“O sistema clássico foi baseado no reconhecimento do 
Estado soberano como o único sujeito do DIP”3 e distingue-se pelos 
seguintes aspectos:
1 SOARES, Guido Fernando Silva. Curso de Direito Internacional Público. São Paulo, Editora 
Atlas, 2002, pg 28.
2 JO, Hee Moon. introdução ao Direito Internacional. São Paulo: LTr, 2000, pp. 52 e 65.
3 JO, op. cit., p. 52.
11
(I) característica européia, em face do período de colo­
nização;
(II) aplicação dos princípios da pacta sant servada nas 
obrigações internacionais, da soberania territorial, da 
imunidade estatal e das regras de proteção diplomática;
(III) aceitação do uso ilimitado de força e de guerra como 
direito inerente ao Estado, facilitando a aceitação da idéia de 
anexação de território estrangeiro conquistado e da 
colonização dos novos continentes4.
Já o sistema moderno é marcado pelas seguintes carac­
terísticas:
(I) desvinculação das características européias, ou seja, uni­
versalização do DIP, apesar de muitas normas do DIP 
clássico terem sido mantidas;
(II) manutenção da paz e segurança internacionais por meio 
da organização sistemática da sociedade internacional;
(III) surgimento de novas áreas do DIP, como direito inter­
nacional econômico, direitos humanos, direito internacional 
ambiental, etc.
Em verdade, foi com o final da Primeira Guerra Mundial 
(1918), a partir da instituição da Liga das Nações e da criação da Orga­
nização Internacional do Trabalho, que o Direito Internacional Público 
ganhou notoriedade no contexto internacional. É a partir desse momento 
histórico que o DIP começa a ser visto como um sistema normativo com 
o objetivo de instituir o dever jurídico de cooperação entre entidades 
autônomas (Estados).
Houve uma transformação fundamental no sistema legal 
vigente àquela época, objetivando reorganizar a comunidade interna­
cional de modo a impedir o uso de força como meio de coação e criação 
de direitos. Sob o ponto de vista histórico-político, esses períodos podem 
ser divididos da seguinte forma: (I) da Revolução Russa até a criação da 
ONU; (II) do estabelecimento da ONU até o período de descolonização
4 É importante lembrar que, atualmente, essa regra foi proibida pela Cartada ONU, que não permite 
o uso da força para intervenção em assuntos internos dos Estados.
12
Direito Internacional
da Ásia e da África (1945-1960); (III) da expansão da comunidade 
internacional até o fim da Guerra Fria, marcada pela dissolução da União 
Soviética (1960-89); e (IV) da dissolução até hoje.
Um dos principais efeitos práticos da nova concepção de 
Direito Internacional Público, inclinado para a regulamentação da paz e 
fundamentado no princípio da não-intervenção e na democratização de 
direitos, foi a criação de uma diplomacia multilateral institucionalizada, 
com atuação marcante em diversos fóruns de debate, dentre os quais se 
destacam: a ONU (Organização das Nações Unidas), a OMC 
(Organização Mundial do Comércio) e a OMS (Organização das Mundial 
da Saúde). Além disso, é importante sublinhar a sua influência na 
extemalização de disciplinas jurídicas antes restritas ao direito interno de 
cada país, como por exemplo, o Direito Penal Internacional e o Direito 
Processual Internacional,5
Na atualidade, a grande característica do Direito Inter­
nacional Público é a sua enorme expansão, tanto relativamente à extensão 
de assuntos sob sua égide, quanto ao vigor em direção à maior eficácia de 
suas normas.
Ainda nesse particular, é interessante destacar que a socie­
dade internacional, ao contrário das comunidades internas de cada nação, 
é organizada de forma descentralizada. Disso resulta que, teoricamente, 
no plano internacional, não há autoridade superior, nem sujeitos 
dominantes.
Os Estados soberanos organizam-se num plano horizontal 
de autonomia, prontifícando-se a proceder de acordo com determinadas 
normas jurídicas, na medida de seu consentimento. A criação das normas 
de Direito Internacional Público é, assim, obra direta de seus desti­
natários. Dessa forma, entende-se que as normas vigentes entre os 
Estados pressupõem a existência de uma ordem de coordenação, e não de 
subordinação, como ocorre no direito interno6.
Essa análise, no entanto, não está isenta de críticas, tendo 
em vista que a teorização da igualdade soberana entre todos os Estados é 
um postulado jurídico que enfrenta notória dificuldade em sua aplicação 
prática. Note-se, por exemplo, a árdua tarefa na aplicação de sanções a
5 SOARES, op. clt., pp. 32 e 33.
6 REZEK, José Francisco. Direito Internacional Público. 10a ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 01.
13
qualquer dos cinco Estados que detêm o poder de veto no Conselho de 
Segurança da ONU (China, França, Rússia, Grã-Bretanha e Estados 
Unidos).
1.2 Conceito
O conceito e o conteúdo abrangido pelo Direito Inter­
nacional Público podem variar conforme o critério adotado pelo 
doutrinador estudado. Para oferecer uma visão sistemática do assunto, 
adotaremos definições comuns à grande maioria da doutrina 
especializada.
Até fins do século XIX, a doutrina somente atribuía a 
condição de sujeito do DIP aos Estados. Nesse sentido, Pimenta Bueno 
(1863) afirmou “o direito internacional público ou das gentes, jus 
gentium publicum ou jus publicum intergentes ^ é o complexo dos 
princípios, normas, máximas, atos ou usos reconhecidos como 
reguladores das relações de nação a nação, ou de Estado a Estado, como 
tais, reguladores que devem ser atendidos tanto por justiça como para 
segurança e bem-ser comum dos povos ”
Na acepção clássica de Direito Internacional Público, o 
Estado era visto como um ente soberano, soberbo, o único sujeito capaz 
de criar direitos e gerar obrigações no âmbito internacional, motivo pelo 
qual o Estado está sempre presente nas conceituaçoes iniciais da 
disciplina. A explicação histórica para essa visão centralizadora encontra- 
se na idéia de que, por muito tempo, o Estado foi visto como detentor de 
um poder supremo, ilimitado.
Todavia, essa noção de soberania incondicionada não é mais 
absoluta, eis que, atualmente, o exercício do poder do Estado se encontra 
limitado por fatores e normas externas a sua própria vontade, como por 
exemplo, pelos compromissos assumidos na esfera internacional e pelas 
normas de DIP7. Nesse contexto e com a evolução da disciplina, passou- 
se a incorporar ao lado do Estado, as organizações internacionais 
enquanto sujeitos do DIP.
7 SEITENFUS, José Ricardo e VENTURA, Deisy. introdução ao Direito internacional Público. 1a 
ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 1999, p 27.
14
Direito Internacional
Também a condição jurídica do homem - até então adstrita 
ao direito interno - passou a ser objeto de estudo da disciplina 
internacional, de modo que Nicolas Politis definiu: “DIP é o conjunto de 
regras que governam as relações dos homens pertencentes aos vários 
grupos nacionais”.
Para resumir a questão, a definição de Hildebrando 
Accioly8 é bastante oportuna. Segundo ele, DIP “é o conjunto de 
princípios e regras destinados a reger os direitos e deveres internacionais, 
tanto dos Estados ou outros organismos análogos, quanto dos indivíduos”.
2 Objeto
Tradicionalmente, o campo de aplicação do DIP restringia- 
se às relações diplomáticas, comercias e ao direito de guerra. No entanto, 
tal como é conhecido na atualidade, o DIP apresenta uma função bastante 
ampla. No entender da Corte Internacional de Justiça (CLJ), órgão jurídico 
e consultivo da Organização das Nações Unidas, o DIP se constitui em 
fator de organização da sociedade, de modo que deve atender a 2 (duas) 
finalidades: (I) redução da anarquia das relações internacionais; (II) 
satisfação de interesses comuns dos Estados.
De forma mais detalhada e com alicerce na lição de Charles 
Roí sseau, podemos definir as funções do DIP a partir do seguinte tripé:
a) assegurar a divisão de competências entre os Estados 
soberanos, estabelecendo base geográfica para o exercício de sua 
jurisdição, não podendo, em regra, excéder esse limite;
b) impor obrigações aos Estados no exercício de suas 
competências, limitando sua esfera de dlscricionariedade;
c) delimitar as competências das organizações inter­
nacionais.
Com o incremento das relações internacionais, comerciais e 
econômicas entre os Estados, o alcance da disciplina ampliou-se
8 SILVA, G. E. do Nascimento e & ACCIOLY, Hildebrando. Manual de Direito Internacional 
Público. 13a ed. Sâo Paulo: Saraiva, 1998.
15
satisfatoriamente, passando também a regular direitos relativos ao meio 
ambiente, ao comércio internacional, aos direitos humanos, ao direito do 
consumidor, entre muitos outros.
3 Fontes
A doutrina divide a origem das fontes do DIP em duas 
concepções: a positivista e a objetivista. A primeira, também chamada 
voluntarista, é defendida pelos italianos, os quais entendem que a única 
fonte do DIP é a “vontade comum dos Estados”, sendo que tal vontade se 
encontra expressamente manifestada nos tratados e, de modo tácito, no 
costume.
Essa concepção (positivista ou voluntarista), todavia, é 
insuficiente para explicar a obrigatoriedade da norma costumeira, a qual 
se toma cogente para os Estados-membros da sociedade internacional, 
independentemente da manifestação de vontade destes9.
Em contraposição, a escola objetivista baseia-se na distinção 
entre fontes formais e materiais. As fontes materiais seriam as 
“verdadeiras fontes do Direito”, enquanto que as formais seriam apenas 
“meios de comprovação”. Sendo assim, as fontes materiais seriam, por 
exemplo, a tradição, a cultura, a história. Já as fontes formais do DIP, ou 
seja, aquelas por meio das quais se expressa e comprova o direito, seriam 
os tratados, os princípios gerais do direito e, secundariamente, a 
jurisprudência e a doutrina.
Tradicionalmente, tem-se considerado como rol das fontes 
formais do Direito Internacional Público a enumeração prevista no artigo 
38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça:
A Corte, cuja função é decidir de acordo com o Direito 
Internacional as controvérsias quelhe foram submetidas, 
aplicará:
a) as convenções internacionais, quer gerais, quer especiais, 
que estabeleçam regras expressamente reconhecidas pelos 
Estados litigantes.
9 MELLO, Celso D. Albuquerque de. Curso de Direito internacional Público. Vol. 1,12a ed. Rio de 
Janeiro: Renovar, 2000, p. 192.
16
Direito Internacional
b) o costume internacional, como prova da prática geral aceita 
como sendo o direito;
c) os princípios gerais do direito reconhecidos pelas nações 
civilizadas;
d) sob ressalva da disposição do art. 59, as decisões judiciárias 
e a doutrina dos publicistas mais qualificados das diferentes 
nações, como meio auxiliar para a determinação das regras de 
direito.
Ressalte-se, ainda, que doutrinadores modernos vêm 
incluindo os atos unilaterais e as decisões tomadas por Organizações 
Internacionais Intergovemamentais como fontes do DIP, apesar de tais 
atos não se encontrarem listados no artigo 38 do Estatuto da Cortê. São 
exemplos práticos de atos unilaterais a notificação, a renúncia e o 
reconhecimento.
Saliente-se, no entanto, que tais atos não apresentam caráter 
normativo, marcado pela abstração e generalidade. Ao mesmo tempo, 
porém, é inegável que eles produzem conseqüências jurídicas, criando, 
eventualmente, obrigações aos Estados.
Nesse sentido, é preciso analisar de forma crítica o rol de 
fontes previsto no artigo 38 do Estatuto da Corte, lavrado em 1920, 
quando apenas começava a se desenvolver o Direito Internacional 
Público, não podendo ser estudado como um rol exaustivo.
Importante destacar que, a partir dos anos 60, a doutrina 
intemacionalista tem se debruçado sobre o fenômeno da existência de 
normas jurídicas com graus de normatividade menores que as 
tradicionais, mas nem por isso menos significativas. A tais normas 
denominou-se soft law, por oposição às tradicionais, que então passaram 
a ser tratadas de hard law.10
O conceito de soft law emergiu a partir da relevância e da 
atuação crescente da diplomacia multilateral, seja nos foros diplomáticos 
de negociação, seja a partir de interpretações dadas aos tratados 
multilaterais elaborados sob a égide das organizações intergover- 
namentais.11
10 SOARES, op. clt., p. 136.
11 SOARES, op, cft., p. 137.
\
No sistema da soft law, o cumprimento das normas jurídicas 
é meramente recomendado aos Estados, que podem, inclusive, não as 
cumprir, sem que haja sanções aplicáveis aos inadimplentes. As 
denominações dessas regras têm variado bastante, como por exemplo, 
non binding agreements, gentlemen's agreements, códigos de conduta, 
memorandos, declaração conjunta, declaração de princípios, ata final, 
etc.12
3.1 Tratados
Entende-se por tratado o ato jurídico por meio do qual se 
manifesta o acordo de vontades entre duas ou mais pessoas interna­
cionais13.
As Convenções de Viena de 1969 e 1986 estabeleceram as 
normas pelas quais é regido o tratado no Direito Internacional Publico, 
conceituando-o como “um acordo internacional celebrado por escrito 
entre Estados regidos pelo Direito Internacional, quer inserido num único 
instrumento, quer em dois ou mais instrumentos conexos, qualquer que 
seja a sua designação específica” (art. 2, item 1, da Convenção de 1969). 
Essa Convenção foi assinada pelo Brasil em 1980, e ratificada em 25 de 
setembro de 2009 (Decreto 7.030, de 14 de dezembro de 2009).
De acordo com o texto da Convenção de Viena, com­
preende-se que a palavra tratado designa um acordo regido pelo direito 
internacional, qualquer que seja a sua denominação. Nesse sentido, 
tratado seria a designação genérica, onde estão abrangidas as expressões: 
convenção, convênio, protocolo, compromisso, etc.
Apesar disso, algumas diferenciações têm sido utilizadas 
para a designação dos diferentes tratados, de acordo com sua hierarquia e 
finalidade, tais como:
12 SOARES, op. cit, p. 138,
13 SILVA & ACCIOLY, op. cit., p. 23.
Direito Internacional
Expressão 1 Designação
Carta Designa tratados hierarquicamente supe­
riores, os quais dispõem sobre a criação 
de entidades internacionais, como por 
exemplo a Carta da ONU.
Convenção | Vem sendo utilizada nos principais 
tratados multilaterais de característica 
normativa, como a Convenção de Viena 
sobre Direito dos Tratados (1969).
Acordo Utilizado quando o número de partes é 
baixo e sua forma é simples. Possui 
característica administrativa e técnica.
Ajuste ou Acordo Complementar j
Ij
Ato que possibilita a execução de outro 
anterior, devidamente concluído. Em 
geral, são colocados ao abrigo de um 
acordo-quadro ou acordo-básico.
Acordo por Troca de Notas j
1
Empregado para assuntos de natureza 
administrativa, bem como para alterar ou 
interpretar cláusulas de atos já 
concluídos.
Memorando de Entendimento Utilizado para registrar princípios gerais 
que orientarão as relações entre as 
Partes, seja nos planos político, 
econômico, cultural ou em outros.
Protocolo |
;
Usualmente, designa o documento que 
visa a dirimir questões adicionais, 
complementares e interpretativas de 
tratados ou convenções anteriores. É 
utilizado ainda para designar a ata final 
de uma conferência internacional.
Protocolo de Entendimento Ato de menor hierarquia que não encerra 
um acordo de vontades, mas apenas um 
início de compromisso.
Concordata Teimo reservado ao tratado bilateral em 
que uma das partes é a Santa Sé.
19
Essas denominações, contudo, não têm influência sobre o 
conteúdo do tratado, podendo variar de acordo com a escolha dos 
Estados-membros. Portanto, a utilização das expressões é, de certa forma, 
livre.
O capítulo III tratará mais detalhadamente acerca dos 
tratados internacionais.
3.2 Costume
O costume adquire papel fundamental enquanto fonte do 
DIP, uma vez que muitas das relações de direito internacional não se 
encontram normatizadas. E, por excelência, a fonte formadora das normas 
de DIP.
Segundo a doutrina, para a formação do costume interna­
cional é indispensável a existência de 2 (dois) elementos: um de ordem 
material e outro de caráter subjetivo.
O elemento material do costume está consubstanciado na 
prática, na repetição ao longo do tempo de um certo modo de proceder 
ante a determinado quadro fático. Essa prática reiterada pode ser omissiva 
ou comissiva e aplica-se a quaisquer sujeitos na esfera do Direito 
Internacional Público. Não há transcurso de tempo pré-determinado para 
a sua formação, devendo ser analisado caso a caso. Nesse sentido, já se 
manifestou a Corte Internacional de Justiça no julgamento do Caso da 
Plataforma Continental do Mar do Norte: “o transcurso de um período de 
tempo reduzido não é necessariamente, ou não constitui em si mesmo, um 
impedimento à formação de uma nova norma de direito consue- 
tudinário”14.
O elemento subjetivo do costume internacional (Opinio 
Juris) é o entendimento, a convicção, a crença de que a atitude prática se 
estima obrigatória por ser necessária, correta, justa, e por assim dizer, 
digna do bom direito. Do contrário, qualquer conduta internacional 
reiterada por qualquer Estado durante um certo lapso temporal, por 
comodismo, hábito ou praxe, se enquadraria nessa definição, formando 
assim uma nova norma costumeira.
14 REZEK, op. cit.,p. 119.
20
Direito Internacional
A formação de um costume internacional não necessita de 
que determinada conduta seja praticada reiteradamente por todos os 
membros da comunidade internacional, assim como não precisa que todos 
a considerem como justa e correta. Impõe-se, todavia, por uma questão de 
bom senso, a existência de uma pluralidade de Estados que adotem a 
prática.15
Inúmeras situações encontram-se satisfatoriamente regu­
ladas pelo direito costumeiro, de modo que não se vislumbra a 
necessidade de sua codificação. Tanto é assim que é de praxe a adoção 
pelas Convenções do seguinte preâmbulo:“afirmando que as regras de 
direito internacional consuetudinário continuarão a reger as questões que 
não forem reguladas nas disposições da presente Convenção”. 6
Não há desnível hierárquico entre normais costumeiras e 
convencionais. Logo, um tratado é idôneo para derrogar, entre as partes 
celebrantes, certo norma costumeira. De igual modo, pode um costume 
derrogar a norma expressa de um tratado.17
No entanto, é preciso esclarecer que, em termos de 
operacionalidade e segurança, os tratados primam sobre os costumes, uma 
vez que, muitas vezes, é árdua e nebulosa a tarefa de verificar a data de 
surgimento do costume, as partes obrigadas, a profundidade das 
obrigações, etc. Busca-se, materialmente, a prova do costume em atos 
estatais, via de regra, aqueles que compõem a prática diplomática, e ainda 
nos textos legais e nas decisões judiciárias que disponham sobre temas de 
interesse do direito das gentes18.
Geralmente é com base em normas costumeiras que se 
estabelecem as bases estruturais de um tratado ou convenção 
internacional. Da mesma forma, algumas convenções internacionais de 
grande relevância não ratificadas pelas partes são consideradas pela 
doutrina como direito consuetudinário. Um exemplo interessante dessa 
hipótese é o Caso da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, 
datada de 1969, que é obrigatória por força contratual àqueles Estados 
que a ratificaram e costumeira para aqueles que não o fizeram.
15 REZEK, op. cit., p, 120.
18 SOARES, op. cit., p. 85.
,7 REZEK, op. cit., p. 124.
18 REZEK, op. Cit., p. 125.
21
3.3 Princípios gerais do direito
A doutrina destaca que, dentre as fontes de DIP citadas pelo 
artigo 38 do Estatuto da CIJ {vide item 3 do presente capítulo), os 
princípios gerais do direito são os mais vagos, os de mais difícil 
caracterização19. Tais princípios seriam aqueles aceitos por todas as 
nações in foro doméstico, dentre os quais poderíamos destacar o princípio 
da boa fé, da não-agressão, da solução pacífica dos litígios, da 
continuidade do Estado, da autodeterminação dos povos, do desarma­
mento, pacta sunt servanda e rebus sic stantibus.
Na prática, há exemplos da utilização dos princípios gerais 
do direito como fundamento de decisões. No Caso Chorzów Factory 
(1927), a Corte Permanente de Justiça Internacional (antecessora da Corte 
Internacional de Justiça) declarou que “é um princípio de direito 
internacional, e até mesmo um princípio geral do direito, que qualquer 
quebra a um acordo acarreta a obrigação de indenização”.
3.4 Jurisprudência e doutrina
A alínea d do art. 38 do Estatuto da Corte menciona as 
decisões judiciárias e a doutrina como fontes do DIP. Essa diretriz está 
sujeita ao disposto no art. 59 do mesmo Estatuto, que determina que “a 
decisão da Corte não é obrigatória senão para as partes em litígio e em 
relação a esse caso específico”. Isso significa que os tribunais não estão 
obrigados a seguir as decisões anteriores relativas à mesma questão de 
direito (stare decisis doctrine).
Pela expressão decisões judiciárias, entende-se a juris­
prudência dos tribunais arbitrais, além das decisões dos tribunais e 
organizações internacionais. Sua importância vem do fato de que a 
jurisprudência contribui para o desenvolvimento da disciplina, uma vez 
que interpreta e esclarece as disposições de tratados internacionais e das 
normas costumeiras. Dentre as decisões judiciárias, aquelas emanadas da 
CIJ são consideradas as de maior relevância para a interpretação das 
normas na esfera internacional.
Quanto à doutrina, sua caracterização como fonte do DIP é 
bastante contestada, contudo, não se pode negar sua importância na 
interpretação dos textos convencionais, que muitas vezes não são 
devidamente claros e precisos.
19 SILVA & ACCIÓLY, op. cit, p. 7.
22
Direito Internacional
Na verdade, tem-se concebido que a jurisprudência e a 
doutrina não são formas de expressão do direito, mas sim instrumentos 
úteis a sua correta interpretação. Já a eqüidade e a analogia, por seus 
turnos, são métodos de raciocínio jurídico, critérios norteadores do 
julgador face à insuficiência do direito ou a completa obscuridade 
normativa para o julgamento de um caso concreto20. Sublinhe-se, 
entretanto, que, para a utilização da eqüidade pelas Cortes Internacionais, 
é imprescindível a autorização das partes envolvidas21.
20 REZEK, op. cfL, p. 145.
21 O Estatuto da CIJ dispõe em seu artigo 38 que o recurso à eqüidade depende da aquiescência 
das partes litigantes.
Direito Internacional
Capítulo 11
PERSONALIDADE INTERNACIONAL
1 Conceito
No direito internacional, o “reconhecimento da perso­
nalidade internacional significa o reconhecimento de sua existência legal 
na sociedade internacional”22.
Como vimos, no DIP Clássico, somente os Estados 
figuravam como sujeitos de direitos e obrigações. Atualmente, além dos 
Estados, outros entes figuram como sujeitos de DIP, sendo eles as 
organizações internacionais e os indivíduos.
2 Capacidade de ação e personalidade
A capacidade de ação decorre do reconhecimento da 
personalidade jurídica de um determinado ente, eis que a capacidade é o 
“poder de intervir por si mesmo”. Contudo, o exercício de direitos e 
deveres poderá sofrer limitações, na medida da capacidade conferida a
22 JO, op. cit, p. 186.
25 \
1
um determinado ente pelo Direito Internacional. A capacidade, portanto, 
varia de um ente para outro.
A capacidade dos Estados é assegurada a partir de sua 
constituição, desde que haja soberania e independência para tomar 
decisões. Percebe-se» assim, que a independência e a soberania são 
elementos indispensáveis para assegurar a capacidade do Estado para 
figurar como sujeito de direitos e deveres no âmbito internacional. A 
justificativa lógica para essa afirmação decorre do fato de que um Estado 
não poderá se encontrar subordinado a outro para manter relações 
jurídicas na comunidade internacional.
No que se refere às organizações internacionais, sua
personalidade já foi reconhecida pela Corte Internacional de Justiça. 
Assim como as empresas no âmbito do direito interno, as organizações 
internacionais possuem personalidade independentemente de seus 
membros.
No entanto, o exercício de sua capacidade de ação - que,
como vimos, é uma conseqüência da personalidade internacional -
dependerá do que dispõem seus acordos constitutivos. Assim, o
reconhecimento da personalidade de uma organização não significa, 
necessariamente, que ela possui capacidade para concluir tratados, por 
exemplo.
As organizações exercem, portanto, uma “capacidade legal 
internacional limitada”, de acordo com as delimitações estabelecidas por 
seu tratado constitutivo. Além disso, o âmbito de exercício da capacidade 
da organização está adstrito aos países que a reconhecem23 e é resultante 
da vontade de seus membros (capacidade derivada).
Por fim, relativamente à capacidade de ação dos indivíduos 
na esfera internacional, ainda não há consenso acerca dos direitos e 
deveres que eles gozam no DIP. O entendimento majoritário da doutrina é 
de que a capacidade do indivíduo estende-se até o limite permitido pelas 
normas internacionais aplicáveis diretamente a ele. Ou seja, no momento 
em que uma norma internacional confere a possibilidade do exercício de 
determinados direitos diretamente pelo indivíduo, aí está a delimitação de 
sua capacidade.
23 JO, op. cit. p. 18Ô.
26
Direito Internacional
Exemplo prático desse entendimento é a permissão do 
acesso de indivíduos a alguns tribunais internacionais, para proteção de 
seus direitos. Apesar de a CIJ não aceitar demandas propostas por 
indivíduos, outros tribunais o fazem, dentre eles, o ICSID (tribunal 
arbitrai ad hoc do Banco Mundial), a Corte Permanente de Arbitragem, 
em Haia, o Sistema de Resolução de Controvérsias estabelecido no 
NAFTA e a CorteEuropéia de Direitos Humanos.
3 Pessoas internacionais
3.1 Estados
O Estado é, sem dúvida, o ente mais participativo nas 
relações regidas pelo direito internacional. Diversos são os conceitos de 
Estado, vejamos alguns:
“Estado soberano independente é aquele que tem exclu­
sividade, autonomia e plenitude de competência, sendo que 
todas as noções devem ser interpretadas dentro do quadro 
geral do Direito Internacional" (Rousseau).
“Estado sujeito do Direito Internacional é aquele que reúne três 
elementos indispensáveis para a sua formação: população 
{composta de nacionais e estrangeiros), territórios (ele não 
precisa ser completamente definido, sendo que a ONU tem 
admitido Estados com questões de fronteira, como por exemplo, 
Israel) e govemo (deve ser efetivo e estável). Todavia, o Estado 
pessoa internacional plena é aquele que possui soberania" 
(Celso D. Albuquerque de Mello, 1997, vol. I, p. 329).
H0 Estado, personalidade originária de direito internacional 
público, ostenta três elementos conjugados: uma base 
territorial, uma comunidade humana estabelecida sobre essa 
área, e uma forma de governo não subordinado a qualquer 
autoridade exterior” (J.F. Rezek, 2005, p. 161).
Para melhor compreensão, dividiremos o presente estudo 
nos seguintes itens:
a) Elementos Constitutivos do Estado
b) Classificação dos Estados
27
c) Nascimento e Reconhecimento do Estado
d) Extinção do Estado
e) Sucessão de Estados
a) Elementos Constitutivos do Estado - Conforme 
estabelece a Convenção Interamericana sobre os Direitos e Deveres dos 
Estados, firmada em Montevidéu, em 1933, são quatro os elementos 
constitutivos do Estado: a) população permanente; b) território; c) 
governo; d) capacidade de entrar em relação com os demais Estados,
a.l) População', trata-se do conjunto de indivíduos, 
nacionais ou estrangeiros, que habitam o território ém determinado 
momento. É, pois, um conceito aritmético, quantitativo, de modo que não 
se confunde com o conceito de povo, que se refere à coletividade 
determinada pelo aspecto social.
A população estatal moderna é de natureza sedentária, 
estabilizada no interior das fronteiras do território de determinado Estado. 
A idéia de uma população nômade não condiz com a realidade 
internacional. A maioria dos governos confrontados com problemas do 
nomadismo transfronteiriço pratica políticas, por vezes brutais, de 
sedentarização dos grupos nômades. No entanto, é importante destacar 
que um Estado não perde sua qualidade porque pratica ou favorece uma 
política de emigração maciça de sua população ou porque permite uma
24ímigraçao estrangeira importante.
O elemento humano garante a manifestação do princípio da 
continuidade do Estado.
a.2) Território: A noção conceituai de território relaciona- 
se a uma área terrestre, somada àqueles espaços hídricos de interesse 
puramente interno, como os rios e lagos que se circunscrevem no interior 
dessa área sólida. Sobre o território, o Estado soberano exerce jurisdição 
geral e exclusiva, no sentido de que possui domínio territorial sobre todas 
as competências de ordem legislativa, administrativa e jurisdicional e que 
não enfrenta concorrência de qualquer outra soberania.
24 DINH, Nguyen Quoc, DAILUER, Daillier e PELLET, Aían. Direito internacional Púbiico, 
Fundação Calouste Gulbenkian, 1999, p. 374.
28
Direito Internacional
O requisito referente à existência de um território 
determinado não significa que o território do Estado deva estar 
absolutamente delimitado. Um Estado poderá ser reconhecido 
internacionalmente mesmo que suas fronteiras não estejam perfeitamente 
definidas. Além disso, a extensão ou tamanho do território não influi 
sobre o reconhecimento da personalidade internacional.
A delimitação territorial de um Estado geralmente ocorre 
por meio do estabelecimento de fronteiras com base em linhas limítrofes 
artificiais ou naturais. A primeira caracteriza-se pela utilização de linhas 
geodésicas (paralelos e meridianos), ou qualquer arranjo ou combinação 
que se fundamente à base delas. A segunda relaciona-se ao aproveita­
mento de rios e cordilheiras como formas naturais de determinar as 
fronteiras de Estados vizinhos. O critério natural prevalece sobre o 
artificial, quando a natureza assim o permite, como por exemplo, no 
estabelecimento da fronteira entre Argentina e Chile, com base na 
Cordilheira dos Andes.
a.3) Governo e Capacidade de manter relações: são 
exigências que se completam, pois é necessária a existência de um 
govemo não-subordinado, ou seja, soberano, para que o Estado possa 
exercer sua capacidade de ação no cenário internacional. Não basta a 
existência de território bem delimitado, população estável, sujeita à 
autoridade de um govemo para identificar o Estado enquanto sujeito do 
Direito Internacional, é preciso encontrar a noção de ente soberano, com 
competências igualitárias a qualquer outro Estado da comunidade 
internacional.
Importante destacar que a idéia de autonomia não se 
confunde com a de soberania, da mesma forma que o conceito de 
Confederação não se eqüivale ao de Federação. O primeiro indica a 
reunião de Estados Soberanos em tomo de interesses comuns, sejam 
políticos, econômicos ou geopolíticos, sem, no entanto, abdicarem de sua 
soberania. O segundo, por sua vez, refere-se à união de estados 
autônomos na qual há a cessão da suas soberanias para um centro de 
poder único (União Federal), mantendo-se, todavia, um grau variável de 
autonomia.
b) Classificação dos Estados — A maioria dos 
intemacionalistas classifica os Estados com base na sua estrutura, 
designando-os como Estados simples ou Estados compostos.
29 \
Os Estados simples caracterizam-se pelos seguintes 
atributos: são plenamente soberanos e representam um todo homogêneo e 
indivisível, sendo que não há divisão interna de autonomias. Trata-se da 
forma mais comum de Estado.
Os Estados compostos dividem-se em: (I) Estados 
compostos por subordinação; e (II) Estados compostos por coordenação. 
Os compostos por subordinação referem-se a grupos de Estados que não 
se encontram em situação de igualdade, não possuem plena autonomia e 
não possuem pleno gozo de alguns direitos (eram os chamados Estados 
vassalo, protetorado ou Estado cliente). Tais Estados não mais existem na 
atualidade. Exemplo dessa situação era a da URSS com os países satélites 
(Polônia, Hungria, Romência, etc.), onde havia controle por parte da 
URSS relativamente a aspectos econômicos, militares e comerciais.
Já os Estados compostos por coordenação ocorrem a partir 
da associação de Estados soberanos, em situação de igualdade. Exemplo 
dessa situação é a confederação de Estados, onde se busca determinado 
fim especial a partir da associação. Esse fim especial pode ser, por 
exemplo, a defesa dos Estados ou a proteção de interesses comuns. 
Geralmente há uma autoridade central, chamada Dieta, a qual não se 
constitui em poder supremo, mas apenas em uma assembléia cujas 
decisões são tomadas por unanimidade. Atualmente também não há 
exemplos de confederações de Estados, mas podemos destacar a 
Confederação Americana, que existiu no período de 1781 a 1789.
Dentre os Estados compostos por coordenação, a doutrina 
destaca ainda o Estado federal ou federação de Estados. Trata-se da 
união permanente de Estados onde cada um conserva sua autonomia 
interna enquanto que a soberania externa é exercida pelo governo federal. 
A autonomia interna dos Estados é, contudo, limitada pela constituição 
federal. Desde a Constituição de 1891, o Brasil é um Estado federal.
c) Nascimento e Reconhecimento do Estado - o nascimento 
do Estado decorre da reunião de seus elementos constitutivos, conforme 
vimos no item a. Contudo, a simples reunião dos elementos não permite, 
por si só, o nascimento do Estado, sendo necessário um elemento de 
conexão entre eles.A doutrina cita como “elementos de conexão” a 
nacionalidade e os fatores econômicos (capacidade de sobrevivência por 
seus próprios meios).
30
Direito Internacional
Pode-se'considerar que o surgimento de um Estado se dá 
por uma das seguintes formas: (I) separação de parte da população e 
território de um Estado (exemplo: Brasil e Estados Unidos, que surgiram 
após sua libertação da condição de colônias); (II) dissolução total de um 
Estado, não subsistindo sua antiga personalidade (exemplo: 
desmembramento da URSS); (IH) fusão para criação de um Estado novo 
(exemplo: Itália que surgiu da fusão, em 1860, de Modena, Parma, 
Toscana e Reino de Nápoles, os quais foram incorporados ao Piemonte 
para formar um novo país).
O reconhecimento é um ato unilateral, por meio do qual se 
declara a aquisição da condição de Estado. É, portanto, um ato de 
liberalidade, orientado pelos objetivos políticos do próprio Estado. 
Contudo, para que um Estado passe a possuir direitos e obrigações 
perante a sociedade internacional é necessário o seu reconhecimento 
pelos demais Estados existentes.
É importante compreender que o fato de um determinado 
Estado não reconhecer um outro não significa que este não possua 
personalidade, mas tão somente que aquele Estado não o reconhece e não 
deseja manter relações com este. Nesse sentido, o reconhecimento dos 
demais Estados não é ato constitutivo, mas sim declaratório da qualidade 
do Estado como sujeito do Direito Internacional Público.
É preciso atentar ao fato de que, segundo o direito 
costumeiro, é possível que certo Estado negocie em conferência, assine 
ou ratifique tratados coletivos, ou deles seja parte, sem reconhecer todos 
os outros pactuantes. O reconhecimento mútuo é requisito apenas para 
celebração de tratados bilaterais, não de multilaterais.
Os meios de reconhecimento de um Estado são:
(I) expresso (declaração, notificação, dispositivo em 
tratado); ou tácito (por exemplo, por meio do estabele­
cimento oficial de relações diplomáticas);
(II) individual (realizado individualmente por cada Estado); 
ou coletivo (por meio de dispositivo em um tratado 
multilateral ou declaração coletiva);
(IIÍ) de facto (provisório e limitado); ou de jure (definitivo e 
completo).
31
Matéria de interessante análise é aquela relativa aos Micro- 
Estados. São aqueles Estados que dispõem de um território mais ou 
menos exíguo, como por exemplo, Andorra (467 Km2), Liechtenstein 
(160 Km2), São Marino (61 Km2), Mônaco (menos de 2Km2) e com uma 
população inferior a quarenta mil pessoas, todavia, com instituições 
políticas estáveis e regimes organizados.
O que diferencia os Micro-Estados dos demais Estados da 
comunidade internacional é que, em razão da hipossuficiência ocasionada 
pela pequena dimensão territorial e demográfica, partes de sua 
competência (defesa nacional, emissão de moeda) são confiadas a outrem, 
normalmente a um Estado vizinho, como a França no caso de Mônaco; a 
Itália, no caso de São Marino; e a Suíça no caso de Liechtenstein25.
c.l) Reconhecimento de Govemo: o reconhecimento do 
Estado não deve se confundir com o reconhecimento de govemo. Uma 
ruptura na ordem política, como uma revolução ou golpe de estado pode 
determinar a instauração no país de uma nova forma de poder, à margem 
das prescrições constitucionais pertinentes à renovação do quadro de 
condutores políticos26. Por exemplo, quando as modificações de um 
Estado se dão em violação a sua Constituição, os governos resultantes de 
golpes precisam ser reconhecidos pelos demais Estados. São exemplos 
típicos: os Golpes de Estado ocorridos no Brasil em 1930 e 1964 e na 
Argentina em 1966.
Importante atentar para o fato de que o reconhecimento de 
um Estado, em regra, implica no reconhecimento do govemo que se 
encontra no poder naquele momento. Contudo, “se a forma de govemo 
muda, isto não altera o reconhecimento do Estado: só o novo govemo terá 
necessidade de novo reconhecimento”27. Os meios de reconhecimento do 
govemo também podem se dar de forma tácita ou expressa; de facto ou de 
jure.
c.2) Reconhecimento de beligerância e insurgência: o 
reconhecimento de beligerância ocorre quando parte da população se 
revolta para criar um novo Estado ou então modificar a forma de govemo 
existente, sendo que tal “revolta” evolui ao nível de uma guerra 
internacional. Nesse caso, os demais Estados podem passar a considerar
26 REZEK, op. cit., p. 239.
28 REZEK, op. clt., p. 224.
27 ACCIOLY, op. clt-, p. 87.
32
Direito Internacional
as “partes” do conflito em condições de igualdade jurídica, reconhe­
cendo-lhes a condição de beligerantes. Seu principal efeito é o do 
reconhecimento dos direitos e deveres de um Estado ao grupo de 
beligerantes, os quais deverão, por exemplo, respeitar normas de guerra.
Já o reconhecimento de insurgência ocorre quando há uma 
situação que assume proporções de guerra civil, sem, contudo haver o 
reconhecimento de seu caráter jurídico, mas de simples situação de fato. 
O seu reconhecimento não implica em direitos e deveres especiais, mas 
os insurretos não poderão ser tratados como ilegais pelos governos que os 
reconheçam.
d) Extinção do Estado - não há no DIP um entendimento 
pacífico sobre como se dá a extinção de um Estado. Logicamente, uma 
vez que a criação do Estado se dá pela reunião de seus elementos 
constitutivos, sua extinção decorreria do desaparecimento de um deles 
(exemplo: êxodo total da população). Sendo assim, as hipóteses de 
criação de novos Estados enumeradas no item c podem corresponder 
igualmente à extinção de um Estado, seja pela sua absorção completa de 
um Estado por outro, pelo desmembramento para formação de novos 
Estados ou pela fusão de Estados. Saliente-se que, atualmente, a Carta das 
Nações Unidas proíbe a anexação e transformação de um Estado em 
colônia.
e) Sucessão de Estados ~ Quando se aborda o fenômeno 
sucessório no âmbito do direito internacional público é necessário 
destacar a existência do princípio da continuidade do Estado. Segundo 
essa máxima, o Estado, pelo fato de existir, tende a continuar existindo, 
ainda que sob outra roupagem política e até mesmo quando ocorram 
modificações expressivas na titularidade de sua soberania28. Em outras 
palavras, é com base nesse princípio que se estabelecerão as regras gerais 
sobre os efeitos jurídicos decorrentes da sucessão de Estados.
Segundo as Convenções de Viena de 1978 e 1983, a 
sucessão de Estados se dá pela substituição de um Estado (predecessor) 
por outro (sucessor) nas suas responsabilidades internacionais. As 
modalidades de sucessão são classificadas da seguinte maneira: (I) pela 
fusão ou agregação de Estados; (II) pela secessão ou desmembramento de 
Estados; ou (III) pela transferência territorial.
28 REZEK, op. cit., p. 289.
33 \
Quanto aos efeitos jurídicos da sucessão de Estados,
vejamos:
e.l) Sucessão em matéria de Tratados: regulada pela 
Convenção de Viena sobre Sucessão de Estados em Matéria de Tratados, 
de 1978. A regra geral é de que a sucessão de Estados não afeta os 
tratados que se referem aos direitos sobre o território (tratados 
dispositivos). Essa regra pode, contudo, variar de acordo com a mudança 
territorial ocorrida. Assim, quando um novo Estado é formado pela 
sucessão do território de um outro, o novo Estado sucede 
automaticamente o Estado predecessor (art. 34). Também quando há 
fusão de dois ou mais Estados, os tratados firmados pelos Estados 
predecessores continuam vigentes no território ao qual eram aplicados 
antes da fusão, salvo algumas exceções previstas no art. 31. Um Estado 
apenas sucede num tratado bilateral se o outro Estado e o novo 
concordarem (art. 24). Por fim, a condição de membro de uma 
organização internacional, em princípio, não se sucede.
e.2) Sucessão em Matéria de Bens: regulada pelos artigos 7 
a 18 da Convenção.Caso haja sucessão da totalidade do território, 
sucede-se toda a propriedade pública, ou seja, todos os bens do Estado 
predecessor. A convenção estabelece que, salvo disposição em contrário, 
a passagem dos bens ocorrerá sem compensação ou pagamento. Se 
houver sucessão apenas de parte do território, os imóveis relativos àquela 
porção do território passarão ao sucessor, assim como os móveis 
vinculados às atividades desenvolvida nessa porção do território, salvo 
disposição em contrário.
e.3) Sucessão em Matéria de Arquivos: salvo estipulação 
em contrário, os arquivos (documentos) transferem-se ao sucessor (arts. 
20 a 24).
e.4) Sucessão em matéria de Dívidas: regulada pelos arts. 32 
a 41 da Convenção. A regra geral é de que a sucessão não influencia os 
direitos dos credores. Sendo assim:
*4>Se o Estado sucessor anexa totalidade do território do
predecessor - deve-se cumprir com os deveres perante os
credores da dívida do predecessor;
'tS e o Estado predecessor perde parte de seu território - o
Estado sucessor assume parte da dívida do predecessor;
34
Direito Internacional
^ S e o Estado predecessor perde totalidade do território em
razão de desmembramento em vários Estados - a dívida
deve ser assumida por cada um dos Estados, conforme
disposições do tratado.
e.5) Nacionalidade: em regra, não se aplica o princípio da 
continuidade no que se refere à nacionalidade. Os Estados envolvidos 
regularão essa questão por tratado ou na legislação interna. Em 
determinados casos, poderá se dar liberdade aos indivíduos para decidir 
sobre a escolha da nacionalidade.
3.2 Organismos internacionais
As normas internacionais não conceituam o termo 
“organização internacional”, de modo que sua definição tem sido dada 
pela doutrina. No entanto, suas diferenças em relação ao Estado, como 
sujeito do Direito Internacional Público, são gritantes, seja em relação aos 
seus objetivos, seja em relação ao seu aparato organizacional.
Alguns elementos principais dos conceitos trazidos pelos 
estudiosos são:
a) associação voluntária, isto é, nenhum Estado é obrigado 
a participar de uma organização internacional;
b) formada por sujeitos de Direito Internacional (os sujeitos 
são os Estados, que passam a ser denominados membros). Algumas 
organizações aceitam membros classificados como observadores, 
associados e afiliados, dentre os quais poderão se incluir entidades não- 
govemamentais e Estados ou territórios não-independentes;
c) constituída por ato de Direito Internacional, ou seja, 
tratados internacionais que adquirem um aspecto de norma constitucional 
da organização;
d) de atuação estável segundo normas de Direito 
Internacional, o que as confere a condição de ente com personalidade 
internacional;
e) com ordenamento, órgãos e institutos próprios;
f) que realiza finalidades comuns de acordo com os poderes 
conferidos por seus membros, os quais se encontram definidos no tratado 
que criou a organização;
35
g) em virtude de seu estatuto jurídico, tem capacidade de 
concluir acordos internacionais no exercício de suas junções e para 
realização de seu objeto.
Pelo menos 2 (dois) órgãos têm sido adotados pelas 
organizações internacionais, independentemente de seu alcance ou 
finalidade: uma assembléia geral, onde são deliberadas as questões 
correspondentes à atuação da organização por parte dos Estados- 
membros; e uma secretaria, cuja função é de administração, de natureza 
permanente. A assembléia geral não é permanente, pois se reúne 
anualmente para assuntos ordinários e, em caráter excepcional, de acordo 
com necessidades especiais. Há, ainda, em algumas organizações 
internacionais de vocação política, um Conselho Permanente.
Quanto ao processo decisório, as organizações interna­
cionais geralmente não operam segundo as normas de deliberação por 
maioria. O Estado soberano somente costuma se sentir vinculado à 
determinada resolução caso tenhá sido favorável a ela, ao menos no que 
seja classificado como importante, e não meramente instrumental. 
Decisão relativa à matéria instrumental seria aquela referente a questões 
administrativas, como eleições para cargos na organização. Exemplos 
típicos de insubordinação de Estados membros a deliberações da 
Assembléia Geral são encontrados na própria Organização das Nações 
Unidas, como por exemplo, no caso das intervenções no Congo e no 
Oriente Médio. Essas condutas dissidentes enfatizam ainda mais o valor 
relativo das recomendações da Assembléia.
A jurisdição das organizações internacionais corresponde 
aos poderes para executar seus objetivos e está delimitada no tratado 
constitutivo. Sendo assim, as atividades realizadas fora desses objetivos 
são consideradas ultra vires. Essa regra passou a denominar-se principio 
da especialidade. Contudo, se tal extrapolação for necessária para a 
execução dos objetivos da organização, a competência da organização é 
compreendida como tacitamente ampliada {teoria do poder implícito).
A questão relativa à possibilidade de um tratado institu­
cional de uma organização internacional gerar obrigações a Estados não 
contratantes é de suma importância. Na verdade, a matéria ganha grande 
contorno em casos em que uma organização de alcance e finalidade 
universais, como a ONU, por exemplo, está inserida na discussão. Em
36
Direito Internacional
regra geral, não há força jurídica na Carta das Nações Unidas ou em outro 
tratado institucional para vincular Estados não membros. “Na verdade, a 
imposição de tratado institucional a terceiro é mera via de fato, 
condicionada à potência da organização, à conjunção favorável das forças 
políticas no seu contexto, e finalmente à debilidade do Estado que faça 
objeto da pretendida coação.”29
As Organizações Internacionais necessitam de um Estado 
soberano, que, mediante celebração de um tratado bilateral (acordo de 
sede), facultará a instalação física da organização em algum ponto do seu 
território. Nada impede que a organização tenha mais de uma sede e que 
se localize em país não membro, sendo, todavia, muito remota essa última 
hipótese.
A falta de cumprimento dos deveres de sua qualidade de 
membro de uma organização internacional pode trazer ao Estado 
conseqüências, de acordo com as previsões estabelecidas pelo tratado 
constitutivo e aplicáveis pela própria organização, mediante o voto de 
seus órgãos. Geralmente elas assumem 2 (duas) formas principais: a 
suspensão de determinados direitos e a exclusão do quadro de Estados 
membros.
Outros exemplos de Organizações Internacionais de alcance 
mundial, além da Organização das Nações Unidas são: OIT (Organização 
Internacional do Trabalho, fundada em 1919 e sediada em Genebra, na 
Suíça), a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a 
Ciência e a Cultura, fundada em 1946, com sede em Paris, na França), a 
FAO (Organização para a Alimentação e a Agricultura, fundada em 1945, 
como sede em Roma, na Itália), o FMI (Fundo Monetário Internacional), 
entre muitas outras. Há também aquelas organizações de alcance regional, 
como por exemplo, o NAFTA (Acordo de Livre Comércio das Américas) 
e o MERCOSUL.
3.2.1 Organização das Nações Unidas - ONU
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, a união dos 
Estados em tomo de objetivos comuns ~ superar divergências, preservar a 
paz, e perseguir níveis mais altos de bem-estar para a população mundial
29 REZEK, op. cit., p. 254.
37
~ acabou por ocasionar, juridicamente, a celebração de acordos 
internacionais e a criação de organizações, dentre as quais a Organização 
das Nações Unidas (ONU) foi o exemplo mais representativo, como 
forma de implementação dessa convergência de interesses30.
Em 26-06-1945, em São Francisco, ocorreu a assinatura da 
Carta da ONU (tratado constitutivo da organização) e do Estatuto da 
Corte Internacional de Justiça - CIJ.
Atualmente,a presença da ONU no cenário internacional é 
de inegável importância, ainda que, por vezes, sua credibilidade 
interna/externa seja abalada por iniciativas conjuntas de alguns de seus 
Estados membros, em áreas de seu interesse, mas sem o seu aval, como 
por exemplo, na invasão do Iraque por parte dos EUA e seus aliados.
A ONU atua nas mais diversas áreas (direitos humanos, 
direitos do mar, direitos do meio ambiente, etc.), em atividades que 
compreendem, de certa maneira, as esferas legislativa, administrativa e 
judiciária.
A Carta da ONU estabelece, em seu art. Io, os objetivos da
organização:
“(1) Manter a paz e segurança internacionais, e para esse fim 
tomar coletivamente medidas efetivas para evitar ameaças à 
paz e reprimir os atos de agressão ou outra qualquer ruptura 
da paz e chegar, por meios pacíficos e de conformidade com 
os princípios da justiça e do direito internacional, a um ajuste 
ou solução das controvérsias ou situações que possam levar a 
uma perturbação da paz;
(2) Desenvolver relações amistosas entre as nações, baseadas 
no respeito ao princípio de igualdade de direito e de 
autodeterminação dos povos, e tomar outras medidas 
apropriadas ao fortalecimento da paz universal;
(3) Conseguir uma cooperação internacional para resolver os 
problemas internacionais de caráter econômico, social, cultural 
ou humanitário, e para promover e estimular o respeito aos 
direitos humanos e às liberdades fundamentais para todos, 
sem distinção de raça, sexo, língua ou religião;
30 NASSER, Rabih Ali. A Liberalização do Comércio Internacional nas Normas do GATT-OMC.
São Pauio: LTr, 1999, p. 22.
38
Direito Internacional
(4) Ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações 
para a consecução desses objetivos comuns”, (grifamos alguns 
pontos essenciais)
O art. 2o da Carta enumera os sete princípios que deverão 
ser observados pelos Estados-membros:
(1) igualdade soberana dos membros;
(2) boa-fé no cumprimento das obrigações internacionais;
(3) solução dos conflitos por meios pacíficos;
(4) abstenção da ameaça e da força contra a integridade 
territorial;
(5) assistência à ONU em qualquer ação;
(6) obrigação dos estados não membros da ONU de cumprir os 
princípios da ONU;
(7) não-intervenção em assuntos que sejam, essencialmente, 
da competência intema dos Estados.
Segundo a Carta da ONU, Estados não-membros podem 
participar dos debates do Conselho de Segurança e atentar o Conselho 
para controvérsias. Além disso, conforme prevê o art. 2, § 6o, para 
preservar a paz e segurança internacionais, poderá a organização fazer 
com que Estados que não são membros das Nações Unidas procedam em 
conformidade com seus princípios.
Os membros das Nações Unidas são aqueles Estados que 
assinaram a Carta da ONU e a ratificaram. A admissão de novos 
membros “fica aberta a todos os Estados amantes da paz que aceitarem as 
obrigações, contidas na presente Carta e que, a juízo da Organização, 
estiverem aptos e dispostos a cumprir tais obrigações” (art. 4o da Carta).
A suspensão dos membros se dá por decisão da Assembléia 
Geral, mediante recomendação do Conselho de Segurança. Quando um 
Estado-membro viola de forma persistente os princípios da Carta, poderá 
vir a ser expulso, também por recomendação do Conselho de Segurança.
Relativamente à composição de receita, geralmente, as 
organizações internacionais estabelecem cotizações estatais não 
paritárias. Anteriormente, essa relação girava em tomo da capacidade 
contributiva de cada Estado membro, levando-se em conta sua pujança
39
econômica. No entanto, no âmbito da ONU, essa forma de cáiculo foi 
modificada, na tentativa de evitar o agigantamento de um Estado membro 
específico. Sendo assim, ficou estabelecido um teto individual de 25% da 
receita prevista. A título exemplificativo, na virada do século, os EUA 
contribuíam com 25% da receita, o Japão com 20% e a Alemanha com 
10%.
Vejamos a seguir um quadro descritivo dos principais 
órgãos da ONU:
| Órgão Função Composição Processo de
L... J Votação
I Conselho de Manutenção da paz e São 15 Estados- - Cada membro
1 Segurança i da segurança Inter­ membros, cada (permanente ou
(cs) \ nacionais, inclusive um com um não) tem direito a
\ mediante o uso de representante. um voto;
I força, se necessário. Membros - Decisões sobre
1 i Age em nome dos permanentes: questões
1 1 demais membros - China; processuais são II sobre questões - França; tomadas por voto
1 ^ relativas a: - Rússia; afirmativo de nove
1 a) litígios entre - Reino Unido; membros;
Estados-membros; -Estados - Demais assuntos
1 b) regulamentação de Unidos. - voto afirmativoI armamentos; Periodicamente, de nove membros,
c) ações em casos de a AG escolhe 10 inclusive os votos
1 ameaça à paz e miembros não- afirmativos de
1 agressão; permanentes, todos os membros
1 d) cumprimento das com mandato de permanentes;
1 sentenças da CIJ. 2 anos. - Decisões sobrei Adota resoluções soluções pacificas
1 para a solução de controvérsias =
pacifica de conflitos e parte envolvida se
1 decide sobre abstém de votar e
medidas coercitivas, não poderá vetar.
1 em caso de Obs: os Membros
1 ameaças. Ê um Permanentes tem
1 órgão permanente e direito de vetar
1 suas resoluções qualquer decisão
1 deverão ser sobre assunto não
1 cumpridas pelas processual, dentre
!
Nações Unidas. os quais se j 
encontram as ] 
“ações !
coercitivas”. ]
40
reito Internacional
Assembléia Principal órgão Representantes - Cada membro !
Gerai (AG) deliberativo da ONU. j de todos os tem um voto; j
Competência geral e Estados- -Questões j
abrangente de membros. importantes j
acordo com as (recomendações
finalidades da ONU j sobre manutenção j
(cooperação 1 da paz e ]
internacional em segurança, eleição j
diversas áreas). de membros não
Fornece j permanentes do
recomendações ao CS, admissão e j
CS e adota expulsão de mem­
resoluções não- bros) = tomadas
obrigatórias. por maioria de dois 
terços dos
membros presen- i 
tes e votantes; i 
- Outras matérias = 
maioria dos f 
membros presen- j 
tes e votantes. j
Ôrgão Função Composição Processo de ~ 1 
Votação |
Secretariado 0 Sôcretário-Geral é 
o principal funcio­
nário administrativo 
da ONU, atuando em 
todas as reuniões da 
AG, CS, Conselho 
Econômico e Conse­
lho de Tutela. Poderá
0 Secretariado 
possui diversos 
funcionários e 
um Secretário- 
Geral (indicado 
pela AG 
| mediante 
recomendação
chamar a atenção do 
CS para assuntos
j ao CS), com 
mandato de 5
que ameacem a paz 
e segurança. Não 
pode solicitar ou 
receber instruções de 
gover-nos ou 
autoridades.
1 anos.
Conselho Promover coope­ í Cinqüenta e Decisões tomadas 1
Econômico e ração internacional e quatro membros pela maioria dos f
Sociai econômica. Coorde­ da ONU eleitos membros 1
nar as atividades das pela AG presentes e 1
organizações espe­ i votantes. |
cializadas nos 1 I
41 \
i I
campos econômico, 
social, cultural, 
educacional, 
sanitário, etc. 
mediante consulta ou 
fazendo
recomendações. 
Pode elaborar 
estudos, relatórios, 
recomendações, pre­
para projetos de 
convenções e 
organiza 
conferências 
internacionais. Pode 
con-sultar ONGs que 
se ocupem de 
assuntos de sua 
competência.
Conselho de 
Tutela
É o responsável por 
acompanhar o 
progresso social dos 
territórios onde não 
há governo 
independente. Hoje 
não há mais 
territórios em tais 
condições.
Composto pelos 
membros 
permanentes do 
CS.
3.2.2 Organização dos Estados Americanos ~ OEA
A OEA surgiu a partir de um longo período de negociações, 
sendo que em 1948 as Nações Americanas adotaram, em Bogotá, a Carta 
da Organização dos Estados Americanos. Nesse documento foram 
estabelecidos os objetivos da Organização, cuja principal finalidade é 
garantir a paz e a segurança do continente, promovendoo bem social A 
Carta de Bogotá entrou em vigor em 13 de novembro de 1951, com o 
depósito da 14a ratificação.
De acordo com o art. 4o da Carta, “são membros da 
organização todos os Estados Americanos que ratificarem a presente 
Sendo assim, o ingresso na OEA é facultado a todo Estado americano 
independente. É, pois, uma Organização Internacional de alcance 
regional.
42
Direito Internacional
Diferentemente do que ocorre na ONU, não existia nessa 
organização um processo de candidatura para ingresso, bastando que o 
Estado ratificasse a Carta. Atualmente, pela reforma de Buenos Aires 
(1967), há um processo de candidatura, a qual deve ser aprovada pela 
Assembléia Geral, após recomendação do Conselho Permanente.
A Carta não prevê a expulsão dos membros, mas esses 
poderão denunciá-la. Em caso de exercer o direito de denúncia, o Estado 
estará desligado dentro de 2 anos, desde que, até então, haja cumprido as 
obrigações emanadas da Carta.
A OEA é composta dos seguintes órgãos:
| Reunião de Consulta dos Ministros de Relações Exteriores: j
j - tem por finalidade “considerar problemas de natureza urgente e de interesse j 
j.;^r3piu^^am:os^t^os íAmenetoos, e para servir de órgão de consulta?’; ; 1
j I
| Conselhos da Organização: |
| a) Conselho Permanente: trata de assuntos determinados pela AG e pela I 
| Reunião de Consulta. Dentre suas funções destacam-se: velar pela j
i manutenção das relações de amizade entre os Estados-membros, executar ! 
decisões da AG, formular recomendações à AG sobre funcionamento da|j
[•organização^,;; ^ "'/"V •• ••J
ppâfquerEslmlo
osf:EstSdpsÍêstàoírepr£fcfin^
43
A OEA possui, ainda, vários organismos especializados, tais 
como a Organização Pan-Americana de Saúde, a Junta Interamericana de 
Defesa (cuja finalidade é traçar medidas de defesa do continente) e o 
Instituto Internacional Americano de Proteção à Infância.
3.3 indivíduos e empresas
A personalidade internacional dos indivíduos vem sendo 
ampliada de acordo com a modernização do DIP. Isso significa dizer que 
os indivíduos vêm, de certa forma, desvenciliando-se da proteção 
exclusiva do Estado soberano. Isso porque, toda vez que há a aplicação 
direta do DIP a um indivíduo, há uma diminuição do exercício da 
jurisdição do Estado.
Essa lógica aplica-se igualmente às empresas. Um exemplo 
disso é á tentativa de regulamentação internacional das empresas trans- 
nacionais, de modo que tais empreendimentos não se encontrariam mais 
limitados ao âmbito de aplicação dô direito interno, mas sim ao direito 
internacional.
44
Direito Internacional
Parte da doutrina, contudo, resiste ao reconhecimento da 
personalidade jurídica dos indivíduos e empresas. Afirma Rezek, “não 
têm personalidade jurídica de direito internacional os indivíduos, e 
tampouco as empresas, privadas ou públicas”31.
O papel dos indivíduos no direito internacional tem se 
destacado, principalmente, quando são abordadas questões relativas aos 
direitos humanos. Tais questões serão analisadas no capítulo III, item 2.1.
4 Sania-Sé
A Santa-Sé é a cúpula da Igreja Católica, localizada na 
cidade de Roma. Sua personalidade internacional foi reconhecida a partir 
dos Acordos de Latrão (1929). Por meio desse tratado, a Itália declarou 
reconhecer a "soberania da Santa-Sé, no domínio internacional, com os 
atributos inerentes à sua natureza...” (art. 2o). Declarou também 
reconhecer à Santa-Sé “a plena propriedade, o poder exclusivo e absoluto 
e a jurisdição soberana sobre o Vaticano...”(art. 3o).
As relações entre a Igreja Católica e os Estados dão-se por 
meio de concordatas, os quais são tratados internacionais, normalmente 
bilaterais.
5 Organizações não-governamentais - ONGS
As organizações internacionais privadas, que não são 
criadas pelos Estados, mas sim pelos indivíduos, são denominadas 
organizações não-govemamentais - ONGs. Essas organizações vêm 
proliferando-se e atuam nas mais diversas áreas (legal, política, social, 
econômica, educacional, de meio ambiente, de direitos humanos, etc.).
Atualmente, não há norma internacional que regule a 
criação o e funcionamento das ONGs, de modo que são regidas pelas leis 
nacionais do país de constituição. Até o momento, as ONGs não são
31 REZEK, op. cit., p. 152.
45 \
consideradas como entes com personalidade jurídica internacional, apesar 
de algumas organizações internacionais» como a ONU, outorgarem a 
condição de “observador” a algumas ONGs. Contudo, essa condição não 
as confere o status de sujeito de direito internacional.
Exceção, contudo, se faz ao Comitê Internacional da Cruz 
Vermelha, fundado em 1863, ao qual se reconhece personalidade 
internacional por meio. da Convenção de Genebra do ano seguinte.
46
Direito Internacional
TRATADOS INTERNACIONAIS
1 Teoria geral dos tratados
Conforme ensina Marques32, historicamente, foram as 
regras consuetudinárias que regeram os acordos entre Estados, utilizando- 
se de princípios gerais, notadamente, o do respeito ao acordado (pacta 
sunt servanâa), o do livre consentimento e o da boa-fé das Partes 
contratantes. “No século XX, surgem dois fenômenos novos: o 
aparecimento das organizações internacionais e a codificação do direito 
dos tratados, transformando regras costumeiras em regras convencionais 
escritas, expressas elas mesmas no texto de um tratado”.
Os trabalhos desenvolvidos pela Comissão de Direito 
Internacional das Nações Unidas, resultaram, em 1969, na Convenção de 
Viena sobre Direito dos Tratados. No Brasil, o texto da Convenção foi 
enviado ao Congresso para aprovação em abril de 1992. Embora a 
ratificação por parte do Brasil ainda não tenha ocorrido, “suas normas são 
tidas como vigentes por expressarem costume internacional”.33
32 MARQUES, Frederico. Direito Internacional Privado e Mercosul. Disponível em; 
<http://www.dip.com.br>. Acesso em: 10 de maio de 2005.
33 MARQUES, idem.
47
A Convenção de Viena define tratado internacional como 
“um acordo internacional concluído por escrito entre Estados e regido 
pelo Direito Internacional, quer conste de um instrumento único, quer de 
dois ou mais instrumentos conexos, qualquer que seja sua denominação 
específica” (Art. 2, a).
Conforme Rezek34, “tratado é todo acordo formal concluído 
entre sujeitos de direito internacional, e destinado a produzir efeitos 
jurídicos”.
A celebração de tratados se constitui em exercício de 
soberania. Mas, além do reconhecimento de sua soberania, o Estado, ao 
celebrar tratados, reconhece e se compromete a uma fonte de limitação de 
suas competências. Por isso, a doutrina costuma afirmar que o compro­
metimento do Estado por meio de tratados internacionais implica em: (I) 
manifestação do atributo de soberania; (II) instrumento de limitação do 
exercício do poder soberano.35
De maneira geral, a elaboração de um tratado internacional 
segue as seguintes etapas:
1. Negociacão. Realizada por autoridades nacionais desig­
nadas pela ordem constitucional do Estado, muitas vezes acompanhados 
de especialistas no assunto sob discussão;
2. Elaboração do texto. Os tratados são compostos de um 
preâmbulo, o qual espelha os motivos da realização do tratado, 
fornecendo elementos para sua interpretação, e do chamado dispositivo, 
ou seja, o texto ou corpo onde são definidas as obrigações dos Estados- 
Partes;
3. Adoção. Segundo a Convenção de Viena (art. 9o), a 
adoção de um texto efetua-se pelo voto da maioria de dois terços dos 
Estados presentes, salvo se esses Estados, pela mesma maioria, decidam 
aplicar outras regras;
4. Manifestação do Consentimento. O artigo 11 da 
Convenção reza que o consentimento de um Estado em obrigar-se por um 
tratado pode manifestar-se pela assinatura, troca de instrumentos 
constitutivos do tratado, ratificação, aceitação, aprovação ou adesão, ou 
por quaisquer outros meios, se

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