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Avaliação Educacional O Sentido de Avaliar: Em Busca de uma Avaliação Formativa Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profª. Dra. Lucimary Bernabé Pedrosa de Andrade Revisão Textual: Prof. Ms. Claudio Brites 5 • Introdução • A avaliação e a visão positivista do conhecimento • A avaliação e a visão sócio-histórica do conhecimento Nesta segunda Unidade é importante que você continue atento(a) às particularidades e exigências do estudo a distância. Priorize a organização do seu tempo para os estudos, garantindo o cumprimento dos prazos estabelecidos para as atividades aqui propostas. No decorrer da Unidade será muito importante que você leia com atenção o conteúdo, realize as avaliações, participe do fórum e consulte as referências e os sites indicados. Os objetivos desta Unidade são: » Compreender o modelo de avaliação baseado em uma visão positivista do conhecimento e aprendizagem; » Compreender a avaliação na perspectiva do quadro teórico- metodológico da visão sócio-histórica do conhecimento; » Discutir o conceito de avaliação formativa e os seus desdobramentos no processo de ensino e aprendizagem; » Refletir sobre a importância de uma avaliação educacional que supere o modelo tecnicista e esteja a serviço da aprendizagem do aluno; » Discutir a importância de o professor romper com modelos avaliativos que visam somente os resultados e se posicionar a favor de uma avaliação que possa acompanhar todo o processo de aprendizagem discente. O Sentido de Avaliar: Em Busca de uma Avaliação Formativa • A avaliação formativa 6 Unidade: O Sentido de Avaliar: Em Busca de uma Avaliação Formativa Contextualização Qual o sentido da avaliação no processo de ensino-aprendizagem? Como e por que o professor avalia? Quais os instrumentais mais adequados para a avaliação escolar? Ao buscarmos respostas para estas indagações nos deparamos com a trajetória de um modelo de avaliação escolar baseado em uma visão positivista do conhecimento, conduzindo a um modelo avaliativo pautado na padronização de testes e focado nos resultados apresentados pelos alunos. Contrapondo a esta visão meramente tecnicista do que seja avaliar e atendendo aos novos paradigmas educacionais, encontramos na avaliação formativa a possibilidade da realização de um modelo avaliativo que possa direcionar o processo de ensino e aprendizagem, atendendo as necessidades dos educandos e contribuindo efetivamente para sua aprendizagem. 7 Introdução Ao discutirmos o papel da avaliação no processo educativo, uma das indagações diz respeito ao sentido que a avaliação possui, ou seja, o porquê e para quê avaliar. Neste aspecto, Méndez (2002) esclarece que as respostas dadas ao sentido do ato de avaliar estão diretamente relacionadas ao sentido que damos ao ato de conhecer e aponta duas correntes filosóficas para a discussão desta questão: a visão positivista do conhecimento e o conhecimento como construção sócio-histórica. A avaliação e a visão positivista do conhecimento Na visão positivista o conhecimento é constituído basicamente pelos fatos, pelos dados empíricos, como algo externo ao sujeito. Conforme Grego (2013), a avaliação na perspectiva deste quadro teórico caracteriza-se por uma avaliação por medição, na qual se utiliza de testes para quantificar a aprendizagem do aluno, sendo os critérios avaliativos referenciados na norma ou padrão do grupo. O positivismo faz surgir também uma pedagogia por objetivos, na qual o conhecimento é compreendido com uma lista de objetivos empiricamente observáveis (MÉNDEZ, 2002). O positivismo defende a ideia de que o conhecimento científico é a única forma de conhecimento verdadeiro. Assim, desconsideram-se todas as outras formas do conhecimento humano que não possam ser comprovadas cientificamente. Tudo aquilo que não puder ser provado pela Ciência é considerado como pertencente ao domínio teológico-metafísico, caracterizado por crendices e vãs superstições. Para os positivistas o progresso da humanidade depende única e exclusivamente dos avanços científicos, único meio capaz de transformar a sociedade e o planeta Terra no paraíso que as gerações anteriores colocavam no mundo além-túmulo (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Positivismo). Fonte: T hinkstock / G etty Im ages 8 Unidade: O Sentido de Avaliar: Em Busca de uma Avaliação Formativa Esta visão também influenciou um tipo de avaliação, chamada de testes referente a critérios, a qual ainda é presente no cotidiano escolar e no quadro das politicas educacionais que determinam as práticas avaliativas em nosso sistema educacional. Com extensa discussão no campo da avaliação educacional quanto à distinção entre avaliação baseada em norma e avaliação baseada em critério, assim quanto às suas vantagens e desvantagens, a questão fundamental gira em torno da interpretação, isto é, da maneira pela qual atribuímos sentido a uma nota. Mas esse problema acha-se ligado à discussão dos diferentes objetivos da avaliação e das técnicas de construção de testes. A distinção entre os dois tipos de escores parece clara. Se interpretarmos a nota de um indivíduo através da comparação de seu escore com os de outros indivíduos (chamados grupo norma) estaremos nos baseando em norma. Se interpretarmos o desempenho de uma pessoa por intermédio da comparação de seu escore com algum critério comportamental de proficiência específico, estaremos nos baseando em critério. Para se realizar uma avaliação do rendimento escolar discente com base em critério – e não em norma – o sistema mais eficaz é o que leva em consideração os objetivos a serem alcançados. Segundo Grego (2013), o foco nos objetivos educacionais provocou mudanças no pensamento e na prática da avaliação educacional, embora a avaliação por objetivos tenha surgido com uma conotação de controle do processo de ensino e aprendizagem e embasada em uma concepção positivista do conhecimento. Fonte: T hinkstock / G etty Im ages 9 A avaliação e a pedagogia de objetivos A avaliação por objetivos surge nos Estados Unidos da década de 1950 e início da década de 1960, em oposição a um modelo de avaliação referenciada na norma do grupo. Os objetivos devem ser redigidos de forma que descrevam o comportamento esperado após a situação de aprendizagem, em níveis de desempenho. Nessa linha de pensamento, Bloom e seus colaboradores fizeram importante contribuição, baseados no propósito de aprendizagem para o domínio e de uma taxionomia que permitisse um sistema coerente de ensino e avaliação, que ganharam ampla divulgação. A tônica do autor é a distinção bem marcada entre o processo de ensino-aprendizagem, que tem a intenção de preparar o estudante, e o processo de avaliação, que tem a intenção de verificar em que extensão o estudante se desenvolveu de maneira esperada. Na concepção de Bloom, professor e aluno devem ter alguma compreensão de quais são os critérios de desenvolvimento e ambos devem ser capazes de assegurar evidência de progresso em direção a esses critérios, que sempre devem ser absolutos. Dessa maneira, os estudantes devem sentir que são avaliados em termos de níveis de desempenho, e não em termos de uma curva normal ou de outro conjunto de padrões arbitrários e relativos. Para permitir que a informação avaliativa mostre o caminho do estudante no processo ensino-aprendizagem, em 1956 Bloom e seus colaboradores criaram uma taxionomia de objetivos educacionais para o domínio de operações intelectuais. Por taxionomia, os autores definem uma classificação de comportamentos do aluno que representam resultados esperados do processo educacional. Em 1957 criaram a taxionomia de objetivos para o domínio afetivo. Em decorrência, outros pesquisadores elaboraram uma taxionomia para o domínio psicomotor. A taxonomia dos objetivoseducacionais, também popularizada como taxonomia de Bloom, é uma estrutura de organização hierárquica de objetivos educacionais. Foi resultado do trabalho de uma comissão multidisciplinar de especialistas de inúmeras universidades dos Estados Unidos, liderada por Benjamin S. Bloom, na década de 1950. A classificação proposta por Bloom dividiu as possibilidades de aprendizagem em três grandes domínios: » O cognitivo, abrangendo a aprendizagem intelectual; » O afetivo, abrangendo os aspectos de sensibilização e gradação de valores; » O psicomotor, abrangendo as habilidades de execução de tarefas que envolvem o organismo muscular. Cada um destes domínios tem diversos níveis de profundidade de aprendizado. Por isso a classificação de Bloom é denominada hierarquia: cada nível é mais complexo e mais específico que o anterior (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Taxonomia_dos_objetivos_educacionais). A seguir é apresentada uma síntese da taxionomia de objetivos educacionais por níveis de desempenho. 10 Unidade: O Sentido de Avaliar: Em Busca de uma Avaliação Formativa Domínio Cognitigo Níveis de desempenho: 1 - Conhecimento: refere-se a conhecimento de fatos específicos e conhecimento de formas e meios de tratar com os mesmos, conhecimentos universais e das abstrações específicas de um determinado campo do saber. São, de modo geral, elementos que devem ser memorizados. Compreende: » Fatos específicos; » Formas e meios de tratar os fatos específicos; » Universais e abstrações específicas de um setor do saber. 2 - Compreensão: refere-se ao aspecto mais simples do entendimento, que consiste em captar o sentido direto de uma comunicação ou de um fenômeno, como a compreensão de uma ordem falada ou escrita, ou a apreensão do que ocorreu com um acidentado atingido por um automóvel etc. Compreende: » Transferência; » Interpretação; » Extrapolação. 3 - Aplicação: é o uso de abstrações referentes ao relacionamento de princípios e generalizações a casos particulares ou realizações práticas. 4 - Análise: está relacionada à divisão de um todo em suas partes e apreensão dos seus significados em relação ao conjunto. Compreende: » Análise de elementos; » Análise de relações; » Análise de princípios de organização. 5 - Síntese: é o conhecimento relacionado com a constatação da união de elementos que formam um todo. Compreende: » Produção de uma comunicação; » Produção de um plano de operações; » Derivação de uma série de relações abstratas. 6 - Avaliação: este tipo de conhecimento refere-se à atitude crítica diante dos fatos. A avaliação pode dizer respeito a: » Juízos com relação à evidência interna; » Juízos com relação à critérios externos. Domínio Afetivo Níveis de desempenho: 1 - Recepção: o indivíduo se dispõe a prestar atenção em algo. Compreende: » Tomada de consciência: há o conhecimento de que é preciso prestar atenção em algo; » Boa disposição para receber um estímulo: há a aceitação do estímulo de bom grado; » Atenção seletiva: há a seleção de um estímulo entre outros. 11 2 - Resposta: o estímulo provoca ressonância ativa. Compreende: » Conformidade com a resposta: há acatamento ao estímulo; » Boa disposição para responder: a atividade é aceita com satisfação; » Satisfação com a resposta: há resposta ao estímulo com alta satisfação. 3 - Valorização: a conduta é interiorizada e conscientemente mantida. Compreende: » Aceitação de um valor: o indivíduo se identifica com o valor; » Preferência por um valor: reconhece o valor, sugere-o e o realiza; » Realização: há profunda aceitação de uma conduta. 4 - Organização: quando há elaboração de um sistema de valores. Compreende: » Conceituação de um valor: conhecimento e busca de argumentos lógicos para justificar a aceitação; » Organização de um sistema de valores: integração de valores em um sistema. 5 - Caracterização por um valor ou conjunto de valores: os valores interiorizados constituem verdadeira filosofia de vida. Compreende: » Disposição generalizada: disposição de atuar de modo coerente diante de um complexo de valores; » Caracterização: caracteriza a vida total do indivíduo. As pessoas constituem-se em verdadeiros modelos que transcendem a época em que vivem. Domínio Psicomotor Níveis de desempenho: 1 - Percepção: é o primeiro passo na execução de uma ação motora. É o processo de tomar conhecimento de objetos, qualidade ou relações, por meio dos sentidos. É a parte principal da cadeia situação – interpretação – ação que conduz à atividade motora proposta. 2 - Predisposição (posicionamento correto para a ação): é o ajustamento preparatório, ou prontidão para um tipo particular de ação. Esta preparação possui três aspectos: » Mental; » Físico; » Emocional. 3 Resposta orientada (execução acompanhada, com ações ainda imperfeitas): é o passo inicial no desenvolvimento da habilidade. É a ação comportamental evidente de um indivíduo sob a orientação de um instrutor. 4 - Resposta mecânica (com ações corretas): a resposta aprendida torna-se habitual. Ao alcançar esse nível, o aluno adquiriu certa confiança em um grau de habilidade na execução do ato. Este ato habitual forma parte de seu repertório de possíveis respostas aos estímulos e às demandas em que a resposta é a única apropriada. 12 Unidade: O Sentido de Avaliar: Em Busca de uma Avaliação Formativa 5 - Resposta complexa evidente (completo domínio dos movimentos com internalização de destrezas/habilidades): neste nível o indivíduo pode desempenhar um ato motor que é considerado complexo, em razão do padrão de movimentos requeridos. Ao atingir este nível um alto grau de habilidade já foi adquirido. A ação pode ser executada eficientemente e regularmente, isto é, com um gasto mínimo de tempo e energia (economia). A avaliação, seja baseada em norma ou critério, assume um caráter meramente classificatório e comparativo, no qual o teste é empregado para separar os bons dos maus alunos. Neste sentido, avaliar é meramente identificar o nível de rendimento discente sem que ocorra uma preocupação com a construção dos processos educativos. A avaliação nesta perspectiva assume uma dimensão normativa, acentuando as diferenças entre os alunos e fomentando um modelo educacional tradicional. Portanto, o modelo de avaliação que surge da visão positivista do conhecimento é a aplicação de provas objetivas, segundo os objetivos propostos. Assim, o professor deve transformar o conhecimento em perguntas que produzam respostas precisas e exatas, na qual o conhecimento torna-se algo que pode ser medido, manipulado e previsto. Na verdade, como nos mostram diferentes estudos, o uso dessa testagem racional ultrapassou os valores educativos e tornou-se um instrumento de exclusão e marginalização. A avaliação e a visão sócio-histórica do conhecimento Contrapondo as influências da visão positivista na educação temos a contribuição da corrente de pensamento da pedagogia crítica, que baseada nos concepção sócio-histórica do conhecimento, considera que o objetivo da educação é o de favorecer a construção do conhecimento, sendo o aluno um sujeito ativo no processo de aprendizagem. Desta forma, mais do que apenas esperar as respostas certas dos alunos, enquanto sinal do que foram capazes de aprender, a avaliação tem como propósito identificar de que forma o estudante aprendeu e conquistou os seus saberes. Fo nt e: T hi nk st oc k / G et ty Im ag es 13 A tarefa do professor consiste em despertar nos alunos a curiosidade por aprender e em ajudá-los a sentir, agir e internalizar as normas e critérios para julgar o que torna diferente o seu conteúdo particular de aprendizagem como um modo próprio de criar, organizar e compreender a experiência de aprendizagem.A preocupação está centrada não no que fazem os sujeitos que aprendem, mas em como adquiriram aqueles conhecimentos que lhes permitem atuar de modos diferentes em contextos novos não conhecidos (MÉNDEZ, 2002, p. 33). A visão sócio-histórica do conhecimento está fundamentada na construção de uma nova relação entre os sujeitos envolvidos no processo educativo, na qual a interação passa a ser o elemento-chave entre o sujeito e o conhecimento. Ao contrário da visão tradicional de ensino, o professor não é mais considerado como o detentor absoluto do saber e se coloca na condição de mediador da interação entre o aluno e o saber socialmente construído, devendo criar as condições necessárias para que a aprendizagem aconteça. Neste sentido, temos ainda uma mudança na própria concepção do ensino, não mais entendido como mera transmissão de conteúdos e sim como um processo de elaboração de situações didático-pedagógicas que facilitem a aprendizagem, isto é, que favoreçam a construção de relações significativas entre componentes de um universo simbólico (MORETO, 2008, p. 103). Os pressupostos da teoria construtivista revelam que um bom ensino acontece quando ocorre uma aprendizagem adequada e que ambos podem contribuir para uma satisfatória avaliação, a qual deve estar a serviço da aprendizagem e do sujeito que aprende. O professor precisa estar atento para romper com os modelos tradicionais de avaliação e inovar no sentido de buscar novas formas e instrumentais de avaliar. Fonte: T hinkstock / G etty Im ages 14 Unidade: O Sentido de Avaliar: Em Busca de uma Avaliação Formativa Segundo Méndez (2002, p. 15): [...] avaliação é uma excelente oportunidade para que quem aprende ponha em prática seus conhecimentos e sinta a necessidade de defender suas ideias, suas razões e seus saberes. Também deve ser um momento, no qual além das aquisições, aflorem dúvidas, inseguranças, o desconhecimento, se realmente há a intenção de superá-los. A discussão da avaliação em uma perspectiva construtivista considera fundamental a ideia de que se avalia para conhecer, o que implica em dar a avaliação um caráter essencialmente formativo. Segundo Méndez (2002), quando avaliamos para conhecer estamos preocupados com o processo formativo dos sujeitos que participam do processo avaliativo, tanto dos que aprendem como dos que ensinam, fazendo com que a avaliação seja dialeticamente considerada de forma contínua. Nesta perspectiva o professor ao avaliar uma prova, um trabalho ou outra produção do aluno tem a preocupação de conhecer o processo de construção do saber discente, as suas estratégias de raciocínio e de argumentação, inclusive identificando as causas e os motivos que o levaram aos possíveis erros. Cabe ressaltar que neste modelo de avaliação é importante que o professor considere não somente os resultados, mas que esteja atento a todos os processos que o aluno vivenciou no decorrer de sua aprendizagem. O autor afirma que no momento em que se expressa os erros, confusões, acertos, incertezas, sem o temor de “pontos e notas”, caminha-se ao avanço junto ao conhecimento, na apropriação, na formação do próprio pensamento que se está formando. Portanto, a avaliação deve ser processual, contínua, integrada ao currículo e à aprendizagem. Logo, não pode ser uma etapa do ensino, mas sim, deve permear todo o processo de ensino e aprendizagem. O erro e as dúvidas são um excelente material de análise para o educador, pois revela como o educando está pensando, possibilitando ajudá-lo a reorientar a construção do conhecimento. É oportunidade privilegiada de interação entre o educando e o professor, ou entre os próprios educandos, de modo a superar suas hipóteses, em direção a outras mais complexas e abrangentes (Vasconcellos). Cabe então ao professor desviar o foco da atenção do controle do transmitido para o processo de aprendizagem do aluno. A avaliação, assim, é baseada na confiança, na possibilidade de os educandos construírem suas próprias verdades, além de sentirem que suas manifestações e seus interesses são considerados. Diante disso, o papel do professor deve ser o de investigar, observar, refletir, avaliar, para que possa favorecer e ampliar o processo de aprendizagem discente. 15 Pensar em uma proposta avaliativa da aprendizagem, em seu sentido amplo, é o mesmo que deixar de lado a visão estática e classificatória para resgatar uma perspectiva formativa, na qual pode ser observado o desenvolvimento contínuo do aluno, por meio da aquisição e da construção de competências e de habilidades, que, certamente, serão úteis em situações novas. Vale a pena refletirmos sobre alguns pontos essenciais que são a base do processo de avaliação: Em síntese O que é avaliar? Por que avaliar? Avaliar para que? Avaliar como? Para que serve a avaliação? Quem se beneficia com as práticas da avaliação? Quem utiliza os resultados da avaliação? O ato de avaliar apresenta importantes momentos durante o processo de aprendizagem. Avaliar para que? É importante ressaltar a relevância da avaliação diagnóstica, ou seja, aquela que ocorre na fase anterior à aprendizagem, para conhecer e identificar os conhecimentos e valores, atitudes prévias dos nossos alunos. Neste primeiro momento, o professor questiona: Quem é o meu aluno? Quais são os seus desejos? O que valorizam e sabem? Enfim, faz-se uma sondagem. Ao longo do processo de ensino e aprendizagem, o professor deve observar o grau de avanço dos alunos em relação aos objetivos, para que possa intervir. O que avaliamos? Qual uso fazem os professores da avaliação? Para que lhes servem? No momento inicial são avaliados os valores, os esquemas de conhecimento, bem como atitudes prévias pertinentes para a nova situação de aprendizagem. Durante o processo são avaliados os progressos, bloqueios, erros e acertos, impasses presentes durante o processo de aprendizagem. Finalmente, avalia-se o que foi alcançado a partir dos objetivos e conteúdos propostos. Quando avaliamos? Avalia-se, primeiramente, no início de cada nova fase de aprendizagem, durante todo o processo de aprendizagem e finalmente no final de cada fase de aprendizagem. Na verdade, a avaliação é contínua, durante todo processo. Segundo Perrenoud (2001), avalia-se o aluno dentro de uma perspectiva pragmática, por meio de balanços periódicos para que sejam confirmadas suas aquisições. É considerado tudo que o estudante apresenta: suas aquisições, maneira de aprender e de raciocinar, suas relações com o saber, suas angústias, o que o impulsiona a querer aprender, seus interesses, seus projetos, bem como sua autoimagem no processo de aprender. Como avaliamos? A avaliação deve ocorrer sempre a partir de situações problematizadoras. Na verdade, durante todo o tempo o aluno será observado e a partir do resultado dessas observações é que serão aplicadas as intervenções. Perrenoud (2001) aponta que o professor deve trabalhar a partir dos erros e dos obstáculos à aprendizagem, colocando os alunos diante de obstáculos cognitivos. Deste modo, os alunos colocam a mente em movimento, por meio de hipóteses, erros e acertos, em um trabalho em grupo, haverá um choque de representações, obrigando cada aluno a esclarecer o seu pensamento e a considerar o do outro. 16 Unidade: O Sentido de Avaliar: Em Busca de uma Avaliação Formativa A avaliação formativa Embora a avaliação formativa no Brasil tenha surgido adotando como base teórica o modelo de avaliação proposto por Bloom e seus colaboradores, atualmente é considerada como um importante parâmetro a ser seguido e conquistado na ação pedagógica (GRECO, 2013). Atenção! É o conhecimento do que cada aluno aprende ao longo do processo de ensino- aprendizagem e a adaptação às novas necessidades que se colocam, que pode ser designado como avaliação formativa. Sabemosque nos dias atuais a maioria das avaliações utilizadas nas escolas não atende à necessidade dos alunos. Isto ocorre pelo fato de a prática avaliativa se espelhar em um modelo tecnicista, que visa uma educação que prioriza produtos e resultados e não um processo dinâmico e criativo, que implica em uma reflexão crítica sobre a prática, no sentido de captar os avanços, os impasses, as resistências, e possibilitar uma tomada de decisão sobre o que fazer para superar os obstáculos. Para Luckesi (2002, p. 94) “[...] a avaliação manifesta-se como um ato dinâmico que qualifica e subsidia o reencaminhamento da ação, possibilitando consequências no sentido da construção dos resultados que se deseja”. Dessa forma, deve-se refletir sobre a diversidade do aluno que é avaliado e o impacto dessa diversidade no seu desempenho. Portanto, devem ser utilizadas formas que levem em conta a individualidade do aluno. Conforme Hadji (2001), a avaliação formativa pode ser considerada como uma avaliação informativa, por indicar os caminhos para que a avaliação possa estar verdadeiramente a favor das relações pedagógicas. Para Perrenoud (apud HADJI, 2001, p. 20) “[...] é formativa toda a avaliação que auxilia o aluno a aprender e a se desenvolver, ou seja, que colabora para a regulação das aprendizagens e do desenvolvimento no sentido de um projeto educativo”. Com base nos princípios da avaliação formativa, vemos que avaliar não é o mesmo que medir, nem qualificar, ou sequer corrigir. Avaliar tampouco é classificar, examinar, aplicar testes. Pelo contrário, a avaliação entendida como formativa, deve ser uma atividade crítica de aprendizagem, visto que favorece o conhecimento adquirido tanto pelo aluno, quanto pelo professor. É importante lembrar que na avaliação formativa temos que levar em conta as consequências sofridas pelo sujeito do qual se originam as práticas avaliativas, dessa forma devemos lembrar que a avaliação está permeada por aspectos éticos relevantes, que vão além dos aspectos teóricos, pois a escola fala “de”, “com” e “para” sujeitos concretos. 17 Assim, o educador precisa estar atento aos processos cognitivos (raciocínio discente) sócio- afetivos (sensibilidade, emoção, comunicação) e metacognitivos (monitoração da aprendizagem), para que, dessa forma, possa diagnosticar os erros e dificuldades encontradas, não simplesmente para constatar, mas, sobretudo, para refletir sobre o melhor caminho de ajuda e regulação do ensino. Enfim, o educador deve oferecer ao educando suporte cognitivo, metacognitivo, afetivo e social. É relevante que o trabalho com jovens e adultos favoreça a construção da autonomia, estimulando-os a autoavaliação de seus progressos e de suas carências, para que tomem consciência sobre como ocorre a aprendizagem. Quando o professor trabalha levando seu aluno a refletir sobre o seu próprio processo de aprendizagem, podem ser notados pontos importantes durante este percurso: 9 Desenvolvimento de responsabilidade pelo trabalho; 9 Formação de alunos independentes e permanentes, pois os processos os incentiva a tomar decisões; 9 Domínio do processo de trabalho, uma vez que os alunos gerenciam seu próprio progresso; 9 Desenvolvimento do espírito crítico, da metacognição, ou seja, o aluno passa a conscientizar- se das operações mentais, de refletir sobre seu próprio pensamento, passando a controlá- lo melhor. A partir do momento em que o educador toma consciência da problemática mais ampla da avaliação em seus aspectos conceituais, das funções reveladoras de posturas diante do conhecimento e do mundo, deixa de ser o transmissor do saber e o aluno um simples receptor. Parece claro que somente uma consistente formação docente pode levar o professor a assumir um papel reflexivo e crítico perante o ato de avaliar. 18 Unidade: O Sentido de Avaliar: Em Busca de uma Avaliação Formativa Material Complementar • Avaliação Formativa: Concepção, Práticas e Dificuldades http://revista.fct.unesp.br/index.php/Nuances/article/viewFile/181/251 • Avaliação Formativa http://revistaeducacao.uol.com.br/textos/145/artigo233342-1.asp • Vídeo sobre Avaliação Formativa e Somativa http://univesptv.cmais.com.br/pedagogia-unesp/d-29-avaliacao-educacional-e-escolar/ avaliacao-da-aprendizagem-formativa-ou-somativa • Avaliação Formativa: Ensaio de uma Arqueologia http://www.fcc.org.br/pesquisa/publicacoes/eae/arquivos/1048/1048.pdf • Os Múlitplos Sentidos e Caminhos da Avaliação Educacional http://www.acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/65805/1/u1_d29_v3_t01.pdf • As Orientações Teóricas - Metodológicas da Avaliação da Aprendizagem: Significados e Implicações para Prática Educativa. http://www.acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/65806/1/u1_d29_v3_t02.pdf 19 Referências BRASIL. 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São Paulo: Cortez, 1990. LUCKESI, C. C. Avaliação da aprendizagem escolar. São Paulo: Cortez, 2002. ______. Avaliação da aprendizagem na escola: reelaborando conceitos e recriando a prática. Salvador, BA: Malabares, 1998. MÉNDEZ, J. M. A. Avaliar para conhecer: examinar para excluir. Porto Alegre, RS: Artmed, 2002. MORETO, V. P. Prova: um momento privilegiado de estudo, não um acerto de contas. 8. ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2008. NÓVOA, A. Avaliações em educação: novas perspectivas. Porto, Portugal: Porto, 1999. PERRENOUD, P. Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens – entre duas lógicas. Porto Alegre, RS: Artmed, 2001. 20 Unidade: O Sentido de Avaliar: Em Busca de uma Avaliação Formativa Anotações www.cruzeirodosulvirtual.com.br Campus Liberdade Rua Galvão Bueno, 868 CEP 01506-000 São Paulo SP Brasil Tel: (55 11) 3385-3000
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