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64437483-APOSTILA-esalq-conservacao-do-solo

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1 
Índice 
Página 
1 Introdução ..................................................................................................... 2 
2 Indicadores da qualidade do solo ............................................................... 3 
3 Degradação de solos.................................................................................... 4 
3.1 Conceitos básicos ..............................................................................................5 
3.2 Impacto da degradação do solo .........................................................................8 
3.3 Interdependência Solo-Vegetação .....................................................................9 
4 Degradação do solo pela erosão acelerada ............................................. 11 
4.1 Mecânica da erosão pela água .........................................................................11 
4.2 Tipos de erosão do solo ...................................................................................14 
4.3 Deposição do material erodido........................................................................15 
4.4 Tipos de danos provocados pela erosão do solo..............................................15 
5 Recuperação de solos................................................................................ 18 
5.1 Conceitos básicos ............................................................................................19 
5.2 Bases para melhorar sistemas de cultivo tradicionais .....................................23 
6 Prevenção e recuperação da degradação química de solos .................. 26 
6.1 Prevenção da degradação química de solos.....................................................26 
6.2 Princípios de recuperação da degradação química de solos ............................27 
7 Sistemas de controle da erosão do solo .................................................. 29 
7.1 Coberturas vegetativas.....................................................................................29 
7.2 Controle por drenagem superficial ..................................................................35 
7.3 Recuperação de solos degradados por voçorocas............................................36 
8 Reflorestamento.......................................................................................... 38 
9 Erosão do solo e a agricultura................................................................... 39 
9.1 Alterações no solo provocadas pela erosão .....................................................39 
9.2 Relação entre a erosão do solo e a produtividade das culturas........................42 
9.3 Conclusões.......................................................................................................47 
9.4 Bibliografia......................................................................................................48 
 
2 
1 Introdução 
O solo é fundamental para a sustentabilidade e produtividade de ecossistemas 
naturais e agrícolas. A qualidade do solo é um conceito desenvolvido para caracterizar 
o uso e a saúde do solo. Uma definição geral da qualidade do solo é a aptidão que um 
solo tem para um uso específico. 
Recentemente a preocupação da comunidade científica e agrária tem sido 
focalizada na sustentabilidade do uso do solo, baseados no fato de que a qualidade do 
solo pode estar declinando. Utiliza-se o conceito sustentável para dizer que um uso ou 
o manejo do solo pode manter a qualidade de vida do homem ao longo do tempo. O 
recurso terra (do qual o solo é um dos seus componentes) é finito, frágil e não 
renovável. Somente 22% (3,26 bilhões de ha) do total das terras do planeta são 
viáveis para cultivo e atualmente somente 3% (450 milhões de ha) apresentam uma 
alta capacidade de produção agrícola. Existe atualmente uma preocupação global 
devido ao fato que o solo é finito e que alguns dos seus componentes não podem ser 
renovados a curto prazo, principalmente quando se observam as condições nos quais 
se encontram os solos agrícolas e o meio ambiente. Estas preocupações incluem a 
perda de solo pela erosão, manutenção da produtividade agrícola e sustentabilidade 
do sistema, proteção de áreas naturais, e o efeito adverso da contaminação de solos 
sobre a saúde humana. Desta forma os objetivos da determinação da qualidade do 
solo procuram proteger o correto funcionamento dos ecossistemas. 
Para uma correta avaliação da qualidade do solo deve-se chegar a um acordo 
de porque a qualidade do solo é importante, como é definido, como deve ser medido, 
e como responder as medidas com práticas de manejo, recuperação e conservação. 
Devido ao fato de que a determinação da qualidade do solo requere um análise de 
vários fatores que intervem no sistema e porque ainda tem-se muito a aprender do 
solo, estes temas ainda não são facilmente abordados. 
Definições da qualidade do solo tem sido baseados no uso do solo pelo homem 
e nas funções do solo dentro de ecossistemas naturais e agrícolas. Para muitos 
produtores e pesquisadores, produtividade é análoga a qualidade do solo. Mas, a 
manutenção da qualidade do solo é importante também para saúde do homem, já que, 
o ar, a água superficial e sub-superficial consumida pelo homem podem ser 
adversamente afetados pelo mal manejo e contaminação dos solos. Contaminação 
pode incluir metais pesados, elementos tóxicos, excesso de nutrientes, elementos 
orgânicos voláteis e não voláteis, explosivos, isótopos radioativos e fibras inaláveis. 
3 
A qualidade do solo não é determinada por um único processo ou propriedade 
de conservação ou de recuperação, pelo fato que o solo tem propriedades dinâmicas e 
estáticas que variam espacialmente e no tempo. Cada vez mais, discussões atuais 
sobre a qualidade do solo incluem o custo ambiental de produção e o potencial de 
recuperação de solos degradados. 
Os objetivos de avaliar a qualidade do solo em sistemas agrícolas podem ser 
diferentes que a avaliação da qualidade do solo em sistemas naturais. No contexto 
agrícola, a qualidade do solo pode era “manejada”, para maximizar a produção sem 
efeitos adversos sobre o ambiente, enquanto que em ecossistemas naturais, a 
qualidade do solo pode ser “observada”, como sendo um grupo de valores nos quais 
mudanças futuras no sistema podem ser comparadas. 
Visando a manutenção, conservação e recuperação da qualidade do solo, o 
objetivo desta apostila e fazer uma análise dos principais fatores e processos que 
levam à degradação de solos e como estes efeitos deletérios sobre a diminuição da 
qualidade do solo podem ser revertidos. 
2 Indicadores da qualidade do solo 
Para proceder a uma definição para a medição da qualidade do solo, um 
conjunto mínimo de características do solo que representam a qualidade do solo deve 
ser selecionado e quantificado. Muitas propriedades físicas, químicas e biológicas tem 
sido sugeridas para separar solos com qualidades diferentes (Tabela 1). Estes incluem 
propriedades desejáveis e indesejáveis. Características desejáveis podem ser a 
presença de propriedades que beneficiam a produtividade agrícola e o tamponamento 
ambiental e/ou outras importantes funções do solo, ou a ausência de uma propriedade 
que é prejudicial para estas funções. Por exemplo, a ausência de contaminantes é 
uma característica importante da qualidade do solo. Na seleção das características, é 
necessário reconhecer que algumas propriedades do solo são estáticas, no sentido 
que sofrem mudanças muito lentas no tempo, e que outras são dinâmicas. Além disto, 
a variabilidade espacial e temporal das propriedades do solo deve ser considerada 
quando selecionando propriedades para avaliar a qualidade do solo. 
4 
Tabela 1: Indicadores físicos, químicos e biológicos da qualidade do solo. 
Indicadoresda qualidade do solo 
Físicos Químicos Biológicos 
Aereação Porcentagem de saturação por 
bases (V%) 
Carbono orgânico 
Estabilidade estrutural Capacidade de troca catiônica 
(CTC) 
Densidade do solo Disponibilidade de contaminantes 
Mineralogia de argila Concentração de contaminantes 
Cor Mobilidade de contaminantes 
Consistência Presença de contaminanates 
Biomassa microbiana 
C e N 
Biomassa total 
Bacteriana 
Fungos 
Profundidade de desenvolvimento 
do sistema radicular 
Condutividade elétrica Potencial de N minerazável 
Condutividade hidráulica Porcentagem de saturação por 
sódio 
Respiração do solo 
Taxa de difusão de oxigênio Taxas de ciclagem de nutrientes 
Granulometria pH 
Resistência a penetração Disponibilidade de nutrientes para 
as plantas 
Conectividade de poros Teor de nutrientes para as plantas
Enzimas 
Dehidrogenase 
Fosfatase 
Arlisulfatase 
Distribuição do tamanho de poros Relação de adsorção de sódio 
(RAS) 
Biomassa C/carbono orgânico 
total 
Friabilidade Respiração/biomassa 
Estrutura e agregação Identificação da comunidade 
microbiana 
Temperatura Utilização de substrato 
Porosidade total Analise de ácidos graxos 
Capacidade de retenção de água Análise de ácidos nucleicos 
 
 
3 Degradação de solos 
A degradação do solo é um dos maiores desafios da humanidade. Apesar do 
problema ser tão velho como a agricultura, a sua extensão e impacto na qualidade de 
vida do homem e meio ambiente são hoje em dia maiores que nunca. É uma 
preocupação importante por duas razões. Primeiro, a degradação de solos afeta a 
capacidade produtiva de um ecossistema. Segundo, afeta o clima do planeta através 
de alterações no equilíbrio da água e da energia e modificações nos ciclos de carbono, 
nitrogênio, enxofre e outros elementos. Através do impacto na produtividade agrícola e 
no meio ambiente, a degradação do solo provoca instabilidade política e social, 
aumenta a taxa de desmatamento, intensifica o uso de terras marginais e frágeis, 
acelera a enxurrada e a erosão do solo, aumenta a poluição de cursos de água, e a 
emissão de gases que provocam o efeito estufa. 
Degradação do solo é definida como o declínio da qualidade do solo através do 
uso incorreto pelo homem. É um termo amplo e vago, no entanto se refere ao declínio 
da produtividade através de mudanças adversas no status dos nutrientes, atributos 
estruturais, e concentração de eletrólitos e elementos tóxicos. Em outras palavras, se 
refere à diminuição da capacidade atual ou potencial do solo para produzir bens ou 
3.1 Conceitos básicos 
A degradação de solos implica na diminuição da sua capacidade produtiva 
através do uso intensivo e indiscriminado que leva a mudanças adversas nas 
propriedades do solo. Os processos que provocam a degradação de solos podem ser 
físicos, químicos, ou biológicos (Figura 1). Importante entre estes fatores está o 
declínio da estrutura do solo, compactação, redução da capacidade de infiltração, 
depleção de matéria orgânica e redução da biomassa de carbono, desequilíbrio de 
sais, e o aumento de patógenos do solo. A taxa de degradação do solo por diferentes 
processos esta acentuada pela má utilização da terra e por métodos de manejo 
inviáveis do solo e das culturas. 
 
Degradação Física: se refere à deterioração das propriedades físicas do solo. Dentro 
deste processo estão incluídos: 
serviços quantitativos ou qualitativos como resultado de um ou mais processos 
degradativos. 
b) Erosão do solo e sedimentação: erosão por água ou vento das camadas 
superficiais do solo no mundo inteiro excede a formação do solo em taxas 
alarmantes. A desertificação, ou seja a expansão de condições desérticas, é 
uma conseqüência direta da erosão pelo vento e salinização. O material 
transportado pela erosão normalmente contém de duas a cinco vezes mais 
matéria orgânica e frações coloidais que o solo original, causando severos 
efeitos intrínsecos e extrínsecos. 
a) Compactação e “Hardsetting”: o adensamento do solo é causado pela 
eliminação da porosidade estrutural. Aumento na densidade do solo pode ser 
causado por fatores naturais ou antrópicos. “Hardsetting” é um problema em 
solos com argilas de atividade baixa e solos que contêm baixos teores de 
matéria orgânica. Solos susceptíveis a compactação e “hardsetting” são 
susceptíveis a erosão e enxurradas aceleradas. 
 5
6 
- Encrostamen
- Compactação
- Molhamento
- Seca
- Erosão em su
ande incremento de
atoides parasítos
to
lcos e entre sulcos
- Compactação
- Hardsetting
- Enxurrada excessiva
- Erosão
- Temperatura supra/sub optimal
- Anaerobiose
- Seca
- Lixiviação
- Perda de cátions
- Eutrofização
- Depleção da fertilidade do solo
- Redução de pH
- Aumento de Al
- Diminuição da saturação por bases
- Salinização
- Alcalinização
- Toxicidade
- Deficiência dos elementos essenciais
- Laterização
- Emissão de gases de efeito
 estufa
- Diminuição na biomassa
 de carbono
- Redução na fauna de solo
 favorável
- Adensamento
- Gr
 nem
Declínio na estrutura do solo Adensamento Regime hipo-termal adverso
Processos físicos
Lixiviação Acidificação Desequilíbrio de elementos
Processos químicos
Depleção de matéria orgânica Redução na fauna do solo Incremento de patógenos do solo
Processos biologicos
Mudanças adversas nas propriedades do solo devido a
Figura 1: Processos de degradação de solos 
7 
c) Laterização: laterita é uma camada dura de ferro e alumínio endurecida. 
Laterização se refere à dessecação e endurecimento de material plíntico 
quando exposto e dessecado. 
 
Degradação biológica: redução do conteúdo de matéria orgânica, declínio da 
biomassa de carbono, e a diminuição da atividade e diversidade da fauna do solo são 
conseqüências da degradação biológica dos solos. Devido às temperaturas elevadas 
do solo e do ar, a degradação biológica é mais severa nos trópicos que nas zonas 
temperadas. A degradação biológica pode ser causada também pelo uso 
indiscriminado de agroquímicos e poluentes do solo. 
 
Degradação química: a depleção de nutrientes é a maior causa da degradação 
química. Além disto, a excessiva lixiviação de cátions em solos com argilas de 
atividade baixa causa a diminuição do pH do solo e a redução da saturação por bases. 
A degradação química também é causada pelo aumento de alguns elementos tóxicos 
e desequilíbrio dos elementos, que prejudicam o crescimento das plantas. 
 
Existem vários fatores que iniciam vários dos processos de degradação. Estes 
fatores podem ser naturais ou antropogênicos (Figura 2). Fatores naturais incluem o 
clima, a vegetação, material de origem, relevo e hidrologia. Entre os fatores 
antropogênicos importantes encontramos a população, o uso da terra, e o 
desenvolvimento de estradas, canais, e o complexo industrial. 
 
- Chuva
- Evapotranspiração
- Regime de
 temperatura
- Padrões de
 drenagem
- Fluxo superficial
- Profundidade ao
 lençol freático
- Natureza do
 aquífero
- Declividade
- Comprimento de
 rampa
- Densidade de
 drenagem
- Composição
 química da rocha
- Propriedades
 físicas
- Composição de
 espécies
- Densidade de
 arvores
- Vegetação climax
- Densidade
- Estilo de vida
- Arável
- Culturas perenes
- Pastagens
- Urbanização
- Manejo do solo
- Caminhos e
 cursos de água
- Complexos
 industriais
- Lixo industrial
- Lixo urbano
- Resíduos agrícolas
Clima Hidrologia Terreno Material
de origem
Vegetação
Naturais
População Uso da terra Logística Disposição
de lixo
Antropogênicos
Fatores de degradação de solos
Figura 2: Fatores responsáveis pela degradação de solos 
 
A falta de terra e a pressão demográfica são forças responsáveispela 
utilização de áreas marginais para o cultivo, provocando problemas de degradação 
severa do solo e do meio ambiente. Pequenos agricultores e trabalhadores sem terra 
8 
são obrigados a cultivar terras que são muito declivosas, com solos rasos ou muitos 
secos para o cultivo, utilizando métodos que são ecologicamente inviáveis. Alguns 
solos pobres e intensamente intemperizados estão sendo cultivados sem período de 
descanso requerido para a recuperação da fertilidade do solo e o melhoramento da 
estrutura do solo. Consequentemente, instala-se a degradação do solo resultando na 
ocorrência de erosão laminar e em voçorocas e a infestação de ervas daninhas e 
pragas. 
Os efeitos destes fatores podem ser acentuados por várias causas naturais e 
antropogênicas (Figura 3). As principais causas da degradação do solo são o 
desmatamento, métodos de manejo, sistemas de cultivo, uso de agroquímicos, etc. 
Fatores sociais e políticos também têm um papel importante. 
- Métodos de cultivo
- Rotações
- Agroquímicos
- Práticas de controle de
 erosão
- Medidas de controle de
 pragas
- Tenencia da terra
- Direitos de propriedade
- Legislação
- Profundidade do solo
- Minerais de argila
- Textura
Natural
Sistemas
de cultivo
Sócio-político
Antropogênico
Causas da degradação de solos
Figura 3: Causas da degradação do solo 
 
 
3.2 Impacto da degradação do solo 
Um impacto econômico importante da degradação do solo é sobre a 
produtividade agrícola. O solo supre nutrientes essenciais e água, e a degradação da 
capacidade e intensidade de suprimento de água e nutrientes afetam o crescimento 
das plantas. No entanto, as conseqüências ambientais da degradação do solo não tem 
tido a devida importância que merecem pela sociedade. Apesar do reconhecimento 
por alguns cientistas das conseqüências sobre o aquecimento global pela queima de 
combustíveis fosseis, as emissões de CO2 e outros gases que provocam o efeito 
estufa através da degradação do solo, tem sido longamente ignorado. Gases 
radiativamente ativos relacionados com o efeito estufa são CO2, CH4, CO, N20 e NO. 
A matéria orgânica do solo é um reservatório ativo no ciclo global do carbono. 
No entanto, existe pouca informação do seu tamanho e a taxa de ciclagem relacionado 
9 
com a intensificação de alguns sistemas de cultivo. Uma resposta imediata ao 
desmatamento, cultivo intenso e pastoreio, especialmente nos trópicos, é a rápida 
mineralização da matéria orgânica do solo. Deterioração estrutural e erosão acelerada 
que seguem resultam no transporte de carbono e nutrientes para fora do ecossistema. 
Quando estes nutrientes chegam aos cursos de água, eles causam poluição e 
eutrofização. Carbono relacionado com os sedimentos é rapidamente liberado para a 
atmosfera como CO2. 
3.3 Interdependência Solo-Vegetação 
Terras degradadas podem sofrer destruição das coberturas vegetativas 
naturais, redução de produtividades agrícolas, diminuição na produção de animais, e 
simplificação de ecossistemas naturais com ou sem o acompanhamento da 
degradação do recurso solo. Em 2 bilhões dos 5 bilhões de ha de terras degradadas 
no mundo, a degradação do solo é um componente maior do problema (Figura 4). Em 
alguns casos a degradação de solos acontece principalmente devido à deterioração de 
propriedades físicas pela compactação ou pelo encrostamento superficial, ou pela 
deterioração das propriedades químicas pela acidificação ou acumulação de sal. Mas, 
a maior parte (85%) da degradação do solo ocorre pela erosão - a ação destrutiva da 
água e do vento. 
Os dois componentes principais da degradação das terras, o dano à flora e a 
deterioração do solo, não são interdependentes. Mas por outro lado, eles interagem 
causando uma espiral descendente de deterioração acelerada (Figura 5). Devido ao 
pastoreio excessivo, desmatamento, ou práticas agrícolas inadequadas, a vegetação 
se torna menos densa e vigorosa e fornece ao solo uma menor proteção contra a 
erosão. Ao mesmo tempo, o solo é degradado por processos como a erosão e o 
esgotamento de nutrientes, e torna-se menos apto para manter uma cobertura vegetal 
protetora. A degradação do solo enfraquece a vegetação pelos efeitos sobre a 
enxurrada e a infiltração da água da chuva. Com uma perda de até 50 a 60% da chuva 
na forma de enxurrada, a escassez de água em solos erodidos pode provocar um 
sério impedimento para o crescimento das plantas. Melhorias no manejo do solo e da 
vegetação devem andar juntos para preservar o potencial produtivo da terra, ou 
inclusive ser restaurado se quisermos subir em lugar de descer na espiral. 
10 
 
Figura 4: Degradação do solo como parte da degradação de terras global provocadas 
pelo sobrepastoreio, desmatamento, práticas agrícolas incorretas, sobre-explotação de 
madeiras para combustível, e outras atividades humanas 
 
11 
Figura 5: Espiral descendente da degradação de terras resultado da retroalimentação 
entre a degradação da vegetação e do solo. 
 
 
4 Degradação do solo pela erosão acelerada 
4.1 Mecânica da erosão pela água 
A erosão pela água é fundamentalmente um processo de três etapas (Figura 
6): 
1. Desprendimento das partículas da massa do solo 
2. Transporte das partículas separadas morro abaixo por flutuação, rolamento e 
salpicamento. 
3. Deposição das partículas transportadas em algum local mais baixo do 
relevo. 
12 
Em superfícies planas, o impacto das gotas de água causa a maior parte do 
desprendimento das partículas. Onde a água encontra-se concentrada em sulcos, a 
ação cortante do fluxo turbulento da água separa as partículas do solo. 
Figura 6: O processo de três etapas da erosão do solo pela água. (a) Gota de água 
acelerando em direção ao solo, (b) Salpicamento resultante do impacto da 
gota contra um solo descoberto e úmido, e (c) A gota de água afeta o 
desprendimento de partículas de solo, que são transportadas e 
eventualmente depositadas em locais a jusante. 
 
4.1.1 Influência das gotas da chuva 
Uma gota de chuva acelera até atingir a sua velocidade terminal – a velocidade 
na qual a fricção entre a gota e o ar equilibra a força de gravidade. Gotas maiores 
caem mais rápido, alcançando uma velocidade terminal de aproximadamente 30km/h, 
ou 2 ou 3 vezes mais rápido do que uma pessoa pode correr. Quando as gotas de 
chuva colidem contra o solo com uma força explosiva, elas transferem a sua energia 
cinética às partículas do solo (Figura 6). 
O impacto das gotas de chuva provoca três efeitos importantes: (1) desprende 
as partículas do solo; (2) destrui a granulação; e (3) o salpicamento, em algumas 
condições, causa um transporte importante de solo. Tão grande é a força exercida 
pelo impacto das gotas de chuva que eles não só soltam os agregados dos solos, mas 
também podem quebrar os agregados. À medida que o material dispersado seca 
desenvolve-se uma crosta dura, que provocará o impedimento da emergência das 
13 
plântulas e favorecerá a formação de enxurrada a partir de precipitações 
subsequentes. 
 
4.1.2 Transporte do solo 
Efeitos do salpicamento. Quando as gotas de chuva colidem com uma 
superfície úmida de solo, elas separam as partículas e as enviam voando em todas as 
direções (Figura). Num solo solto que apresenta maior facilidade para a separação das 
partículas, uma chuva forte pode salpicar até 225Mg/ha de solo, algumas das 
partículas salpicando até uma altura de 0,70m e uma distância de 2m na horizontal. Se 
o terreno é ondulado ou se o vento esta soprando o salpicamento pode ser maior 
numa direção, levando a um movimento neto de solo considerável. 
Papel da água em movimento. A enxurrada é um dos fatores principais no 
processo detransporte de partículas do solo. Se a chuva excede a capacidade de 
infiltração do solo, a água começa a acumular em superfície e a se movimentar morro 
abaixo. As partículas de solo desprendidas pelo impacto da gota de chuva vão cair 
dentro da água fluindo na superfície, que as carregará morro abaixo. Enquanto a água 
flui como uma lâmina fina (fluxo laminar), ela tem pouca força para separar o solo. Não 
obstante, na maioria dos casos a água é rapidamente canalizada pelas irregularidades 
do terreno e aumenta tanto em velocidade como em turbulência. O fluxo em sulcos 
não só carrega partículas de solo salpicadas pelas gotas da chuva, mas começa a 
separar partículas a medida que corta dentro da massa do solo. Isto é um processo 
contínuo, já que a medida que o sulco se aprofunda, ele é preenchido por volumes 
maiores de água. Tão familiar é a força da enxurrada de cortar e carregar solo que o 
público atribui a este processo toda a culpa dos danos provocados por uma chuva 
forte. 
14 
 
4.2 Tipos de erosão do solo 
Três tipos de erosão do solo são geralmente reconhecidos: (1) laminar, (2) 
sulcos, e (3) voçorocas (Figura 7). Na erosão laminar o solo é removido mais ou 
menos uniformemente, com exceção de pequenas colunas que podem ficar se o solo 
é pedregoso. Não obstante, a medida que o fluxo laminar se concentra em pequenos 
Figura 7: Os três principais tipos de erosão do solo. 
 
canais a erosão em sulcos se torna dominante. Sulcos são dominantes em terrenos 
nus recentemente plantados ou em pousio. Sulcos são canais de pequeno tamanho 
que podem ser fechados pelas práticas culturais normais, mas o dano já está feito – o 
15 
solo esta perdido. Quando a erosão laminar ocorre no espaço entre os sulcos chama-
se erosão entressulcos. 
Onde o volume de enxurrada é mais concentrado, o fluxo de água corta mais 
profundamente dentro do solo, aprofundando e coalescendo os sulcos em canais 
maiores chamados de voçorocas. Voçorocas em terrenos cultivados são obstáculos 
para tratores e não podem ser removidos por práticas normais de cultivo. Os três tipos 
de erosão são importantes, mas a erosão laminar e em sulcos, apesar de menos 
aparente que as voçorocas, são responsáveis pela maior parte do solo movimentado. 
4.3 Deposição do material erodido 
A erosão pode transportar as partículas de solo a vários quilômetros de 
distância do local de origem, das montanhas para os vales, e pelos rios para o mar. 
Por outro lado, o solo erodido pode se deslocar um ou dois metros e se depositar 
numa pequena depressão do terreno ou no sopé de uma encosta. A quantidade de 
material erodido que entra num curso de água (rio, córrego, etc.) dividida pela 
quantidade total de solo erodido é chamada de taxa de fornecimento de sedimento. 
Em algumas bacias hidrográficas onde as pendentes são pronunciadas, quantidades 
de até 60% de solo erodido podem chegar a um córrego. Em contrapartida, menos de 
1% do material erodido chegam aos cursos de água em bacias que apresentam 
relevos planos a suave-ondulados. Geralmente, a taxa de fornecimento de sedimentos 
é maior para microbacias hidrográficas que para grandes bacias, devido a que nas 
grandes bacias ocorrem maiores possibilidades para a deposição dos sedimentos em 
depressões no terreno ou no sopé de encostas, antes de chegar aos cursos de água. 
Estima-se que 5 a 10% de todo o material erodido chega ao mar. O restante é 
depositado em represas, leitos de rios, planícies fluviais, ou em terrenos mais planos 
em posições topográficas mais elevadas que os cursos de água. 
 
4.4 Tipos de danos provocados pela erosão do solo 
A erosão provoca danos no local onde ocorre, mas também provoca efeitos 
extrínsecos (ou seja fora do local de ocorrência) indesejáveis no meio ambiente. Os 
custos dos efeitos extrínsecos se relacionam com os efeitos do excesso de água, 
sedimento e produtos químicos associados nos sopés de encostas e ambientes 
fluviais. Apesar de que estes custos com qualquer um deste tipo de danos não são 
imediatamente aparentes, eles são reais e crescem a medida que avança o tempo. 
Donos de terras e a sociedade devem arcar eventualmente com os prejuízos. 
16 
4.4.1 Danos intrínsecos 
O dano mais marcante da erosão é a perda de solo. Na realidade o dano 
causado no solo é maior do que a quantidade de perda de solo sugeriria, porque o 
material erodido é na maior parte das vezes de maior valor do que a parte que ficou. 
Não é só o problema da perda do horizonte superficial enquanto ficam os horizontes 
subsuperficiais mais pobres que mais degrada o solo, mas também a baixa qualidade 
dos horizontes superficiais restantes. A erosão remove seletivamente matéria orgânica 
e os materiais finos, deixando para trás as frações mais grosseiras menos ativas. 
Experimentos têm mostrado que os teores de matéria orgânica e nitrogênio nos 
materiais erodidos são cinco vezes superiores aos horizontes superficiais originais. 
Taxas de enriquecimento de duas e três vezes ocorrem para fósforo e potássio, 
respectivamente. A quantidade de nutrientes essenciais perdidos pela erosão do solo 
é bastante elevada, apesar de que somente uma parte destes nutrientes são perdidos 
de uma forma que estariam disponíveis para as plantas no curto prazo. A porção do 
solo que fica geralmente tem menor capacidade de retenção de água e de retenção de 
cátions, menor atividade biológica, e uma menor capacidade para suprir nutrientes 
para as plantas. 
Em adição aos fatores de redução da qualidade de solo recém mencionados, o 
movimento do solo durante a erosão pode espalhar patógenos das plantas do solo 
para as folhas e de montante para jusante na paisagem. A deterioração da estrutura 
do solo geralmente deixa uma crosta densa na superfície do solo, que ao mesmo 
tempo, reduz a infiltração da água e incrementa a enxurrada. Sementes e mudas 
recém plantadas podem ser carregadas morro abaixo, arvores podem tombar e 
plantas pequenas serem encobertas por sedimentos. 
Finalmente, voçorocas podem escavar a terra já erodida e provocar a 
impossibilidade da utilização de tratores e maquinaria agrícola, a destruição de 
estradas e construções provocando condições de insegurança e de conserto caro. 
4.4.2 Danos extrínsecos 
A erosão transporta os sedimentos e nutrientes para fora do local de ocorrência 
provocando uma ampla poluição da água de rios e lagos. Os nutrientes provocam um 
impacto na qualidade da água através do processo de eutrofização causado pelo 
excesso de nitrogênio e fósforo. Além dos nutrientes, sedimentos e a água da 
enxurrada podem carregar metais tóxicos e compostos orgânicos, como pesticidas. O 
sedimento é um dos maiores poluentes causando um amplo espectro de danos 
ambientais. 
17 
Danos por sedimentos. Sedimentos depositados sobre o solo podem asfixiar 
cultivos e outras plantas pequenas. Podem encher canais de drenagem de estradas e 
provocar condições perigosas de dirigibilidade. 
Sedimentos que entram nos rios e ribeirões tornam a água túrbida. Turbidez 
elevada da água provoca a diminuição da penetração da luz solar que provoca uma 
diminuição da fotossíntese e a sobrevivência da vegetação aquática submersa (VAS). 
A morte da VAS degrada o habitat dos peixes e afeta a cadeia alimentar aquática. A 
água barrenta também provoca o entupimento das brânquias dos peixes. Sedimentos 
depositados no fundo dos rios podem ter um efeito desastroso sobre alguns peixes 
que utilizam os seixos e as rochas para desovar. O depósito de sedimentos no fundo 
do rio pode provocar uma elevação do nível do rio provocando enchentes mais 
freqüentes e mais severas. 
Um número de problemas maiores ocorre quando as águas do rio chegam aos 
lagos, estuáriose represas. Nestes locais as águas perdem velocidade e soltam a sua 
carga de sedimentos. Eventualmente represas, inclusive aquelas formadas por 
enormes diques, se convertem em áreas completamente assoreadas totalmente 
preenchidas por sedimentos. A capacidade das represas de estocar água para 
irrigação e sistemas de águas municipais é progressivamente reduzida, assim como a 
capacidade de retenção de enchentes ou para geração de energia hidroelétrica. Foi 
estimado nos Estados Unidos que 1.5 bilhões de Mg de sedimentos são depositados 
todos os anos nas represas desse país. Da mesma forma, portos e canais são 
assoreados e se tornam impassáveis. A perda de função e os custos de dragagem, 
escavação, filtragem e construção necessários para remediar estas situações são de 
bilhões de dólares por ano. 
Erosão eólica. A erosão eólica também tem os seus efeitos extrínsecos. As 
areias carregadas pelo vento podem enterrar estradas e encher canais de drenagem, 
provocando a necessidade de manutenção custosa. As partículas de areia carregadas 
pelo vento podem provocar danos em frutos e folhagem de cultivos em terrenos 
vizinhos, assim como na pintura de veículos e construções a vários quilômetros do 
local de ocorrência. 
Custos estimados da erosão. Apesar de não existirem dados precisos, taxas 
médias de erosão pela água e vento tem sido utilizados para estimar o custo total da 
erosão. Incluídos nestes cálculos estão os custos intrínsecos de reposição de 
nutrientes e água perdidos pela erosão acelerada, assim como as reduções da 
produtividade das culturas devido à reduzida profundidade do solo. Baseado somente 
em suposições sobre o valor das perdas de nutrientes em sedimentos e enxurrada, o 
18 
valor total anual de custos intrínsecos tem sido estimados entre 4 e 27 bilhões de 
dólares. 
Os custos extrínsecos da erosão são ainda maiores, especialmente devido aos 
efeitos sobre a saúde de partículas carregadas pelo vento e ao valor reduzido para a 
recreação de águas carregadas de sedimentos (pesca, natação e estética). O valor 
total destes custos nos Estados Unidos encontra-se entre 9 e 44 bilhões de dólares. 
Estes custos altos são uma triste lembrança da responsabilidade que a sociedade 
suporta como resultado do mau manejo da terra e parece justificar o aumento de 
orçamento para a luta contra a erosão. 
Manutenção da produtividade do solo. Apesar de que a erosão pode reduzir 
a produtividade do solo a zero, na maior parte dos casos o seu efeito é muito sutil para 
ser percebido de um ano para o outro. Onde os produtores podem arcar com as 
despesas, eles compensam as perdas de nutrientes incrementando o uso de adubos. 
As perdas de matéria orgânica e da capacidade de retenção de água são muito mais 
difíceis de solucionar no curto prazo. No longo prazo, a erosão acelerada excede a 
taxa de formação de solos levando à diminuição da produtividade na maioria dos 
solos. 
Finalmente, a taxa de diminuição da produtividade do solo, ou o custo de 
manutenção de níveis constantes de produtividade, é determinado por propriedades 
do solo como a profundidade até uma camada restritiva para o crescimento das raízes 
e a permeabilidade do subsolo. Um solo profundo, bem drenado e bem manejado 
pode não sofrer diminuição em produtividade apesar de sofrer erosão. Em contraste, 
erosão num solo raso, de baixa permeabilidade pode levar a uma rápida perda de 
produtividade. 
 
5 Recuperação de solos 
O manejo sustentável de recursos naturais envolve o conceito de “usar, 
melhorar e restaurar” a capacidade produtiva e os processos de suporte da vida do 
solo, o mais básico de todos os recursos naturais. O objetivo não é só minimizar a 
degradação do solo, mas reverter às tendências através de medidas de recuperação 
do solo e manejo de culturas. A qualidade do solo e a sua capacidade produtiva 
devem ser incrementadas além da preservação através de medidas de reconstrução 
do solo, por exemplo, prevenindo a erosão do solo e melhorando a profundidade de 
enraizamento do solo, “reabastecendo” o solo com nutrientes extraídos durante as 
colheitas de culturas ou produção animal através do uso correto de adubos minerais e 
19 
orgânicos e práticas efetivas de ciclagem de nutrientes, incrementando a atividade 
biológica da fauna do solo, e melhorando o conteúdo de matéria orgânica do solo. O 
uso da terra e o sistema de manejo adotado devem ser “restauradores ou 
recuperadores do solo” ao invés de “esgotadores do solo”, “esgotadores de fertilidade” 
e “degradadores do solo”. Além disto, o solo não deve ser utilizado como uma área 
para depósito de lixo tóxico. Apesar de o solo apresentar uma resiliência intrínseca, 
existe um limite de abuso que o solo pode suportar. 
5.1 Conceitos básicos 
Algumas áreas densamente povoadas do planeta têm severa escassez de 
terras. Estas regiões são caracterizadas por problemas severos de degradação do 
solo e degradação ambiental. Terras marginais e inviáveis para a agricultura, utilizadas 
para a produção de alimentos devido à fome pela terra, estão sendo degradadas até a 
degradação irreversível. Para estas regiões onde o recurso terra é insuficiente para 
atender as demandas, apesar do uso de insumos externos e técnicas 
conservacionistas, é necessário melhorar o recurso básico solo através da 
recuperação das terras degradadas. Para fins de recuperação, solos degradados 
podem ser classificados em três categorias (Figura 8). Alguns solos são inviáveis para 
o uso agrícola devido à falta de disponibilidade de insumos essenciais, por exemplo, 
falta de água em regiões secas, falta de calcário para solos ácidos, falta de nutrientes 
essenciais em solos altamente intemperizados. Tecnicamente, a produtividade destes 
solos pode ser recuperada providenciando os insumos necessários, por exemplo, uso 
da irrigação, adubos e fertilizantes, escolha de culturas e variedades adequadas, etc. 
No entanto, a disponibilidade econômica destes insumos e os problemas logísticos 
podem ser impedimentos maiores. Existem outros solos com propriedades restritivas à 
produção de culturas que limitam os seus uso para a produção agrícola. Alguns 
exemplos destes solos incluem: solos excessivamente úmidos, pH baixo, e alta fixação 
de P. Finalmente, existem os solos que estão degradados em função do mau uso, por 
exemplo solos erodidos ou compactados, e com toxicidade devido à disposição de 
lixo, solos afetados por sais, minas abandonadas, etc. As estratégias de recuperação 
são diferentes para as diferentes categorias de solos degradados. 
 
 
 
 
20 
- falta de água
- falta de corretivos e adubos
- falta de variedades ou
 cultivares
- desequilibrio de sais
- toxicidade
- solos rasos
- alta umidade do solo
- baixo pH
- pedregosidade
- erosão acelerada
- compactação do solo
- drenagem impedida
- acidez inducida por adubos
- toxicidade devido a lixo tóxico
- minas
Falta de insumos Propriedades inerentes
 restritivas para as culturas
Problemas antrópicos
Catergorias de solos degradados
 
Figura 8: Categorias de solos degradados. 
 
Entendendo processos, fatores e as causas da degradação do solo são pré-
requisitos básicos para o sucesso na recuperação da produtividade de solos 
degradados. É necessário estabelecer uma relação causa-efeito, porque a eliminação 
dos fatores causativos pode reverter a tendência de degradação e colocar em 
funcionamento os processos de recuperação. É também importante estabelecer e 
definir níveis críticos para as propriedades do solo para adaptar usos da terra e 
sistemas de cultivo/manejo apropriados, uma vez que o solo está em processo de ser 
recuperado. Por exemplo, conhecimento de níveis toleráveis de salinidade, acidez,ou 
toxicidade por alumínio das diferentes culturas e cultivares pode ser necessário para 
obter benefícios econômicos utilizando culturas toleráveis e acelerar o processo de 
recuperação. 
Conhecendo a categoria de degradação do solo é uma etapa importante 
porque o processo de recuperação depende desta categoria. Processos de 
recuperação de solos por cultivo intensivo e indiscriminado aparecem na Figura 9. 
Existe um nível crítico de matéria orgânica abaixo do qual atributos estruturais 
favoráveis são difíceis de manter. Entendendo os níveis críticos de matéria orgânica 
do solo, e adotando sistemas de manejo do solo/cultura para atingir estes níveis é uma 
estratégia importante para a melhoria da estrutura do solo. Melhorando a atividade e a 
diversidade da fauna do solo é uma outra estratégia útil. O conceito de manejo zonal, 
limitando a compactação da maquinaria à zona de trafego, e adotando um manejo 
conservacionista do solo e da água, vão reduzir os riscos de compactação do solo. 
 
 
 
 
 
 
21 
- manutenção da matéria
 orgânica do solo
- melhorar a atividade da
 fauna do solo
- utilização de sistemas de
 manejo restauradores
- métodos de plantio
 compatíveis
- aplicação equilibarada
 de nutrientes
- suplementar os adubos
 minerais com adubos
 orgânicos
- ciclagem de nutrientes
- melhorar a diversidade
 de espécies
- melhorar o habitat incluindo
 o micro-ambiente
- assegurar a disponibilidade
 e diversidade de alimento
Estrutura do solo Fertilidade do solo
 para as culturas
Fauna do solo
Recuperação de solos
 
Figura 9: Processo de recuperação para solos degradados por cultivo intensivo e 
indiscriminado. 
 
O manejo de nutrientes em solos com problemas de fertilidade é crucial para 
uma produção sustentável. Informação confiável e quantitativa da capacidade dos 
solos para fornecer nutrientes (fatores de capacidade e intensidade) e funções de 
resposta de diferentes culturas, cultivares, e sistema de manejo/cultivo são 
necessários para o bom uso de nutrientes inerentes e aplicados. Usos da terra 
intensivos e altas produtividades em solos de baixa fertilidade só podem ser atingidos 
aumentando os níveis de nutrientes. O uso excessivo de adubos sintéticos pode ser 
evitado diminuindo as perdas (erosão, lixiviação, volatilização) e melhorando a 
ciclagem de nutrientes. Um nível adequado de atividade e diversidade de espécies da 
fauna do solo é também essencial para a recuperação da estrutura do solo e o 
melhoramento da ciclagem de nutrientes. Os efeitos da fauna do solo sobre as 
propriedades do solo não são bem conhecidos, em especial aqueles relacionados com 
os diferentes sistemas de manejo/cultivo. Existe a necessidade de que pedólogos e 
ecólogos trabalhem juntos para entender as interações entre a fauna e as 
propriedades do solo. 
O conhecimento de processos básicos e das relações causa-efeito é também 
necessário para a recuperação de solos com características restritivas inerentes 
(Figura 10). Recuperação de áreas erodidas, e a prevenção da degradação por novos 
processos erosivos são cruciais para o manejo sustentável do recurso solo. Tirando a 
pressão das áreas marginais pela criação de empregos fora da propriedade e 
desenvolvendo oportunidade de geração de renda são políticas importantes. Pesquisa 
também é necessária sobre medidas de prevenção da erosão e sobre sua efetividade 
nas mais diversas agro-eco-regiões. A produtividade de solos erodidos é afetada pela 
22 
perda de matéria orgânica, argila e complexos coloidais, diminuição da profundidade 
de crescimento de raízes, e redução da capacidade de água disponível para as 
plantas. Exposição de subsolos improdutivos é outro fator da erosão acelerada. A 
pesquisa agronômica é necessária para desenvolver técnicas de práticas culturais 
para aliviar estes problemas. 
Medidas
preventivas
Medidas
de controle
Erosão e
desertificação
Lixiviação Melhora de
sistemas de cultivo
Uso de culturas
tolerantes
Desequilibrio
 de sais
Drenagem Conservação
da água
Irrigação
Desbalanço
hídrico
Propriedades restritivas
para as culturas
 
Figura 10: Processos para a recuperação de solos em solos com severas 
propriedades restritivas para o crescimento de culturas. 
 
Solos afetados por sais, totalizando 323 milhões de hectares, estão 
amplamente distribuídos nas regiões áridas e semiáridas do planeta. A predominância 
de sódio no complexo de troca pode afetar de forma negativa a estrutura do solo e as 
taxas de infiltração e percolação. Além das medidas físicas de remoção de sais 
(lixiviação e raspado), a pesquisa de sistemas de cultivo, com novas espécies e 
cultivares melhorados, é crucial para aliviar os problemas de produção. Os problemas 
de toxicidade e deficiência de nutrientes podem também ser abordados através do uso 
correto de produtos químicos, adoção de sistemas que melhoram o manejo do solo e 
das culturas, e do crescimento de culturas e cultivares adaptados. 
Cada vez mais o solo está sendo utilizado e abusado para o depósito de lixo 
industrial e urbano. O depósito indiscriminado de lixo tóxico é pouco inteligente e anti-
ético. Medidas legislativas são necessárias para assegurar métodos seguros de 
eliminação de lixo industrial. Estratégias para desintoxicar solos contaminados por lixo 
industrial aparecem na Figura 11. 
 
 
 
 
 
 
 
 
23 
- separação de metais
 pesados
- precipitação de quelatos
 e polimeros orgânicos
- aumento da matéria
 orgânica do solo
- uso correto do terra
- separação de metais
 pesados
- uso da terra apropriada
Resíduos industriais Lixo urbano
Desintoxicação
do solo
Figura 11: Recuperação de solos degradados por usos não agrícolas. 
 
5.2 Bases para melhorar sistemas de cultivo tradicionais 
Os princípios básicos de manejo de solos e recursos naturais são semelhantes 
para diferentes sistemas ecológicos, apesar de que pacotes tecnológicos baseados 
nestes princípios variam dependendo de problemas locais específicos e considerações 
socioeconômicas. Para alcançar uma produção alta e sustentável, preservando a 
estabilidade ecológica e a base do recurso natural, é imperativo que as mudanças no 
uso da terra e a conversão das florestas incluam: 
a) A preservação do equilíbrio ecológico delicado entre vegetação-clima-solo 
b) Manter um fornecimento adequado e regular de matéria orgânica na superfície 
do solo 
c) Melhorar a atividade da fauna do solo e o revolvimento do solo por processos 
naturais 
d) Manter uma boa condição física do solo, viável para o uso da terra atual 
e) Fornecer os nutrientes removidos pelas plantas 
f) Criar um equilíbrio nutricional desejável e a reação do solo 
g) Evitar o desenvolvimento de pragas e/ou plantas daninhas 
h) Adaptar um mecanismo natural de ciclagem de nutrientes para evitar a 
lixiviação e conseqüente perda de nutriente 
i) Preservar a diversidade ecológica 
O cultivo itinerante ou a rotação de culturas cumprem a maior parte destes 
requisitos, sendo por isso o sistema tradicional, evoluído durante milênios e usado no 
mundo inteiro, compatível ecologicamente. Os requerimentos básicos para um sistema 
estável listados acima são cumpridos se o sistema tradicional permite curtos períodos 
de cultivo seguido por longos períodos de pousio. A falta de terra arável, no entanto, 
tem eliminado ou drasticamente diminuído o período de pousio. A mudança e portanto 
24 
inevitável. Para pequenos agricultores nos trópicos com capacidade limitada de capital 
e escassa disponibilidade de insumos comerciais, portanto, qualquer mudança no 
sistema tradicional deve tomar em conta os seguintes fatores. 
 
a) InsumosA melhoria no cultivo itinerante ou na rotação de uso do solo deve ser baseada 
num sistema auto-sustentável e com baixa tecnologia. Isto não implica que o 
uso de adubos sintéticos ou outros condicionadores do solo estão proibidos. No 
entanto, sistemas de manejo do solo e das culturas devem ser desenvolvidos 
para minimizar a necessidade destes. A necessidade de nutrientes pode ser 
suprida em parte pela diminuição das perdas e aumento da eficiência, em parte 
pela fixação simbiótica de nitrogênio e reciclagem de resíduos orgânicos, e se 
houver diferença utilizar-se-ia adubos sintéticos. O total de entrada de energia 
deve ser regulado para que a razão saída:entrada seja alta. 
A agricultura com altos insumos praticada na Europa e nos Estados Unidos 
deixa muito a desejar. Por exemplo, a necessidade de agroquímicos soma 2,5 
milhões de kcal ou 38,9% do total de insumos necessários para produzir 1ha 
de milho nos Estados Unidos. Apesar da produção ser baixa, atualmente a 
agricultura no Terceiro Mundo é mais eficiente em termos energéticos que a 
agricultura dos paises do Primeiro Mundo. A bibliografia cita que sistemas 
tradicionais da Nova Guinea produzem 104MJ por pessoa por dia e 1500MJ 
por pessoa por dia nos Estados Unidos, umas 150 vezes mais na agricultura 
norte-americana. Devido ao fato de deixar várias áreas em pousio no sistema 
tradicional para a restauração da fertilidade e a limitações para o uso intensivo 
da terra, a produção por unidade de área por unidade de tempo e por pessoa é 
baixa. A estratégia é incrementar a produção por unidade de insumo. Em 
Latossolos e Podzólicos nas regiões tropicais da América a quantidade de 
adubo requerido para produzir 80% do máximo ou produção ótima é 
consideravelmente inferior que a quantidade necessária para alcançar o ponto 
máximo ou ótimo. Com uma pequena diminuição nos níveis de produtividade 
desejados, as necessidades de insumos químicos podem ser drasticamente 
diminuídos. 
 
b) Fertilidade e limitações do solo 
O objetivo não é maximizar a produção, mas atingir níveis altos e desejáveis de 
produção causando a mínima degradação da qualidade do solo. A qualidade 
25 
do solo deve ser preservada evitando a compactação do solo, a erosão do 
solo, e minimizando outros processos de degradação do solo. Um critério para 
avaliar uma técnica restaurativa seria maximizar produtividade por unidade de 
perda de solo, ou por unidade de diminuição do conteúdo de matéria orgânica, 
pH, ou CTC. Os sistemas de depleção de fertilidade não tem espaço neste 
esquema. A forma mais simples de incrementar a produção seria plantar 
cultivares e espécies que estão naturalmente adaptados a limitações 
específicas do solo, por exemplo, culturas de raiz em solos ácidos, arroz para 
toxicidade de Fe, cowpea para toxicidade de Mn, etc. 
 
c) Considerações sociais 
Para os pequenos agricultores das regiões tropicais do Terceiro Mundo o 
desenvolvimento local e manutenção de uma tecnologia simples e barata que 
utiliza menos mão de obra especializada e capital pode ser mais atrativo que 
investimentos em maquinaria pesada cuja eficiência é desconhecida e os seus 
efeitos são quase sempre indesejáveis. É alta a probabilidade de rejeição de 
uma inovação que traz mudanças drásticas nos hábitos de plantio, 
desencorajando o cultivo misto, diminuindo a flexibilidade do sistema 
tradicional. 
 
d) Melhoria gradual versus transformação rápida 
Para um pequeno agricultor que vive da subsistência, um impacto duradouro 
pode ser alcançado introduzindo melhorias graduais durante uma ou duas 
décadas no seu sistema tradicional ao invés de mudanças bruscas pela 
introdução de tecnologias para as quais ele não esta preparado psicológica, e 
fisicamente, além de financeiramente incapacitado. Uma vez que o agricultor 
ganha confiança na adoção de inovações simples, mas produtivos, como tem 
acontecido na Europa e na Ásia, a adoção de alta tecnologia prossegue 
naturalmente. A questão é a seguinte, temos tempo suficiente para adotar este 
processo de melhorias lentas e graduais? 
 
26 
6 Prevenção e recuperação da degradação química de solos 
6.1 Prevenção da degradação química de solos 
Essencial no entendimento da degradação química de solo é o conhecimento 
que solos variam consideravelmente na sua habilidade de suportar impactos químicos. 
A capacidade tampão da maioria dos solos é grande, mas finito é pode ser sobre-
saturado. A diversidade e atividade da macro e microfauna do solo são também 
elementos importantes na saúde química dos solos. A prevenção da degradação 
química requere que o impacto químico não exceda a capacidade do solo para 
tamponar a mudança química. 
Como discutido anteriormente, vários processos químicos do solo são 
importantes no processo de tamponamento químico. Estes incluem poder tampão 
ácido-base, precipitação e dissolução, adsorção e desorção, e complexação. 
 
A) Poder tampão ácido-base 
A capacidade do solo em tamponar adições de ácidos ou bases é função da sua 
capacidade de troca de cátions (CTC) e da saturação por bases (V%). Ao mesmo 
tempo, isto é função da mineralogia e do conteúdo de matéria orgânica do solo 
assim como o status da base do solo. No longo prazo, ou onde as adições ácidas 
são massivas, o conteúdo de minerais resíduais contendo elementos básicos vai 
determinar a capacidade do solo em neutralizar a acidez. O intemperismo destes 
minerais do solo, no entanto, alteram drasticamente o caráter químico do solo. No 
caso de grandes adições de base forte, um efeito inicial seria a solubilização da 
matéria orgânica e dos minerais do solo. 
Os efeitos a longo prazo da adição de ácidos ou bases vão ser determinados pelo 
grau de lixiviação associado com o impacto químico. Se a lixiviação é restrita, a 
adição de ácido ou base estará localizado na superfície e o impacto será grande. 
Íons liberados na solução do solo vão recombinar para formar novos minerais. Se 
o solo é suficientemente permeável para permitir uma rápida lixiviação, o impacto 
geral será menor devido a que a adição de ácido ou base ocupará um maior 
volume do solo. Se os efeitos extrínsecos como contaminação do lençol freático 
são de menor importância que o impacto sobre o solo, um meio de remediar a 
contaminação química é por aração profunda. O contaminante é diretamente 
diluído pelo maior volume de solo no qual está misturado, e também ele entre em 
contato com uma massa maior de solo que tamponará o impacto do poluente. 
 
27 
B) Precipitação-dissolução 
Solos com altos conteúdos de cátions reativos são capazes de tamponar grandes 
adições de compostos como fosfatos, arsenatos, e selenita por precipitação, 
enquanto que metais podem precipitar com sufídeos sob condições de redução e 
como co-precipitados com compostos de Fe, Al, Mn, Ca e Mg. Os minerais de Fe 
e Al precipitam a pHs baixos (<5) e aqueles de Ca e Mg a pH>6. 
A precipitação é favorecida pela alta atividade das argilas do solo, aqueles com 
altos conteúdos de minerais intemperizáveis, e normalmente a pH quase neutros 
ou altos. 
 
C) Adsorção-desorção 
Metais e compostos são rapidamente removidos pela adsorção aos minerais de 
argila, óxidos, e CaCO3, e a desorção é normalmente mais lenta que a adsorção 
(existe um processo de histerese na curva de adsorção e desorção). Adsorção de 
metais é favorecido a pH>6, devido ao fato de que o limite de adsorção (pH no 
qual a máxima adsorção ocorre) da maioria dos metais são encontrados acima 
deste valor. Compostos são também fortemente adsorvidos na superfície dos 
óxidos, mas a adsorção geralmente diminui com aumento do pH devido a que a 
carga do composto e do óxido se torna mais negativoa medida que o pH 
aumenta. 
 
D) Complexação 
Metais polivalentes, incluindo os metais pesados, são fortemente complexados 
com materiais húmicos do solo. O conteúdo de matéria orgânica do solo é 
normalmente altamente correlacionada com a capacidade de ligação com metais, 
é a ligação aumenta com o aumento do pH como resultado da dissociação dos 
grupos funcionais ácidos dos ácidos húmicos. 
Enquanto que parâmetros como a CTC e o conteúdo de matéria orgânica podem 
ser utilizados para avaliar solos para resistência a impactos químicos, uma 
questão igualmente importante é como os princípios da química podem ser 
utilizados para remediar casos de degradação química. 
 
6.2 Princípios de recuperação da degradação química de solos 
Como sugerido anteriormente, a degradação química do solo é menos 
irreversível que o processo de degradação física. Isto é resultado do poder tampão 
28 
dos solos, o papel dos processos microbiológicos nas reações químicas, e uma 
velocidade alta das reações químicas. Algumas aproximações gerais podem ser 
utilizadas para reverter ou melhorar a degradação química. 
 
A) Modificação do pH do solo 
Aumentos ou diminuições do pH tem efeitos profundos no sistema químico do 
solo. Se a mudança química desejada é de curto prazo (ex. favorecendo a 
degradação de pesticidas), o controle de pH pode ser efetivo e facilmente 
atingido. Se um controle do pH a longo prazo é necessário (para reduzir a 
biodisponibilidade de metais, por exemplo), a capacidade natural ácido-tampão do 
solo deve ser considerado. A aplicação de lodo de esgoto a solos agrícolas 
requere que o pH seja mantido a 6,5 sempre quando culturas de consumo direto 
são plantados. 
 
B) Regulação das condições redox do solo 
Condições oxidantes pode favorecer a degradação microbiana de alguns 
poluentes, enquanto que condições redutoras pode favorecer a precipitação de 
metais pesados pelo sulfídeo, produzir a denitrificação de altos níveis de nitratos, 
ou reduzir a produção de ácido a partir da oxidação da pirita. A produção de arroz 
irrigado em solos ácidos com altos conteúdos de enxofre é um bom exmplo do 
controle redox da degradação química do solo, enquanto que resíduos de minério 
contendo pirita é enterrado o mais rápido possível para reduzir a oxidação. 
 
C) Manutenção ou incremento da matéria orgânica do solo 
A matéria orgânica estimula a atividade biológica e inativa metais e compostos 
orgânicos. Adiciona também CTC, aumenta o tamponamento do pH, e imobiliza 
nutrientes contra lixiviação excessiva. Um solo saudável é um solo que apresenta 
um bom estoque ativo de matéria orgânica, e os solos devem ser manejados para 
manter os níveis existentes de matéria orgânica através da reciclagem de 
resíduos orgânicos. Solos, ou materiais residuais como resíduos de minas ou 
sedimentos de dragas com pouca ou nenhuma matéria orgânica, devem ser 
tratadas com materiais orgânicos (lodo, esterco, composto) e uma cobertura 
permanente deve ser estabelecida. 
 
D) Manutenção da fração lixiviada 
29 
Alguns problemas da degradação química do solo podem ser aliviados pela 
lixiviação se eles envolvem poluentes solúveis que são adsorvidos fracamente 
pelo solo e são facilmente liberados. Por exemplo, sais solúveis totais (salinidade), 
Na trocável (sodicidade), e toxicidade de boro. O destino do lixiviado deve ser 
considerado na determinação do impacto ambiental global. 
 
E) Promover a volatilização 
Contaminantes do solo voláteis, como uma quantidade excessiva de NH3, alguns 
pesticidas e orgânicos sintéticos tóxicos, solventes, e gases radioativos, podem 
ser retirados da superfície do solo pela promoção da volatilização. A volatilização 
pode ser promovida por mudanças no pH (como no caso do NH3), pelo secamento 
do solo, e por aração profunda para expor mais o solo à atmosfera. Enquanto esta 
técnica pode ser utilizada para corregir a contaminação do solo localizada, a 
poluição atmosférica pode limitar o amplo uso desta técnica. 
 
7 Sistemas de controle da erosão do solo 
7.1 Coberturas vegetativas 
A erosão do solo pode ser controlada manejando a vegetação, resíduos de 
plantas e utilizando sistemas de preparo conservacionistas. A erosão e a enxurrada 
variam de acordo com os diferentes tipos de cobertura vegetativa do solo e sistemas 
de preparo (Tabela 2). 
30 
 
 
Tabela 2: Efeito da cobertura vegetativa na erosão do solo em uma zona úmida do oeste 
de África. 
Tipo de cobertura Número de 
sítios 
Precipitação média 
mm/ano 
Enxurrada 
% da 
precipitação 
Erosão 
Mg/ha 
Floresta protegida 
de queimadas 
11 1293 0.9 0.1 
Floresta com 
queimadas leves 
13 1289 1.1 0.27 
Pasto natural 
 
7 1203 16.6 4.88 
Amendoim 
 
32 1329 20.7 7.70 
Arroz de sequeiro 
 
17 946 23.3 5.52 
Milho 
 
17 1405 17.7 7.63 
Culturas falhas e 
solo nu 
11 1154 39.5 21.28 
Fonte: Pierre (1992) 
 
Florestas não perturbadas e pastos naturais densos fornecem a melhor 
proteção para o solo e são praticamente iguais na sua eficiência. Pastagens (tanto 
leguminosas como gramíneas) seguem em eficiência devido à sua cobertura 
relativamente densa. Cereais, como trigo e aveia, são intermediários e oferecem 
considerável obstrução à enxurrada. Cultivos em fileiras, como o milho, a soja, e 
batata, oferecem pouca cobertura durante os primeiros estágios de crescimento 
deixando o solo susceptível à erosão se não foram deixados resíduos de culturas 
anteriores na superfície do solo. 
Cultivos de cobertura consistem de plantas que são semelhantes às pastagens 
recém mencionadas. Eles providenciam uma proteção ao solo durante o período do 
ano entre safras para culturas anuais. Para culturas perenes com espaçamentos 
largos, como laranja e frutíferas em geral, cultivos de cobertura podem proteger 
permanentemente o solo entre as fileiras das arvores. Uma cobertura morta vegetal 
(“mulch”) ou de materiais aplicados são também eficientes na proteção do solo. A 
pesquisa em todos os continentes tem mostrado que a cobertura morta (“mulch”) não 
precisa ser espessa ou cobrir o solo completamente para contribuir com a 
conservação do solo. Inclusive pequenos incrementos na cobertura superficial 
resultam em grandes reduções da erosão do solo, principalmente na erosão entre 
sulcos (Figura 12). 
31 
 
Figura 12: Redução da erosão entre sulcos pelo aumento da percentagem da cobertura 
do solo. Os diagramas acima da figura ilustram coberturas de 5, 20, 40, 60 e 
80%. 
 
O manejo do pastoreio para manter uma cobertura vegetal densa nos campos 
destinados às pastagens e a inclusão de cultivos adensados para a produção de feno 
na rotação com cultivos de fileiras em terras aráveis ajudam a controlar a erosão e a 
enxurrada. Da mesma forma, o uso de sistemas de preparo conservacionistas, que 
deixam a maior parte dos resíduos em superfície, diminui drasticamente os perigos da 
ocorrência de erosão. 
Cultivos em contorno. Em pendentes longas sujeitas a erosão laminar e em 
sulcos, os cultivos podem estar dispostos em faixas seguindo as curvas de nível, 
alternando cultivos plantados utilizando sistemas convencionais de manejo, como 
milho e batata, com pastos para feno e cereais plantados de forma adensada. A água 
não consegue atingir uma velocidade suficiente nas faixas de culturas convencionais, 
e as faixas com pasto ou alguma outra cultura adensada controlam a taxa de 
enxurrada. Tal disposição das culturas é chamada cultivo em faixas e é a base para o 
controle da erosão em várias regiões com relevo suave-ondulado a ondulado. Este 
arranjo pode ser interpretado como diminuição do comprimento efetivo da pendente. 
32Quando as faixas estão dispostas de uma forma bastante definitiva nas curvas 
de nível, o sistema é chamado de cultivo de contorno. A largura das faixas vai 
depender da declividade, a permeabilidade do solo e da erodibilidade do solo. Largura 
de 30 a 125m são comuns. Canais escoadouros podem ser acrescentados aos 
sistemas de preparo em contorno. Estes canais escoadouros estão gramados 
permanentemente para poder escoar a água da terra sem perigo de formação de 
sulcos e voçorocas. 
Sistemas conservacionistas de preparo. Existem hoje em dia numerosos 
sistemas conservacionistas de preparo (Tabela 3), todos eles têm um ponto em 
comum, deixam quantidades significantes de resíduos orgânicos na superfície do solo 
após plantar. É importante lembrar que o sistema convencional de manejo envolve em 
primeiro lugar a utilização de um arado para enterrar as ervas daninhas e os resíduos, 
seguido de uma ou três passagens com uma grade para quebrar os torrões, depois 
segue o plantio e subseqüentemente várias cultivações entre as fileiras para matar 
ervas daninhas. Cada passagem com um implemento deixa o solo exposto e 
enfraquece a estrutura do solo que ajuda o solo a resistir a erosão pela água. 
 
Tabela 3: Classificação geral dos diferentes sistemas de manejo conservacionista. 
Sistema de preparo Operações envolvidas 
Plantio Direto Solo não perturbado antes do plantio, que ocorre numa sementeira de 2,5 a 
7,5cm de largura. O controle de ervas daninhas é realizado utilizando herbicidas 
 
Cultivo em faixas Solo não perturbado antes do plantio. Preparo em faixas estreitas e pouco 
profundas utilizando o escarificador ou algum outro implemento. Até um terço 
da superfície do solo é cultivado no plantio. Utilização de herbicidas e técnicas 
de cultivo para controlar ervas daninhas. 
 
Cultivo tipo “Mulch” Superfíce do solo perturbado pelo preparo antes do plantio, mas pelo menos 30 
% dos resíduos permanecem na superfície do solo. Implementos como 
escarificadores, cultivadores e grades de disco são utilizados. Herbicidas e 
técnicas de cultivo são utilizados para o controle de ervas daninhas. 
Cultivo mínimo Qualquer outro sistema de preparo e plantio que mantém pelo menos 30% dos 
resíduos em superfície. 
 
Sistemas conservacionistas de preparo vão desde aqueles que apenas 
reduzem o preparo excessivo até os sistemas sem preparo (plantio direto), que não 
utilizam o preparo a não ser uma pequena perturbação do solo efetuada pela 
plantadeira ao cortar o solo e a camada de resíduos para incorporar a semente. O 
arado de aiveca convencional foi projetado para deixar a superfície do solo limpo. Em 
contraste, sistemas de preparo conservacionistas, como o escarificador misturam 
parcialmente o solo incorporando parte dos resíduos superficiais e deixando mais de 
30% do solo coberto. Com sistemas de plantio direto espera-se que 50-100% da 
33 
superfície do solo esteja coberta. Sistemas de plantio direto bem manejados em climas 
úmidos incluem cultivos de cobertura durante o período entre safras e culturas que 
produzem altos volumes de resíduos na rotação. Estes sistemas mantêm o solo 
coberto o tempo todo e aumentam o teor de matéria orgânica nas camadas 
superficiais do solo. 
Controle da erosão por sistemas de preparo conservacionistas. Depois 
que os sistemas de preparo conservacionista começaram, centos de experimentos 
tem demonstrado que estes sistemas diminuem a erosão do solo em relação aos 
métodos convencionais de preparo. A enxurrada também diminui, apesar das 
diferenças não serem tão pronunciadas como com a erosão do solo. O valor do 
controle da erosão de uma superfície não perturbada sob um resíduo orgânico foi 
discutido na seção anterior. O preparo conservacionista também reduz 
significativamente a perda de nutrientes dissolvidos na água da enxurrada ou levados 
junto com os sedimentos. 
Efeitos nas propriedades dos solo. Quando o preparo do solo passa de um 
sistema convencional para um sistema conservacionista (especialmente o plantio 
direto), várias propriedades do solo são afetadas, a maioria num sentido favorável. As 
mudanças são maiores nos primeiros centímetros do solo. Geralmente, as mudanças 
são maiores para sistemas que produzem a maior quantidade de resíduos 
(especialmente milho e cereais em regiões úmidas), retém a maior parte da cobertura 
de resíduos, e causam a menor perturbação do solo. 
Propriedades físicas. A macroporosidade e a agregação são incrementadas 
a medida que a matéria orgânica aumenta e minhocas e outros organismos se 
estabelecem. A infiltração e a drenagem interna geralmente melhoram, assim como a 
capacidade de retenção de água (Figura 13). A melhora na capacidade de infiltração 
em solo sob preparo conservacionista e geralmente muito desejável, mas em alguns 
casos pode levar a uma lixiviação mais rápida de nitratos e outros produtos químicos 
solúveis em água. Solos cobertos por resíduos encontram-se mais frescos e mais 
úmidos. Isto é uma vantagem nas épocas de calor mas pode causar problemas no 
crescimento precoce das culturas em climas mais frios. 
34 
 
Figura 13: Efeitos comparativos de 28 anos de uso dos três sistemas de preparo no teor 
de matéria orgânica e algumas propriedades físicas em um Alfissolo de Ohio, 
EUA. 
 
Propriedades químicas. Sistemas conservacionistas incrementam 
significativamente o teor de matéria orgânica nos primeiros centímetros do solo (Figura 
8). Durante os primeiros quatro a seis anos de preparo conservacionista, o aumento 
de matéria orgânica resulta na imobilização de nutrientes, especialmente nitrogênio. 
Isto contrasta com a mineralização de nutrientes que ocorre pela diminuição da 
matéria orgânica do solo sob sistemas convencionais de preparo. Eventualmente, 
quando a matéria orgânica do solo estabiliza a um novo patamar, as taxas de 
mineralização de nutrientes sob plantio direto aumentam. Umidade mais alta e níveis 
mais baixos de oxigênio podem também estimular a denitrificação. Estes processos as 
vezes resultam na necessidade de maiores níveis de adubação nitrogenada para obter 
boas produtividades durante os primeiros anos do plantio direto. 
Em sistemas de plantio direto os nutrientes tendem a acumular nos primeiros 
centímetros do solo a medida que são adicionados à superfície do solo resíduos dos 
cultivos, excrementos de animais, adubos químicos e calagem. Contudo, a pesquisa 
mostra que devido à cobertura de resíduos superficial (“mulch”), as raízes dos cultivos 
não têm problemas para obter os seus nutrientes das camadas superficiais do solo. A 
estratificação deve ser tomada em conta na hora de amostrar os solos para fins de 
fertilidade. 
Sem as práticas de preparo que misturam o solo, os efeitos de acidificação 
pela oxidação do nitrogênio, decomposição do resíduo, e precipitação estão 
35 
concentrados nos primeiros centímetros do solo. O pH destes solos pode cair mais 
rapidamente que em aqueles solos manejados utilizando o sistema convencional. Em 
regiões úmidas esta acidificação deve ser diminuída aplicando calcário ao solo. 
Efeitos biológicos. A abundância, atividade e diversidade de organismos do 
solo tendem a ser maiores em sistemas de preparo conservacionista caracterizados 
por altos níveis de resíduos superficiais e pouca perturbação física do solo. Minhocas 
e fungos, os dois importantes para o desenvolvimento da estrutura do solo, são 
especialmente favorecidos. 
7.2 Controle por drenagem superficial 
Terraceamento. É uma das práticas mais eficientes para controlar a erosão 
de terras cultivadas. A palavra terraço é usada, em geral, para significar camalhão ou 
a combinação de camalhão e canal, construído em corte da linha de maior declive do 
terreno. 
O terraceamentoem terras cultivadas é sempre combinado com o plantio em 
contorno; pelo seu alto custo, é recomendado onde outras práticas, simples ou 
combinadas, não proporcionem o necessário controle de erosão. A principal função do 
terraço é diminuir o comprimento das lançantes, reduzindo assim, a formação de 
sulcos em regiões de alta precipitação e retendo mais água em zonas mais secas. 
Nem todos os solos e declives podem ser terraceados com êxito. Nos 
pedregosos ou muito rasos, com subsolo adensado, é muito dispendioso e difícil 
manter um sistema de terraceamento. As dificuldades de construção e manutenção 
aumentam a medida que cresce a declividade do terreno. 
O terraceamento, quando bem planejado e bem construído, reduz as perdas de 
solo e água pela erosão e previne a formação de sulcos e grotas, sendo mais eficiente 
quando usado em combinação com outras práticas, como o plantio em contorno, 
cobertura morta e culturas em faixas; após vários anos, seu efeito se pode notar nas 
melhores produções das culturas, devido à conservação do solo e da água. 
A declividade do terreno é que determina a practicidade do terraceamento, uma 
vez que a erosão aumenta com esse declive; entretanto, o custo da construção e da 
manutenção do terraço aumenta com o grau de declive do terreno a tal ponto que esse 
fator pode torná-lo desaconselhável. 
Existem basicamente dois tipos de terraços; terraços de infiltração e terraços 
de drenagem. 
Os terraços de infiltração, que são construídos em nível, não permitem um 
dimensionamento hidrológico muito preciso. A sua função é interceptar a enxurrada e 
36 
promover a infiltração da água no canal do terraço. A taxa de infiltração de água no 
canal do terraço, que é o princípio de seu funcionamento, ainda é um assunto muito 
pouco conhecido. Outro fator importante é que esta taxa provavelmente seja muito 
variável e dependente do tipo do solo, da forma de construção do terraço, do preparo 
do solo, do grau de compactação do solo e da sua umidade. Em decorrência disto, o 
dimensionamento de terraços de infiltração com base em critérios hidrológicos ainda 
não consiste numa prática rotineira. 
Os terraços de drenagem interceptam a enxurrada e ao invés de promover a 
sua infiltração no canal do terraço, conduzem-na para um sistema de escoamento que 
pode ser uma grota vegetada ou um canal escoadouro. Nos terraços de drenagem os 
princípios hidrológicos envolvidos no dimensionamento são mais bem conhecidos e 
mais simples do que nos terraços de infiltração. 
Quando são usados no terreno sistemas de terraceamento de drenagem, para 
proporcionar a drenagem segura dos excessos de enxurrada, é necessário o 
estabelecimento de canais escoadouros: são canais de dimensões apropriadas, 
vegetados, capazes de transportar com segurança a enxurrada de um terreno dos 
vários sistemas de terraceamento ou outras estruturas. 
Em alguns tipos de solos bastante permeáveis, como o Latossolo Roxo, 
consegue-se, às vezes, dispensar com segurança esses canais, mediante o emprego 
de práticas mecânicas (como terraceamento de infiltração) e vegetativas que 
produzam quase a retenção completa das águas da chuva. 
Canais escoadouros são, em geral, as depressões no terreno, rasas e largas, 
em declividades moderadas, e estabelecidos com um leito resistente à erosão. Sua 
melhor localização é a depressão natural, para onde as águas são forçadas a 
escorrer, bem como nos espigões, divisas naturais e caminhos. 
A vegetação do canal escoadouro deve ser escolhida de modo a suportar a 
velocidade de escoamento de enxurradas, não ser praga para as terras da cultura e, 
se possível, ser utilizada como forragem. As vegetações ideais são aquelas que 
cobrem e travam completamente o solo num emaranhado uniforme de raízes e caules. 
7.3 Recuperação de solos degradados por voçorocas 
A erosão por voçorocas é causada por fatores ligadas ao solo, hidrológicos, e 
do relevo relacionados às características das microbacias hidrográficas. As 
propriedades do solo que condicionam a formação de voçorocas são um gradiente 
textural abrupto entre os horizontes superficiais e sub-superficiais, fluxo sub-superficial 
especialmente "piping", argila altamente dispersível, e uma fraca estrutura do solo. A 
37 
extensão e a taxa da formação de voçorocas são aumentados por fatores antrópicos 
(Figura 13), por exemplo, atividades agrícolas, desmatamento, queimadas, sobre-
pastoreio, construção de estradas, trilhas, drenos mal dimensionados, e outras 
estruturas de engenharia que provocam a concentração da enxurrada. Na maioria dos 
casos, voçorocas são formadas pelo aprofundamento de sulcos e desmoronamento 
das paredes devido à formação excessiva de "piping". Os buracos fabricados pelos 
animais nas vizinhanças da voçoroca podem provocar a extensão das voçorocas 
lateralmente. 
 
- desmatamento
- queimadas
- uso de áreas marginais
- sobre-pastoreio
- predios e condomínios
- trilhas
- minas de areia
- mal projetadas e bloqueio
 de cursos de água naturais
- drenos mal dimensionados
- manutenção defeituosa
Actividades agrícolas Actividades urbanas Estradas
Fatores antrópicos
Figura 14: Fatores antrópicos responsáveis pelas voçorocas. 
 
A taxa da formação das voçorocas pode ser avaliada pelo volume de 
sedimento transportado pela voçoroca ou pela avaliação da área afetada pela mesma. 
Fotografias aéreas junto sistemas de avaliação padrão são comumente utilizadas para 
avaliar a severidade das voçorocas. A formação de voçorocas pode ser controlada por 
medidas de engenharia ou biológicas. Os primeiros incluem canais de desvio, 
estruturas de interceptação, gabiões e calhas. Os segundos estão baseados no 
estabelecimento de uma cobertura vegetal e incluem pastagens e arvores para 
estabilizar as paredes e fundo da voçoroca (Figura 15). 
 
 
 
 
 
 
38 
Avaliação da situação atual:
- fonte e quantidade de enxurrada
- cabeças da voçoroca
- propriedades dos solos
- Microbacia hidrográfica e
 declividade do canal da voçoroca
- padrão de drenagem
- vegetação
- características da chuva
- uso da terra atual
- capacidade de uso da terra
Identificar as necessidade de
conservação para as diferentes
unidades de relevo
Proteger as cabeçeiras das
voçorocas com cercas ou cercas
vivas
Desviar a água da enxurrada para
fora da voçoroca
Mudar o uso da terra na microbacia
que alimenta a voçoroca
- uso de coberturas vegetativas
- reflorestamento
Instalar estruturas de engenharia
- paliçadas de madeira ou pedra
- diques
- gabiões
- pneus
 
Figura 15: Seqüência de etapas na recuperação de áreas degradadas por voçorocas. 
 
8 Reflorestamento 
A recuperação do solo não pode ser considerada completa até que o local 
tenha sido reflorestado. A cobertura vegetativa é necessária para proteger o solo da 
erosão, mas a cobertura vegetativa pode ser vista como um teste ecológico do 
sucesso do processo de recuperação. 
Algumas considerações para a seleção de espécies para reflorestamento são: 
(1) espécies nativas, (2) uso da terra proposto, e (3) limitações ecológicas e 
ambientais. A ecologia da recuperação tem como principal objetivo o restabelecimento 
39 
das comunidades nativas de plantas e animais na área. Enquanto que a restauração 
de comunidades nativas pode ser o objetivo em alguns casos, em outros o objetivo do 
reflorestamento é a estabilização da superfície do solo e o restabelecimento da 
superfície do solo biológicamente ativa. As espécies iniciais podem ser selecionadas 
pela tolerância a altos níveis de poluentes químicos no solo ou a condições físicas 
adversas como a seca, o encharcamento, ou estresse pela temperatura. Demandas 
por nutrientes também devem ser

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