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"OGenomaHumanoColocadoemChip" foiamancheteque o New YorkTimesusou,emoutubropassado,aopublicar quetrêsempresasdebiotecnologiahaviamfabricadodisposi- tivosminúsculosqueregistramaatividadedetodososgenes deumaamostradetecidohumano.Comisso,umdosobjeti- vosdoHumanGenomeProjecteraalcançado.Ao escaneara seqüênciadeDNA humano,oscientistaspodemestimarquais partessãoosgenestranscritosemmensagensRNAe depois traduzidosemproteínasfuncionais. Quandoo"rascunhofinal"daseqüênciafoianunciadoem abril,muitosdisseramqueasucessãode3bilhõesdebasesA, T, G eC doDNA humanorepresentavaolivrodahereditari- edade,o códigofontedascélulas,o mapadeumavida.Na verdade,todasessasmetáforassãoenganosas. Um genoma,asomadeinformaçõeshereditáriasnoin- teriordoscromossomosquegovernamodesenvolvimento deumorganismo,nãoéumtextoestáticotransmitidoao longodasgerações,masumamáquinabioquímicadeuma complexidadeimpressionante.Comotodasasmáquinas, operaemespaçotridimensionaleapresentapartesintera- tivasdistintasedinâmicas. Os genescodificadoresdeproteínasconstituemsóuma dessaspartes- emgeralamenor,respondendopormenosde 2%doDNA totalemcadacélulahumana.Mas,durantea maiorpartedasúltimascincodécadas,oparadigmacentralda biologiamolecularconsiderava-ososantuáriodascaracterís- ticashereditárias.Daíanoçãodogenomacomomapa. Jánadécadade60,ospesquisadoresdesvendaram"infor- maçõesimportantesescondidasem outra parte dos cromossomos.Algumasestavamenfurnadasentreo DNA "nãocodificador"e outrassituadastotalmenteforadase- B~ JID (] Amaiorpartedascaracterísticasé transmitidaporgenesdoDNA quecodificaproteínas.Porémum códigoseparado,escritopor marcadoresquímicosforadaseqüênciadoDNA,tambémproduz efeitosdramáticosnasaúdee naaparênciadeorganismos. Ocódigoepigenéticopodeexplicarporquealgumasdoençaspu- lamgeraçÕese afetamsomenteumentredoisgêmeosidênticos. Oserrosepigenéticosparecemestarenvolvidosnocâncer. Umgenomaoperacomoumamáquinacomváriaspartescomple- xas que interagem.Seria muito mais fácil modificara parte epigenéticacommedicamentosdo quetemsidomodificara se- qüência do DNA. 84 SCIENTIFICAMERICANBRASIL qüênciadoDNA. As ferramentasdaengenhariagenética, noentanto,funcionavammelhornosgenesenasproteínas convencionais,oquelevouoscientistasaprocurarcommais afincoondealuzeramaisbrilhanté. Em anosrecentes,osgeneticistasvêmexplorandocom maiorabrangênciaaspartesmenosvisíveisdogenoma,àpro- curadeexplicaç.õesparaanormalidadesquecontradizemo paradigmacentral:doençasqueafetamfamílias,masquesur- gemdeformasúbitae imprevisível,diferindoatéentregê- meosidênticos;genesativadosedesativadosemcâncerese que,noentanto,nãoapresentammutações;donesquenor- malmentemorremnoútero.Elesconstataramqueessasca- madasdeinformaçõesadicionais,distintasdasdosgenesco- dificadoresdeproteínas,conectam-sedeformasurpreenden- tementeprofundaepoderosacomhereditariedade,desenvol- vimentoesaúde. "O GenomaOculto",publicadonaediçãodedezembro deSCIENTIFICAMERICANBRASIL,descreveessasconexõesda segundacamada,formadapormiríadesdegenes"sódeRNA" ocultosemvastasregiõesnão-codificadorasdoDNA. A ciên- ciadescartouesseDNA comodetritoevolucionáriosemvalor porquenãocodificaproteínas.Descobriu-se,porém,quees- sesgenesnãoconvencionaisdefatoproduzemRNAs ativos, atravésdosquaisalteramprofundamenteo comportamento dosgenesnormais.Disfunçõesemgenesquesóproduzem RNA podemcausardanosseveros. A terceirapartedamáquinagenômica,tãofascinantequan- toosgenesRNA ativosetalvezaindamaisimportante,éa camadadeinformação"epigenética"armazenadanasproteí- nase moléculasquecircundame aderemao DNA. Os marcadoresepigenéticossãoassimdenominadosporquepo- demafetarasaúdeeascaracterísticasdeumorganismo- al- gunssãotransmitidosdepaisparafilhos- sem.alterarase- qüênciadoDNA subjacente. O complexocódigopeloqualosmarcadoresepigenéticos interagemcomoutroscomponentesdogenomaaindadeve serdecifrado.Mas,aotrabalharalgunsmecanismoscríticos, os pesquisadoresobservaramquea parteepigenéticado genomaparecedesempenharpapéisfundamentaisnocresci- mento,envelhecimentoenocâncer.Suspeita-setambémque as"epimutações"contribuamparadiabetes,esquizofrenia,de- sordembipolaremuitasoutrasenfermidadescomplexas. A epigenéticapodesugerirnovoscaminhosparaotra- JANEIRO2004 TRASEIROSBEMDESENVOLVIDOSdistinguemu.maovelhacallipyge(primeiraàesquerda)eumcameirocallipyge(terceiro,daesquerdaparaadireita)deseusinnãos nonnais.Opadrãobizarrodeherançadacaracterísticacallipygepodeserexplicadopelainteraçãodetrêscamadasdistintasdeinfonnaçãonogenoma tamentodessasdoenças.Enquantoascélulasobstinada- menteprotegemseuDNA contramutações,elastêmcomo rotinaadicionarou apagarmarcadoresepigenéticos.Em princípio,asdrogaspoderiamrepararocódigoepigenético paraativaredesativarconjuntosinteirosdegenesnocivos. Novosmedicamentospodemsercapazesdereverteralguns dosdanosgenéticosqueacompanhamo envelhecimento ouprecedemocâncer. TraseirosAtraentes A históriadeSolidGold ilustracomoastrêspartesdo genomapodeminteragirparaconfundirasnoçõescon- vencionaisdehereditariedade.Nascidoem1983,emuma fazendadecriaçãodeovinosemOklahoma,umcarneiro foi batizadode «SolidGold" quandosuapartetraseira cresceuempródigasproporções.Pressentindoumamu- taçãolucrativa,o fazendeiroprontamentecolocouo car- neiroparareproduzir. Os filhosdeSolidGoldcruzaramcomovelhasnormais. Metadedosfilhotes,tantomachoscomofêmeas,saíramao pai.Ospesquisadoresoschamaramdecallipyge,palavragre- gapara«traseirobonito".Umadivisão50-50éoqueseespera deumamutaçãodeumgenedominante.«Masaíacoisaficou aindamaisinteressante",lembra-seMichel Georges,da UniversitédeLiege,Bélgica,contratadocomoconsultor. Quandoumafêmeacallipygecruzavacommachosnor- mais,nenhumfilhoteexibiaosglúteosenormescaracterísti- cosdamãe,apesardealgunsteremherdadoamutação.É WWW.SCIAM.lJ».tBR comoseo callipygetivessesubitamentemudadosuacárac- terísticapararecessiva. Osgeneticistasentãocruzaramcarneirosdeaparêncianor- mal,porémportadoresdamutação,comovelhascompleta- mentenormais.Metadedosfilhotessaiucallipyge.A caracte- rística,portanto,sóapareciaquandoosovinosherdavama mutaçãodopai. A coisaficourealmentebizarra,relembraGeorges,quan- dooscruzamentosproduziramovinosapresentandodoisalelos callipyge(emoutraspalavras,amesmamutaçãoemambasas cópiasdocromossomo).Seocallipygefosseumgenepadrão, entãoosanimaisqueherdassemaformamutantedeambosos paisdeveriamexibirnecessariamentetraseirospolpudos.To- davia,todososovinosduplamentemutadospareciamperfei- tamentenormais (ver ilustraçãona pág. seguinte).O que esta- vaacontecendo? Dez anosdeexperimentosfinalmenteresponderama questão.Emmaio,Georgesecolaboradorespublicaramuma receitaparaopedigreeeacaracterísticacallipyge:umgene padrãoprodutordeproteína,umoumaisgenesquesópro- duzemRNA, maisdoisefeitosepigenéticos.O ingrediente finaléumamutaçãodiminuta,umabaseG ondeumA nor- malmenteaparece,emumpontoespecífico«nomeiodeum desertodegenes,a30milbasesdedistânciadogeneconhe- cidomaispróximo",dizGeorges.Dealgumaforma,oDNA naquelepontocontrolaaatividadedosgenesdareceitaque codificamproteínasedosquesóproduzemRNA, nomes- mocromossomo. SCIENTIFICAMERICANBRASIL 85 GUINADASDEUMAÁRVOREGENEALÓGICA HÁVINTEANOSumovinochamado"SolidGold"nasceucomumamutação nocromossomo18,quelevouaumcrescimentoincomumeavantajado desuapartetraseira.Elepassouessacaracterísticaacercademetade deseusdescendentes(verde),opadrãotípicoparaumgenedominante. Geraçõesmaisrecentesrevelaram,noentanto,queovinosqueherdama Amutaçãoinicialquelevouaumbelotraseiro ocorreuemumcarneirochamado"SolidGold", quecruzoucomovelhasnormais. Ageração1aparentementeexibiauma característicadominantepadrão(todos osqueherdaramamutaçãotinham traseirosgrandes)... ...massomente carneirospassarama característicaparaa geração2 ... U u:::J Acaracterísticapulaumageração(azul) quandotransmitidaporumaovelha. ...enageração3o padrãodeherança pareciabem desconcertante. mutaçãoporpartematernaexibemumaaparêncianormal(azul)-mesmoqueobtenhamumasegundacópiadogenedeseuspais [vermelho).Devidoaefeitosepigenéticos,osúnicosovinosque desenvolvemcoxasgrandessãoaquelesquerecebemsomenteuma cópiadamutação,porpartedepai(taranja) ~ Masacaracterísticaapareceem cadadescendente(taranja)quando transmitidaporumcarneiro portadordamutaçãoemambasas cópiasdocromossomo18. A alteraçãodeA paraG podetornaressesgeneshiperativos, gerandoum excessode proteínaou RNA ativonascélulas musculares.O excessodeproteínaexplicaaenormepartetra- seira- masnãoo curiosomodeloherdado.Os pesquisadores vêemaí um fenômenoepigenético,um "imprint" (possível metilaçãodo DNA), atuandonaárvoregenealógica. A maioriados genes,tantoalelosmaternoscomopater- nos,é ativadaou desativadaao mesmotempo.O "imprint" rompeesseequilíbrio.Paraalgunsgenesquesofremessepro- cesso,apenasa cópiaprocedentedo pai é expressa;o alelo herdadodamãeé silenciado.O geneprodutordeproteínae detraseirospolpudosenvolvidono callípygefuncionadessa forma.Por issoos ovinosquerecebema mutaçãoA-para-G damãeparecemnormais;amutaçãonãopodeignoraracen- suraseletivaimpostapelo"imprint". A forma oposta do "imprint" afetao gene (ou genes) callípygequeativamos RNAs. EssesRNAs sãoproduzidos somentedoalelonocromossomomaterno.Essesegundope- dacinhodemagiaepigenéticaajudaa explicarporquea ca- racterísticadesaparecedosanimaiscomosdoisaleloscallípyge. Nesses ovinos de dupla mutação, a mutação do cromossomopaternoobrigaogeneprodutordeproteínaauma superatividade.Ao mesmotempo,acópiadamutaçãoA-para- G nocromossomomaternoincrementaosníveisdeRNAs ati- 86 SCIENTIFICAMERICANBRASIL vosdosgenesquesóproduzemRNA. Os RNAs amplifica- dos,dealgumamaneira,bloqueiamosinaldecrescimentoex- cessivoe o filhotese mostraesbelto.Essesefeitosde "superdominância"parecemserraros.O "imprint",noentan- to, ébastantecomum,especialmenteemplantasfloríferas. RandyL. Jirtle,daDukeUniversity,mantémumalistaatua- lizadade"imprints"degeneshumanos;onúmeroestáem75. Muitosoutrosaguardamparaserdescobertos.Poucosdias apósa concepção,quasetodoo "imprint"é removidodos cromossomos.Comoissoaconteceéummistério. Variantesepigenéticas"poderiamexplicaraestranhadis- crepânciadedoençasentregêmeosidênticos",sugereEmma Whitelaw,daUniversityofSidney.Gêmeosidênticoscom- partilhamseqüênciasidênticasdeDNA. Mas quandoum adquireumadoençacomumcomponentegenético,comoa esquizofrenia,adesordembipolareodiabetesinfantil,geral- menteomesmonãoacontececomoirmão.Aindanãosesabe exatamentecomoo 'imprint'funciona.Mas pesquisadores admitemqueametilaçãodoDNA parecedesempenharum papelbastanterelevante. Simplesmaspoderoso,o metilconsisteemumcarbono, trêshidrogênioseumco-fatorparaseligara- parametilar- algumaoutracoisa.O metilpossuiumaafinidadeespecialcom asbasesC (citosina)doDNA. Enzimascomfinalidadeses- JANEIRO2004 ..- - - -- pecmcasretiramasmoléculasmetilderivadasdosnutrientes básicos,taiscomoácidofólicoevitaminaB12,eaderemacer- tasbasesC portodoogenoma. Em geral,quantomaismetiladafor umaextensãodo DNA, menoraprobabilidadedesertranscritaparaRNA e derealizarsuafunção.Por exemplo,o alelosilenciadode um genequesofreu«imprint"é quasesemprealtamente metilado.O «imprint",porém,podeserumtrabalhoparale- loparaametilaçãodoDNA; elepareceprincipalmentede- fenderogenomacontraelementosgenéticosparasíticosde- nominadostranspósons. «Gostamosdepensarnogenomacomoalgoimaculado", submetilaçãoespalhadapelogenoma.Drogascomooanesté- sicoprocaína,o estabilizador dehumorácidovalpróicoeo agentequimioterápicodecitabinaparecemtantoroubargru- posmetiladoDNA comoimpedirquemarcadoresmetilse acoplemàscélulasrecém-formadas. «Essasdrogassãobempromissoras«,enfatizaSabine Maier, da Epigenomics,empresade biotecnologiade BerlimquetrabalhacomaRoche,deBasiléia,naSuíça,a fimdedesenvolverdiagnósticosparacâncerbaseadosna metilação.«Há só um problema",acrescenta."Todasas drogascausama desmetilaçãono genomainteiro,o que provavelmentecausaefeitoscolaterais." uOuandoadrogafunciona,aleucemiasecura: 99,9%dascélulascancerosasdesaparecem" observaTimothyH. Bestor,daColumbiaUniversity."Mas nossoDNA estácheiodeparasitasgenéticos."Cercade45% daseqüênciadoDNA humanoconsisteemgenesvirais(ou fragmentosdegene)quesecopiaramdentrodogenomadu- ranteocursodaevolução.Felizmente,quasetodoesseDNA estámetiladoemantidoinativo. . Masoqueaconteceseadefesadometilfracassar?Emum famosoestudodecincoanosatrás,engenheirosgenéticos desativaramumadasenzimasdeadiçãodemetilemcélulas- troncoembrionárias.Comaguardametilrebaixada,muitos transpósonstornaram-seativos.A freqüênciadasmutações doDNA nascélulascresceudezvezes.Taisexperiênciasle- vantaramuma questãointrigante:as anormalidades epigenéticaspoderiamacelerar- talvezatéiniciar- o caos genéticoquelevaaocâncer? Afinal,ascélulastumoraisfreqüentementecontêmmuito poucametilaçãonogenomaemgerale,confusamente,muitas moléculasmetilacopladasacertosgenesquenormalmente impedemcélulasanormaisdes.etornaremmalignas.«Empó- liposdocólon(crescimentosbenignosdosquaisnormalmen- tesurgemtumores),pode-seobservarumareduçãonametila- çãodoDNA emtodoogenoma",ocorrendomesmoantesde asmutaçõesdestruíremimportantesgenesanticrescimentono caminhoparao câncer,afirmaStephenB. Baylin,daJohns HopkinsUniversity. Ninguémsabea razãopelaqualtantosgruposmetilase desprendemdoDNA - nenhumaenzimaremovedorade metilfoipositivamenteidentificada.Os pesquisadores,po- rém,suspeitamquecromossomoscompoucometilestejam maispropensosàdisfunçãoduranteadivisãocelular,dando umpassorumoàdoença. A idéiadequeafaltademetilnoDNA podelevaraocân- cerhumanoéaindaapenasumahipótesee,dequalquermodo, osoncologistasnãodispõemdedrogasquepossamcorrigira WWW.SCIAM.COM.BR Outrapreocupaçãoé queo efeitosejatemporário:os marcadoresmetilvoltamaaparecereosgenessupressoresde tumorsedesativamnovamente.«Amodificaçãoinduzidapela droganaexpressãodogenepodenãoserpermanente",admi- teJean-PierreIssa,daUniversityofTexas.«Mascasosemo- difiquedeformaapermitirqueosistemaimunepossaidenti- ficaracélulatumoralouqueainduzaàapoptose(suicídioda célula),acélulaestarámorta." DecifrandooCódigo A reemergênciadeumpadrãoespecíficodemetilaçãodo DNA, depoisdeserlimpopelasdrogas,estranhamenteecoaa reprogramaçãodo"imprint"deumembriãologoapóssuacon- cepção.O quedirecionariaasenzimasdeadiçãodemetilade voltaàquelesgenessupressoresdetumorouàquelespoucos alelosquedeveriamsermarcados? Essaquestãodeveserrespondidacasoadonagemsetor- nerotina.Atualmente,areprogramaçãoepigenéticanãotem êxitoemdonesobtidospelasubstituiçãodoDNA emum ovofertilizadocomoDNA dacéluladeumadulto.«Amaior partedessesdonesexibepadrõesanormaisdemetilaçãoe de expressãogênica",diz David Wells, especialistaem donagemdoAgResearchemHamilton,naNovaZelândia. MesmoqueaseqüênciadoDNA delesestejacorreta,90% dosanimaismorremantesdenascer;metadedosquenas- cemnuncaatingeaidadeadultaeospoucosquesobrevi- vematéamaturidadetendemasofrerdeobesidadeedoen- çasimunológicas. Paraprevenirpermanentementeoureverteroserrosda metilaçãotãocomunsnosdones,tumoresedesordensde «imprint",os pesquisadoresdevemdecifrarum código epigenéticorelacionado- umcompletamenteseparadodo DNA. "A metilação,emsi, nãosilenciaos genes,"afirma Baylin,doJohnsHopkins.«Elasóostravanoestadosilen- SCIENTIFICAMERICANBRASIL 87 oVOLUMEEPIGENÉTICOCONTROLAOSGENES AseqüênciadeDNAnãoéoúnicocódigoarmazenadonoscromossomos. Ochamadofenômenoepigenético,deváriostipos,podeatuarcomo controledevolumeparaamplificarouemudeceroefeitodosgenes.A informaçãoepigenéticaestácodificadacomoanexosquímicosdoONAou àsproteínashistonasquecontrolamsuaformadentrodoscromossomos. Entresuasmuitasfunções,ovolumeepigenéticocontrolaosilenciamento dequantidadesimensasdeelementosgenéticosparasitas,chamados transpósons,queconfundemogenoma. Histonas ONAexpostosendo transcritoemRNA 4°s genestambémpodemsersuprimidospormarcadoresmetilquesegrudamdiretamenteao DNA,normalmenteemlocaisondeumabaseCéseguidaporumaG.SeametilaçãoDNAdesligaosgenes independentementeousomentepelacombinaçãocom marcadoreshistonaéaindaummistério. 3Umintrincadocódigohistona- escritoemmarcadoresquímicospresosnasterminaçõesdashistonas-também governaaexpressãogenética.Osmarcadoresacetilgeralmente amplificamosgenessituadosnavizinhança,aopassoqueas enzimasremovedorasdeacetilossilenciam.Resta,porém, decifraroscódigosremanescentes. 5Genessaltadores,tambémconhecidoscomotranspósons, podemse clonaredepoisinsinuaras cópiasemseções distantesdo genoma,algumasvezesdesativando ou hiperativandoos genes.Uma funçãoprincipaldanietilaçãodoDNA parecesera supressãodos transpósons,quecompõemquasea metadedogenomahumano. ~ ~ Cópias ONA ~ ~ 88 SCIENTlFICAMERICANBRASIL JANEIRO2004 ::I cioso_~Asenzimasdeadiçãodemeri1parecemacatarordens deumoutrolocal. Façaumzoamemumcromossomoeconstatequeelenão éumentrelaçamentocasualdeDKA Icomonormalmenteé desenhado),tampouc~umobjetoúnico,masumamontagem dinâmicadeDNA, proteínaseoutrasmoléculas.Esseagru- pamentocomaparênciafilamenrosa,denominadocromatina, fazmaisqueapoiaroDNA. Tambémcontrolaoacessoaele. A cromatinacontémt>~ eproteína,amaiorpartena formadehistonas,quesãoarespostadaNaturezaàquestão: Comoumacélulaconsegueencaixar1,8metrodeDNA den- trodeseunúcleo?Resumindo,empacotamentoengenhoso. O DNA seenrolaemcarretéisdahistonaparaformaruma correntecomoadeumrosário,queentãoéretorcidaforman- do umpacotelV€Tilustraçãonapág.oposta).Seçõesde cromatinapodemsecondensareseexpandirindependente- mente,escondendodevista,comeficácia,áreasinteirasde DNA, enquantoexpõemoutrasseçõesparatranscrição. tosmarcadoresepigenéticosestãoemfluxoconstante.Quan- doumaseçãodecromatinasecondensa,o silênciopodese alastraraolongodocromossomoatéqueatinjaumabarreira. Um verdadeiroesforçodeguerraé travadoentreasregiões ativasesilenciosasdocromossomo.Issaconsideraqueessa lutapoderiaexplicarporqueoriscodecâncerinvariavelmen- teaumentacomaidade.Talvezasbarreirasnoscromossomos, queseparamporçõesfortementecondensadas,altamente metiladase silenciadasdeporçõesativas,acessíveise não metiladas,fragmentam-secomopassardosanosdevidoàdi- visãoouaoenvelhecimentodascélulas. Aspartesmaisobscurasdogenomasãoaindapoucocom- preendidas.Mas é bastanteevidente,enfatizaCarmen Sapienza,daTempleUniversity,queo "HumanGenome Projectfoiapenaso iníciodotrabalho.Precisamosproduzir agoraumadescriçãosimilardocenárioepigenético".Emou- tubro,aEpigenomicseoWellcomeTrustSangerInstitute,da Inglaterra,seencarregaramdefazersomenteisso,aolançar "Háumuniversototalmentenovo, ,. paraoqueestávamoscegos.Emuitoempolgante." As fêmeas,por exemplo,iniciam a vida com dois cromossomosX ativos;oshomensherdamsóum.O em- briãodafêmeadeveamordaçaroX extraparaimpedirque suascélulasrecebamumadosedupladosgenesX. Paratan- to, duaspartesda máquinagenômicaconspirampara desativaraterceira.Um genenãocodificadordenominado Xist produzum RNA ativoquerevesteo cromossomoX desnecessário.Enquantoisso,oX necessárioproduzRNA "anti-senso",queagecomoumantídotoparaproteg&..;lodo Xist.Umareaçãoemcadeiasedisseminapelocromossomo indesejado:metilasmarcamgrandepartedo DNA, as histonasrepelemo acetilquímicode seusradicaise a cromatinasecompactaemumamassainacessível,revestida porRNA. O cromossomoX silenciadoéentãopassadocomo herança,deformainativa,acadacélulaportadoradegenoma enquantoamulhersedesenvolve. O papeldashistonasnessedramanãoestáclaro,masestu- dosrecentesdemonstramqueasterminaçõesprotéicasquese projetamdoscarretéisdehistonapodemostentarumaquan- tidadeimpressionantedeadiçõesquímicas. A cromatinasilenciosaecompactanãoapresenta,geral- mente,gruposacetilnasposiçõesespeciais.Pelocontrário, freqüentementetemgruposmetilaacopladosemdiversospon- tosnasterminaçõeshistona.Ashistonastambémhospedam gruposfosfatoeopeptídeoubiquitina- etodosessesradicais surgememumadesconcertantevariedadedelocaisecombi- nações.Nãoseráfácildeficrarocódigodahistona. DiferentementedocódigogenéticoestáveldoDNA, mui- WWW.SCIAM.COM.BR umprojetodecincoanos,oHumanEpigenomeProject,para mapeartodosospontosdemetilaçãodoDNA. O consórcio tambémanunciouafinalizaçãodeummapeamentodemais de100milmarcadoresmetilacopladosaoprincipalcomplexo dehistocompatibilidade,umaseçãodocromossomo6 rela- cionadaamuitasdoenças. A novavisãodamáquinagenômicaéestimulantepor- queabrecaminhosparaaengenhariagenômica.Aqueles30 miloumaisgenescodificadoresdeproteínas,tãoimportan- tese,noentanto,tãoimutáveis,nãosãooúnicoconjuntode instruçõesao qualas célulassereferem.O DNA não- codificadoréimportante.AnexosquímicosligadosaoDNA eàshistonastambém,assimcomoo formatodacromatina. E todosestãosujeitosamanipulação."Háumnovoeinteiro universoali,quenãopodíamosdiscernir",consideraBestor. "É muitoempolgante." ~ W WaytÇ-ibbséescritor. PARACONHECERMAIS The Epigenome: Molecular Hide and Seek. Organizado por Stephan Beck e Alexander Olek.Wiley,2003. Controlling the Double Helix. Gary Felsenfelde MarkGroudineinnaNature, Vol. 421, págs. 448-453; janeiro 23, 2003. The Callipyge Locus: Evidence for the Trans Interaction of Reciprocally Imprinted Genes. Michel Georges, Carele Charlier e Noelle Cockett em Trends inGenetics,Vol.19,N°5,págs.248-252;maio,2003. . Resumosdepesquisasrecentes,listagensdegenes"imprint"eoutrasinfor- maçõessobreepigenéticaestãodisponíveison-linenogeneimprint.com SCIENTIFIC AMERICANBRASIL 89
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