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Capitulo_13

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XIII
OS REGIMES DO SISTEMA DE CRIAR
It was difficult to procure existing literature on the subject. - S. C.
DASGUPTA.
Os regimes de criar o gado são bem distintos e diferentes, conforme o gênero
de exploração pecuária. Portanto, seria conveniente estabelecer uma denominação
correta e única para cada uma dessas diferenças verificadas às circunstâncias.
Inicialmente, temos uma distinção fundamental a estabelecer: criação livre ou
criação com os animais mantidos em estábulos, cavalariças, pocilgas etc.
A primeira modalidade recebeu a denominação de regime extensivo, no qual o
gado vive solto em campos ou invernadas, convenientemente subdivididos,
alimentando-se do pasto exclusivamente. O pasto será nativo, próprio dos
“campos naturais”, ou preparado pelo homem sob a forma de “invernadas”.
Para multiplicação do rebanho, o macho, em proporção adequada, conforme
a espécie: bovinos, um touro para 30-50 vacas; eqüinos, um garanhão para 20-25
éguas e assim por diante.
O costeio do gado consiste em vacinar, apartar, ferrar e castrar, no
provimento de sal e, finalmente, em uma vistoria, de cada rebanho, mais ou
menos freqüente, conforme, as circunstâncias.
Para o gado de leite, o sistema extensivo é identificado naquele cujas vacas
ficam amamentando os bezerros durante o dia no pasto. No final da tarde, os
bezerros são presos no curral para que na manhã seguinte as vacas possam ser
ordenhadas na presença deles.
Diz-se criação ultra-extensiva quando não há, propriamente, uma subdivisão
inteligente dos campos, para utilização rotativa do pasto. As reses vivem mais ou
menos largadas e costeadas o mínimo possível, ou o indispensável. Elas são
reunidas em geral uma vez por ano, em vaquejadas.
A ação do homem sobre o gado é neste caso mínima, podendo quase dizer
que este se cria por si mesmo, sofrendo a ação direta e completa do meio criatório.
Quando este é favorável, tudo corre mais ou menos bem e cada ano há uma safra de
bezerros, uma de garrotes para recria e engorda, e uma de novilhos para vender.
Quando não, a degeneração do gado é a conseqüência fatal dentro de alguns anos.
O regime extensivo é próprio da exploração do gado de corte. Ele exige
sempre uma grande área de boas pastagens e aguadas abundantes. As instalações,
neste sistema, são as cercas e os currais. Nas melhores fazendas, estes são providos
de brete etc., e mesmo de balança. O “curral australiano” (octogonal), usado,
por exemplo, na Nhecolândia (pantanal de Mato Grosso) constitui uma
demonstração de progresso pecuário.
Quando se quer forçar o crescimento e o acabamento dos novilhos, já está
sendo utilizado, no Brasil Central, o arraçoamento em confinamento, que constitui
um progresso no sistema extensivo de criação, que assim passa a categoria de
semi-extensivo. E então o aparelhamento de currais é necessariamente maior.
Quando o gado é criado e arraçoado em estábulo ou galpão etc., o
regime é chamado intensivo. Trata-se de regime próprio na exploração de gado
leiteiro.
Todavia, nunca é aplicado no sentido estrito da expressão, visto como a
criação em estabulação permanente não é recomendável salvo no caso de faltar
área suficiente para o gado pastar, como ocorre em certas explorações, nos
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arredores dos grandes centros populosos. Ou em circunstâncias semelhantes.
O regime mais indicado para exploração leiteira é o semi-intensivo, no
qual as vacas se alimentam do pasto, e recebem ração complementar, no
estábulo, por ocasião da ordenha, de acordo com sua produção de leite.
A multiplicação de gado em ambos estes sistemas (intensivo e semi-
intensivo) é dirigida (ou deve ser), planejando-se convenientemente os
acasalamentos e as coberturas.
Neste regime é maior: a eficiência reprodutiva, o rendimento econômico, a ação
do criador sobre o melhoramento de seu rebanho.
O regime exige mais braços, mais instalações (cercas, currais, estábulos,
depósitos de forragem etc.), mais despesas, presença mais constante da
administração. Sem esquecer mais conhecimento e competência do proprietário ou
administrador.
No sistema intensivo da exploração leiteira o bezerro é separado da vaca no
dia do nascimento e recebe o leite no balde ou mamadeira. Os tipos de instalações
são “Loose Housing” e “Free Stall”. No Loose Housing os animais descansam em
local coberto com piso concretado sobre uma cama de material seco, enquanto no
Free Stall, as vacas repousam em baias individuais, eliminando o risco de pisões no
úbere e troca constante da cama. Em ambos os casos os animais recebem a
alimentação total no cocho em área própria. Tanto um sistema, quanto o outro são
equipados com áreas de alimentação, repouso, exercício, sala de ordenha e área de
tratamento e maternidade.
Há ainda duas modalidades na exploração do gado em nosso país: o
sistema de retiro e o regime de curral.
O sistema de retiro é uma modalidade de criação extensiva. O gado é criado
a solta, em grandes divisões de propriedade, denominadas “retiros”. Cada retiro é
provido de uma grande área de pastagens, subdivididas ou não, e de uma “sede”
constituída por uma casa para o campeiro ou retireiro, e um conjunto de currais com
um abrigo, e mangas, pequenos cercados para prender a bezerrada.
Na sede do retiro ou no “retiro” (sentido restrito) é onde as vacas são
recolhidas todos os dias para a ordenha, a ração (ou não, conforme as
circunstâncias), e o eventual tratamento de alguma rês doente. Ai é também
onde se pratica a vacinação e trato dos bezerros, inclusive o aleitamento artificial,
se for o caso.
Há, neste sistema, maior costeio, e o gado é protegido, pelo abrigo coberto
(com piso de terra batida, pedra ou concreto), durante a ordenha, a ração, o trato
etc.
Regime de curral é uma expressão para designar a prática muito
recomendável de recolher, diariamente, ao curral da sede, o gado que pasta
livremente no campo, onde passa as horas do dia, sendo fechado, à tarde. Não se
trata de prender o gado, propriamente para arraçoá-lo, mas sim para habituá-lo ao
curral, ao costeio, a escova se o criador o quer bem manso. A bezerrada, neste
sistema, fica presa ou acompanha as vacas no pasto, conforme a orientação do
criador.
Os reprodutores permanecem estabulados, e diariamente são postos com as
vacas, a fim de que possam descobrir as que estão em cio, para a cobertura no curral
mesmo. É o sistema de cobertura dirigida, o mais indicado para o melhor controle
do acasalamento. Este regime é o mais adequado para a criação de reprodutores
bem como do gado indiano de raça, e para a criação de búfalos.
Na criação de reprodutores zebuínos inclusive, obtém-se, neste sistema, a
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mais alta porcentagem de pega. Isto é, a melhor eficiência reprodutiva. Ainda
recentemente anotamos em uma fazenda de gado Gir, em Cedral, SP, um touro
para 160 fêmeas, obtendo-se 135 crias, ou seja, 84% de fecundações.
Na criação do Búfalo, o regime de curral é condição indispensável para seu
bom êxito, baseado no amansamento das reses, e conseqüente seleção das que
reagem melhor ao costeio.
Com este regime é que poderemos integrar o Búfalo em sua plena
domesticidade. Espécie semidoméstica, sua volta a vida asselvajada é fatal sem o
regime de curral.
O Zebu é um gado que lá pode demonstrar mansidão, graças a esse
regime, onde a habilidade do tratador e a escova operam transformações até nas
reses de temperamento nervoso e irrequieto, mais sensíveis a qualquer impressão
exterior. A rês zebuína é, indiscutivelmente, arisca quando não submetida ao regime
de curral e a costeio.O mesmo pode-se dizer, com mais razão, dos bubalinos.
BEM-ESTAR ANIMAL
Bem-estar animal se define como o estado de conforto geral permanente do
animal em relação ao seu meio ambiente, incluídos o abrigo, a boa saúde e a
alimentação e o direito ao convívio social com outros membros de sua espécie, bem
como a convivência em harmonia com o homem, especialmente em se tratando de
animaisdomésticos.
No conceito estão definidas as cinco liberdades: os animais devem ser livres do
medo e do estresse, da fome e da sede, do desconforto geral, da dor e das doenças, e
ainda ter liberdade para expressar seu comportamento natural. A fim de aperfeiçoar o
conceito devem ser observadas as relações entre necessidades, liberdades, felicidade,
adaptação, controle, capacidade de previsão, sentimentos, sofrimento, dor, ansiedade,
medo, tédio, estresse e saúde. Um animal estressado, fisiologicamente, terá aumentadas
a frequência cardíaca, a atividade adrenal (hormônio adrenocorticotrófico) e reduzida a
resposta imunológica. As respostas relativas ao comportamento anormal são:
estereotipas, automutilação, canibalismo, bicar de penas em aves ou comportamento
agressivo, doença, ferimento, dificuldade de movimento e anormalidade de crescimento,
indicando que o indivíduo tem baixo grau de bem-estar.
O animal que não está sob o signo do bem-estar, estará sob estresse. O estresse
pode ser definido como o estímulo ambiental sob um indivíduo que sobrecarrega seus
sistemas de controle e reduz sua adaptação, inerentes ao meio ambiente.
O estresse ocorre do seguinte modo: O animal recebe um estímulo negativo
externo com resposta cerebral, via hipófise que envia a mensagem até as glândulas
produtoras de hormônios como adrenais, tireóide e gônadas, sendo o principal hormônio
indicador de estresse a adrenalina. As implicações negativas vão ser repercutidas no
metabolismo, na reprodução, na resposta imunológica e no comportamento. O estresse
pode ser facilmente observado em animais subnutridos como animais de trabalho, cães
de rua, animais de circo, em animais que recebem maus tratos e mesmo em animais de
criação.
Para avaliar o nível de bem-estar são sugeridas as palavras “bem-estar
adequado” e “bem-estar pobre” ou “alto e baixo grau de bem estar” ou ainda “bem-estar
bom e bem-estar ruim”, que neste último caso significa falência das tentativas de
enfrentamento das dificuldades.
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É preciso lembrar que todas essas exigências seriam possíveis integralmente
somente se todos os animais estivessem em seu ambiente natural, sem a interferência
humana. Infelizmente, esta não é a realidade. Assim, o termo se aplica aos animais
silvestres, aos animais domésticos, aos animais de zoológicos, de laboratório e aos
animais de estimação. O termo é também aplicado ao homem.
O homem retirou algumas espécies da vida selvagem e as domesticou para
usufruir de alguma utilidade. A domesticação foi um evento revolucionário, uma vez
que potencializou a produção, principalmente a produção agrícola. As espécies
domésticas sofreram modificações através dos séculos via intervenção do homem, com
alteração na frequência dos genes como nos caracteres étnicos e zootécnicos, isto é,
houve modificações na pelagem, no porte, na forma das orelhas, bem como na produção
de leite, de ovos, de carne, etc. A perspectiva é que o homem pode selecionar
características desejáveis, introduzi-las ou potencializá-las pelo uso da biotecnologia e
mudanças no DNA. Portanto, o retorno à vida selvagem da maioria das espécies
domésticas não é mais possível, praticamente ou fica cada vez mais difícil.
A Zootecnia pressupõe a produção econômica dos animais, de modo que o bem-
estar animal está implícito, isto é, a potencialização de qualquer utilidade no animal
ficará inviabilizada se os animais não estiverem vivendo sob conforto de toda ordem,
uma vez que a produção animal sob estresse conduz a fatores negativos, especialmente
na qualidade dos produtos. Como por exemplo, maus tratos no transporte de animais ou
mesmo no momento do embarque ou do desembarque ou no momento que precede o
abate terá como resultado uma carne de péssima qualidade.
Em relação às exportações, a comunidade européia vem exigindo certificação
dos produtos. Essa certificação inclui o bem-estar de animais e de homens desde o
início no processo na fazenda, ou seja, os animais e os homens devem ser bem tratados
do início ao fim do processo para que a carne seja adquirida. A avaliação é realizada por
empresas certificadoras e inclui todas as regras para conforto do animal e a obediência a
legislação trabalhista para conforto do homem.
Regimes de criação apropriados devem ser planejados para promoção do
conforto animal. Preconiza-se a maior proximidade possível do meio criatório à vida
natural. A Zootecnia deve preconizar um regime de criação econômico aliado ao bem-
estar. Em geral, o regime que pode atender economicamente é o semi-intensivo.
Desaconselha-se o regime intensivo ou confinamento, que na prática é muito eficiente,
mas aprisiona os animais de pequeno porte em espaços muito pequenos como em mini-
gaiolas e animais de grande porte em áreas muito restritas. Entretanto, mesmo em
sistemas de confinamento é possível melhorar o conforto com ampliação de espaços,
sombreamento, fornecimento de água e comida em quantidade e qualidade suficientes.
O bem-estar animal foi regulamentado na Instrução Normativa nº 56, de 6 de
novmebro de 2008. O Ministro de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, no
uso da atribuição que lhe confere o art. 87, parágrafo único, inciso II, da Constituição,
tendo em vista o que dispõe a Lei nº 5.197, de 3 de janeiro de 1967, o Decreto nº 5.351,
de 21 de janeiro de 2005, o Decreto nº 5.511, de 7 de agosto de 1928, o Decreto nº
5.741, de 30 de março de 2006, e o que consta do Processo nº 21000.007717/2008-18,
resolve:
Art. 1º Estabelecer os procedimentos gerais de Recomendações de Boas Práticas
de Bem-Estar para Animais de Produção e de Interesse Econômico - REBEM,
abrangendo os sistemas de produção e o transporte.
Art. 2º Para efeitos desta Instrução Normativa, consideram se:
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I - animais de produção: todo aquele cuja finalidade da criação seja a obtenção
de carne, leite, ovos, lã, pele, couro e mel ou qualquer outro produto com finalidade
comercial;
II - animais de interesse econômico: todo aquele considerado animal de
produção ou aqueles cuja finalidade seja esportiva e que gere divisas, renda e empregos,
mesmo que sejam também considerados como animais de produção;
III - sistema de produção: todas as ações e processos ocorridos no âmbito do
estabelecimento produtor, desde o nascimento dos animais até o seu transporte;
IV - transporte: toda atividade compreendida entre o embarque dos animais, seu
deslocamento e o desembarque no destino final.
Art. 3º Para fins desta Instrução Normativa, deverão ser observados os seguintes
princípios para a garantia do bem-estar animal, sem prejuízo do cumprimento, pelo
interessado, de outras normas específicas:
I - proceder ao manejo cuidadoso e responsável nas várias etapas da vida do
animal, desde o nascimento, criação e transporte;
II - possuir conhecimentos básicos de comportamento animal a fim de proceder
ao adequado manejo;
III - proporcionar dieta satisfatória, apropriada e segura, adequada às diferentes
fases da vida do animal;
IV - assegurar que as instalações sejam projetadas apropriadamente aos sistemas
de produção das diferentes espécies de forma a garantir a proteção, a possibilidade de
descanso e o bem-estar animal;
V - manejar e transportar os animais de forma adequada para reduzir o estresse e
evitar contusões e o sofrimento desnecessário;
VI - manter o ambiente de criação em condições higiênicas.
Art. 4º A Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo - SDC
fará publicar na imprensa oficial e em outros meios de comunicação Manuais de Boas
Práticas de Bem-Estar, que estabelecerão recomendações de procedimentos específicos
para cada espécie animal de acordo com sua finalidade produtiva e econômica.
Art. 5º O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento poderá
estabelecer procedimentos e critérios de certificação do cumprimento do disposto nos
Manuais de que trata esta Instrução Normativa.
Art. 6º Esta Instrução Normativanão estabelecerá parâmetros para propriedades
onde a criação de animais for exclusivamente para a subsistência, assim considerada
aquela sem finalidade lucrativa.
Art. 7º Esta Instrução Normativa entra em vigor na data de sua publicação.
Questionário N° 13
1 - Quais os dois sistemas fundamentais de criação e as modalidades de cada um? 2 -
Que é regime extensivo de criação? 3 - Noregime extensivo de criação, como se faz a
multiplicação dos animais? 4 - Em que consiste o chamado custeio do gado? 5 - Qual
a exploração de bovinos mais adequada ao regime extensivo e ultra-extensivo? 6 -
Que é criação ultra-extensiva? E semi-extensiva? E semi-intensiva? 7 - Que é
regime intensivo de criação? 8 - Qual o regime de criação mais indicado para
exploração de gado leiteiro melhorado? 9 - Que é reprodução dirigida e quando se
aplica? 10 - Que é sistema de criação em “retiro”? 11 - Que é regime “de curral”?
12 - Na criação de reprodutores, qual o regime mais indicado para os machos? 13 -
Qual o regime de criação mais indicado para búfalos leiteiros? 14 – Como é a
amamentação dos bezerros no sistema extensivo na exploração leiteira? 15 – Explique a
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diferença entre os sistemas “Loose Housing” e “Free Stall”.16 - Quais são as cinco
liberdades para se dizer que o animal tem bem-estar? 17 - Definir estresse? 18 - Quais
as reações dos animais estressados? 19 - Quais as respostas fisiológicas de um animal
estressado? 20 - Quais as respostas comportamentais de um animal estressado? 21 -
Quais os órgãos que vão produzir hormônios em resposta ao estresse? 22 - Como
podem ser classificados os níveis de bem-estar? 23 - Que animais são mais
frequentemente observados com estresse? 24 - Que regime de criação seria o mais
apropriado para o bem-estar animal?

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