Buscar

Resumo Gláucia AV1

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
LUIZA PINHEIRO DAS NEVES
201602693617
RESUMO DOS CAPÍTULOS 1, 2, 3 E 4 DO LIVRO DIDATICO TEORIAS E TÉCNICAS PSICOTERÁPICAS.
RIO DE JANEIRO
2018
As teorias e técnicas psicoterápicas
A psicologia clínica tem por finalidade o desenvolvimento e a aplicação de práticas de diagnóstico psicoterapêuticas. Tem como objetivo identificar e tratar os desajustes e distúrbios do comportamento. 
A psicoterapia se desenvolveu e adquiriu certa autonomia bem recentemente. Esse termo “psicoterapia” como conhecemos hoje teve seu nascimento na escola de Nancy, basicamente no século XIX. Membros dessa escola tratavam com o uso da hipnose os problemas psíquicos – a chamada terapia pela sugestão.
A partir do hipnotismo como prática terapêutica, que dura até o início da Primeira Grande Guerra em 1914, surge a abordagem psicanalista, que entra no cenário terapêutico e passa a ocupar o primeiro lugar de preferência como modo de tratamento. Em 1945, surgem novas ideias e novos métodos vindos em sua maioria dos Estados Unidos, e começam a ocupar também o ramo das práticas terapêuticas.
Cabe à pessoa do cuidador (o técnico) articularas questões pessoais (intrapsíquicas) com os aspectos coletivos (intrassubjetivos), que estão em relação com as posições do sujeito na sociedade, mesmo quando valores, metas, objetivos e interesses deste indivíduo (aqui chamado de paciente) não sejam coerentes entre si, ou não coincidam com os valores ou julgamentos próprios do terapeuta. 
Um outro dado importante a saber é que a psicoterapia se realiza por meio de intervenções dialéticas, ou seja, por meio de um diálogo entre duas pessoas. A ideia comum a todas as abordagens parte do princípio que sendo o indivíduo um sistema psíquico, quando este psiquismo entra em interação com odo outro indivíduo, pelo modo dialético, um atua sobre o outro membro da relação, permitindo novas significações de vida. Todo processo terapêutico nasce e termina no paciente.
Você precisa saber que o exercício da psicologia clínica exige equilíbrio e uma notável força psíquica para não ultrapassar seus próprios limites, as suas percepções e nem usar de procedimentos místicos para que se de um resultado.
Resumidamente qualquer psicoterapia, além do considerado anteriormente, pode ser definida em função de quatro elementos: os seus meios, seu objeto de tratamento, sua função e seus objetivos. Por meios entende-se uma tarefa realizada pelas vias psicológicas integradas a técnicas específicas, as que você verá mais adiante. O objeto focal de toda psicoterapia está centrado nos conflitos, estejam eles no psiquismo da própria pessoa, ou na sua relação com os outros. Enquanto função, o trabalho terapêutico visa desfazer os bloqueios ocasionados pelos conflitos psíquicos. E, finalmente, sobre os objetivos ou as finalidades, toda psicoterapia procura realizar uma mudança como meta do tratamento, mesmo quando essa meta seja apenas previsível de ocorrer ao seu término.
A relação psicoterapêutica
Ela é sempre uma forma de contato que envolve questões inter (entre dois), intra (no interior,) e transpessoais (além do pessoal). Isso significa que a psicoterapia se faz por meio de um encontro, ou relação, entre pessoas que se situam em um espaço, chamado de espaço terapêutico, como também de setting.
Embora o psicoterapeuta possa agir por meio de uma “atenção flutuante” em busca do que provoca os sofrimentos psicológicos de seu paciente, o profissional necessita sentir de modo afetivo e emocional seu paciente. Assim, deve olhá-lo como uma pessoa e não como um objeto de seu estudo, mesmo quando o profissional consegue identificar o ponto central dos problemas psíquicos trazidos pelo paciente.
Precisa ficar claro aqui que, como todo e qualquer processo, a psicoterapia está determinada pela relação paciente versus terapeuta. Sem esse procedimento o tratamento não acontece. Para tal, ambos devem estar comprometidos, e precisam estabelecer condições para que tal aconteça. Não há nenhum acaso decorrente da terapia. Tudo acontece em função da própria relação interpessoal determinada pelos atores presentes na situação terapêutica. Quando o paciente e terapeuta estabelecem um vínculo, como uma espécie de liga entre eles, os caminhos e atalhos tomados pelo sujeito quando narrados ao profissional, permitem ao técnico cuidar de seu paciente. É esse “se sentir cuidado” que vai permitir o efeito da mudança, comentada anteriormente como o objetivo da psicoterapia.
Mas o que faz alguém buscar tratamento psicológico? Em geral, se não for uma indicação feita por outro profissional da área de saúde, ou por alguém da área judicial, as pessoas que procuram por essa forma de terapia sempre o fazem motivadas pelos problemas de comunicação, pelos problemas de ordem existencial, pela consciência própria de que algo não vai bem, pela dificuldade de entender o que faz se sentirem como “não funcionando bem”.
E o que o terapeuta pode fazer diante desse quadro anterior? Bem, em primeiro lugar ele deverá acolher as confissões de seu paciente, observar as suas linguagens, orais e corporais, suas expressões e movimentos. Deve prestar atenção às interrupções na fala de modo que consiga identificar quais são as reais motivações do seu paciente que geram todas suas dificuldades no seu viver.
Percebendo como a pessoa compreende e se comporta diante das demandas internas e externas, assim como se ela possui possibilidades no momento de fazer contato com suas questões conflitivas, o profissional vai traçando sua linha de ação. Para tanto, será conveniente analisar a origem de seus sintomas, assim como também o grau de complexidade dos mesmos.
Assim o profissional tem meios para determinar se há uma patologia presente no caso, feita pela análise do resultado de toda a coleta de informações passadas e decidir se recomenda ou não um processo psicoterápico. Portanto, para se tornar um terapeuta, não basta apenas ser um bom teórico ou técnico como narrado antes, ele precisa realizar um bom questionamento de suas responsabilidades profissionais.
O profissional não precisa ser perfeito, ou ser portador de um aglomerado de teorias e de técnicas, mas deve ser o inspirador de segurança e coerência. Ambas as condições devem estar presentes na sua própria comunicação oral e corporal. Precisa se conscientizar de suas fragilidades, de seus sentimentos e suas emoções de alegria, tristeza, raiva, medo, vaidade. 
Não deve trabalhar com o cliente para obter benefícios pessoais, por exemplo, mantê-lo em atendimento em função de uma necessidade financeira, mesmo quando não há mais necessidade de continuar com o tratamento. Também não deve expor sua vida pessoal e íntima ao seu paciente, revelando seus próprios temores, anseios, ou como agiria em determinada situação se estivesse no lugar do seu paciente.
História da psicoterapia, doença, saúde mental, normal e patológico
Podemos começar pela origem do termo psicoterapia. A palavra veio das palavras gregas: “therapeia, therapeuein”. Elas correspondiam ao nome dado aos procedimentos que buscam a cura por meio de um método. Como “psyché” representa alma, a palavra psicoterapia, pela análise de sua origem (etimologia), significa a cura da alma.
Do mesmo modo a definição de doença mental, vulgarmente chamada de loucura, também tem sua história e se remate a tempos bem antigos. Com relação ao termo loucura, esta palavra está em conexão com a história da trajetória humana.
Na Grécia Antiga, a loucura ora era considerada como uma manifestação divina, pela qual os loucos eram vistos como profetas, já que falavam coisas que o homem comum não entendia. Com os feitos de Hipócrates, ele propôs que o corpo humano sempre estava em íntima conexão com a “phisis”, a natureza, segundo a definição dos gregos. Essa integração conectiva se mantém harmoniosa nos casos de saúde em que Hipócrates considerava normal. Já a doença surgia quando essa “phisis” se alterava, mudandoo estado de harmonia da natureza (phisis) humana.
Já na Era Medieval, a Igreja detinha as regras. Os padres eram os detentores do saber, porque a Igreja era a casa de Deus, e somente o clero tinha o poder de transmiti-lo ou de usá-lo. Esse saber era oferecido para a educação, para legislar ou controlar as normas sociais da época, uma vez que a Igreja era a intermediária entre Deus e o homem. A humanidade se via diante da imposição de normas morais de cunho unicamente religioso. Sendo assim a loucura, por ser uma manifestação fora dos padrões considerados normais à ordem divina, eram considerados infratores da moral cristã todos aqueles que a possuíam. Logo, o louco era visto como uma associação demoníaca, um ser maligno. A loucura era encarada nessa época como uma heresia, algo que vai contra as regras divinas. Os loucos eram os heréticos, pois se comportavam de modo diferente aos exemplos da moral cristã. Assim na Idade Média, o procedimento de curar a alma era feito por meio da palavra de Deus, e de rituais que podiam ir do exorcismo, como mencionado, ao fato de ser queimado na fogueira.
Seguindo o rumo da história da humanidade, chegamos à era do Renascimento, no qual o homem é considerado o centro de tudo, diferentemente da etapa anterior, na qual Deus era o centro de todo universo conhecido. O movimento renascentista adquire este nome em função da retomada da importância dada às descobertas e aos feitos do homem. A força do conhecimento adquirido pelo ser humano ressurge nesse período, mostrando toda a capacidade criativa presente na alma humana.
Na Idade Moderna, o predomínio da razão e da racionalidade levam à criação de novas ideias, teorias e a formação de novas instituições, que vão substituir os antigos cárceres pelos espaços nos quais o louco não seja mais um problema da sociedade, mas sim, um problema puramente do domínio científico. Com o surgimento da psiquiatria e o desenvolvimento do campo científico, a loucura ganha categoria de doença, e passa a ser estudada.
Com os ideais difundidos pela Revolução Francesa – liberdade, igualdade e fraternidade –, surge uma nova reestruturação do espaço social. Agora todos os encarceramentos passam por uma seleção, ou seja, deixam de ser arbitrários para qualquer cidadão. Determinou-se que os loucos não podiam circular no espaço social como os outros cidadãos por serem perigosos. Agora vistos como doentes, seu encarceramento estava relacionado à necessidade de tratamento. Com o objetivo de curá-los, passaram a ser internados em instituições destinadas especificamente a eles, surgindo os manicômios. O grande fundador da psiquiatria é o dr. Philippe Pinel (1745-1826).
Pinel estabeleceu os fundamentos da clínica psiquiátrica a partir do método clínico. Estamos diante do primeiro e real movimento de tratamento, calcado no modelo médico. Pinel afirma que as alienações mentais se devem aos distúrbios funcionais do sistema nervoso central, independentemente de haver ou não lesões no mesmo. Estabelece uma intervenção nos manicômios chamada de "tratamento moral".
O nascimento da psiquiatria surgido com o novo modo de “encarceramento” dos loucos nos manicômios produz pela observação direta e exclusiva dos “insanos” um intenso trabalho de pesquisa científica. Dessa pesquisa surgem as descrições e classificações dos diferentes tipos dos sintomas, dando origem aos conceitos dos diversos tipos de transtorno psíquico que fundamentam a psiquiatria moderna. É importante ressaltar que não houve qualquer avanço em termos de terapêutica, pois os doentes mentais passaram a permanecer toda a sua vida dentro dos hospitais psiquiátricos. O dito “tratamento” tinha base em descrições clínicas. Porém se pode considerar como um progresso a tese de que era o desequilíbrio das paixões a responsável pela alienação, e o retorno, pela correção de as mesmas serem uma possibilidade de curar, levando ao homem ao estado original antes de “adoecer”. Parece que surge a primeira forma de tratar realmente o perturbado mental.
O aparecimento de Donald Laing (1927-1989), psiquiatra inglês no cenário do tratamento psiquiátrico, provocou uma reviravolta inovadora para o tratamento da doença mental especialmente nos casos com psicose. Como era fortemente influenciado pela filosofia existencial, começa a olhar os pacientes pela expressão de seus sentimentos. Mas agora vê essas expressões como formas de experiências vividas e não somente como sintomas. Sustenta que os discursos sem sentido e confusos dos doentes mentais são as formas de comunicação de seus medos e suas ansiedades. Laing enfatiza o papel da sociedade, e particularmente o da família no desenvolvimento da loucura.
Mas não podemos sair desse debate histórico sem falar de Sigmund Freud (1856-1939). Foi ele quem trouxe firmemente a finalidade psicoterápica de restaurar a subjetividade, pelas mudanças e compreensões de suas ações. Por ser médico neurologista, seu trabalho sofreu forte influência nessa sua formação. Ao estudar a histeria, percebeu que a presença dos sintomas neurológicos não era causal nem determinada por eles. Verificou que por detrás da manifestação histérica havia forças fortes e complexas que precisavam ser estudadas, porque descobriu que elas tinham significação se comparadas a partir da história do paciente.
Quando começa a investigar a história de seus pacientes, percebe que muitas recordações antigas tinham sido esquecidas, por terem sido banidas da consciência. Mas que quando ele conseguia acessá-las, o paciente mostrava uma mudança de comportamento. Com essas descobertas ele chega à noção da existência do inconsciente e inicia um tratamento, primeiramente com hipnose, por meio do método denominado de associação livre de ideias, pelo qual, quando o paciente era colocado numa postura de relaxamento, ele conseguia acessar lembranças passadas e ter um grande alívio quando podia falar delas. Depois de algum tempo ele dá seguimento a essa forma de tratar, mas sem uso mais da hipnoterapia, pois a associação livre das ideias fazia o mesmo efeito, com a diferença que proporcionava um “reviver” das emoções e da situação conflitiva (traumática) de modo consciente. Sem dúvida alguma foi o aparecimento da abordagem freudiana, e dos seus princípios de análise e compreensão das situações humanas que deram realmente início ao que chamamos hoje de psicoterapia.
Saúde e doença mental, normal e patológico
Um transtorno mental é um padrão psicológico que tem explicação ou significação clínica. Em geral costuma estar associado a um mal-estar ou a uma incapacidade que pode prejudicar a vida humana. Com a temática “incapacitante”, convém destacar que uma doença mental é uma alteração dos processos cognitivos e afetivos do desenvolvimento. Ela se traduz em perturbações em nível do raciocínio, do comportamento, da compreensão da realidade e da adaptação às condições da vida. Os transtornos mentais podem ser ocasionados por fatores biológicos como os ambientais e psicológicos. Por isso, requerem uma atenção multidisciplinar que permita melhorar a qualidade de vida da pessoa. Embora existam diversas categorias de transtornos mentais, as principais referem- se aos transtornos neuróticos e aos transtornos psicóticos.
A doença mental não deve ser confundida com a quebra de normas sociais, de sentimentos, de crenças ou valores religiosos ou morais que sejam incompatíveis com algum grupo sociedade ou cultura. Precisa-se entender que quando se faz uma procura por um serviço em saúde mental, isso não significa necessariamente que se está doente mentalmente segundo os critérios clínicos, mas tão-somente pode significar que se está em sofrimento emocional, com dificuldades relacionais ou preocupado com aspetos profissionais e pessoais, por exemplo.
Já o conceito de saúde mental pode ser compreendido por uma vasta área de conhecimento e de atuação técnica, dadas pelas políticas públicas de saúde (AMARANTE, 2007). Como que ao se colocar isoladamente o critério de saúde ganha o perfil de perfeita “normalidade”no funcionamento do organismo, ou ausência de insanidade, no caso da doença mental
Para a psiquiatria, a saúde mental é vista pela ausência de sinais que comprometem o equilíbrio psicológico. Para o campo da psicoterapia a noção de saúde mental relaciona-se com a área de ação na procura pelo bem-estar do doente mental com auxílio da atuação terapêutica. Se a saúde mental remete a ações dentro das políticas públicas, essa designação serve para orientar e limitar as intervenções em psicoterapia de acordo com o espaço em que se realiza o trabalho, pois inclui a verificação do espaço físico, a importância das condições de aplicabilidade de técnicas, formação de equipes, observação e divisão dos usuários para melhor atendimento dos mesmos. Já com relação à doença mental, as descrições dos comportamentos comuns nas distintas patologias servem como guias ou medidas de verificação e identificação de estados de mudança obtidos com o tratamento.
A psicoterapia
Psicoterapia é o tratamento, por meios psicológicos, de problemas de natureza emocional, no qual uma pessoa treinada estabelece com o paciente um objetivo de remover, modificar ou retardar sintomas, de intervir em modelos perturbados do comportamento e de promover um crescimento e um desenvolvimento positivo da personalidade. (WOLBERG, 1972; in: RIBEIRO, 2013)
O processo terapêutico acontece por meio da relação, portanto ele não se dá nem no cliente/paciente nem no psicoterapeuta. Portanto é dinâmico; se estabelece por meio de um método de tratamento sempre extraído de uma teoria da personalidade. E tem como forma de tratar, a característica e finalidade de “curar”, só que entendida como possibilidade de mudança daquele que se encontra perdido em conflitos pessoais.
A psicanálise
Foi com o surgir da figura histórica para a psicoterapia de Sigmund Freud (1856-1939) que podemos dizer que ela tomou forma e ganhou prestígio e respeito como uma prática para a saúde mental. Freud nasceu em Freiberg na Áustria e depois morou em Viena, e por ter migrado para Inglaterra – para escapar das perseguições nazistas, morre em Londres em 1939. De formação médica, com especialidade no campo biológico-naturalista sempre esteve motivado pelos fenômenos neurológicos, os quais tiveram grande influência na sua formação de psicanalista. Logo Freud se interessa pelos estudos de casos neurológicos e identifica alguns casos em que as explicações da neurologia não conseguiam cuidar de certas manifestações ou sintomas histéricos.
Descobre que os sintomas histéricos não eram casuais nem determinados por aspectos neurológicos, e que eles “escondiam” forças dinâmicas e complexas que precisavam ser estudadas profundamente. Trabalhando em parceria com o Dr.
Joseph Breuer (1842-1925), primeiramente com a hipnose, Freud veio a perceber que os sintomas histéricos eram significativos a partir da história de vida do paciente, pois não era sem razão que as manifestações histéricas se apresentavam alternadamente em uma ou outra parte do corpo, fora as características comportamentais típicas desta doença mental. Com a hipnose Freud constata que muitas lembranças da infância, ou do passado histórico dos pacientes, tinham sido esquecidas, ou simplesmente expulsas da consciência. Mas quando estas memórias eram recordadas, pela ausência da repressão consciente, o comportamento se modificava.
Foi assim que Freud chega a ideia do inconsciente. Aos poucos Freud abandona a hipnose, porque descobre que se mantivesse o paciente em estado de relaxamento e deixando de lado toda a reflexão consciente para poder falar de ideia livremente, o paciente experimentava um grande alívio de suas tensões psíquicas, porque conseguia recordar fatos do passado bem distante. Ele então chama esse método terapêutico de associação livre de ideias. No entanto, ele começa a observar uma tendência nos pacientes de se expressarem de modo muito intelectualizado, repetindo imagens do passado de modo frio, como se estivesse resistindo a entrar em contato com os sentimentos e emoções. Freud dá o nome a este mecanismo de afastamento das emoções de resistência, e verifica na sua prática que quando ela se manifestava nenhuma mudança se processava no comportamento posto que as emoções não eram consideradas, e incorporadas ao relato.
Seguindo com suas investigações, principalmente por meios da análise dos sonhos, Freud descobriu a importância da sexualidade, sobretudo a infantil, na origem psíquica (psicogênese) de processos patológicos. A sexualidade infantil manifestada, sobretudo, pelo complexo de Édipo. Freud vai chamar de "libido" a força psíquica de natureza sexual presente em todas as pessoas, por ser a representante de todas as manifestações do instinto de vida. Todo instinto tem uma fonte, uma finalidade, um objeto e um impulso, havendo dois grandes grupos de instintos: instinto de vida e instinto de morte.
A psicanálise: do surgimento da hipnose à técnica psicanalítica
A psicanálise tem seu nascimento como teoria a partir do uso da hipnose. Enquanto origem, podemos dizer que Freud, inspirado pelo hipnotismo passou da hipnose à catarse, e da catarse à análise como método de interpretar o discurso do paciente. Freud inicia a teoria apoiado nos resultados de trabalho clínico, e na anotação das observações sobre as suas intervenções, compondo o corpo de sua teoria. Inicialmente, como já foi dito anteriormente, Freud começou a trabalhar com outro médico, o dr. Joseph Breuer. Este último usava também a hipnose no tratamento dos distúrbios histéricos. Em um primeiro momento, ambos tinham a curiosidade científica de desvendar o papel essencial da palavra nas sessões de hipnose, pois ambos estabeleciam, com seus pacientes, conversas em que os levavam ao reconhecimento do motivo psicológico causador do mal-estar. Surge a partir daí o conceito de talking cure, dado a este método de “conversar”, mesmo hipnotizado, fazendo da palavra um instrumento libertador e da suspensão dos sintomas. Com essa observação do efeito da palavra na liberação do sintoma, Freud conclui que se a palavra pode substituir os sintomas, logo essas manifestações só podem ser substitutas de atos psíquicos normais. Por outro lado, Freud descobre que “esta palavra recuperada” vem acompanhada de uma descarga emocional que estava reprimida e, por tanto, o resultado desta libertação emocional é uma catarse.
A partir destas deduções, vindas da experiência clínica, dois postulados teóricos podem ser compreendidos por meio delas. Um deles é a hipótese de processos inconscientes, da qual não se pode escapar pela evidencia vinda à tona produzida pelas experiências. Outra questão colocada é que algumas representações mentais (memórias, fantasias) não podem então ser expressas na sua totalidade na consciência. Em função disso, Freud argumenta a possível existência de um traumatismo psíquico. Por esse trauma Freud vem a explicar como a dor do que foi vivido deu lugar a esta substituição pelo sintoma. Apesar de seu companheiro Breuer permanecer ligado a esta noção, Freud se afasta dela porque considera a raiz do problema a presença de um conflito na mente do indivíduo, o qual se opõe às tendências da vida psíquica, e que favorece uma recusa de encará-lo, formando uma necessidade de retirar de alguma forma esta representação da consciência.
Teoria e evolução da técnica
A teoria psicanalítica se sustenta no seguinte esquema de trabalho, o qual pode ser seguido por todas as linhas e correntes: Conflito psíquico forma a repressão. Essa por sua vez, a repressão, origina o retorno do material reprimido, e esse material não integrado à consciência vai forma o inconsciente.
O conflito psíquico é sempre um produto, segundo Freud, das complicadas interações entre desejos de natureza sexual com as necessidades adaptativas. Ele, o conflito, é o edificante da estrutura psíquica humana, pois Freud parte da determinação que a força sexual é a origem das neuroses. Em seguida ele reconhece qual a parte determinante da sexualidade no desenvolvimentonormal do ser humano, incluindo em sua proposta o desenvolvimento infantil.
Esta noção de sexualidade é muitas vezes mal compreendida. Freud vai chamar como o lado psíquico da sexualidade, enquanto impulso, de libido. Essa energia psíquica, a libido, pode tomar formas diversas e não são finalizadas no sentido do ato sexual propriamente dito. A parte psíquica da sexualidade, como impulso à ação, é definida por Freud como pulsão. Esta última gera desejos, os quais não aceitam nem reconhecem as regras da realidade. Essa variável “o desejo” que não é controlado por nenhuma regra social, cultural e moral, produz o conflito psicológico sempre quando esse desejo entra em contato com a realidade, e da “colisão” entre ambos surgem à formação de fantasias, que ficam como fantasmas atormentadores a vida psicológica.
A repressão como mecanismo de formação do inconsciente
Quando persiste na psique, a presença de desejos correspondentes a questões de natureza infantil, esse fato explica a causa dos conflitos psíquicos. Desse modo é como surgem tanto a repressão por um lado, como por outro, o fracasso parcial da intenção para a realização do desejo, como os dois efeitos correspondentes à aderência aos motivos infantis. Assim, o inconsciente vai se formando, já que para Freud a repressão corresponde ao mecanismo de censura responsável por sua origem; e este (o inconsciente) só poderá ser conhecido por meio de inferências, ou indícios.
A sexualidade infantil: o trauma como imaginação
Freud inicialmente buscou determinar a origem das neuroses (ou etiologia da neurose) qual era a sua causa. A princípio, Freud pensou que a neurose seria causada pelas experiências sexuais muito precoces. Com o passar do tempo, verifica que essa constatação se torna muito repetitiva para ser real, o que lhe faz desistir desta hipótese e lança a ideia de tornar evidente que a criança dispõe de uma sexualidade.
Ele percebe e formula que de fato não se encontram lembranças de experiência vividas que tenham provocado este tipo de traumatismo de experiência sexual de fato, mas sim da existência de fantasias que levam a Freud a estabelecer que o tema da sexualidade infantil continue sendo o ponto fundamental de sua teoria. Mas é preciso constatar que Freud não observava diretamente as crianças e que todas as descrições que ele vai dar sobre esta sexualidade na infância são inferidas, de um lado, de relatos feitos pelos pacientes durante o tratamento e, de outro lado, de conhecimentos sobre a criança propostos pelos especialistas de sua época.
As fantasias, ou as simbologias em jogo no Complexo de Édipo, por exemplo, se originam como tentativa da psique de organizar todas as manifestações simbólicas associadas à mesma temática edipiana. É interessante ver os elementos principais da estrutura fantasiosa configuradas em um só complexo. Por exemplo, imaginemos um jogo de lego pelo qual pequenas peças começam a ser encaixadas e dão origem a uma construção. Então, o complexo seria esse conjunto de afetos, originados por diferentes desejos reprimidos vão dando lugar a uma estrutura, que tal como o lego, permitem que os afetos contidos nos desejos possam ser montados, desmontados e representados de diversos modos, porém conservando, ao mesmo tempo em que essas mudanças ocorrem, os seus mesmos elementos afetivos.
A prática psicanalítica
A psicanálise tem como finalidade fazer o paciente regredido realizar a partir das cadeias associativas do que é manifesto em sua linguagem para descobrir o conteúdo latente que subjaze por detrás das palavras-imagens. Por exemplo, ao analisar um sonho, o terapeuta deve seguir as indicações dos elementos que o compõem, fazendo o analisando confiar em suas associações de ideias e chegar assim aos pensamentos latentes que formaram o sonho, sempre com a ajuda do psicanalista. O sonho é formado, como já foi dito, por fatos do dia anterior, símbolos etc.
De posse desses dados trazidos pelo paciente, o analista fará a interpretação deles, pois é a partir dela (a interpretação) que se constitui a técnica essencial do psicanalista: a análise do discurso. Outro elemento importante para essa técnica é a análise da transferência. Por transferência Freud entendeu a projeção de desejos inconscientes sobre representações pré-conscientes, estabelecendo com essas imagens relações afetivas desvirtuadas de seu real destino.
Características e limites da psicanálise
Podemos dizer que os problemas com os quais se defrontam todos os psicanalistas estão associados aos seguintes fatos: o espaço em que se dá a relação, o manejo da transferência a técnica da interpretação. Como também podemos incluir aquelas questões relativas ao que Freud chamou de limites do analisável, a duração do tratamento e seus fins assim como a transmissão e a formação dos psicanalistas.
Por limites do analisável se entende o fato que ocorre quando a relação parece estar comprometida em seu efeito.
A terapia cognitivo-comportamental: bases históricas e teóricas
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) foi desenvolvida, aprimorada e extensamente difundida na Europa e nos Estados Unidos a partir da década de 1980. É caracterizada por ser estruturada, orientada para o momento presente, direcionada à resolução de problemas e à modificação de pensamentos e comportamentos disfuncionais. Achados clínicos conduzidos por meio de vários estudos controlados, apoiam a eficácia desta forma de tratamento.
A Terapia Cognitivo-Comportamental teve como uma das suas predecessoras a Terapia Comportamental, que se converteu em um movimento conhecido no início da década de 1960. Ela, a terapia comportamental, é composta por diferentes conceitos teóricos, estratégias e técnicas. Seu início foi sustentado por muitos trabalhos, como os de Pavlov sobre o condicionamento clássico, os de Thorndike sobre a aprendizagem e os de Skinner sobre o condicionamento operante. (CABALLO, 1996)
Análise funcional como instrumento do terapeuta comportamental
A ideia central da Terapia Comportamental é o de que os comportamentos são aprendidos e podem ser desencadeados por estímulos internos e externos associados a eles. Essa abordagem tem como meta auxiliar o indivíduo a modificar a relação entre a situação que está associada ao comportamento “desadaptativo” e sua reação emocional desencadeando-se consequentes à circunstância do evento estressor, portanto procura essa modificação do comportamento inadequado mediante a aprendizagem de uma nova modalidade de reação. Essa nova aprendizagem é conseguida por meio do uso de técnicas apropriadas a cada caso, com as quais o terapeuta irá lidar, dependendo da aprovação de cada uma delas segundo a inadequação apresentada.
Mais recentemente, a Terapia Comportamental passou a considerar a combinação de procedimentos verbais e de ação, enfatizando ainda os determinantes atuais, embora de maneira alguma descarte os determinantes históricos. Assim ela também foca a solução de problemas, a construção científica e as investigações de laboratório.
O modelo de Albert Ellis
A sua Terapia Racional Emotiva (TER) tem base na ideia de que tanto as emoções como os comportamentos são produtos das crenças de um indivíduo, ou seja, do modo como ele interpreta a realidade. Sua meta, como terapeuta, é o de ajudar seu paciente na identificação de seus pensamentos irracionais, também chamados de disfuncionais e substituí-los por outros mais racionais e efetivos, que lhe permitam atingir suas metas. Ellis desenvolve um esquema chamado por ele de ABC, em que A é a situação, B o sistema de crenças, valores e princípios e C as consequências. Por meio desse esquema, utilizado pelo TER (Terapia Racional Emotiva), parte do princípio de que a compreensão dos problemas emocionais e as intervenções terapêuticas adotadas estão pautadas na forma de pensar do indivíduo e nas crenças que serão desenvolvidas sobre si mesmo, sobre as outras pessoas e do mundo em geral.
O modelo de Aaron Beck
O primeiro trabalho que Aaron Beck desenvolveu foi aTerapia Cognitiva da Depressão. A partir daí o modelo evoluiu e tem sido aplicado ao tratamento de todas as síndromes clínicas, em todas as idades e utilizada em uma variedade de contextos. Seu modelo traz a seguinte tese: importantes estruturas cognitivas estão categórica e hierarquicamente organizadas. As principais teorias contemporâneas da estrutura e desenvolvimento cognitivos estão coerentes com essa formulação. A principal colocação e a mais básica do modelo da Terapia Cognitiva é de que são as categorias atributivas (as qualificações) as que constituem a principal fonte de afeto e conduta disfuncionais em adultos, em vez de categorias motivacionais ou de resposta. Isso quer dizer que a maneira como uma pessoa avalia uma situação geralmente se apresentam as suas cognições, isto é, em pensamentos e imagens visuais de cada sujeito. As cognições como circunstâncias verbais ou pictóricas têm base em atitudes ou suposições desenvolvidas a partir de experiências prévias. O paciente aprende a dominar problemas e situações anteriormente considerados insuperáveis, por meio da reavaliação e correção de seu pensamento.
O modelo de Jeffrey Young
De acordo com o ponto de vista que enfatiza o componente cognitivo da personalidade, a visão de J. Young tem como uma de suas possíveis origens a herança filogenética do indivíduo e, portanto, de sua espécie. Isso significa que as estratégias “geneticamente” determinadas, as quais poderiam facilitar a sobrevivência e a reprodução seriam, presumivelmente, favorecidas pelo processo de seleção natural. Essas estratégias dependem, entre outros fatores, da avaliação que o indivíduo realiza acerca das demandas de uma situação, que precede e desencadeia uma estratégia específica, seja ela adaptativa ou não. Além disso, a maneira pela qual esta avaliação se configura vai depender, em grande parte, de crenças que são importantes para o indivíduo, com as quais ele se identifica. E essas crenças se encontram, por sua vez, inseridas em outras estruturas cognitivas relativamente estáveis, denominadas “esquemas”, cujas funções são selecionar e sintetizar as experiências do indivíduo e desencadear uma excitação afetiva.
As correntes fenomenológica-existenciais: existencial, o existencialismo e a humanistas
Os sistemas psicológicos têm como proposta apresentar concepções de homem, de mundo e de objeto da psicologia. Nesse sentido, podemos identificar três grandes grupos. No primeiro, observamos as matrizes cientificistas, que ignoram a singularidade do sujeito, assumindo o modelo das ciências naturais. Isso significa dizer que se buscam explicações naturais para fenômenos psíquicos, partindo do pressuposto da existência de uma “verdade” evidenciada, por meio da objetividade do método científico. Aponta-se aqui para uma forma de determinismo, o homem natural, submisso às influências ambientais. Situam-se aqui as abordagem de orientação behaviorista, que têm como fundamento filosófico o neopositivismo, cujo foco é buscar a relação causal na compreensão do comportamento.
Numa segunda perspectiva, temos o modelo psicanalítico, uma abordage histórica e determinista dos problemas psicológicos. Aqui a ênfase é no sujeito na crença de que o é homem movido por forças inconscientes que precisam se desveladas, decifradas a fim de entender o porquê do sintoma. Observa-se aqui ênfase na explicação, buscando a relação entre causas e efeitos.
Um terceiro modelo aponta para aquelas abordagens que centram seu enfoque sobre a experiência do existir, valorizando aspectos relacionados à liberdade e responsabilidade, colocando o homem como protagonista de sua história.
A fenomenologia de Husserl
A fenomenologia de Husserl, com certeza, foi uma das grandes contribuições para a psicologia, mais especificamente para as psicoterapias de cunho fenomenológico- existencial. Sua proposta é traçar um paralelismo entre a psicologia e a fenomenologia, pois toda pesquisa psicológica empírica afirma uma verdade fenomenológica ou eidética, quer dizer, essencial (RAFFAELLI, 2004, p. 212). Husserl entendeu que o estudo experimental revela a essência de maneira velada, cabendo à psicologia desvendá-la e compreendê-la, o que só é possível a partir da superação dos preconceitos naturalistas que embasam o experimentalismo. (RAFFAELLI, 2004)
Na raiz da fenomenologia, se apresenta Franz Brentano (1938-1917), com a psicologia do ato, defendendo que a realidade está na consciência de cada um, na maneira como cada um vive o mundo, como se vê, sente, toca, ouve e percebe. “O fundamental da psicologia brentaniana é que a experiência se baseia na percepção interior.” (HOLANDA, 1998, p. 3)
Psicologia existencial fenomenológica e humanista
A fenomenologia busca compreender a experiência do indivíduo em sua essência, entendendo a relação entre o sujeito e seu mundo como uma construção dialética, influenciou o surgimento de alguns modelos terapêuticos, que passaram a ser denominados por psicoterapia existencial e humanista. Esses modelos enfatizam a relação interpessoal, com o paciente percebido como pessoa, que por meio da ação do terapeuta, deve buscar autoconhecimento e autonomia psicológica suficiente para que possa assumir livremente a sua existência. (VILLEGAS, 1988)
Trata-se de uma pluralidade de métodos e de teorias que, contudo, podem classificar-se em dois grupos diferentes: a psicoterapia existencial-fenomenológica e a psicoterapia experiencial (humanista). As diferenças essenciais entre elas situam- se na forma como conceitualizam a capacidade do indivíduo para o processo de mudança, nos conceitos-chave que estão em jogo e, ainda, na finalidade da intervenção. (VILLEGAS, 1989)
A psicologia existencial-fenomenológica
O Existencialismo é uma corrente filosófica na qual o homem é visto como ser-no-mundo (fenômeno de unidade) e como indivíduo que tem liberdade e responsabilidade por suas escolhas. A corrente existencialista também assume o pensamento fenomenológico, principalmente na proposta de Husserl, e propõe a descrição do fenômeno, tais como eles parecem ser sem nenhum pressuposto de que eles sejam na verdade. Para o existencialismo, a fenomenologia de Husserl significou um interesse novo no fenômeno da consciência, isto é, a consciência, enquanto dotada de intencionalidade, é o objeto de estudo existencialismo.
Soren Kierkegaard (1813-1855) foi um filósofo dinamarquês, teólogo, poeta, crítico social, autor religioso que é amplamente considerado o primeiro filósofo existencialista. O pai do existencialismo partia da ideia que o indivíduo é o único responsável em dar significado à sua vida e em vivê-la de maneira íntegra, sincera e apaixonada, apesar das “distrações existenciais” como o desespero, o absurdo, a alienação e o tédio, se colocarem como desafios a serem vencidos.
Heidegger (1889-1976), filósofo, escritor e professor universitário é considerado o ponto de ligação entre o existencialismo de Kierkegaard e a fenomenologia de Husserl. Heidegger contribui com o Existencialismo ao desobjetificar o ser humano, destruindo ideias do homem como um mero objeto e coisa material da natureza. Essa forma de conceber o homem foi fundamental na fixação dos propósitos da daseins analyse, na medida em que o filósofo afirma a existência dom homem como um ente dentre vários outros, porém que se difere dos demais por questionar sua própria condição.
A daseins analyse traz a preocupação de compreender o homem não só aprisionado ao que lhe é dado, mas constituído de uma consciência que o coloca como construtor da sua existência, que em vez de se perguntar o que é o ser, deve se perguntar: qual é o sentido de ser? A existência humana não é para ser explicada, mas sim compreendida.
Seguindo com os filósofos existenciais, agora se apresenta um dos mais importantes existencialistas, Jean Paul Sartre (1905-1980), filósofo, escritor e crítico francês, um dos pensadores mais importantes do século passado, trouxe para o foco também o Humanismo, ao afirmar que o Existencialismo é Humanismo.Trata-se, para Sartre, de um Humanismo existencial, porque para ele, o homem está “constantemente se projetando para fora de si mesmo, construindo-se, realizando- se no mundo (NOGARE, 1981). Contudo o autor não aceita, segundo Greening (1975) que o humanismo se torne estreito, rígido que perceba homem apenas considerado como um ser a quem se atribui um último valor por suas “preocupações humanas”. (GREENING, 1975, p. 21)
Para Sartre, o homem inventa a si mesmo. Ele constrói sua história de acordo com suas escolhas e com o caminho que opta por tomar. Pois “não existe determinismo, o homem é livre, o homem é liberdade” (Sartre, 1987, p. 9). Assim, Sartre fala da liberdade, da responsabilidade, da capacidade de escolha e da angústia que isso pode nos causar, e de que somos condenados a sermos livres – somos responsáveis pelos nossos próprios atos: “o homem é responsável por si mesmo (...) o homem se escolhe a si mesmo” (Sartre, 1987, p. 6). Essa concepção existencialista do homem vai fazer com um construir a sua própria definição de homem, cada um passa a ser aquilo que ele faz dele mesmo.
Para os existencialistas, o homem é um ser livre, a sua liberdade faz dele plenamente responsável pela sua escolha, e a sua escolha, sendo verdadeira, é também uma escolha que o homem faz para todos os homens. Dessa forma, o ato individual acaba engajando toda a humanidade, isto é, se ele acredita que aquilo que ele escolhe, por base em seus valores próprios, é o certo, então, ele também está escolhendo para todos os homens.
Fica claro, que o existencialismo sartriano concede importante relevo à responsabilidade, ou seja, entende que cada escolha carrega consigo a obrigação de responder pelos próprios atos, um encargo que torna o homem o único responsável pelas consequências de suas decisões. E cada uma dessas escolhas provoca mudanças que não podem ser desfeitas, de forma a modelar o mundo de acordo com seu projeto pessoal. Assim, perante suas escolhas, o homem não apenas tornasse responsável por si, mas também por toda a humanidade.
Humanismo
A psicologia humanista é uma corrente da psicologia que surgiu no meio do século XX. Nasceu como uma alternativa para as duas escolas principais: o behaviorismo e a psicanálise. Suas raízes estão na corrente filosófica do existencialismo europeu com as figuras de Heidegger e Sartre A psicologia humanista tem como principal característica considerar o ser humano em sua totalidade. Amatuzzi (2001) esclarece que a designação “psicologia humanista não se refere, pois, "a uma teoria específica, ou mesmo a uma escola, mas sim ao lugar comum onde se encontram (ainda que com pensamentos diferentes) todos aqueles psicólogos, insatisfeitos com a visão de homem implícita nas psicologias oficiais disponíveis". Os humanistas entendem que a compreensão do homem e de sua saúde emocional precisa considerar seu corpo, suas emoções, seus sentimentos, comportamentos, pensamentos e todo o contexto a sua volta. Essa forma de pensar, não deixa de ser uma crítica a qualquer forma de determinismo, ou seja, não existem causas específicas para explicar o comportamento. 
Abraham Maslow e Carl Rogers podem ser considerados os principais precursores da psicologia humanista.
Abraham Maslow (1906-1970), um dos fundadores do humanismo norte-americano, conhecido pela teoria da hierarquia das necessidades humanas ou a pirâmide de Maslow.
Durante toda sua carreira se interessou profundamente pelo crescimento e desenvolvimento, como também pelo uso da psicologia como instrumento de promoção do bem-estar social e psicológico. Insistiu que uma teoria da personalidade precisa e viável deve incluir as profundezas, mas também os pontos altos que cada indivíduo é capaz de atingir. A teoria das necessidades humanas postula que necessidades fisiológicas estão na base da pirâmide, seguindo-se as necessidades de segurança, de afetividade, de estima e de realização pessoal. Nessa ordem, uma necessidade só poderia ser satisfeita se a anterior fosse concretizada.
O ser humano está sempre buscando melhorar sua vida. Dessa forma, quando uma necessidade é suprida, aparece outra em seu lugar; tais necessidades são representadas na pirâmide hierárquica. Quando as necessidades humanas não são atendidas, sobrevêm sentimentos como frustração, agressividade, nervosismo, insônia, desinteresse, passividade, baixa autoestima, pessimismo, resistência a novidades, insegurança e outros. Tais sentimentos negativos podem ser recompensados por outros tipos de realizações. Porém, quando o ser humano satisfaz suas necessidades, ele atingirá o estado de desenvolvimento de seu impulso vital, ou seja, a autorrealização.
Por fim, Maslow (1970) diz que a terapia pode funcionar de maneira a satisfazer as necessidades que foram frustradas nas pessoas que buscam a psicoterapia e que o papel do terapeuta não deve ser só de atender as necessidades primárias (carência), mas sim deve promover um processo profundo e prolongado de desenvolvimento de autocompreensão, o que chamou de terapia de insight. Diz ainda que os bons terapeutas devem amar e zelar pelo ser ou pela essência das pessoas, funcionando como um facilitador para a autorrealização.
Carl Rogers e a terapia centrada na pessoa
Carl Rogers (1902-1987) foi um psicólogo norte-americano, desenvolveu a psicologia humanista, também chamada de terceira força da psicologia. Tem o mérito de ser um dos principais responsáveis pelo acesso e reconhecimento dos psicólogos ao universo clínico, antes dominado pela psiquiatria médica e pela psicanálise. Sua postura enquanto terapeuta sempre esteve apoiada em sólidas pesquisas e observações clínicas. Carl Rogers, a partir de suas pesquisas, desenvolveu um modelo de intervenção terapêutica que intitulou inicialmente de Terapia Centrada no Cliente e depois Terapia Centrada na Pessoa (ACP). Esse método valoriza a experiência prática, vivida, inclui a subjetividade do terapeuta e do cientista, se interessa pela compreensão dos significados atribuídos pela própria pessoa às suas vivências e pelos modos de experienciação dos mesmos, assumindo em seu modo de trabalho, a prática de uma atitude humanista e fenomenológica.
Perls e a Gestalt Terapia
A Gestalt-terapia fundada por Fritz Perls (1983-1970), psicoterapeuta e psiquiatra de origem judaica, junto com sua esposa Laura Perls propõe a terapia do contato. Essa abordagem tem como finalidade conhecer e trabalhar a consciência da pessoa. Perls se dedicou a colocar na prática a filosofia titulada por Wolfgang Köhler (pai da psicologia da Gestalt) pela visão de que o homem é um “todo integrado”. Entende-se que a Gestalt-terapia “é uma proposta humanística de ver o homem em toda a sua plenitude, em pleno desenvolvimento de suas potencialidades” Ribeiro (1985, p. 132).
O termo “Gestalt” é alemão, sem tradução específica para o português, mas que tem sido compreendido como uma forma, uma totalidade, uma configuração dada por uma estrutura significante. Na abordagem psicoterápica significa dizer que em cada experiência ou interação humanas os sentimentos, afetos resultantes devem ser entendidos de forma global, considerando o sentimento e seu contexto.
É uma abordagem psicológica embasada pelo método fenomenológico (foco no fato psíquico), no existencialismo (o homem e suas experiências) e na psicologia humanista (o homem se torna uma pessoa), enquanto visões de homem. Considera também os pressupostos da psicologia da Gestalt, que é uma teoria da percepção que dá ênfase à forma do objeto segundo os padrões do indivíduo que a percebe. A percepção é compreendida como um todo organizado, unificado e não uma integração de partes separadas. A organização perceptiva se dá em razão de alguns princípios tais como: proximidade, semelhança, direção, disposição objetiva, entre outras. Alguns conceitos também foram fundamentais para a Gestalt terapia, como o todo e a parte, figura e fundo e aqui e agora. 
Gestalt-terapia é uma terapia com o objetivo de levar o cliente a entrar em contato eisso implica a consciência do lhe acontece no aqui e agora, o Gestalt terapeuta usa algumas técnicas, tais como dinâmicas, vivências, fantasias, jogos cênicos, entre outros. Importante dizer que essas técnicas não substituem a escuta e a fala fenomenológicas e que servem apenas como suporte para alcançar os objetivos terapêuticos. O fundamental mesmo é o reconhecimento do processo, bem como o respeito pelo ritmo individual do cliente. Cabe ao terapeuta não apressar o processo, mas acompanhar, observar, compreender o caminho vivido pelo cliente.
O terapeuta que trabalha com essa abordagem não emite diagnóstico objetivo, mas procura compreender fenomenologicamente o processo experimentado pelo cliente. Isso quer dizer que ele visa entender como a pessoa está “funcionando” no momento, para que funciona deste modo, e quais necessidades atende e quais deixa de atender. Compreender que a pessoa funciona como um todo, em que alguns comportamentos, ideias ou sentimentos podem representar aspectos desatualizados em relação ao todo, inibindo a autorregulação e a capacidade criativa do organismo de mudar, de se atualizar.
Nesta concepção, se procura que o papel do terapeuta seja o de funcionar como uma tela de projeção, pela qual o paciente vê seu próprio potencial ausente de sua consciência, tendo como tarefa a recuperação do potencial do paciente. O terapeuta ajuda o paciente a se perceber como ele constantemente ele se interrompe, se boicota como ele evita a conscientização de si, o modo como desempenha papéis que muitas vezes não expressam alguma congruência.

Continue navegando