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A Educação Física - O Histórico Evolutivo

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A EDUCAÇÃO FÍSICA - O histórico evolutivo 
(Ubirajara de Oliveira, 2003) 
 
Para uma melhor compreensão da Educação Física em seus vários aspectos e a sua interação com as 
diversas manifestações da cultura humana, trataremos de seu histórico. 
O homem primitivo, para garantir sua subsistência e adaptar-se às condições do meio ambiente, possuía 
muitas qualidades físicas. Para poder sobreviver, estava constantemente exercitando-se e com isso aprendeu 
naturalmente a caçar, pescar, nadar, construir, lutar, defender-se, exercícios úteis que lhe permitiam satisfazer 
suas principais necessidades, impostas na sua relação com a natureza e com os outros homens. 
Se examinarmos atentamente a história da Antiguidade, podemos considerar que, assim como os 
exercícios físicos, os jogos e as danças já faziam parte da vida do homem. Existem vestígios de que eram 
continuamente praticados e de diferentes formas: jogos de mímica, de lutas, danças guerreiras ou religiosas – 
como, por exemplo, em agradecimento ou reverência aos deuses de sua crença - enfim, o homem descobria 
maneiras de exteriorizar seu estado de espírito, seus sentimentos. Compreendemos que o ser humano não vivia 
isoladamente. Ao longo dos tempos, o homem foi se agrupando, constituindo pequenos povos, que, por sua vez, 
foram se transformando em diferentes civilizações, cada qual originando sua própria cultura. 
O conceito de corpo também se modificou em função das novas necessidades do seu meio de 
convivência. Na Antiguidade Oriental, por volta de 6000 anos atrás, os exercícios físicos continuam merecendo o 
mesmo destaque alcançado na pré-história. Não é dessa época a origem de uma Educação Física que pudesse ser 
denominada científica, ou seja, desenvolvida a partir de estudos, mas já é possível uma análise mais apurada das 
atividades físicas no berço desse novo mundo, agora civilizado, com seus feitos registrados através da escrita. 
Podemos arriscar uma classificação onde identificaríamos finalidades de ordem guerreira, terapêutica, esportiva 
e educacional, aparecendo sempre a religião como pano de fundo, como todas as demais realizações orientais. 
Os chineses parece haver sido os primeiros a racionalizar o movimento humano, emprestando-lhe um 
forte conteúdo médico. A Índia é reconhecida como a nação que conseguiu atingir o maior grau de elevação 
espiritual de toda humanidade. As propostas de atividades tinham sempre como objetivo facilitar a identificação 
do homem com sua essência divina, utilizando um conjunto de movimentos que integrava o físico, o intelectual e 
o emocional, numa bela concepção do ser humano. 
A civilização grega marca o início de um novo ciclo na História com o nascimento de um novo mundo 
civilizado, agora ocidental. É o descobrimento do valor humano, da sua individualidade e o início autêntico da 
história da Educação Física. A filosofia pedagógica que determinou os caminhos a serem percorridos pela 
educação grega tem o grande mérito de não divorciar a Educação Física da intelectual e da espiritual. Postulava, 
dessa forma, o mais significativo de todos os princípios humanistas, considerando que o homem é somente 
humano enquanto completo. 
Na Antiguidade Greco-Latina, os aqueus só se sentiam completos quando jogavam, quer para tornar o seu 
lazer mais agradável, quer para acompanhar uma cerimônia religiosa ou funerária. Nesta época os cuidados com 
o corpo tomaram um lugar muito importante na vida cotidiana dos gregos. Eles constituíam objeto de atividades 
muito diversas: lúdicas, esportivas, militares, higiênicas, terapêuticas e educativas. Além disso, procuravam 
estabelecer um sistema coerente que ligava os cuidados do corpo às iniciações, à filosofia, à medicina e à 
pedagogia. 
A ginástica, nome que se originou na Grécia, visava ao aperfeiçoamento físico, à beleza e à harmonia de 
formas, por meio de exercícios e jogos praticados nos ginásios. Possuía importância fundamental na cultura deste 
nobre povo, que foi também o criador dos Jogos Olímpicos. Estes jogos eram realizados de quatro em quatro 
anos, em Olímpia, celebrados com muita pompa, em homenagem aos deuses gregos, e ainda como forma pacífica 
de reunir suas populações que viviam em guerra. Para as mulheres existiam ginásios especiais adequados à 
prática da ginástica, sendo as atividades preferidas, as corridas e as danças. 
O pedótriba, correspondente ao que chamamos de professor de Educação Física estava equiparado em 
cultura e prestígio ao médico. Era também responsável pela formação do caráter dos jovens efebos. 
Aristóteles também valorizava o papel da ginástica, dando-lhe um cunho cientifico, quando diz que “ciência 
da ginástica deve investigar quais os exercícios são mais úteis ao corpo, segundo a constituição física de 
cada um” (OLIVEIRA,1998: 26). 
 
 Os exercícios respiratórios tinham grande importância, porque se acreditava que as artérias eram cheias 
de ar. Foi preciso esperar Galeno para compreender que, cheias de sangue no ser vivo, as artérias só ficavam 
vazias no cadáver. Nos banhos e termas, atividade normal e, sobretudo, os exercícios físicos fazem nascer uma 
necessidade de limpeza e repouso, que é satisfeita nos banhos, cuja função de purificação religiosa, pouco a 
pouco, se perdeu. 
Para os gregos a Educação Física era ginástica, etimologicamente “a arte de desenvolver o corpo nu” 
implica todos os exercícios físicos, englobando as corridas, saltos, lançamentos e lutas. Quando Platão, por 
intermédio de Sócrates, afirma que a Educação ideal compreendia a ginástica para o corpo e a música para alma, 
que significava “cultura espiritual”, envolvendo a história, a poesia, o drama, a ciência, a oratória e a música 
propriamente ditas. 
 A partir do século XIX, foi-se firmando o conceito de ginástica como sendo atividade física que 
artificialmente e intencionalmente provocaria modificações anatômicas e fisiológicas no corpo humano. Era a 
ginástica racional e científica, considerada agora como elemento da Educação Física, expressão cunhada em fins 
do século XVIII. Mas a ciência que trata do movimento humano não contém apenas a chamada ginástica entre os 
seus elementos. O esporte incluiu-se entre as suas responsabilidades. Dignificado pelos gregos, deformados pelos 
romanos, esquecido na época medieval, foi ressuscitado por Coubertain para, atualmente, transformar-se em 
objeto de propaganda política. O homem matéria - prima para o desempenho esportivo converte-se em 
instrumento a serviço dos detentores do poder. 
 A especialização precoce, que significa colocar a criança em desporto de competição fora da faixa etária 
pertinente, pulando etapas do seu desenvolvimento e a prática exacerbada dos esportes, tende a sacrificar os 
mais fracos em nome de uma elitização esportiva ideologicamente justificada. Esvazia-se, desta forma, a utopia 
humanista que considera o esporte capaz de colaborar para uma sociedade melhor e um homem mais humano. 
A Educação Física pode desenvolver realmente os valores significativos para os fins a que ela se destina. A 
pessoa não a técnica, formar não modelar, participar não disciplinar, educar não domesticar, afinal este é o 
verdadeiro papel da Educação Física. 
Roma foi herdeira direta de dois povos, os etruscos e os gregos. Dos etruscos, os romanos receberam 
influxos determinantes, principalmente no campo artístico e esportivo. Mas foi dos gregos a influência mais 
significativa, respeitadas as particularidades do homem romano. Em Roma não vamos encontrar atividades que 
tenham a mesma expressão do esporte grego. Ludus tinha a conotação de treinamento ou de jogo, não 
implicando necessariamente competição. Os participantes desses jogos eram atletas profissionais que nem de 
longe podiam ser comparados aos padrões éticose estéticos dos seus colegas gregos. 
A ginástica perdeu o sentido do belo, prestando-se apenas para formar um protótipo de virilidade. A 
aspiração humanista que animava o esporte grego jamais contagiou o cenário romano, mais identificado com os 
circos, anfiteatros e termas do que com os ginásios, palestras e estádios. Os Romanos, quando conquistaram a 
Grécia, possuíam outra visão em relação à prática de exercícios físicos, cujo objetivo era a preparação dos 
indivíduos para a guerra, sem nenhuma finalidade moral ou estética. Por eles eram organizados brutais e 
sangrentos jogos de gladiadores, que provocavam o maior entusiasmo nas platéias presentes. Não perceberam 
que a grandeza do esporte não estava na sua simples prática, mais sim no espírito que a animava. 
Na época medieval a expressão de velhas tradições populares, nas quais se encontravam elementos 
gauleses e carolíngios, os cuidados do corpo tiveram uma importância que tornaremos precisa, mas não estavam 
ligados a nenhuma construção filosófica ou médica. A igreja não era hostil aos exercícios físicos, mas os 
considerava somente como jogos. A partir daí, eles foram eliminados do programa de estudos, cujo objetivo era 
somente o de instruir, visando à formação de acordo com os dogmas da igreja estabelecendo assim um absoluto 
divórcio entre o físico e o intelectual, só lhes convinham à saúde da alma, onde o “nada para o corpo” era um 
princípio que suprimia a Educação Física do horizonte cultural desse momento histórico. 
No século XV, predominavam os torneios entre cavaleiros e cavalarias, que apesar de serem realizados de 
forma muito solene eram superviolentos, sobretudo devido ao armamento utilizado: lanças e espadas. 
O Renascimento foi um movimento intelectual. estético e social que representou uma reação à 
decadente estrutura feudal do início do século XIV. Representou uma nova concepção do mundo e do homem, 
havendo um redescobrimento da individualidade, do espírito crítico e da liberdade no ser humano.. Recuperava-
se a concepção dos gregos, quanto a uma educação voltada para o homem de forma integral: o físico, o 
intelectual e a moral, retomando desta forma o valor da atividade física. 
A Educação Física torna a ser assunto dos intelectuais, numa tentativa de reintegração do físico e do 
estético às preocupações educacionais. Tudo concorreu para que um verdadeiro renascimento físico levasse 
muitos a dedicarem uma atenção maior à Educação Física. Dentre estes destacamos quatro correntes que, pela 
sua importância, podem caracterizar a história desta ciência durante o século XIX. 
A corrente alemã representa um notável impulso pedagógico aos exercícios físicos, reencarnando os 
ideais clássicos da educação helênica. Por influência de Rousseau, a ginástica passou a ser incluída entre os 
deveres da vida humana, os exercícios não eram meios de Educação escolar, mas sim da Educação do povo. 
Foram criados aparelhos como barra fixa e as barras paralelas, sendo os alemães, portanto, os percussores do 
esporte que hoje se chama ginástica olímpica. 
 (...) na corrente nórdica frutificaram as idéias pedagógicas alemãs, principalmente na Dinamarca - 
considerada na época a metrópole intelectual dos países nórdicos. Em 1804 foi criado um instituo militar de 
ginástica, o mais antigo estabelecimento especializado. Quatro anos após, inaugurou-se um instituto civil de 
ginástica, também para a formação de professores de Educação Física. Como coroamento, implantou-se 
obrigatoriamente a ginástica nas escolas, fazendo com que a Dinamarca se adiantasse em alguns decênios a 
outros países europeus. Não foi a Dinamarca, porém, que conseguiu promover um reconhecimento 
internacional para a ginástica. Tal aconteceu na Suécia, que 1813 fundou o Real Instituto Central de 
Ginástica de Estocolmo. A ginástica sueca preocupava-se com a execução correta dos exercícios, 
emprestando-lhes um espírito corretivo, como Pestalozzi já o havia feito. (OLIVEIRA,1998 : 41). 
 
A corrente Francesa foi da maior importância, pois dela chegaram os primeiros estímulos que vieram a 
construir os alicerces da Educação Física brasileira. O que caracterizava a ginástica francesa era o seu marcante 
espírito militar e uma preocupação básica com o desenvolvimento da força muscular, não sendo, pois, adequada 
a ambientes escolares. Apesar disso, foi introduzida nas escolas francesas quase sempre ministrada por 
suboficiais do Exército, sem cultura geral, nem formação pedagógica. 
Baseada nos jogos e nos esporte, a corrente inglesa é a única das quatro, nesse período, com uma 
orientação não-ginástica. Concebida para envolver a prática esportiva numa atmosfera pedagógico-social, a 
Escola Inglesa incorporou, no âmbito escolar, o esporte com uma conotação verdadeiramente educativa, haja 
vista a importância que era dada ao fair-play. 
A análise da Educação Física ao longo do século XX começa com uma personagem considerada como a 
figura mais representativa do cenário esportivo contemporâneo. Pierre de Fredy, barão de Coubertain, era 
francês que tinha formação filosófica, além de se interessar por música, poesia, literatura, histórica e, é claro, pela 
prática esportiva. Ao longo de sua rica existência lutou em duas frentes: a educação popular e o esporte. Em 
nome dos trabalhadores e da juventude forjou o humanismo da sua obra, sendo, porém, no âmbito esportivo, 
que ficou historicamente dimensionado. Inspirado nos ingleses, pretendia colocar o esporte como elemento da 
Educação Física. Após introduzir o esporte no sistema educacional francês, parte para sua grande missão, estava 
em nível internacional restaurar os jogos Olímpicos. 
 No campo específico da ginástica, o século XX registra os maiores avanços. Uma tendência artística, de 
origem alemã, recebe contribuições do teatro, da dança e da música. Os artistas libertaram-se dos modelos 
impostos e foram estimulados à execução dos movimentos naturais e espontâneos, expressando suas emoções 
autenticamente. Essas experiências foram transferidas para a Educação Física, surgindo sistemas de ginástica que, 
apesar de rítmicos, não eram dança. Uma segunda tendência, esta de ordem pedagógica, manifesta-se na Áustria, 
Suécia e França. 
Na Áustria surgiram defensores dos exercícios naturais realizados ao ar livre. Criaram uma ginástica 
natural e fundamentaram a Educação Física, integrando-a filosoficamente ao painel pedagógico. Com a subida de 
Hitler, é imposto o sistema Neuendorf - baseado no Turnkunst de cunho patriótico-social. Este sistema tinha 
como objetivo a preparação militar. Na França surge outro método originário da observação da vida do homem 
primitivo, que também era contrário a qualquer artificialismo e às tradicionais vozes de comando, tão em moda 
nas aulas de Educação Física. 
A terceira tendência - médica - teve os seus maiores representantes em médicos franceses e 
dinamarqueses. A partir de estudos sobre fisiologia e biomecânica, conferem um caráter que, em Educação 
Física, tem sido o único a merecer o rótulo de científico. 
Na Suécia e na França foram feitas tentativas de criação de modelos que sintetizassem as tendências 
pedagógica e médica, evitando as unilateralidades dos sistemas então vigentes. No final da década de trinta tem 
início um grande intercâmbio pedagógico-cultural proporcionado por congressos de Educação Física. A realização 
desses eventos fez desaparecer a conotação nacionalista que caracterizava mais de um século da ginástica 
contemporânea. Ainda assim, é possível detectar as iniciativas que, veiculadas pelas correntes originais, 
contribuíram para o quadro internacional da Educação Física. A maior contribuição foi na órbita francesa surgida 
na década de sessenta quando os professores de Educação Física se aprofundaram nos estudos dePsicomotricidade, enriquecendo os programas de Educação Física, principalmente na área pré-escolar. 
A prática sistemática de atividades físicas, desportivas ou lúdicas não é manifestação exclusiva da cultura 
contemporânea, mas é, sem dúvida, a partir de um certo crescimento urbano e, principalmente, do processo de 
industrialização, que essa prática adquire contornos especiais; a Educação Física por sua vez (canal 
institucionalizado desta prática), vista num plano educacional mais amplo a partir do final do século XIX e início do 
século XX, como acabamos de retratar na linha anteriores, vai sendo incrementada e defendida como uma 
necessidade imperiosa dos povos civilizados. Claro que sua implantação nas diversas sociedades contemporâneas 
não tem sido tarefa tranqüila. As dificuldades variam de acordo com as contradições inerentes a cada realidade e 
seus respectivos regimes políticos e culturais. 
Também parece certo que, devido às características, a Educação Física tem sido utilizada politicamente 
como uma arma a serviço de projetos que nem sempre apontam na direção da conquistas de melhores condições 
existenciais para todos, de verdadeira democracia política, social e econômica e de mais liberdade para que 
vivamos nossa vida plenamente. Pelo contrário, muitas vezes, ela tem servido de poderoso instrumento 
ideológico e de manipulação para que as pessoas continuem alienadas e impotentes diante da necessidade de 
verdadeiras transformações no seio da sociedade. Por conseqüência, escreve-se quase sempre uma história que é 
o próprio reflexo desta situação de dominação que se pretende eterna. 
A Educação Física no Brasil nos leva à época do descobrimento: os portugueses, quando aqui chegaram, 
encontraram os indígenas habituados à prática de exercícios físicos, pois os mesmos necessitavam, para a sua 
sobrevivência, nadar, lançar, correr, saltar, entre outros movimentos. Na época da escravidão uma cultura foi 
introduzida pelos escravos africanos que aliou dança, jogos e competições demonstrando a emoção e saudades 
de um povo. Para que possamos descrevê-la com propriedade, teríamos que despi-la das vestes por ela então 
trajadas (descaracterizá-la, portanto), pretendendo-se, com o gesto de desnudá-la, desvendarmos e passarmos a 
entender a personagem por ela representada no cenário educacional armado no palco social brasileiro. Assim, ao 
vê-la nua, poderíamos resgatá-la em sua dimensão histórica, nela objetivando-se encontrar a sua identidade. Isto 
posto, passamos a admitir como verdadeira a premissa de ter sido de competência da Educação Física, ao longo 
da sua história, a representação de diversos papéis que, embora com significados próprios ao período em que 
foram vividos, corroboraram para definir-lhe uma considerável coerência na seqüência de sua atuação na peça 
encenada. 
A elite dominante desta época dividia o trabalho em manual e intelectual; baseada nesta postura, resistia 
à inclusão da Ginástica nas escolas, pela semelhança com o trabalho manual, trabalho este destinado aos 
escravos. Dois documentos nortearam os princípios da Educação Física. O primeiro foi a Carta Régia de 
04.12.1810, que introduzia a Ginástica Alemã, uma tentativa de equiparar no mesmo grau de importância o 
intelecto e o físico do Homem na Academia Real Militar. Nesse momento instaura-se a função higienista, pois era 
importante termos homens fortes, sadios, robustos com condutas morais e intelectuais para o desenvolvimento 
do Brasil. 
O segundo documento foi o parecer de Rui Barbosa no projeto 224/ 1882 - “Reforma do ensino primário” 
- reforçando a importância da ginástica nos currículos escolares. Foram citadas as seguintes recomendações: a 
obrigatoriedade de Educação Física no jardim de infância e nas escolas primária e secundária, como matéria de 
estudos em horas distintas das do recreio e depois das aulas; distinção entre exercícios físicos para os alunos 
(ginástica sueca) e para as alunas (calistenia); prática de exercícios físicos pelo menos quatro vezes por semana, 
durante 30 minutos, sem caráter acrobático; valorização do professor de Educação Física, dando-lhe paridade, em 
direitos e vencimentos, categoria e autoridade, aos demais professores; contratação de professores de Educação 
Física, reconhecida competência na Suécia, Saxônia e Suíça; instituição de um curso de emergência em cada 
Escola Normal para habilitar os professores atuais das primeiras letras em termos do ensino da ginástica. 
“Os exercícios devem ser executados por todos os discípulos ao mesmo tempo e do mesmo modo. A 
marcação do rythmo começará logo depois de dado o commando executivo: 1,2,3,4 1,2,3,4 .... Terminada 
uma lição de gymnastica, o professor não mandará debandar antes de executar a formatura inicial(fileira). A 
quebra da disciplina acarretará a quebra da força moral “. (OLIVEIRA ,1990 : 7) 
 
 Escrito por Arthur Higgins, um dos mais importantes professores de Educação Física do começo do 
século, data de 1911 e manifesta uma atualidade incontestável para o momento em que foram escritas. Se não 
fosse pela ortografia, acreditaríamos que fosse um tratado atual de ginástica. Mas o tempo não pára. Setenta 
anos foram suficientes para que a Educação Física saísse de um quase empirismo pedagógico e passasse a 
merecer algum destaque no sistema mais amplo da Educação. 
Na Europa, em fins do século XIX, foi introduzida nas escolas em função dos benefícios que o exercício 
físico pode trazer para a saúde. A evidente identificação com a medicina foi o que, sem duvida, deu status à 
profissão mas, lamentavelmente, afastou-se da sua verdadeira função. O professor de Educação Física assumiu o 
papel de educador do físico, deixando de atender às necessidades do homem total. A ginástica passa a ser um 
verdadeiro castigo e a boa aula é a que exaure o aluno, e o professor ficou historicamente identificado como 
disciplinador e com hábito militares, procedimentos estes que levaram as pessoas a detestar a atividade física 
pelo resto da vida, voltando a praticar apenas por aconselhamento médico. 
A Educação brasileira, nessa época, estava vinculada ao esdrúxulo Ministério da Instrução, Correios e 
Telégrafos e todas as reformas educacionais, desde o começo faziam referências à Educação Física. Merece 
destaque especial, a Educação Física Escolar. Em 1921, um golpe fatal às ginásticas alemã e sueca. Um Decreto 
destinado a todas as armas e inspirado no método Francês regulamenta a Instrução Física Militar. Um ano depois 
o ministro da Guerra institui o Centro Militar de Educação Física, destinado a dirigir, coordenar e difundir o novo 
método de Educação Física e suas aplicações desportivas, mas esta portaria não chegou a funcionar. 
No período pré - guerra (1930) as exigências continuavam sendo corpos atléticos e disciplinados, pois era 
preciso garantir a defesa da pátria. Finalmente em 1933 foi fundada a Escola de Educação Física do Exército, que 
permitia, também, a matrícula de professores civis. O regulamento de Educação Física da Escola Militar de 
Joinville-le-Pont foi à bíblia da Educação Física brasileira durante mais de duas décadas. Os valores da sociedade 
são usualmente estabelecidos por uma classe dominante, minoria privilegiada que de certa forma controla e 
domina as manifestações dos indivíduos, da massa popular. É esta forma de dominação exercida por aqueles que 
detêm o poder, basicamente estruturado em favor de seus próprios interesses e privilégios, que acaba 
influenciando a consciência geral. 
Podemos facilmente evidenciar este fato na década de 70, por exemplo, quando se presenciou a 
instauração de um regime autoritário de poder: a Ditadura Militar. Em função desta nova perspectiva política, o 
sistema educacional foi totalmente reformulado e, a partirdaí, as conseqüências desta reforma desencadearam 
inúmeras mudanças em nossa sociedade. A educação baseou-se na Pedagogia Tecnicista, que tinha como 
princípios a racionalidade e a eficiência. Foi um período marcado pela meta da produtividade. 
Com a privatização do ensino (sobretudo das universidades que deveriam reservar-se às elites) foram 
criadas inúmeras instituições universitárias. Se por um lado o regime Militar favoreceu a expansão da Educação 
Física, pois houve um aumento significativo de suas escolas, por outro, a qualidade do ensino ficou seriamente 
comprometida. Principalmente devido ao comportamento dos professores e profissionais da área que, 
influenciados pelas características da política educacional vigente, e com uma postura totalmente autoritária, 
apresentavam uma forte tendência em valorizar o rendimento físico, a perfeição e o domínio dos movimentos 
adquiridos da aplicação de métodos rígidos de automatização e adestramento, para se atingir um melhor 
desempenho esportivo. 
Infelizmente, hoje em dia, ainda em alguns lugares, a tarefa principal da aula de Educação Física é 
introduzir os alunos nos modelos socialmente dominantes do esporte, aqueles que pelo desempenho tentam 
convencer que o mais importante é ser um desportista famoso e vencedor. E os profissionais desinformados que 
lidam com esporte agem da mesma maneira na formação dos nossos alunos e pretendem qualificar os indivíduos 
para participar dos contextos específicos de ação e normas do esporte na limitada idéia de Educação Física. 
Rendimento e competição possuem uma dimensão objetiva, isto é, uma comparação possível de 
mensuração de movimentos, que são nada mais nada menos que as concepções dominantes de normas e valores 
do esporte, oferecidas cotidianamente nas escolas e que são vistas como desejáveis para transmitir. Mas, 
também, estes valores e normas não são imutáveis. 
Assim, desde o início dos anos 80, cada vez mais são discutidas idéias sobre a educação para uma reforma 
nas aulas de Educação Física, visando tanto à democratização como à humanização, na relação entre o professor 
e o aluno. Nos tempos atuais, apesar de muitos progressos obtidos no setor educacional, através de inúmeros 
movimentos, debates, discussões e realizações, a Educação Física ainda necessita de mudanças. Sobretudo no 
sentido de convencer a sociedade e até mesmo o corpo docente, constituído por profissionais de outras áreas, 
quanto ao seu valor, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida dos indivíduos, por meio de uma 
educação relevante, responsável e realmente comprometida com momento histórico evolutivo.

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