Buscar

Disney lança cinebiografia de Assange e causa polêmica com o Wikileaks

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

“Traidor”: a briga do Wikileaks com a Disney em torno da cinebiografia de Assange
Postado em 24 set 2013por : Roberto Amado (Jornalista, escritor, cineasta e advogado)
O novo round da briga entre o Wikileaks e os Estados Unidos acontece no cinema. A Disney acaba de 
anunciar o lançamento do filme “O Quinto Poder” — uma cinebiografia de Assange. Lançado em 5 de 
setembro no Festival de Toronto, o filme tem estréia marcada no Brasil para 25 de outubro.
“O Quinto Poder” contou com a tolerância discreta do Wikileaks e de Assange, mas a produção do filme e a 
edição final estão cercadas de polêmicas. Para começar, é baseado no livro escrito por Daniel Domscheit-
Berg, que foi braço direito de Assange, mas com quem acabou rompendo relações. Tudo bem: Domscheit-
Berg teve um papel importante no Wikileaks até 2010.
O ator escolhido para interpretar o papel de Assange, o britânico Benedict Cumberbatch e que explicitamente 
apóia o Wikileaks, conta que recebeu o pedido do próprio Assange para não aceitar o trabalho. “Não vai 
acrescentar em nada à nossa causa”, teria lhe dito o jornalista australiano.
Mas no final das contas o filme saiu, contando a história de como Assange revelou documentos secretos 
norte-americanos e até mesmo mostrando algumas cenas picantes — afinal, o grande problema de Assange, 
no momento, é um processo de abuso sexual na Suécia.
Agora, às vésperas do lançamento mundial do filme, o Wikileaks divulgou um documento interno sobre a 
produção, bem à sua maneira — como um vazamento de informações. Nele há os pontos com os quais a 
organização não concorda. Entre eles, deixa claro que, apesar de o filme abordar o ano de 2010, não 
menciona algumas das mais importantes revelações feitas pela Wikileaks nesse ano — como a “lista negra” e 
o esquadrão da morte americano da guerra do Afeganistão, as torturas promovidas por autoridades 
americanas que ocupavam o Iraque e as tentativas do governo americano de promover golpes na Tunísia e 
em outros países do Oriente Médio.
O documento também lamenta o fato de que as cenas previstas para serem rodadas no Irã tenham sido 
transferidas para a Líbia. Pior: “‘O Quinto Poder’ dá a entender, falsamente, que o Wikileaks prejudicou 2 
mil informantes do governo dos EUA, o que nem o próprio governo americano sustenta. Essa é uma maneira 
pela qual os opositores do Wikileaks procuram distrair a opinião pública sobre a verdade exposta pelas 
informações secretas que foram publicadas”, diz o documento. “As pessoas não devem assistir ao filme 
acreditando se tratar de um documento histórico sobre o Wikileaks”.
O documento ainda lamenta a postura do diretor do filme, Bill Condon — que teria pedido ao ator Benedict 
Cumberbatch para representar Assange como um “megalomaníaco anti-social” e uma espécie de “vilão de 
histórias em quadrinho”. Além disso, referindo-se ao livro de Daniel Domscheit-Berg, acusa o filme de dar 
apenas “um lado da história”, de “ser parcial” e de usar informações que “já se tornaram obsoletas”.
É inegável que a organização não ficou nem um pouco satisfeita com o resultado final e procura deixar claro 
ao público que o filme não tem nada a ver com o trabalho do Wikileaks. “A multimilionária produção 
cinematográfica não se comprometeu a ajudar financeiramente nossa instituição ou qualquer fundo de defesa 
ao cidadão”. A Disney, claro, nega todas as acusações de que tenha feito um filme para detonar Assange. 
Mas, se alguém duvidava de suas intenções, basta dar uma olhada no pôster de divulgação: a imagem de 
Benedict Cumberbatch sob a palavra “traidor”. It’s all show business.

Outros materiais