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Disciplina: Psicologia da Saúde Aula 8: O trabalho em equipe Apresentação: Nesta aula, destacaremos o conceito de equipe e seu modo de funcionamento. Vamos analisar alguns fenômenos que ocorrem nos grupos e alguns mecanismos de defesa que as pessoas usam no seu dia a dia e que podem influenciar no trabalho de uma equipe. O conhecimento e o autoconhecimento destes fenômenos de grupo ajudará você a avaliar melhor as situações e ampliar a eficácia de sua equipe de trabalho. Bons estudos! Objetivos: Entender o conceito de equipe e identificar os princípios que definem uma equipe de trabalho; Entender o processo dos fenômenos interpessoais e interativos que podem influenciar na eficácia de um trabalho de equipe; Analisar alguns dos mecanismos de defesa que podem ser usados pelos indivíduos na relação interpessoal; Entender que a conscientização e análise dos mecanismos de defesa podem levar ao autoconhecimento. A importância do trabalho em equipe para a área da saúde Assista ao vídeo abaixo para entender a importância do trabalho em equipe na área da saúde. A importância do trabalho em equipe para a área da saúde | Fonte: UnaSus https://www.youtube.com/embed/TVMK33rHQCw Interações humanas Equipe médica examinando um raio-x | Fonte: Wavebreakmedia / Shutterstock O trabalho em equipe é um tema muito importante. O processo de cuidar depende essencialmente das pessoas. São elas que definem a visão que temos do processo de cuidar, e que criam as estratégias para a promoção de saúde e qualidade de vida. A área da saúde é um espaço de interações humanas de grande complexidade: Temos o sucesso da tecnologia nos exames mais sofisticados, mas não podemos deixar de lado o conhecimento de nós mesmos e dos processos interpessoais que influenciam nossa prática. Todos nós temos determinadas visões de mundo, e também o profissional da área da saúde se vê dependente de seus comportamentos e crenças. Os efeitos dos nossos comportamentos se encontram ampliados no processo de interagir nas equipes das quais fazemos parte. No cenário atual, com a crescente especialização dos saberes, o trabalho em equipe exige o reconhecimento da importância das relações interpessoais para fazer deste um processo interativo e contínuo, para ampliar a comunicação, o aprendizado, formular estratégias e planejar ações. É num contexto de muitas mudanças, sobretudo tecnológicas e das exigências de qualidade demandadas ao profissional de saúde, que um trabalho em equipe se impõe. Características de um trabalho de equipe As equipes são diferentes dos grupos. Grupos Segundo Grinberg (apud Rodrigues, 1981): Um grupo é uma pluralidade de pessoas que em determinado momento estabeleceu uma relação precisa e sistemática entre si. Grupo de pessoas reunidas | Fonte: Rawpixel.com / Shutterstock Em um grupo, a visão é de natureza essencialmente relacional, de interações e alianças afetivas. Equipes As equipes, entretanto, não são simplesmente grupos de pessoas que estão juntas por causa de uma relação sistemática. Diferentemente de um grupo, uma equipe é um conjunto de pessoas que buscam um objetivo comum, que deve ser específica e claramente formulado. Equipe médica reunida | Fonte: Syda Productions / Shutterstock As habilidades de cada um dos componentes de uma equipe são utilizadas para cumprir suas tarefas, no sentido de atingir um objetivo maior. As fronteiras de suas ações e de suas atribuições são delimitadas com clareza, assim como a responsabilidade para atingir os objetivos comuns. Nesta perspectiva, podemos apontar as seguintes características de uma equipe de trabalho: 1 A complementaridade das habilidades; 2 Experiências de trabalho coletivas; 3 Responsabilidades compartilhadas na execução das tarefas e das metas. O funcionamento do grupo Com a visão holística da saúde, na qual homem é considerado em sua totalidade, o trabalho em equipe tem a finalidade de não só melhorar a realização das atividades de interação social, mas também de elevar o nível de comunicação. As características da área de saúde, onde o trabalho é multidisciplinar, exigem como paradigma um trabalho em equipe. Vejamos suas vantagens: As equipes propiciam um trabalho mais ágil, integrado e entrosado, no qual a multifuncionalidade e as diferentes habilidades não sejam fatores de limitação, mas contribuições para o desenvolvimento de cada um. O trabalho em equipe permite, sobretudo, a construção de estratégias para lidar com desafios que surgem no contexto da área de saúde. O que é importante ressaltar, quando muitas pessoas trabalham em uma equipe, não é o desempenho individual. Trabalhar em equipe pode até melhorar o desempenho individual, mas o foco do trabalho da equipe é justamente seu desempenho coletivo. As contribuições individuais são destinadas a conseguir o melhor resultado possível, uma vez que todos os componentes da equipe são responsáveis pelos resultados. A corresponsabilidade é uma das mais importantes características das equipes. Entretanto, a efetividade das equipes está também associada a uma variedade de fatores, como o processo vigente em cada equipe. Conceitos importantes em equipes de trabalho Vamos ressaltar dois conceitos que nos ajudarão a melhor entender o que ocorre nas equipes: Processo Este é um conceito que os estudiosos da formação de grupos descrevem como tudo aquilo que pode acontecer em uma equipe e que pode influenciar sua eficácia. São interações, como comunicação, e também conflitos que ocorrem entre os membros de uma equipe. É nesta perspectiva que o trabalho de equipe será valorizado. Ou seja, a partir de uma relação interativa entre os componentes da equipe, e esta valorização entre os profissionais da saúde se dá justamente pela mediação de conhecimentos e também do autoconhecimento. Interatividade É fundamental para a eficácia do trabalho de uma equipe. Ela permite aperfeiçoar os processos de interação. As interações são extremamente importantes em uma equipe, permitindo mudanças de percepção. As mudanças de atitude devem acontecer na direção do melhor desempenho coletivo. Assim, em uma equipe há sempre uma estrutura de interações. Fenômenos que ocorrem no contexto de uma equipe Bandura (1982) nos convida a refletir sobre os fenômenos que podem ocorrer no contexto de uma equipe. Nos nossos contextos sociais em geral, e na área de saúde em particular, vivemos em constante interação e interdependência. Os problemas e desafios que o ato da saúde impõe podem ser solucionados por esforços coletivos, e os resultados decorrem do compartilhamento. Klein e Koslowski (2000) mostram que ocorrem diversos fenômenos no contexto do trabalho em equipe que não são objetivos, mas que decorrem de nossos próprios processos cognitivos, afetos e características de nossas personalidades. Como componentes da equipe, acabamos por ter uma história comum, atribuímos sentido e significado aos eventos. Cabeça humana com ícone de uma lâmpada | Fonte: TATYANA Yamshanova / Shutterstock Passamos então a ter uma interpretação semelhante. História, sentido e interpretações compartilhadas são essencialmente o atributo esperado de uma equipe. Nesta perspectiva, cada equipe também tem suas especificidades. Estas especificidades dizem respeito à: Complexidade da interação entre seus membros como à existência e compartilhamento de pensamentos, crenças e atitudes. Como e por que trabalhar em equipe? Por que em uma equipe: Há objetivos comuns É possível compartilhar o poder As pessoas se sentem corresponsáveis Trabalhar em equipe é motivador para buscar soluções compartilhadas e criativas. O trabalho em equipe potencializa a capacidade de inovar e propor novas soluções para os problemas. O sucesso é conquistadoquando o resultado é coletivo. Lidando com as diferenças Cada um de nós têm, também, crenças, sentimentos e sensações que nos acompanham em nosso trabalho. Embora sejamos componentes de uma equipe, temos também nossa individualidade. Médico com suas ideias, crenças, emoções e sensações simbolizadas em ícones | Fonte: kurhan shutterstock Os valores de cada pessoa da equipe, além dos compartilhados, influenciam no modo como seus membros agem e pensam. Até mesmo nossos traços culturais influenciam no processo de trabalho da equipe de saúde e nos atos de saúde. Somos parte integrante de uma equipe e não devemos perder de vista que temos um trabalho para desenvolver nela, mas também temos nossas crenças e valores, nossas próprias atitudes, nossa própria cognição. Há diferenças dentro de uma equipe. Uma das diferenças entre os membros de uma equipe são os valores e as crenças das pessoas (Vergara, 1999). Equipe médica | Fonte: Monkey Business Images / Shutterstock Saiba mais Mostramos na primeira aula como as crenças que temos e as interpretações que fazemos do mundo influenciam em nossas condutas e atitudes. Nas instituições, os membros da equipe podem ter interesses potencialmente diversos ou mesmo conflitantes. As diferenças individuais numa equipe de trabalho podem mesmo levar a um bom desempenho: o que é distinto e diferente pode estar em contínua integração e complementaridade. Há vários tipos de inteligência: matemática, espacial, linguística. A inteligência interpessoal é, entretanto, a capacidade que temos de nos relacionar com as outras pessoas. Inteligência interpessoal Vejamos a diferença entre inteligência interpessoal e inteligência intrapessoal: Inteligência interpessoal Gardner (Vergara, 1999) diz que “a inteligência interpessoal está baseada numa capacidade nuclear de perceber distinções entre os outros: em especial, contrastes em seus estados de ânimo, temperamentos, motivações e moções...” (p.157). Inteligência intrapessoal Permite o “acesso ao sentimento da própria vida, a gama das próprias emoções, à capacidade de descriminar estas emoções e utilizá-las como uma maneira de entender e orientar o próprio comportamento” (idem). Atividade 1. Você é capaz de formular, de forma resumida, o que é o trabalho em equipe? Leitura Leia o texto “O que o trabalho em equipe pode nos ensinar <galeria/aula8/anexo/trabalho_em_equipe.pdf> ” para saber o que podemos aprender com o trabalho em equipe. Contratransferências Já vimos, na aula 7, o conceito de transferência. Agora vamos ver o conceito de contratransferência. Contratransferências são as revivências de sentimentos que surgem como consequência das relações intersubjetivas, em resposta à transferência, que é dirigida de uma pessoa a outra. Veja um exemplo: Os sentimentos que são desencadeados no terapeuta pela escuta de seu paciente. Atendimento psicológico | Fonte: Dmytro Zinkevych / Shutterstock As contratransferências também podem interferir nos processos do grupo. Tanto elas quanto as transferências podem modificar-se, adaptar-se segundo a situação ou o indivíduo. Leitura Leia o texto “Importância da consciência sobre os fenômenos <galeria/aula8/anexo/importancia_da_consciencia_sobre_os_fe nomenos.pdf> ” para saber mais sobre a transferência e contratransferência. Autoconhecimento O conhecimento de si mesmo é uma tarefa difícil, sempre inacabada. Vimos na primeira aula que a subjetividade está em constante mudança. No nosso trabalho, colocamos nossa inteligência, raciocínio, emoções e crenças. Somos uma pessoa total. Discriminamos para seu esclarecimento alguns mecanismos de defesa psicológicos que são muito frequentes nas pessoas e que, conscientizados, nos ajudam no relacionamento com nossa equipe de trabalho e no nosso autoconhecimento. Racionalização Todos nós usamos a racionalização, que justifica o que sentimos ou o que fazemos. A raposa da fábula de La Fontaine racionaliza quando diz: “as uvas estão verdes”. Quando você faz um bom trabalho que não é reconhecido, e diz “outros reconhecerão”, você também esta usando a racionalização. Cabeça humana com engrenagens | Fonte: Lightspring / Shutterstock Cabeça de uma mulher com um cérebro colorido acima | Fonte: ImageFlow / Shutterstock Fantasiar Outro mecanismo de defesa é o de fantasiar. Usamos a fantasia para sair de uma realidade que não nos é propriamente agradável. Quando fantasiamos uma realidade mais adequada, deixamos temporariamente de enfrentar nossas questões do aqui e agora. Projeção, deslocamento e somatização Há outros mecanismos, mas vamos ressaltar a projeção, o deslocamento e a somatização. Descolamento É quando transferimos uma emoção de uma ideia para nós inaceitável para outra mais aceitável. Projeção O mecanismo de projeção é muito importante porque é justamente o mecanismo de defesa que implica os outros membros da equipe. Projetamos quando vemos atitudes nossas nos outros. Um esquecimento nosso que é ressaltado por alguém da nossa equipe pode ser interpretado como “ele (a) me persegue”. Somatização Por último, a somatização ocorre quando nos aborrecemos e sentimos sintomas físicos. Temos, por exemplo, dor de cabeça quando temos um impasse ou um conflito com um membro da equipe. Atenção Neste processo de conhecimento de si mesmo, estamos sempre em busca de superação. Você pode descobrir as crenças que orientam as suas atitudes, ou as transferências em que você repete os mecanismos de defesa que usa. Desta forma, você pode descobrir que podemos usar nossa capacidade de perceber a nós mesmos e o ambiente de nossa equipe, e abrir nossa mente para novas reflexões, novos valores individuais e coletivos que nos proporcionem criatividade e a flexibilidade no exercício do processo de cuidar. Atividade 2. Defina grupos e equipes e diga a diferença entre eles. Referências BANDURA, A. Self-efficacy mechanism in human agency. American Psychologist, 37, 1982. 122-147. CHANLAT, Jean-François. O indivíduo na organização: dimensões esquecidas. São Paulo: Atlas, 1993. KLEIN, K. J.; KOZLOWSKI, S. W. J. From micro to meso: critical steps in conceptualizing and conducting multilevel research. Organizational Research Methods, 2000, 3, 211-236. KOZLOWSKI, S.W. J.; Klein, K. J. A multilevel approach to theory and research in organizations: Contextual, temporal, and emergent processes. In: ______ (Ed.). Multilevel theory, research, and methods in organization: foundations, extensions, and new directions (p. 3-90). San Francisco: Jossey-Bass, 2000. MELLO, FILHO; et al. Psicossomática hoje. 2. Ed. Porto Alegre: Artmed, 2011. VERGARA, S. Gestão de Pessoas. São Paulo: Atlas,1999. Próximos Passos Conceito de multidisciplinaridade e interdisciplinaridade; A complexidade de lidar com diferentes saberes sobre o processo de adoecer; As fronteiras do trabalho interdisciplinar com vários saberes e como usá-las como espaço de criação de novas soluções; A importância de lidar com a complexidade de um enfoque interdisciplinar e como fazer uso do conceito de dissonância cognitiva. Explore mais Leia os artigos: Equipes de trabalho: fundamentos teóricos e metodológicos da mensuração de seus atributos <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php? pid=S1677-04712009000300009&script=sci_arttext> ; O efeito da interdependência na satisfação de equipes de trabalho: um estudo multinível. <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1415- 65552005000300004&script=sci_arttext&tlng=es>
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